INTRODUÇÃO
2013
Foi em 2003 que lançámos a I Bienal de Coruche, afirmando-se então como uma “pedrada no charco” procurando agitar um pouco a nossa vida cultural, na convicção de que a melhor pedagogia se faz pelo exemplo e o percurso da arte se faz passo a passo. A expeta�va cumpriu-se! O número de obras a concurso, a diversidade temá�ca, a qualidade média dos trabalhos e até a cons�tuição do júri ficaram como marcas indeléveis deste projeto cultural.
2011
As bienais foram-se repe�ndo, dentro do mesmo formato, os espaços exposi�vos foram mudando um pouco em função dos constrangimentos e da procura de alguma inovação e chegámos a 2011, fechando o ciclo com uma mostra resumo/retrospe�va. Agora 10 anos volvidos e quatro edições cumpridas, resolvemos mudar.
2009
Os Percursos com Arte e as Envolvências Locais assumiram a rua como local de eleição, invadiram edi�cios devolutos e integraram-se no comércio local. Por outro lado os criadores locais têm neste evento uma relevância que sempre desejámos mas só agora conseguimos. À equipa do Museu Municipal, aos elementos do júri, ao Paulo Fatela e às centenas de pessoas que criaram e produziram as Envolvências Locais, aos ar�stas vencedores e a todos os concorrentes, ficam o reconhecimento e a gra�dão do Presidente da Câmara Municipal de Coruche.
2007
2005 Um abraço amigo Dionísio Simão Mendes
2003
Arte pública - um lugar utópico
Percursos com arte animam Coruche
Esta apresentação centra-se na par�lha de exemplos de intervenções ar�s�cas contemporâneas em espaços �sicos naturais, em paisagens urbanas e, no caso específico da Expo 98, no redesenho e na revitalização urbana de uma parte da cidade, até então desprezada.
Nesta edição da Bienal de Coruche-Percursos com arte a opção foi inovar o conceito e o corpo da bienal. Assim, um dos vetores da mudança foi estabelecer uma relação entre o fazer ar�s�co e o fazer arquitetónico e patrimonial corporalizado no centro histórico da vila. O obje�vo foi acolher trabalhos que �vessem na instalação ar�s�ca uma forte referência, em diálogo com um percurso pelo centro histórico previamente escolhido. O desafio aos ar�stas e ao seu apelo criador, mo�vado pelas incidências desse deambular pelas ruas, pelo jardim, pela beira-rio, estava lançado. O olhar prendeu-se nas matérias e nas formas. Nasce a ideia, dá-se-lhe corpo. Dos 49 projetos de 35 ar�stas a concurso foram selecionados 10, tendo como preocupação a qualidade cria�va, a diversidade de meios e técnicas expressivas e a integração no já referido percurso.
Tem como obje�vo promover o diálogo, a reflexão, bem como a afirmação do objeto ar�s�co junto do público e na alteração do lugar. Esta forma de intervenção visual contemporânea permite estabelecer outras perspe�vas de vinculação de mensagens e de comunicação no espaço, uma co-habitação, vivência e contaminação da envolvente. Redesenha e revitaliza o lugar, criando, potencialmente, um outro - poé�co e utópico. Os movimentos atuais passaram a incluir todo o �po de expressões cria�vas, em constante evolução, no espaço público de livre acesso. A arte pública, uma denominação não consensual, apresenta caracterís�cas formais e conceptuais que alargam os horizontes plás�cos. A rutura com as conceções comemora�vas e evoca�vas tradicionais, �picas do Estado Novo e das estratégias imagé�cas polí�cas dos grandes regimes, faz com que se abandone agora o pedestal, a estatuária evoca�va dos feitos históricos e das ideologias polí�cas, acrescentando uma nova relação com o espaço envolvente, com o público e com as questões sociais fundamentais. Esta “ferramenta” ar�s�ca atual volta a desempenhar um papel de intervenção social de resistência de vínculo de mensagens, e de ilustração da inquietude e dos anseios do cidadão anónimo. A arte pública vem assim privilegiar e elogiar o lugar e o papel do espectador, tornando a sua perceção sensorial e par�cipação numa parte fundamental da obra. Estabelece-se assim uma comunhão entre o público, a obra e o espaço envolvente. A paisagem em redor deixa de funcionar simplesmente como um espaço decora�vo, no fundo, um mero recetor, transformando-se, antes, na própria génese da obra.
