Ministério da Cultura e Museu Paranaense apresentam:
pesquisa no acervo fotográfico: 21 de agosto de 2021 21 de março de 2022
museu-ateliê: 11 15 de novembro de 2021
exposição: 16 de dezembro de 2021 16 de janeiro de 2022
publicação: versão digital — 2023 versão impressa — 2024
[MP.812]
Prefácio
Imagem dentro — Portais ao presente: uma retomada a partir das fotografias do acervo etnográfico do MUPA
Capítulo I
Encontros-pesquisa e museu-ateliê: Investigações indígenas no acervo fotográfico do MUPA
Capítulo II
Exposição: Retomada da Imagem no Museu Paranaense
Capítulo III
Falas-obras: Retomada Retomada Retomada
Capítulo IV: Retomamos, mas e agora? Somos árvores andantes
Roseane Kerexu Mirim Mariano (filha de Juliana Kerexu), Elida Benites, Nycolas André Paraná Pereira (filho de Indiamara Xetá), Juliana Kerexu, Gustavo Caboco, Indiamara Xetá e Lucilene Wapichana durante a abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
[MP.1903.01.04]
Autoria desconhecida
Sem título [Tandó], 1903
Fotopintura
Acervo Museu Paranaense
TANDÓ DE TAN, CHUVA DÓ, RAIO = ARCO IRIS DEI LHE O NOME DE CANDIDA CANDIDA TANDÓ.
ACEITOU MAS NÃO QUIZ BATISAR SE. 1903
APUD. NOTAS DE ROMÁRIO MARTINS-
IMAGEM DENTRO — PORTAIS AO PRESENTE: UMA RETOMADA A PARTIR DAS FOTOGRAFIAS DO ACERVO ETNOGRÁFICO DO MUPA
HISTÓRICO DO PROJETO E APRESENTAÇÃO
Não é mero acaso ou escolha aleatória a fotopintura de Tandó ser a capa deste livro. A imagem fisgou a atenção dos participantes desde o início, tocou em algo e, por conta disso, sua presença foi constante em todo o projeto “Retomada da Imagem”. Tomando-a como paradigma, vem à tona algumas perguntas que estão no cerne do projeto:
Como os sujeitos indígenas de hoje se relacionam com imagens como essa da Tandó e todas as outras existentes dentro de acervos etnográficos?
É possível habitar imagens históricas, conhecer os sujeitos retratados, saber sobre suas histórias e destinos?
Somos capazes de olhar verdadeiramente para essas imagens, feitas, muitas vezes, à revelia dos sujeitos retratados — como diria Denilson Baniwa — e transformá-las em ferramentas de resistência contra as violências infligidas cotidianamente aos povos indígenas?
Como um museu com acervos formados sob a perspectiva colonial pode hoje contribuir na luta indígena tomando como ponto de partida a sua própria história e objetos salvaguardados?
Em 2021, o Museu Paranaense (MUPA) deu início à Retomada da Imagem, mobilizando as fotografias da instituição que retratam pessoas, práticas e territórios de diversos povos originários do Brasil, feitas entre os séculos XIX e XX, com o objetivo de colocar em xeque as violências praticadas direta ou indiretamente na produção das imagens e as motivações para esses registros.
Há algum tempo, o MUPA vinha idealizando trabalhos colaborativos com indígenas, mas devido à pandemia da Covid-19, o projeto precisou ser adiado. Após a fase mais crítica da epidemia, surgiu a ideia de realizar uma proposta que pudesse ser desenvolvida virtualmente, visando abordar criticamente o acervo etnográfico da instituição, especialmente o fotográfico e filmográfico que estava praticamente todo digitalizado. Por tratar-se de registros visuais, a instituição intuiu que a intersecção com arte indígena contemporânea poderia promover debates potentes. Gustavo Caboco e Denilson Baniwa foram os artistas convidados por conta da afinidade de seus trabalhos com a proposta a ser desenvolvida. Denilson vinha de uma trajetória marcada, entre outras coisas, pela revisão crítica da construção imagética do indígena por intelectuais e artistas não indígenas, instituições e Estado nacional, e Gustavo, um parceiro de outros projetos do museu, desenvolvia uma produção em cujo radar pairam interesses sobre memória, museus e a agência de acervos indígenas. A partir dos convites, o projeto se desenrolou naturalmente, sem um roteiro estabelecido de antemão. Ele foi tomando forma à medida que ocorriam os encontros virtuais, entre agosto e novembro de 2021. Qual o formato final e como seria seu desdobramento, não foi algo dado de imediato. Optou-se, desde o início, por dar maior autonomia para as escolhas
dos convidados indígenas em termos de caminhos possíveis a percorrer e formas de trabalhar. Por conta disso uma metodologia compartilhada era fundamental para viabilizar essa ação. Havia apenas algumas prerrogativas estabelecidas pela instituição: a primeira era que o projeto resultasse em algum tipo de produção que fosse compartilhada com o público, visando um largo alcance das reflexões geradas. As demais condicionantes diziam respeito ao prazo e orçamento — existia um montante com o qual o projeto deveria custear-se, sendo os artistas os responsáveis por definir como e quando empregar os recursos.
No início dos encontros on-line, decidiu-se que a equipe do museu selecionaria livremente imagens do acervo indígena e compartilharia com os artistas, a fim de fornecer um panorama abrangente acerca da tipologia de fotografias. Aquelas imagens que chamassem a atenção de ambos, ou que a equipe julgasse relevante comentar, eram apresentadas e discutidas nas reuniões. Momentos como esses, nos quais informações e pensamentos corriam soltos, lançaram faíscas que movimentaram todo o projeto.
Em determinado período da pesquisa, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco começaram a esboçar inúmeros insights e, conforme progredia-se no contato com as fotografias, mais intensos eles ficavam, pela visão global que os artistas iam tendo dos padrões que apareciam nos acervos. Um sentimento recorrente era a respeito da importância cultural dos acervos como registros históricos de práticas, rituais, objetos e a potência deles como fontes de informação para os povos em termos dos seus fazeres tradicionais. Os acervos preservados permitem as retomadas, os retornos, a exemplo de Nei Xakriabá com a cerâmica e de Glicéria Tupinambá com o manto, comentava Baniwa.
Os artistas também refletiam sobre as possíveis inspirações dos produtores das imagens. Pinturas cristãs ou a imagética do velho oeste norte-americano, por exemplo, eram certamente padrões que contribuíram na formação de um repertório visual dos fotógrafos e que influenciaram na composição das imagens como um todo, desde a escolha da posição do sujeito retratado até a composição do fundo. Pesquisas antropológicas demonstraram que eram frequentes os pedidos para que as pessoas posassem simulando posturas e situações que supostamente representariam o passado daqueles grupos: desnudas ou com ornamentação corporal exagerada, segurando arcos e flechas em postura de ataque, entre outras “encenações”. A conclusão de Baniwa e Caboco foi de que parte do que viam ali era um verdadeiro “Photoshop dos anos 50”: misturavam-se cenários e pessoas numa construção quase teatral. Vale ressaltar que muitas dessas
[MP.KO.5582]
produções tinham, desde sua concepção, valor de documentos e, portanto, visavam o registro do “real” 1 Os “dados invisíveis” das fotografias, como as mensagens escritas no verso ou nas bordas — “Como o índio sobe no pinheiro para colher pinhão”, “Índio Ka’apor com máquina fotográfica” — eram também objeto de atenção dos artistas, pois traziam outras camadas de informação da imagem. Essas camadas indicam, entre outras coisas, como ela foi interpretada pelo autor ou por outros agentes no contexto museológico; no caso desses dois exemplos, indicam como as pessoas foram objetificadas.
Mas, além das reflexões sobre o contexto e lugar racial, de classe, intelectual, produtivo e político ocupado por aqueles que registravam no passado os corpos indígenas, havia muitos impulsos de Baniwa e Caboco para os questionamentos direcionados ao futuro: “e nós? O que nós vamos fazer? Em qual atmosfera vamos criar? Com quem, como? O que não queremos fazer?” O seguinte trecho da fala de Denilson Baniwa em uma dessas ocasiões demonstra isso:
“É o que estamos fazendo agora também? Tentando reconstruir? Reconstruir é reproduzir os mesmos métodos do passado? Ou vamos criar coisas novas? Que tipo de imagem vamos criar agora, Gustavo, juntos? Por estarmos chamando pra conversar, para sentar numa espécie de fogueira... estamos criando um tempo (chuvoso, calor, ameno, tropical), estamos tentando criar um clima de coexistência entre mundos: os nossos, o do museu, o dos antigos e o do presente dos indígenas também.”
