índice CARLOS DO CARMO 50 ANOS
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António Costa
MUITOS PALCOS, MUITAS ROTAS, VASTOS MUNDOS
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Miguel Honrado
UM VERSO EM BRANCO À ESPERA DO FUTURO
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Sara Pereira
FAZER DE CADA CHEGADA UM NOVO PONTO DE PARTIDA
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Rui Vieira Nery
PALAVRAS PARA CARLOS DO CARMO
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SINOPSE CRONOLÓGICA
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Mariana Branco e Ricardo Bóia
PROJECTO ARQUITECTÓNICO
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Arq. João Santa-Rita
FICHA TÉCNICA
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Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti Gravações do CD Carlos do Carmo – Bernardo Sassetti, 2010 Fotografia de Rita Carmo Colecção Universal Music Portugal
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Carlos do Carmo 50 Anos Nascido em Lisboa, filho da grande fadista Lucília do Carmo, para Carlos do Carmo o Fado foi-lhe uma genealogia e uma vocação. Também um bilhete de identidade e um passaporte. A sua vida tem sido o cumprimento livre e exemplar desse destino – desse fado -, que ele assumiu com a naturalidade de quem recebe um legado e com a exigência de quem o acrescenta, amplia, eleva. É por isso que a sua carreira artística, cujos cinquenta anos estamos a comemorar com júbilo e reconhecimento, tem sido marcada pelo talento e pela inspiração, mas também pelo profissionalismo e pelo rigor. Exigente consigo-mesmo, Carlos do Carmo põe exigência em tudo o que faz. Essa exigência, artística e ética, é, nele, o outro nome do critério, da integridade, da qualidade. Nos poemas e nas músicas que canta, nos espectáculos que realiza, nos discos que grava, nos projectos em que participa, há sempre essa qualidade exigente e insatisfeita, que é um dos traços essenciais e distintivos do seu carácter pessoal e da sua personalidade artística. Fundada na exigência e no rigor é também a sua atitude perante o público. Contrário à demagogia, o diálogo de Carlos do Carmo com o público é feito de respeito mútuo e da procura de uma forma límpida de comunicação recíproca e de sintonia afectiva. Quem assiste aos seus concertos, vê como eles são fenómenos de atenção e escuta, de participação e ligação, de fidelidade e gratidão. Essa aliança entre o artista e o seu público é, como ele tem afirmado, uma razão de orgulho e um motivo de responsabilidade. Homem de cultura e de abertura aos outros, a sua carreira tem sido uma conversa continuada com criadores de todas as artes: poetas, músicos, pintores, escritores, cineastas. Na sua obra, há uma insaciável vontade de alargar horizontes e de descobrir novos mundos. Carlos do Carmo nunca se instalou na comodidade fácil de repetir o já feito, ou de explorar o sucesso garantido. Pelo contrário, gosta de desafiar-se a si próprio, de correr riscos, de ousar caminhos desconhecidos. É por isso que a linha da sua magnífica longevidade artística nunca conheceu quebras ou quedas. É uma linha que ascende e se afirma pela renovação constante e pela inovação contínua, pela surpresa inspiradora e pela ambição criativa. Cantor de Lisboa, dos seus sítios e das suas gentes, na sua obra há como que uma geografia afectiva da cidade, onde são captados atmosferas e vislumbres, segredos e descobertas, luzes e sombras, interiores e exteriores, desejos e emoções. A Lisboa de Carlos do Carmo é uma cidade viva e humana, que recusa o estereótipo e o bilhete postal. É uma cidade de pessoas de carne e osso, com as suas alegrias e as suas tristezas, as suas desilusões e as suas esperanças. É a cidade antiga e moderna, diurna e nocturna, poética e real.
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Carlos do Carmo é um dos artistas a quem Lisboa e Portugal mais devem. A sua projecção internacional contribuiu decisivamente para prestigiar a nossa cultura e para dar ao Fado as possibilidades e os meios de uma afirmação mundial que culminou com a sua classificação pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, numa candidatura apresentada e conduzida pela Câmara Municipal de Lisboa e de que ele foi um grande, enérgico, incansável e insubstituível Embaixador. Artista e homem de cultura, Carlos do Carmo é também um cidadão activo e interventivo. Entendendo a política como um dever de cidadania assumido, a sua voz faz-se ouvir na defesa dos princípios e das causas em que acredita e pelas quais dá a cara com coragem e desassombro. Tenho a honra de ser amigo de Carlos do Carmo. Aprecio a sua lealdade, feita de clareza e frontalidade, a imparcialidade dos seus juízos, a generosidade dos seus conselhos, o calor do seu convívio, a assiduidade da sua amizade. Tive o privilégio de poder contar com o seu valioso apoio como mandatário da minha candidatura nas duas últimas campanhas eleitorais que fiz para a Câmara Municipal de Lisboa. Percorremos a cidade com o propósito de inventariar problemas, procurar soluções e, sobretudo, abrir futuros. Posso testemunhar o seu profundo conhecimento de Lisboa, o seu amor à cidade, a sua militância alfacinha. E quero também dizer que, no seu apoio e no seu empenhamento, há uma permanente exigência e uma rigorosa avaliação. O seu papel como mandatário não cessa com a eleição. Durante o mandato que se lhe segue, ele continua atento e vigilante, fazendo reparos e dando sugestões. Essa é ainda a sua maneira de servir a cidade e aquilo em que acredita. E eu só tenho a agradecer-lhe essa sua vigilância activa, estimulante e construtiva. Ao comemorar meio século de vida artística, Carlos do Carmo tem recebido as homenagens, justas e merecidíssimas, que o País lhe dedica. Mas tem feito dessas homenagens, não um motivo para se prender ao passado, mas um momento para olhar firmemente o futuro. Esta exposição, organizada em boa hora pelo Museu do Fado, é uma ocasião ímpar para conhecermos ainda melhor a personalidade, a vida, a carreira e a obra de Carlos do Carmo. Para ganharmos uma mais nítida e fundada consciência do seu lugar na história do Fado e do seu papel na sua renovação e na sua projecção internacional. Ao homenageá-lo e ao agradecer-lhe o muito que nos tem dado, quero, com ele, celebrar o futuro, desejando-lhe vida e arte, com muitos anos de fados e de êxitos. Este é o tributo que, em meu nome pessoal e em nome de Lisboa, me é muito grato prestar ao grande fadista, ao grande lisboeta e ao grande português.
Março de 2014
Fachada do Olympia 1998 Colecção Carlos do Carmo
António Costa Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
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Carlos do Carmo São Luiz Teatro Municipal, 2012 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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Muitos Palcos, Muitas Rotas, Vastos Mundos Difícil é andar sobre o afiado fio de uma navalha, Mas, árduo, dizem os sábios, é o caminho da salvação. Provérbio
Qualquer retrospetiva é uma forma de conter, ainda que por instantes, o infinito; fazer dois nós na linha do tempo, impor a nosso bel-prazer um Alfa e um Ómega. Existem, todavia, vidas singulares, obras ímpares, em que tal exercício se torna imperioso. Seguramente porque tais existências dificilmente se contêm nos estreitos limites de uma cronologia. Celebrar a vida e obra de Carlos do Carmo é contemplar a admirável existência de um Homem que, incomparavelmente, fez o seu tempo. O tempo da palavra e das infinitas maneiras de a tornar verbo: início e forma, matéria e fim. Por isso não lhe devemos apenas, e já muito seria, a preservação de um legado musical do maior significado para a nossa identidade cultural, num período de grandes ruturas e profundas transformações; devemos-lhe a sua definitiva universalidade, conseguida num esforço, tantas vezes solitariamente titânico, de muitos palcos, de muitas rotas, de vastos mundos. Depois, como se tudo isto não bastasse, há a personalidade única, o timbre incomparável, o momento irrepetível e inteiro, a essencialidade poética que lhe valeu a inspiração profusa de tantos inéditos, a criatividade melódica de tantos escritores, a imaginação prosódica de tantos músicos. Finalmente recordar 50 anos da carreira de Carlos do Carmo é celebrar uma complexa geometria temporal em que cabem, o final agonizante de uma ditadura e o percurso denso, por vezes contraditório, mas sempre determinado, de 40 anos de Democracia. Celebrá-la é celebrar, ainda e sempre, Carlos do Carmo, dentre os grandes mensageiros desse tempo novo. Ao escutar a sua inesgotável obra, entendemos, o quanto mudámos, o quanto crescemos nessa capacidade de, livremente, nos reinventarmos; de nos olharmos, enfim, com o orgulho de quem é, simplesmente.
Abril de 2014 Miguel Honrado Presidente Do Conselho de Administração da EGEAC
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UM VERSO EM BRANCO À ESPERA DO FUTURO sara pereira
Carlos do Carmo 2013 Fotografia de Simon Frederik Colecção Universal Music Portugal
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Fado é Amor. A proposição, paradoxalmente simples, que nomeia o disco mais recente de Carlos do Carmo, poderia sintetizar uma boa parte da sua biografia artística e, sobretudo, iluminar muito do que vem fazendo pelo Fado e pela cultura portuguesa nos últimos cinquenta anos. A afirmação que o título encerra – uma escolha de Judite, o seu grande Amor de meio século – explicará, porventura, a longevidade criativa da Voz que se constituiu há muito como a banda sonora da cidade de Lisboa. Fundada numa longeva capacidade de inovação, a sua biografia artística - para além de continuadamente nos surpreender, deitando por terra qualquer estereótipo em torno de um alegado fado novo - é, sobretudo, a história de um grande amor por Lisboa e pela Arte que abraçou e sublimou a um tom Maior. Como em regra sucede com os grandes amores, o seu amor por Lisboa e pelo Fado é profundamente exigente e insatisfeito: traz consigo a inquietude de quem perscruta o mundo e o outro em permanência. Distanciando-se do pathos mais melancólico do Fado, na sua relação ambígua com uma certa acepção de sina ou destino, Carlos do Carmo preferiu, desde muito cedo, celebrar uma Lisboa luminosa, sempre ciente – como ainda gosta de afirmar – de que o melhor está para vir. Na sua voz, sonda de incessante renovação poética e musical, habita Lisboa inteira, da luz mais ardente ou do breu da noite. Ali reencontramos a celebração dos grandes temas matriciais do Fado, num tom inevitavelmente insubmisso ao fatalismo das tristezas cor de chumbo1 que, a partir da nossa literatura, nos seus testemunhos mais populares ou eruditos, a mitologia fadista haveria de cristalizar. Altivo e livre da imagem resignada do negro fado brutal,2 Carlos preferiu sempre a imagem positivista do verso em branco à espera do futuro.3
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- Do poema “Males de Anto” de António Nobre, autor confesso do livro mais triste de Portugal. Veja-se Só, Porto, Aillaud & Lello, 1913.
- Fado da Sina, letra de Amadeu do Vale e música de Jaime Mendes: (…)Não podes fugir/Ao negro fado brutal/Ao teu destino fatal/Que uma má estrela domina/Tu podes mentir/Às leis do teu coração/Mas ai, quer queiras quer não/Tens de cumprir a tua sina (…)
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- No teu poema, José Luís Tinoco. Carlos do Carmo, Uma Canção Para a Europa, Movieplay - RTP, 1976
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Camané e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
Integrando ontologicamente a cidade, a voz de Carlos transmutou-se há muito numa alegoria de Lisboa, celebrada, nas últimas quatro décadas, nos palcos mais prestigiados de todo o Mundo. Filho da grande Lucília do Carmo, traz consigo as memórias de um século de Fado. No centro de uma linhagem tradicional, Carlos cresceu no circuito privilegiado de ligação à tradição fadista mais legítima, rodeado das grandes figuras de referência, de Britinho a Marceneiro ou Martinho d’Assunção. Do convívio quotidiano com os grandes pilares do Fado das primeiras décadas do século XX, Carlos colheria um conhecimento, tão sólido, quanto profundo, da matriz tradicional. Só esse entendimento - transbordante de respeito e gratidão pela herança materna permitiria, aliás, o extraordinário equilíbrio entre a assunção das raízes mais tradicionais e uma permanente sede de descoberta de novos rumos poéticos e musicais, num itinerário pessoal desde cedo marcado por uma assombrosa originalidade. Do talento raro de saber escutar - que o acompanha até hoje – decorria toda uma experiência meditativa e contemplativa onde o passado foi e é, sobretudo, impulso de futuro e de renovação. Integrando os ensinamentos colhidos no âmago das raízes tradicionais numa extraordinária versatilidade de recursos vocais, Carlos notabilizou-se desde muito cedo pelas singulares capacidades de estilar e dividir de uma voz límpida e transparente, capaz de se desdobrar em subtis variações melódicas dentro do mesmo fado, num respeito escrupuloso pelo texto, perscrutando-lhe a sugestão poética, seguindo-lhe os ritmos prosódicos, indagando a musicalidade intrínseca das palavras.
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A reaproximação ao Fado sucedeu por via da morte prematura do pai, em 1962, condicionando-o à gestão da casa típica O Faia. Fora o seu pai, o brilhante livreiro e empresário Alfredo de Almeida, a impulsionar os seus estudos no Institut auf dem Rosembergem St. Gallen, na Suíça, em meados da década de 50. Antes de ingressar no Curso Superior de Hotelaria em Genebra, Carlos haveria ainda de viajar pelo mundo a bordo dos navios Vera Cruz, do Pátria e do Infante. Nos alvores deste itinerário pessoal de cinquenta anos, Carlos do Carmo trazia já consigo uma mundividência cosmopolita estruturada numa formação cultural bastante eclética – polvilhada, ao nível musical, de referências exteriores ao Fado - a par da graduação em gestão hoteleira na Suíça e do domínio fluente de várias línguas. Durante cerca de duas décadas, acumularia a gestão da casa de fados com a vida artística, actuando diariamente ao lado da mãe, factor que consolidaria O Faia como a sala de visitas da cidade, referência incontornável da sua oferta cultural e turística. Incondicional admirador de Brel, Sinatra, Elis Regina, Zeca Afonso, Chico Buarque, Luís Gonzaga ou Dorival Caymmi – estes últimos escutados ainda na meninice, nos discos que a mãe trazia das digressões ao Brasil – nunca hesitou em celebrar as suas referências musicais, cultivando-as em concertos e gravações que pontuam regularmente toda esta geografia temporal de meio século. E se sucessivamente revisitou as raízes da tradição fadista, a sua obra estruturou-se no diálogo aberto com poetas, compositores e músicos, numa intransigente e criteriosa procura de um repertório poético de qualidade, inovando num domínio ainda subjugado a alguns arquétipos que o confinavam no seu pathos mais escuro e melancólico. Na sua voz, é a imagem de uma Lisboa luminosa e íntima que nos é devolvida em todo o seu esplendor. No claro-escuro desta aguarela, podemos reencontrar-nos nos mais quotidianos dos gestos e nos mais altos dos sonhos. Lisboa e a sua alacridade popular, partidas e saudades desaguando no Tejo, grandes amores, esperanças tecidas no bairro mais alto do sonho, eis os ingredientes de uma banda sonora que se confunde ontologicamente com a própria cidade. Da intensa colaboração artística com José Carlos Ary dos Santos resultaria, em 1977, a edição do fundamental álbum Um Homem na Cidade com músicas de José Luís Tinoco, Paulo de Carvalho, António Vitorino de Almeida, Fernando tordo, Martinho d’Assunção, Frederico de Brito, Joaquim Luís Gomes e Moniz Pereira, emoldurando os poemas de Ary. Operando uma ruptura fundamental no repertório do Fado, Carlos do Carmo distanciava-se de quaisquer reminiscências da mitologia da saudade que o romantismo promovera, sacudindo, em definitivo, toda a letargia da tristeza resignada que se cristalizara nos repertórios produzidos sob a égide da depuração censória do Estado Novo. Valorizando uma nova liberdade expressiva, a sugestão poética de Ary anunciava ainda uma reconciliação com a cidade, Flor de Lisboa, bem amada/ Que mal me quis, que me quer bem.4
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- Um Homem na Cidade, letra de José Carlos Ary dos Santos e música de José Luís Tinoco. Carlos do Carmo, Um Homem na Cidade, Trova, 1977.
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Carlos do Carmo Tertúlia no Martinho da Arcada, 2009 Fotografia de Fernando Bento Colecção do autor
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Citação poética de Bernardim Ribeiro5 - referência quinhentista incontornável na imagética da saudade -o tema de Lisboa Menina e Moça haveria de transmutar-se no mais festejado hino da cidade de Lisboa, onde ainda hoje nos reencontramos, inevitavelmente, enquanto entidade colectiva. Grande mensageiro deste tempo novo, foi Carlos do Carmo a trazer o Fado para aquele dia inicial inteiro e limpo, de que falava Sophia. Nos cinquenta anos que balizam o seu itinerário artístico, Carlos acompanhou o final agonizante da ditadura e o percurso complexo de quatro décadas de Democracia. Já em 1970, festejara a Pedra Filosofal de Manuel Freire e o Menino d’Oiro de Zeca Afonso, porque na sua obra, direitos da arte e deveres de cidadania, sempre se potenciaram e valorizaram mutuamente. Dialogando abertamente com músicos oriundos de outras áreas musicais, a sua influência foi determinante para aproximar do Fado uma plêiade de criadores que se reviam num posicionamento de franca hostilidade ao género e que com ele desbravaram novos rumos poéticos e musicais. Foi também Carlos do Carmo a aproximar do Fado a figura do proeminente compositor, crítico e ensaísta Fernando Lopes Graça, um dos mais lúcidos pensadores da problemática da música portuguesa no século XX, cuja postura de rejeição do Fado havia promovido, até então, o distanciamento crítico da nossa Academia. Na sua vastíssima discografia, surpreende a quantidade de temas que assiduamente inscreveu no nosso imaginário musical colectivo, desde a década de 60: Por Morrer uma Andorinha,6 Duas Lágrimas de Orvalho,7 Bairro Alto,8 Canoas do Tejo,9Os Putos,10 Lisboa Menina e Moça,11 Estrela da Tarde,12ou No Teu Poema,13 desfilam entre os grandes sucessos populares, por si criados nos primeiros anos de carreira.
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- Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe, eis o início da obra de Bernardim Ribeiro, História de Menina e Moçaeditada em 1554, sob a égide da saudade e do amor.
- Por Morrer Uma Andorinha, Letra de Francisco Viana e música de Frederico de Brito Carlos do Carmo Canta Fado, Phillips, 1969 6
Carlos do Carmo Speakeasy, 2008 Fotografia de Rita Carmo Colecção Universal Music Portugal
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- Duas Lágrimas de Orvalho, João Linhares Barbosa, Fado Pedro Rodrigues, Carlos do Carmo, Tecla, 1972
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- Bairro Alto, letra de C. Neves, música de Francisco Carvalhinho, Carlos do Carmo, Êxitos, Tecla, 1973
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- Canoas do Tejo, Frederico de Brito, Tecla, 1973
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- Os Putos, Ary dos Santos e Paulo de Carvalho editado pela Trova em 1978.
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- Lisboa Menina e Moça Joaquim Pessoa e Ary dos Santos, música de Paulo de Carvalho e Fernando Tordo, Movieplay, 1976 12
- Estrela da Tarde, Ary dos Santos e Fernando Tordo, Movieplay, 1976
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- No Teu Poema, José Luís Tinoco, Uma Canção Para a Europa, Movieplay - RTP, 1976
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Em 1986 o álbum Mais do que Amor é Amar,14 festejava a nossa poesia clássica e contemporânea - de Almeida Garrett, Antero e Bocage a Fernando Pessoa ou Teixeira de Pascoaes, de Pedro Homem de Mello a Ary dos Santos, Saramago e Carlos de Oliveira – nas melodias dos fados estróficos tradicionais de Alfredo Marceneiro, Frederico de Brito, Maria Teresa de Noronha, Miguel Ramos ou José Marques. Esta imperiosa necessidade de se reinventar levá-lo-ia a celebrar o Mar Salgado de Pessoa na década de 80 como o conduziria, em pleno século XXI – mais de quatro décadas corridas sobre um percurso ímpar no contexto musical português e internacional - a desafiar, com a mesma inquietação, um conjunto de poetas contemporâneos que para ele escrevem novos temas na melodias dos velhos fados tradicionais no álbum À Noite, 15 onde Maria do Rosário Pedreira, Fernando Pinto do Amaral, Nuno Júdice ou Júlio Pomar sublimam, de modo extraordinário, esse grande edifício do repertório tradicional de Alfredo Marceneiro, Joaquim Campos e Armandinho. Por outro lado, esta mesma intransigente exigência de qualidade na selecção de repertório levá-lo-ia a continuadamente convocar uma plêiade de poetas clássicos e contemporâneos como Mário de Sá Carneiro, Pedro Tamen, Cecília Meirelles, António Lobo Antunes, Manuela de Freitas, Vasco Graça Moura, Manuel Alegre, João Monge, entre muitos outros. Capaz do distanciamento crítico de uma tradição que conheceu por dentro, desde criança, e cuja memória viva sempre protegeu e venerou, da sua experiência meditativa resultou uma imperiosa necessidade de renovação que se plasmava, desde logo, no repertório melódico e no acompanhamento instrumental, domínio no qual, a par da usual combinação harmónica da guitarra e da viola, cedo introduzia formações mais complexas, com orquestra, tantas vezes partilhadas e acarinhadas pelos grandes pilares da tradição fadista, como Marceneiro ou Britinho. Num espírito de profundo respeito pelas raízes mais arreigadas, o seu percurso procurou desde cedo enaltecer o que desse terreno despontava de original e a sua ruptura operou-se dentro de uma notável capacidade de diálogo com os grandes vultos do Fado das primeiras décadas do século - com quem privou desde criança – e nos quais nunca deixou de se reconhecer.
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- Carlos do Carmo, Mais do Que Amor é Amar, Phillips, 1986: Aprendamos o Rito (José Saramago - Miguel Ramos) Menor-Maior (Ary dos Santos - Maria Teresa de Noronha), À Memória de Anarda (Bocage - Alfredo Duarte) Elegia do Amor (Teixeira de Pascoaes - Alfredo Duarte) Não és Tu (Almeida Garrett - Alfredo Duarte) Ao Gosto Popular (Fernando Pessoa) A Maria (Antero de Quental - José Marques) Aquela Praia Ignorada (Pedro Homem de Mello - Frederico de Brito) Carta a Ângela (Carlos de Oliveira - Miguel Ramos)
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- Carlos do Carmo, À Noite Universal Music Portugal, 2007: Insónia (José Luís Tinoco - Armando Freire) Pontas Soltas (Maria do Rosário Pedreira - Joaquim Campos) Fado do 112 (Júlio Pomar- Armando Freire) Lisboa Oxalá (Nuno Júdice - Joaquim Campos) Margens da Solidão (José Manuel Mendes - Alfredo Duarte) À Noite (Nuno Júdice - Alfredo Duarte) A Guitarra e o Clarim (Júlio Pomar - Alfredo Duarte) Vem, Não Te Atrases (Maria do Rosário Pedreira - Armando Freire) Madrugada (Fernando Pinto do Amaral- Alfredo Duarte) Vou Contigo, Coração (Fernando Pinto do Amaral- Alfredo Duarte)
Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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Por nele observar a singular clarividência que não deteriora o âmago da raiz tradicional, mas antes reconhece nela o impulso criativo de um itinerário pessoal que constrói, acrescenta e sublima, Alfredo Marceneiro – um dos expoentes da mais arreigada tradição fadista - aplaudia a gravação, em 1963, de dois fados tradicionais da sua autoria, com acompanhamento da orquestra de Joaquim Luís Gomes.16 Na mesma senda, também Frederico de Brito saudava, entusiasmado, a gravação, em 1968, com orquestra sinfónica, do festejado tema Por Morrer uma Andorinha.17 E se por vezes o acompanhamento instrumental se deixava impregnar de referências jazzísticas - primeiro com Thilo Krassmann e depois com o contrabaixo que Carlos do Carmo introduz no Fado, convocando músicos como Carlos Bica – mesmo no acompanhamento tradicional foi persistentemente inovador como no Fado Moliceiro onde dialogava com a mais absoluta referência da guitarra portuguesa - Carlos Paredes - num arranjo de José Mário Branco, que Carlos desafiara ao Fado, quatro anos antes, com o tema Raíz.18 A par da revisitação dos fados tradicionais criados pelas grandes referências de Armandinho, Pedro Rodrigues, José Marques, Joaquim Campos, Casimiro Ramos, Martinho d’Assunção, Maria Teresa de Noronha, Raul Nery ou Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo insistentemente promoveu a criação de novas melodias junto de autores como Joaquim Luís Gomes, José Luís Tinoco, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Zeca Afonso, José Mário Branco, Carlos Paredes, José Niza, António Vitorino de Almeida, Sérgio Godinho, Mário Moniz Pereira, Gil do Carmo, Ivan Lins entre outros. E se na altivez de um percurso ímpar de meio século poderia descansar, insiste na reinvenção de si próprio fazendo-se acompanhar por Maria João Pires, celebrando as canções da sua vida com o amigo Bernardo Sassetti, ou desafiando as novas gerações à celebração cúmplice no extraordinário álbum Fado é Amor, expressão sublimada da sua permanente abertura ao outro na partilha desta herança magnífica que incansavelmente nos devolve, renovada e esplendorosa. A sua história é também uma história de amor pelos grandes pilares do Fado que conheceu e cujo legado incansavelmente revisita, como pelos mais jovens que genuinamente aplaude e admira e nele reconhecem, para lá da grande Obra, a sabedoria do Mestre. Venerando a memória viva, vimo-lo apresentar ao grande público a sua princesa Argentina Santos,19 num Coliseu dos Recreios arrebatado por aquela voz singular, lembrando algumas súplicas da diva árabe Oum Khalsoum, e que durante décadas permanecera reservada ao espaço da Parreirinha de Alfama.
