Livro Narrativas Paresi - Haliti

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Livro de Narrativas PARESI - HALITI


Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro de Estado da Justiça José Eduardo Cardozo Presidente da Fundação Nacional do Índio Maria Augusta Boulitreau Assirati Diretor do Museu do Índio José Carlos Levinho Coordenador de Divulgação Científica e editor do Museu do Índio Carlos Augusto da Rocha Freire Coordenadora de Patrimônio Cultural Ione Helena Pereira Couto Chefe do Núcleo de Biblioteca e Arquivo Rodrigo Piquet Saboia de Mello Conselho Editorial Bruna Franchetto Mara Santos Aline Varela Rabello Ferreira Coordenação de Design e gestão gráfica Simone Melo Equipe de Consultoria de Design Ingrid Lemos Guto Miranda Helena de Barros Maria Clara Pires Costa Priscila Freire Priscilla Alves de Moura © 2014 Museu do Índio - FUNAI 811.87 L788 Livro de narrativas Paresi - Haliti / ProDoclin ParesiHaliti ; Glauber Romling da Silva (organização) – Rio de Janeiro : Museu do Índio - FUNAI, 2014. 88 p. : il. color. ; 21 x 28 cm ISBN 978-85-85986-47-6 1. Linguística. 2. Paresi - Haliti. I. Silva, Glauber Romling da. II. Museu do Índio (Rio de Janeiro, RJ). III.Título.

Ficha Catalográfica Rodrigo Piquet Saboia de Mello CRB- 7/6376 Dados Biblioteca Marechal Rondon/Museu do Índio/FUNAI

Museu do Índio Rua das Palmeiras, nº 55 Botafogo • Rio de Janeiro • RJ • Brasil CEP 22.270-070 Tel.: (55) 21 3214 8700 www.museudoindio.gov.br


Livro de Onarrativas DO LIVRO Paresi - Haliti

ProDoclin Paresi-Haliti

organização Glauber Romling da Silva Museu do Índio - FUNAI 2014


EDITORIAL Projeto de Documentação de Línguas Indígenas Coordenação dos Projetos de Documentação de Línguas Indígenas Bruna Franchetto Gestão Científica dos Projetos de Documentação de Línguas Indígenas Mara Santos Concebido no âmbito do projeto: Documentação de Língua Indígena Paresi-Haliti Prodoclin/Museu do Índio/FUNAI Autores Equipe ProDoclin Paresi-Haliti Organização Glauber Romling da Silva Narradores Justino Zomoizokae e Antonio Zonizarece Ilustradores (fotos): Jurandir Zezokiware Fotografia de produtos Priscilla Moura Tradução Jurandir Zezokiware Transcrição das narrativas Jurandir Zezokiware Revisão Glauber Romling da Silva Associação ou comunidade Comunidades das aldeias Formoso, Cachoeirinha, Jatobá, JM e Queimada Agradecimentos Museu do Índio-FUNAI/ProDoclin Endangered Languages Documentation Programme/SOAS Assessoria Técnica do Prodoclin Aline Varela Rabello Ferreira Juliano Leandro Gustavo Godoy Secretariado Gráfico de Pre-Livros Prodoclin - 2012 Ingrid Lemos -2012 Maria Clara Pires Costa - 2014 Arte, montagem gráfica e tratamento de imagem Priscilla Moura

©2014 "Os direitos autorais sobre os desenhos e textos em língua indígena constantes da presente obra são de natureza coletiva e pertencem exclusivamente ao povo Paresi-Haliti. Fica proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma, das ilustrações contidas nesta obra, sem prévia e expressa autorização, por escrito, do povo indígena mencionado."



Beiju para festa tradicional, Aldeia Queimada


ÍNDICE

Carta da Presidente da Funai

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Apresentação do Museu do Índio

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Documentação Linguística no Museu do Índio

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Documentação da Língua Indígena Paresi

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Zozotanero Tahi

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Kokotero tahi

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Kaziniti Waimare tahi

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CARTA DA PRESIDENTE DA FUNAI Maria Augusta Boulitreau Assirati Presidente da Fundação Nacional do Índio

O Museu do Índio, órgão criado em 1953 no âmbito do Serviço de Proteção aos Índios – SPI, e atualmente integrante da estrutura administrativa da Fundação Nacional do Índio- FUNAI, tem, nos últimos anos, desenvolvido importantes ações de preservação e salvaguarda do patrimônio cultural dos povos indígenas brasileiros, por meio de iniciativas que garantem a valorização desses saberes. Nesse contexto, o Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas – PROGDOC é uma expressiva atividade técnica do Museu, resultado de um intenso volume de ações junto a diversos grupos indígenas. Por meio de oficinas e cursos do Programa, jovens indígenas estão aprendendo a lidar com as novas tecnologias, voltadas à capacitação para o registro e a documentação de saberes tradicionais, tendo como resultado a salvaguarda e a preservação das culturas indígenas. Como incentivo a esse processo, foram concedidas 60 bolsas anuais para pesquisadores indígenas, de modo a permitir sua dedicação ao Projeto, cujas ações beneficiam cerca de 27 mil índios, abrangendo 105 aldeias em todo o território nacional. Com a implementação da política cultural da FUNAI na área editorial, o Museu do Índio vem ampliando e diversificando suas produções, buscando permitir que os não-indígenas conheçam mais sobre a vida, o cotidiano, e as práticas dos povos indígenas. Somente nos últimos cinco anos, foram distribuídos mais de 100 mil exemplares, referentes ao lançamento de 35 títulos, entre eles, publicações, algumas assinadas por especialistas, e outras organizadas por professores indígenas. Assim, contribuindo com esse processo de valorização de línguas e culturas ameaçadas, é com satisfação que a Funai, por meio do lançamento de cartilhas, narrativas e enciclopédias, participa do movimento de fortalecimento dos conhecimentos e das práticas culturais compartilhadas por diferentes povos indígenas.

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APRESENTAÇÃO DO MUSEU DO ÍNDIO José Carlos Levinho Diretor do Museu do Índio/FUNAI

O Museu do Índio, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, é uma importante instituição de pesquisa sobre línguas e culturas indígenas. Tem sob sua guarda acervos relativos à maioria das sociedades indígenas contemporâneas, constituídos de 17.981 objetos etnográficos e 15.121 publicações nacionais e estrangeiras, especializadas em etnologia e áreas correlatas. Os seus diversos setores são responsáveis pelo tratamento técnico de 833.221 registros textuais que datam a partir do século XIX, em processo de digitalização, e de ampla e diversificada documentação audiovisual na sua maioria produzida pelos próprios índios. Esta abrange 163.553 fotos, 599 filmes e vídeos,1.295 áudios e 771 horas gravadas. Um legado que não para de crescer. A luta contra o preconceito aos povos indígenas e o intercâmbio de ideias e informações sobre esses grupos têm pautado as ações do Museu do Índio ao longo dos seus 60 anos de histórias. Nesse percurso, a instituição se consolidou como fonte de referência para estudos sobre questões indígenas - com destaque para os destinados à demarcação de terras - e estreitou as relações com os povos indígenas, dando visibilidade aos aspectos de sua cultura e apoio aos seus projetos para o futuro. A instituição com o seu Programa de Apoio a Projetos Culturais já atuou, desde 2010, em 233 projetos que têm por finalidade promover e realizar atividades que contribuam para a promoção do patrimônio cultural dos povos indígenas com foco na sua cultura material. Em processo de expansão, o Museu do Índio, hoje, apresenta novos espaços expositivos como o Muro do Museu, a Varanda do Museu e suas Lojas de Arte. A instituição recebe, em média, 35 mil visitantes por ano, compartilha as suas informações com, aproximadamente, 600 mil internautas e alcança 57.102 pessoas por meio da itinerância de suas exposições. Recentemente, incorporou duas unidades fora do Rio de Janeiro: o Centro Cultural Ikuiapá (MT) e o Centro Cultural Indígena de Formação Audiovisual de Goiânia – Guaias (GO). Temos a certeza de que essa iniciativa de promover e divulgar as diferentes formas de expressão das culturas indígenas, por meio de uma crescente política editorial que vem sendo desenvolvida pelo Museu do Índio/FUNAI, contribui para a democratização em uma sociedade pluriétnica e multicultural. 9


DOCUMENTAÇÃO LÍNGUÍSTICA NO MUSEU DO ÍNDIO Bruna Franchetto Coordenadora do ProDoclin

Mara Santos Gestora Científica do ProDoclin

A Fundação Nacional do Índio-FUNAI e UNESCO, por meio do Museu do Índio, órgão científico-cultural sediado no Rio de Janeiro, iniciaram em 2009 um amplo programa de documentação de línguas e culturas indígenas no Brasil, desenvolvido em conjunto com diversas instituições e pesquisadores. O Museu do Índio possui longa tradição na área de documentação, pesquisa e difusão do patrimônio cultural indígena, de natureza material e imaterial. Por sua vez, a UNESCO vem desenvolvendo, desde pelo menos o final dos anos 1990, programas de proteção da diversidade lingüística por meio dos seus setores de Comunicação e Informação e de Cultura. O movimento internacional em torno de línguas ameaçadas de desaparecimento se intensificou com a publicação de um artigo pelo lingüista Michael Krauss (1992), que estimou que 90% das línguas do mundo estariam na beira da extinção no século XXI, se não fossem tomadas medidas preventivas. No contexto mundial e, em particular, sulamericano, o Brasil é um país onde se encontra uma das maiores densidades lingüísticas - ou diversidade genética; é, também, o país onde se encontra a menor concentração demográfica por língua. Sabemos que essas línguas pertencem a quarenta e uma famílias, dois troncos lingüísticos e que há pelo menos uma dezena de línguas isoladas, além de duas ‘línguas crioulas’. O número de falantes pode chegar a vinte mil (Guarani, Tikuna, Terena, Macuxi e Kaigang), assim como aos dedos de uma mão, ou mesmo a um único e último falante. A média fica em menos de 200 falantes por língua, mas mesmo entre as poucas línguas que contam ainda com muitos falantes, não há nenhuma que possa ser considerada “segura”, ou seja, da qual é possível afirmar que provavelmente será, no final deste século, diariamente usada e transmitida de uma geração a outra. Ao contrário, não são poucos os casos de línguas faladas ou lembradas por somente poucas pessoas, usualmente idosas, e que quase inevitavelmente vão desaparecer dentro de poucos anos. Fatalmente, são muitas vezes estas línguas as menos conhecidas e cujo registro e resgate são pedidos, freqüentemente de modo dramático, pelos descendentes desses últimos falantes.