No decorrer das reuniões, os artistas começaram a definir com quais acervos gostariam de lidar e a esboçar como fazer, mais do que definir o que pretendiam fazer. Para Gustavo, o que reverberava era a motivação de pôr em contato acervos e pessoas, instigando inclusive os convidados a trazerem seus acervos pessoais e ver o que poderia surgir desse encontro. Segundo ele, as pessoas a serem convidadas fariam o trabalho emocional, acionariam as suas lembranças e sentimentos, e eles dariam outras formas, colocando imagens do passado e do presente lado a lado. Denilson Baniwa manifestou suas intenções da seguinte maneira:
“Podemos não trabalhar temas específicos, mas movimentar um ambiente. Não gostaria de trabalhar com o tema fúnebre, mas provocá-los [os convidados] a pensar, todos, sobre cerâmica ou outras coisas, seja para reconstruir novas cerâmicas ou histórias, seja para manter no museu ou para pedir repatriação. Estamos agindo como espíritos que vão revirar essa história toda, emergir essa história, e deixar os povos garimparem o que for apresentado. Agir como um decodificador de rádio, que capta as frequências e transforma em sons, em imagens, em tudo.”
Foi por meio do encontro com outros indígenas que os artistas expressaram a vontade de trabalhar com os acervos, entendendo os objetos salvaguardados como potenciais disparadores que impulsionariam ações diversas, desde o resgate de histórias e objetos até a reivindicação de sua posse. Baniwa e Caboco assumiram o papel de mediadores, tanto no que diz respeito a animar os objetos para que seus povos herdeiros viessem responder ao seu chamado, quanto em uma dimensão mais prática, no cuidado com a forma de promover essa aproximação dos convidados com os acervos.
Com o arrefecimento da pandemia, definiu-se que o próximo passo seria a realização de uma etapa presencial. Partiu-se então para o detalhamento quanto às datas, aos convidados e às especificidades logísticas. A motivação era promover, nas palavras de Caboco, “um encontro de gente, de foto, de tudo”: criar um espaço onde se acomodariam os acervos, com suas próprias vibrações, e as pessoas convidadas ficariam livres para se atrair mais por uma fotografia ou outra, decodificando-as. A partir dessa metodologia cada um trabalharia livremente em suas produções.
1 Extenso conjunto das fotografias mobilizadas pelos artistas foi produzido pelo tcheco, radicado no Brasil, Vladimir Kozák (1897-1979), que após uma carreira no ramo energético, aposentou-se iniciando outro percurso, ligado ao audiovisual: foi diretor da Seção de Cinema Educativo no Museu Paranaense e técnico de fotocinematografia na Universidade Federal do Paraná. Inserido nesse meio museal e acadêmico, pautado em pesquisas de campo e difusão extensionista do conhecimento, suas produções são testemunhas do valor documental etnográfico priorizado.
[MP.KO.8301]
Entre os dias 11 e 15 de novembro de 2021 ocorreu a etapa denominada museu-ateliê, na sala Lange de Morretes, um dos espaços expositivos do MUPA. Os encontros contaram com a participação de Camila dos Santos e Thais Krīg, do povo Kanhgág, Indiamara e Nycolas André Paraná Pereira, do povo Xetá, Juliana Kerexu, Ricardo Werá, Flávio Karai, Elida Benites e Roseane Mariano, do povo Mbyá-Guarani, e Lucilene Wapichana, do povo Wapichana, além de Caboco e Baniwa. Seguindo o fluxo da primeira parte do projeto, o museu-ateliê também foi construído durante o seu existir. A forma de trabalhar que possibilitou mobilizar as memórias das convidadas e convidados envolveu um espaço físico e temporal onde as subjetividades puderam aflorar de diferentes maneiras, em um contexto de ateliê/oficina.
A partir do contato com as imagens, sobretudo com as fotografias, das conversas sobre elas e até
mesmo de sonhos, o ateliê/oficina foi se configurando. Foram surgindo desenhos e pinturas em painéis, mas também nas paredes da sala expositiva, além de áudios e novas fotografias. Ao final do período de duração do museu-ateliê, os artistas e equipe do MUPA decidiram apresentar os resultados dessa vivência na exposição Retomada da Imagem, inaugurada em 16 de dezembro de 2021, que ficou em cartaz por um mês.
Junto às pinturas e demais criações, foram acrescentadas à exposição fotografias e objetos tridimensionais do acervo. Esse interesse, comunicado por Gustavo Caboco, de envolver na mostra não somente aquilo que foi produzido de novo, mas também fotografias e outras peças que motivaram os seus parceiros indígenas, fomentou questionamentos importantes. O principal deles dizia respeito a como esses objetos do acervo seriam apresentados.
No procedimento museológico, tais objetos são sempre acompanhados de legendas técnicas que informam dados como origem, procedência, autoria, coleção a qual pertence, podendo ser acrescidas a isso informações pertinentes à exposição ou aspectos destacados pela curadoria. No contexto da “Retomada”, a decisão foi de que aqueles objetos expostos, mais uma vez em suas trajetórias, deveriam ser acompanhados pelas “legendas do museu”, algo que para a equipe interna gerou uma série de reflexões, a começar pela pergunta “qual é a legenda do museu?”. Quando Caboco fez esse pedido, tinha em mente, substancialmente, que as “legendas do museu” deveriam conter as anotações que constavam nos versos das fotografias. Contudo, essas anotações não eram necessariamente os títulos das imagens.
Elas eram ou poderiam ser muitas coisas: informações despadronizadas sobre o contexto ou os retratados; pensamentos dos fotógrafos ou dos correspondentes (de intelectuais e/ou indigenistas que remetiam essas imagens uns para os outros); anotações feitas por agentes museais diversos, com sobreposições de diferentes épocas. Existia também a possibilidade — sobretudo para o caso dos acervos Xetá, os quais são encontrados com certa regularidade pelos seus herdeiros culturais — de novos dados terem sido agregados aos registros contendo informações veiculadas pelos mesmos. Enfim, a ideia que essa decisão surtia era basicamente de que a “legenda do museu” é uma miríade de possibilidades, discutidas a cada ocasião de se expor determinado acervo. Embora essas reflexões tenham sido atiçadas e gerassem, do ponto de vista interno, uma problemática relevante, definiu-se que na referida exposição a oficialidade institucional da informação seria representada, na maioria dos casos, pelas anotações do verso ou outras modalidades de inscrição que foram acessadas nas imagens físicas pelos convidados e artistas.
Além dessas informações, os objetos também foram apresentados a partir da perspectiva dos artistas e convidados: sob a forma de outras legendas, que não abandonaram completamente a lógica museal — pelo contrário, brincaram com ela, parodiando-a. Isto é, se as “legendas do museu” foram feitas sobre madeira gravada, as novas legendas também apresentavam-se sob o mesmo tipo de suporte, mas com as informações registradas à mão, trazendo dados revelados nos encontros, denúncias, críticas ou signos não alfabéticos. Ambas as legendas foram posicionadas juntas. Nessa operação de pôr lado a lado perspectivas distintas sobre o mesmo acervo, ficaram visivelmente manifestos os pontos de conflito e os diferentes graus de relação daqueles sujeitos e da instituição em relação com o objeto.
As múltiplas temporalidades de informações sobre os objetos partilharam o mesmo espaço, como partes constituintes das suas histórias pregressas e como fonte de aprendizado para os passos futuros.
Outras sobreposições de camadas aconteceram em todo espaço expositivo: nas intervenções produzidas diretamente sobre as paredes, nas novas obras em suporte de madeira, tecidos ou feitas com a apropriação de acervos. Aliás, as sobreposições e trans-criações com o velho e o novo, desde o ponto de vista conceitual, metodológico e criativo, formaram o âmago do projeto como um todo.
Os acontecimentos que marcaram a abertura e o encerramento da mostra foram momentos de muita potência e emoção. Com a sala expositiva repleta de jovens, adultos e crianças, Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Juliana Kerexu, Indiamara Paraná e Lucilene Wapichana compartilharam com o público, por meio de cantos, poesias e relatos, parte dos sentimentos e das reflexões que o encontro com as fotografias suscitou. Esse trecho da fala de Camila dos Santos na abertura da exposição (integralmente transcrito na publicação) traz a dimensão da multiplicidade de afetações que a experiência do projeto provocou nela, situa a importância disso no contexto mais amplo das subjetividades, políticas e poéticas dos povos indígenas e informa, mais especificamente, a potência dos acervos como método de memória, luta, criatividade e dignidade, na franqueza do encontro com eles, que é ao mesmo tempo um disparador de dor, de transformação e de cura:
“Estar aqui neste espaço é uma mistura de dor, presença, conquista e alegria.
Dor: pois tudo que está aqui neste museu resultou de uma dor de morte para nossos povos e que, se não fosse dolorido, os artefatos não estariam aqui e sim com a gente.
Presença: porque existimos e estamos aqui neste momento, nos fazendo presentes e expressando de várias formas o contato com essa dor.
Conquista: acontece que conseguimos quebrar algumas barreiras, embora não sejam todas (ainda), pois são muitos os resultados da colonização.
Alegria: sabe, apesar desta dor e de saber que temos que conquistar algo ou algum espaço e mostrar a nossa presença (a nossa existência), somos alegres. Carregamos conosco o respeito por sermos seres diferentes. Somos apenas um ser no meio de tantos outros na soberania da natureza e do universo.”