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Carlos do Carmo e José Manuel Neto São Luiz Teatro Municipal, 2012 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
- Estranha Forma de Vida e A Viela ambos de Alfredo Marceneiro, Loucura, de Júlio de Sousa, Lisboa Casta Princesa, de Raul Ferrão e Álvaro Leal. 17
- Na melodia do tradicional Fado Vianinha
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- Raiz, tema de estreia de José Mário Branco no Fado, era editado em Carlos do Carmo, Álbum, Phillips, 1980. 19
- No Coliseu dos Recreios, em 1994
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Mas a história de Carlos é ainda uma história de amor pela poesia e pela música, que definitivamente enalteceu num diálogo de grande cumplicidade com a melhor criação contemporânea, ao longo de meio século. No claro-escuro da sua voz reencontramos a crónica quotidiana de um Stuart, a alegoria modernista de Almada, a fina ironia de Botelho, a nostalgia da cor e da luz que o olhar de Francis Smith sempre celebrou, mesmo à distância, numa geografia de memórias afectivas que nos devolve Lisboa em todo o seu esplendor. Distanciando-se da imagem de uma certa tristeza congénita do povo português, em viagem permanente num barco negro existencial, a sua voz poderosa - que teria triunfado em qualquer outro género musical - preferiu sempre o lado mais luminoso do nosso fado. Nos palcos mais prestigiados do mundo, foi esta a alegoria luminosa que chamou a si para elevar universalmente a nossa língua, sem quaisquer cedências a um repertório rotineiro e estereotipado, porventura de aplauso mais fácil. Isso mesmo documenta a sua vasta discografia, com gravações de concertos nos grandes palcos do mundo, por muitas rotas por onde foi afirmando internacionalmente a nossa língua e a nossa cultura. Dialogando em pé de igualdade com outros géneros musicais, vimo-lo muitas vezes festejando as suas canções, de Jacques Brel e Leo Ferré a Chico Buarque ou Violeta Parra e vimo-lo, esplendoroso, celebrando o seu Sinatra à frente da Orquestra de Count Basie. Somando uma vastíssima colecção dos mais prestigiados prémios e distinções – como esta exposição documenta - a história de Carlos do Carmo é também uma história de profundo respeito pelo seu público, junto do qual tem celebrado, nos últimos cinquenta anos, sucessos ininterruptos. Talvez porque a sua utopia reside, antes de mais, nas pessoas, o respeito pelo público faz de cada concerto um momento único que inevitavelmente surpreende, um acto de gratidão e entrega que liminarmente recusa o facilitismo da solução rotineira. Também o amigo e assíduo ouvinte Júlio Pomar, festeja esta sintonia afectiva entre Carlos e o seu público nos versos que lhe consagra por ocasião desta exposição: No assentimento dado/ P’lo sentir das multidões/ O bom povo dá lições/Ninguém fica incomodado. Só um amor grande e genuíno pela sua Arte poderia iluminar este magnífico e continuado impulso de futuro, numa geografia temporal que perpassa meio século. Só o apurado sentido de responsabilidade e de colectivo, poderia sustentar a sua entrega apaixonada e militante às grandes causas de valorização e salvaguarda do património do Fado. Recordo-me bem do dia em que o conheci e me surpreendeu a absoluta coerência entre o homem que canta e o homem que é. Deu-me, nesse dia, o contacto de Argentina Santos. Só mais tarde vim a reconhecer nela a sua princesa, como ainda hoje lhe chama, na amizade presente e assídua que com ela mantém. Tivemos o privilégio de contar com o seu contributo activo na implementação do Museu do Fado em 1998, num tempo em que o Fado estava ainda bem longe do consensual reconhecimento de que hoje usufrui.
Um Homem na Cidade LP Trova, 1977 Colecção de Carlos do Carmo
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Pude testemunhar o inigualável contributo para a preservação da sua genealogia cultural, reunindo informações, fazendo pontes, partilhando ensinamentos, saberes e memórias, sugerindo soluções e generosamente partilhando o seu património memorial e afectivo em prol de uma causa comum. Da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, viria a ser o primeiro e mais incondicional Mentor, desde o verso em branco da ideia inicial, à participação entusiasta e feliz que conduziu à consagração junto da UNESCO. Também eu me habituei a ver nele a figura do Mestre que continuamente nos empurra para o lado mais luminoso da vida, ciente de que as coisas belas só pertencem a quem as ama, como, muitas vezes, me confidenciou. Tenho a honra da amizade do Carlos e da Judite. Neles reconheço a afeição cúmplice, presente, leal e generosa, cuja dimensão largamente ultrapassa a fronteira sempre circunscrita das palavras. Falar da grandeza humana não é fácil. Mais desafiante ainda a tarefa de condensar, no limite frágil de um programa museológico, uma linha de ímpar longevidade criativa que perpassa meio século. Cientes de que só a música, impregnada do peso e da lembrança do tempo, como escrevia Eduardo Lourenço, pode conferir a um sentimento que julgamos único a sua real e indizível universalidade,20 e atendendo ao carácter inevitavelmente efémero em que esta mergulha, sempre inseparável de um tempo e de um lugar próprios, maior se afigura o desafio correspondente à sua musealização, seguros de que qualquer discurso museográfico se centrará, necessariamente, em torno de bens materiais. Partindo desta Voz que integra ontologicamente a cidade de Lisboa, a inscrição do seu vastíssimo legado no sistema simbólico do quotidiano urbano, constituiu um pressuposto central da programação museográfica, aqui assumida como ponto de partida e redescoberta da Arte de Carlos do Carmo num gigantesco museu sem paredes,21 que se abre de Lisboa ao Mundo. O projecto arquitectónico de João Santa-Rita inspirou-se formalmente no vasto universo discográfico do artista, desenhando um labirinto de construções circulares polinucleadas que aqui se assumem necessariamente como instantâneos fotográficos, iluminando diferentes aspectos de um extraordinário percurso artístico.
Carlos do Carmo Tertúlia no Martinho da Arcada, 2009 Fotografia de Fernando Bento Colecção do autor
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- Eduardo LOURENÇO, Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade, (1ª edição 1999) Lisboa, Gradiva, 2001, p.117. 21
- Arthur C. DANTO, The Transfiguration of the Commonplace. A Philosophy of Art. Harvard Univeristy Press, Cambridge Massachussetts, London, England, 1981.
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Bernardo Sassetti e Carlos do Carmo Gravações do CD Carlos do Carmo – Bernardo Sassetti, 2010 Fotografia de Rita Carmo Colecção Universal Music Portugal
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A exposição do acervo pessoal de Carlos do Carmo – desde a sua deslumbrante discografia a uma vastíssima colecção de troféus, galardões e prestigiadas distinções, passando pela documentação de repertórios poéticos e musicais, curiosidades – como a de um pequeno núcleo documentando a sua afinidade emocional com Os Belenenses – cartazes, periódicos, fotografias, objectos pessoais, inevitavelmente ilumina e documenta um percurso ímpar que sempre soube sublimar as memórias aproximadas de um século de Fado. O recurso ao audiovisual integrou imagens de arquivo, das últimas quatro décadas, ao lado de imagens inéditas do filme Um Homem no Mundo, de Ivan Dias, ou da sugestão de intimidade e presença junto do visitante, plasmada no vídeo-retrato de Carlos Mendes Pereira. Porque para lá do tributo de infinita gratidão a Carlos do Carmo, a programação da presente exposição deveria constituir também um ponto de partida para renovados olhares sobre o seu legado admirável, a construção de uma Base de Dados - permitindo a consulta integral da discografia e do acervo de documentação impressa que ilumina um itinerário pessoal de meio século - afigurava-se como um passo inevitável na construção de conhecimento sobre este percurso ímpar no panorama musical português e internacional. Arquivo em permanente devir, nele se reunirão todos os verso (s) em branco à espera do futuro22 que Carlos do Carmo entender reinventar.
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- A partir do verso de José Luís Tinoco, No Teu Poema, em Carlos do Carmo, Uma Canção Para a Europa, Movieplay - RTP, 1976.
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Raquel Tavares e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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FAZER DE CADA CHEGADA UM NOVO PONTO DE PARTIDA rui vieira nery
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Carlos do Carmo 100 Canções – Uma Vida, 2010 Fotografia de Rita Carmo Colecção Universal Music Portugal
“Chegar é morrer, a não ser que a chegada seja um novo ponto de partida”. Não sei bem de quem é a frase. Aprendi-a algures há muitos anos como sendo do pintor Paul Klee e nunca me dei ao trabalho de lhe verificar melhor a autoria porque me pareceu que se validava de tal modo a si própria como uma verdade evidente que dispensava a autoridade adicional de qualquer outra certidão de nascimento. O que é certo é que se aplica perfeitamente àqueles criadores que em qualquer género artístico fizeram mais do que se deixar levar, com maior ou menor talento, por uma corrente que não controlavam mas que, pelo contrário, souberam traçar o seu próprio caminho, redefinir a cada momento as regras do jogo, aceitar sempre novos desafios, não ter medo de assumir riscos, procurar saber mais, mesmo que muitas vezes por tentativa e erro, questionar o seu próprio sucesso, desconfiar do aplauso fácil, sentir-se desconfortáveis com as verdades adquiridas, com as soluções de rotina, com as respostas automáticas. São esses que escrevem a história dos géneros em que se inserem, e que dentro dela emergem como marcos individuais de referência do seu percurso colectivo. Raras vezes são meros iconoclastas e têm até, de um modo geral, uma forte consciência do legado de que partem e das etapas que os antecederam. Schönberg, que abriu as fronteiras da modernidade na Música do século XX, fazia passar os seus alunos pela disciplina severa de escreverem contraponto à maneira renascentista de Josquin des Près e fugas ao estilo barroco de Bach antes de os deixar navegar pelas novas águas da atonalidade porque achava que isso não só lhes ensinava o métier da escrita dentro de múltiplos parâmetros criativos diferenciados como sobretudo os tornava conscientes do processo de aprendizagem e de ruptura de cada geração em relação à herança da anterior. Não hesitam, quando necessário, em revisitar esse património para dele extraírem raízes e linhas de continuidade que lhes dão um sentido de identidade ou simplesmente para nele identificarem materiais já testados com que podem construir as novas estruturas que procuram definir. Mas justamente porque têm, por essa mesma familiaridade aprofundada com o passado, um conhecimento do processo de mudança constante que lhe está subjacente, têm horror a todas as cristalizações artificiais desse contínuo de inovação em fórmulas imobilistas que negam a própria essência da criatividade e a substituem pelo rótulo artificial de uma suposta “tradição”. “Tradição é desleixo” (“Tradition ist Schlamperei”), dizia Gustav Mahler, que no entanto era um intérprete genial das Paixões de Bach, das óperas de Mozart ou das Sinfonias de Beethoven, justamente porque em cada uma delas procurava por em evidência o que ela tinha trazido de novo no momento da sua criação, e o que nela emergia de essencialmente original, único e clarividente. “Desleixo”, pelo
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Carlos do Carmo e Lucília do Carmo Faia, s/d Colecção Museu do Fado
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contrário, seria para ele assentar as suas interpretações desses clássicos numa atitude passiva de repetição de cânones estabelecidos por mera rotina; e não procurar que cada uma das suas próprias obras representasse para si mesmo, como autor, um desafio comparável ao dos criadores que o tinham precedido. É esta mesma atitude de consciência patrimonial e ao mesmo tempo de necessidade de ruptura, essa espécie de dever ético de fazer de cada passo dado o impulso para o seguinte, e esse instinto seguro de saber escolher o próximo passo e de não ter medo de o dar, quase sempre antes dos demais, que nunca deixa de me impressionar quando olho, como historiador, para a carreira de Carlos do Carmo no contexto da história do Fado. Nunca conheci nenhum outro grande fadista que tivesse tanta consciência da memória viva do género, no espaço temporal de quase um século que decorre dos seus próprios cinquenta anos de carreira e de pelo menos outros tantos de experiências aprendidas do convívio desde criança com os fadistas mais velhos – com cantadores e cantadeiras, com guitarristas e violistas, com poetas e compositores, ou simplesmente com aqueles personagens indefiníveis que sem corresponderem a nenhuma destas categorias são pilares do quotidiano do Fado e testemunhas preciosas da sua história. É um olhar sobre o passado e à sua volta que tem tudo menos de passivo e que implica, pelo contrário, uma desconstrução crítica constante e um envolvimento emocional apaixonado, separando o trigo do joio, identificando o que é perene e o que é irrelevante, misturando opções informadas e afinidades electivas, mas marcado sempre por uma verdadeira veneração pelos grandes percursores em quem se reconhece, entre os quais vemos entrecruzarem-se, envoltos em afecto, os vultos de Marceneiro, Joaquim Campos, Armandinho, Martinho d’Assunção, Teresa de Noronha, Max, Britinho, Raul Nery ou – inevitavelmente – da Mãe Lucília. E é isso que explica a entrega apaixonada de Carlos do Carmo a todas as grandes causas de preservação dessa memória em que se envolveu de forma destacada ao longo das últimas décadas: a programação de Fado na Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, por iniciativa de Ruben de Carvalho; o estabelecimento do Museu do Fado, por proposta de João Soares; a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade, de que foi indiscutivelmente o principal mentor; a concepção da primeira série documental da Televisão portuguesa sobre a história do género, Trovas Antigas, Saudade Louca, que narrou com sabedoria rara; ou até, se me é permitida uma referência mais pessoal, a obstinação com que encorajou a minha própria imersão gradual no terreno da investigação histórica sobre o género, apresentando-ma sempre com severidade como pouco menos do que um dever moral incontornável mas amenizando-ma com uma permanente disponibilidade para me apoiar nessa aventura com os seus ensinamentos, as suas memórias, os seus conselhos e as suas críticas. Do mesmo modo, contam-se pelos dedos das mãos os grande fadistas que souberam de um modo tão exemplar olhar para si próprios com tanto sentido de um itinerário imperativo de descoberta e reinventar-se a cada momento com tanto sentido autocrítico, tanta coragem e tanta determinação. Quando teria sido tão fácil repousar, em cada etapa da sua carreira, sobre os louros adquiridos e passar a repetir uma fórmula de sucesso garantido, Carlos do Carmo nunca hesitou em olhar mais longe e em se colocar a si próprio, aos seus pares e ao seu público novos desafios sem complacência. Poderia ter-se limitado a continuar a cantar durante décadas com o mesmo êxito os grandes triunfos dos primeiros anos – o Bairro Alto, o Por Morrer uma Andorinha, a Júlia Florista, as Canoas do Tejo. E na realidade fê-lo sempre e continua a fazêlo, com conta e medida, nos seus concertos, deparando- se, a cada vez, nessa revisitação
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partilhada que é ao mesmo tempo muitas vezes de redescoberta inesperada de novos olhares sobre esse seu repertório patrimonial, com uma resposta de enorme carinho dos seus ouvintes fiéis. Mas mesmo em paralelo com essa primeira fase vão surgindo logo de início sinais de cruzamento de olhares com outros géneros cujos expoentes máximos foram marcando desde muito cedo o seu caldo de cultura musical – de Sinatra a Tony Bennet, de Piaff a Aznavour, de Brel a Chico Buarque. Com eles vai aprendendo outras maneiras de dizer o texto, de estar no palco, de comunicar com o público de uma grande sala, de construir um programa de concerto, incorporando de forma natural estas partilhas na raiz da tradição performativa fadista. E a eles vai buscar também o gosto por soluções diversificadas de acompanhamento instrumental, que utiliza em paralelo com as guitarras e violas da Lei – a orquestra de Joaquim Luís Gomes, o combo de Jazz de Thilo Krassmann, como mais tarde continuará a fazer com o contrabaixo de Carlos Bica, o cavaquinho de Júlio Pereira ou o piano de Bernardo Sassetti e Mário Laginha. Vem depois a parceria com Ary dos Santos, com tudo o que isso implicava de um patamar poético de maior exigência, e com ela a necessidade de mobilizar novos compositores que soubessem corresponder-lhe e renovar em consonância com ela a linguagem musical do Fado, desafiando-os para um terreno em que sem a garantia da sua referência de qualidade provavelmente nunca se teriam aventurado. Vai assim buscar Paulo de Carvalho e Fernando Tordo à Canção Ligeira, José Luís Tinoco ao Jazz, José Mário Branco à Canção de Intervenção, António Victorino de Almeida à Música Erudita, Carlos Paredes ao universo pessoal que tinha construído a partir da Balada coimbrã. Logo com O Homem na Cidade, em 1977, se percebe que entrámos numa nova etapa na história do Fado, como tinha sucedido com Marceneiro e Armandinho nos grandes fados estróficos das décadas de 30 e 40, com Frederico Valério e Raul Ferrão nos fados-canção do Teatro Musical, ou com as novas melodias com que Alain Oulman revestiu alguma da melhor Poesia da Língua portuguesa para a voz de Amália. E é neste mesmo universo que se inserem vários dos álbuns seguintes, pela pena de muitos dos mesmos compositores e até ao fim da sua vida com a presença decisiva de Ary. Mais do que Amar é Amor, de 1986, marca a abertura de outra vertente que prossegue desde então ininterruptamente, a da recuperação de algumas das melodias nucleares do cancioneiro tradicional do Fado, com o seu característico desenho estrófico e as suas métricas regulares de quadras, quintilhas e sextilhas em redondilhas maiores, decassílabos ou alexandrinos, mas adaptando-lhes agora grandes poemas clássicos e contemporâneos da lírica erudita portuguesa, de Bocage, Garrett e Antero, a Ary, Saramago e Carlos de Oliveira. Será a partir de então uma procura incessante, bem patente ainda em 2007 no extraordinário À Noite, em que Carlos do Carmo desafia grandes poetas da actualidade a escreverem expressamente sobre mais alguns destes fados estróficos de referência, de Maria do Rosário Pedreira a Fernando Pinto do Amaral ou Nuno Júdice. Lado a lado com os êxitos da primeira fase e com os novos fados de compositores vindos de outras músicas, estes velhos fados que assim encontram nova substância poética serão um terceiro pilar do seu repertório. E depois há todas as recorrentes incursões pelos outros géneros musicais, a selecção do Festival da Canção RTP de 1976, o Music Hall da Broadway, a Chanson francesa, a Trova latino-americana ou até ocasionalmente o Pop-Rock internacional, com destaque para uma veneração confessa e frequentemente revisitada por um Sinatra cujos grandes sucessos saberá recriar de forma surpreendente à frente da Orquestra de Count Basie – nada mais, nada menos.
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Carlos do Carmo e Camané Festas de Lisboa, 2 de Setembro de 2006 Fotografia de Reinaldo Rodrigues Colecção Vachier & Associados
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Tudo isto é – também – Carlos do Carmo, e todas estas facetas interagem, guerreiamse, dialogam, contaminam-se umas às outras, unificadas por uma mesma vontade de experimentar, por uma mesma curiosidade pela diferença, e sobretudo por uma personalidade artística tão forte que consegue dar coerência a opções tão diversificadas, que sem essa força agregadora se poderiam anular entre si. Nos cinquenta anos de itinerário artístico ímpar que esta exposição documenta é isso mesmo que emerge sem sombra de dúvida. Por um lado a presença esmagadora de um artista cujo impacto no meio musical português e internacional é absolutamente singular, somando prémios, distinções, convites prestigiados e sucessos ininterruptos junto de todos os públicos, independentemente de cada fase concreta da sua carreira, pela simples qualidade impressionante da sua voz, do seu talento, da sua entrega emocional, da sua capacidade de comunicador, do magnetismo da sua presença em cena, da sua forma própria de estar e de ser. Mas por outro lado o modo como ao longo de meio século essa presença esteve sempre associada a um gesto permanente de renovação que soube ser pioneiro incontornável de quase tudo aquilo que veio a caracterizar o dinamismo das gerações de intérpretes que se lhe têm seguido. A este respeito sejamos claros: muito pouco do que se faz no Fado desde o seu grande relançamento nacional e internacional a partir de meados da década de 1980, mesmo quando saudado pela crítica menos informada como uma novidade absoluta, poderia ter acontecido sem o que o próprio Carlos do Carmo fez e continua a fazer primeiro, década após década, seja no plano da música, da poesia, do acompanhamento instrumental, das convenções interpretativas, do cross over com outros géneros ou da estrutura dos espectáculos. Talvez por isso sejam os jovens fadistas – mais até do que muitos dos seus contemporâneos que não souberam compreender em devido tempo o significado da sua obra ou que apenas se deixaram cegar pelo brilho da sua carreira e pela escala cruel que ela impunha à avaliação das demais – os que mais fazem questão de saudar a dimensão absoluta e o papel renovador único de Carlos do Carmo naquilo que é hoje o Fado português. E essa cumplicidade intergeracional está bem patente no ritual fascinante e comovente de passagem de testemunho do seu mais recente trabalho, o álbum Fado É Amor, que o coloca lado a lado com vários dos expoentes maiores dos novos e novíssimos que escolheu para com eles celebrar o passado, o presente e o futuro do Fado. Para Carlos do Carmo cada ponto de chegada foi sempre – e será sempre – um novo ponto de partida.
Rui Vieira Nery Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança
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Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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Carminho e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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PALAVRAS PARA CARLOS DO CARMO
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Carlos do Carmo São Luiz Teatro Municipal, 2012 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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Mário Soares, Carlos do Carmo Faia, década de 1970 Colecção Carlos do Carmo
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Mário soares Nunca tive bom ouvido e, por isso, a música não me apaixona especialmente, quer a clássica, quer mesmo a ligeira. Mas, curiosamente, sempre gostei de ouvir Fado, sobretudo quando é bem cantado, ou quando tem músicas e poemas, muitos deles de inspiração popular, que me tocam. Tive, ao longo da vida, o privilégio de ouvir algumas vezes Lucília do Carmo, Mãe de Carlos do Carmo, e de apreciar a genuinidade do seu canto. Em jovem, ouvi Alfredo Marceneiro e ainda alguns outros da sua geração. A Carlos do Carmo, que é mais novo do que eu, só o comecei a ouvir já mais tarde, e posso dizer que sempre gostei muito da sua voz e dos fados que canta. Quando era Presidente da República, acompanhou-me em visitas oficiais a vários países e posso testemunhar como impressionou com as suas actuações, recebendo aplausos e elogios. Nessas ocasiões, deu um notável contributo para afirmar o Fado e a cultura portuguesa. A partir de então, continuei a ouvi-lo com frequência, muitas vezes na televisão. É, realmente, como diz Rui Vieira Nery, um fadista de excepção, que tem atuado em todo o Mundo, sempre com grande sucesso, aplaudido pelas plateias que o escutam e elogiado pela crítica. Canta grandes poetas portugueses e é amigo de grandes artistas, que o admiram, como, por exemplo, Júlio Pomar, que fez o seu retrato. Carlos do Carmo é, além de um grande cantor, um homem de cultura e um cidadão consciente e interventivo, com muita atenção pelas questões sociais e políticas, como tem demonstrado. Em 2013, iniciaram-se as celebrações dos 50 anos da sua brilhante vida artística e é este um bom momento para lhe testemunharmos a nossa admiração e reconhecimento. É isso que faço com muito gosto, desejando-lhe que nos continue a encantar com o seu talento, prosseguindo a sua magnífica carreira, pois ainda tem muito para nos dar. Além de continuar a ouvi-lo com admiração e prazer, espero, um dia destes, ir na sua companhia, como me prometeu, visitar o Museu do Fado. Estou certo de que, com um cicerone da sua qualidade e saber, essa visita será um momento privilegiado para reencontrar o Fado, que ele tanto tem prestigiado no Mundo, e a sua História, tão rica e apaixonante.
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Júlio Pomar, Carlos do Carmo Museu do Fado, 2007 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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júlio pomar A monarquia do fado Nunca terá eleições Que jamais foi contestado O lugar dos tubarões
No assentimento dado P’lo sentir das multidões O bom povo dá lições Ninguém fica incomodado
Carlos Primeiro o Charmoso Foi assim apelidado Pelas várias gerações
“Juro que não estou no gozo Porque tudo isto é fado” Disse Pessoa ao Camões
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fernando pinto do amaral A MÚSICA DO SANGUE Se há nomes que sempre estiveram ligados às minhas mais antigas memórias musicais, Carlos do Carmo é um deles. Quando começou a cantar, fez agora 50 anos, tinha eu apenas três – e às vezes parece que foi ontem. Recordo-me de o ouvir na rádio e em discos de vinil, nessa época em que o Fado começava a adaptar-se a uma sociedade em mudança, mas a voz do Carlos sempre me pareceu a mesma e inconfundível, imprimindo um cunho pessoal a qualquer fado ou canção que interpretasse. O seu repertório veio naturalmente a evoluir ao longo deste meio século, mas o essencial ficou intacto: a suprema arte com que o Carlos tem sabido recriar esse património que é o Fado, numa aliança muito sua entre uma tradição fadista que lhe corre nas veias e os inúmeros contributos de novos músicos e poetas, graças a uma atitude de permanente descoberta e de inovação que não rejeita o passado e que, pelo contrário, o transforma e o consegue integrar num presente cada vez mais vivo. Nessa vocação integradora reside, quanto a mim, talvez o principal segredo que fez do Carlos do Carmo esse intérprete absolutamente central, que hoje continua a simbolizar o melhor espírito do Fado como género musical de Lisboa. Se bem que já nos conhecêssemos e nos tivéssemos encontrado nesta nossa cidade que é quase uma aldeia, foi a partir de 2006 que tive o privilégio de trabalhar com o Carlos no CD À Noite, para o qual escrevi dois poemas que ele cantou em dois fados tradicionais de Alfredo Marceneiro – o Fado Bailado e o Fado Cravo. Durante as nossas sessões de trabalho em sua casa, pude testemunhar a sua entrega e a sua paixão, mas também o rigor que essa paixão lhe exige. E embora eu tenha formação musical, escusado será dizer até que ponto aprendi com o Carlos, também de um ponto de vista técnico, à medida que íamos experimentando esta ou aquela palavra para caber melhor neste ou naquele compasso. Estou-lhe muito grato por uma colaboração cujo resultado se condensa hoje em quatro fados, entre os quais o Fado da Saudade, poema que me convidou a escrever a partir do Fado Menor / Versículo para o filme Fados, de Carlos Saura (2007), e que depois nos fez viajar até Madrid, onde recebemos o Prémio Goya para a melhor canção em Fevereiro de 2008, numa inesquecível noite de chuva, que recordo como um dos momentos mais emocionantes da minha vida. De Sinatra se dizia que era simplesmente «the voice / a voz» – e o mesmo poderia dizer-se do Carlos em Portugal. Bastaria esse substantivo tão simples, tão breve, tão compacto, sem adjectivos que parecem sempre estar a mais quando pensamos no Carlos. Gosto dele como artista e também como pessoa, sobretudo quando o vejo rodeado pelo carinho de uma família que ele soube criar com o apoio constante da Maria Judite. Para terminar, lembro-me de um poema do Eugénio de Andrade em que se fala na «música do sangue», e é essa imagem que me apetece evocar para o definir o Carlos do Carmo – se houvesse definição possível para alguém que, tal como o próprio Fado, escapa e escapará sempre a todas as definições.