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A documentação das entre 150 e 170 línguas nativas ainda existentes no país, a maioria concentrada na região amazônica, é então uma tarefa urgente. Estes números podem impressionar o grande público, mas é pouco em comparação com as estimativas de que teriam sido mais de 1200 línguas quando da chegada dos Europeus há 500 anos. Nos cinco séculos de conquista e colonização, mais de 80% dessas línguas se perdeu e com elas desapareceram inteiras configurações culturais e muitos saberes. Línguas vivas e reconhecidas na sua plenitude não são apenas repositórios de tradições e conhecimentos complexos e milenares, mas também os veículos de sua transmissão de uma geração para outra e a base de auto-estima e afirmação de alteridade, individual e coletiva. A situação dessas línguas não é uma exceção no cenário mundial. Não há línguas indígenas “a salvo” no Brasil: são todas línguas minoritárias e dominadas pelo prestígio da língua nacional que emana da escolar e das mídia, em contextos submetidos a transformações crescentes e profundas. Existem muitos programas nacionais e internacionais voltados para a documentação de línguas do mundo. No Brasil, o Projeto de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas e, especificamente, o ProDoclin são a primeira iniciativa pública e governamental desta natureza. Há somente uma outra iniciativa desta natureza no Brasil, a do Museu Paraense Emílio Goeldi, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A documentação linguística é, hoje, uma área de pesquisa em crescimento, que mantém laços interdisciplinares (etnologia, arqueologia, história, biologia) e com o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Documentar uma língua, hoje, significa registrar, de modo sistemático e amplo, exemplos de seu uso em contextos culturais apropriados, os mais variados, visando à constituição de um corpus digital anotado. Os acervos digitais multimídia (gravações áudio e vídeo anotadas) contêm materiais preciosos e preservados, acessíveis às comunidades indígenas e

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para as futuras gerações de brasileiros. Visando a preservar o patrimônio cultural lingüístico dos povos indígenas e a promover o seu acesso, a FUNAI tem assinado acordos de cooperação internacional e com associações indígenas. Todos os materiais coletados permanecem em instituições brasileiras, com cópias entregues, em formato adequado e acessível, às comunidades envolvidas. O Museu do Índio é o centro de coordenação e de apoio do ProDoclin, além do local de arquivamento dos materiais documentais produzidos por cada projeto. O ProDoclin, além da preservação de materiais existentes em acervos particulares e em instituições públicas e privadas, realizou a documentação de 13 línguas entre 2009 e 2013, escolhidas por critérios tais como: o grau de ameaça a sua sobrevivência; condições de realização de um bom trabalho por equipes compostas por lingüistas e outros especialistas, das quais participam pesquisadores indígenas formados no âmbito de cada projeto específico; atitude positiva das comunidades quanto a iniciativas de preservação ou resgate de suas línguas nativas. Os projetos individuais produziram: diagnósticos sócio-linguísticos; acervos digitais a partir de gravações áudio e vídeo de aspectos culturalmente relevantes, com anotação contendo, no mínimo, uma transcrição e uma tradução dos enunciados; uma base lexical para a construção de dicionário; uma gramática descritiva básica; subsídios didáticos, materiais de divulgação (vídeos, CDs, DVDs), bem como teses, dissertações e publicações de natureza científica. Este livro é um dos produtos previstos e acalentados dos projetos ProDoclin, de seus pesquisadores indígenas e não-indígenas, bem como de toda a equipe gestora e técnica do Museu do Índio. Ele se destina em primeiro lugar aos povos indígenas que acolheram a proposta do ProDoclin abrindo suas línguas ao conhecimento de todos.

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DOCUMENTAÇÃO DA LÍNGUA INDÍGENA PARESI-HALITI Glauber Romling da Silva Coordenador do Prodoclin/Paresi-Haliti

OS PARESI E SUA LÍNGUA A autodenominação do povo conhecido como Paresi é Haliti, que se traduz. por ‘gente, povo’. De acordo com dados do Instituto Sócio-Ambiental, os Paresi-Haliti somavam 1.955 individuos em 2012. Conforme dados do CCGEO-FUNAI, eles habitam sete áreas indígenas não contínuas no estado do Mato Grosso, na faixa de cerrado amazônico, a oeste da capital Cuiabá. O povo indígena Paresi fala uma língua da família Arawak, ramo Arawak do Sul, cujo representante mais próximo é o Enawenê-Nawê, falado em território mais ao norte. Os vizinhos mais próximos são os Nambikwara (família Nambikwara) em áreas indígenas ao norte e sudoeste da porção paresi, com quem hoje têm contatos mais intensos, após um passado de conflitos.

O PROJETO DE DOCUMENTAÇÃO DA LÍNGUA PARESI (PRODOCLIN) O Projeto de Documentação da Língua Paresi-Haliti começou em 2009, concentrando-se na região do Formoso, município de Tangará da Serra (MT). Entre os resultados alcançados, há uma gramática descritiva (Morfossintaxe da Língua Paresi -Haliti (Arawak)), um léxico, um acervo digital com cerca de uma centena de horas de gravações dos mais diferentes gêneros, como narrativas cantadas, cantos, festas, jogos tradicionais, rezas, dentre outros. Parte deste acervo, cerca de 12 horas, encontra-se transcrito e traduzido. Todo o material produzido está depositado no servidor do Museu do Índio no Rio de Janeiro e na School of Oriental and African Studies (SOAS), que financiou parte da pesquisa de campo através do Hans Rausing Endangered Languages Project (ELDP), juntamente ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que concedeu ao coordenador do projeto, Glauber Romling da Silva, uma bolsa de doutorado nos três últimos anos.

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COMO FOI FEITO ESTE LIVRO Este volume contém a transcrição e a tradução de três narrativas que fazem parte do vasto repertório tradicional paresi-haliti. São narrativas executadas por mestres do estilo formal cantado, que caracteriza estas narrativas: Antonio Zonizarece (in memoriam) e Justino Zomoizokae, respectivamente, pai e filho. Elas estão incluída no acervo coletado por mim, como coordenador dos dois projetos de documentação supracitados (ProDoclin e ELDP). Todas as narrativas foram transcritas e traduzidas por Jurandir Zezokiware, atualmente aluno de graduação da Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade Estadual de Mato Grosso. Foram colaboradores esporádicos, porém essenciais: Genivaldo Zezokaece, Geovani Kezokenaece e João Titi Akonozokae. Os trabalhos de edição, revisão final e redação dos resumos que iniciam cada história ficaram a meu cargo. Com alguma licença poética, busquei preservar ao máximo nas traduções os traços de oralidade e espontaneidade. A não-observância da norma padrão do português é proposital. Os padrões geométricos que compõem a parte visual desta publicação foram inspirados na cestaria tradicional Paresi-Haliti, cujo mestre é Justino Zomoizokae, cacique da aldeia Formoso.

ESTA SELEÇÃO DE HISTÓRIAS As histórias escolhidas são pedaços da bricolagem que dá formato à complexa mitologia paresi. No que aparenta ser um jogo de “hipertextos” com “enredos e mundos simultâneos”, já que, como os Paresi sempre afirmam “a história nunca está completa, sempre falta uma parte”, não há espaço para uma estrutura linear. Deixamos de fora desta seleção a narrativa de origem, a história da Ponte de Pedra (Hikoatihekotahi ou ‘Sobre a saída’), dada a sua recorrência e disponibilidade em outras publicações e inúmeras versões. Selecionamos três narrativas, duas com personagens importantes da mitologia paresi e uma que fala sobre a origem de dois subgrupos étnicos presentes na região do Formoso.


1. Zozotanero Tahi: Zozotanero, o pica-pau-do-campo é um personagem que faz parte do cenário natural do cerrado brasileiro, onde os Paresi-Haliti vivem hoje. Nesta história, Zozotanero manifesta sua capacidade de “transformar-se” em diversos seres ao longo dos acontecimentos narrados. 2. Kokotero Tahi: Kokotero, dentre outros entes míticos, são responsáveis pela distribuição dos alimentos aos Paresi-Haliti. Destacam-se a batata, o milho e a batata-doce. 3. Kaziniti Waimare Tahi fala da origem dos subgrupos étnicos Kaziniti e Waimare.

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O leitor interessado encontra farto material na internet sobre essa narrativa.