Gustavo Caboco e Denilson Baniwa
Re-encontros: Como o povo Ka’apor veio parar no Paraná?,2021
ref: [MP.KO.8301]
Vladimir Kozák Povo Ka’apor — Maranhão Sem título [índio Homem com máquina fotográfica], 1958-59
Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense
CAPÍTULO I
ENCONTROS-PESQUISA E MUSEU-ATELIÊ: INVESTIGAÇÕES INDÍGENAS NO ACERVO FOTOGRÁFICO
DO MUSEU PARANAENSE
Denilson Baniwa. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
[MP.KO.8033]
Gustavo Caboco Sem título [retrato de Ricardo Werá], 2021. Fotografia. ACESSO ACERVO
[ MP.8103 ]
[MP.8103]
ACERVO
Denilson Baniwa Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia. ACESSO
[ MP.1054 ]
[MP.1054]
Gustavo Caboco Sem título [retrato de Juliana Kerexu], 2021. Fotografia.
[MP.KO.6965]
ACERVO
Denilson Baniwa Sem título [retrato de Gustavo Caboco], 2021. Fotografia. ACESSO
ISTO É UMA RETOMADA
Gustavo Caboco
16 DE JANEIRO DE 2022
Na palavra “retomada” está implícita a ideia de roubo. Retomada. É necessário localizar nossa conversa num cenário de desordem, de luta, de conflito num sentido amplo. Retomada. Nossas vidas, terras, saberes e também nossas imagens, as indígenas, sistematicamente foram tomadas pelo “outro”. Retomada. Autoestima, da saúde, da nossa presença. Retomada. Retomada.
Nosso corpo, nosso espírito e vozes. Retomada. Tratando-se de registros fotográficos: uma imagem tirada, roubada ou simplesmente capturada — nos pertence? Em que contexto uma imagem indígena chega até um arquivo ou um acervo? Que tipo de relação foi feita para uma foto ser registrada? Em que tipo de encontro, político ou de pesquisa, esta foto foi realizada? Catalogada? Por que nossos nomes foram apagados? Renomeados? Por que na história da arte, na história antropológica ou na história arqueológica ocupamos o campo de“objeto de estudo”? Interlocução? Por que nossas imagens fazem parte da coleção que leva nome de um pesquisador “não-índio” e não somos nós os agentes fundadores de um arquivo, coautores, ou mesmo participantes da leitura desse arquivoacervo? Por que não participamos desses processos históricos?
Território indígena. Num sentido amplo, utilizamos a palavra “retomada” quando se trata da disputa territorial. No Paraná, um exemplo é a terra indígena de Mangueirinha. Em 1949, o governador do Paraná fez um acordo com o Governo Federal para vender parte das terras indígenas de Mangueirinha e ali começou uma jornada entre a expulsão e a remoção de famílias indígenas Kaingang [Kahngág].
A luta pela terra, no sul do Brasil, iniciou-se numa série de processos de retomada liderados pelo cacique Angelo Kretã, no final dos anos 1970. Registros da morte e vida dessa liderança estão no arquivo deste Museu (o Museu Paranaense). As histórias de despejos, remoções forçadas e deslocamentos marcam todos, ou quase todos, os povos indígenas brasileiros, seja no Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amazonas ou Roraima. Nossos territórios extrapolam essa ideia de fronteira e estados.
Evoco aqui uma outra memória, outra imagem, importante de retomar para fazer este debate: a imagem de Marçal Tupã’y em discurso histórico ao Papa João Paulo II, em 1980. Tupã’y anuncia ao papa: “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos. Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto, não, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história”.
RETOMADA GUARANI-MBYA
RETOMADA WAPICHANA
RETOMADA KAINGANG
RETOMADA BANIWA
RETOMADA YAWANAWA
RETOMADA XETÁ
Gustavo Caboco e Denilson Baniwa. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Mais um exemplo é o território da Constituição. Esse território é fruto da luta coletiva dos povos indígenas, da UNI (Uniao das Nações Indígenas), num movimento articulado por Álvaro Tukano, Ailton Krenak, Mário Juruna e tantos outros que lutaram pelo capítulo 231 na Constituição de 1988, pelo qual os indígenas conquistaram o seu direito originário à vida. Memorar rapidamente essas histórias localiza o nosso debate dentro dos museus. Museus são de fato aparelhos coloniais e não acredito na ideia que seja possível “decolonizar” um museu.
Nossas lutas são por autonomia: há um campo amplo a retomar. Por exemplo: o que é esta prática e movimento colonial de autoridade de “re-nomear” tudo e todos. Este movimento de quem se dá o direito de tomar posse, renomear um território, inventar um país por cima de um território, criar uma província, “autonomia” (leia-se extrativismos — café? erva-mate?), para formar um estado, determinar linhas fronteiriças, inventar uma cidade (vai se chamar Curitiba em homenagem AOZÍNDIO!), criar nomes de ruas, renomear rios, renomear montanhas, renomear plantas. O que é esse direito autodivino de tomar posse das terras, terras originárias, e extrair tudo dessa terra? Esse movimento autocentrado, egoísta, movido por capital, por ouro, ouro-verde, carrega em si um caráter: o da ignorância.
É preciso retomar as histórias originárias e compreender a memória que aqui vive. Que outras
histórias de retomadas habitam esta sala, este museu? — pergunto aos meus parentes aqui presentes nesta leitura.
Se museus são aparelhos coloniais, como tornálos territórios indígenas? Entre a re-captura e o amansamento desses arquivos. Um arquivo de fotografias indígenas apenas com referências bibliográficas de pesquisadores não-índios seria um arquivo-morto? Ou mora aqui uma possibilidade de retomada à vida? Das relações, quero dizer. O acesso a essa memória-viva está ligado à nossa proposta política de demarcação de terras e subjetividades. Retomar nossas histórias dentro de museus é retomar uma parte das nossas terras.
No contexto atual, estamos no Museu Paranaense, uma instituição que tem 147 anos (pouco, comparado com o tempo da história indígena); cada imagem e cada foto que está aqui é acompanhada por uma gota de sangue indígena — a maioria deles não nomeados.
Estão aqui fotos de pais, mães, avós, tios, tias, amigos e amigas. Você percebe como museus são de fato aparelhos coloniais? Mas por que o meu parente está aqui nessa gaveta, então? Pensando fotograficamente, sempre estivemos “no lado de lá”. Do objeto fotografado. Mas, agora há uma possibilidade de tentar retomar um lugar. Para quê? Sair dessa maldita ignorância, do apagamento. A minha paciência se esgota em alguns momentos. É tão difíficl ver a violência e o coma colonial que estão nesses acervos e reservas técnicas museológicas?
Os encontros que tivemos, eu e Denilson Baniwa, com esse acervo, iniciaram-se em agosto de 2021. Um dos nossos critérios iniciais para pensar foi trabalhar imagens a partir dos anos 1960. A ideia da possibilidade de reatar, retomar os fios das memórias; criar encontros entre pessoas indígenas e as fotografias de seus povos que estão sob posse do museu. Outra ideia que tivemos no processo foi provocar os convidados a trazerem fotografias e seus registros próprios para encontrar com as fotografias do acervo do MUPA. O que o cruzamento de um arquivo pessoal com o arquivo de uma instituição pode gerar? Que tipo de curadoria (ou curanderia?), histórias, memórias, produção, denúncias?
No caso da Indiamara Xetá, o encontro acontece com seu pai Tucanambá José Paraná no arquivo do museu. Nguaká: o Tuca Xetá. O Museu tem fotografias de Tuca em várias etapas de sua vida. O povo Xetá, que já foi tratado como extinto pela antropologia, hoje vem atualizando suas contra-narrativas por meio da luta do reconhecimento por seu território — e faz isso também dentro dos museus, especialmente no Museu Paranaense e no MAE-PR.
Num depoimento, Indiamara afirma: “meu pai tinha um tembetá e agora está aqui, no museu. Será que foi ele que doou ou tiraram dele?”. As histórias vêm sendo atualizadas, mas o prejuízo é imensurável.
Outra observação que tivemos é de que em vários registros é notável o modo como uma imagem foi construída: seja analisando um desconforto na expressão de uma pessoa indígena, nos pedidos para posar para uma foto, “performar um bom selvagem”, performar “ações de índio” (tipo subir numa árvore), ou nas legendas das imagens, que denunciam um raciocínio naturalizado do apagamento das nossas identidades, nos botando na caixinha de “civilizado” ou “urbano”. A exemplo de uma fotografia de uma mulher Kaingang (sem nome) carregando seu bebê na tipoia, em que a legenda dizia “uma das poucas tradições: carregar o filho nas costas”, no olhar do pesquisador-extrativista. Isso nos desperta uma série de desconfortos.
Ou cruzamentos sensoriais: quando a Camila dos Santos abriu o arquivo e naturalmente fez uma seleção, uma curadoria, das várias imagens de mães carregando seus bebês no colo ou em tipoias; só depois ela se deparou com essa legenda “das poucas tradições”. Lembro da sua reação, exclamando com indignação: “Não é possível!”.
