JARDIM NOTURNO Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas
JANEIRO — MAIO 2022
PROGRAMA PÚBLICO
Sinopse JARDIM NOTURNO trata, metaforicamente, do florescimento dos vegetais, de sua história secreta, misteriosa e sutil, explorando o movimento mínimo, fragmentado, estilhaçado, como se assim honrasse cada célula do corpo separadamente. Nessa nova versão para o Museu Paranaense, pretende-se estabelecer ao longo do espetáculo um constante diálogo entre o corpo humano individualizado e o corpo coletivo das plantas, em especial, sobre a arquitetura colaborativa que faz com que as plantas se adaptem a situações adversas, sem um cérebro centralizado de comando. Para essa montagem, os bailarinos Gustavo Cabral, Matheus de Oliveira e Maurício de Oliveira se juntam a luz e mapping de Clara Caramez, trilha sonora de Rodrigo Florentino e May Manão e figurino de Adriana Hitomi. Inspirados no sistema de comando neural das plantas, espalhado por todo seu “corpo” (sentem com o corpo, veem com todo o corpo, pensam com todo corpo), a pesquisa se aproximaria de uma criação em que as configurações coreográficas serão construídas a partir de um corpo em estado de atenção absoluta dos sentidos, a ponto de permitir que o espetáculo se desenvolva no ato da performance, numa clara analogia ao sistema democrático compreendido pelo corpo coletivo das plantas. JARDIM NOTURNO é uma instalação rizomática em que a performance adentra o espaço, como plantas retomando seu domínio sobre a urbanidade esvaziada e revelando sua história encoberta desde tempos imemoriais.
Se rastrearmos a origem dos animais e das plantas, encontraremos que eles evoluíram a partir de um ancestral comum. Por volta de seis milhões de anos atrás, a vida tomou caminhos distintos: de um lado, animais e do outro, as plantas. Portanto, temos um passado comum com as plantas. Nós subestimamos o poder das plantas por anos. Para mim, plantas são organismos muito complexos, que são capazes de se comunicar, memorizar, resolver problemas, de uma forma não muito diferente dos animais do ponto de vista cognitivo. Elas são capazes de elaborar estratégias muito complexas, mas é difícil de compreender ou mesmo ver, já que elas sucedem em escalas de tempo muito amplas. Para sobreviverem, as plantas distribuíram ao longo de seus corpos todas as funções que os animais concentraram em órgãos especializados. Em outras palavras, as plantas observam com todo o corpo, escutam com todo o corpo e, também, resolvem desafios, memorizam e se comunicam. Em qualquer situação de mudança no ambiente, a primeira resposta do animal é fugir. No caso das plantas, elas não podem fugir. Então sua única possibilidade de sobreviver é entender, sentir que algo está mudando o mais cedo possível para poder adaptar seu corpo a isso. Stefano Mancuso
De volta ao jardim Quanto mais trabalhava no jardim, mais respeito tinha diante da Terra, de sua beleza encantadora. Nesse meio-tempo, fiquei profundamente convencido de que a Terra é uma criação divina. O jardim me levou a essa convicção, sim, à compreensão que se tornou para mim agora uma certeza, que adquiriu um caráter de evidência. Evidência significa, originalmente, ver. E eu vi. Byung-Chul Han, Louvor à Terra
Dentro da história do Maurício de Oliveira e da Siameses, Jardim Noturno ocupa um espaço singular. Recém-chegado no Brasil, e ainda se reconhecendo dentro desse novo contexto, Maurício se estabeleceu em São Paulo e fundou a Siameses. Sem qualquer recurso e com o apoio de diversos artistas que mergulharam nas suas ideias, surgiu “Jardim Noturno 2”. O “2” ainda hoje permanece uma incógnita: não houve qualquer trabalho anterior. Nem ele próprio lembra o motivo do nome. Mas assim permaneceu, quase que ditando a sina de buscar a origem dessa história. Em 2010, o trabalho foi reconstruído, aprofundando nas dinâmicas de crescimento das plantas. A fim de acompanhar esse fluxo de florescimento/ enraizamento da pesquisa, música, luz e figurino foram repensados para três bailarinos que, em cena, buscavam nas relações entre palavras e ações o espelhamento dessa forma de entender o silêncio da vida vegetal. Um “Jardim Noturno”.