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Zozotanero Tahi


Zozotanero Tahi Esta é a história de Zozotanero, o pica-pau-do-campo, contada pelo cacique Justino Zomoizokae, em 8 de setembro de 2009 na aldeia Formoso, município de Tangará da Serra, Mato Grosso. Um homem ia sempre caçar, mas sem sucesso, apesar de ver sempre rastros. Às vezes matava filhotes. Seus filhos já estavam ficando magros. As crianças revelaram ao pai: “–Estamos tomando o caldo de uma gente que chega com cocar de papagaio e diz que o fervamos!". Após isso, o pai esconde-se na hanalititsera (uma árvore) para sondá-lo. Apos observá-lo, o pai avisa a seus filhos que tudo é mentira desse ser. Quando a fervura começou a fazer efeito, o ser consegue impedir seu prosseguimento. No entanto, o peito do ser desancou e ficou queimado. O pai recomenda dizer “–Aiyowarena zete!". Tiraram algo da boca dele e viram que ele pegou o zokowiye de outros animais. O ser não gosta e toma forma de gente. Pelo contexto, cremos que zokowiye refira-se às armadilhas que cada animal parece portar e/ou ser vulnerável. Para os haliti, lugar de amadilhas chama-se de tanoha. Essa explicitação sobre como se chama a armadilha para os paresi, é um argumento para a nossa interpretação de zokowiye como uma tradução livre para o termo. Durante a narrativa, o consultor usou como tradução para armadilha os seguintes termos, cujas raízes são 'iyoke-', 'tanola-' e 'tanoha-':

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

n-iyoke-n-e

1sg-armadilhar(?)-EP-3 “eu fiz aramadilha/eu 'armadilhei' isso”

tanola-ho-hena aramadilha-adj.cilind-IMIN “ele está para fazer armadilha”

hatyo e-tanoha-n-e n-ihatya-kal-a tano-re aquele 3-armadilha(?)-EP-conc PR-armadilhar(?)-nmlz.INSTR-conc aramadilha-nmlz.AE “naquele lugar em que fez armadilha”

Após isso, Zozotanero se transformou em sua sogra e passa a pedir carne chorando. As crianças chegam com moela e ela finge que come. Enquanto coletam coquinhos, ouvem-na dizendo “– Como é bom, estão tratando da moela das crianças!”. Ao ser indagada pelo pai sobre o que disse, afirma que falava, na verdade, da moela da caça das crianças. Chegam outra vez, agora transformados (ou vistos na perspectiva de) cunhados e há muita caça. Alguém diz que não se deve pegar o zokowiye das emas. Mas tomam o zokowiye do veado e as caças revivem. Na tradução o zokowiye é feito de chocalho (!) e entoa-se 'wiririri!'. Os veados ficam com diarreia. As fezes do veado são passadas na anta, mas a atrapalha em sua fuga (como uma armadilha?), assim retiram as fezes de seu corpo. Colocaram uma parte das fezes, então, na ponta do veado do mato, o veadinho pegou as fezes do vão do pé da anta e se foi. O cacique finaliza a sessão afirmando que até hoje há na Cabeceira do Osso fileiras de jabuticabas onde Zozotanero havia feito armadilha no meio de katsirare (?) para as emas. As pessoas de verdade “haliti wayekahere” é que a chamaram de tanore hana (folha de tanore). Essas pessoas morariam hoje em Boa Esperança. 19


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

kala.

acho que.

zanekoatya minita kala zane. ele caçava direto, acho que ele foi.

zakoatya ala maiha aitsare.

caçava e não matava nada.

maiha aitsere ala hoka. e não matava nada.

kala ikitsi kahare tyaonita kakitsita nolokoakoaita toli iya ala hoka.

acho que havia muitos rastros, e elas (as caças) estavam andando por ali.

'-nozani ite niyokene!'. '–vou lá fazer armadilha!'.

neza ala hoka zane zane ala tanolahohena. disse e foi fazer várias armadilhas.

zane ala halaitsa hoka zane zaore waiya hoka. foi, deixou, deixou, e ele voltou a olhar.

mokotse ira hare taita ite kazowakere aitsita. de vez em quando ele matava só filhotes.

hoka kala nikare zane hokata... kala hinama hitse ala ityani... então, continuando sempre assim... acho que ele tem dois filhos...

ityani hoka. os filhos.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

kala. então.

– ekohena zaore naitsita hoka, ziyawitatehena zahetetse taitahena! –eu estou matando caça, vocês estão ficando cada vez mais magros, vocês estão só osso!

-aaa! –aaa.

-zikaite mokotseze hekoti. vocês nem engordam.

–maiha zatsikini atyore, haliti kolokote zaoloneza hikoa hoka '- zatsikalitsa natyo, nozaitsenae!'. –diz para nós, toma o meu caldo e nós tomamos o caldo dele, por isso que estamos magros.

–neza nohanizira zitserehena, neza hoka, ehanaza witserita hoka wiyawi. diz para nós, toma o meu caldo e nós tomamos caldo dele, por isso que estamos magros.

neza ala hani haneze hiye. disse ao pai.

ka kala zaneta ala hoka kala hanalotitsera katyaheta wahatene. pois ele estava indo, se escondeu embaixo de hanalotitsera e esperou.

wahatene ala hoka. e o sondou.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

waiya zakore, hoka hikoahena. quando viu, ele vem chegando.

–zatsikalitsa natyo, nozaitsonahe, neza. –ferve eu, minhas sobrinhadas, disse.

zatsikalitsa natyo nozaitsenae zoahita.

nozai neza

sempre dizia ferver eu, meus sobrinhos.

emalokaztyala mataloakokoala mokahene. colocaram ele dentro da panela e ferveram água.

mokahena ala hoka colocaram ele dentro da panela.

watyaze hena ala hoka 'atotototo!', zezoakihetahena natyo, nozaitsenae. a água estava começando a ferver 'atotototo!', –desce eu, meus sobrinhos!

nita ene, –maotseratita, awatyo zezoakihetehenene! estava dizendo, –é mentira dele, não desce ele!

neza kawiyalitsahene tema itsoahenahitaha ala. gritaram e entraram correndo.

itsoahenahitaha hoka... depois que entraram...

–zezoakiheta natyo, nozaitsonae nozaitsenae ira, hoka nozakaiha zitso! –me desçam, minhas sobrinhas e meus sobrinhos, e vou contar a vocês!

neza ehiye. disse a ele. 22


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

neza ehiye hoka ezoakihenahitene neza ehiye, hoka ezoakihenahitene, ezoakihenahitene zakore atyo hoka milikoali atyo etikolali kerali. disse e o desceram, mas o peito dele descascou e queimou.

ka ezoakihenahitene ala, hoka zakaihenene. depois que desceram ele, começaram a contar para ele.

–maika hiyane hawahatene. –você vai lá esperar ele

–hawahatene, nita tyaite.

ite

aiyowarena

zeteraotse

–espera ele, vai dizendo o lugar do aiyowarena.

–maika eze hiwaiya... –quando você vir...

–zawa nehena ite, iyakahekoahenene ite hoka, eze tanore hiyete katilikoa hoka, iyehenenete enonita hoka, hatyaotseti hakawiyalitsene. –quando você vir, dá uma balançada, e na hora que ele tirar da mão dele, quando for amarrar, nessa hora dá um grito.

–hoka, hiya ezokowiya enonita. –nessa hora, você pega ezokowiya dele.

–haitsa! –você mata!

–matyotenehare tyatyoite, haitsehenene iyane nihatyaka tyatyoite, hakolatya hakolaitene, neza. –disse a você, vai matar sempre, toda vez que você vai, você vai estar trazendo. 23


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

neza hoka zaneaha. disse e eles foram.

zane ala wahatene hoka. ele espera.

–kala aore ekakoaliraotsehena

'–aiyowarena zeteraotse, aiyowarena zete'. estava chegando naquele momento e estava dizendo '- aiyowarena zeteraotse, aiyowarena zete'.

'–aiyowarenae zotiraotse tono hitiyaine kala etahare'. kiniyatyakatsero 'bio!' nezala hoka, iya kanatseakotene. começou dizer novamente 'bio!', quando ele foi fisgar de novo, deu uma escapada e tirou da boca dele.

hakehekoahena zaore kawiyalitsene tekoa zane, henerenetse iya ezokowiya enonita. quando ele ia pegar, deu um grito e correu, enquanto ele estava correndo pegou o zokowiye dos animais.

zokowiye ala iya hoka kaoka ala ekakoa. depois que ele pegou o zokowiye e chegou com ele.

kaoka ala ekakoa hoka, kamaitali atyo zane hoka, iraotse nihatyaka atyo. e chegou com ele, no outro dia ele foi com ele em cada lugar.

eze. esse.

'armadilha' tyomahenare aotse atyo. o lugar que ele fez a armadilha.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

kano titene nali. está pegando.

tanore nezahitaha hatyohare zaokaka witso halitinae. nós, os haliti, chamamos de tanore.

a kala hatyo etanohane nihatyakala tanore... acho no lugar que ele fez armadilha.

...haiya zowakiya hakiniyoli kitsiya kaokahetita ekakoa tyokoiheta kaokahetita. ...tem vez que ele chega com muita caça no ombro até perto de calcanhar.

ka. e

kala maiha awaiyetita hoka halitikitsoahenaha acho que ele não gostou e tomou a forma de gente.

zozotatanero kala tyaonahetahena.

enimatsero

miliyako

o pica-pau-de-campo tomou a forma da sogra dele.

zozotatanero zanehena. zozotanero está indo.

zane tiyahalo kaoka. ela e chegando chorando.

–notyoita, oliti haitsita aokaha hoka, notyoita nokairihalota hoka, notyoita. –eu vim, disseram que você está matando caça e estou com desejo de comer carne, é por isso que eu vim.

tiyahalo ala kaoka, oliti ala mokaha enomana. ela chegou chorando, colocaram carne de caça para ela.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

nitsaiyakotya taita. fingia que estava comendo.

mawaheneta ala, tyokoihitiya kaoka ekakoa. não demorou nada, ele vinha chegando com a caça.

–haokere henano, nake. –se sinta à vontade, tia.

–hitiya halota tyare hoka, hiwaiya hoka, hahotyoatya hanihena. –como você está chorando com desejo de comer carne, pode tratar de comer.

wahakotya taita. ela só olhou.

–ka kala enatsi toliyala... –acho que as moelas...

...iya nika hatsitira hakakahene, nake, kolatya zane. ...e pode tratar de levar moela para a senhora, tia.

kala mawaheneta, kala eze zoimanae, kala: –wizane watsero zema hoka! acho que, não demorou nada, as crianças: - vamos lá com a nossa avó!

–kareke wiya hoka wanitsa. –pega o coco para nós comermos.

neza. disse.

–zanehenaha ala, zane ala amematyoaha, kala owitene mokahane hoka, kareke hiye mehezaikohenaha. –eles foram, chegaram perto, e começaram a pegar o coquinho-do-campo. 26


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

kala iyahenaha ala kareke tsema zaore hoka, –alatya nokiniyatse halotata notsiyetyonae natsi nakakaita notsiyetenae natsi. acho que estavam pegando coco, e eles ouviram: –e ainda bem que que estou vivo, ainda estou tratando da moela das minhas netas e do meus netos.