Diário de Notícias, 5 de Fevereiro de 2008 Colecção Carlos do Carmo
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vasco graça moura APROXIMAR O FADO DA LITERATURA A carreira de Carlos do Carmo é marcada por alguns aspectos que me parecem essenciais. Começarei por salientar a qualidade da sua voz e da sua dicção. De algum modo, Carlos do Carmo tem vindo a apurar a relação entre o fadista e o cantor de charme (o que é mais visível nos seus espectáculos e ficou completamente à vista no seu concerto Frank Sinatra). A voz proporciona-lhe um controle total dessas transições entre o fado e “outra coisa”, sabe recuperar integralmente a nitidez e o dramatismo do texto literário, encontra para cada uma das intenções deste uma ênfase certeira ao longo da interpretação. Por sua vez a dicção precisa e bem calibrada está no extremo oposto dos glissandi melismáticos de outros intérpretes, em que a autonomia das sílabas e da respectiva sequência muitas vezes se perde. Nas suas interpretações, o valor do texto, assim respeitado, é uma das componentes essenciais do valor do fado. O “estilar” do Carlos do Carmo, muito pessoal e intransmissível, no seu fraseado, nas suas pausas e transições, nas suas subtis valorizações prosódicas, na sua maneira inconfundível de atacar a linha musical, tem também que ver com a versatilidade dos recursos vocais de que ele dispõe e com uma exploração muito sóbria dos efeitos fadistas propriamente ditos. É uma personalidade em que à longa experiência se juntam uma exigência sem falhas e uma renovada capacidade de surpresa quanto a todos os ingredientes de que lança mão. O humor e a tragédia, o divertimento e o sentido do destino, o lirismo popular e a grande literatura, a tradição e a experimentação, na medida em que o fado os vai convocando, surgem habilmente doseados em cada uma das suas interpretações. E ao longo de 50 anos todas as modalidades temáticas e musicais que hoje confluem no fado foram ficando ao seu alcance.
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Nove Fados e uma Canção de Amor CD Universal Music Portugal, 2002 Colecção Carlos do Carmo
Há meio século, o fado era uma “canção de Lisboa”. Hoje em dia, sem trair as suas origens mas cobrindo outras áreas, o fado tornou-se nacionalmente emblemático. E Carlos do Carmo, cantor cosmopolita que no fado conviveu e aprendeu com todos os grandes intérpretes, letristas e compositores dessas cinco décadas, soube ser um dos agentes principais desse movimento, no país e no estrangeiro. Há em Carlos do Carmo uma espécie de compromisso instintivo e subjacente entre o chamado fado tradicional e a inovação do género. Grande parte dos fados musicalmente inovadores que ele canta mantém uma relação inteligente com o fado tradicional, cujo repertório conhece como ninguém. Por outro lado, há nele uma grande exigência na escolha das letras. Também aqui, entre o potencial expressivo do fado de matriz popular e do de origem literária cultivada, se nos depara uma constante procura de equilíbrios, quer na construção dos espectáculos quer no alinhamento dos discos. Carlos do Carmo tem contribuído como poucos para aproximar a literatura do fado e para dignificar o fado como uma das expressões populares mais significativas da cultura portuguesa actual.
Jornal de Letras, 30 de Outubro de 2013
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Pontas Soltas Poema de Maria do Rosário Pedreira para o disco À Noite, Universal Music Portugal, 2007 Colecção Museu do Fado
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maria do rosário pedreira VOZ DE ESTIMAÇÃO No Portugal cinzento da minha infância, havia muitos pais severos, autoritários e sobretudo formais e distantes; mas, na roda da sorte que é a vida de cada um, calhou-me graças a Deus uma família liberal que apreciava a noite e a boémia (e que hoje certamente apareceria como exemplo a não seguir em muitos manuais de Psicologia). A minha mãe adorava arranjar-se e sair e o meu pai era suficientemente doido para arrastar consigo os filhos menores para as casas de fado, nomeadamente O Faia, da grande Lucília do Carmo, de quem era amigo. Tenho ainda fotografias desse tempo, com franjinha e vestidos de gola engomada, sentada com seis ou sete anos entre fadistas e guitarristas (oh, que saudades do Very Nice) que eu fazia rir com macaquices próprias da idade e me davam beijos e sobremesas gulosas que nunca mais esquecerei. Foi, de resto, assim que comecei a ouvir Carlos do Carmo, essa voz inconfundível que se colava à pele, fazia arrepios e se impunha por ser tão única e tão diferente de tudo o que até então ouvíramos. Carlos do Carmo e o Faia foram, pois, fundamentais na minha educação musical – e o meu amor ao fado vem desse tempo em que, entre as brincadeiras e os doces, era simplesmente gratificante ficar de repente calada e quieta, só a ouvir. Nunca perdi o rasto ao grande fadista, até porque, sendo os meus pais seus padrinhos de casamento, a sua família, que foi aumentando com o tempo, nos visitava habitualmente na véspera de Natal. Mas nunca me ocorreu, à medida que ia crescendo, que alguma vez pudesse dar o meu contributo pessoal para um artista que já era enorme quando eu era pequena. O convite veio, porém, quando já tinha poesia publicada e Carlos do Carmo veio desafiar a «Rosarinho» para lhe fazer umas letras do álbum À Noite, dedicado também aos poetas contemporâneos. Céus, foi uma responsabilidade, sobretudo para quem acha que os versos vêm quando querem, e não quando quer; mas também um orgulho poder fazer parte de um projecto de alguém que admiro e que é uma figura ímpar na história do fado. Depois de muito penar por falta de experiência, lá consegui honrar o convite com duas letras que até não me saíram mal, senão Carlos do Carmo não as cantaria tantas vezes (e canta). E esse foi também o meu primeiro passo para uma actividade que agora se tornou mais regular e que, já sem grandes medos, me tem divertido muito: fazer letras para vários fadistas, incluindo, claro, Carlos do Carmo, para quem já reincidi. A ele estou profundamente grata, pela confiança e pela aposta, mas sobretudo por tudo o que nos deu, a todos os que gostamos a sério de fado, nestes cinquenta anos de carreira, cantando como ninguém.
Jornal de Letras, 30 de Outubro de 2013
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nuno júdice UMA INTERVENÇÃO CRIADORA Poderia começar por resumir numa simples definição o que tem sido o percurso de Carlos do Carmo: “A poesia foi a sua diferença.” Existe, sem dúvida, poesia ao longo do mais de um século em que temos registo das “letras” do fado: a poesia popular é um género estimável e que se tornou objecto de teses e estudos antes ainda de o fado se ter tornado, com plena justiça, património imaterial da humanidade. No entanto, foi Carlos do Carmo que insistiu em fazer da poesia objecto do fado, depois de Amália o ter já feito com O’Neill, Pedro Homem de Melo e David Mourão-Ferreira, entre os mais destacados dos seus autores. O encontro de Carlos do Carmo com Ary dos Santos, cuja obra é bem interessante, produziu resultados que ficam não apenas na história deste género musical mas na nossa Cultura: e desde então tem prosseguido esse trabalho com outros poetas de várias gerações, entre os quais me prezo de estar incluído. Atravessando não apenas os perigos e guerras da sua profissão mas também os de uma História cujas tribulações prosseguem, no melhor e no pior da nossa tradição, Carlos do Carmo resistiu a críticas e desvalorizações múltiplas, podendo hoje ser visível a coerência de uma obra marcada pela escolha quer do melhor que há na música (recorreu não apenas a compositores de fado, desde as origens até hoje, mas também a músicos contemporâneos, de que destacaria José Luís Tinoco, António Vitorino de Almeida, Bernardo Sassetti) quer no rigor dos poemas de cada disco que, no caso dos mais destacados, de “Um homem na cidade” ao mais recente em que é acompanhado por Maria João Pires, têm obedecido a temáticas que unificam essas obras e lhes dão uma estrutura de conjunto. Não é uma música que distrai ou simplesmente funciona para um prazer efémero do ouvido; antes obriga, tal como qualquer grande livro ou grande poema, a que se escute repetidamente para aceder aos múltiplos sentidos de cada fado. Ter trabalhado com Carlos do Carmo foi, por isso, um privilégio e com ele aprendi a especificidade dessa arte em que voz e música se juntam dentro de uma sequência rítmica e temática em que o poeta terá de entrar o que, por si só, é uma aprendizagem. E não foi um privilégio menor ter ganho um amigo em cujo convívio passa uma memória que não se limita a ser nostálgica, como muitas vezes sucede quando olhamos para o presente, mas que aponta no sentido de uma intervenção criadora para que, da terra que muitos gostariam de ver estéril, nasçam novos projectos a que a sua vontade e o seu entusiasmo vão dar vida, para não referir uma voz em que a nossa língua e a nossa poesia se ouvem com o esplendor da sua inteira clareza.
Jornal de Letras, 30 de Outubro de 2013
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À Noite CD Universal Music Portugal, 2007 2007 Colecção Museu do Fado
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Uma Canção Para a Europa LP Movieplay, 1976 Colecção Particular
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manuel alegre MAIS DE LISBOA, MAIS PORTUGUÊS E MAIS UNIVERSAL Gosto de fado, sempre gostei. Não digo “apesar de ser de esquerda”, mas pelo entendimento que tenho que ser de esquerda é ser fiel à raíz, à identidade, ao que é nosso e nos singulariza como povo e como nação. Diga-se de passagem que, estando eu em Paris, a convalescer em casa de Alain Oulman, outro homem de esquerda, com uma importância decisiva na renovação do fado e da própria Amália, fui levado por ele a casa dela. Amália que queria conhecer-me e me recebeu, sabendo que eu vinha de Argel e estava clandestino em Paris. Isto apenas para dizer que fado e esquerda não são incompatíveis. Segundo Eduardo Lourenço “a tradição deve ser a renovação criadora do adquirido”. Eis o que devemos a Carlos do Carmo, a renovação criadora do fado na fidelidade às suas raízes. Ele pode cantar o menor, o mouraria, o corrido, o fado de Lisboa na voz de Carlos do Carmo é sempre o mesmo e é sempre outro, é sempre antigo e sempre novo. E é sempre singular e único. Não só pela sua voz inimitável e o seu modo inconfundível de cantar, mas porque ele trouxe o fado da viela para o Tejo, o mar largo e o Mundo, deu-lhe outra perspectiva, outra força, outro horizonte. E ainda porque, graças também ao contributo de Ary dos Santos e António Vitorino de Almeida, lhe deu a dimensão do homem na cidade e, depois, do homem no país. E assim tornou o fado mais de Lisboa, mais português e mais universal. Sem esquecer que fado cantado por Carlos do Carmo tem um sabor a canoa do Tejo, a Lisboa menina e moça, mas também a 25 de Abril e liberdade. Admiro o grande fadista que ele é, mas admiro também o cidadão, o homem que sabe ser firme nas suas convicções, sem abdicar da tolerância e da abertura de espírito. Carlos do Carmo é hoje uma referência do fado, mas também da nossa vida democrática.
Jornal de Letras, 30 de Outubro de 2013
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pedro rolo duarte UM HOMEM E A SUA REVOLUÇÃO Há analogias felizes. Esta é uma delas: Carlos do Carmo está para a música portuguesa como o 25 de Abril de 1974 está para Portugal. Não tomem por exagero o paralelo: antes de Carlos do Carmo, o fado era conservador, reaccionário, fechado e sem saída à vista. Como o país. Depois de Carlos do Carmo, o fado abriu-se ao mundo e a si próprio, ganhou dimensão e profundidade, vida e liberdade. Como Portugal. Quando começou a cantar, Carlos foi de mansinho inovando, abanando a modorra da canção, em passos sem medo, mas com corrimão por perto. Até à “invenção do dia claro”, como disse o poeta. Eu era miúdo e não me esqueço de ver o meu pai entrar em casa e dizer: “Acabei de ouvir. O Carlos do Carmo tem um disco que vai mudar a face do fado e da música portuguesa”. Era a sua revolução, chama-se “Um Homem na cidade”. O meu pai tinha razão. Carlos rompeu todas as barreiras que separavam o fado do país entretanto acordado para a liberdade. E dando à canção rédea livre, soltando-lhe amarras e iluminando-a, contribuiu para que se tornasse unânime, como a democracia; incontornável, como a liberdade; apaixonante, como a construção de um país novo. Pelo caminho, houve tempo e espaço para tropeções e hesitações, incompreensões e até ódios – mas também nessa matéria Carlos do Carmo foi o 25 de Abril da música: despertou controvérsia até ganhar estatuto incontestável de instituição nacional. Ao fim de meio século, a instituição teria tendência a calcificar, adormecer, sentar-se à sombra das conquistas? Teria. Porém, uma vez mais, Carlos do Carmo acompanha Portugal, e onde antes havia revolução, há permanente renovação: quando o querem transformar em dado adquirido, ele ousa fazer-se acompanhar de Maria João Pires, cantar com Rui Veloso ou reinventar-se com Bernardo Sassetti. As revoluções nunca morrem enquanto o seu espírito as mantiver despertas e sensíveis. Carlos do Carmo sabe tão bem que assim é, que se dá ao luxo de alimentar a sua revolução interior a golpes de génio e criatividade. Se, ao fim de 50 anos, isto não é o melhor que um cantor pode ter, não dei o que poderá ser. Ou talvez saiba: o próximo disco, a próxima ousadia, a próxima conquista desta revolução permanente. 2013
Lisboa, Menina e Moça Single Movieplay, 1976 Colecção Museu do Fado
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BERNARDO SASSETTI
Eu conheço já há muitos anos o Carlos do Carmo, sei como ele canta, e gostava mesmo de escrever uma canção para ele, a pensar na sua voz, a pensar na sua respiração. Eu, apesar de ser pianista, tento, e experimento muito, contar histórias através do piano e de uma certa abstracção que existe na música instrumental. Eu tenho aprendido muito e o Carlos tem sido, de facto, um dos meus mestres nos últimos anos. Aquela ideia de saber contar a história, e a palavra no momento certo. Fazendo o paralelo para o piano, é a melodia no tempo certo, com a respiração certa. No fundo, isto para mim foi um momento muito importante, o Carlos ter-me entregue este poema e poder fazê-lo. A melhor definição que eu posso arranjar desde que conheço o Carlos, é sentir que o Carlos é um verdadeiro contador de histórias. Aquilo que eu sinto que tenho estado a fazer, no fundo, é acompanhar de uma forma mais abstracta, porque é uma forma mais musical, mais livre, mas acompanhar sempre e nunca largar o fio das histórias. A palavra no Carlos é qualquer coisa de definitivo. Aquilo que nós ouvimos para mim é de uma inspiração absoluta, seguir as ideias do Carlos, a métrica… Tem sido uma viagem constante, tem sido fabuloso. E isto, de facto, para mim era um sonho. Às vezes até me apetecia fazer silêncio e ouvi-lo só a capella.
DVD Carlos do Carmo – Bernardo Sassetti, Universal, 2010
Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti Gravações do CD Carlos do Carmo – Bernardo Sassetti, 2010 Fotografia de Rita Carmo Colecção Universal Music Portugal
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Mariza
Eu olho para o Carlos como uma figura de quem sou fã e por quem tenho respeito, não só como artista mas como pessoa, um respeito enorme, mas ao mesmo tempo sinto-o como como uma pessoa da minha família. Já partilhámos tantos palcos juntos, tantas conversas, o Carlos partilha as suas recordações, conta-me como era Lisboa, como eram os fadistas, como é que acontecia o fado naquela altura. Sinto-o um pouco como uma pessoa de família mas, ao mesmo tempo, um professor. O Carlos, sem saber e muito antes de me conhecer, foi meu professor, porque o fado é uma tradição oral e eu ouvia tanto Carlos do Carmo em minha casa que passou a ser meu professor. Hoje sinto-o como um professor presente, que me ensina a cada palavra que canta, que me corrige quando é preciso, que me explica as coisas, e é uma pessoa muito importante, tanto na minha vida musical como pessoal, porque eu sinto o Carlos e a família como se fossem meus também.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
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Carlos do Carmo e Mariza Gala do Fado, Casino Estoril, 2004 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
camané
O Carlos para mim é uma das maiores referências do fado, eu sempre falei sobre isso. É um intérprete que eu adoro, é um fadista que faz parte de toda a minha vida, é uma referência. Lembro-me quando comecei a ouvir o fado, os primeiros discos de fado que eu fui ouvindo e uma coisa que me fascinou no Carlos do Carmo, que era perceber-se tudo o que ele dizia. (…) O Carlos foi uma descoberta muito grande. Aquela forma de cantar. (…) Aquela coisa de respeitar os silêncios na música, na poesia, aprendi com o Carlos. O sentido da palavra, também aprendi muito com ele. É uma pessoa que eu gosto muito, como artista e como pessoa, e gosto muito de estar com ele e de conversar com ele, sobre fado. A forma como ele fala sobre fado é uma lição. O Carlos é uma lição de vida, é uma lição de fado para a minha geração.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
Carlos do Carmo e Camané Festas de Lisboa, 2 de Setembro de 2006 Fotografia de Reinaldo Rodrigues Colecção Vachier & Associados
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Raquel Tavares
O convite para participar neste disco do Carlos do Carmo deixou-me surpreendida. O Carlos é um artista que reúne um historial de amigos, músicos, cantores, poetas e intérpretes vasto, portanto eu não imaginava que ele me incluísse no rol de artistas convidados, o que deixou muito lisonjeada. O Carlos é uma figura incontornável. Lembro-me de ver o Carlos desde que me lembro de existir no meio fadista, é um ícone, uma referência (…) O Carlos é aquela pessoa que criou a sua própria história dentro da história do fado, e isso nem todos conseguem. Há aqueles que fazem parte da história do fado e o Carlos, além de fazer parte da história, tem a sua própria história no fado, e tem todo o meu respeito por isso, toda a minha admiração, e pelo facto de celebrar 50 anos de carreira (…). Ele vem de uma geração em que era preciso ser-se original, criativo, teve com ele os melhores compositores, os melhores músicos, fez-se rodear dos melhores, com muita inteligência, com muita sabedoria. Isso é uma escola enorme, que absorvo obviamente, da maneira que posso. Portanto só tenho de lhe dar os parabéns por estes 50 anos de carreira. E venham de lá os próximos anos, mais 50! (…) O que lhe desejo é que este disco seja o concretizar de um sonho, porque fazer-se um disco de 50 anos de carreira já não é para toda a gente.
DVD O Fado É Amor, Universal, 2013
Raquel Tavares e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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Ricardo Ribeiro
O Carlos telefonou-me e convidou-me para cantar um fado com ele. É um fado dos que eu mais gosto, de Joaquim Campos, muito bonito, o fado ‘Castanheira’ e os versos da Maria do Rosário Pedreira, que são uns versos lindíssimos, ‘As Pontas Soltas’. O Carlos convidou-me e eu imediatamente aceitei.
DVD O Fado É Amor, Universal, 2013
Carlos do Carmo e Ricardo Ribeiro Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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ana moura
Eu tive contacto com os fados do Carlos do Carmo quando era muito pequenina. Eram dos poucos fados que passavam na radio. O meu primeiro contacto foi através dos meus pais, porque ambos cantavam. O meu pai tocava guitarra e cantava muito os fados do Carlos do Carmo portanto, o Carlos é assim, para mim, uma grande, grande referência e é também um dos motivos, pelo qual, eu hoje canto fado.
DVD O Fado É Amor, Universal, 2013 Carlos do Carmo e Ana Moura Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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Mafalda Arnauth
Falar sobre o Carlos não é nada fácil, porque toda a ideia que eu tenho do Carlos é, sobretudo, de gostar de o ouvir. Gosto de o ouvir falar, de o ouvir contar histórias e, de todas as vezes em que nos encontrámos – e é muito raro eu ficar calada - o Carlos tem esse dom, de me pôr um bocadinho nesse estado que é: porque é que eu vou falar se aquilo que estou a ouvir é para ser bem absorvido? Provavelmente por isso, o que mais me fascina em qualquer artista que admiro, não é só a sua arte e aquilo que transmite (...) mas sobretudo as experiências que vive, as que viveu e a forma como tudo isso está absolutamente presente no momento de actuar, no momento de estar com músicos, com cantores, com as pessoas que ele gosta de ter à sua volta. Isso fascina-me, um artista que continua a investir em fazer parte deste mundo e deste universo, de uma forma extremamente presente e genuína - porque ao fim de tantos anos de carreira, eu quero ter essa convicção, já não se fazem “fretes”, e portanto a história que eu estou a ouvir e que o Carlos tem a generosidade de partilhar, é qualquer coisa que me faz sentir privilegiada, por estar e por poder viver. Também, enquanto artista no nosso país, cada vez mais tem importância para mim. O legado que deixa, o facto de ter trazido ao conhecimento do público alguns dos melhores poetas, alguns dos melhores compositores e de ter um reportório incomparável, é qualquer coisa que lhe agradeço eternamente.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
Mafalda Arnauth Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
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Cristina Branco
O Carlos é uma referência, não só do fado mas da música portuguesa. Também enquanto indivíduo é um exemplo de um grande cantor. É uma referência não só no nível vocal mas na capacidade de expandir o seu objecto, a sua voz, para outros espaços que não o fado. O bom gosto musical, o bom gosto interpretativo - acho que reúne uma serie de qualidades que me fazem gostar de uma pessoa, de um cantor. O Carlos tem todas essas capacidades, todas essas qualidades que eu tanto aprecio num cantor.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
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Cristina Branco e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
Marco Rodrigues e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
Marco Rodrigues
Para qualquer pessoa, poder partilhar alguns momentos com o Carlos do Carmo é fantástico, é uma aprendizagem diária. Para um cantor ou para alguém ligado à música, é um privilégio enorme, o Carlos tem muito para ensinar. Quando vou a casa dele, fico horas a absorver as histórias, o conhecimento do Carlos, em relação à forma como se dizem certas palavras. Portanto sinto-me privilegiado em poder ter o Carlos do Carmo como amigo, conselheiro, e poder partilhar com ele alguns momentos que são uma aprendizagem enorme.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
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Carminho
O Carlos do Carmo é uma figura incontornável da música portuguesa, que esteve presente em momentos muito importantes e decisivos da cultura portuguesa, e que alia uma vontade de ir para a frente e uns olhos postos no futuro. Querer aliar-se sempre a pessoas novas, a projectos com uma novidade, a ultrapassar sempre as suas zonas de conforto, mas trazendo sempre um grande respeito e uma bandeira bem hasteada, não no passado mas na tradição, naquilo que são as suas raízes e as suas referências. Eu oiço muitas vezes o Carlos falar, com muito orgulho e com muita paixão, daqueles que foram as suas referências, ensinando-me muito sobre o fado, sobre a história dessas pessoas, que acabam por ser também as minhas referências. Eu não as conheci e ele muitas vezes conta-me histórias de tendo estado com eles, partilhando, e o fado passa muito por isso, é uma partilha de geração para geração, e eu aprendo com o Carlos, e sinto que ele tem uma posição muito original.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
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Carminho e Carlos do Carmo Gravações do CD Fado é Amor, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção Universal Music Portugal
Aldina Duarte
Carlos do Carmo pertence aquele grupo de artistas do fado onde eu incluo Alfredo Marceneiro, Maria Teresa de Noronha, Carlos Ramos, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Fernando Maurício, que são artistas que têm uma obra muito vasta, criaram um reportório próprio, que tem que ver com a sua personalidade artística. São todos eles bastante singulares, têm todos vozes inconfundíveis e criaram todos um estilo próprio de cantar. Fizeram, podemos dizer, uma escola, ou seja, se é verdade que o património do fado se faz com igual importância, quer pelos artistas que têm mais visibilidade, quer pelos fadistas que têm menos visibilidade, tudo é muito importante numa arte de tradição oral como o fado. Igualmente importante em termos de património, porque por vezes um fadista pode criar, simplesmente, ao longo da sua vida, um fado, esse fado torna-se um ícone para as gerações vindouras, porque é um exemplo de bem cantar, um exemplo de bem interpretar, um exemplo de bom casamento entre uma letra e uma música, enfim, inúmeras razões. O Carlos pertence a esse grupo, com uma obra vasta, singular. A maior aprendizagem que eu faço com o Carlos do Carmo (...) é uma aprendizagem que exige uma compreensão, inicialmente, mas depois, acima de tudo, pratica - é como contar a história, como valorizar a palavra através da melodia, ou seja, como carregá-la do seu sentido próprio e do sentido que nós lhe queremos dar enquanto intérpretes. Esta é a grande herança que o Carlos do Carmo deixou enquanto fadista.
DVD Fado É Amor, Universal, 2013
Aldina Duarte Castelo de São Jorge, 2006 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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Carlos do Carmo canta Frank Sinatra com Count Basie Orchestra Revista Sábado, 10 de Novembro de 2011 Colecção Carlos do Carmo
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dennis mackrel
[maestro da Count Basie Orchestra] Dear Carlos, I am very touched that you took the time to write me and I’m very grateful for the lessons I learned while watching you work! You are a great performer and working with you reminded me of the days when the orchestra used to work more often with artists of your calibre. For some of the members of our orchestra who are too young to have had the chance to work with artists like Frank Sinatra or Ella Fitzgerald, working with you gave them the rare opportunity to see just how high the standard of excellence is. I thank you again for the wonderful music and the great experience and I hope that our paths will cross again somewhere down the road soon!! Sincerely,
23 de Novembro de 2010
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joão lobo antunes CARLOS DO CARMO VOZ DE LISBOA CANTADA Há mais de trinta anos, na véspera de partir para uma cidade grande que me iria prender, nem eu sabia por quanto tempo, disse adeus a Lisboa que, num mês chuvoso de Março, subitamente se iluminara de sol para se despedir. Deambulei pela Baixa Pombalina, subi à Graça e ao Castelo, olhei-a do miradouro de São Pedro de Alcântara, e enchi-me da cidade num abraço tão cerrado e tão amplo, que me durou muitos anos. Vesti-me por dentro de saudade e parti. E assim vivi numa cidade e sonhei com a outra. Hoje, dei comigo a pensar como Londres, Roma, Chicago, São Francisco, Nova Iorque são cidades de uma só canção e Paris talvez de um punhado escasso, enquanto Lisboa tem um sem número delas, pela conjunção miraculosa de grandes poetas, vassalos da cidade, como Alexandre O’Neill, David Mourão Ferreira ou José Carlos Ary dos Santos, e uma plêiade de compositores, que parecem ter nascido para vestir estes versos das melodias mais belas. Mas porque, como disse o inspirado brasileiro, a canção só é canção se cantar, era preciso dar-lhe uma voz para lhe soprar a vida. Dois fadistas o fizeram: Amália e Carlos do Carmo. Muitos, entre os quais eu me encontro, admiram em Carlos do Carmo o instrumento vocal, o timbre, o “tempo”, a elocução, os versos que se soltam com a leveza de uma bola de sabão. Mas isto só não bastaria: era preciso escola e alma. Escola, para que uma tradição antiga de dois ou três séculos, penetrasse a substância, preenchesse os interstícios da alma do artista, tradição transmitida por herança mas continuamente renovada, pois como provou o velho Darwin, só assim sobrevive. E que melhor maneira de a herdar que a admirável via materna! Alma, porque o fado só é fado quando chama a si tudo quanto ele guarda. No fado não há uma emoção inútil, um sentimento que sobeja. E porque sentimentos e emoções obedecem apenas às leis do acaso, são acidentes caóticos dos quais emerge, esplendorosamente, a interpretação. Por isso, não surpreende que com Carlos do Carmo, o mesmo fado, a mesma melodia, a mesma poesia, nasça sempre diferente, de cada vez que a guitarra e a viola rompem o silêncio com os primeiros acordes.