Essas indignações que nos acompanham é relacionado às nossas histórias de vida. Está relacionado
(p.32)
Recorte de jornal.
Arquivo pessoal Indiamara Xetá.
(p.33)
[MP.KO.240]
Vladimir Kozák
Hetá escaping massacre 1940 / Cross Ivahy River, s.d. Desenho.
Coleção Vladimir Kozák, acervo Museu Paranaense e intervenção de Nycolas André Paraná Pereira.
Arquivo pessoal
Indiamara Xetá encontra com acervo do Museu Paranaense.
[Organização de] Indiamara Xetá e Nycolas André Paraná Pereira Retomada da história Xetá. Somos resistência e sempre estivemos aqui, 2021. Instalação [detalhe]. Escrita sobre madeira. Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense.
(nas páginas seguintes)
Nycolas André Paraná Pereira
Sem título, 2021 Intervenção sobre cópia de desenho.
Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense.
a um lugar de invisibilidade, silêncios e injustiça. São saberes que não estarão nos livros, mas acompanham as nossas vivências e as nossas caminhadas. Porém, há também um desejo de colaboração, da partilha, do pensamento crítico, da propagação da memória, do desenho e da possibilidade de transformar a imagem, a narrativa. Reorganizar, adicionar camadas de legendas, arquivos anexos, relatos, identificar pessoas, conectar pessoas às fotos. Trabalhar as políticas das instituições que possuem arquivos históricos dos povos indígenas a serviço das populações indígenas.
Há uma série de exemplos que evidenciam essas ideias cosmopolíticas. A exemplo do “acidente” em que eu e o Denilson iniciamos uma obra e escolhemos três imagens aleatórias para trabalhar como um ponto de partida. Quando nossos convidados chegaram no museu-ateliê, Indiamara localizou: “este é meu pai (Xetá)”. Juliana, numa outra foto, falou: “esta é nossa avó (Guarani-Mbya)”. Aos poucos, esta obra foi tomando forma, num processo artístico de identificação de pessoas. Ao reconhecer a criança na foto: “olha aqui o [atual] cacique quando era criança!”. Produção de memória? Desenho-documento? Artedocumental?
Caminhamos em rede: da pedagogia do encontro. Um convidado estendeu o convite a outro. Eu e o Denilson convidamos a Camila dos Santos, a Juliana Kerexu e o Ricardo Werá para participarem do ateliê. A Camila convidou sua filha Thaís e a Indiamara para participar; a Indiamara convidou seu filho Nycolas e a Juliana convidou seu companheiro Flávio, a filha Rose e a prima Elida. Esta informação é importante: não andamos sozinhos.
Há um processo profundo, que envolve um extenso trabalho emocional e afetivo. É uma tarefa densa se deparar com imagens de familiares num arquivo. Mas são esses encontros que possibilitam transformar siglas e números (MP.KO.7211) em lugares de memória e atualizações da “imagem dentro”.
Por isso é importante transformar o museu em ateliê. Não estamos lá para romantizar essas imagens, mas trabalhar nossas redes, forças e potências criativas. É retomada!
Camila dos Santos Retomada Kaingang, s.d. Fotografia. Arquivo pessoal de Camila dos Santos.
Autoria desconhecida Povo Kahngág [Kaingang] — Paraná Sem título [Mulher carregando criança] , c. década de 1980 Ao redor da imagem consta o seguinte texto: "Uma das poucas tradições: carregar os filhos nas costas. Coronel Vivida, 11-2-80, ÍndiosMangueirinha." Acervo Museu Paranaense
Camila dos Santos Legenda atualizada, 2021. Escrita sobre madeira.
[MP.6110]
[MP.8103] Mauro Giller. Povo Mbyá-Guarani — Tekoa Pindoty, Ilha da Cotinga, Paranaguá, Paraná. Sem título [Família do cacique Guarani], 1989 Acervo Museu Paranaense
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Imagem dentro: portais ao presente / re-encontros Guarani, Xetá e Kaingang, 2021. Técnica mista. [Detalhe].
TRANSFORMAR
Roseane Kerexu Mirim Mariano, Elida Benites, Gustavo Caboco e Denilson Baniwa. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
TRANSFORMAR
MUSEU
(p.44, a partir do topo)
Elida Benites. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Texto presente em uma das paredes da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
(p.45, a partir do topo)
Gustavo Caboco. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Textos e ilustrações presentes em parede da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
TRANSFORMAR
(p.46, a partir do topo)
Flavio Karaí Papa Timóteo e Gustavo Caboco em visita às exposições do Museu Paranaense. Etapa museu-ateliê, Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Registro. Etapa museu-ateliê, Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
(p.47, a partir do topo)
Gustavo Caboco e Denilson Baniwa revisando negativos. Etapa museu-ateliê da Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Nós somos raízes profundas, 2021. Acrílica e colagem sobre tela. [Detalhe].
[MP.KO.192]
(p.49, a partir do topo)
Denilson Baniwa
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano, Elida Benites e Denilson Baniwa], 2021. Fotografia.
TRANSFORMAR
(p.50, na parte de cima)
Indiamara Xetá e Camila dos Santos. Etapa museu-ateliê, Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
(p.51, na parte de baixo)
Juliana Kerexu. Etapa museu-ateliê, Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
[MP. 3115]
Autoria desconhecida
Mulher Xetá amamentando bebê, s.d.
Acervo Museu Paranaense.
TRANSFORMAR
MUSEU
(p.52, a partir do topo)
Gustavo Caboco, Indiamara Xetá, Denilson Baniwa e Camila dos Santos durante a etapa museu-ateliê, Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Onde está o seu cordão umbilical, 2021. Acrílica e colagem sobre tela. [Detalhe].
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Retomada da Imagem 2, 2021. Acrílica e colagem sobre tela. [Detalhe].
Eu sou o Denilson. Sou uma pessoa indígena do povo Baniwa, nascido em Mariuá, no interior do Amazonas, numa região que tem 23 povos. Sou artista visual. Tento trabalhar com imagem, né? Vim de uma região que foi bastante fotografada por antropólogos, etnólogos, historiadores, fotógrafos diversos, inclusive fotógrafos comerciais. Desse lugar de ser retratado, de ter a imagem capturada, é que eu me coloco no projeto “Retomada da Imagem”.
Eu venho trabalhando com essas imagens e a construção de uma imagética, não sei se representativa, mas uma imagética que traga outras histórias. Aqui no MUPA a gente está nesse projeto, eu e o Gustavo, tentando trazer outros jovens indígenas para pensar essa imagética construída de outros corpos. Por quem está de trás das lentes, digamos. Tem uma coisa interessante nesse processo fotográfico que é o termo para fotografia, do que a gente chama de clique — é o shot, que é o disparo. Esse clique captura um momento e te mata naquele momento. Porque depois do clique o que acontece é uma outra vida. O seu instante está morto, representado, congelado. Como uma múmia, estática, por tanto tempo que passar. Eu fico observando, por exemplo, que aqui a gente está encontrando fotografias de lideranças indígenas que foram importantes para a construção do que é o movimento indígena, do que é a cultura indígena dentro do meio social; outras pessoas que a gente desconhece quem são, de que tempo ou de que comunidade são. Mas o que está aqui é essa múmia. Essa múmia guardada dentro de envelopes, dentro do acervo. O nosso trabalho aqui, de certa maneira, é pegar esse ponto, do morto fotográfico, e transformar para hoje. Que tipo de vida pode ser transformada a partir de uma imagem? Ou que tipo de história pode ser contada a partir de uma imagem? Que tipo de construção imagética pode ser construída a partir de um “tiro” dado num determinado momento? Para além de revisitar o acervo, olhar
fotografias e tentar trabalhar a partir delas, a gente também tem uma ideia de trazer jovens indígenas daqui da região para conversar sobre essa construção imagética, sobre o que é fotografia, o que é a imagem do outro e o que é registro do outro.
Como é olhar o outro e olhar a si mesmo como objetos de registro?
Pensando nisso, a gente quer tentar, por exemplo, entender que tipo de relação a gente quer ter com nossas imagens a partir de agora. Eu não sei se essas pessoas retratadas tiveram alguma opção; se foram pagas, se pediram para posar ou se simplesmente estavam fazendo atividades de seu cotidiano e foram fotografadas à revelia, como se vai num zoológico e tira fotos de animais, prisioneiros assim. Não sei como é que foi o processo dessas fotografias. Mas eu sei que, a partir de agora, a gente pode ter controle sobre os nossos processos de registro. Se a gente entende que uma imagem é essa construção histórica das coisas, a gente está agora no processo de ver pessoalmente essas imagens que já tínhamos visto on-line, pensar essas histórias e pensar como apresentar de novo. Porque essas imagens já foram apresentadas em algum momento, alguns anos atrás, algumas em outros lugares, enfim, mas como que a gente quer apresentar de novo agora. Contando essas novas histórias que a gente vai criar a partir dessa residência, dessa oficina.