–nokiniyatse halota nakakaita, neza. disse, –estou vivo tratando as moelas.

hoka tsemahene ala. e eles ouviram.

kala eze. acho que esse.

tyohenahitaha ala zane ala kaokahenahitaha. vieram embora e chegaram.

hoka hanityo haneiye eyakerore abebe tiyita.

hiye

ala

aba

e disseram para mamãe e papai que vovó está chorando assim.

alazamaniyore ka etsiyetenae etsityonae natsi zamaniyore kakatita aoka. ela disse que está tratando as moelas de netas e netos.

eyakerore nita abebe tiyita. ela estava dizendo e chorando.

–alitere iyatya ka... –será que é verdade...

–alitere eyakere hita? hitsiyete hitsiyotyonae haoti hoka eyakere tyoa zakaihaha wihiye, maiha nikare zini. –é verdade que você estava chorando assim? os seus netos vieram e contaram para nós, não é nada disso...

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

–alatya nokiniyatse halotata notene tawane natsi nakakaita. (eu estava dizendo)- ainda bem que estou vivo e estou tratando a moela da caça do meu genro...

–nomita atyo hoka, aokita kala eze aokihitaha neza ala... –eu estava dizendo, acho que desse aí que eles estão falando...

...hoka tyakeko. e acredito.

–makani hena ite hiniyatyorenae. –amanhã vão vir seus cunhados.

kamaitali iya ala, kala aore... no outro dia, acho que...

owene itsihityane ehare zoihako zoihako nitatyo tohiyere harenae eno ako zaokaka, kahainiyakotyahaha eno ako hoka. ali estavam as caças assadas, em cima até no teto da casa, as pessoas de antes chamam isso de ezoihako 'parte de cima'.

kala zoiyako kala owene menane aka ikitsi hare emolone, matyaikoa tyaonitata oliti hatyako. acho que a carne estava ali em cima, essas e outras partes da carne, as caças estavam ali à toa.

koizatikoa. em cima do jirau.

mokahita waitare no. estão colocando novo.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

kaokitano. vem chegando.

kala zane ala, kaoka kala kaokahenahitaha tsihahaotyaha ala, –kamaitali awitsahenaha hiniyatyorenae. acho que foram, chegaram e assaram no outro dia, - é hoje que chegam seus cunhados.

–nozani ite, awitsa ekohenatseta nakokiheta. –já estou indo, daqui a pouco eu estou chegando de volta.

zane ala hiraotse nihatya ala, tyoakoihitiya kaokaheta, kaokaheta taita ala hoka ezemehenala kaokaha enatyorenae miliyakota. ele foi em todo lugar das armadilhas dele e pegou, chegou carregando no ombro, ele chegou logo, e chegaram como se fossem os cunhados dele (com a pele dos seus cunhados).

–kaokaha zikaoka nanatyorenae? ha wityoita, wiwaiyahetita zitso.

–chegaram, meus cunhados? sim, chegamos, viemos visitar vocês.

tya... é...

–eze hiniyatyorenae, wizane hoka. –esses seus cunhados, vamos lá.

–kala winiyatyore... –acho que o nosso cunhado...

...iya... ...pegou...

...zokowiye hoka, wizane hoka. ... e pegou zokowiye, vamos lá.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

–wakazoterahatya hoka wizaka nezaha hoka notyoahitaha ekakoa. –eu vim, eles disseram que iam fazer para flecharmos...

–hiwayore waiye kehalaka zaore hoka, maiha ala haiyahalonae kore ala mamatsemaniri hoka. –dava para você perceber como outras pessoas estavam muito curiosas.

–mazahenerahalo hoka. –assanhada.

–maiha hatyohare niyare, maiha awona zokowiya niyare no, nonatyorenae nazanikoalitere naitsita. eu não peguei nada disso, não peguei zokowiye das emas, eu mato as emas naturalmente da minha caçada.

–kawairireatyala hatyo hare hoka no, nohoe. –acho que isso não tem remédio, cunhado.

eko terenene. e ele escondeu.

ka kala hatyaotse ala... acho que nessa hora...

...hezoakakahene hiniyatyorenana hoka, waiyaha hoka, zolaharetyoa zaneheta, hoka zakaha. ...desce ele para seus cunhados verem e passarem no corpo, pois quando eles forem embora, vão matar.

hamaitsene konita ala enoakota iyahetene hoka ezoakitsene. pegou ele lá de cima contra a vontade e desceu ele. 30


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

ezokitsene ala hoka oweneta. desceu ele e está aqui.

iyahene hoka. pegaram ele.

–natyo iya hoka eyakere iya nokanotalakota iya maiha niyarene.

ne,

–se fosse eu, não tirava ele de dentro do meu sovaco.

–natyo iya hoka eyakere iya nozanita ekakoa kakoita menaneakahena zaneahitaha ekakoa. –se fosse eu andava com ele assim, aos poucos estão saindo com ele do lado de fora.

zanehenaha ekakoa menane aka estão indo com ele do lado de fora.

–wetekokoa hena kakoita tyaonahitaha natyo iya hoka eyakere iya namokitene. –aos poucos eles estavam no meio do terreiro, se fosse eu faria com ele assim.

e kakoita ekakoa

kolalikelihe

hana

zaneahitaha

aos poucos já estavam cada vez mais próximos da mata.

–eze waire waziraharetsioa: natyo iya hoka eyakere iya, neza aolohaliyaita... - esse diz: se fosse eu fazia assim, tava cholheando ele, de repente...

...tema zane. ... saiu correndo.

tekoaha ekakoa iyehenahitene. fugiram com ele, pegaram ele de volta.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

tekoahenahitaha ekakoa hoka eze matyaokoare toli eze ziraokoare iniyotya kaokene toli ahainiyo. fugiram com ele os que estavam no jirau, e outros que eram recĂŠm-matados todos.

tema ainiyakoa heta katseheta toli. levantaram correndo, reviveu de novo.

waiye 'wiriririri!' neza zaneheta toli eze hazokowiya zema. fizeram 'wiriririri!' e foram atrĂĄs de hazokowiya.

zaneheta ala. ele foi.

kala zane ala hikoa ele chegou.

kala zane ala kaokakakoahene ka. acho que se encontraram.

ehekatse henahene irokotsehenahene. racharam e toraram ele.

hoka wairetse tyakoala akahityahatsioa. fizeram disenteria no veado.

hoka wairetse nonita iyehenahitene. tomaram do veado.

akahetyala hoka zozolitsoakoaitere nonitala, ekiniyolihotse ala kotyoi hiye mokaha. enquanto ele estava fazendo as necessidades, uma parte eles colocaram na anta.

tekoahena zakore, olalitsoakoatehena. quando ele começou a fugir, se amarrou. 32


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

–maiha iya eyakere hoka, eyakere iya hoka, oniyakaharena iya, mokotya aitsa hitso hifihi kamanehare iya, nezaha. –assim não dá, se for assim, as pessoas vão matar você, você morre qualquer hora, disseram.

ehiyehenahitena hoka. tiraram dele.

azama hiyetsa mokahene hoka.

mokahene,

azama

hiye

colocaram ele no azama, colocaram nele.

hatyo atyo fihi atyo zane waiye neza hotyatyo zane ekakoa agora ele saiu com ele muito bem.

–waiyahena. –e assim dá.

wahena hitsota hikiniyolihotse kakoa hitsaona nezaha. e vocês mesmos podem ficar com a parte maior.

hayaotseta atyo, eze zotyare, Ahiyanere Kamaizonare,... depois disso, assim como esse veado, o Ahiyanere Kamaizonare, ...

ahiyanere kamaizonare. ... zotyare koakere kolohore hiyetyo mohenaha emaiyeholihotsetsenae. ...colocaram a parte da ponta no veado do mato.

atsikahene 'tsai!' zaneha ekakoa. fincaram nele 'tsai!'e foram. 33


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

eze zotyare kolohore hiye mokahena hoka, temakonitsa waiyahena. colocaram no veado do mato, acham que vai dar.

eze. esse.

meketse aka halirihotse ala eze zotyare Ahiyanere hiye mokaha. a parte do meio eles colocaram no veado ahiyanare.

mokahane waiye 'fo!' zane ekakoa waiyehena kala atyo: –hitsota hitsaohena ekakoa, neza. colocaram 'fo!' e foram com ele: - você mesmo pode ficar com ele, disse.

hatyaotse eze ehiyehenahitene hoka. nessa horas que eles pegaram ele de volta.

kala eze ezehekoane hitseiri ala. acho que ele pegou o resto dele.

ehiyeta wairetse hakahe tyoa ako nonita haihozozoa tseke atsikene 'fo!', neza, zane tema ako. o veadinho pegou do vão do pé dele, fincou na boca dele 'fo!', e saiu correndo.

–hizane iya ite, matsiyakanatsehalo nitsa hitso neazamatyahene. –pode ir, a pessoa que não desperdiça nada vai comer você.

hatyaotseta atyo 'kawetyakotitse' hatyohare wairetse zaokaka.

neza

depois disso chamaram ele de 'dor de barriga'.

kala atyo kadoentsaneze tyaona hoka, hatyo wairetse 'kawetyakotitse' nezaha ezaokaka. acho que ele tem doença por isso que chamaram ele de 'dor de barriga'. 34


Narrativas Paresi-Haliti _ Kokotero Tahi

hatyohare iya zitso imotinae maniyere, 'dor de barriga!' zita', hatyohare moka hihiye, zoherehare... é desses que do lado de vocês, que não são índios, que dizem 'tô com dor barriga', disenteria, é assim...

eyakere hatyaotseta eze kalikini Tanorehana nezahitare nali... é isso, depois disso, onde hoje é chamado de Cabeceira do Osso...

...hatyo hekota aizestitsita hatyo tsifatsi tai zane zoalini... ...ainda existe fileira de jabuticaba aonde...

katatsiraretse koni waiye kilihi tanore ioyhi neza hoka hatyo nali hatyo tanolahena awonae. no meio de katatsirare e lá que ele fez armadilha para as emas.

...hatyaotseta atyo tanorehana ezaha hatyo nali. ... por isso que chamaram de Tanorehana.

wenakalati haliti waiyekahere Tanorehana nezahitaha. as pessoas que são de verdade chamaram de Tanorehana.

tyaonahitaha nali kalikini Boa Esperança neza hitaha eze ezaihako tyaonaha hoka. estão morando onde é chamado hoje de Boa Esperança.

eyakereze. é assim.

tyotya. acabou.

