Exposição Em foco: Iria Corrêa | Folder

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EM FOCO: IRIA CORRÊA

27 MARÇO — 15 JULHO 2019 curadoria AMÉLIA SIEGEL CORRÊA e GISELLE DE MORAES


EM FOCO: IRIA CORRÊA

Foram muitas as mulheres que contribuíram para construir a história da arte brasileira, como Abigail de Andrade, Anita Malfatti, Lygia Clark. Contudo, quanto mais recuamos no tempo, mais raros tornam-se os nomes das artistas. Iria Candida Corrêa (1839–1887) foi uma delas. Nasceu e viveu toda a sua vida em Paranaguá, e foi a primeira paranaense a atuar profissionalmente como artista. Apesar do significativo reconhecimento em vida, atualmente sua produção é pouco conhecida e a maior parte das suas obras tem paradeiro desconhecido. Nesse sentido, podemos nos indagar em que medida as razões de tal desconhecimento são atribuídas a uma historiografia da arte que costumava relegar a produção feminina a um lugar de marginalidade. Em foco: Iria Corrêa apresenta pinturas e objetos do universo da artista. Na mostra, duas peças destacam-se como verdadeiras relíquias: o álbum de veludo azul, contendo seus desenhos em técnica mista, e o daguerreótipo com sua imagem. As marcas do tempo e a fragilidade dessa preciosa fotografia pedem a nossa aproximação, exigem foco — metáfora das motivações que originaram esta mostra: a necessidade de atentar para a produção plástica de alta qualidade de mulheres artistas anteriores ao modernismo, como Iria. Expostos pela primeira vez em Curitiba, esses objetos, desconhecidos do público em geral, evidenciam que há aspectos da sua vida e obra ainda a serem descobertos. Nascida em uma tradicional família católica do litoral paranaense, teve sua educação pautada no ideal de mulher burguesa nos dois colégios particulares femininos em que estudou. Nesses espaços de ensino, criados pelas inglesas Jessica e Willie James e pela francesa Madame Taulois, Iria Corrêa teve a oportunidade de aprender música, canto, bordado, desenho e pintura, além das disciplinas usuais. Ao assumir-se pintora, rompeu paradigmas, e foi considerada


uma das figuras mais cultas da Paranaguá do seu tempo. Não foi mãe nem esposa, como se esperava de uma mulher no Brasil oitocentista. Foi artista. Esta exposição traz os primeiros resultados de uma pesquisa em curso, realizada pelo Museu Paranaense, e visa redimensionar a obra de importância histórica de Iria Corrêa, não só para o Paraná, mas para a arte brasileira.

Rita Loyola Marques [Senhora M. G. Marques], s.d. óleo sobre tela / oil on canvas

Iria Corrêa dedicou-se, sobretudo, a dois gêneros da pintura: naturezas-mortas e retratos. Pintou também cenas religiosas, como é possível observar no Catálogo da Exposição Provincial de 1866, da qual ela participou com 20 obras em sépia, óleo, pastel e crayon. Esse raro registro documental é um testemunho do reconhecimento social de seu trabalho como pintora. No centro da segunda sala da mostra encontra-se a mais antiga obra de Iria Corrêa na exposição: o álbum em veludo