É hora de erigir no lugar, quebrar o espaço vazio e oferecer ao espectador a possibilidade de ser surpreendido perante o confronto e a par�lha que as obras provocam. O visitante é ainda par�cipante, pois terá oportunidade de poder votar online via facebook nas obras a concurso nos dias em que dura o evento. Paralelamente, e porque não foi esquecida a matriz histórica desta bienal, irá ainda decorrer uma exposição com ar�stas locais – Envolvências Locais –, na qual será explorada a possibilidade de, ao longo do mesmo percurso, intervir ar�s�camente em lojas e espaços comerciais mais ou menos desa�vados. Esta intervenção é a face visível da preocupação cívica pelo viver desta vila, do seu coração ferido pelos tempos de crise que ora se vivem. Manuel Casa Branca
O lugar altera-se, ganhando uma outra riqueza numa tenta�va de dirigir a criação Ar�s�ca às coisas do Mundo. Paulo Robalo
Ficha técnica EXPOSIÇÃO | Coordenação geral Luís Marques | Co-coordenação: Bienal de Coruche – Percursos com Arte Dulce Patarra | Co-coordenação: Envolvências Locais Paulo Fatela Secretariado: Ana Paiva e Tânia Prates | Design gráfico Carlos Janeiro | Comunicação Ana Marques | Execução e montagem Município de Coruche. Museu Municipal de Coruche Apoio técnico Departamento de Administração, Finanças e Desenvolvimento Estratégico e Social; Divisão de Administração Urbanís�ca; Divisão de Projetos, Obras e Equipamentos Municipais; Divisão de Serviços Urbanos, Ambiente e Zonas Verdes; Direção de Ordenamento do Território e Reabilitação Urbana; GIRPI – Gabinete de Imprensa, Relações Públicas e Imagem; Serviço de Museu. | Produção Município de Coruche, Museu Municipal de Coruche. CATÁLOGO | Coordenação: Ana Marques | Design gráfico: Olhar-te, Lda. | Revisão: Ana Paiva | Produção gráfica, impressão e acabamento: VS Brindes – Susana Medeiros N.º de exemplares: 2000 | Depósito Legal: 364855/13 | ISBN: 978-989-98647-0-2 | Edição: Município de Coruche, Museu Municipal de Coruche. Setembro 2013
INSTALAÇÕES ENVOLVÊNCIAS LOCAIS
A
A Bem da Nação
E
RITA FAUSTINO
B
Taleigos
JESUS CORDEIRO
F
PAULO FATELA
C
Colcha Espanta-espíritos PAULO FATELA
Senhora Cortiça MARIA DO CASTELO MORAIS
G
PAULO FATELA
D
De Mãos Dadas
In Pressões ROMÃO SANTOS
H
S/ título GREGÓRIO MÚCIO
INSTALAÇÕES A CONCURSO
1
Do admirável mundo dos distraídos para querida rua dos outros
D
MIGUEL F / ANDREIA RUIVO
2
Cabeça perdida / Cabeça de vento
3
PAULO ALMEIDA
3
Contaminação onírica CATARINA NUNES
4
C
Segurei-te o pôr do Sol
2
ANDRÉ BANHA
5
Sente
6
autofA(l)gias
7
Toco-te
8
Playground: requisitos para uma superfície de queda I
SUSANA ALEIXO LOPES ANTÓNIO BARROS
O casulo. A metamorfose JORGE FRANCISCO
10
A
LEONOR ANTUNES ANDREIA SANTANA
9
B
Pasto e repasto MARTA DE AGUIAR
1
H
G 1 1
F E 4
5
6
8 7 9 10 2
MIGUEL F / ANDREIA RUIVO Do admirável mundo dos distraídos para querida rua dos outros
INSTALAÇÕES A CONCURSO
1
Este projeto surge da necessidade de materializar milhares de experiências visuais fascinantes que se ficam apenas pela instantaneidade e encantamento efémero da minha perceção. Parto para a materialização através da fotografia: sem pré juízos conceptuais e da forma mais intui�va e aleatória possível. Porque é no espaço público que essas imagens surgem, proponho materializá-las exatamente no local do parto através da exploração da sua iden�dade individual (são diferentes de observador para observador, tanto na escolha ou interesse espontâneo como nas qualidades esté�cas atribuídas) e a sua incorporação num todo (espaço) par�lhado, como se de fragmentos de uma memória cole�va se tratasse. Ao tornar evidente a existência destes fragmentos transformo também o espaço par�lhado num espaço assumido de diálogo, onde a individualidade é agora parte explícita deste gigante e complexo Teatro. Por outro lado,
a natureza das imagens em si é também alvo da minha curiosidade deambulatória: imagens que surgem de forma orgânica, produzidas primeiramente sem “intenção” humana e que podem agora ser fruídas com outro olhar, �rando par�do de uma maior disponibilidade e atenção por parte dos observadores, como se uma segunda oportunidade fosse dada a estes retalhos-imagem. Não é com certeza alheia a este trabalho a minha opinião sobre o próprio conceito de arte pública: o (re)encontro e par�lha entre a criação ar�s�ca e as pessoas que na sua grande maioria não ultrapassam a barreira suficientemente real da educação, da condição social, da galeria de arte, caminho que leva inevitavelmente a um desenraizamento da espécie humana em relação à Arte, motor primordial da sua evolução.