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kokotero Tahi

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Kokotero Tahi Esta história nos conta a origem do milho e de outras variedades de raízes, como a mandioca e a batata-doce. O narrador é Antonio Zonizarece e nos foi contada em 13 de julho de 2007, na aldeia Formoso, em Tangará da Serra. A filha de Kokotero e de Zatyamare, ente mítico responsável por “fornecer” primeiramente esses alimentos aos seres vivos, pede para ser enterrada pela mãe. Por conta da coceira em sua vagina, pede para ser enterrada mais fundo, no lugar da cinza de alakaretse, como seu tio. Kokotero a enterra até os peitos, mas sua filha pede que a enterre por completo, pois a coceira continua, mas em seus seios. Ao ser enterrada, a menina faz uma série de recomendações que conectam as perspectivas dos entes: seu pai, Zatyamare, deve pescar traíra, o equivalente à lenha para a menina enterrada; a oferta de pirapotanga e pacu serviria para deixá-la mais amarelada. Seguem-se outras recomendações como pegar ema e veado. Os outros animais, como a barata, o grilo e a formiga, no intuito de também terem comida, começaram a “pagar” a menina enterrada com paca, pirapotanga, catete e tatu “quinze-quilos”. Assim, todos os animais, enquanto conferiam se a menina estava enterrada, bebiam chicha de zowetseiri e comiam beiju de zotsitsi. A mandioca e a mandioca brava surgiram de Katyolo Tihowero e o milho de Zolahaitolo (mãe d’água), que teria transado com sua própria irmã dentro da casa das flautas. Depois disso fogem. Na sequência, há uma referência a periquitos (kolilitse) que são atingidos por flechas, e isso faz a cobra surucucu mexer-se. Adiante, faz-se referência a uma finada Koliro, que interpretamos ser um dos periquitos, que, por sua vez, são as irmãs em fuga na perspectiva de outro ser. O vocativo de irmã mais nova em Paresi é “koli”. Koli-li-tse e Koli-ro consistem, respectivamente, da raiz koli- e os sufixos de adjetivo arredondado (-li) e de parte ou pedaço (-tse), no primeiro exemplo, e -ro (gênero feminino) no segundo. 38


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

Isso os interconecta. Outra referência que reforça a interpretação irmã-periquito é o fato de um ente afirmar que ela teria pintado o bico (zona-kili-ty-oa/pintar-bico-PERF-AC) e não a boca. A cobra surucucu faz referência à casa das flautas. Koliro, irmã de Kaimare (lua), agoura-se e pinta-se. Após isso, fica sabendo, ou toma consciência, pelo irmão, de que é mortal. O feijão fava é legado a Motahaiyore, irmão de Koliro e Kaimare. Os milhos iyahiro e kolomaiho são a avó deles chamada de Zamorekero. Essa teria criado o milho ao jogar fogo em volta de seus irmãos Watyo e Zalikatse. O milho também teria sido batido por Azamakoa, cuja sogra Zotsinero transformou-se no mesmo alimento.

eze Kokotero esse Kokotero.

Kokotero Zatyama. Kokotero Zatyama.

hetati Zokowiye etyani kanikakahena. no início, o filho de Zokowiye foi devorado.

kohatsenae nihinene. os peixes que comeram ele.

etyani 'za!' enehe Zatyamare tyoaheta. o filho 'za!', o pai de Zatyamare veio.

waho mokotya aitsoakekoatya. bateu no mucum ate enterrá-lo.

aitsa kikoatya hoka, hatyo eze tya Atyolo Tihowere. até enterrar como esse, o Atyolo Tihowere.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

hikoaheta. e saiu.

eze hekota, –aba! após isso, - pai!

–aba! –pai!

aba neazakoroa zane hanityo ana hikoa. ele foi até onde está a mãe dele.

kirarehare ababa. como o meu pai.

–aba nomi zakore hamiyatitata. –eu dizia, o pai sempre me assobiava:

–hafitya natyo, ama Kokote. –me enterra, mãe Kokote!

nozamatse kino mahiyare toli ako. no lugar onde é do meu princípio.

–ahoitya natyo, ama Kokote. –enterre-me, mãe Kokote.

neza. disse.

'fe!' zane fitya haitsani. 'fe!' ela foi e enterrou a sua filha

mawaheneta... no instante...

–mareharenika nozamatsene, 'namakokote'. –mamãe Kokote, o lugar do meu principio é muito 'coceirento'. 40


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

neza eze hekota, –aimamakoatya natyo... ao dizer isso, - me mude de lugar...

...azamatse haitawaretse kino. ...bem no pé do azamatse e do haitawaretse.

fihitiyene.

e a enterrou novamente.

fetene maitsa wahita: –mareharenika nozamatse, amama Kokote. enterrou, mas no instante: –mamãe Kokote, é muito 'coceirento'!

–maliritseta nototoniritsenae. –nos meus peitinhos está muito 'coceirento'.

–nokozonitsenae maliritseta. –na minha minha vagina está muito 'coceirento'.

–hamitikoaheta nokakoi... –desce comigo...

–kokoi Omo nitimaotse halakaretse kerehenaotse afitya natyo, ama. –mãe, me enterra no lugar do meu tio Omo, na cinza do alakaretse.

zane mitikoaheta kakoa. e desceu com ela.

alakareze kereheneaotse fetene. enterrou no lugar onde o alakaretse é queimado.

fetene, mawaheneta... enterrou, mas no instante...

–wainamiharenika nozamatse no, amama Kokote, alakaretse. mãe Kokote, o lugar aqui é muito bom, o alakaretse.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–awira hatere hokoahena... –não pode olhar para trás...

eze aotse hare Holore Kazatyo é desse tamanho o Holore Kazatyo.

–kawiya ala tya ite nakawihiyahena, awairatere hoko maika ite baba. –enquanto eu estiver gritando, não pode olhar para trás, quando o meu pai...

Zatyamare. Zatyamare.

–maika hozore maheta.

aitsahena,

notimi

kitsi

–quando ele matar traíra, é para minha lenha.

–maika ite baba nozolotyakali...

notimali

tyomahena

–se o meu pai fizer o meu ralador...

–maika ite natyoani otaotse... –se a fibra da minha peneira...

–tyomahena baba Zatyamare. –quando o meu pai Zatyamare estiver fazendo.

eze hekota depois disso.

–maika ite baba Zatyamare... –quando o meu pai Zatyamare...

–aitsahena hotsika kaizare... –se ele mata pirapotanga e pacu...

...notsikehehaloni mazeta walako. 42

... para me amarelar com ela.


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–kahiye baba Zatyamare iyahena ena ite. –quando o meu pai Zatyamare pegar.

eze hekota depos disso.

maika ite neratsehare Holore Kazatyo. os que bebem são (como) Holore Kazatyo.

kanola awo zotyare. as caças são ema e veado.

eno totalahare. que é um dos primeiros.

awo zotyare hoikore aitsa. se ele matar ema e veado.

makani iya itsoa hatya ako tera. entrou na casa e bebeu.

zaneheta foi embora.

Kokotero Zotyamare nika fitya haitsani. Kokotero e mais o Zatyamare enterraram a filha deles.

–notsiyanita zotsitsihe hoko. –logo na minha passagem (está) o beiju de zotsitsi.

zowetseriya notera bebi do zowetseriya.

–makainiyane ziyane ziwaiya! –vão lá ver!

zane hitiya foi novamente.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

tahalowa hitsiri harenae. a barata e mais o grilo.

zane hikoa.

na hora em que ele chegou.

eze. esse.

zotsitsihe hoko kanakaira. e comeu o beiju de zotsitsi.

tsiweta zowetseriza tera. passou e bebeu a chicha de zowetseri.

tsiya hitiya zane. passou de novo e foi.

emakainiya tera, fitya terota haitsani. e bebeu, enterrou mesmo a filha.

eze hekota depois disso.

kaokaheta hitiya: –fitya haitsane Zatyama Kokotero. e chegou novamente: –o Zatyama Kokotero enterrou mesmo a filha.

neza zakore hoka maitsa tyakekore maware zane hitiya. disse, mas não acreditou, a formiga foi novamente.

–maware atyo ezotsitsira tainiyo kakoa kaoka fitya tero haitsane kokotero. –a formiga trouxe um pedaço, o Kokotero enterrou mesmo a filha.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

neza disse.

eze heko maware... nesse momento a formiga...

nehena zoana haliyakerezite. a formiga disse como vai ser.

–wiyahene Kokotero Zatyamare enonita no nos vamos pegar do zatyamare e do kokotero.

kala wizane zaha. acho que nós vamos até a paca.

–iwete haware waitsa hoka wizane wiya wafityaha tehitiya. –temos que matar tatu quinze-quilos e catete, daí vamos lá pegar para nós plantarmos também.

zane, hawaretse hotsika e foi, catete e pirapotanga.

aitsaha Kokotero kazaimanehena.

ana,

zane

hikoaha

mataram para Kokotero e foram, chegaram para trocar as caças.

kazaimanetyao para pagar.

irikomenahenene kinohaliti. começaram a cortar.

halakoa kazalo, halakoa kete.

de um lado é mandioca da água e no outro é mandioca brava.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

halakoa mairoca halakoa tekairiro otatahi zoare neare zamani... de um lado é mandioca e do outro tekairiro, não sei como são os outros nomes...

kinohaliti kalore matsene tyoma fehena. os ancestrais fizeram uma roça bem grande e plantaram.

Olore Kazatyo nolone mohena. plantando para fazer chicha para Olore e Kazatyo.

eaotseta kaotyakahena kete. após isso é que surgiu a mandioca.

kaotyakahena Atyolo Tihowero. surgiu Atyolo Tihowero.

Zatyamare kaotyakahenene. o Zatyamare é que fez surgir.

nakairati tyaonahena. surgiu a comida.

eze hekota. depois dessa.

makamananezere mohenene. se transformando em eternidade.

eze heko. depois dessa.