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José Fontes Rocha, José Maria Nóbrega, Carlos do Carmo e Joel Pina 45 Anos de Carreira, Casino Estoril, 2008 Colecção Carlos do Carmo
Como se compara Carlos do Carmo com os outros fadistas de Lisboa, incluindo o grande Marceneiro? A comparação é talvez fútil, mas eu atrevo-me a dizer que Marceneiro cantou os fados de Lisboa, e Carlos do Carmo canta Lisboa em fado. E por isso, quando longe desta cidade eu o ouvia, ele trazia-me sempre naquilo que cantava, a cor, o ruído, o cheiro, a gente, e o paradoxo de uma saudade que doía e, ao mesmo tempo, consolava. E ali eu me perdia, bem longe, da minha cidade. Mais tarde, ouvi de uma filha adolescente: - “Gosto tanto de me perder em Lisboa!”. Não posso esquivar-me a uma inconfidência – o fado é moeda com que Carlos do Carmo paga, com infinita generosidade, a quem está grato. Numa das faces da moeda está gravado o Tejo; a outra varia: o Castelo, uma varina, Alfama, os “putos” da cidade, o homem das castanhas. A cidade é dele, mas ele a oferece a todos, e é ele, mais que ninguém, que sempre me fez sentir que Lisboa é cidade “que me quer bem, que me quer bem”.
24 de Maio de 2006
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Carlos do Carmo e José Luís Tinoco 1996 Colecção Carlos do Carmo
josé luís tinoco Uma invulgar expressividade será, quanto a mim, o que melhor define o perfil do Carlos como intérprete de caraterísticas únicas. Que não se devem só à voz com que nasceu. O rigor e lucidez interpretativa com que se entrega à música e às palavras, a sobriedade, o sentido de “tempo” e de pulsação com que se passeia pelos temas que elege, tudo isto constitui uma soma de atributos que confere a tudo o que interpreta uma força afirmativa e um vigor adicional que se impõem a quem o ouve, mesmo nos temas mais banais. Esta é uma das características dos grandes intérpretes e nesta definição se incluem o profissionalismo, a formação eclética que justificam a dimensão e singularidade do Carlos. Muito haveria para dizer no pouco que este espaço consente; fico-me pelo que não passa de um início de depoimento mas não sem referir a coragem que o Carlos tem posto em propostas inovadoras, na superação de alguns aspectos limitativos do fado convencional. Fala-se presentemente no novo fado. Não me consta qualquer referência ao contributo que, há muito, o Carlos lhe vem trazendo. Talvez o tempo venha a corrigir o lapso.
2003
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fernando tordo Falar dele é também falar do seu enquadramento social, porque não dizer familiar. Foi assim que o conheci e o recordo até hoje, homem de muito mundo, muita vivência, muito andar, entregando cantando, como ele diz: espalharei por toda a parte, nunca evitando o sorriso. Passam-nos os anos e sempre a mesma tranquila inquietação aquela que canta e grita o que fazer a seguir. Para isso sempre ele teve os amigos que nunca abandonou e aos quais trouxe sem parar a alegria da proposta para mais uma canção. O Carlos precisa dos amigos como de uma canção para a boca, e pela minha parte jamais terá fome. Assim sendo, a nossa amizade longa e inteira tem sido um banquete permanente, caviar e sardinhas assadas, entrecosto e faisão, iguarias do muito ou nada que aprendemos de ser sérios e galhofeiros, piano de cauda e ferrinhos, mangas arregaçadas e o melhor fato para o público. Não recordo quantas canções já lhe escrevi, nem me interessa. Se calhar nunca lhe fiz aquela que gostaria de ter feito, mas asseguro que todas as que lhe desenhei são o testemunho mais honesto que qualquer amigo pode transmitir a outro: fiz para ele o que só faria para mim.
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Fernando Tordo e Carlos do Carmo Carlos do Carmo Um Abraço Português RTPI, 1998 Colecção Carlos do Carmo
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paulo de carvalho Querido Carlos: Reencontrei o texto de que tinhas gostado já lá vão uns anos. Mudanças de vida, de vontades, de espaços, de músicas, de pessoas até, fizeram-me “perder” LISBOA, ÀS VEZES… Mas, eis que, quem se quer bem sempre se canta. E a cantiga está feita. Se souberes de uma forma de falar de ti e do que tens feito pelo fado, diz-me. Eu continuo a pensar que elogios já tiveste muitos e muitos mais hás-de ter, mas penso, também, que o melhor elogio que te posso fazer, é pôr-te a cantar. Um grande abraço do teu amigo Paulo.
2003
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LISBOA, ÀS VEZES… da Lisboa da Lisboa não sei nada ou quase nada mesmo de mim sei tão pouco que me deito à sorte às vezes às vezes da Lisboa sei do fado ou quase fado destino por se fazer um viver deitado à sorte às vezes da Lisboa guardo tudo ou quase tudo os dias a cor a luz o Tejo e o povo ás vezes às vezes da Lisboa que me foge por entre os olhos digo mal grito e refilo mas volto sempre à memória Mas volto sempre a casa.
Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
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argentina santos Lembro-me quando ele tinha 14 anos… Falava como um homem de vinte e tal anos, era um homem… Achei-o sempre muito inteligente, muito Senhor, bom pai, bom marido, bom chefe de família. Era e é bom chefe de família. Gosto muito de quem fala bem e o Carlos fala e chega lá ao que é certo. Quando, em 1994, ele apareceu aqui, na Parreirinha a dizer para fazer um espectáculo no Coliseu, eu não queria. Cantava só aqui, tinha ido apenas uma vez à Venezuela. Mas como era com o Carlos, lá fui e era com o Rodrigo e o Camané e outros convidados e senti-me logo à vontade. Agradeço a estima do Carlos, porque logo nesse dia fui convidada para ir a Londres. Cantei, também no Centro Cultural de Belém, convidada por ele. Depois foi ele que foi à minha festa no Coliseu. Tenho-o acompanhado desde sempre, mantemos uma relação de grande amizade, trato-o por meu menino e ele trata-me por minha menina. Quando passa tempo que não sei nada dele, que não o vejo se quer na televisão, ligo-lhe para casa para saber como passa. Palavras para ele? Que faça muitos anos mais e que esteja sempre a cantar enquanto tiver forças. 2003
Carlos do Carmo e Argentina Santos Casino Estoril, s/d Colecção Carlos do Carmo
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Trovante, Baile no Bosque LP EMI, 1981 Colecção particular
manuel faria Conhecemos o Carlos quando começámos. Era amigo do Xico Viana e foi na casa dele, O Faia, que demos os primeiros passos de ouvintes da complexa teia de emoções e códigos que é o fado. O Carlos sempre nos recebeu com o imenso gozo de quem está na expectativa de ver ”o que é que vai ser destes putos”. Foi também ao Carlos que recorremos, quando precisámos de dinheiro para uma aparelhagem e ele era o único com disponibilidade e generosidade, acima de tudo, para nos valer. Foi imediato. Nunca esquecerei o desprendimento e a pronta vontade de ajudar do nosso Carlos. Foi também através da sua voz que começámos a gostar de fado. Depois, já maiorzinhos, partilhámos alguns palcos com ele onde pudemos, pela primeira vez, usufruir dos efeitos de luz que o Dias operava para nós de boa vontade. Éramos e somos com muito orgulho os seus “trovantinhos”. 2003
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maria velho da costa NOVE FADOS E UMA CANÇÃO DE AMOR Carlos do Carmo é do fado. E é da noite. Ele o diz. E como não havia de ser assim, nascido dentro do corpo da mãe castiça, criado ao som das vozes mais castiças da noite de Lisboa: Lucília, Maria Teresa, Marceneiro? Na casa do fado, eram vozes que lhe entravam no corpo ainda antes da luz do dia. Veio para o fado e ficou, como quem fica fiel a um país, ou à paixão que escolhe para a vida. E falo de escolha, coisa pensada, porque Carlos do Carmo é também, com Amália, o fadista da luz e da razão. É-o na beleza do porte, que ilumina, no olhar claro que desvenda as trevas do canto, na firmeza da inteligência interpretativa. O fado nele não morreu nunca em hábito ou repetição. Nem de si mesmo. O talento musical e a formosura da voz poderosa, capaz de muitos matizes, da doçura ao requebro purista mais antigo, são servidos por uma extraordinária competência linguística. Poucos portugueses falam e cantam com tal claridade o português. Lembro-me de o usar, ele que me perdoe, para seduzir em Inglaterra estudantes da nossa literatura e língua. Ao fim de um tempo, cantavam melhor que falavam: “agarro a madrugada, como se fosse uma criança”. É que Carlos do Carmo diz admiravelmente o que canta. Donde o trato, que ele procura e o procura, com poetas maiores, vivos e mortos. Ele é um órgão de luzes nos ofícios de trevas do fado, da poesia, da sobrevivência da língua. É nostálgico, este disco, um ensaio de despedidas ao passado e ao futuro, baladas de abalada. Mas a lucidez das escolhas de texto e música, o timbre límpido e matinal da voz, desmentem o fim do fado que nos deu sempre: a procura apaixonada de mais luz no canto e na palavra. Não há muitos que a saibam reflectir. 2002
Maria Velho da Costa Público, 13 de Janeiro de 2013
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Mais do que Amor é Amar LP Polygram, 1986 Colecção Nuno Siqueira
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josé saramago Que é uma voz? Não tentemos responder à pergunta embaraçosa com uma descrição escolar da fisiologia dos órgãos da fala. Insistimos antes na particularização: uma voz. Há vozes que se contentam com dizer-nos as palavras: escutamos umas, entendemos outras e, se pode acontecer não nos ser indiferente o que as palavras expressem, já às vozes as recebemos como um mero instrumento mecânico, útil, mas sem alma. No vasto mundo dos que cantam abundam esses autómatos. Há outras vozes para quem as palavras servem apenas de apoio a uma exibição de habilidades, acrobacias e virtuosismos que, se na altura nos deslumbram, acabam sempre, no segredo das nossas dúvidas, por deixar-nos com uma infeliz impressão de vazio, como se de uma mensagem esperada e desejada só tivéssemos captado a metade menos importante. No vasto mundo dos que cantam não faltam estes prestidigitadores. E há, finalmente, umas vozes para quem a palavra, literalmente, é tudo, e a música a sonda, a luz, o olhar que procura, na palavra, essa outra música, que na palavra se contém. No vasto mundo dos que cantam, essas vozes são raras. E portanto preciosas. Porque elas são a voz do próprio poeta, porque através delas a palavra e a música se fundem em corpo comum, expressão três vezes sublimada em que a voz e a palavra fazem a música, em que a música e a voz fazem a palavra e, finalmente, palavra e música se fizeram voz. É nesse último e privilegiado grupo de cantores que vamos encontrar Carlos do Carmo, e esta será a resposta possível, porventura insuficiente, à pergunta inicial. Mas nunca nenhuma demonstração foi tão fácil: bastará que Carlos do Carmo comece a cantar para que este elementar discurso, até aqui não mais do que aproximativo, se torne compreendido. Plenamente compreendido, espero, como plena de sensível humanidade é a voz deste homem – essa voz que canta a palavra e nos vem dizendo a música.
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Carlos do Carmo e António Vitorino d’ Almeida Casino Estoril, 2008 Colecção Carlos do Carmo
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antónio vitorino d’almeida Se alguém oferecer a uma qualquer causa de justiça ou de defesa dos direitos humanos um donativo de moedas falsas, não creio que essa “generosidade” possa significar algo mais do que uma forma de oportunismo que será urgente denunciar. Também a incompetência, o desleixo, a preguiça escondida sob a capa de um certo amor pela improvisação, têm marcado com o ferrete da ineficácia sociedades cuja transformação só seria possível através de um trabalho honesto, cuidado e estruturado sobre os valores sólidos de uma aptidão treinada. Por essa razão eu defendo em primeiro lugar a qualidade como critério de avaliação da obra de arte. Essa qualidade poderá depois ser aplicada a uma estrutura musical complexa – uma sinfonia, uma ópera, uma oratória – ou a um trecho menos ambicioso, mas nem por isso livre de exigências qualitativas: uma canção, uma cançoneta, uma dança, uma peça de folclore urbano. Por último, será também através dessa mesma qualidade que estas obras se poderão inserir, a um nível superior de participação, num movimento de carácter ideológico – seja em termos de estética, de sociologia, de política ou de quaisquer outras formas de defesa dos valores humanos. Em Carlos do Carmo, há um factor que julgo ter indiscutivelmente permanecido ao longo da sua actividade artística: a defesa intransigente da qualidade. Uma qualidade que está intimamente ligada ao talento, a uma musicalidade nata, mas que se transforma em valor actuante e sensível através do trabalho. Carlos do Carmo especializou-se num género musical que tem sido muitas vezes mal compreendido, nomeadamente pelos defensores do folclore puro e dos elementos mais tradicionais da cultura popular. Para esses ortodoxos, o verdadeiro folclore está na música sem autor, na música “incomercializável” que brota, como fruto secular da terra, no cantar dos povos, mantida viva pela tradição oral, ao longo de gerações.
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Para eles, aquilo a que se decidiu chamar folclore urbano – as canções vienenses e napolitanas, a cançoneta parisiense, o tango da Argentina, etc. – é sempre algo de suspeito, algo de fundamentalmente ligado à música ligeira comercial, com todas as implicações que esse comercialismo poderá ter no vasto mercado da alienação. Ora eu penso que esses pruridos de pureza na classificação do folclore autêntico e das suas eventuais mistificações citadinas, passam por cima da realidade de toda uma série de transformações sociais que presidiram ao afluxo das grandes massas populacionais para os centros urbanos, onde a criação, a promoção, a comunicação e a preservação dos valores culturais seguem directrizes inevitavelmente diversas daquelas que se verificavam nos meios rurais do passado, mas nem por isso são menos dignas da nossa atenção crítica. Não é pelo facto dessas produções do chamado folclore urbano terem, na maioria dos casos, um autor, ou mesmo até um editor, que elas deixam de estar ligadas a uma tradição popular. Na verdade, há que distinguir entre “os fados”, canções ou cançonetas de carácter mais ou menos comercial, e “o fado”, estilo peculiar de música característica da cidade de Lisboa, cujo “autor” se desconhece e cujas raízes mergulham numa já antiga e, sobretudo, indeterminada tradição cultural. Assim, quando o Carlos do Carmo me pediu que escrevesse para ele um fado achei do maior interesse investigar até que ponto eu pudera penetrar no espírito dessa tradição, consultando a opinião dos especialistas mais consagrados desse estilo “sui generis” de música portuguesa. Teve, portanto, especial significado para mim, a afirmação de Lucília do Carmo – uma “grande senhora” dessa forma de expressão musical – quando me disse há dias que “o meu fado tinha muito fado…” Descontadas as percentagens de amabilidade contidas nesta frase, permite-me admitir que me fora possível penetrar na estrutura de uma certa mística lisboeta, cuja tonalidade própria ressai, pintada em cores de quase inultrapassável realidade, das palavras do poeta José Carlos Ary dos Santos. Num jantar que tive com ele e com o Carlos do Carmo, falei-lhes da minha velha casa de Lisboa – da casa onde nasci e onde vivi toda a minha infância. Casa que os maus fados de uma partilha familiar obrigaram a ser vendida e teoricamente condenada ao camartelo. Casa que todavia subsiste, feita ruína, é certo, mas símbolo persistente da minha própria fidelidade às origens.
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António Vitorino d’ Almeida e Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
Como os cães a quem morre um amigo e que recusam o novo companheiro, piedosamente oferecido pelo caritativo dono, também eu nunca mais deixei de ver naquela velha casa a imagem da minha Lisboa passada. Viena seria a minha segunda cidade, tornada primeira, até, pela experiência de uma vida de luta, de trabalho, de construção, pedra a pedra, de uma verdade. A Lisboa da incompetência e da preguiça, a Lisboa vala comum de ilusões, a Lisboa velha gaiteira, ocultando na rambóia marialva a frustração angustiante do seu provincianismo lapuz, passou a ser, para mim, um hotel, uma pensão, uma casa de hóspedes, quando não um bordel… E contudo, ela é a minha cidade e o meu primeiro e maior amor. Um amor que subsiste na minha fidelidade àquela velha casa que ainda hoje e sempre me sorri no aceno caloroso das grandes esperanças da vida. E foi todo este sentimento que o José Carlos Ary dos Santos intuiu e soube transmitir nos versos desta música que outra coisa, afinal, não poderia ser senão – um fado…
1977
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josé carlos ary dos santos Escrever sobre Carlos do Carmo, para além do louvor de circunstância a um talento e a uma personalidade que ninguém discute, é, sobretudo, escrever sobre um dos mais importantes responsáveis pela renovação e pela dignificação do Fado em Portugal. De facto, através da sua incansável pesquisa de novos rumos musicais e poéticos, do requinte de um extremo bom gosto que nunca deixa de ser popular, duma força interpretativa que ora bate com força, ora afaga com ternura, Carlos do Carmo muito tem ajudado a construir aquilo a que dantes se poderia chamar um milagre, se os houvesse: pôr, em democracia, o fado realmente ao serviço do Povo. E isto não se faz sem coragem, não se faz sem talento, não se faz sem sacrifícios. Mas também é certo que se faz com vontade, que se faz com persistência, que se faz com alegria. Daí, que “Um homem na Cidade”, para além das qualidades que porventura tenha e que mal me ficaria, a mim, evidenciar, constitua, de facto, a dicotomia perfeita do Fado duma Cidade – Lisboa, cantado por um Homem – Carlos do Carmo. 1977
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Carlos do Carmo no Curto Circuito EP Tecla, 1970 Colecção Carlos do Carmo
baptista rosa Nos acanhados limites do nosso mundo do espectáculo, Carlos do Carmo é um caso que os ultrapassa para ganhar proporções e atingir horizontes que o situam em posição de relevo.
José Carlos Ary dos Santos s/d Colecção Museu do Fado
A voz quente e bem timbrada, nascida ali numa rua estreita do Bairro Alto, faz parte das noites de Lisboa e é hoje um nome grande do “show” que preenche a hora televisiva, o “LongPlay”, o programa radiofónico: - como demonstração da sua inegável capacidade, aqui estão estes momentos altos da sua actuação no Palco do teatro Monumental, frente às camaras, da Radiotelevisão Portuguesa e fechando condignamente um dos programas “Curto Circuito”, os versos de António Gedeão, José Afonso ou de Vasco de Lima Couto, como a música de Manuel freire ou J. Proença, encontraram em Carlos do Carmo a voz e a interpretação que merecem. Tal como “Curto Circuito” encontrou nele o autêntico “Show-man”, a grande actuação que empolgou uma sala inteira, numa tarde de sábado que as camaras gravaram e divulgaram para além dos tais acanhados limites do nosso mundo do espectáculo. 1970
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vasco de lima couto Todos temos uma asa para voar no silêncio que nos aproxima. Por isso, buscámos, na guitarra e na voz que a acompanha, uma razão distante para nos encontrarmos. E quando essa voz metaliza os sentimentos e envolve o momento que suaviza a angústia, aproximamo-nos do todo da nossa raça e cumprimos a distância dum mar que não acaba em nós, porque é de nós que parte. Penso isto, sempre que oiço o Carlos do Carmo cantar com aquela penetração, que faz do FADO, não a simples queixa que a noite respira, mas a autêntica visitação desse campo de aves - que são as palavras!, a iluminar o regresso quando somos a memória do amor que não se encontra. Carlos do Carmo, sabe medir os poemas que canta e sabe - como poucos!, reinventá-los e, como poucos (na dor indisciplinada que nos prende ao coração das horas) ele dá, a cada um de nós, a presença dum homem que tenta – até à angústia, dizer-nos que, apesar de tudo… “Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera!” 1969
Vasco de Lima Couto EP Decca, s/d Colecção Museu do Fado
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Maria João Pires / Carlos do Carmo CD Universal Music Portugal, 2012 Colecção Museu do Fado
josé cardoso pires Ouço Carlos do Carmo e ouço Lisboa aberta em mil cores. Sinto-a nos ecos da sua tradição mais popular, vejo-a debruçada a flor do Tejo respirando o mourejar do dia a dia: em ninguém como neste Homem da Cidade a vida de Lisboa se apregoa com tamanha paixão de liberdade. Esta capacidade de interpretar o tom e o traço citadino tem muito a ver com os versos de Cesário e Alexandre O’Neil e justapõe-se e de que maneira à pintura de Carlos Botelho ou aos desenhos de Stuart, esse admirável anotador do quotidiano da cidade. É luminosa de simplicidade e inteligentemente elaborada na sua expressão mais instintiva. Lisboa aparece assim a uma voz inconfundível, com seu humor subtil, sua cor, seu tom de voz marcado pela ternura e pelo desafio imperioso da expressão. Nada disto se consegue, é bem de ver, sem o talento de saber escutar o mistério e a paisagem, é isso que torna únicas as grandes vozes. E a de Carlos do Carmo é feita dum instinto natural, elaborado com meditação, um modo atento de descobrir o pulsar da cidade que ninguém, depois de Alfredo Marceneiro, soube descrever com tão natural fidelidade. Tem atrás de si, é certo, uma tradição que vem dos heróis de Tinop, o velho enciclopedista do Fado, e que se prolonga até Amália Rodrigues e Maria Teresa de Noronha, mas foi a sua liberdade criadora que o fez enfrentar a canção da cidade a uma nova luz, revelando-a na sua imagem contemporânea. É assim que, com Carlos do Carmo, o saudosismo retórico, o miserabilismo do fado-fadário e as elegias marialvas que constituíam o mote obrigatório dos cantores de Lisboa, deram lugar a uma nova expressão. Nesta relação inovadora há outra componente a destacar, a do enquadramento cultural em que se situam as suas canções. A voz de Carlos do Carmo conta a cidade em tom maior: nada de popularismos fáceis, nenhuma condescendência com a demagogia ou com o elitismo: aqui a palavra abre-se aos poetas, através de Alexandre O’Neil, Ary dos Santos ou David Mourão Ferreira, a Lisboa da mitologia sórdida e da aguarela fácil está cada vez mais distante. Felizmente. Agora sentimo-la mais íntima, mais real, e é Carlos do Carmo que lhe traz a sua voz mais criativa. 1968 95
sinopse cronológica Mariana branco ricardo bóia
Carlos do Carmo São Luíz Teatro Municipal, 2012 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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1939
Portugal encontra-se sob o regime do Estado Novo, sob o governo de António de Oliveira Salazar.
O canto do Fado está fortemente condicionado pelo regime político vigente, com censura prévia dos repertórios dos cantadores, definição de recintos próprios para as actuações e obrigatoriedade de posse de uma carteira profissional, entre muitas outras transformações. Amália Rodrigues, que viria a ser considerada uma das mais brilhantes cantoras deste século, estreava-se profissionalmente no Retiro da Severa. No panorama musical internacional e longe do universo do fado, Frank Sinatra faz sua estreia de gravação, lançando o seu primeiro disco comercial, From the Bottom of My Heart, em Julho de 1939. Carlos do Carmo de Ascenção Almeida nasce em Lisboa, a 21 de Dezembro, filho de Lucília do Carmo, uma das maiores fadistas do século XX, e de Alfredo Almeida, um brilhante livreiro. No decorrer deste ano morre o poeta e escritor A. Victor Machado, autor, nomeadamente, de Ídolos do Fado (Lisboa, 1937), e do poema Canção de Vencedores, que escreveu para Lucília do Carmo.
1940’s
Em 1946 inicia os seus estudos na Escola Primária, na Rua do Poço dos Negros. Em 1947 Lucília do Carmo e Alfredo Almeida fundavam a Adega da Lucília, mais tarde adoptando o nome de O Faia, no Bairro Alto, local histórico por onde passaram as grandes referências do Fado, como Carlos Ramos, Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro, entre muitos outros. Carlos do Carmo cedo demonstrou um extraordinário interesse pela música, gostando de cantar as canções mais em voga. Uma sugestiva gravação da época, documenta a sua interpretação de vários fados, com apenas oito anos de idade, sendo acompanhado pelo carismático guitarrista Carlos Ramos. Em 1948, com apenas nove anos de idade, ingressa no Liceu Passos Manuel. Esta década é marcada pelo desaparecimento do poeta Avelino de Souza, autor da obra O Fado e os seus Censores (Lisboa, 1912), e do guitarrista Armando Augusto Freire, Armandinho, em 1946.
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Lucília do Carmo, Alfredo Almeida e Carlos do Carmo Anos 40 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo Escola Primária, 1947 Colecção Carlos do Carmo
Carlos Ramos, Aura Ribeiro, Carlos do Carmo, Berta Cardoso e Alfredo Almeida Adega da Lucília, anos 40 Colecção Museu do Fado Carlos do Carmo 1946 Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo, Jaime Santos, Orlando Dias e Liberto Conde Faia, 1954 Colecção Carlos do Carmo
1950’s Em 1950 a cantadeira Argentina Santos abre a casa de fados Parreirinha de Alfama. Referência consensual do universo fadista, que nela reconhece umas das mais autênticas intérpretes do género, só na década de 90 se tornaria conhecida do grande público. Foi Carlos do Carmo, seu amigo e admirador, a chamá-la ao grande palco, convidando-a a participar nos concertos no Coliseu dos Recreios, em 1994 e Centro Cultural de Belém, em 1998. Em 1955, por desejo dos pais, Carlos do Carmo partia para a Suíça para estudar língua alemã, inglesa, italiana e espanhola no Institut auf dem Rosemberg. Terminada esta fase, em 1958 iniciava um estágio como praticante de comissário, a bordo dos navios Vera Cruz, Pátria e Infante, correndo mundo. Embora inicialmente fosse seu desejo estudar Direito, quiseram os fados que enveredasse noutra direcção, ingressando no Curso Superior de Hotelaria. Mais tarde, formou-se também em Contabilidade e Gestão. Em finais da década de 50, pela mão de Raul Nery, nascia o mais emblemático conjunto de guitarras da história do Fado. Raul Nery fundava o Conjunto de Guitarras Raul Nery, com o guitarrista José Fontes Rocha, o viola Júlio Gomes e o viola-baixo Joel Pina, uma plêiade de músicos que viria a acompanhar as grandes vozes do Fado, colaborando com Carlos do Carmo em muitos dos seus trabalhos.