2
BIENAL DE CORUCHE 2013
PAULO ALMEIDA Cabeça perdida / Cabeça de vento
Depois de ter explorado o percurso proposto para receber as instalações de arte urbana e de ter realizado o levantamento fotográfico necessário, regressei ao ateliê com duas sensações antagónicas. Receio e convicção. Receio... porque passo a passo, fotografia a fotografia a vila de Coruche foi-se revelando, mas residia em mim um desconhecimento mais profundo das suas gentes e costumes, das suas ruas, dos seus largos e jardins, dos seus edi�cios e do seu rio. O que podia ser um obstáculo para conseguir chamar à atenção para os valores urbanís�cos e arquitetónicos da vila. Convicção... porque a arte, neste caso urbana, e as soluções que surgissem do processo de criação teriam que ter capacidade para valorizar o espaço que viesse a escolher para implantar as minhas propostas e destas se tornarem veículos de es�mulo cultural.
A proposta que apresento refere-se a duas personagens de estatura ligeiramente superior à humana, uma que repousa serenamente sentada num banco de jardim que circunda uma árvore e, devido à altura desmesurada das suas costas, tem a cabeça “perdida” dentro da copa dessa árvore (o que explica o facto do seu corpo não ter cabeça); outra com cabeça de “catavento", que reage à brisa ou vento e que observa o seu reflexo na grande janela espelhada do Museu Municipal de Coruche. Esta instalação pretende interagir com o observador que passe ou que se sente ao seu lado, levando-o a tentar decifrar o seu significado que, para além de enaltecer o conjunto árvore e banco, a praça e a Câmara Municipal de Coruche, Museu e a sua relação com as pessoas, a avenida e o rio Sorraia, abarca temas tão diversos quanto: a elevação, as raízes, o refúgio, a introspeção, a memória, o isolamento, o tempo, o mundo das ideias, o espírito ar�s�co, etc.
CATARINA NUNES Contaminação onírica
INSTALAÇÕES A CONCURSO
3
A instalação propõe destacar os pontos verdes, fundamentais, que se encontram espalhados pelas nossas cidades, e que nos transportam para um lugar mais poé�co, anterior, para a raiz da essência que vamos perdendo quanto mais nos urbanizamos. Transitamos por estes pontos orgânicos da urbe diariamente, muitas vezes sem perceber que estes se vão mutando, forçando transformações no espaço que os rodeia ou sendo engolidos por este. A instalação, que pretende criar uma ponte entre o ambiente rural e urbano da vila de Coruche, será composta pela contaminação de algumas árvores com peças cerâmicas, que sugerem uma fusão de organismos mutantes imaginários (inspirados em elementos de esporos e vírus microscópicos, texturas de fungos, e muito mais...).
As peças estarão cobertas com vidrados brilhantes e coloridos que refletem a luz numa tenta�va de, sub�lmente, seduzir os transeuntes a olhar para o lugar vulgar e ro�neiro com um cuidado curioso e bucólico. Convidados a ser surpreendidos com o surreal e especula�vo.
4
BIENAL DE CORUCHE 2013
ANDRÉ BANHA Segurei-te o pôr do Sol
André Banha estabelece uma relação com a exterioridade pelas instalações com recurso à madeira. São construções de Mundos num microcosmos onde cada um dos que experienciam tais instalações lida com relações tácteis, vividas no jogo com o corpo das obras, texturas e volumes. A experiência direta com a madeira, com a visualidade tác�l e as formas em volumes, que se impõem ao corpo de quem as experiencia, estabelece um jogo de afetos. No decorrer dos úl�mos anos, André Banha tem vindo a desenvolver uma linha de trabalho no âmbito da escultura e instalação, apropriando espaços, ou adaptando peças a lugares escolhidos. Volumes escultóricos de madeira constroem-se num sí�o por forma a habitá-lo. A madeira como material primordial, como vínculo às raízes, como veículo para aflorar os sen�dos. As peças instaladas habitam os lugares e, apropriando-se deles, devolvem-lhes a condição de lugares. Nesse
sen�do, pretendem renovar o olhar sobre o que existe, estabelecendo uma relação com o novo. A escultura Segurei-te o pôr do sol não é exceção. Pensada especificamente para o contexto da V Bienal de Coruche – Percursos com Arte, pretende trabalhar a expecta�va dos transeuntes e visitantes do evento, que deparar-se-ão com uma esfera de madeira, iluminada a par�r do interior por uma forte luz alaranjada. O lugar escolhido para intervir foi a pequena Travessa de Valadares – a zona pedonal – pela vontade de realçar a dinâmica deste lugar, fortalecendo a sua singularidade. Pretende-se criar o efeito surpresa no espectador que cruza a Travessa com uma peça suspensa, entalada/presa entre duas paredes, procurando guardar-nos/segurar-nos, durante mais algum tempo, o pôr do sol, recordando-nos o quanto somos efémeros.