–hafitya natyo ama, ama Kokote. –me plante, mãe, mãe Kokote.

–hawayehe halone –para a sua beleza.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–mazeta... –para...

maika baba Zatyamare aitsahena zotyare awo. quando o meu pai Zatyamare vai matar veado e ema.

–henoyere... –para fazer parte...

kaihare hotsika aitsahena. quando ele mata pacu e pirapotanga.

eze hekota, ahozekoakahenene. após isso, fez se multiplicar.

Katyolo Tihowero kawanehare tyaonahena, mairoka kete, wikitsinolitse.

nakairati kezehare

Katyolo e Tihowero surgiram da comida, da mandioca, como nossos tornozelos.

tyaonatere hare tsimere. que ficam na fumaça.

tyaona make, kozeto. nasceu tudo, o milho.

kozeto iwaka nanonitahata kotyakahena kolaibero

atyo

kozeto

o milho surgiu da mãe da água.

Zolahaitolo. Zolahaitolo.

zane kalaha hazimalone kakoa. foi com a sua irmã.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

hirakita ene kozotya kakoa hitaha hoka. estava relacionando-se com a sua própria irmã.

Zolatahako itsoahena. entrou na casa da Flauta Sagrada.

tekoahenaha tekoahenaha. fugiram e fugiram.

zanehenaha koilitse tyokita. os periquitos estavam sentados.

–awitsa nizakene owa maitsa iya wizane ite hena. –vou flechá-lo, não deixa ele, vamos de novo.

–maiha nizakine ite! –não vou flexá-lo!

zahena zakore... na hora ele flechou, mas...

ekoatene enokola zane atsikoa owi. errou a cobra a flecha dele.

iyazenamarekoa. surucucu.

mareheno waye henoli henoli. e se mexeu, e se mexeu.

ene hena. e foi asim.

eze hekota. e depois.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

Kokotero. Kokotero.

tsiyahena.

passou novamente.

zanehena atyawaikaloha Zolahaitolo: –herawatyaha zanihena!

foram e empurraram, a Zolahaitolo disse: –pode comer!

Kaimare... a Lua...

...hikoahena. ... saiu.

ezeaotse zotenetya zotenero Koliro ene. após isso a finada Koliro se agourou.

zane... foi...

...halatihotya kazaihititse kakoa. ...se pintar com urucum.

zona halotya enazenane Kaimare... ele se pintou, e o irmão dela Kaimare...

...hikoahena, –eakereze natsema no, koli. ... saiu, –fiquei sabendo de uma coisa, mana.

–maitsa no, aze. –nada disso, mano

–nohali zema.

–é atrás da minha criação. 49


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–nozani zolatahemololo ako alitere nitsoa –na realidade fui entrar na casinha.

–maitsa zolatahe waitare ako zini watyokoi Watolina. –não é na casa nova que o nosso avô Watolina está.

–zolatahera ako. –dentro da casa.

eaotseta Kaimare. depois disso a Lua.

–kamane zaokakare witso, koli Zoliro. –somos chamados de mortais, mana Zoliro.

–maika wiwaine, neza –nós vamos morrer, disse.

zonahalotyoare. ela estava pintada.

eze hekota... após isto...

...ahozekoakahena. ... vai se multiplicando.

eze zolini niyare enahahare. esse irmão dela.

zoalini nezare? Motahaiyore. como é que o nome dele? é Motahaiyore...

zane, hetati kanakairita. foi, primeiro estava comendo.

50


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

komata eze. feijão fava.

mokona tyaha feijão akere cozinhatya hoka kanakaira hitahaene. cozinhava igual o feijão e eles comiam.

eze hekota. após isso.

kozeto kaotyakahena. o milho surgiu.

eze aotse.. apos desta.

kozeto kaotyakehena. o milho surgiu.

kozeto kaotyakehena. o milho surgiu.

kozeto Iyahiro Kolomaiho. o milho Iyahiro e Kolomaiho.

kaotyakahena. surgiu.

hatyaotse kanakairihenaha kozeto hanatseroha Zamorekero...

é nesse momento que eles comeram o milho, a avó deles Zamorekero...

Zamorekero... Zamorekero...

51


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

kerahokotya kala hazenane hazironenae. jogou o fogo em volta dos seus irmãos e das suas irmãs.

watyo zalikatse koni. bem no meio de watyo e zalikatse.

mokokonihena. e foi batendo.

eaotsehena keratya. acenderam o fogo.

Zolahaitolo kiyawehena noko 'tap!' o Zolahaitolo está se transformando 'tap!'.

halatya... explodiu...

Matahaiyore Zolahaitolo kiyawehena. Matahaiyore Zolahaitolo está se transformando.

hozalikatse koni nahoka. disse no meio de jatobeira.

kala zane hikoa waiya kala, enaotsehena hoka. acho que ele chegou, estava na hora.

waiyita ityalakotita kozeto. estava vendo o milho desde a parede.

tsimare komata. araruta e feijão fava.

komata hiro. feijão fava.

tsimere. araruta. 52


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

koliki waitse... tyaona makere. amendoim... e tem de tudo.

haliti anere. para quem é gente.

haliti nakaira tyaonahena. surgiu a comida para as pessoas.

hatsero zamorekero ityahalitsa... embrulhou a sua zamorekero...

kala no ira hoko ityahalitsaka hoka, tolo hoka. acho que ele debulhou, embrulhou e enterrou no borraio.

hatsero haota ira nitsa nitsitene. ele estava comendo bem em cima da vó.

kala hatse hatyo hare fanomita. acho que uma semente, por causa disso.

kozeto ezahe waye zakore hamoite hoka hololo ezoaiya waikwa. mesmo que você cuide do milho, a semente cai no chão.

motehekoatene. amassou ela.

–zoare hikanakaidita wainama kehezaka, notsi? –meu neto, o que você está comendo bem gostoso?

–alahotse, alahotse atyo tihetse wanitsita. –nós comemos semente de pacova, mas é muito amargo.

tona hitse nehena hiyatehena hatsiyete ana. começou a falar todas para o neto.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–tonahitse. –tonahitse.

–alahotse wanitsita atya, hakehezaka hatyo. –comemos semente de pacova, é outro gosto.

–nikawanihare no, abe, makani... –essa é minha transformação, vó, amanhã...

–wizane hiya hoka wikanakaira. –nós vamos lá e a senhora colhe para nós comermos...

tsitsiba. pamonha.

katazare. mingau.

–oloniti hitsoma hoka, –makane no, notsi... –a senhora vai fazer chicha, - vai ser amanhã, meu neto...

kamaitali zane hikoa, wayita... noutro dia foram, viram...

kozeto tsimare. uma fartura de milho.

maitsa hatyo kozaka zaore iya hoka, ekilihita ira neatyare hoka, kozaka zaore iya hoka, maiha 'wizanehetahena no, notsi...'. disse para ele que tinha que pegar da beirada, como ela já pegou, em vez de ela dizer 'vamos embora, meu neto...'

–awitsa ali, nozani nowaiya no, notxi, neza weta ira hitsoaheta. –espere um pouco, meu neto, vou dar uma olhada ali, –volte logo, respondeu. 54


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

zanehena wayita tsimere. ela foi e olhava o tanto.

kaye, abowala kala haka. batata-doce, abóbora, parece que até cara.

tyaona makere notsiyete, kaomanerehare. nasceram todos os tipos de plantações, muita fartura.

komata hiro komatatse. tem feijão fava.

tyaona eyakeretatya paresi hena kaotyaka. é assim que surgiu para os paresis.

nakairati feijão. a comida feijao.

eze kota. depois disso.

moka zanehena zaneheta ana hikoa. ele foi e foi, chegou para a cabaça.

...heta ana hikoa hoka. ...e chegou para a cabaça.

atyo hekota ahite ana zane hikoa hitiya aquele urucum. após isso foi até àquele pé de urucum.

hatyaotse. –zonakelitsoa, abe! naquele momento, –ela pintou o bico, vó!

uuuu! –hitsoahena wizane, abe! uuuu... uuuu! - vamos embora, vó! uuuu...

55


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

–ala tyaona taotitsoa? zane atyo hikoahena owene, enatseroha... –será que elas estão aí? quando ele chegou, a avó dele...

...zoana tini hityoa zoana zotse hekoakotya zoanakatse hityoa. ...pintou a orelha, os olhos e as pernas.

–ah... nikare kore hityaonita 'bururu!'. –ah... você desse jeito ficou 'bururu!'

hatyo hekota. depois disso.

–ah... hizane ma ite... - ah... pode ir...

–hitiseiri ana mawininirikoatyakotya.

ita

hikinatya

–a sua cabeça, e você vai perder seu fôlego.

–maikowayeze nakairati hikanakairita... –você não vai conseguir comer direito...

–hatseroze. –(atrás) da sua avó.

awawitahena Matahaiyore... o Matahaiyore ficou sozinho...

tyaonita. morando.

eze hekota. depois disso.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

tsimere kala kaye...

parece que o cará e a batata-doce...

...kaotyaka makere. ...surgiram diversas plantações

...haliti ana nakairati.

batsiri

ana

kaotyakahena

... a comida surgiu para as pessoas e para os povos paresi.

alitere atyo komatsatya hetati... na realidade começou com...

...alahotse nitsahita.

...as sementes de pacova que eles comiam.

...kokonatse nitsahita.

...estavam comendo semente de kokonatse.

kanakairahitaha ene atyo... e eles comiam...

atya hekota depois disso.

ah...hoka. ah... então.

eze komata wayeze tyaonahena. tinha esse feijão fava que é bom.

kanakairirehena. (aí que) que tiveram comida.

eze, wakanatyo. essas, as sereias.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

Azamakoa weteko. o terreiro de Azamakoa.

mokokoahena tehitiya kozeto. também bateu o milho.

tyaonahena. vivendo assim.

haematsero... a sua sogra...

...zotsinero aikawahena kiyawahalohena. ...zotsinero foi transformada.

maitsa atyo kanakairitanae hekoti kozeto. não chegou de comer o milho.

–Azamakoa weteko hamokoatya natyo... - me bate no terreiro de Azamakoa...