Carlos do Carmo, Escola de Hotelaria Suiça, 1959 Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo, estágio no navio Pátria 1958 Colecção Carlos do Carmo
Casamento de Carlos do Carmo e Maria Judite Leal 13 de Dezembro, 1964 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo, Ilídio dos Santos, Orlando Silva e Lucília do Carmo Estúdios RTP, 1963 Colecção Carlos do Carmo
1960’s Com a morte prematura do pai, em 1962, Carlos do Carmo assumia a gestão da casa típica O Faia, acontecimento que o levou a uma reaproximação do Fado. Durante cerca de duas décadas, Carlos do Carmo acumularia a gerência da casa com a vida artística, actuando diariamente ao lado da mãe, factor que consolidaria O Faia como uma referência incontornável na oferta cultural da cidade. Em 1963 estreava-se na RTP ao lado da mãe, Lucília do Carmo. No mesmo ano estreava-se ainda na gravação, com etiqueta da Alvorada, em Mário Simões e o seu Quarteto Apresentando Carlos do Carmo, interpretando o fado Loucura, de Júlio de Sousa. Emitido regularmente na rádio, o fado Loucura transforma-se-ia rapidamente num enorme sucesso. O disco integrava ainda os temas Cinderela (Paul Anka - Mário Simões), Só Dor (Mário Simões) e Twist Desconjuntado (Mário Simões).
Mario Simões e o seu Quarteto Apresentando Carlos do Carmo EP Alvorada, AEP 60480, 1963 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo e Orquestra de Joaquim Luiz Gomes EP Alvorada, AEP 60593, 1963 Colecção Museu do Fado
Ainda em 1963 era editado, pela Alvorada, Carlos do Carmo com Orquestra de Joaquim Luiz Gomes, primeiro disco em nome próprio, reunindo os temas Loucura (Júlio de Sousa), Estranha Forma de Vida (Alfredo Duarte Marceneiro - Amália Rodrigues), Lisboa Casta Princesa (Raúl Ferrão) e Viela (Alfredo Duarte Marceneiro- Guilherme Pereira da Rosa). A 13 de Dezembro de 1964 Carlos do Carmo casa com Maria Judite Leal, numa cerimónia que contou com a presença de numerosas personalidades do panorama artístico nacional e internacional.
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Carlos do Carmo e Maria Lucília do Carmo 1967 Colecção Carlos do Carmo
1965 A 15 de Outubro nasce a primeira filha do casal, Maria Lucília do Carmo, Cila. Ao longo deste ano a Decca editaria os seguintes EP’s do fadista: Fado Razão da Minha Vida, Carlos do Carmo e a Guitarra de Jaime Santos, com os temas Agora Choro à Vontade (Guilherme Pereira da Rosa - Eugénio Pepe), Quadras Dispersas (Jorge Duarte Nunes – Carlos da Maia), Saudade Mal do Fado (Guilherme Pereira da Rosa – Alfredo Marceneiro) e As Três Normas (Carlos Conde - Frederico de Brito). Acompanhamento por Jaime Santos e Ilídio dos Santos (guitarra portuguesa), Orlando Silva (viola) e Joel Pina (viola baixo).
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Fados do meu Coração EP Decca PEP 1074, 1965 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo, Ilídio dos Santos, Jaime Santos, Orlando Silva e Joel Pina Gravações, anos 60 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo, Maria Lucília do Carmo e Alfredo do Carmo 1968 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo, Fados do Meu Coração, com a Orquestra de Joaquim Luís Gomes, incluindo os temas Rainha Santa (Henrique Rêgo – Joaquim Campos), Fica Comigo Saudade (Luís de Campos – Frederico de Brito) e O Fado (Henrique Rêgo – José Marques). No mesmo ano era ainda editado o EP Mais Fados por Carlos do Carmo, desta vez pela Alvorada, com os temas O Resto da Minha Esperança (Raul Pinto - Fernando Peres), O Trem Desmantelado (Fernando de Freitas - Carlos Conde), A Rua do Silêncio (Alfredo Duarte - António de Sousa Freitas) e Romance das Horas Paradas (João Maria dos Anjos - Fernando Peres). Acompanhamento por Jaime Santos e Ilídio dos Santos (guitarras), Orlando Silva (viola) e José Maria Nóbrega (viola baixo).
1967 Premiado como o Melhor Intérprete do Ano pela Casa da Imprensa, Carlos do Carmo inicia uma longa parceria editorial com a Philips, que edita: Carlos do Carmo, com os temas A Rua do Desencanto, (Jaime Santos - Fernando Peres), Fica-te Mesmo a Matar (Jaime Santos), Quadras Soltas (Francisco Viana - Silva Tavares) e Dá Tempo ao Tempo (António Campos - Joaquim Pimentel). Acompanhamento por Jaime Santos e Ilídio dos Santos (guitarras), e por Orlando Silva e José Maria Nóbrega (violas). Carlos do Carmo em Paris, na sequência da gravação efectuada nesta cidade, nos estúdios da Societé Phonographique Philips, época em que Carlos do Carmo actuou no Teatro Alhambra. Regista os temas Há Festa na Mouraria (José Marques - António Amargo), Quadras de Amor (Mouraria - Silva Tavares), Um Dia (Casimiro Ramos – Guilherme Pereira da Rosa) e Vestida de Madrugada (Joaquim Cavalheiro Júnior – Fernando Peres). Acompanhamento por José Fontes Rocha (guitarra) e José Maria Nóbrega (viola).
Carlos do Carmo em Paris EP Philips 431910 PE, 1967 Colecção Museu do Fado
1968 Alfredo do Carmo, o segundo filho, nasce no dia 15 de Fevereiro de 1968.
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1969 Editado pela Philips, Fado Lisboa, An Evening at the Faia, reunia interpretações de Carlos do Carmo e Lucília do Carmo. O cantor interpreta Quadras Soltas (Francisco Viana – Silva Tavares), Dá Tempo ao Tempo (António Campos – Joaquim Pimentel), A Rua do Desencanto (Jaime Santos – Fernando Peres) e Fica-te Mesmo a Matar (Jaime Santos). Interpretados por Lucília do Carmo são Sete Colinas (Raul Ferrão – Álvaro Leal), Madragoa (Raul Ferrão – José Galhardo) e Não Voltes à Minha Porta (Alfredo Duarte – Frederico de Brito). E ainda os instrumentais Dúvida (Jaime Santos), Fado em Dó (Jaime Santos), Corrido do Mestre Zé (Jaime Santos) e Noites no Faia (Armando Freire – José Marques). Uma desgarrada interpretada por ambos, da autoria de João Linhares Barbosa, enriquecia este emblemática edição.
Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
No mesmo ano a Philips editava Carlos do Carmo canta Fado, em suporte 45 Rpm, com orquestra dirigida por Jorge Costa Pinto. Aqui se reúnem os temas Por Morrer uma Andorinha (Francisco Viana – Frederico de Brito), Padre-Nosso (Armando Freire – Frederico de Brito), Júlia Florista (Leonel Vilar / Joaquim Pimentel - Joaquim Pimentel) e Aquela Feia (Júlio Proença Frederico de Brito). Acompanhamento por Fontes Rocha (guitarra). O álbum de maior sucesso desta primeira fase da sua carreira, Por Morrer uma Andorinha, era também editado pela Philips. Para além do célebre tema Por Morrer Uma Andorinha (Francisco Viana – Frederico de Brito), integram o álbum os temas Há Festa na Mouraria (José Marques – António Amargo), Um Dia (Casimiro Ramos – Guilherme Pereira da Rosa), Fica-te Mesmo a Matar (Jaime Santos), Quadras Soltas (Francisco Viana – Silva Tavares), Júlia Florista (Leonel Vilar- Joaquim Pimentel), Padre-Nosso (Armando Freire – Frederico de Brito), A Rua do Desencanto (Jaime Santos – Fernando Peres), Dá Tempo ao Tempo (António Campos – Joaquim Pimentel), Aquela Feia (Júlio Proença – Frederico de Brito), Quadras de Amor (Mouraria – Silva Tavares) e Vestida de Madrugada (Joaquim Cavalheiro Júnior – Fernando Peres). Com direcção de orquestra de Jorge Costa Pinto, o acompanhamento instrumental era protagonizado por Fontes Rocha, Jaime Santos e Ilídio Santos (guitarra portuguesa), e por José Maria Nóbrega e Orlando Silva (viola). No mesmo ano o LP O Fado de Carlos do Carmo, Conjunto de Guitarras de Raul Nery, era editado pela Alvorada. Os temas registados neste álbum são O Resto da Minha Esperança (Raul pinto – Fernando Peres), O Trem Desmantelado (Fernando de Freitas – Carlos Conde), A Rua do Silêncio (Alfredo Duarte – António de Sousa Freitas), Romance das Horas Paradas (João Maria dos Anjos – Fenando Peres), Sempre que Lisboa Canta (Carlos Rocha), Velha Lisboa (Fausto Caldeira), Estranha Forma de Vida (Alfredo Duarte Marceneiro – Amália Rodrigues), Loucura (Júlio de Sousa), Lisboa Casta Princesa (Raul Ferrão), Viela (Alfredo Duarte Marceneiro – Guilherme Pereira da Rosa), Coimbra (Raul ferrão) e Uma Casa Portuguesa (Artur Fonseca). Os temas têm acompanhamento instrumental pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery e ainda por: Jaime Santos e Ilídio dos Santos (guitarra portuguesa), Orlando Silva (viola) e José Maria Nóbrega (viola baixo). No LP O Fado em Duas Gerações - Carlos do Carmo e Lucília do Carmo, lançado pela Decca, Carlos do Carmo voltava a cantar ao lado da mãe. Os temas interpretados pelo artista são Fica Comigo Saudade (Luís de Campos – Frederico de Brito), Agora Choro à Vontade (Guilherme Pereira da Rosa – Eugénio Pepe), Rainha Santa (Henrique Rêgo – Joaquim Campos), As Três Normas (Carlos Conde – Frederico de Brito), O Fado (Henrique Rêgo – Francisco José Marques), Quadras Dispersas (Jorge Duarte Nunes – Carlos da Maia) e Saudade Mal do Fado (Guilherme Pereira da Rosa – Alfredo Marceneiro). Por Lucília do Carmo são interpretados os temas Maria Madalena (Gabriel de Oliveira - Popular), Não Gosto de Ti (Raul Ferrão – José Galhardo), Tia Dolores (Linhares Barbosa – José António Sabrosa), Senhora da Saúde (Francisco Santos – Alfredo Duarte) e Cor da Mágoa (Mário Martins – Fado Corrido). Com orquestra dirigida por Joaquim Luís Gomes, o acompanhamento instrumental era de Francisco Carvalhinho, Ilídio Santos e Jaime Santos (guitarra portuguesa), Orlando Silva (viola), e ainda de Liberto Conde e Joel Pina (viola-baixo).
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Fado Lisboa, an Evening at the Faia LP Philips 840 250, 1969 Colecção Museu do Fado Por Morrer uma Andorinha LP Philips 9298 003, 1969 Colecção Museu do Fado
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Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
Programa do Espectáculo Carlos do Carmo Show 1974 Colecção Museu do Fado
Carlos do Carmo com o Quarteto Thilo Krassman 1972 Colecção Carlos do Carmo
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1970 Em Maio deste ano, Carlos do Carmo actuava no programa de televisão Curto-Circuito colhendo enorme sucesso junto da crítica. A Tecla registava o momento musical no EP Carlos do Carmo no Curto-Circuito, integrando os temas Pedra Filosofal (António Gedeão - Manuel Freire), A Voz que eu tenho (Vasco de Lima Couto – Júlio Proença) e Menino d’Oiro (José Afonso). Ainda em 1970 era editado, também pela Tecla, o LP Carlos do Carmo, reunindo grandes êxitos do artista como Gaivota (Alexandre O’Neill – Alain Oulman), Bairro Alto (Carlos Neves – Francisco Carvalhinho), Vim Para o Fado (Júlio de Sousa), Fado da Noite (Leonel Neves – - Orlando Silva), Será Triste mas é Fado (Frederico de Brito), Já me Deixou (Artur Ribeiro – Max), A Saudade Aconteceu (Jorge Rosa – Popular), Não se Morre de Saudade (Júlio de Sousa – Popular), Mãos Vazias (Jerónimo Bragança – Alfredo Duarte), Guardei na Minha Saudade (Vasco de Lima Couto – Alfredo Duarte), A voz que eu Tenho (Vasco de Lima Couto – Júlio Proença) e Rodam as Quatro Estações (Feijó Teixeira – Raul Pinto). Com arranjos e direcção de orquestra de Jorge Costa Pinto, este álbum, onde se reuniam temas de grande sucesso comercial, contou com o acompanhamento instrumental de José Fontes Rocha, Carvalhinho e António Chainho (guitarra portuguesa), bem como de José Maria Nóbrega e Raul Silva (viola). No mesmo ano, Carlos do Carmo actuava no Festival Estoril 70, ao lado de Amália Rodrigues, Duo Ouro Negro, Madalena Iglésias, Dolores Vargas e Luís Gardey. O LP Carlos do Carmo, editado pela Tecla, era premiado com o troféu Pozal Domingues, Melhor Disco do Ano. Carlos do Carmo LP Tecla TES 6007, 1970 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo no Curto-Circuito EP Tecla TE1061, 1970 Colecção Carlos do Carmo
1971 Somando actuações no país e no estrangeiro, a actuação de Carlos do Carmo no Dicca, em Lourenço Marques, colheu extraordinário sucesso junto do público e da crítica nacional e internacional.
1972 Prosseguindo uma intensa carreira discográfica, Carlos do Carmo editava, pela Tecla: O EP Carlos do Carmo, reunindo os temas Duas Lágrimas de Orvalho (D.R. – Pedro Rodrigues), Sou Para Vós de Onde Venho (Vasco de Lima Couto - Joaquim Campos), Canto Para Não Chorar (Armandinho - Stoffel - Andrade) e O Fruto dá a Vida (Luís Miguel d’Oliveira). Uma plêiade de consagrados músicos acompanhava o artista: Fernando Freitas e José Nunes, na guitarra portuguesa, Martinho de Assunção, na viola, e Victor Ferreira, na viola baixo. No mesmo ano a Tecla editava o LP Carlos do Carmo com a Orquestra de Jorge Costa Pinto. Contribuem com arranjos e orquestrações Jorge Costa pinto, Dennis Farnon e Thilo Krassman. O álbum reunia os temas Ferro Velho (Joan Manuel Serrat – Alexandre O’Neill), Aurora Boreal (Fernando Tordo – António Gedeão), Canção de Madrugar (Nuno Nazareth Fernandes – José
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Carlos Ary dos Santos), Soneto XIV (Fernando Guerra – António Botto), Dizer que Sim à Vida (Fernando Tordo – José Carlos Ary dos Santos), Amor Total (Nuno Nazareth Fernandes – José Carlos Ary dos Santos), Canoas do Tejo (Frederico de Brito), Partir é Morrer um Pouco (António dos Santos – Mascarenhas Barreto), O Fruto dá a Vida (Luís Miguel de Oliveira), Canção Grata (Teresa Silva Carvalho – Carlos Queiroz), Não digam ao Fado (Frederico de Brito) e Fado dos Sonhos (Frederico de Brito). Em Fevereiro Carlos do Carmo voltava a actuar em Moçambique, numa digressão pelas cidades de Lourenço Marques, Beira, Nampula, Quelimane, Porto Amélia e Manica, colhendo enorme sucesso junto do público. Durante o mês de Agosto partia para nova digressão em Angola: no Lobito, em Benguela, Luanda e Sá da Bandeira, apresentando o Show Carlos do Carmo 72 onde era acompanhado por António Chainho, José Maria Nóbrega e pelo Quarteto Thilo Krassman. Ainda no decorrer deste ano, Carlos do Carmo produz e apresenta Convívio Musical, um programa semanal que teve como convidados grandes figuras da música portuguesa e internacional.
Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
1973 Em 1973 Carlos do Carmo apresenta-se pela primeira vez no Brasil, ao lado de Elis Regina, no Copacabana Palace, Rio de Janeiro. O terceiro filho do cantor, Paulo Gil, nasce a 21 de Junho de 1973. A Tecla editaria, ao longo deste ano: Canoas do Tejo, com direcção de orquestra por Jorge Costa Pinto e arranjos também deste, de Dennis Farnon e Thilo Krassman. Este disco reúne os temas Canoas do Tejo (Frederico de Brito), Não Digam ao Fado (Frederico de Brito), Canção Grata (Teresa Silva Carvalho - Carlos Queiroz) e O Fruto dá a Vida (Luís Miguel de Oliveira).
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Judite do Carmo, Carlos do Carmo, Alfredo, Lucília e Paulo Gil 1973 Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo Êxitos, álbum em que são celebrados temas como Gaivota, Estranha Forma de Vida, Bairro Alto, Por Morrer uma Andorinha, Vim para o Fado, Loucura, A Voz que eu Tenho, Duas Lágrimas de Orvalho, Não se Morre de Saudade, Agora Choro à Vontade, A Saudade Aconteceu e a Rua do Silêncio. A orquestra é dirigida por Jorge Costa Pinto e os arranjos musicais são de Thilo Krassman e Joaquim Luís Gomes. Acompanhamento musical de José Fontes Rocha e Conjunto de Guitarras Raul Nery. Ferro Velho, também com direcção de orquestra de Jorge Costa Pinto. O tema homónimo introduz o álbum, com música de Joan Manuel Serrat e letra de Alexandre O’Neill, seguido de Aurora Boreal (Fernando Tordo - António Gedeão), Amor Total (Nuno Nazareth Fernandes - João Carlos Ary do Santos) e Dizer que Sim à Vida (Fernando Tordo - João Carlos Ary dos Santos). Os arranjos musicais são de Thilo Krassman, Dennis Farnon e Jorge Costa Pinto. Gaivota com os temas Gaivota (Alexandre O’Neill - Alain Oulman), Guardei na Minha Saudade (Vasco de Lima Couto - Alfredo Duarte), Fado da Noite (Leonel Neves - Orlando Silva), e Rodam as Quatro Estações (Feijó Teixeira - Raul Pinto). Em Gaivota e Fado da Noite Jorge Costa Pinto dirige a orquestra e o acompanhamento de guitarra portuguesa é feito por Fontes Rocha. Nos temas Guardei na Minha Saudade e Rodam as Quatro Estações, acompanharam com as guitarras Francisco Carvalhinho e António Chainho e com as violas José Maria Nóbrega e Raul Silva.
Frederico de Brito s/d Colecção Museu do Fado
Não se Morre de Saudade…, no qual o acompanhamento musical é feito por Francisco Carvalhinho e António Chainho, na guitarra portuguesa, por José Maria Nóbrega, na viola, e por Raul Silva na viola baixo. Os temas que regista são o homónimo, Não se Morre de Saudade (Júlio de Sousa - Popular), A Voz que eu Tenho (Vasco de Lima Couto - Júlio Proença), A Saudade Aconteceu (Jorge Rosa - Popular) e Mãos Vazias (Jerónimo Bragança - Alfredo Duarte). Partir é Morrer um Pouco inclui o tema homónimo, com música de António dos Santos e letra de Mascarenhas Barreto, Fado dos Sonhos (Frederico de Brito), Canção de Madrugar (Nuno Nazareth Fernandes - José Carlos Ary dos santos) e Soneto XIV (Fernando Guerra - António Botto). Os arranjos estiveram a cargo de Thilo Krassman e Jorge Costa Pinto. Carlos do Carmo grava Something e Love Story. O primeiro tema é de George Harrison, músico da banda de rock britânica Beatles. A este respeito Carlos do Carmo comentaria: Começámos a cantar exactamente no mesmo ano, os Beatles e eu, e sem dúvida que eles representam um baú de grandes melodias. Este ‘something’ tem um conceito melódico que me agrada imenso. Não foi por acaso que o Tony Bennet e o Sinatra também gravaram esta canção.1 O segundo tema, Love Story, tem música de Francis Lai e letra de Carl Sigman. Ainda no mesmo ano a Tecla edita Vim Para o Fado, com direcção de orquestra por Jorge Costa Pinto e acompanhamento instrumental de José Fontes Rocha, na guitarra portuguesa. Reúne os temas Vim Para o Fado (Júlio de Sousa), Será Triste Mas é Fado (Frederico de Brito), Bairro Alto (Carlos Neves - Francisco Carvalhinho) e Já me deixou (Artur Ribeiro - Max). A Philips edita o EP Por Morrer Uma Andorinha, sendo este o primeiro tema do álbum, com música de Francisco Viana e letra de Frederico de Brito e incluindo também Padre Nosso (Armando Freire - Frederico de Brito), A Júlia Florista (Leonel Vilar - Joaquim Pimentel) e Aquela Feia (Júlio Proença - Frederico de Brito). O Maestro Jorge Costa Pinto dirigiu a orquestra e Fontes Rocha acompanhou à guitarra.
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- Ana Sousa DIAS, Carlos do Carmo 100 Canções Uma Vida, Lisboa, Publico e Universal, 2010.
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Canoas do Tejo EP Tecla TE 1104, 1973 Colecção Museu do Fado Gaivota EP Tecla TE 1072, 1973 Colecção Museu do Fado
Carlos do Carmo e Max 1968 Colecção Carlos do Carmo
1974 Pedra Filosofal LP Edisom 623506, 1975 Colecção particular A Voz Que eu Tenho EP Trova SON 100.030, 1975 Colecção Museu do Fado
A Tecla edita Pomba Branca, sendo o primeiro tema o homónimo com música de Max e letra de Vasco de Lima Couto. Seguem-se Menino d’Oiro (José Afonso), Andorinhas (Frederico de Brito J. Marques) e Bailado (Henrique Rêgo - Alfredo Duarte). Nos dois primeiros temas Jorge Costa Pinto dirige a orquestra e é também seu o arranjo de Pomba Branca. O tema o menino d’Oiro tem arranjo musical de Thilo Krassman. Acompanhamento musical pelo Conjunto de Guitarras de Raul Nery.
1975 A Voz Que eu Tenho é o titulo do EP editado pela Trova e que inclui os temas O Nosso Amor é Livre (Vasco de Lima Couto - Martinho de Assunção), Cidade Cinzenta, (João Dias - Vitor Ramos - Fado Cigana), Sou da Noite (Vasco de Lima Couto – Max) e Tenho a Pátria Num Rosto de Criança (Vasco de Lima Couto – Miguel Ramos). Neste trabalho o artista foi acompanhado pelas guitarras de Raul Nery e António Chainho, pela viola de José Maria Nóbrega e pela viola-baixo de Thilo Krassman. Segue-se o trabalho Carlos do Carmo, editado pela Tecla, com direcção de orquestra de Jorge Costa Pinto. Este álbum inclui os temas: Maria Vida Fria (Pedro Osório – José Niza), Bailado (Alfredo Marceneiro – Henrique Rêgo), I Giorni dell’ Arcobaleno (Piero Pintucci – Nicola di Bari), Los Ejes de Mi Carreta (Yupanqui), La Valse à Mille Temps (Jacques Brel), Andorinhas (Popular – - Frederico de Brito), Pomba Branca (Max – Vasco de Lima Couto), Menino de d’Oiro (José Afonso), Pedra Filosofal (António Gedeão – Manuel Freire) e Puedo Escribir los Versos (Pablo Neruda – - Pedro Osório). Desta vez pela Edisom, é editado Pedra Filosofal, onde se encontram os mesmos temas do álbum Carlos do Carmo, editado no mesmo ano pela Tecla. A capa desta edição é de autoria de Augusto Cabrita.
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António Chainho, José Maria Nóbrega e Carlos do Carmo Festival Eurovisão da Canção, 1976 Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
1976
A Philips grava Carlos do Carmo e Don Byas, com os temas The Shadow of Your Smile (Mandel – Webster) e I’ve Got You Under My Skin (Cole Porter). Carlos Wesley, Don Byas, veio a Portugal, nesta ocasião, para gravar com Carlos do Carmo e com Amália Rodrigues. O que Sobrou de um Queixume é também uma edição da Philips, composta pelo tema homónimo (Frederico de Brito), com direcção musical de José Mário Branco, e Fado Penélope (José Mário Branco / Manuela de Freitas - José Mário Branco). O primeiro tema é também o tema original do filme Sem Sombra de Pecado, de José Fonseca e Costa. Participa no célebre Festival da Canção de Sopot, na Polónia, e vence com a canção Have a Smile on your Face, de autoria de Adam Skorupka e Janusz Odrowaz, um texto redigido em inglês por Thilo Krassman a partir do original Gdzie Tem Swiat Mlodych Lat. Um dos prémios era gravá-la, para depois ser lançada no mercado ocidental, ocasião em que teve oportunidade de gravar com a orquestra de sopros de Kurt Edelhagen e Sinfónica de Colónia. O tema é editado pela Crystal, juntamente com I Know an Old Man e pela Movieplay juntamente com The Blind Man Who Can See, ambos de autoria de Gerhard Eisenmann e Pablo Pencil. É editado, pela Movieplay, o EP Lisboa Menina e Moça. O tema homónimo (Joaquim Pessoa / José Carlos Ary dos Santos – Paulo de Carvalho / Fernando Tordo), com arranjo e direcção de orquestra de Thilo Krassman, é um dos seus maiores êxitos de sempre. O outro tema desta edição é Estrela da Tarde (José Carlos Ary dos Santos – Fernando Tordo), com arranjo de Joaquim Luís Gomes. Carlos do Carmo é convidado a interpretar as oito canções do Festival RTP da Canção, desta vez intitulado Uma Canção para a Europa. A canção vencedora foi Uma Flor de Verde Pinho (José Nisa – Manuel Alegre), com a qual representa Portugal no Festival da Eurovisão, que teve lugar em Haia, na Holanda. Uma Canção Para a Europa LP Movieplay / RTP MOV 6.022, 1976 Colecção particular Lisboa Menina e Moça EP Movieplay SP 25.002, 1976 Colecção Museu do Fado
Numa parceria entre a Movieplay e a RTP é lançado o LP Uma Canção Para a Europa. A direcção de orquestra foi entregue a Thilo Krassman, os arranjos são deste último, de José Calvário, Joaquim Luís Gomes, José Luís Simões e Mike Seargent. Os temas incluídos são Onde é que tu Moras (Joaquim Pessoa – Paulo de Carvalho), Estrela da Tarde (José Carlos Ary dos Santos – Fernando Tordo), Os Lobos de Ninguém (José Luís Tinoco), Novo Fado Alegre (José Carlos Ary dos Santos – Fernando Tordo), No teu Poema (José Luís Tinoco), Maria Criada, Maria Senhora (Tozé Brito), Cantiga de Maio (Joaquim Pessoa – Carlos Mendes), Uma Flor Verde Pinho (Manuel Alegre – José Niza), Lisboa Menina e Moça (Joaquim Pessoa / Ary dos Santos – Paulo de Carvalho / Fernando Tordo) e Meu Nome é Fado (José Manuel Martins).