Em 2016, o amadurecimento da companhia motivou uma nova montagem do espetáculo, dessa vez, procurando novas formas de pensar a dramaturgia do trabalho. Ora plantas, ora insetos, os bailarinos eram provocados a se libertar do trabalho coreográfico e compor em cena estruturas que se desenhavam a cada apresentação. Havia uma negociação entre esses seres que os conduziam a abrir uma dimensão sensorial de atenção absoluta: estar com olhos, ouvidos e tato abertos para o imprevisível. “Jardim Noturno” é um reflexo do próprio processo de criação em Dança. Se enquanto Arte Viva, a dança provoca o senso comum de historicidade como algo imutável no tempo, convidando artistas e público a re-experienciar tempo e espaço de diversas formas, “Jardim Noturno” é um fragmento dessa sensação de criação infinita que temos diante da Natureza e da Arte. O convite do Museu Paranaense para remontar Jardim Noturno nos encontrou num momento especial. Nossa vontade de repensar nossa relação com a Dança e acessar novas formas de pensar criação, nos levaram a transformar a companhia num laboratório de criação, Laboratório Siameses. Um dos fundamentos dessa mudança foi a vontade de trocar de forma mais intensa com artistas de diversas linguagens a fim de nos provocar a chegar a novos horizontes criativos. E essa foi a provocação dessa nova montagem de “Jardim Noturno”. Parceiros antigos da nossa jornada,
como a figurinista Adriana Hitomi, juntaram-se a novos parceiros de criação como os músicos Rodrigo Florentino e May Manão e a designer de luz Clara Caramez para produzir uma nova experiência de cena. Os criadores Maurício de Oliveira, Danielle Rodrigues e Vinícius Francês retomaram a pesquisa com os bailarinos Ricardo Ura, Sthephanie Mascara, Rebeca Tadiello, Juarez Moniz e Carolina Barros, criando um ambiente intenso de descoberta das possibilidades do corpo em movimento. Um novo trabalho que busca na resiliência das plantas um convite para pensar diferentes formas de nos relacionarmos com a vida e com o nosso espaço.
Laboratório Siameses Créditos das fotografias: Wilian Aguiar
Programa Público “Se enfiasse os pés na terra” O Programa Público intitulado “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas” consiste em um projeto experimental do Museu Paranaense (MUPA) que ocorrerá entre os meses de janeiro e maio de 2022. Ele é formado por uma série de ações artísticas, educativas e culturais, no qual o público será convidado a aproximar-se das múltiplas formas de vínculos entre seres humanos e seres vegetais. Farão parte desse projeto coletivos indígenas, artistas, pesquisadores das áreas da botânica, antropologia, arqueologia e história, mestres e detentores de saberes e fazeres de populações tradicionais (quilombolas, faxinalenses e caiçaras), escritores, arquitetos, cozinheiros e produtores locais ligados à agroecologia. Dentre as plantas que se destacam na programação figuram a mandioca, a caxeta, o tabaco, o pau-brasil, além das sementes crioulas quilombolas, ervas medicinais ligadas à cura ou aos rituais do candomblé. A realização do Programa Público “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas” busca reafirmar a importância da cultura imaterial, dos saberes ancestrais de pessoas enraizadas em seus territórios, bem como da potência do museu enquanto espaço de relações. Por meio de mesas-redondas, conversas, atividades práticas e ações artísticas, o projeto tem como objetivo promover o encontro entre os sujeitos que carregam consigo uma relação estreita com as plantas - das mais diferentes formas - e o público do Museu Paranaense.
JARDIM NOTURNO Criação e Direção Maurício de Oliveira Intérpretes Danielle Rodrigues, Maurício de Oliveira e Vinícius Francês Pesquisadores de movimento Carolina Barros, Juarez Moniz, Rebeca Tadiello, Ricardo Ura, Sthéphanie Mascara Design de Luz e Video Mapping Clara Caramez Criação Musical Rodrigo Florentino e May Manão Design de Figurino Adriana Hitomi Cenotécnico Rafael Boese Colaboração Tono Guimarães
“Jardim Noturno” é uma obra desenvolvida e apresentada pelo Laboratório Siameses. O espetáculo de dança integra o Programa Público “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas” do Museu Paranaense (MUPA). Sábado 21 de maio, às 19h Sala Lange de Morretes, pavimento inferior do Anexo do MUPA. Entrada gratuita. Distribuição dos lugares por ordem de chegada. Vagas limitadas.
MUSEU PARANAENSE Rua Kellers 289 Alto São Francisco Curitiba, Paraná, Brasil +55 41 3304 3300 museupr@secc.pr.gov.br museuparanaense.pr.gov.br museuparanaense museuparanaense PATROCÍNIO
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