SUSANA ALEIXO LOPES Sente
INSTALAÇÕES A CONCURSO
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Sinta Coruche. Conheça a história e as suas gentes, o rio sereno e os seus monumentos. Preze a arte da tecedeira e o trabalho árduo do cor�ceiro. Aprecie o azul que a preenche. E, por fim, pare. Sente-se. Sente?
No percurso com arte, a instalação Sente pretende valorizar o espaço urbanís�co com um banco de jardim a diferenciar-se pela cor azul, patenteando uma das cores mais caraterís�cas na arquitetura da vila. O banco encontra-se parcialmente coberto com pequenos pedaços de cor�ça ligados entre si com tecido da mesma cor, representando a produção de cor�ça e a tecelagem em que se envolve a vila, a sua população e visitantes. Destacando duas das principais e atra�vas tradições em Coruche. Sente funde-se com a vila e com os seus principais costumes, onde os observadores poderão sentar-se e fazer parte da instalação. Fazer parte de Coruche.
6
BIENAL DE CORUCHE 2013
ANTÓNIO BARROS autofA(l)gias
O território desta escrita é ascensional. Eleva-se e encontra-se num esgrimir confluente onde os braços da natureza notoriamente se fundem e apelam. O manto envolutório desenha a ilha que acolhe em seu contorno, em modo de lago, uma coroa de água na ilusão do querer alimentar as raízes e o sen�do das ideias vagas. Razões da utopia. O manto sa(n)grado gerando o vinho e a água até o vazio. O belo ausente. Fealdade. Em volta há caminhos contrários seguidos por vontades plurais. Agora di(ver)gentes. E há um não ver latente. O galvânico ilusório. Rumos solitários anulam-se na ausência dos passos negados à par�lha de um ir conjugado. Há um não seguir, e um “diálogo” dos opostos para a
incerteza. Tudo ocorre em volta da adormecida montanha vulcânica. Essa que denuncia valores numa dialé�ca dos contrários nula e esvaziante. Sem quereres gregários. Mas há uma cegueira autofágica, impiedosa, soltando um apelo ao olhar - legenda de inquietações. Outras. Há um lugar em risco. Risco de Ser. Para além do próprio ser em busca de um transcender-se de si. «A máscara, quando quis �rar a máscara, estava pegada à cara» (Fernando Pessoa).
LEONOR ANTUNES Toco-te
INSTALAÇÕES A CONCURSO
7
O projeto Toco-te nasce a par�r do estudo da escrita Braille, da sua linguagem gráfica e simbólica, fazendo em paralelo uma reflexão sobre a forma como os invisuais veem o Mundo e a Arte e de que maneira essa linguagem chega ao resto do público, tornando-se numa outra linguagem. Toco-te pretende relacionar-se com o público �sica e visualmente, desafiando-o a tocar as peças, a interpretá-las, numa evidente integração no espaço envolvente. Com a sua estrutura de barras em ferro, pintadas de vermelho, cravadas no chão, marca presença no espaço, destacando-se pela sua forma e cor, estabelecendo um diálogo visual e morfológico com a estrutura metálica da ponte. Por sua vez, as meias esferas em inox escovado representam os pontos da escrita
Braille ampliados, encontrando-se soldadas e dispostas sobre as barras metálicas formando a palavra toco-te em Braille, estabelecendo um diálogo visual com os parafusos de aperto da estrutura da ponte. Por sua vez a onda desenhada no chão pela colocação das barras metálicas representa o serpentear do rio por entre as margens, estabelecendo igualmente um diálogo com o espaço envolvente.