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1977 É editado Um Homem Na Cidade, pela Trova, considerado por muitos a obra-prima discográfica de Carlos do Carmo. Os poemas são de José Carlos Ary dos Santos e as composições são de nomes oriundos de diversas áreas da música. Trabalho que vai influenciar, a partir daqui, muitas das novas tendências de acompanhamento musical, Um Homem na Cidade é considerado um disco grande da música portuguesa. Os temas que o compõem são Um Homem na Cidade (José Luís Tinoco), O Cacilheiro (Paulo de Carvalho), Fado do Campo Grande (António Vitorino de Almeida), O Amarelo da Carris (José Luís Tinoco), Namorados da Cidade (Fernando Tordo), Nova Feira da Ladra (Frederico de Brito), O Homem das Castanhas (Paulo de Carvalho), Rosa da Noite (Joaquim Luís Gomes), Fado Varina (Moniz Pereira), Fado dos Azulejos (Martinho de Assunção), Fado da Pouca Sorte (Fernando Tordo) e Balada Para Uma Velhinha (Martinho de Assunção). A execução instrumental esteve a cargo de Raul Nery e António Chaínho (guitarra portuguesa), Martinho da Assunção (viola) e José Maria Nóbrega (viola-baixo).
Carlos do Carmo, acompanhado da família 1977 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo e Ary dos Santos Gravações para Um Homem na Cidade, 1977 Colecção Carlos do Carmo
Recebe ainda no decorrer deste ano, referentes a Um Homem na Cidade, o Disco de Prata, por vendas superiores a 15.000 exemplares e o Disco de Ouro, por vendas superiores a 30000 discos. Joaquim Frederico de Brito, carinhosamente o Britinho ou ainda poeta – chauffeur, como era conhecido por ter sido motorista de táxi durante largos anos, morre no decorrer deste ano. Carlos do Carmo nutria por ele grande admiração e lembrá-lo-ia dizendo Era um clássico e fez fados tradicionais da linha pura e dura. Mas era também um melodista, um sujeito à frente no tempo. Uma vez disse-me que gostava de fazer músicas para mim por causa dos meus graves. Compunha de ouvido a pensar nos meus graves e a tirar partido deles. Eu sinto um enorme conforto a cantá-lo.2 2
- Ana Sousa DIAS, Carlos do Carmo 100 Canções Uma Vida, Lisboa, Publico e Universal, 2010.
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Um Homem na Cidade LP Trova MOV. 7005, 1977 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo 1978 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo com Guitarras LP Tecla TES 6014, 1978 Colecção Museu do Fado Os Putos EP Trova SP-27 021, 1978 Colecção Carlos do Carmo
1978 A Tecla edita Carlos do Carmo com Guitarras. Na contracapa pode ler-se: Neste disco – com a voz de Carlos do Carmo – alguns dos melhores guitarristas contemporâneos: Nery, Carvalhinho, Chainho, José Nunes, Freitas, personalidades bem vincadas, sensibilidades definidas; uma qualidade comum que se lhes encontra: talento indiscutível. Neste disco reúnem-se os temas: Andorinhas e Bailado, acompanhamento por Conjunto de Guitarras de Raúl Nery; Duas Lágrimas de Orvalho, Canto Para Não Chorar, Sou Para Vós Donde Venho e Fruto Dá a Vida, acompanhados por José Nunes, Frederico de Freitas, Martinho de Assunção e V. Ferreira; Não se Morre de Saudade, Mãos Vazias, Rodam as Quatro Estações, A Saudade Aconteceu, Guardei na Minha Saudade e A Voz Que eu Tenho, temas acompanhados por António Chainho, Francisco Carvalhinho, José Maria Nóbrega e Raul Silva. O trabalho Dez Fados Vividos é uma edição da Trova, onde são reunidos os temas Gaivota, Lisboa Menina e Moça, Partir é Morrer um Pouco, Bairro Alto, Por Morrer uma Andorinha, Canoas do Tejo, Andorinhas, Vim Para o Fado, Não se Morre de Saudade e Duas Lágrimas de Orvalho. Este trabalho é reeditado, no ano seguinte, no Brasil e em França, o que prova a crescente projecção internacional do artista. Pela Trova, é editado o EP Os Putos, mais um tema que se consagrou um grandioso êxito na carreira do artista. Este trabalho é composto pelo tema homónimo, um poema de José Carlos Ary dos Santos e composição de Paulo de Carvalho, e Fado de Todos Nós (Jorge Glória - José António Sabrosa). O acompanhamento musical esteve a cargo de António Chainho e António Luís Gomes (guitarra portuguesa), Martinho de Assunção (viola) e José Maria Nóbrega (viola baixo). Carlos do Carmo é galardoado com o Disco de Ouro, por vendas superiores a 30000 exemplares de Dez Fados Vividos.
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Carlos do Carmo e Ary dos Santos Faia, 31 de Dezembro, 1979 Colecção Carlos do Carmo
1979 A Philips edita Fado dos Cheirinhos, EP que integra o tema título e Kyrie, poemas de José Carlos Ary dos Santos e composições de Fernando Tordo. Editado no Brasil, também pela Philips, Carlos do Carmo, O Maior Intérprete da Música Portuguesa, vem atestar a crescente popularidade do cantor neste país. LP que reúne os temas Fado dos Cheirinhos, Por Morrer Uma Andorinha, Onde é Que tu Moras, Estrela da Tarde, Os Lobos de Ninguém, Novo Fado Alegre, No Teu Poema, Os Ninhos, Kyrie, Maria Criada-Maria Senhora, Cantiga de Maio, Uma Flor Verde Pinho, Lisboa Menina e Moça e Meu Nome é Fado. No decorrer deste ano Lucília do Carmo deixa de cantar e Carlos do Carmo dá como terminada a sua missão na casa de fados, ocasião marcada com uma festa de despedida no espaço O Faia, a 31 de Dezembro deste ano.
Carlos do Carmo e António Chaínho Paris, 1980 Colecção Carlos do Carmo
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1980
Carlos do Carmo e Chico Buarque 1978 Colecção Carlos do Carmo
A 30 de Abril Carlos do Carmo participa no espectáculo 1º de Maio, no pavilhão do Rio Centro, ao lado de inúmeras figuras maiores da música do Brasil como Chico Buarque, Elba Ramalho, Djavan, Ivan Lins, entre outros. A Philips edita ao longo deste ano: Carlos do Carmo Álbum. O primeiro tema deste disco, Raiz, tem letra e música de José Mário Branco e terá sido a sua porta de entrada para o fado. Os outros temas são O Madrugar de Um Sonho (Frederico de Brito), Lisboa Cidade de Abril (Ary dos Santos – Paulo de Carvalho), Maus Tempos (Frederico de Brito), Um Fado (Vítor Martins – Ivan Lins), Retalhos (Ary dos Santos – Tó Zé Brito), Pequeña Serenata Diurna (Sílvio Rodriguez – Versão portuguesa de Ary dos Santos), Ronda Armando Leal / José Manuel Alexandre / Roberto e Lúcia / Quirino Monteiro), La valse a Mille Temps (Jacques Brel), Um Beijo no Futuro (Ary dos Santos – Wlodzimiorz Nahorny). A direcção de orquestra e arranjos são de Pedro Osório e a capa uma fotografia de autoria de Inácio Ludgero. Retalhos, composto pelo tema homónimo, que fará parte da banda sonora da série televisiva Retalhos da Vida de um Médico, e pelo tema Raiz. A 11 e 12 de Outubro canta, pela primeira vez, na mítica sala Olympia, em Paris. O artista foi acompanhado por António Chainho (guitarra portuguesa) e José Maria Nóbrega (viola). Carlos do Carmo ao Vivo no Olympia LP Philips 6330 058, 1980 Colecção Nuno de Siqueira
Album LP Philips 6330 054, 1980 Colecção Museu do Fado
O concerto é editado pela Philips, no álbum Carlos do Carmo ao Vivo no Olympia, onde se incluem as faixas Abertura (José Carlos Ary dos Santos - Paulo de Carvalho), Por Morrer uma Andorinha, Bairro Alto, Um Homem na Cidade, Fado do Campo Grande, Os Putos, Estrela da Tarde, Menino d’Oiro, Uma Cantiga de Amor (Paulo de Carvalho), Cavalo à Solta (José Carlos Ary dos Santos – Fernando Tordo), Amélia dos Olhos Doces (Joaquim Pessoa – Carlos Mendes), Raiz, Redondilha (Pedro Tamen – Luís Cilia), Os Pontos nos iii (Sérgio Godinho), Rosalinda (Fausto), Tejo que Levas as Águas (Manuel da Fonseca – Adriano Correia de Oliveira), Pedra Filosofal, Canoas do Tejo, La Valse à Mille Temps e Lisboa, Menina e Moça. A Philips faz também edições deste álbum em versão Inglesa, Live at the Olympia e versão francesa, En Public a l’Olympia. Após a vitória no Festival da Canção de Sopot, A editora Polaca Polslkie Nagrania edita um LP, Carlos do Carmo. No verso do disco pode ler-se: The fact we are issuing a record by one of the Festival Sopot 76, Carlos do Carmo, is only too justified. Indeed, while in this country, he won a lot of fans for himself. There were such words about him in the Festival reviews as: Carlos do Carmo has desmontrated a magnificent viril voice and, above all, a stage maturity conscious of its value… Os temas reunidos no disco são Onde é que tu Moras, Estrela da tarde, Os Lobos de Ninguém, Novo Fado Alegre, Maria Criada-Maria Senhora, Cantiga de Maio, Uma Flor de Verde Pinho, Lisboa Menina e Moça e Meu Nome é Fado. No dia 8 de Dezembro, Carlos do Carmo encontra-se na Holanda e realiza um concerto ao lado dos Trovante, no Auditório da Universidade Livre de Amsterdão, noite que ficará na memória de todos por corresponder à data da morte trágica de John Lennon.
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1981
Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo é galardoado com o Disco de Ouro, por vendas superiores a 30.000 exemplares de Ao Vivo no Olympia. O Fado dos Cheirinhos integra a banda sonora da telenovela Os Imigrantes. A Polygram, por esta ocasião, lança um EP com este tema e com o êxito Lisboa, Menina e Moça. No decorrer deste ano, e pela segunda vez, recebe o Prémio Casa da Imprensa, na categoria de Fado.
1982 Lamenta-se o desaparecimento da grande cantora Elis Regina. Em parceria, seus amigos e grandes admiradores, Carlos do Carmo, José Carlos Ary dos Santos, Fernando Girão, José Luís Tinoco e José Niza, homenageiam a artista no disco Saudade de Elis, editado pela Phlilips, com os temas Elis (Ary dos Santos – José Luís Tinoco / José Niza) e Diamante (Ary dos Santos / José Luís Tinoco – José Luís Tinoco). A Polygram lança o álbum duplo A Arte e a Música de Carlos do Carmo, Edição Comemorativa de 25 Anos de Carreira. Nesta edição, particularmente cuidada, os temas são agrupados segundo designações temáticas. No primeiro disco: Na Trova, onde se incluem Por Morrer uma Andorinha, Bairro Alto, Canoas do Tejo, Gaivota e Vim Para o Fado; e Na Aurora com os temas Um Homem na Cidade, Fado do Campo Grande, Fado Ultramar, Balada para uma Velhinha e Lisboa Menina e Moça. No segundo disco, com a designação temática Em Viagem, os temas Chanson d’Antan, Have a Smile on your Face, Pequeña Serenata Diurna, La Valse a Mille Temps e I Have Got You Under My Skin; e No Sonho surgem os temas Estrela da Tarde, Os Lobos de Ninguém, Menino d’Oiro, No Teu Poema e Retalhos. No decorrer deste ano é-lhe atribuído o troféu Nova Gente, atribuído pela conhecida revista do mesmo nome, que o cantor conquista na categoria de Melhor Música Intérprete. Sobe pela primeira vez ao palco da sala histórica Alte Oper, em Frankfurt, atestando a sua crescente consagração internacional, acompanhamento por António Chainho (guitarra) e José Maria Nóbrega (viola). Alfredo Rodrigo Duarte, conhecido por Alfredo Marceneiro devido à sua profissão, morre a 26 de Junho deste ano. Figura emblemática do universo do fado, Carlos do Carmo reconhecê-lo-ia como tendo sido o seu grande professor em matéria de fado tradicional.
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A Arte e a Música de Carlos do Carmo LP Philips 6610 033, 1982 Colecção particular
Programa de Espectáculo Alter Oper Frankfurt, 1983 Colecção Carlos do Carmo
Programa de Espectáculo Markthalle, Hamburgo, 1983 Colecção Carlos do Carmo
1983 É atribuído o Disco de Prata ao Grupo Carlos do Carmo, por vendas superiores a 15000 exemplares de A Arte e a Música de Carlos do Carmo.
Carlos do Carmo Live, Alte Oper Frankfurt LP Philips 812 689-1, 1983 Colecção particular Um Homem no País LP Philips 814 658-1, 1983 Colecção Nuno de Siqueira
A Philips edita Carlos do Carmo – Live, Alte Oper de Frankfurt, espectáculo único no qual o artista encantou o público com Canoas do Tejo, Gaivota, Mouraria, Menor, Dois Tons, Bairro Alto, Duas lágrimas de Orvalho, O Homem das Castanhas, Os Putos, Fado dos Açores, Fado Lezíria, Fado Transmontano, Fado Manguela, Fado Ultramar, e Lisboa Menina e Moça. Em 21 de Janeiro regressa a esta sala para um novo espectáculo, ao lado de Carlos Paredes, que actua na primeira parte. De seguida parte para Alemanha e, a 23 de Janeiro, actua no centro de convenções Markthalle, em Hamburgo, partilhando uma vez mais o palco com Carlos Paredes. Nas duas ocasiões é acompanhado por António Chainho e José Maria Nóbrega. A 18 de Novembro deste ano apresenta, no Cinema Monumental, o seu novo trabalho Um Homem no País. Trata-se da segunda parte da trilogia iniciada em 1977, com o álbum O Homem na Cidade, e que não viria a ser terminada. O autor do projecto, José Carlos Ary dos Santos, morre precocemente em Janeiro do ano seguinte. A Polygram edita Um Homem no País, com poemas de autoria de Ary dos Santos e compositores de outros quadrantes musicais. Os temas incluídos são Fado Excursionista (José Afonso), Fado das Amendoeiras (Fernando Tordo), Fado da Madeira (José Luís Tinoco), Fado da Serra (Joaquim Luís Gomes), Fado Lezíria (Tozé Brito), Fado Transmontano (Carlos Paulo), Fado Moliceiro (Carlos Paredes), Fado Manguela (José Mário Branco), Fado dos Açores (Carlos Alberto Moniz), Fado do Trigo (António Victorino de Almeida), Fado Burrico (Paulo de Carvalho) e Fado Ultramar (Ivan Lins). A direcção musical esteve a cargo de José Mário Branco. Este disco ficou na história da discografia nacional por ser o primeiro trabalho a ser editado em formato de compact disc, CD, de um artista português. Ao Grupo Carlos do Carmo é oferecido o Disco de Prata, por vendas superiores a 15000 unidades relativamente ao trabalho Um Homem no País. Carlos do Carmo recebe, pelo segundo ano consecutivo, o troféu Nova Gente, na categoria de Fado.
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1984
Mais do Que Amor é Amar LP Polygram / Philips 826 841-1, 1986 Colecção Nuno de Siqueira
Recebe o Disco de Ouro por vendas em Portugal - pelas segundas 30000 unidades do disco Carlos do Carmo ao Vivo no Olympia. A 13 de Abril, em França, actua na Villa de La Verrierre, acompanhado pelo maestro Correia Martins, António Chainho e José Maria Nóbrega. Carlos do Carmo actua pela terceira vez, a 23 de Abril, na Alte Oper de Frankfurt. Já no final do ano volta a França e actua no Palais de La Mutualité, em Paris, espectáculo integrado no Festival A La Decouverte du Monde Latin. O último espectáculo do ano seria no réveillon do Hotel de Montechoro, no Algarve. Ainda no decorrer deste ano volta a ser agraciado com o prémio da Casa da Imprensa.
1985 A crescente popularidade do artista nos Estados Unidos levou a que editora americana Henda a editar A Touch Of Class, onde foram reunidos os temas Fado Excursionista, Por Morrer Uma Andorinha, Não se Morre de Saudade, Balada Para Uma Velhinha, Fados dos Açores, Have a Smile on Your Face, Estrela da Tarde, Chanson de Antan, Os Lobos de Ninguém e No Teu Poema. A 14 de Outubro actua no centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, no espectáculo Fados e Canções de Lisboa, por Carlos do Carmo e Teresa Silva Carvalho A Touch of Class LP Henda HR 455, 1985 Colecção particular
1986
A 31 de Janeiro de 1986 participa num concerto em homenagem a uma das suas grandes influências musicais – Jacques Brel, no Instituto Franco-Português. Este espectáculo teve a participação especial de Juliette Gréco e ainda as actuações de Janita Salomé, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Teresa Silva Carvalho e Vitorino.
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Judite do Carmo, Carlos do Carmo, Sérgio Godinho, Janita Salomé, José Mário Branco, Juliette Greco e Vitorino 1986 Colecção Carlos do Carmo
A Polygram lança Mais do que Amor é Amar, álbum de inéditos que, pelas suas características, se destaca na obra do artista, pela adaptação a fados tradicionais de textos de grandes poetas portugueses. O resultado deste trabalho são os temas Aprendamos o Rito (José Saramago – Miguel Ramos), Menor, Menor (Ary dos Santos – Maria Teresa de Noronha), À Memória de Anarda (Bocage – Alfredo Duarte), Elegia do Amor (Teixeira de Pascoaes – Alfredo Duarte), Não és Tu (Almeida Garret – Alfredo Duarte), Por Morrer Uma Andorinha (Frederico de Brito – Fado Menor), Quadras ao Gosto Popular (Fernando Pessoa – Popular), A Maria (Antero de Quental – José Marques), Aquela Praia Ignorada (Pedro Homem de Mello – Frederico de Brito) e Carta a Ângela (Carlos Oliveira – Miguel Ramos). O acompanhamento musical é de Raul Nery e António Chainho (guitarra portuguesa), José Maria Nóbrega (viola) e Pedro Nóbrega (viola baixo).
l Freire,
é Mário Branco, Manue Carlos do Carmo, Jos la de Freitas nue Ma e nso Afo é Jos s/d Carmo Colecção Carlos do
1987
Lamentável perda de José Afonso, conhecido por Zeca Afonso, em 23 de Fevereiro. Amigo pessoal de Carlos do Carmo, Zeca Afonso trabalhou em várias ocasiões com o fadista, nomeadamente aquando da preparação do tema Fado Excursionista de sua autoria, que integra o trabalho Um Homem no País. A Polygram/Philips edita Carlos do Carmo em Concerto, álbum que celebra os temas Gaivota, Por Morrer uma Andorinha, Um Homem na Cidade, Fado do Campo Grande, Estrela da Tarde, Menino d’Oiro, Canoas do Tejo, Menor-Maior, Não és Tu, Bairro Alto, Duas Lágrimas de Orvalho, O Homem das Castanhas, Os Putos, Fado dos Açores e Lisboa Menina e Moça. As gravações aqui reunidas foram as realizadas nas salas Olympia e Alte Oper de Frankfurt. Carlos do Carmo recebe o título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, concedido pelo Presidente do Município, a 12 de Maio deste ano. É ainda galardoado com o Disco de Prata, por vendas em Portugal superiores a 10000 discos, pelo trabalho Mais do Que Amor é Amar.
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Promoção do Espectáculo Comemorativo dos 25 Anos de Carreira no Canecão Rio de Janeiro, 1988 Colecção Carlos do Carmo
1988 Carlos do Carmo celebra 25 anos de carreira iniciando, em Janeiro, uma digressão pelos Estados Unidos da América e Canadá. No final do mês de Fevereiro, com Argentina Santos, Camané, Carlos Zel e Jorge Fernando, participa no Festival Les Méditerranées, em França. Em 4 e 6 de Março actua na Bélgica, num espectáculo com o nome Du Portugal avec AmourChansons du Bout de l’Europe. Na Dinamarca sobe ao palco das salas Musikhuset Aarhus e Koncertsalen, nos dias 25 e 26 de Março, respectivamente. Já no Brasil, Carlos do Carmo apresenta-se no dia 4 de Abril no Club de Regatas Vasco da Gama, no âmbito da Grande Festa Luso Brasileira. Em 25 e 26 de Abril Carlos do Carmo actua no Canecão, no Rio de Janeiro. A Portugal Musical grava Carlos do Carmo ao Vivo no Canecão, um LP com os temas Mar Português (Fernando Pessoa – André Luís Oliveira), Bairro Alto (L. Neves – Carvalhinho), O Homem das Castanhas (Ary dos Santos – Paulo de Carvalho), O Cacilheiro (Ary dos Santos – Paulo de Carvalho), Canoas do Tejo (Frederico de Brito), Pedra Filosofal (António Gedeão – Manuel Freire), Brasileirinho, Variação (Waldir Azevedo – António Chainho), Mestre Fado (Fernando Tordo), Um Homem na Cidade (Ary dos Santos – José Luís Tinoco), Menino d’Oiro (José Afonso), Gracias a la Vida (Violeta Parra) e Lisboa Menina e Moça (Ary dos Santos – Paulo de Carvalho). Acompanhamento musical por António Chainho e José Maria Nóbrega. Durante a sua permanência no Brasil, o artista actua nos principais programas de televisão, ao lado de Roberto Carlos e outras grandes estrelas da música brasileira. Em 25 de Agosto encontra-se em Espanha, onde integra a programação de Noches del Fonseca, evento cultural que conta com a participação de grandes nomes do mundo da música. De regresso a Portugal, Carlos do Carmo dá um grande espectáculo, no Mosteiro dos Jerónimos, intitulado No Tejo me Confesso, integrado no 8º festival de Música dos Capuchos. Carlos do Carmo canta fados e canções do seu reportório mais conhecido com acompanhamento de Pedro Osório (piano), de António Chainho (guitarra portuguesa), José Maria Nóbrega (viola), Maria João Cunha (acordeão), Nuno Golçalves (contrabaixo), Chico Cardoso (guitarra e viola acústicas) e George Lee (percursão). Direcção musical de Pedro Osório. De volta a Frankfurt, continua a celebrar os seus 25 anos de carreira, com o espectáculo Carlos do Carmo 25 Anos, ao lado de António Chainho na guitarra portuguesa e José Maria Nóbrega na viola. A 30 de Outubro, em França, actua no Salão de Congressos de Nanterre, integrando a programação do ciclo Quatre Jours d’Amitié Franco-Portugaise. Já a 17 de Dezembro preside ao Júri do III Concurso de Fado de Paris, no Palace de la Mutualite.
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Programa do III Concurso de Fado de Paris 1988 Colecção Carlos do Carmo
Bilhete de Espectáculo Chansons du Bout de l’Europe 1988 Colecção Carlos do Carmo Carlos do Carmo Ao vivo no Canecão LP Varig FJA / 299, 1988 Colecção Carlos do Carmo Programa do Espectáculo No Tejo me Confesso Mosteiro dos Jerónimos, 1988 Colecção Carlos do Carmo Programa do Espectáculo Comemorativo dos 25 Anos de Carreira Frankfurt, 1988 Colecção Carlos do Carmo
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1989 Comemorando ainda 25 anos de uma carreira cheia de êxitos, no início do ano Carlos do Carmo marca presença nos Estados Unidos da América, com espectáculos em New Jersey, Philadelphia, Nova Iorque (a convite do Portuguese American Community Center, Inc.), Connecticut e Massachusetts. A 7 de Abril volta à Dinamarca para um espectáculo no Portugisiske Klub og Det Portugisiske Faelleskab. De seguida parte para a Finlândia, para uma série de 3 concertos em Helsínquia nos dias 11, 13 e 14 de Abril, a convite da Associação Finlândia - Portugal. Já em Portugal, actua em Évora no dia 24 de Abril, espectáculo que integra a programação de comemorações do XV aniversário do 25 de Abril. Em Junho integra, ao lado de António Pinho Vargas e José Mário Branco, o espectáculo Portugal: A Raíz e o Tempo com uma digressão pela Holanda, com actuações em Roterdão, Haia e Amsterdão. No dia 29 de Outubro actua no Stadttheater, em Furth, na Alemanha. Ainda este ano é-lhe atribuído, pelo Estado Norte Americano de Rhode Island, um testemunho de reconhecimento, que o apelida de King of the Portuguese Fado.
Programa de Noite de Gala do Fado Fall River, 1989 Colecção Carlos do Carmo Bilhete do Espectáculo no Portugisiske Klub Dinamarca, 1989 Colecção Carlos do Carmo
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1990 No dia 27 de Janeiro morre, em Lisboa, Francisco Carvalhinho. A presença do guitarrista e compositor na carreira de Carlos do Carmo evidenciou-se no LP homónimo da Tecla, editado em 1970, e no qual Francisco Carvalhinho compôs o tema Bairro Alto e executou o acompanhamento de guitarra portuguesa, em conjunto com José Fontes Rocha. A Polygram edita o disco Que se Fez Homem de Cantar: Teu Nome Lisboa (Manuela de Freitas José Mário Branco), Sonata de Outono (Ary dos Santos, Fernando Tordo), Zé do Bote (João Dias Mário Moniz Pereira), Olhos Garotos (Linhares Barbosa - Jaime Santos), Cumplicidade (Ivan Lins), Velho Cantor (Sérgio Godinho), Mestre Fado (Fernando Tordo), Pôr-do-sol (Manuel Rui - André Mingas), Alfabeto Fadista (Torre da Guia - Paulo de Carvalho), Mar Português (Fernando Pessoa - André Luís Oliveira), Teu Nome é Lisboa (Manuela de Freitas - José Mário Branco). Este título contou com a participação musical de António Chainho, Arménio de Melo, José Maria Nóbrega, Carlos Bica, José Mário Branco, António José Martins, Pedro Osório e Carlos Alberto Moniz. A propósito deste disco o fadista foi galardoado com o Disco de Prata por vendas superiores a 10000 unidades. No decorrer deste ano, Carlos do Carmo sofreu um acidente em palco, durante um concerto em Bordéus. Só regressaria aos palcos no ano seguinte. Sebastião, o primeiro neto de Carlos do Carmo, nasce a dia 15 de Dezembro. Que se fez Homem de Cantar CD Polygram, 1990 Colecção Museu do Fado Que se fez Homem de Cantar Disco de Prata, 1990 Colecção Carlos do Carmo
Folheto do concerto de Carlos do Carmo Alte Oper de Frankfurt, 1991 Colecção Carlos do Carmo
1991
Depois de um período de ausência devido ao acidente sofrido em França no ano anterior, Carlos do Carmo regressa aos palcos no dia 21 de Março, com dois espetáculos no Casino Estoril (21 e 22 de Março), intitulados Vim Para o Fado e Fiquei. Ambos os concertos contaram com a direcção musical de Pedro Osório e com a participação especial de Júlio Pereira. Recebeu ainda no decorrer deste ano o Prémio Prestígio na Grande Noite do Fado. As Selecções da Reader’s Digest editam uma colecção de quatro volumes em cassete, intitulada Carlos do Carmo, e que contém um compêndio dos temas mais marcantes do repertório de Carlos do Carmo A 9 de Outubro Carlos do Carmo regressa à conceituada Alte Oper de Frankfurt num concerto com Erika Pluhar, onde foi acompanhado por António Victorino d’Almeida (piano), António Chainho (guitarra portuguesa), José Maria Nóbrega (viola) e Carlos Bica (contrabaixo). Francisca, neta de Carlos do Carmo nasce a 11 de Novembro.