–zoaretya hatyo hitso? –quem será você?

–zoareta hatyo hitso? –quem será você?

–ekiyaotyakahehaka... - está aparecendo...

–...kozeto zikahiro. –... milho amarelo.

–...kozeto kolomaiho 'ki! hi! hi!'. – ... milho kolomaiho 'ki! hi! hi!'.

neza aiyokolahena. 58

e assim gritou.


Narrativas Paresi-Haliti _ Zozotanero Tahi

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Kaziniti Waimare Tahi


Kaziniti Waimare Tahi O xamã inicia a sessão apresentando uma série de nomes de cabeceiras originárias. Na ordem de apresentação, temos: Algodão, Zahitiyahete (que depois passou a se chamar Kotazahete), Koliniwiinahete, Oliniwinahete (que seriam de Waimare e Kaziniti), Ahozawina (Córrego de Lobo), Zohowetsere, Kaitaliwina, Algodão e Matipum, Mazairowina (Cabeceira de Cuia), Kanotiwina (Cabeceira de Braço), Tahiyahete (Cabeceira de Barba-Timão), Koliwinahere (Cabeceira de Periquitos), Cabeceira Zaholiri, Zolowinahete, e Alawahete. Adiante explica de quais irmãos originários cada subgrupo étnico paresi originou-se. Waimare são de Kamaihiye; Zaloya e Zakalo são os líderes dos Waimare que andaram ou se distanciaram; os Kozarene são liderados por Kamazo, assim como os Enomaniyere. O xamã nos conta que os subgrupos Waimare, Kozarene e Enomaniyere fizeram festa juntamente com Makoza, Zihotyo e Ihalo. No entanto, Matahalikoa juntou-se aos Kozarene e guerreou contra os Waimare. Após a morte de Matahalikoa, os Kozarene entregam suas mulheres. Em troca, os Waimare entregam Koiwenero (Dona Bagre) aos Kozarene e ficam em paz mais uma vez. Zaloya teria fugido para Tozahete Kololohete. Os Awali (ou Kawali) fugiram para Alawahete. Atyolo e Tihowero trouxeram chicha de polvilho. 62


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Adiante, tece alguns comentários sobre os Kaziniti, que seriam conhecidos por serem feiticeiros perigosos. Ao final, afirma que seu pai Pascoal, Mané dos Santos seria watsekoa (cujo significado não sabemos). Afirma que as divisas foram feitas de algodão e colocadas por Kamazo.

eze heko esse lugar.

Waimare. waimare.

azikahena: Waimare owene manita. o subgrupo kozarene foi para outro lado.

azikahena: Waimare owene manita. foi mandado: o Waimare é desse lado.

tyaonahena. ficou.

waymare paresi hiye waymare Waimare (disse) para o Paresi...

eaotse Waimare. aqui o Waimare.

tyaonahetahena eze zikako maniya Kozarene Enomaniyere. é desse lado que os Kozarene e os Enomaniyere moraram, é área deles.

Eaotseta Waimare... Depois disso os Waimare...

...taikahikohena

...começaram a quebrar o lugar. 63


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Kono winahete, neza disse Córrego do Algodão.

Zahititiyahete, neza disse, Zahititiyahete.

taikahekoita. quebrou.

Alowiri. alowedi.

Alowiri walaharekoiyere heteyere...

hitsitsa

wina

quer dizer, hitsitsa wina heteyere Alowiri é da justaconteira, ele veio de lá...

taikahekohena. quebrou de novo.

Aloiyeri zaokakerehare. É chamado de Aloiyeri.

tyaonahena Waimare kinohare... que ficou o chefe dos Waimare...

Kozarene haware tyaonahena. o Kozarene morou separado.

eaotseta. depois disso.

dividitsaha waikohe.

dividiram a terra, (para cá é só de Waimare e Kaziniti).

eze hekota Waimare... depois disso os Waimare...

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

wetekone one winahete Koliniwinahete taika hikota. fizeram o terreiro de nome Koliniwinahete.

eze hekota oliniwinahete, neza depois disse, oliniwinahete.

ahozawina, neza. disse, Córrego de Lobo.

taikahekotya Waimare Kaziniti. quebrou para Waimare e Kaziniti.

eze hekota, zohowetsere zaokakarehare. depois disso, um que é chamado de zohowetsere.

Waimare kinohare tyaonahena Alowiritse zaokakarehare Waimare kinohare. o líder Waimare é chamado de Alowiritse, que se tornou o chefe.

owene. ali.

Wazare 'dividitya' hoka ezaho... o Wazare dividiu por aqui...

Waimare zanehetahena. os Waimare foram.

haonetsera zahititiyahete... a sua cabeceira Zahititiyahete...

...Kotazahete taikahekohetahena. ... fez (quebrou) o Kotazahete.

Mazairowinahetene Alowinahete neza Waimare waikohera. o território dos Waimare é chamado de Mazairowinahetene e Alowinahete.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

eaotseta, kalini... depois disso, hoje...

ekinohare taikaheko hitiya. o líder deles quebrou novamente.

Zahitsitiyahete Kanaliwinahete. (é chamado de) Zahitsitiyahete e Kanaliwinahete.

zotyatserohete... tyokatsehetene.

eze

hekota

Waimare

o Waimare disse... novamente tyokatsehete.

Kaitaliwina neza Waimare waikohera Kaitaliwina é terra de Waimare.

tyaonahetahena. que ficou.

eze hekota zotyatserohete, neza depois disso disse zotyatserohete (que já é de Waimare).

eze hekota. após isso.

Konowina wetekone, neza alohiwihina terreiro de Algodão e Matipum.

wetekone Waimare... área de Waimare...

aí zanehena Kanotiwina. e ele foi para a Cabeceira de Braço.

neza Mazarowina neza Waimare waikohera. disse a Cabeceira de Cuia é terra dos Waimare.

maitsa atyo Kozarene heta zini Waimare 66


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

hena Kaziniti kakoare.

nao ĂŠ mais subgrupo de Enomaniyere e Waimare com Kaziniti.

eze hekota... apĂłs isso...

...kawetekone hena kaloneze hena Waimare. ...que os Waimare tiveram o terreiro de festa.

eze hekota, zotyatserohetene... depois disso, disse o lugar vermelhinho....

Waimare wetekone. o terreno dos Waimare.

eze hekota, ziwa. depois disso, passou.

alowina weteko, neza Waimare. o terreiro Alowina, disseram os Waimare.

maitsa ezowakiya... nĂŁo naquele tempo...

alitere zakore kaoka kakoaha Wazare 'junto' tyaonaha hoka ... na realidade, se encontraram com o Wazare e viveram juntos, mas...

Wazare 'separahetahena'. ...o Wazare que separou.

haliti Waimare Kozarene nonita Kamazo tyatyo Enomaniyere. separou os Waimare do Kozarene e Enomaniyere.

witso tyatyo Kamaihiye zohityare. somos do Kamaihiye.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Hitsitsawinahete neza. disse Cabeceira de Cuia.

eze hekota. ap贸s isso.

Taihiyahete neza.

disse Cabeceira de Barba-Tim茫o.

Waimare watekone. o terreiro dos Waimare.

Koliwinahete neza Waimare wetekone disse Cabeceira dos Periquitos.

tsiya hitiya. passou novamente.

Zaholiri zaokaksrehare. por nome de Zaholiri.

kolokahena Waimare. colocou os Waimare.

zanehena foi.

Zolowinahete neza.

disse a Cabeceira de Zolowinahete.

Molotsewinahete neza. a Cabeceira de Molotsewinahete.

waymare wetekone waykohera o terreiro e a terra do waymare.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Zoloiwinahete neza.

disse a Cabeceira do Zoloiwinahete.

tsiyahitiya Mazairowinahete neza. passou e disse a Cabeceira de Mazairowina.

tsiya hitiya. passou de novo.

Zolowinahete neza. a Cabeceira de Zolowinahete.

Waimare anere alowiri zaokakarehare. (disse) o que é chmado de Alowiri que é de Waimare.

eze hekota. após isso.

Waimare ako kalini iya hoje os Waimare estão por aqui.

zoalini nezare, zoaretsohalaniki... aquele, como era...

Alawahete neza. o lugar é Alawahete.

tsiya Waimare wetekone. passou o terreiro de Waimare.

Emaniya Kozarene. daquele lado é Kozarene.

etalokoatya. encheu.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Kozarene Kamazo são Kozarene e Kamazo.

Zaloya Zakalo tonahahena.

Waymare

kinohare

Zaloiya e Zakalo são os líderes dos Waimare que andaram.

zanehena dividihena waikohe. fizeram a divisão da terra.

Waimare kinohare o líder dos Waimare.

tonahahena Zakalo. o Zakalo andou.

zane hikoahena emiyane "depois" atyo. e foi, chegou até o final, depois disso.

Kozarene Eno maniyere kakoa combinatya kakoa heta hena Waimare. e, assim que Kozarene e Enomaniyere combinaram com o Waimare.

'fazehetahena' amizade. fizeram a amizade.

wayehetahena kaoka kakoa heta hena. que ficaram bem e se encontraram.

kaolone kakoa heta teraheta Waimare. fizeram festa uns para aos outros e os Waimare beberam chicha.

Kozarene nolone teraheta. beberam a chicha dos Kozarene.

kazakoloheta. que tiveram mulher. 70


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

eaotse Makoza. depois disso o Makoza.

Zikotyo e Ihalo. o Zikotyo mais o Ihalo.

kakoa kazaimanehetahena. começaram a pagar (pela festa).

eaotseta. depois disso.

Zohowiritse malo Ailitse. Zohowiritse e a filha Ailitse.

tonahahena taikahekohena. que andaram e quebraram o lugar.

Zaloiya. Zaloiya.

taikahekohena enomana Zaloiya ana Zaloiya taikahekohena Waimare waikohera awaiyekehalakahena. o Zaloiya quebrou para ele e descreveu a terra para os Waimare.

ezako 'até'. por aí até.

kaokakakoahena Waimare. o Waimare se encontrou.

Waimare kaokakakoahena Kozarene. os Waimare e os Kozarene se encontraram.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

Enomaniyere kakoa Kamazo kakoa. com Enomaniyere e Kamazo.