Eu, particularmente, estou pensando que esse processo todo é um entendimento de novas narrativas que a gente pode construir mesmo, sabe? Eu estou num lugar, agora, de conhecer as tecnologias e essas ferramentas. Quando você estava aqui, entrevistando o Gustavo, eu te fotografei e colei na parede. A fotografia está lá. Então eu tenho capacidade agora não só de ser fotografado, mas também de fotografar o outro, de ter — é uma palavra horrível — uma troca de “tiros”, de flashes, sabe? Eu te capturo, você me captura e que tipo de negociação com essas imagens a gente vai ter agora? Porque você, enquanto jornalista, vai publicar, teu fotógrafo vai publicar isso num site,
no jornal, e vai noticiar. Eu não tenho controle do que você vai escrever, mas tenho controle de como vou receber isso. Mas, de outra maneira também, posso publicar no meu Instagram a foto que tirei de você. Então, a gente está numa relação agora de negociar isso, como nossas imagens aparecem. E acho que esse é o sentido dessa residência, sabe? Entender a formação da imagem, a construção da narrativa imagética e o domínio das ferramentas.
Trecho do depoimento de Denilson Baniwa à jornalista Fernanda Maldonado (SEEC/PR) no contexto do projeto Retomada da Imagem
Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Xetá e Nycolas André Paraná Pereira em visita às exposições do Museu Paranaense. Etapa do museuateliê, Retomada da Imagem, novembro de 2021.
“VOU LEVAR ESTA FOTOGRAFIA DELA PARA OS MEUS FAMILIARES”
depoimento de Juliana Kerexu
15 DE JANEIRO DE 2022
Quando a gente chegou aqui para as atividades do museu-ateliê e foi vendo as fotos para usar, fiquei muito emocionada. Até hoje me vem muito essa memória. Porque, há muito tempo, a história com minha avó... Ela se foi muito cedo, fez a passagem quando eu tinha de 11 para 12 anos, voltou para a terra sem males, mas, de alguma forma, tudo — o ensinamento, todas as falas, todas as memórias que hoje carrego dela — vai se conectando. De alguma forma, ela vai se encaixando neste momento de caminhada.
Quando a gente começou a abrir aquelas imagens eu vi minha avó, vi meus tios pequenos, vi minha tia, que já tem dois filhos e hoje mora junto com a gente. Um bebezinho. E a gente tinha perdido todas as nossas fotos e imagens, porque a nossa casa queimou duas vezes. Então, tudo que era de memória física, fotos, a gente não tinha. Quando a gente começou a abrir, apareceu a minha avó com a minha tia caçula no colo. Na outra imagem ela está com meu avô de consideração — era o esposo dela, falecido também, e os três filhinhos, que são os meus tios. Então, essa imagem da família que estava ali é a memória que eu carrego. A memória que os meus filhos... [Se emociona] Desculpa...
A caminhada que ela (a minha avó) sempre fez questão de me colocar — de alguma forma, ela viu tudo isso antes de mim. Vivi pouco tempo com ela,
quando ela ainda estava bem, depois foi ficando bem mais fraquinha. Ela foi parteira, sempre lidou muito com crianças, com as mulheres, com a questão da parteria... E me veio toda essa memória a partir do momento em que olhei aquela imagem ali, que estava perdida no meio de tantas outras.
Os outros também são histórias. Os outros também são memórias de várias outras pessoas. Talvez essas pessoas não saibam que essas imagens, que essas lembranças, que essas memórias, muitas vezes guardadas lá no fundo, estão em algum lugar. Então, quando vi isso, me vieram nítidas essas conexões.
Minha avó me falava que muitas vezes a gente não iria conseguir entender qual é o propósito da nossa existência aqui, mas existe também essa energia — nós, povos indígenas, sabemos muito bem como nos conectar com ela. Minha avó sempre me falava isso. Então parecia que eu estava ouvindo ela de novo. Foi muito forte para mim. Ainda está sendo muito forte.
Vou levar esta fotografia dela para os meus familiares, porque eu ainda não contei para eles. Só falei para a minha mãe, mas ainda não mostrei. Mas, hoje, os bisnetos e os mais novos não conhecem minha avó, não sabem como ela era. Vão poder ver. Mas a gente sempre a mantém muito viva através dessa sabedoria que ela passou.
Depoimento de Juliana Kerexu gravado no contexto do projeto Retomada da Imagem
Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
“DEVE HAVER ALGUMAS DESSAS FOTOS, ATÉ MINHAS, EM ALGUM LUGAR...”
depoimento de Lucilene Wapichana
15 DE JANEIRO DE 2022
Estou participando da exposição “Retomada da Imagem”, no MUPA. Estou aqui para contar alguns passos desde a construção do ateliê aberto, que para mim foi muito importante, porque fui convidada para participar, não estando presente nas imagens daqui, do povo do Paraná, das comunidades do Paraná, mas a história se repete.
Desde antes, quando eu morava na comunidade, alguns visitantes, missionários e padres iam até a comunidade e tiravam muitas fotografias. Eu não entendia direito o que era, mas, participando deste trabalho, isso veio muito à minha memória. Vendo as fotografias vieram muitas lembranças. Então, quando eu era criança, tinha curiosidade de olhar aquelas pessoas com aquelas máquinas — eram enormes — penduradas no pescoço e fazendo fotos. Às vezes eu ia lá e pegava na máquina, ficava olhando em volta, sorrindo... Depois eles mostravam uns monóculos com umas fotos pequenininhas lá dentro. Eu era criança e achava aquilo tudo muito engraçado.
Então, olhar esse trabalho, assistir aos parentes, acompanhar e observar as fotografias me fez pensar que deve haver algumas dessas fotos — com imagens até minhas mesmo, dos meus parentes, da comunidade (avós, tios, mãe, irmãos) — em algum lugar por lá, ou até no mundo mesmo, porque a maioria dessas pessoas que vinham não era do Brasil, eram americanos que iam até a comunidade. E, olhando aqui este trabalho, fiquei nesse pensamento, lá e cá, e isso tudo eu revivi e me emocionei muito...
Depoimento de Lucilene Wapichana gravado no contexto do projeto Retomada da Imagem
Lucilene Wapichana. Encerramento da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
[MP.800]
Cartão postal com fotografia tirada em 1894 mostra indígena Makuxi com Borduna. Acervo Museu Paranaense.
ACESSO ACERVO
Lucilene Wapichana e Roseane Cadete Wapichana carregam Borduna Wapichana no Rio de Janeiro, 2021. Fotografia. Arquivo pessoal de Gustavo Caboco.
Gustavo Caboco
“RETOMAR
É REAVER ALGO QUE JÁ ERA E JÁ FOI TEU.”
depoimento de Camila dos Santos
Sobre “Retomada da Imagem”, é muito importante a gente estar aqui. Eu estava falando isso há pouco, que estar dentro do museu, para mim, é difícil. É muito difícil porque, como a gente já conversou, tudo que está aqui não são peças. São vidas, são histórias, são trajetórias. Mas, eu agradeço aos nossos ancestrais por hoje a gente estar aqui, porque eles tiveram uma caminhada dolorosa. Graças a eles, nós estamos aqui hoje. Agora podemos escolher o modo como vamos fazer a nossa caminhada, trazer tudo isso. Estar aqui é um momento e um lugar de alcance muito grande...
Existem várias lutas indígenas, várias lutas do povo negro. Não é só um movimento indígena, são várias frentes — das mulheres indígenas, movimento de retomada, movimento da soberania alimentar, tudo isso. Então, estar na universidade é uma retomada; estar dentro do museu, hoje, fazendo esse trabalho de reconhecimento — ver o que tem aqui, o que a gente se entende com aquilo do modo como é colocado... Porque tudo, até hoje, foi feito através de uma perspectiva branca. Por isso, a importância de estarmos nesses espaços: pra gente formar antropólogos, arqueólogos, advogados, médicos, todos os meios profissionais. E mostrar que a gente é capaz, porque se a gente for falar de tecnologia... Já temos a nossa tecnologia indígena há muito tempo. Quando você vai tirar uma taquara pra destalar e fazer uma cestaria, isso é tecnologia.
[...] Quando cheguei para as atividades do museu-ateliê e fui olhando as fotos com a Indiamara, a gente foi se sentindo à vontade, a gente já foi se reconhecendo, já foi falando e aquilo estava tão leve. E, depois que fui para casa, fiquei pensando em todos os momentos... Que nem a foto que falei que quero levar para a mulher que mora lá em Mangueirinha
— não conheço ela, mas sei que mora lá, então vou dar um jeito de encontrá-la.
Retomar é reaver algo que já era e já foi teu. Então, é o que sempre falo — hoje este museu está aqui, mas foi construído em cima de um território em que os Kaingang já andavam. E os Kaingang em si são bem… como posso falar? Empoderados quanto ao território. Se você pesquisar, verá que eles ocupam, mesmo. Então, isso aqui era a passagem deles e vai continuar sendo.