azul, composto por 17 desenhos de plantas e pássaros. Nesse importante material iconográfico sobre a flora e a fauna do litoral paranaense, cada página traz um ramalhete de flores distinto, nos quais percebemos a destreza do seu traço, seu processo de aperfeiçoamento compositivo e a sensibilidade no arranjo pictórico. Na maior parte das obras expostas, o tema principal tem centralidade sobre um fundo neutro, salvo algumas exceções. Os retratos, a maioria de pessoas de seu círculo familiar e social, seguem um esquema acadêmico, com especial cuidado na representação dos tecidos, quadros em miniatura junto às figuras femininas e elementos em torno dos homens. Seu pai, o coronel Joaquim Candido Corrêa, que ocupou vários cargos públicos na cidade, tinha fama de ser um homem austero, e na imagem aparece vestido formalmente, com semblante sério. Com uma caneta-tinteiro na mão, usada na assinatura de documentos importantes, ele exibe seu status dentro da pequena elite local. A mãe, Damiana Corrêa, tem o olhar melancólico, usa brincos, um broche singelo e roupa escura, assim como em outros retratos de mulheres do período. Bastante distinta, contudo, é a imagem da senhora Rita Loyola Marques. Nessa, a retratada está com trajes de festa, ombros à mostra e com a tradicional mão direita à frente, praticamente marca registrada da artista. A Paranaguá da época vivia seus tempos áureos, com o porto facilitando a circulação de pessoas, mercadorias e ideias. A breve trajetória de Iria Corrêa foi viabilizada pelo circuito cultural local, que contava com apresentações de teatro, saraus e eventos religiosos. A pintora teve papel proeminente na sociedade parnanguara, burlando algumas regras de gênero vigentes, chegando mesmo a utilizar suas habilidades artísticas como meio de sustento próprio e de sua família, algo absolutamente inusitado para a época. Nada mais oportuno no contexto atual do que recuperar a vida e a obra dessa mulher precursora das artes visuais do Paraná. curadoria / curators Amélia Siegel Corrêa e Giselle de Moraes


SPOTLIGHT ON: IRIA CORRÊA There were many women who took part on the history of Brazilian art, such as Abigail de Andrade, Anita Malfatti, Lygia Clark. However, when we search back in time, it gets scarcer to name artists right away. Iria Candida Corrêa (1839–1887) was one of them. She was born and lived all her life in Paranaguá, and she was the first woman from Paraná to work professionally as an artist. Despite having achieved significant recognition in life, her production is currently little known and most of her works are in unknown whereabouts. Therefore, we can ask ourselves: to what extent the reasons for such ignorance are the effect of a historiography of art that used to relegate female production to a minor place? Spotlight on: Iria Corrêa presents paintings and objects from the artist’s universe. Within the exhibition, two pieces stand out as true relics: the blue velvet album, containing her mixed technique drawings, and the daguerreotype with her picture. The marks of time and the fragility of this precious photograph call for our approach, a metaphor of the motivations that guided this exhibition: the need to pay attention to high quality artistic production of women artists prior to modernism, as Iria. Exhibited for the first time in Curitiba, these objects, unknown to a wider public, show that there are aspects of her life and work yet to be discovered. Iria was born in a traditional Catholic family on the coast of Paraná and her education followed the ideals for a bourgeois woman in the two private schools where she studied. In these educational institutes, created by Jessica and Willie James from Britain and Madame Taulois from France, Iria Corrêa had the opportunity to learn music, singing, embroidery, drawing and painting, besides the usual disciplines. When she became a painter, she broke paradigms, and was considered one of the most cultured figures of Paranaguá of her time. She was neither a mother nor a wife, as typically expected of a nineteenth-century Brazilian woman. She was an artist. This exhibition shows the first results of an ongoing research conducted by the Museu Paranaense, and aims to recall the historical importance of Iria Corrêa's work, not only for Paraná, but for Brazilian art. Iria Corrêa worked mainly on two genres of painting: still life and portraits. She also painted religious scenes, as registered in the 1866 Provincial Exposition Catalogue, when she participated with twenty pieces in sepia ink, oil paint, pastel and crayon. This rare documentation register is an evidence of the social recognition her painting has received. At the center of the second exhibition room is Iria Corrêa’s oldest work on display: the blue velvet album, composed of 17 drawings of plants and birds. In this important iconographic material about the flora and fauna in Paraná state coast, each page shows us a different flower bouquet where we can distinguish her tracing skills, her process in improving the composition and the sensitivity of the pictorial arrangement. With few exceptions, most of the works from the exhibition center the main theme on a neutral background. The portraits, showing mostly family and friends, follow an academic structure; she would give special attention to the representation of the fabrics, miniature pictures on the collars in women’s paintings and other elements surrounding the depicted men. Her father, colonel Joaquim Candido Corrêa, occupied different public roles in town, he was known to be an austere man, and in the painting he is wearing a formal outfit with a serious appearance: holding a fountain pen, something used for signing documents, he is portrayed according to his status within the small local elite. The mother, Damiana Corrêa, has a melancholic appearance, wearing earrings, a simple brooch and dark clothing, just as seen in other women’s portraits from that time. However, a different scene takes place in the portrait of Mrs. Rita Loyola Marques: she is portrayed in a party gown, revealing her shoulders and with the traditional right hand ahead, almost a trademark. That was the golden era of Paranaguá, when the port was the central access for circulation of people, merchandise and ideas. Iria Corrêa’s brief career was supported by the local cultural circuit, where theater performances, serenades and religious events would happen. The painter played a prominent role in the parananguara society, circumventing gender rules and even using her artistic skills as means of support for her family and for herself, something absolutely unprecedented for the time. Thus, considering the current context, this is a timely recover of the life and work of this woman, a pioneer of the visual arts in Paraná.