Zakalo iraihena. o Zakalo falou.

iraihena combinatyakakoahenaha ite wityaona.

nikareze

disse e contaram: –temos que viver assim.

–nikareze ite wamoka, wawenane maitsa iya atyo. –temos que conviver, assim não pode ser.

eniyalahare wityaonita. não podemos entrar em conflitos.

nitere konita. no meio da conversa.

Matahalikoa. Matahalikoa.

'combinahetahena' Kozarene kakoa. combinou com os Kozarene.

'brigahetahena' mokoakahena. que brigaram e bateram uns nos outros.

Waimare... Waimare...

Mairokoahete, Kotsikoahete. Mairokoahete, Kotsikoahete.

Tamakolihete Fakahete. Tamakolihete e Fakahete. 72


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

mokoakahetahena. começaram a bater.

tyaonahena enatsikene maniya. viveram depois disso.

amokoaka ala Matahalikoa waini. depois de ele brigar, Matahalikoa morreu.

eaotse. foi aqui.

Zalatore ityaha 'governador da guerra'. mataram o Zalatore que é 'governador da guerra'.

–eze heko tyotererakani Waimare kinohare haoka? –quer dizer que você acha que os Waimare sao poucos?

mahoka. disse assim.

hatyahola hiye tyaonahena. começaram a fazer borduna

hatyahola hiye tyaonehenaha. ficaram fazendo so burduno.

makani zainakoati hena ene zaityakakoati. noutro dia iam guerrear.

eaotse Kozarene... nesse momento os Kozarene...

aohiroza azikakore kakoa kaokahetahena

73


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

itsoahetahena (resolveram).

'fazehetahena

resolvição'

eles entraram juntamente com as mulheradas fazendo paz entre eles, de pagamento pelas mortes.

eaotse.

depois disso.

–Kozarene, witso Waimare! –Kozarene, nós somos Waimare!

'wadahetehena' ohiro tehitiya. também entregamos (demos ) uma mulher.

Koiwenero. Dona Bagre.

hoka atyotya, kamiyane. e acabou, chegou ao fim.

wizaitsakakoane wemokohitiyakakoane. as nossas matanças e as nossas brigas.

eaotse kakatyahehetahena.

depois começaram a fazer em troca como se fosse o pagamento.

Zaloiya Kamazo kamokotseharehena. Zaloiya e Kamazo que tiveram o seu próprio povo.

eaotseta ohiro tawahenaha. depois disso começaram a procurar mulheres.

eze hekota. depois.

atyahitsoane zakore iyaha mai... pegaram uma árvore, e nada... 74


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

'aí' zane... aí ele foi...

'casohenere' iyahenaha. pegaram as que estavam casadas.

ezohakerota Zaloiyaha Kamazo... nessa hora que Zaloiyaha mais Kamazo, todos...

...tyotya kaizanetyoahena 'casohenere'. ...todo mundo se casou.

haliti tyaonahena hozekahena haliti.

haliti

kaitsani

hena

e as pessoas foram se multiplicando.

Waimare Kozarene nohiroza kakoa. com as mulheres de Waimare e Kozarene.

tyaonahena. casaram-se.

eaotseta kaoka kakoahenaha. após isso se juntaram.

kaoka kakoaha mazalohareha. se reuniram e dançaram.

kaoka kakoaha iraikakoa manatya kakoahenaha. se encontraram e se aconselharam.

eaotseta, Kozarene... depois disso, os Kozarene...

Kozarene amizade kala tyaonahena Waimare kakoa. os Kozarene fizeram amizade com os Waimare.

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

tyoka Waimare aikinakaha onezare. os Waimare sentaram ali na Cabeceira.

Waimare dividihetahitiya, Wazare azikaharetya... os Waimare dividiram-se novamente, Wazare mandou...

...hazenane Atsityatyalihete taikahekohena. ...o seu irmão para Atsityatyalihete.

Taremarerihete Kanetsatsalihete.

para os lugares (chamados) Taremarerihete e Kanetsatsalihete.

Wazare kazahitsehare taikahekohena... o Wazare mais velho foi quebar...

kaolamokotsehareze zakore... teve as caças, mas...

–zoana hahekotya, aze Wazare? –maitsa no, kato...

–o que você está pensando, meu irmão (mais velho) Wazare? –não sei, meu irmão (caçula)...

–maitsa iya haliti naokowita, alitere zakore nokaoli mokotsehareze... –eu acho que não vou ser gente, na realidade tenho as caças, mas...

maitsa iya haliti azikaharetene...

naokowita

eze

hiyeta

por causa disso, mandou ele para outro lugar...

eximarene Wazare tehitiya kala atyo eze eximarene 'mais sorte do que ele'. acho que o irmão caçula de Wazare tem mais sorte do que ele.

76


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

atyo hekota depois.

azikaharetya hazenane... mandou o seu irmão...

...owene maniya... ...é daquele lado...

...Wamoti tyaonahena kaitsanihena. ...o Wamoti e tiveram os filhos

eze ahoza hikoa: –hizane witso eaotse ako, wizane. esse lobo (que tem por aí) saiu (e disse): –pode ir ali dentro, nós fomos ali.

'até' Rio de Janeiro wizane waokowi, wizane Rio de Janeiro haliya witsiya. se nós quisermos, nós vamos até o Rio de Janeiro, passamos perto do Rio de Janeiro.

witsiya wiwaikohare Ololiwinakoa neza.

tsiya

eyakereze

passaram por nossa terra e chamaram Ololiwinakoa.

Zolanaikekoa neza. e chamarem de Zolanaikekoa.

haikoaheta eaotse kaitsanihena.

kamokotseharehena

voltou de uma vez, depois disso é que teve filhos formando a sua comunidade.

Waimare 'unido' tyaonahena. os Waimare ficaram unidos.

ihozare taita wimairita... nós temos medo de feitiço...

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

eze hekota. após isso.

Waimare 'fazetya amizade' hoka Kozarene kakoa. os Waimare fizeram amizade com os Kozarene.

abraçatyakakoahena kaokakakoahena Eno maniyere. todos se encontraram e se abraçaram, Enomaniyere e todos.

kaokakakoahena Kamazo Enomaniyere. se encontraram, Kamazo e Enomaniyere.

hakaha holitsaha matsene owene maniya natyo nowaikohiri. trabalharam e fizeram a roça, e daquele lado é minha terra.

kotsekoni zalaitsekoni maniya hitsityawinahete nonezali tyaonahena. no meio de tanta 'seriva', o rio cuia que ficou sendo meu córrego.

noharerazi kayare hotsika walako Holomawina neza, Zolohiwina neza. os peixes são pacu, dourado e pirapotanga que tem no córrego do Holomawina e do Zolohiwina.

eze aho maniya nokinowaikatehare tsiyahetahena Zalowetsiri zaokakarehare konowinaheteiyare owene, zane. desse lado é que o meu líder passou, que se chama Zalowetsiri, é do lado do rio Algodão.

78


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

eze ako Kozarene nehenera nakaokakoaha. disseram que ali estavam os Kozarene e se encontraram com eles.

iraikakoaha kahita aokowiyehenere... conversaram entre si...

zekohatsiti irai kakoa 'todo respeito'... os chefes conversavam e todos respeitavam...

tyaona ene, kalini atya 'à toa'. era assim, hoje eles é 'à toa'.

eye hare hiyetata wikinohare kaxiwehare nomita nali. por causa disso que eu digo que o nosso líder é complicado.

kaziwehare. e complicado.

wikinowaikatenehare Waimare. o nosso líder Waimare.

maitsa ene Waimare katsiwakerene. nao pderia ultrapassear waymare.

Waimare waikohera. terra de Waimare.

ezikako. por aqui.

Waimare eaotseta Zaloiya... os Waimare, depois disso o Zaloiya...

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Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

...tekoahena zanehena ihozare mairatyaka. ...fugiu por medo de feitiço.

zanehena Tozahete Koloalohete. foi para Tozahete Koloalohete.

zane kamenanehare Zaloiya. foi e Zaloiya ficou eternamente.

ihozare mairatyaka Awali zaokakarehare... feitiço, o que é chamado de Awali...

owene hatyo maniyeta. é daquele lado mesmo.

zanehena tekoahenaheta Alawahete. foi e fugiu também para Alawahete.

Awali zane kamenaneharehena. Awali foi e ficou eternamente.

eze ako. por aqui.

eaotseta. depois.

manatyare manatita. a pessoa que fala.

haoloni hiye. em sua chicha.

waye zaka taikahekohena waye akawa. bom, ele começou a fazer o lugar.

80


Narrativas Paresi-Haliti _ Kaziniti Waimare Tahi

mohena waye wahetako maniyerehare. os nossos ancestrais que fizeram coisas boas.

Atyolo Tihowero. o Atyolo e o Tihowero.

makainiya. a chicha.

kamaikainiyahene. chicha de polvilho.

ezakere nehetahena. e foi dizendo assim.

natyo owene, baba Watsekoa. estou aqui, o meu pai ĂŠ Watsekoa.

Pascoal ManĂŠ dos Santos, baba. Pascoal ManĂŠ dos Santos, meu pai.

morava akotyanitaini ele morava ali.

81


Entrada da Aldeia Formoso

82


Aldeia Queimada

83


Documentação de narrativas tradicionais com o senhor Camilo

84


Oficina de documentação linguística com o pesquisador indígena Jurandir Zezokiware

85


Estrutura de casa tradicional (hati), Aldeia Formoso

86


Processo de construção de casa, cacique Justino Zomoizokae

87


Esta publicação foi produzida como resultado de oficina nas comunidades indígenas Paresi-haliti realizadas entre 2009 e 2013 pelo Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Museu do Índio/ Funai e foi publicada em 2014. EDITORIAL TIPOLOGIA Helvetica, Minion Pro e Segoe Print FORMATO Carta [21 x 28 cm] PAPEL 120 g/m2 em impressão 4/4 cores CAPA Dupla combinada papel 350 g/m2 e pvc 030 mm cristal rígido com encadernação lombada quadrada




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