Acho que estar dentro do museu olhando essas fotos é uma dualidade. Foi legal olhar ali e reconhecer, mas foi, ao mesmo tempo, uma coisa agoniante, porque eu nem sei se eles sabem que algumas fotos deles estão aqui. E ler as legendas, também. Aquela legenda que vi: “Mulher Kaingang... um dos poucos costumes da mulher carregar o filho nas costas”. E não é um dos poucos costumes, é um de vários, porque acho que a maioria dos povos carrega na tipoia. É uma outra maneira. Acho que aquela legenda foi escrita a partir de uma perspectiva branca. Quem fotografou viu daquela maneira. E a importância de a gente estar neste espaço é para agora escrever, contar a nossa história sob a nossa perspectiva. Porque a gente tem que ter consciência de que nós somos corpos que estamos aqui hoje, que trazemos o espírito, que nosso espírito professa tudo aquilo que traz da nossa ancestralidade e que estar aqui é como se fosse uma extensão de tudo que a gente é. Ali você vai ver um artefato sozinho, mas tenho certeza que se você trouxer a pessoa do povo você nunca mais vai enxergar aquilo só como um artefato ou uma peça. Você vai falar: “Aquele ali é daquele povo, daquela mulher que viveu aquilo, que explicou isso e que deu para sentir quando ela contou aquilo”.
Depoimento de Camila dos Santos gravado no contexto do projeto Retomada da Imagem
15 DE JANEIRO DE 2022
Camila dos Santos e Thaís Krîg. Etapa museu-ateliê Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
“NÃO VOLTAR MAIS ATRÁS”
depoimento de Indiamara Xetá
15 DE JANEIRO DE 2022
Como a Camila falou, para nós, é bem complicado estar neste museu, hoje, porque vemos coisas do nosso povo. Muitos ainda estão vivos e o que está aqui dentro, que é deles, deveria estar com eles, mas não está — ao contrário, está aqui e eles estão lá. Então, acho bem estranho essa maneira de ser assim, sabe? Como veio parar aqui? Foram eles que deram ou será que tomaram deles? Eu fico me fazendo essa pergunta. Meu pai tinha um tembetá e agora está aqui, no museu. Será que foi ele que doou ou tiraram dele? O brinco da minha tia, aquele chapéu que tem ali que o Mã usava... Será que foram eles que deram ou tomaram deles? Isso dá uma revolta, sabia? Ver isso me dá uma coisa bem angustiante. E estar aqui hoje, para mim, também é muito especial. Poder falar o que está certo, o que não está; poder contar a história como é e o que meu pai me contava… Então, para mim, isso é bem importante. E passar isso para os meus filhos, porque eu falo para eles: “Vocês têm que se orgulhar de serem indígenas”. Porque na minha época não tinha isso, esse incentivo, “você é
indígena, você tem que…”. Não! Não tinha isso nem do meu próprio pai. Ele mesmo falava para mim: “Não ensinei nem vocês a falarem a língua. Hoje eu me arrependo”. Podia estar falando.
Nossa, eu podia falar muito bem! Mas não, isso não aconteceu. Então, eu falo para eles: “Vamos tentar”. Tanto que a gente está na escolinha que é da língua Guarani, que é a mais próxima do Xetá. A gente tem que se esforçar. Pelo menos é a mais próxima que tem. Não vai aprender o Xetá, mas vai aprender essa aqui. Muitas coisas, muitas palavras são as mesmas do Xetá.
Então eu acho que a gente tem que se esforçar, eu estou nessa luta e espero continuar. Não voltar mais atrás. E eu, como mulher — uma mulher Xetá —, me sinto orgulhosa de estar aqui hoje, porque a gente sempre foi barrado de todos os lados.
Depoimento de Indiamara Xetá gravado no contexto do projeto Retomada da Imagem
Indiamara Xetá, Juliana Kerexu e Camila dos Santos. Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana.O que falaram de nós? O que falamos por nós?, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
CAPÍTULO II
EXPOSIÇÃO:
RETOMADA DA IMAGEM
NO MUSEU PARANAENSE
Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
RETOMADA DA IMAGEM
Giselle de Moraes e Josiéli Spenassatto
TEXTO DA EXPOSIÇÃO
Das centenas de fotografias que integram o acervo do Museu Paranaense, a fotopintura Sem título, de autoria desconhecida, produzida no início do século XX, desencadeou inquietações que marcaram as conversas realizadas no projeto Retomada da imagem. Nos encontros, entre agosto e novembro de 2021, os artistas indígenas Denilson Baniwa e Gustavo Caboco relacionaram a imagem ao contexto atual, marcado pelas várias manifestações indígenas contra o Marco temporal. Na combinação entre os elementos chuva e raio, Tandó significaria arco-íris — sugerindo que mesmo tempos turbulentos podem reservar alguma surpresa positiva. Outra reflexão em torno dessa fotopintura apontou para o aparente desconforto que a figura demonstra, denunciada por suas mãos que entrelaçam o corpo e a expressão de seu rosto. Junto a essa imagem, algumas outras se somam. O retrato de um homem Xavante. A cena inquietantemente legendada “Como o índio sóbe no pinheiro para colher pinhão”. Três sujeitos Xetá sentados, tendo ao fundo o antigo aquário do Passeio Público em Curitiba. Imagens e legendas como essas mobilizaram os artistas e equipe do Museu a pensarem sobre o contexto de produção dessas fotografias e os sentimentos dos sujeitos retratados, bem como dos convidados no contato com elas.
Há 145 anos o Museu Paranaense fala sobre os mais variados povos indígenas — Karajá, Xetá, Bororo, Laklãño-Xokleng. São 145 anos informando diferentes gerações onde e como essas pessoas vivem, qual língua falam, de que forma se adornam. As fotografias, produzidas por agentes do museu e outros autores, são de diferentes momentos do século XX, mas todas apresentam como pano de fundo o pressuposto do “processo civilizatório” da humanidade, modelo sobre o qual as imagens — manipuladas — dos corpos indígenas poderiam dar testemunho, ora de afastamento, ora de aproximação: construções iconográficas para comprovar o colapso dos
povos e suas culturas frente à homogeneização ocidental, ou para comprovar a “selvageria”. Esses objetos, expostos em contextos variados, ajudaram a humanizar ou a reforçar o estereótipo do que é ser indígena?
O projeto Retomada da Imagem inscreve-se no esforço desta instituição em fazer diferente: promover o encontro entre sujeitos indígenas e essas imagens, ouvir o que o encontro suscita, para a partir disso assumir uma nova postura frente ao seu acervo e práticas expositivas. Falar e mobilizar esse acervo com os indígenas.
O impulso por vasculhar as “gavetas empoeiradas” de museus como este vêm da contundente atuação dos artistas indígenas contemporâneos no Brasil que, absorvendo arquivos e acervos em seus trabalhos, demonstram uma vontade de reescrita da história. Ao acessarem o que Achille Mbembe aponta como lugares que guardam “fragmentos de vidas e pedaços de tempo, sombras e pegadas inscritas em papel”, esses artistas reivindicam autonomia no discurso sobre si e seu povo.
A exposição Retomada da Imagem conta com um conjunto de criações artísticas em painéis e nas paredes, realizadas no encontro presencial de Caboco e Baniwa, com Camila dos Santos e Thais Krīg (Kanhgág), Indiamara e Nycolas Paraná (Xetá), Juliana Kerexu, Ricardo Werá, Flávio Karai e Elida Benites (Mbyá-Guarani) e Lucilene Wapichana (Wapichana) em novembro de 2021. No centro da sala, encontram-se algumas das fotografias do acervo, que espelhadas nas produções artísticas se transformam, trazendo outras inscrições, palavras, nomes e o avizinhamento com diferentes elementos, permitindo leituras outras.
Instituições como o Museu Paranaense, que ajudaram a informar a lógica colonial que objetifica corpos subalternizados — negros e indígenas —, precisam tomar para si a tarefa de contribuir para reverter esse padrão.
Exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
TRANSFORMAR O MUSEU EM ATELIÊ
Exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
Indiamara Xetá, Lucilene Wapichana e Gustavo Caboco. Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
SOMOS
fala de abertura de Juliana Kerexu
16 DE DEZEMBRO DE 2022
SOMOS FILHOS E FILHAS DESSA MÃE CHAMADA “MÃE TERRA”.
SOMOS O VERMELHO FORTE DO URUCUM, USADO PARA PINTAR OS CORPOS, EM FORMAS DE LINHAS QUE FORMAM GRAFISMOS, QUE VÊM CARREGADOS DE HISTÓRIAS, UMA LINHA LIGADA À “ANCESTRALIDADE”.
SOMOS O PRETO RESPLANDECENTE DO JENIPAPO MISTURADO COM O CARVÃO PARA COBRIR OS CORPOS EM FORMA DE VÁRIOS GRAFISMOS, CADA UM COM SEUS SIGNIFICADOS, CADA UM SE LIGANDO AO OUTRO.