CAPA: Joaquina Corrêa Guimarães, s.d. óleo sobre tela / oil on canvas ↓ Joaquim Candido Corrêa, s.d. óleo sobre tela / oil on canvas


CRÉDITOS DA EXPOSIÇÃO Governador do Estado do Paraná Governor of the State of Paraná Carlos Massa Ratinho Junior Secretário de Estado da Cultura State Secretary of Culture Hudson Roberto José Diretora-Geral (SEEC) General Director (SEEC) Luciana Casagrande Pereira Coordenador do Sistema Estadual de Museus (SEEC) Coordinator of the Museums State System (SEEC) Renê Wagner Ramos Assessoria de Comunicação (SEEC) Communication Consulting (SEEC) Paulo Roberto Ferreira de Camargo Assessoria de Design (SEEC) Design Consulting (SEEC) Rita Solieri Brandt

Setor Educativo / Educational Division Neusa Cassanelli Rejane Zimmer da Costa Sandra Mara Gutierrez Gestão de Acervo Collection Management Denise Haas Laboratório de Conservação e Restauro Conservation and Restoration Laboratory Esmerina Costa Luis Deise Falasca de Morais Janete dos Santos Gomes Segurança / Security José Carlos dos Santos Estagiários / Interns Amanda Lima Duarte Eduarda dos Santos Gomes Gabriel dos Santos Lima Jean Carlos Rodrigues João Pedro Torrens Ferreira Nathalia Pacífico de Oliveira Paulo Cesar Drosda Stefani Poliana Aristides Victor Hausen Wesley Marllus Pereira de Oliveira

Diretora / Director Gabriela Bettega

Voluntários / Volunteers Amanda Cristine Colasso Evelyn Roberta Nimmo Gabriel Ruviaro Gomes Gerson Purkott Tuleski Júnior Victor Cardoso Dorneles

Setor de Arquitetura e Design Architecture and Design Division Brunno Douat Ingrid Schmaedecke

— Curadoria / Curators Amélia Siegel Corrêa Giselle de Moraes

Setor de Antropologia Anthropology Division Maria Fernanda Maranhão Josiéli Andréa Spenassatto

Projeto Expográfico / Exhibition Design Richard Romanini

— MUSEU PARANAENSE

Setor de Arqueologia Archaeology Division Claudia Ines Parellada Setor de História History Division Tatiana Takatuzi

Agradecimentos / Acknowledgements Ilka Marques Munhoz in memoriam Instituto Histórico e Geográfico   de Paranaguá José Maria Faria de Freitas Juliana de Menezes Manoel Eugênio Marques Munhoz


MUSEU PARANAENSE ENTRADA GRATUITA ⁄ FREE ENTRANCE TERÇA A SEXTA 9h—17h30 SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS 10h—16h FROM TUESDAY TO FRIDAY 9am—5:30pm SATURDAYS, SUNDAYS AND HOLIDAYS 10am—4pm

museuparanaense museuparanaense museuparanaense.pr.gov.br

Rua Kellers, 289 São Francisco — Curitiba, Paraná 41 3304-3300 museupr@seec.pr.gov.br

realização


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