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Carlos do Carmo e Martinho d’Assunção Faia, s/d Colecção Museu do Fado
1992 No dia 29 de Março falece Martinho d’Assunção, figura incontornável do universo do fado. Ao longo da sua carreira, Carlos do Carmo trabalhou várias vezes com Martinho d’Assunção. Um dos momentos mais marcantes desta convivência ocorreu durante a produção e gravação do antológico Um Homem na Cidade (1977). Neste disco Martinho d’Assunção foi o responsável pelo acompanhamento de viola e foi o compositor de dois temas: Fado dos Azulejos e Balada Para Uma Velhinha. Actuação a 27 de Abril no Internationale Maifestspiele Wiesbaden, no estado de Hessen, Alemanha. Depois de um périplo por Portugal onde realizou vários concertos, Carlos do Carmo desloca-se a Sevilha, em Agosto, para actuar no Consulado de Portugal. Este concerto inseriu-se no âmbito da programação cultural da Exposição Universal de Sevilha de 1992. De 14 a 20 de Agosto, Carlos do Carmo apresentou uma série de espectáculos no Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa, alusivos ao seu disco Um Homem na Cidade. Nesta série de concertos fez-se acompanhar por Arménio de Melo (guitarra portuguesa), José Maria Nóbrega (viola) e José Elmiro (viola-baixo). Fez posteriormente uma breve incursão pela Holanda, actuando em Amesterdão, Scheveningen e Tilburg. No dia 11 de Novembro, Carlos do Carmo regressou ao mítico Canecão do Rio Janeiro, para mais um grande espectáculo. Ainda no Brasil, dá um concerto no Palace de São Paulo, a 18 de Novembro. Este concerto foi promovido pela Casa de Portugal e contou com o apoio do Consulado Geral de Portugal de São Paulo, do Centro de Turismo de Portugal e do Conselho da Comunidade de São Paulo. No decorrer deste ano a Playa Sound (UPAV) edita o primeiro volume da colecção Un Parfum de Fado. Carlos do Carmo foi a personalidade escolhida para figurar no primeiro volume. Este primeiro CD reúne os temas do disco Um Homem na Cidade (1977).
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Folheto do Espectáculo Um Homem na Cidade São Luiz Teatro Municipal, 1992 Colecção Nuno de Siqueira
Carlos do Carmo 1992 Fotografias de Alexandre Simões Colecção Carlos do Carmo
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1993 Em 1993 Carlos do Carmo celebrou três décadas de carreira. No dia 3 de Julho Carlos do Carmo actua nos X Encuentros Agapito Marazuela, em Segóvia, Espanha. A Playasound (UPAV) edita o sexto volume da colecção Un Parfum de Fado, no qual Carlos do Carmo volta a ser protagonista. Este volume reproduz os temas do disco Dez Fados Vividos (1978), acrescentando uma décima primeira faixa com o tema Os Putos (também de 1978). Com vista à distribuição no mercado nacional, a UPAV lança também pela etiqueta Fatum, a compilação Os Maiores Êxitos de Carlos do Carmo, que conta com o mesmo alinhamento de temas. A 14 de Outubro do mesmo ano seria consagrado pelo Primeiro-ministro do Ontário no quadro da Semana Cultural da Casa do Alentejo Community Centre of Toronto, atestando o sucesso do artista junto do público canadiano. Para comemorar os seus 30 anos de carreira as Selecções da Reader’s Digest lançam a Colecção O Melhor de Carlos do Carmo. Nesta colecção o artista seleccionou o melhor dos 30 anos dedicados ao fado e fez ele próprio uma apresentação dos seus discos.
1994 Actuação de Carlos do Carmo na Salle Willfried-Pelletier, no Place des Arts (Montreal), a 20 de Fevereiro, onde foi acompanhado por Arménio de Melo (guitarra portuguesa), José Maria Nóbrega (viola) e José Elmiro (viola-baixo). Um dia depois nascia Salvador, o terceiro neto de Carlos do Carmo. No dia 10 de Março, Carlos do Carmo recebe o troféu para Melhor Voz do Ano, na Grande Gala dos Prémios Casa da Imprensa (referentes ao ano de 1993). Desloca-se a Joannesburgo, no dia 11 de Junho, para participar num Sarau Cultural promovido pela Embaixada de Portugal na África do Sul. A 17 de Junho, Carlos do Carmo canta na Gala organizada pelo Caeser Park Penha Longa, onde foi acompanhado novamente acompanhado pelo trio Arménio de Melo, José Maria Nóbrega e José Elmiro. Ainda nesse ano, o fadista viajou para os Estados Unidos para actuar a 28 de Setembro, no Ritz Carlton Hotel de Chigaco. Este concerto fez parte de um programa intitulado An Evening in Portugal: A Celebration of Friendship, Possibilities and Opportunities.
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Un Parfum de Fado – Vol.6 - Carlos do Carmo CD Playasound, 1993 Colecção Carlos do Carmo
Programa An Evening in Portugal Ritz Carlton Hotel, 1994 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo Noite de Reis – RTP, 1995 Colecção Carlos do Carmo
1995 José Carlos Ary dos Santos Faia, 1979 Colecção Carlos do Carmo
No dia 30 de Abril Carlos do Carmo participa na homenagem ao poeta e amigo José Carlos Ary dos Santos. Esta homenagem teve lugar no grupo A Voz do Operário, em Lisboa e contou ainda com a participação do maestro António Victorino d’Almeida e do compositor Fernando Tordo. Em Julho actuou na Feira de Actividades Sociais e Económicas do Concelho de Odemira. Regressa ao Brasil para um concerto no Memorial da América Latina em São Paulo (26 de Outubro). Em Novembro deste ano foi um dos convidados do programa Noite de Reis transmitido pela RTP. O acompanhamento musical esteve a cargo de José Fontes Rocha e Ricardo Rocha na guitarra portuguesa, José Elmiro na viola e José Maria Nóbrega na viola-baixo. No dia 19 de Dezembro, nascia a neta Matilde, segunda filha de Cila do Carmo.
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Programa do concerto no Festival Músicas do Mundo Teatro Principal de Pontevedra, 1997 Colecção Carlos do Carmo
Camané e Carlos do Carmo 1996 Colecção Carlos do Carmo
1996 Edição do CD Margens pela Universal (responsável doravante pela edição de todos os registos discográficos de originais de Carlos do Camo). Este trabalho, composto por seis fados e seis canções, nasce de uma parceria com o seu amigo José Luís Tinoco, que foi simultaneamente compositor dos temas e produtor do disco. Paulo Parreira, Ricardo Fabini, Marino Freitas, Guenrikh Elessine, Pedro Moreira, Miguel Braga e Jorge Quintela foram os músicos que acompanharam Carlos do Carmo na gravação deste disco. Margens é composto pelos seguintes temas: Palavras Minhas (Pedro Tamen - José Luís Tinoco), Calçada à Portuguesa (José Luís Tinoco - José Luís Tinoco e Ivan Lins), Canção da Tristeza Alegre (José Luís Tinoco - António Lobo Antunes), Voz Marinheira (José Luís Tinoco), Luz de Corvo (José Luís Tinoco - António Lobo Antunes), Mar Menor (José Luís Tinoco - António Lobo Antunes), A Navalha (José Luís Tinoco António Lobo Antunes), Soneto a Cesário (José Luís Tinoco - Dinis Machado), Robertos de Feira (José Luís Tinoco - António Lobo Antunes), Meu Fim de semana (José Luís Tinoco), Flor de Cera (José Luís Tinoco - António Lobo Antunes), Verde Antigo (José Luís Tinoco). Neste ano o cantor recebeu o Prémio de Carreira atribuído na Grande Noite do Fado deste ano. Carlos do Carmo participa num concerto com Camané na Vredenburg Muziekcentrum de Utrecht, na Holanda. Ainda no mesmo ano, Carlos do Carmo é convidado para participar no álbum Tempo de Pedro Abrunhosa, no qual interpreta o tema Manhã.
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Margens CD Universal, 1996 Colecção Museu do Fado
1997 A 4 de Março, Carlos do Carmo actua no Teatro Principal de Pontevedra, num ciclo dedicado às músicas do Mundo. Quatro dias mais tarde, o fadista dá um concerto na Iglesia de San Justo, no ciclo Juglares en Segovia, promovido pela Fondación Don Juan de Borbon. No âmbito das comemorações do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, Carlos do Carmo canta com Ivan Lins, num concerto transmitido pela RTP Internacional no dia 7 de Junho. No dia 21 de Junho, participa num espectáculo na Embaixada de França com a fadista Maria Ana Bobone, integrado no programa Fête de La Musique. Início da série Carlos do Carmo, a 5 de Outubro. Esta série de 26 programas foi transmitida pela RTP Internacional e RTP África, no ano em que Carlos do Carmo era consagrado pelos seus 35 anos de carreira. Carlos do Carmo regressa ao Canecão do Rio de Janeiro, no dia 27 de Outubro, desta vez para um concerto com o seu irmão brasileiro Ivan Lins. Durante o ano de 1997, foi ainda condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique, título honorífico atribuído por Sua Excelência o Presidente da República. Carlos do Carmo Noite de Reis – RTP, 1995 Colecção Carlos do Carmo
Fernando Tordo e Carlos do Carmo Programa Carlos do Carmo, 1997 Colecção Carlos do Carmo
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1998
Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
Participação com João Braga na noite de fado da Universidade de Lisboa, a 19 de Fevereiro. No ano da grande Exposição Universal de Lisboa – Expo 98, Carlos do Carmo foi o comissário da programação do palco de fado. Foi distinguido, na gala dos Globos de Ouro, com o Globo de Ouro – Mérito e Excelência. Esta é considerada a distinção mais importante desta cerimónia anual organizada pela SIC. No discurso de agradecimento Carlos do Carmo reinterpretou uma quadra do poeta João Linhares Barbosa: Foi tão bom ser pequenino, ter pai, ter mãe, ter avós. É tão bom cantar o fado e ter quem goste de nós. Entre 17 de Abril e 2 de Maio realizou uma digressão por Espanha, actuando na Coruña, Múrcia, Madrid e Valladolid. Carlos do Carmo esgota o emblemático Olympia de Paris, com dois concertos (9 e 10 de Maio) intitulados Carlos do Carmo, Prestige du Fado. No dia 14 de Maio, morre na Califórnia, Frank Sinatra, o grande ídolo de Carlos do Carmo. O fadista revelaria uns anos mais tarde: Ainda hoje sei de cor umas três dúzias de canções do Sinatra. Aprendi-as com muita paixão, porque ele foi o meu mestre de ‘phrasing’, de ‘timing’, da divisão das palavras, da capacidade de fazer de um texto inócuo uma canção linda, só pelo sentido que a voz e a música podem emprestar às palavras.3 Carlos do Carmo é, desde este ano, consultor da Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa (actual Museu do Fado). Deste órgão consultivo fazem ainda parte: António Chainho, Daniel Gouveia, Gilberto Grácio, Julieta Estrela, Luís de Castro, Luís Penedo, Luísa Amaro e Vicente da Câmara. Este distinto painel de personalidades teve um papel de grande valia ao apoiar e impulsionar a criação daquele espaço cultural e das suas variadas valências. No dia 20 de Julho, recebe o diploma referente ao título de Miembro de Honor del Claustro Iberoamericano de las Artes, e é premiado com o troféu da Federación Iberolatinoamericana de Artistas Intérpretes e Ejecutantes. Lucília do Carmo falece aos 79 anos em Lisboa, no dia 19 de Novembro. Carlos do Carmo homenageou o trajecto artístico da sua mãe, velando o seu corpo na então Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa. Os 35 anos de carreira do artista são evocados num concerto duplo (10 e 11 Dezembro) no grande auditório do Centro Cultural de Belém. Para este concerto, Carlos do Carmo convidou os artistas Argentina Santos, Camané e Raul Nery.
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- “Conversa com vista para…” Revista Pública, Jornal Público, Lisboa, 25 de Julho de 2004.
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Folheto do Concerto no Olympia Paris, 1998 Colecção Carlos do Carmo
1999
Amália Rodrigues e Carlos do Carmo Faia, s/d Colecção Museu do Fado
A EMI edita Ao Vivo no CCB – Os Sucessos de 35 Anos de Carreira, que reúne grandes êxitos da sua carreira. Neste concerto transposto para um CD duplo, Carlos do Carmo foi acompanhado por Ricardo Rocha, Paulo Parreira, José Maria Nóbrega, Carlos Manuel Proença e José Elmiro. No dia 3 Março, de regresso a Espanha, o fadista deu um concerto no Teatro Principal de Compostela. Neste ano foi coordenador de um ambicioso projecto - a colecção Um Século de Fado da editora Ediclube, uma antologia de 7 volumes, que inclui um conjunto de CD’s e de Videos. Carlos do Carmo ao Vivo no CCB - Os Sucessos de 35 Anos de Carreira CD EMI, 1999 Colecção Museu do Fado
No dia 6 de Outubro o país acordou com a notícia do desaparecimento de Amália Rodrigues. Para Carlos do Carmo: [Amália] somou à sua voz extraordinária a compreensão da canção que interpretava, fruto da sua inteligência e capacidade de ir sempre à frente do seu tempo.4 A 3 Novembro realiza o espectáculo Lisboa Como te Quero, na abertura do ano académico 1999/2000 da Universidade de Lisboa. Em Dezembro é convidado pela Casa de Portugal do Rio de Janeiro para a apresentação do disco Ao Vivo no CCB - Sucessos de 35 Anos de Carreira. Ainda no mesmo ano recebe o Disco de Prata por vendas superiores a 10000 unidades do disco Ao Vivo no CCB – Sucessos de 35 Anos de Carreira.
- Luís MACHADO, Amália, Confidências em Noite de Primavera, Lisboa, Âncora Editora, Novembro de 2011.
4
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Carlos do Carmo s/d Colecção Carlos do Carmo
2000 Em Fevereiro Carlos do Carmo foi o convidado de honra da conferência Falando de Fado, realizada no Centro de Cultura da DGCI. No mês seguinte realiza um concerto, cujas receitas reverteram a favor da requalificação do edifício de A Voz do Operário. A 19 de Junho recebeu um diploma do Governo do Estado de São Paulo e do Fundo de Solidariedade, pela sua contribuição no projecto de ampliação do Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha, e para a saúde de São Paulo. Durante o mês de Julho deu um concerto no XX Festival Internacional de Música Popular Tradicional de Vilanova i la Geltrú. Neste evento catalão, Carlos do Carmo foi acompanhado por Paulo Parreira, José Maria Nóbrega e José Elmiro. Em Outubro e ainda no âmbito das comemorações dos seus 35 anos de carreira, Carlos do Carmo dá dois concertos no CCB. O disco editado no ano anterior Ao Vivo no CCB – Os Sucessos de 35 Anos de Carreira, receberia ainda o Disco de Ouro por vendas superiores a 20000 unidades.
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Programa do Festival Internacional Musica Popular Vilanova i la Geltrú 2000 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo s/d Colecção Museu do Fado
2001 Programa da Gala Carlos do Carmo O Regresso Casino Estoril , 2001 Colecção Carlos do Carmo
Na sequência de um problema coronário, Carlos do Carmo foi submetido a uma intervenção cirúrgica delicada nos EUA, e que o afastou dos palcos durante vários meses. A Grande Gala Carlos do Carmo O Regresso, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, a 14 de Setembro, assinala o retorno do fadista após este hiato prolongado. Não obstante a vicissitude que marcou o arranque deste ano, o fadista fez questão de aceitar o convite do seu antigo colega de escola, Luís Esteves, para cantar no Grand Casino de Genebra. Este espectáculo foi dedicado ao seu amigo, por ocasião do seu 25º aniversário de carreira. No decorrer deste ano, Carlos do Carmo foi distinguido com o prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores. Viria a receber o Disco de Prata por vendas superiores a 10000 unidades do disco Margens de 1996. Gilbert Bécaud falece em Dezembro. Juntamente com Brel e Ferré, Bécaud foi um dos principais interlocutores do cancioneiro francófono na geografia musical de Carlos do Carmo.
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2002 No dia 9 de Fevereiro, Carlos do Carmo participa no III Festival das Músicas e dos Portos, com concerto no Teatro Camões. Edição do disco Nove Fados e uma Canção de Amor. Um disco que reúne os temas: Partida (Mário de Sá Carneiro - Fernando Tordo), A Morte da Mariquinhas (Maria Manuela Mota - Paulo de Carvalho), Casa do Fado (Paulo de Carvalho), Fado Maestro (Fernando Tordo - António Victorino d’Almeida), Nasceu Assim, Cresceu Assim (Vasco Graça Moura - Fernando Tordo), Fado Mulato (Manuel Ruy Monteiro - André Mingas), Três Sílabas de Sal (Manuel Alegre - Ivan Lins), Dois Portos (Gil do Carmo - Fernando Araújo), Eu Canto (Cecília Meireles - António Victorino d’Almeida), Sombra do Desejo (João Monge - Rui Veloso). Neste disco Carlos do Carmo foi acompanhado por Ricardo Rocha na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola, Fernando Araújo na viola-baixo acústica, Walter Idalgo no bandoneon, Ricardo Dias no piano, Carlos Bica no contrabaixo e Vicente Chuaqui no violoncelo. 23 de Novembro foi o dia escolhido para o espectáculo de lançamento deste disco Nove Fados. O concerto decorreu no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Foi distinguido com o segundo Globo de Ouro da sua carreira, desta vez como Melhor Intérprete Individual, pela sua interpretação no disco Nove Fados e Uma Canção de Amor. Ainda no decorrer do mesmo ano Carlos do Carmo recebe o Disco de Prata relativo à venda de mais de 10000 unidades do disco Nove Fados e Uma Canção de Amor.
2003 Ano em que se assinalam 40 anos de carreira de Carlos do Carmo Do Tempo do Vinil é editado – este disco de celebração dos 40 anos de carreira, contém singles gravados na 2ª metade da década de 70 e 1ª metade da década de 80: Kyrie (J. C. Ary dos Santos - Fernando Tordo), O Fado dos Cheirinhos (J. C. Ary dos Santos - Fernando Tordo), Fado Penélope (José Mário Branco, Manuela de Freitas - José Mário Branco), O que Sobrou de um Queixume (Frederico de Brito), Sou da Noite (Vasco de Lima Couto - Max), O Nosso Amor é Livre (Vasco de Lima Couto - Martinho d’Assunção), Cidade Cinzenta (João Dias - Vítor Ramos), Tenho a Pátria num Rosto de Criança (Vasco de Lima Couto - Miguel Ramos), Fado Ultramar (José Mário Branco - Ivan Lins), Elis (J. C. Ary dos Santos - José Niza - José Luís Tinoco). No dia 11 de Outubro, Carlos do Carmo realizou um concerto no Coliseu dos Recreios de Lisboa, para assinalar os seus 40 anos de carreira. Para além da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, destaca-se ainda a participação dos músicos Bernardo Sassetti, Carlos Bica, Carlos Manuel Proença, Júlio Pereira, Ricardo Dias, Ricardo Rocha, Walter Hidalgo e ainda da bailarina Catarina Câmara. Dois dias mais tarde, recebeu o Galardão Diamante por vendas superiores a 500000 unidades na Universal Music Portugal. A 15 de Outubro inaugurava no Museu do Fado da exposição Um Homem no Mundo, alusiva aos 40 anos de carreira do fadista.
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Nove Fados e uma Canção de Amor CD Universal, 2002 Colecção Museu do fado
Cartaz do Lançamento do Disco Nove Fados e uma Canção de Amor Centro Cultural Olga Cadaval, 2002 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo canta em Amesterdão, no Concertgebouw (29 de Outubro), evento integrado no programa de Grande Noite do Fado da Wereldmuziek. No dia 22 de Novembro, é honrado com o Prémio Consagração 2003 na Grande Noite do Fado, que comemorava nesse ano meio século. A Câmara Municipal de Lisboa prestou também homenagem ao artista agraciando-o com a sua mais alta distinção, a Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro. Seria lançada, no decorrer do ano, uma reedição remasterizada e redigitalizada em CD de 2 discos de Lucília do Carmo e um de Carlos do Carmo: Lucília do Carmo (1986), Fado Lisboa, an evening at Faia (1969) e Carlos do Carmo (1980). Neste ano o fadista receberia ainda o Prémio José Afonso 2003, pelo álbum Nove Fados e uma Canção de Amor. Em entrevista a Viriato Teles, Carlos do Carmo diria acerca desta distinção: este é um prémio particularmente sério, dirigido à música, e tem o nome de uma pessoa por quem eu tive uma grande, grande admiração. 5
5
- Viriato TELES, Carlos do Carmo do Fado e do Mundo, Lisboa, Garrido Editores, Novembro de 2003.
Carlos do Carmo Coliseu dos Recreios de Lisboa, 2003 Colecção Carlos do Carmo
Do Tempo do Vinil CD Universal, 2003 Colecção Museu do Fado
Cartaz do concerto Carlos do Carmo ao Vivo no Coliseu dos Recreios de Lisboa 2003 Colecção Carlos do Carmo
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2004 No mês de Março faleceu em Portimão o orquestrador e produtor Thilo Krassman. Carlos do Carmo trabalhou intensamente com Krassman na década de 70. Para a posteridade fica, entre outros, o trabalho de direcção de orquestra que este último realizou no disco Uma Canção para a Europa (1976). A 8 de Junho, Carlos do Carmo e Mariza associaram-se a uma Gala de Fado no Casino Estoril, que assinalou o centenário da primeira gravação discográfica de fado. Ainda neste mês, Carlos do Carmo e o saxofonista holandês Henk van Twillert (com o Amsterdam Soloist Quintet) foram os cabeças de cartaz do dia 17 da Festa do Fado - Festas de Lisboa. Durante o concerto, percorreram peças de Astor Piazolla, de Carlos Paredes, do repertório de Amália Rodrigues, e naturalmente temas do repertório do fadista. Carlos do Carmo sobe ao palco no festival de intercâmbio cultural: 7 sóis, 7 luas. Dia 12 de Julho na cidade italiana de Pontedera (no espaço da antiga adega da Villa Malaspina di Montecastello), e dia 14 Julho em Roma. Edição de CD+DVD do concerto no Coliseu dos Recreios de Lisboa, comemoração 40 anos de carreira. Alinhamento: Lisboa Menina e Moça, Loucura, Duas Lágrimas de Orvalho, MaiorMenor, Os Putos, Estranha Forma de Vida, Estranha Forma de Vida, Nasceu Assim, Cresceu Assim, Dois Portos, À Memória de Anarda, Bailarina, Estrela da Tarde, Teu Nome Lisboa, O Homem das Castanhas, Por Morrer uma Andorinha, Gaivota, Fado Ultramar, Fado Maestro, Um Homem na Cidade, Palavras Minhas, Bairro Alto, Canoas do Tejo. Acompanhado por Ricardo Rocha e José Manuel Neto nas guitarras portuguesas, José Maria Nóbrega e Carlos Manuel Proença nas violas, Fernando Araújo na viola-baixo acústica, Walter Idalgo no bandoneon, Ricardo Dias e Bernardo Sassetti no piano, Carlos Bica no contrabaixo, Júlio Pereira no cavaquinho, Marino de Freitas no baixo e ainda a orquestra Sinfonietta de Lisboa dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo. No dia 23 de Julho deste ano, o país perde um dos maiores compositores e executantes de guitarra portuguesa, Carlos Paredes. O seu percurso também se cruzou com o de Carlos de Carmo. O tema Fado Moliceiro, presente no álbum Um Homem no País (1983), marca o encontro destes dois génios.
Cila e Carlos do Carmo e Thilo Krassman 1971 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo ao Vivo no Coliseu dos Recreios de Lisboa CD e DVD Universal, 2003 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo foi designado embaixador da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO) integrando, concomitantemente, a sua Comissão Consultiva. Neste âmbito e ao longo de vários anos, trabalhou incansavelmente em prol do êxito da candidatura, sendo o seu contributo determinante para o reconhecimento do Fado pela UNESCO. Fazendo jus ao grande apreço que o fadista tem pelo Brasil, Carlos do Carmo regressaria a terras de Vera Cruz a 16 de Setembro, para um concerto na Casa de Portugal de São Paulo. Salienta-se ainda a edição do disco Novo Homem na Cidade – uma revisitação dos temas do disco de 1977, nomeadamente dos poemas de José Carlos Ary dos Santos, interpretados por vários artistas lusófonos.
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Carlos Paredes Faia, s/d Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo e Henk van Twillert Castelo de S. Jorge, 2004 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo e Mariza 2004 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
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Carlos do Carmo e convidados Monsanto, 2005 Colecção Carlos do Carmo
2005 Carlos do Carmo Monsanto, 2005 Fotografias de José Frade Colecção Museu do Fado
Neste ano, Carlos do Carmo interpretou o seu repertório nos dois territórios insulares. Primeiro, a 13 de Maio na Ilha da Madeira, num concerto com a Orquestra Clássica da Madeira (comemoração dos 500 anos do Município do Funchal). Mais tarde, nos dias 1 e 2 de Outubro nos Açores, para dois espectáculos na Ilha Terceira. Ano em que as Selecções da Reader’s Digest lançam um álbum comemorativo do 40º aniversário da vida artística de Carlos do Carmo. Esta compilação incorpora em 3 CD’s um número muito significativo dos temas mais célebres do cantor. O dia 9 de Julho fica marcado por mais um concerto com acompanhamento orquestral, desta vez em Monsanto e com o acompanhamento da Sinfonietta de Lisboa (à qual se juntaram alguns convidados, designadamente: Bernardo Sassetti, Carlos Bica e Alexandre Frazão). Álvaro Cunhal faleceu em Lisboa no dia 13 de Junho. Carlos do Carmo diria mais tarde: O político que eu mais admirei em Portugal foi o Dr. Álvaro Cunhal (…) Tenho até a impressão que eu e ele nunca falámos de política. Falámos de netos, de filhos, da vida, da arte e da cultura. Era uma pessoa de grande sensibilidade por quem eu tinha grande apreço6 No plano internacional Carlos do Carmo actuaria ainda em Madrid, a 13 de Julho (nos Jardins de Sabatini, e em Paris, a dia 8 de Setembro (no teatro Trianon – integrado no Festival Île de France). No dia 12 de Novembro, o fadista cantou na Gala de São Martinho no Casino de Espinho. De resto, ao longo dos anos, Carlos do Carmo foi uma presença recorrente nas Galas de São Martinho e nos vários eventos solenes organizados pelo Grupo Solverde.