SOMOS TODOS E TODAS QUE NOS ANTECEDERAM PARA ESTARMOS AQUI. SOMOS VOZES, SOMOS CORPOS. SOMOS O VERDADEIRO SINÔNIMO DE FORÇA E RESISTÊNCIA.
SOMOS TODOS, SOMOS TUDO. SOMOS POVOS ORIGINÁRIOS, CHAMADOS DE “ÍNDIOS”, SEM ALMA, “SELVAGENS”!
SOMOS OS GUARDIÕES DESTA “TERRA CHAMADA BRASIL”!
Juliana Kerexu e público. Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
A RETOMADA E A IMAGEM
fala de abertura de Camila dos Santos
16 DE DEZEMBRO DE 2022
Estar aqui neste espaço é uma mistura de dor, presença, conquista e alegria.
Dor: pois tudo que está aqui neste Museu resultou de uma dor de morte para nossos povos; e que, se não fosse dolorido, os artefatos não estariam aqui e sim com a gente.
Presença: porque existimos e estamos aqui neste momento, nos fazendo presentes e expressando de várias formas o contato com essa dor.
Conquista: acontece que conseguimos quebrar algumas barreiras, embora não sejam todas (ainda), pois são muitos os resultados da colonização.
Alegria: sabe, apesar dessa dor e de saber que temos que conquistar algo ou algum espaço e mostrar a nossa presença (a nossa existência), somos alegres. Carregamos conosco o respeito por sermos seres diferentes. Somos apenas um ser no meio de tantos outros na soberania da natureza e do universo. Trazemos conosco o acolhimento de receber em nossos territórios um outro povo que chegou aqui e nem sabia caminhar ou se alimentar neste continente.
Mantemos os nossos costumes, línguas e modo de viver porque isso é a nossa raiz e nos manteremos assim em qualquer contexto. Contribuímos com cada etapa de construção deste país, sobretudo com a medicina e a tecnologia ancestral, saberes tradicionais.
Retomada.
Retomada de território; Retomada de fala; Retomada de espaços; Retomada de Saberes;
Retomada de Imagem.
Gostaria que esta exposição pudesse virar uma chave para cada pessoa que se propôs a estar aqui com a gente e que quando vocês voltarem pra casa possam definitivamente avaliar a responsabilidade que é estar neste plano e a função da existência de cada um.
Somos corpos que carregam um espírito, que transcende milênios de luta e ancestralidade. Somos identidade e extensões das nossas aldeias.
Somos dor, somos presença (existência).
Somos conquista e somos, acima de tudo: alegria.
Camila dos Santos. Etapa museu-ateliê Retomada da Imagem, Museu Paranaense, novembro de 2021.
TRANSFORMAR O MUSEU EM ATELIÊ
(p.86 e 87)
Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
TRANSFORMAR
[Organização de] Indiamara Xetá e Nycolas André Paraná Pereira. Retomada da história Xetá. Somos resistência e sempre estivemos aqui, 2021. Desenho e escrita sobre madeira, fotografia e objetos tridimensionais. Instalação. [Detalhe]. Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense.
(p.89, a partir do topo)
Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
Legenda atualizada, 2021. Escrita sobre madeira.
TRANSFORMAR O MUSEU EM
Legenda atualizada, 2021. Escrita sobre madeira.
Legenda antiga Mauro Giller. Povo Mbyá-Guarani — Tekoa Pindoty, Ilha da Cotinga, Paranaguá, Paraná. Sem título [Família do cacique Guarani], 1989 Acervo Museu Paranaense.
TRANSFORMAR O MUSEU EM ATELIÊ
[MP.7414] [ MP.7414
Denilson Baniwa e Gustavo Caboco. Escaping Massakre, 2021 Técnica mista. Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense.
Os letreiros, feitos por Vladimir Kozák para animação de seus filmes etnográficos-educativos durante as décadas de 1940 a 1970, foram apropriados pelos artistas nessas montagens que integram a exposição.
Re-encontros: Como o povo Ka’apor veio parar no Paraná?,2021
Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Pé wapichana no acervo do Museu Paranaense, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Olhai por nós?, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Eu sou kába: a forma da memória, 2021 Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Imagem dentro: portais ao presente/ re-encontros Guarani, Xetá, Kaingang, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. KakrênKin, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. O que falaram de nós? O que falamos por nós?, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa, Gustavo Caboco, Camila dos Santos, Thaís Krîg, Indiamara Paraná, Nycolas André Paraná Pereira, Juliana Kerexu, Elida Benites, Ricardo Werá, Flavio Karaí, Roseane Kerexu Mirim Mariano, Lucilene Wapichana. Nós somos raízes profundas, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Denilson Baniwa. Sem título [retrato de Gustavo Caboco], 2021 Fotografia.
(p.113, a partir do topo)
Denilson Baniwa
Sem titulo [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Denilson Baniwa], 2021 Fotografia.
Gustavo Caboco. Sem título [retrato de Juliana Kerexu], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa. Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano], 2021. Fotografia.
(p.118, a partir do topo)
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Ricardo Werá], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa
Mercúrio [retrato de Gustavo Caboco], 2021. Fotografia.
(p.117, a partir do topo)
Denilson Baniwa
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano, Elida Benites e Denilson Baniwa], 2021. Fotografia.
[Organização de] Indiamara Xetá e Nycolas André Paraná Pereira. Retomada da história Xetá. Somos resistência e sempre estivemos aqui, 2021. Desenho e escrita sobre madeira, fotografia e objetivos tridimensionais. Instalação.
Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense
Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
“RETOMADA” NÃO É UM PROCESSO FÁCIL.
Depoimento de Denilson Baniwa
15 DE JANEIRO DE 2022
No sentido de “Retomada”, pra deixar uma imagem para vocês pensarem: pegando “retomada” de território físico de aldeia, de lugar, ela se baseia em uma reapropriação de um território tomado de nós. E o que acontece quando você reapropria um território? Ou um espaço? Você vai chegar e vai ter coisas feitas ali que não te representam, que não representam a cultura Guarani, Xetá, Kaingang, Baniwa, Wapichana, de nenhum povo. E esse povo, retomando esse território, vai refazer as coisas a partir do que está ali, do que foi destruído ou do que foi construído.
A retomada pela imagem, que a gente fez aqui, é isso. Existem acervos no mundo inteiro que retratam populações indígenas. Esses retratos são importantes de diversas maneiras. São importantes, inclusive, para a gente ver uma fotografia e observar um item cerimonial que talvez a gente não faça mais e, olhando ali, ativar uma memória ancestral, que a gente queira refazer aquilo de novo. Mas existe também todo um contexto social e político que essas imagens acabam transmitindo para a sociedade, uma visão sobre povos indígenas que é irreal. Ou que foi real em algum momento histórico, mas que não é agora.
Revisitar essas imagens nos dá a possibilidade de refazer algumas coisas: às vezes, tirando um pedaço, como a gente fez com as imagens, recortando; às vezes, acrescentando outros pedaços, como a Indiamara fez aqui, atualizando esse registro, para mostrar que existiu todo um tempo em que
fomos expropriados do direito à nossa própria imagem, mas hoje temos possibilidade de retomar esse discurso para a gente — e transformá-lo.
Enfim, passamos alguns meses trabalhando on-line nesse projeto, pensando, até chegar o momento em que abrimos para o museu que eu e o Gustavo não seríamos capazes, nem responsáveis, nem talvez autorizados a trabalhar com acervo que não tem Wapichana nem Baniwa.
Falamos: “Olha, a gente precisa chamar pessoas que pertençam a essas imagens, que têm pertencimento, que se identifiquem com essas imagens”. Até a gente chamar todo mundo para conversar e perguntar: “Vocês estão dispostos a trabalhar com isso assim?”. Porque é pesado demais. “Retomada” não é um processo fácil. É um processo de enfrentamento. É um processo de perigos. Uma retomada física tem perigos de morte, de ferimento. E uma retomada mais abstrata como essa tem perigos de trazer traumas e violências que a gente nem sabia que tinha, porque ficaram tão profundos no nosso espírito que a gente não desconfiava que tinha. E aí, ver uma imagem é um gatilho de várias coisas. Então “Retomada”, em todos os sentidos, é difícil, é complicado, mas a gente sabe que também é necessário. É preciso enfrentar isso para que algumas feridas se curem melhor do que foram cicatrizadas.
Trecho de fala proferida por Denilson Baniwa durante encerramento da exposição Retomada da Imagem, em 15 de janeiro de 2022.
Denilson Baniwa. Abertura da exposição Retomada da Imagem, Museu Paranaense, dezembro de 2021.
SOMOS CORPOS
QUE CARREGAM
UM ESPÍRITO, QUE TRANSCENDE MILÊNIOS
DE LUTA E ANCESTRALIDADE. SOMOS IDENTIDADE E EXTENSÕES DAS NOSSAS ALDEIAS.