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BIENAL DE CORUCHE 2013
ANDREIA SANTANA Playground: requisitos para uma superfície de queda I
Com este projeto pretende-se pensar a ideia de solo e queda como uma só. Elaborada a par�r de uma visão site-specific, esta intervenção surgiu através da visita ao parque infan�l do Jardim 25 de Abril e do seu relacionamento com toda a “arquitetura” que o constrói, os baloiços e o solo de areia que os suporta. Foi esboçada, para cada baloiço existente, uma estrutura que impede as crianças de os u�lizarem e usufruírem na sua função primordial. Esta impossibilidade de u�lização que aqui é imposta nasceu da relação entre queda e proteção patente na construção e consequente usufruto destes equipamentos de lazer infan�l. Ou seja, o chão-proteção é o mesmo que o chão-queda, o que nos faz cair é simultaneamente o que nos ampara e, como tal, estas estruturas surgem como “cintas” que, para proteger e reduzir o risco de quedas – impossibilitando a própria ação –, são, ao mesmo tempo,
construídas como pódios que se elevam, cons�tuindo uma plataforma que edifica essa mesma queda. Para enfa�zar esta ideia a estrutura construída é coberta com o granulado de borracha EPDM u�lizado atualmente no reves�mento do solo dos parques infan�s mais recentes. U�lizando todo o complexo do parque infan�l, mais precisamente e literalmente denominado (na tradução) de Playground, um chão para jogar, é incen�vado ao espectador que se torne novamente em criança num jogo que u�liza o reves�mento próprio usado nestas super�cies para a redução de ferimentos e quedas como uma plataforma/disposi�vo que simultaneamente também nos faz cair, não podendo solo e queda exis�r um sem o outro, propondo um relação de causa-efeito e efeito-causa.
JORGE FRANCISCO O casulo. A metamorfose
INSTALAÇÕES A CONCURSO
9
O trabalho caracteriza-se por duas grandes peças: o elemento escultural Casulo e a estrutura onde está suspensa. É formado por um núcleo central ovoide, no sen�do longitudinal, reves�do quase na sua totalidade por pinhas. Na ligação das duas peças, a suspensão é feita por quatro elementos metálicos que, saindo do esqueleto do Casulo, o ligam à estrutura exterior. Esta armação é executada por um re�culado ortogonal representando um paralelepípedo e tem como função elevar e fixar a escultura, mantendo-a não está�ca mas dinâmica. Todos os materiais são de caráter local e, na sua maioria, já usados anteriormente, havendo também um interesse pela temá�ca da natureza. Usando estes materiais procura-se ultrapassar a barreira entre a cultura e a vida quo�diana, a natureza e a arte. O recuperar e construir de novo são atos indissociáveis e complementares, o que os torna, igualmente, atos de procura de uma iden�dade, de afirmação de uma existência, de redescoberta de um ser.
O património deverá ser um só – do passado ao futuro. A escultura é uma construção espacial tridimensional mas, além de largura, espessura e profundidade, ela só existe vinculada ao tempo, formando o “espaço-tempo”, ou quarta dimensão. Aqui, conceitos antes admi�dos como absolutos tornam-se variáveis e os fenómenos que nela têm lugar são considerados o resultado de uma teia de relações que inclui, além do tempo e do espaço, também o observador. Neste contexto é interessante notar que as pinhas têm a capacidade de abrir e fechar as suas folhas, conforme as condições climatéricas que as rodeiam. O casulo é na natureza um espaço que oculta e protege uma transformação, o processo de metamorfose, mas neste caso é ele mesmo também sujeito a ela. O processo de transformação que ocorre no interior deste casulo, esse fica reservado à imaginação do observador.
10
BIENAL DE CORUCHE 2013
MARTA DE AGUIAR Pasto e repasto
Para esta Bienal de Coruche - Percursos com arte idealizámos um projeto tendo em conta os aspetos arquitetónicos, a par de toda uma tradição ligada ao touro, ao gado, às ganadarias e às touradas. Assim, temos a pretensão de realizar uma instalação composta por um conjunto de vários elementos, que aludem a gado em movimento, em deslocação. Estes, pintados de azul galo e ocre, tal como encontramos nas habitações desta vila, contrapondo o está�co e o dinâmico, transformam-se num jogo de movimento e cor onde o espetador, o fruidor, intervém ou toma parte da própria instalação.
O local por nós selecionado para esta intervenção foi o Jardim 25 de Abril, uma vez que no percurso indicado era o único que reunia o “pasto” (relva), aparecendo paralelamente o rio, ou seja, a água essencial à vida, com dinâmica própria (corrente). Salienta-se ainda o facto de no alinhamento deste espaço se encontrar a praça de touros. Os materiais a u�lizar enfa�zam a leveza formal em contraponto com a grandeza animal. Um bom pasto dá um grande repasto... As “pontas” como indicadores de uma direção. Em direção a montante como contra corrente.