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- Outlook, Diário Económico, 25 de Julho de 2009.
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Cartaz do Filme Fados, Carlos Saura 2007 Colecção Carlos do Carmo
2006 Este ano começou com um concerto na Casa da Música, no Porto (7 de Janeiro), com a Sinfonietta de Lisboa e convidados (Bernardo Sassetti, Carlos Bica e Alexandre Frazão). Carlos do Carmo actuou nos dias 11 e 12 de Outubro no Teatro D. Pedro V, em Macau. Duas actuações integradas no 20º Festival Internacional de Música de Macau. A 22 de Novembro é o convidado de honra no concerto de Mariza no Royal Albert Hall de Londres. Rui Veloso e Tito Paris foram também convidados da fadista neste espectáculo. Ano em que Carlos Saura apresenta o projecto da película Fados no Palácio da Mitra, em Lisboa. Carlos do Carmo teve um papel determinante na concretização deste projecto filmográfico, juntamente com o produtor Ivan Dias e o consultor Rui Vieira Nery. No final deste ano, a marca de relógios suíça Raymond Weil assinalou os 43 anos de carreira do fadista com a edição especial de um relógio de tributo. Parte da verba alcançada com a venda desta emissão limitada reverteu a favor da Casa do Artista.
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José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença, Marino Freitas e Carlos do Carmo Museu do Fado, 2007 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
Apresentação do DVD Fados, Carlos Saura Museu do Fado, 2007 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
2007 À Noite CD Universal, 2007 Colecção Museu do Fado Júlio Pomar, Carlos do Carmo Museu do Fado, 2007 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
Edição do disco À Noite, onde Carlos do Carmo se propõe renovar a linguagem poética, criando uma ponte entre a tradição das composições musicais e a modernidade dos poemas. A apresentação deste disco foi acompanhada de uma exposição homónima no Museu do Fado, onde estiveram patentes os retratos de Carlos do Carmo da autoria de Júlio Pomar. Deste trabalho discográfico constam os temas: Insónia (José Luís Tinoco - Armando Freire), Pontas Soltas (Maria do Rosário Pedreira - Joaquim Campos), Fado do 112 (Júlio Pomar - Armando Freire), Lisboa Oxalá (Nuno Júdice - Joaquim Campos), Margens da Solidão (José Manuel Mendes - Alfredo Duarte), À Noite (Nuno Júdice - Alfredo Duarte), A Guitarra e o Clarim (Júlio Pomar Alfredo Duarte), Vem, Não Te Atrases (Maria do Rosário Pedreira - Armando Freire), Madrugada (Fernando Pinto do Amaral - Alfredo Duarte), Vou Contigo, Coração (Fernando Pinto do Amaral - Alfredo Duarte), Fado dos Meus Fados (José Manuel Mendes - Joaquim Campos), Enredo (Luís Represas - Armando Freire). Acompanhamento musical José Manuel Neto – guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença – viola de fado, José Marino de Freitas - baixo acústico. O filme Fados de Carlos Saura é estreado em Setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto. A estreia em Portugal estaria marcada para dia 4 de Outubro. Carlos do Carmo actua a 20 de Julho no Centro Cultural de Cardedeu, Catalhunha, Espanha. Após um período de convalescença na sequência de uma intervenção cirúrgica a que foi submetido, Carlos do Carmo regressa aos palcos no dia 27 de Outubro, para um concerto no Cine-Teatro João Mota em Sesimbra. No dia 14 de Novembro Carlos do Carmo integra, com Mariza e Camané, o espectáculo inaugural do 55º Festival Internacional de Cine de San Sebastián. Este concerto, integrado no âmbito da apresentação da película de Carlos Saura, contou ainda com a colaboração do bailarino Patrik de Bana. Carlos do Carmo foi galardoado com o Disco de Ouro por vendas superiores a 10000 unidades do disco Ao Vivo – Coliseu dos Recreios de Lisboa de 2004. A editora Farol edita o disco As Escolhas de Carlos do Carmo / Fados de um Vida. Nesta compilação Carlos do Carmo foi convidado a eleger os intérpretes e os temas de fado que mais o marcaram. Neste ano viria ainda a integrar ainda a Comissão de Honra da XV Gala da Central FM.
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Carlos Bica, António Victorino d’Almeida, Carlos do Carmo, Fontes Rocha, José Maria Nóbrega e Joel Pina Casino Estoril, 2008 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo Pavilhão Atlântico, 2008 Fotografia de Fernando Bento Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo e António Victorino d’Almeida Casino Estoril, 2008 Colecção Carlos do Carmo
2008 A 4 de Fevererio Carlos do Carmo é laureado em Madrid, com o prestigiado prémio Goya, na categoria de melhor canção original da academia cinematográfica espanhola. Este prémio distinguiu a canção Fado da Saudade interpretada por Carlos do Carmo e integrada no filme Fados de Carlos Saura. O poema Fado da Saudade foi escrito pelo poeta Fernando Pinto do Amaral. Edição do disco Fado Maestro, uma edição em formato best of com 2 CD’s e 1 documentário em DVD que evoca os 45 anos de carreira do fadista: Gaivota (1967), Por Morrer uma Andorinha (1968), Canoas do Tejo (1969), Bairro Alto (1976), Lisboa Menina e Moça (1976), Um Homem na Cidade (1977), Os Putos (1978), O Madrugar de Um Sonho (1980), Duas Lágrimas de Orvalho (1982), Não És Tu (1986), Fado Penélope (1987), Sonata de Outono (1990), Nasceu Assim, Cresceu Assim (2002), Teu Nome Lisboa (2003), Palavras Minhas (2006), Pontas Soltas (2007), Fado da Saudade - com versículo (2007).
Fado Maestro CD Universal, 2008 Colecção Museu do Fado
À Noite seria ainda reeditado, por motivo da comemoração dos 45 anos de carreira. Esta reedição conta com dois temas adicionais: Fado da Saudade, canção vencedora do prémio Goya e Fado Tropical, um dueto com Chico Buarque. No dia 16 de Agosto, morre no Rio de Janeiro o cantor brasileiro Dorival Caymmi, um dos intérpretes que mais marcou o imaginário musical de Carlos do Carmo na sua infância. A 3 de Outubro foi o protagonista da gala/concerto A Música e os Músicos, a assinalar os seus 45 anos de carreira, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril. Carlos do Carmo partilhou o palco com alguns dos músicos com quem mais recorrentemente trabalhou ao longo da sua carreira: António Victorino d’Almeida, António Serrano, José Maria Nóbrega, Joel Pina, José Fontes Rocha, Orquestra Sinfonietta de Lisboa, entre outros. No dia 29 de Novembro, o fadista encheu o Pavilhão Atlântico, no principal concerto de comemoração dos 45 anos de carreira. Este concerto contou com a participação de muitos convidados especiais. Para além da sua família, subiram ao placo uma plêiade de músicos e fadistas: Camané, Carminho, Mariza, Maria Berasarte, Carlos Bica, Bernardo Sassetti, Orquestra Sinfonietta de Lisboa, José Manuel Neto, Ricardo Rocha, Carlos Manuel Proença, Fernando Araújo e o inevitável José Maria Nóbrega. O protagonista da noite foi ainda homenageado com a oferta de uma serigrafia e de um poema de Júlio Pomar, cortesia de António Costa (Presidente da Câmara Municipal de Lisboa).
Carlos do Carmo com Orquestra Sinfonietta de Lisboa Pavilhão Atlântico, 2008 Fotografia de Fernando Bento Colecção Carlos do Carmo
Neste ano destaca-se igualmente a atribuição do DVD de Platina por vendas superiores a 8000 unidades do DVD Carlos do Carmo ao Vivo no Coliseu dos Recreios de Lisboa (2004).
Carlos do Carmo com projecção de Lucília do Carmo Pavilhão Atlântico, 2008 Fotografia de Rita Carmo Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo Cruzeiro do Fado, 2009 Colecção Museu do Fado
2009 No dia 31 do primeiro mês do ano, Carlos do Carmo dá um concerto no Grande Auditório da Philharmonie, Luxemburgo (acompanhado por Carlos Manuel Proença, Ricardo Rocha, Fernando Araújo e Bernardo Sassetti). Partilhou mais uma vez o palco com seu amigo e compositor brasileiro Ivan Lins, num concerto na Quinta de Nápoles (Nieport), Armamar, Vale do Tedo. Foi convidado no ciclo de jantares-tertúlia Rostos da Portugalidade, no histórico Café Martinho da Arcada em Lisboa. Participou na 8ª Grande Gala do Fado do Casino Estoril, a 21 de Maio, dedicada a Carlos Zel. Neste evento participaram igualmente artistas de diferentes gerações do fado: Camané, Ana Moura, Maria da Fé, Argentina Santos e D. Vicente da Câmara. Em Julho recebe o troféu Pena de Camilo no Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Famalicão – prémio destinado a consagrar carreiras artísticas nacionais.
Postal Rostos da Portugalidade Café Martinho da Arcada, 2009 Colecção Carlos do Carmo
Neste mês há a lamentar o falecimento do maestro Joaquim Luís Gomes. O maestro colaborou várias vezes com Carlos do Carmo, e ter-lhe-á dito um dia: Carlos do Carmo, da forma que você canta não aprenda música, senão você não volta a cantar assim. 7 Conselho que o fadista seguiu. Na primeira edição do Cruzeiro do Fado, Carlos do Carmo foi uma das personalidades de maior destaque a marcar presença. O Cruzeiro do Fado ocorreu entre os dias 23 e 27 de Agosto e contou com um vasto número de actividades e actuações de fadistas e instrumentistas. Foi distinguido pelo Rádio Clube com o prémio Rádio Clube/COFACO Açores 2008. Raul Solnado, seu amigo e companheiro de muitas aventuras, faleceria no dia 8 de Agosto deste ano. Neste ano foi designado Mandatário-geral da candidatura de António Costa à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, função que viria a cumprir novamente durante a campanha autárquica de 2013. No dia 4 Dezembro Carlos do Carmo participa no concerto Ary Sempre no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Para assinalar os 25 anos da morte do poeta, o fadista canta em exclusivo repertório assinado por Ary dos Santos. Lançamento do Songbook de Carlos do Carmo, uma publicação que inclui um texto biográfico, textos de apoio à interpretação de partituras, fotografias, discografia, entre outros. É também no decorrer de 2009 que Carlos do Carmo é entronizado Confrade de Honra da Confraria da Cerveja.
7
- “Conversa com Vista para Carlos do Carmo”, Publico, Lisboa, 25 de Julho de 2004.
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Programa do Grande Auditório da Philharmonie Luxemburgo, 2009 Colecção Carlos do Carmo Folheto da 8ª Grande Gala do Fado Casino Estoril, 2009 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo Museu do Fado, 2010 Fotografia de José Frade Colecção Museu do Fado
2010
Ano do lançamento da colecção 100 Canções uma Vida. Esta publicação produzida em conjunto pelo jornal Público, Museu do Fado e Universal Music Portugal, e com textos de Ana Sousa Dias, condensa o melhor de Carlos do Carmo em 10 volumes. Volume I: Os Poetas, volume II: Lisboa, volume III: Os Compositores, volume IV: À Guitarra e à Viola, volume V: Os Fados Tradicionais, volume VI: Com Orquestras, volume VII: Outros “Fados”, volume VIII: Internacional, volume IX: Ary por Carlos do Carmo, volume X: Ao Vivo no Casino Estoril.
Carlos do Carmo Bernardo Sassetti CD Universal, 2010 Colecção Museu do Fado
Edição do disco Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti. Este disco conta com arranjos musicais de Bernardo Sassetti e produção musical de Carlos do Carmo. Acompanhamento: Bernardo Sassetti (piano), Rui Rosa (clarinete), Filipe Quaresma (violoncelo). Deste disco constam os seguintes temas: Retrato (Mário Cláudio - Bernardo Sassetti), Cantigas de Maio (José Afonso), Lisboa que amanhece (Sérgio Godinho), Gracias à la Vida (Violeta Parra), Porto Sentido (Carlos Té - Rui Veloso), O Sol (Popular), Foi Por Ela (Fausto Bordalo Dias), Avec le Temps (Leo Ferré), Quand n’a que L’amour (Jacques Brel), Talvez Por Acaso (Manuela de Freitas - Carlos Manuel Proença). Estreia na RTP a série Trovas Antigas, Saudade Louca. Carlos do Carmo foi co-autor e anfitrião deste que foi o primeiro documentário audiovisual sobre a história do fado. O título de cada 1 dos 6 episódios evoca um verso de um poema do repertório de Carlos do Carmo. O escritor José Saramago falece a 18 de Junho. Para além da admiração recíproca, Carlos do Carmo e José Saramago tiveram a oportunidade de fazer convergir o seu talento no tema Aprendamos o Rito, do álbum Mais do que Amor é Amar (1986).
Colecção 100 Canções uma Vida Museu do Fado, 2010 Fotografia de José Frade,2010 Colecção Museu do Fado
A 10 de Novembro o fadista sobe ao palco do Pavilhão Atlântico, com a Count Basie Orchestra, para interpretar temas do seu ídolo Frank Sinatra. Carlos do Carmo recebe ainda dois galardões no decorrer deste ano: o CD de Platina por vendas superiores a 20000 unidades do CD Fado Maestro de 2008, e o Disco de Ouro por vendas superiores a 10000 unidades do disco Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti (2010).
Carlos do Carmo com Count Basie Orchestra Pavilhão Atlântico, 2010 Colecção Carlos do Carmo
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Carlos do Carmo, José Fontes Rocha e José Maria Nóbrega Casino Estoril, 2008 Colecção Carlos do Carmo
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2011 Nos dias 11 e 12 de Fevereiro, por ocasião da Candidatura do Fado a Património da Humanidade, Carlos do Carmo deu dois concertos no Teatro Municipal de São Luiz, onde contou com a presença dos músicos Ricardo Rocha, José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença, Fernando Araújo, Carlos Bica, António Victorino d’Almeida, António Serrano e Orquestra Sinfonietta de Lisboa dirigida por Vasco Pearce de Azevedo.
Convite Homenagem ao Fado, Sociedade Portuguesa de Autores Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, 2011 Colecção Carlos do Carmo
Em Junho realizou-se a primeira edição do Festival de Fado de Madrid. Carlos do Carmo actuou no dia 19 no grande auditório do Teatro del Canal fazendo-se acompanhar por José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola e Fernando Araújo no baixo. A 15 de Agosto, José Fontes Rocha faleceu em Lisboa. A inestimável contribuição do guitarrista para o percurso artístico de Carlos do Carmo nunca foi esquecida: O Zé é sem dúvida uma das pessoas que mais me impressionou pela sua execução doce, criativa, sabedora e apaixonada. (…) Gravei discos onde a sua guitarra está presente e foram sessões inesquecíveis, antes, durante e após as gravações.8 No dia 1 de Outubro, por ocasião do Dia da Música, Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti deram um concerto conjunto no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Ainda em Outubro há a registar o lançamento da emissão filatélica O Fado, que surgiu de uma parceria entra os CTT e o Museu do Fado. Carlos do Carmo deu rosto a um dos selos desta colecção. A 7 de Novembro recebeu o troféu Homenagem ao Fado, da Sociedade Portuguesa de Autores. No dia 27 de Novembro a UNESCO aprovou a candidatura do fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Como já havia sido mencionado, o papel de embaixador de Carlos do Carmo foi da maior importância para o desfecho bem-sucedido deste desígnio nacional.
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- António Manuel de MORAES, Fontes Rocha Compreende? Lisboa, ACD Editores, 2013.
Selo Carlos do Carmo Emissão Filatélica CTT, 2011 Colecação Museu do Fado Poster da Candidatura do Fado a Património da Humanidade 2011 Colecção Museu do Fado
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2012 O maestro Pedro Osório falece no dia 5 de Janeiro. De assinalar, entre outros, a sua preciosa colaboração na direcção de Orquestra do disco Que se Fez Homem de Cantar, e o seu insigne contributo na direcção musical do mítico concerto de Carlos do Carmo no Olympia (1980).
Maria Joao Pires/Carlos do Carmo CD Universal, 2012 Colecção Museu do Fado
A Universal Music Portugal lança uma caixa com 4 CD’s, intitulada Carlos do Carmo ao Vivo nas Salas Míticas, e que reúne as gravações dos concertos ao vivo no Olympia, na Ópera de Frankfurt, no Canecão e no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Edição do disco Sem Palavras - Maria João Pires / Carlos do Carmo: Morrer de Ingratidão (Vasco Graça Moura - António Victorino d’Almeida), No Lado Esquerdo do Peito (José Carlos Vasconcelos - António Victorino d’Almeida), Canto Três (Júlio Pomar - António Victorino d’Almeida), Teclado (Fernando Pinto do Amaral - António Victorino d’Almeida), Se Não Tenho Outra Voz (José Saramago - António Victorino d’Almeida), Paixão (Urbano Tavares Rodrigues - António Victorino d’Almeida), Separação (Nuno Júdice - António Victorino d’Almeida), Sem Palavras (Maria do Rosário Pedreira - António Victorino d’Almeida), Invenção de Mim (Fernando Tavares Marques - António Victorino d’Almeida). A 10 de Maio, Bernardo Sassetti perde a vida num trágico acidente no Guincho. Numa entrevista concedida em 2013, Carlos do Carmo não poupou elogios ao evocar a memória do amigo: Foi dos maiores génios que conheci na minha vida.9 O disco gravado com Carlos do Carmo em 2010 ficará na história como o último registo discográfico de Sassetti… e como um sonho que o músico teve oportunidade de concretizar. Carlos do Carmo recebeu, pela segunda vez, a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro, atribuída pela Câmara Municipal de Lisboa. No mesmo ano, a 14 de Junho, o fado perderia um dos maiores intérpretes e executantes da sua história – o guitarrista Raul Nery. Podemos ouvir o inconfundível tanger das cordas da guitarra de Raul Nery em inúmeros registos discográficos de Carlos do Carmo , que o considerava uma alma gémea no fado. De realçar ainda a participação do fadista, através do seu testemunho enriquecedor, no projecto documental Fado, da autoria de Aurélio Vasques e Sofia de Portugal. 9
- Entrevista de Miguel Cadete, Atual, Expresso, Lisboa, 26 de Outubro de 2013.
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Raul Nery, José Maria Nóbrega e Carlos do Carmo Gravações, década de 80 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti 2010 Fotografias Rita Carmo Colecção particular
Carlos do Carmo Gravações, 2013 Fotografia de Filipe Ferreira Colecção particular
2013 Ano em que se assinalam os 50 anos de carreira de Carlos do Carmo. A Universal celebrou esta efeméride com um conjunto de reedições comemorativas da discografia de estúdio integral. A Orquestra Sinfónica Portuguesa convidou o artista para um concerto no Teatro Nacional de São Carlos. Neste concerto, com direcção musical de Vasco Pearce de Azevedo, Carlos do Carmo repartiu o palco com Mafalda Arnauth, Camané e Carminho. A 19 de Junho, Carlos do Carmo actuava na cerimónia de Doutoramento Honoris Causa do amigo Júlio Pomar, que ocorreu na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. O cantor actuaria ainda no festival madrileno Veranos de la Villa/13, no dia 21 de Julho. Este espectáculo contou com a participação especial da fadista Carminho.
Fado é Amor CD Universal, 2013 Colecção Museu do Fado
No dia 28 de Julho, Carlos do Carmo assinalou a abertura da comemoração dos seus 50 anos de carreira com um concerto no claustro do Mosteiro dos Jerónimos. Neste concerto de consagração, Carlos do Carmo foi acompanhado por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Marino Freitas (viola-baixo), contando ainda com a participação especial do maestro António Victorino d’Almeida. Carlos do Carmo recebeu, a 23 de Outubro, o Diploma de Honra ao Mérito da Ordem dos Músicos do Brasil – Conselho Regional de São Paulo. A 30 de Novembro e 1 de Dezembro tiveram lugar mais 2 concertos evocativos dos 50 anos de carreira, desta vez no grande auditório do CCB. Estes contaram com a participação da Orquestra Sinfónica Portuguesa (dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo) e ainda Antonio Serrano, José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença, José Marino de Freitas e Paco de Lucía. Fado é Amor, é editado. Este álbum de duetos conta com a participação de fadistas de nomeada da nova geração de intérpretes, designadamente: Aldina Duarte, Ana Moura, Camané, Carminho, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Marco Rodrigues, Mariza, Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro. Recorrendo a meios tecnológicos foi recriado um dueto com a sua mãe Lucília do Carmo. Neste álbum podemos encontrar os seguintes temas: Por Morrer uma Andorinha (Versículos: Judite Leal), Júlia Florista, Lisboa Oxalá, Novo Fado Alegre, Pontas Soltas, O que Sobrou de um Queixume, Calçada à Portuguesa, Fado do 112, Vou Contigo, Coração, Nasceu Assim, Cresceu Assim e Loucura. Fado é Amor viria a receber, ainda no mesmo ano, o Disco de Ouro por vendas superiores 7500 unidades. Carlos do Carmo seria ainda galardoado com o Disco de Ouro por vendas superiores a 7500 unidades do disco Maria João Pires / Carlos do Carmo, e com o Disco de Platina por vendas superiores a 700000 unidades na celebração dos seus 50 anos de carreira. Júlio Pomar conclui, no decorrer deste ano, mais um retrato do fadista.
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2014 Entre os dias 28 e 31 de Março, realizou-se o Cruzeiro do Fado. A sua edição de 2014 contou mais uma vez com a presença de Carlos do Carmo, e foi mais uma forma de homenagear as suas cinco décadas de ligação ao universo da música. Carlos do Carmo promove dois concertos evocativos dos seus 50 anos de actividade artística, nos Coliseus de Lisboa e do Porto, dias 5 e 12 de Abril respectivamente. Estes espectáculos contaram com a presença em palco de 8 dos 10 fadistas que participaram no álbum Fado é Amor. Carlos do Carmo dedicou estes concertos à memória de Paco de Lucia , falecido no início do ano. Para além da amizade, ambos partilhavam uma apaixonada relação com a música. O Museu do Fado associa-se às comemorações do 50º aniversário de carreira de Carlos do Carmo, através da presente exposição, que percorre em registo biográfico, o notável percurso artístico do fadista.
Mariza, Ricardo Ribeiro, Aldina Duarte, Marco Rodrigues, Judite Leal, Carlos do Carmo, Carminho, Camané, Raquel Tavares, e Mafalda Arnauth. Coliseu dos Recreios de Lisboa, 2014 Colecção Carlos do Carmo
Carlos do Carmo e Lucília do Carmo 1960 Fotografia de Carlos Nunes Colecção Carlos do Carmo
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projecto arquitectรณnico arquietecto joรฃo santa-rita
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ficha técnica A Judite esteve sempre lá e esteve sempre comigo. Carlos do Carmo
Produção: MUSEU DO FADO e RTP - Colecção Museológica Comissariado e coordenação: Sara Pereira Guião Museológico: Sara Pereira e Rui Vieira Nery Projecto Arquitectónico: João Santa-Rita Arquivo RTP - Colecção Museológica: Pedro Braumann, Manuel Lopes, Paulo Figueiredo Documentação, Catalogação: Mariana Branco, Ricardo Bóia, Sofia Bicho Base de Dados: Sofia Bicho e Luís Carvalhal Audiovisual: Imagens de Arquivo RTP, Arquivo pessoal da família; Filmes: Ivan Dias Carlos do Carmo, Um Homem no Mundo; Carlos Mendes Pereira Video-retrato; Luís Carvalhal Videogramas. Design Catálogo e Exposição: Luís Carvalhal Comunicação: Rita Oliveira Secretariado Executivo: Cristina Duarte Projecto Luminotecnia: Vítor Vajão Construção e Montagem: Ilusões da História Transporte: Feirexpo Seguros: Hiscox Textos: António Costa, Miguel Honrado, Sara Pereira, Rui Vieira Nery, Mário Soares, Júlio Pomar, Fernando Pinto do Amaral, Vasco Graça Moura, Maria do Rosário Pedreira, Nuno Júdice, Manuel Alegre, Pedro Rolo Duarte, Bernardo Sassetti, Mariza, Camané, Raquel tavares, Ricardo Ribeiro, Ana Moura, Mafalda Arnauth, Cristina Branco, Marco Rodrigues, Carminho, Aldina Duarte, Dennis Mackrel, João Lobo Antunes, José Luís Tinoco, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Argentina Santos, Manuel Faria, Maria Velho da Costa, José Saramago, António Vitorino de Almeida, José Carlos Ary dos Santos, Baptista Rosa, Vasco de Lima Couto, José Cardoso Pires, Mariana Branco e Ricardo Bóia. Impressão: RPO Depósito Legal: ISBN: 978-989-8167-16-3 Parceiro: Galeria Torreão Nascente/Departamento de Acção Cultural: João Mourão, José Brito, António Vieira, António Puga, Fernanda Fernandes, Rosário Romão e Susana Sena Lopes (comunicação) Apoio Museológico/Serviço Educativo Museu do Fado: Agostinha Sousa, Andreia Brito, Arlindo Santos, Márcia Martins, Melissa Rafael, Patrícia Parrado, Ricardo Almeida, Sara Sequeira. Agradecimentos: Agradecemos penhoradamente a João Mourão, Director do Departamento de Acção Cultural da Câmara Municipal de Lisboa; aos fotógrafos Fernando Bento, Filipe Ferreira, José Frade, Reinaldo Rodrigues e Rita Carmo; a Argentina Fonseca, Fernando Bicho, e ao Futebol Clube Os Belenenses; agradecemos ainda a generosidade na cedência de peças do seu arquivo de Luís Fernando da Veiga Pires, Mário Moniz Pereira e Nuno de Siqueira; agradecemos ainda a Teresa Marta, Ivan Dias, Andreia Rosa, Carlos Caetano, Daniel Gouveia, Luís Alves e Luís Ramos. Esta exposição não seria possível sem o contributo feliz e entusiasta de Maria Judite Leal, Cila do Carmo, Becas e Gil do Carmo.
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