SOMOS DOR, SOMOS PRESENÇA (EXISTÊNCIA). SOMOS CONQUISTA E SOMOS, ACIMA DE TUDO: ALEGRIA.
SOBRE OS ARTISTAS
Gustavo Caboco Wapichana
nascido em Curitiba, Roraima. (1989). Artista visual Wapichana, trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra. Sua produção com desenho-documento, pintura, texto, bordado, animação e performance propõe maneiras de refletir sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e sobre a produção e as retomadas da memória. Dedica-se também à pesquisa autônoma em acervos museológicos para contribuir na luta dos povos indígenas.
Denilson Baniwa
nasceu em Mariuá, no Rio Negro, Amazonas. Sua trajetória como artista teve início ainda na infância, a partir das referências culturais de seu povo. Na juventude, ele se engajou na luta pelos direitos dos povos originários e transitou pelo universo não-indígena, apreendendo referenciais que fortaleceriam sua resistência. É um artista antropófago, pois apropria-se de linguagens ocidentais para descolonizá-las em sua obra. Em sua trajetória contemporânea, consolida-se como uma referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional.
Camila dos Santos
é uma das lideranças da aldeia Kakané Porã (Paraná) e pertence ao povo Kanhgág. Graduanda no curso de ciências sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR), é também pesquisadora no projeto Ecologia de Saberes, artesã e uma das colaboradoras da Mídia Índia Oficial. Atualmente vem se descobrindo como artista participando de projetos com outros indígenas no Brasil.
Juliana Kerexu
é Mbyá-Guarani e chefia a aldeia Tekoa Takuaty, situada na Ilha da Cotinga, no município de Paranaguá, litoral paranaense. É defensora dos saberes tradicionais, da cultura, da arte indígena, bem como do direito das mulheres. É conhecida por lutar por uma maior visibilidade das mulheres indígenas no sul do Brasil.
Indiamara Luiz Paraná Pereira
é do povo Xetá, filha de duas lideranças que lutaram pelas causas indígenas: Belarmina Luiz Paraná e Tuca Namba José Paraná. Ela faz parte da comissão da aldeia Kakané Porã, primeira aldeia urbana do Sul do país, situada na cidade de Curitiba.
Lucilene Wapichana
é cientista social e filha de Maria Luiza Cadete, da comunidade do Canauanin (RR). Aos 10 anos de idade, iniciou o projeto Pororoca Wapichana e, em 2001, realizou o “retorno à terra”, com seus dois filhos. A extensão Wapichana e as colaborações com seu filho Gustavo estão bordados nas obras Manto da terra (2016) e Fronteira Wapichana (2019). Em 2020, participou de performance do circuito de galerias da 14a Bienal de Curitiba, intitulados Fronteiras em aberto e Fios de ancestralidade, além da exposição Netos de Makunaimî, no Museu de arte da UFPR (MusA).
Flavio Karaí Papa Timóteo
é do povo Mbyá-Gurani e atua como vice-cacique da Aldeia Tekoa Takuaty na Ilha da Cotinga, no município de Paranaguá/PR, também como artista e artesão. Natural de Tenente Portela/RS, foi pequeno para a Aldeia Ka'aguy Porã na cidade de Andresito, região de Misiones, Argentina. Voltou para o Brasil aos 24 anos, e desde então participa dos movimentos de luta em defesa dos direitos dos povos originários. Já trabalhou na aldeia do Morro dos Cavalos/SC como tradutor indígena, e atua em prol da proteção do território e o meio ambiente, sendo considerado um Xondaro (Guerreiro).
Ricardo Werá Mariano
desenha, esculpe em madeira, canta, faz parte do coral Nhe’ê Porã, da aldeia Tekoa Takuaty, na Ilha da Cotinga, em Paranaguá (PR). Filho mais velho de uma mulher que luta pela proteção da cultura Mbya-Guarani, pelo espaço e pela voz das mulheres indígenas, foi artista convidado na exposição Netos de Makunaimî, no MusA (2020).
Elida Benites
Elida Benites é uma jovem liderança do povo Mbyá-Guarani. Atua como artesã e como fotógrafa e comunicadora da Comissão Guarani Yvyrupa. É defensora dos direitos dos povos indígenas e agitadora da arte e cultura Mbyá.
Thais Krîg [filha de Camila]
Roseane Kerexu Mirim Mariano [filha de Juliana e Flávio]
Retomada da Imagem 2, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Onde está o seu cordão umbilical, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
O nosso início, nossa cura, 2021 Acrílica e colagem sobre tela.
Pé wapichana no acervo do Museu Paranaense, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Olhai por nós?, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Eu sou kába: a forma da memória, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Imagem dentro: portais ao presente/ re-encontros Guarani, Xetá, Kaingang, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
KakrênKin, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
O que falaram de nós?
O que falamos por nós?, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Nós somos raízes profundas, 2021. Acrílica e colagem sobre tela.
Somos árvores andantes, 2021. Técnica mista.
Vidas indígenas importam!, 2021. Técnica mista.
Gustavo Caboco, Denilson Baniwa
Re-encontros: Como o povo Ka’apor veio parar no Paraná?, 2021 Acrílica e colagem sobre tela.
[Organização de] Indiamara Xetá e Nycolas André Paraná Pereira.
Retomada da história Xetá. Somos resistência e sempre estivemos aqui, 2021. Desenho e escrita sobre madeira, fotografia e objetivos tridimensionais. Instalação. Acervo utilizado: Coleção Vladimir Kozák, Museu Paranaense
Lucilene Wapichana
Retratar retratos, 2021. Tecido.
Denilson Baniwa
Sem título [retrato de Gustavo Caboco], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa
Sem titulo [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa
Mercúrio [retrato de Gustavo Caboco], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano e Elida Benites], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Denilson Baniwa], 2021. Fotografia
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Juliana Kerexu], 2021. Fotografia.
Denilson Baniwa
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Ricardo Werá], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Sem título [retrato de Roseane Kerexu Mirim Mariano, Elida Benites e Denilson Baniwa], 2021. Fotografia.
Gustavo Caboco
Escaping Massakre, 2021. Técnica mista.
ACERVO FOTOGRÁFICO
MUSEU PARANAENSE
Autoria desconhecida
Povo Kanhgág, Paraná, Brasil. Sem título [Mulher carregando criança], década de 1980. Ao redor da imagem consta o seguinte texto: Uma das poucas tradições: carregar os filhos nas costas. Coronel Vivida, 11-02-80, Índios Mangueirinha. Fotografia.
Mauro Giller
Povo Mbyá-Guarani - Tekoa Pindoty, Ilha da Cotinga, Paranaguá, Paraná. Sem título [Família do cacique Guarani], 1989. Fotografia.
Autoria desconhecida
Sem título [Tandó], 1903. Fotopintura.
COLEÇÃO VLADIMIR KOZÁK, ACERVO MUSEU PARANAENSE
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Tuca Xetá e Vladimir Kozák], década de 1950.
O indígena Tuca Xetá posa para foto segurando dois animais caçados na mata ao lado de Vladimir Kozák. Em 1953, o menino Anambu Guaká foi capturado na floresta dos Dourados por colonizadores. Batizado com o nome de Tucanambá José Paraná, Tuca tornou-se guia bilíngue nas expedições de contato e pesquisa. Fotografia.
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Retrato de Vladimir Kozák com Tuca Xetá], s.d. Fotografia.
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil
Sem título [Tuca Xetá criança], década de 1950. Fotografia.
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Ritual de cura], década de 1950. Fotografia.
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Menina à com brinco de plumária], 1955. Fotografia.
Vladimir Kozák
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Menina à e agente do SPI], 1955. Fotografia.
ACERVO TRIDIMENSIONAL MUSEU PARANAENSE
Autoria desconhecida
Povo Xetá - Serra dos Dourados, Paraná, Brasil
Chapéu. Couro de onça.
Autoria desconhecida
Povo Xetá - Serra dos Dourados, Paraná, Brasil.
Adorno Auricular, s.d. Plumagem composta de ave e fibra de bromélia.
Jacó Cesar Picolli
Povo Xetá, Paraná, Brasil. Sem título [Tuca em casa de madeira], década de 1970. Fotografia.
Retomada da Imagem / textos de Gustavo Caboco, Denilson Baniwa, Josiéli Andréa Spenassatto … [et al.] ; revisão de Mônica Ludvich e Beatriz Castro. - Curitiba, PR : Museu Paranaense, 2024. 140 p. : il. ; 24,5 x 18 cm.
Período expositivo: 16 de dez. de 2021 a 16 de jan. de 2022.
ISBN 978-65-981850-4-6
1. Museu Paranaense - Catálogos.
2. Indígena - História. 3. Arte indígena - Exposições.
4. Indígenas - Usos e costumes - Exposições.
5. Fotografia - Indígenas - Exposições. 6. Antropologia. I. Caboco, Gustavo. II. Baniwa, Denilson. III. Spenassatto, Josiéli Andréa. IV. Ludvich, Mônica. V. Castro, Beatriz. VI. Título.