Sax & Metais #24

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SAX&METAIS•2009•Nº 24•R$ 8,90

A REVISTA PARA QUEM TOCA E AMA INSTRUMENTOS DE SOPRO

AULA DE MÚSICA

Por que um bom músico nem sempre é um bom professor

TÉCNICAS DE RESPIRAÇÃO Execute as peças sem precisar parar para respirar!

MILTON GUEDES EXCLUSIVO “Tive dificuldade em me admitir como um profissional do sax”

GUIA PRÁTICO DO

TESTAM

Flauta tran OS Armstrongsversal 104 “Exc elente resp passagens osta em rápidas”

Boquilh

“Timbre av a Meyer 5M eludad mais densa o e sonoridade e jazzística”

IMPROVISO Decifre os mistérios dos ciclos das quintas e amplie sua criatividade musical com base em teoria, técnica e harmonia

7 DICAS ESSENCIAIS PARA CONSERVAÇÃO DE TROMPETES E TROMBONES




índice edição 24

ESPECIAL

Tributo a J. T. Meirelles

TÉCNICA

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Confira os detalhes do show em homenagem ao grande músico João Theodoro Meirelles, o J. T.

18

Renato Farias

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32 5 MINUTOS COM

Rodrigo Ursaia O saxofonista que reside em Nova York fala sobre sua carreira e trabalhos na Big Apple 4

SAX & METAIS

8 CARTAS 38 ANÁLISES Flauta transversal Armstrong 104 Boquilha Meyer 5M Sax Alto 40 VITRINE

Aprenda a estudar unindo técnica e pensamento, expandindo sua mente por meio dos ciclos de quintas e quartas

41 REVIEWS – CDs

Trompetes e trombones Aprenda a cuidar de seu instrumento com as dicas do luthier Araken Busto, direto do Atelier de Sopros Yamaha

Presidente da Associação Brasileira de Trombonistas com experiência em diversos musicais montados em São Paulo

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6 EDITORIAL

Guia prático do improviso

DICAS DE MANUTENÇÃO 5 MINUTOS COM

SEÇÕES 10 LIVE!

MATÉRIAS 16

40 Vitrine

18 Renato Farias 20 Rodrigo Ursaia

Milton Guedes

CAPA

32

50 CLASSIFICADOS

WORKSHOPS 42 Gabriela Machado FLAUTA Sonoridade: prática e aplicação I

CAPA

45 Rodrigo Bento TÉCNICA

Autodidata, o multi-instrumentista já acompanhou diversos artistas no Brasil e conquistou seu espaço pelo talento. Lançou recentemente o CD Certas Coisas

46 Marcelo Monteiro FLAUTA

Milton Guedes

Respiração contínua (circular) O pife do Biu

48 César Roversi SAXOFONE Samba no pé, samba no dedo



c a r t a a o l e i t or

A música como

lembrança A

vida passa tão depressa, nossas ideias vão mudando, aprendemos a ouvir determinadas coisas em detrimento de outras, mas uma coisa é certa: tudo aquilo que ouvimos nos influencia de alguma maneira, direta ou indiretamente. Comecei esta carta puxando para o lado um tanto filosófico porque, ao fazer esta matéria de capa com o músico Milton Guedes, lembrei de muitas coisas lá do início da década de 1990. Dos amigos, das viagens, da música, e me dei conta de que o sax de Guedes, o seu som, foi um dos responsáveis por meu início no saxofone. Na época, eu já tocava flauta e estava começando a me interessar pelo som do sax. Milton Guedes tocava com Oswaldo Montenegro. Havia uma música em uma novela da TV Globo que fez muito sucesso, Lua e Flor, em que Milton assoviava e fazia um lindo solo de sax alto. Filosofias e lembranças à parte, muita coisa aconteceu na vida de Milton Guedes. Tocou com diversos artistas e tem sua carreira consolidada, conforme você poderá conferir nas páginas de nossa revista. Nesta edição, estreia um novo colaborador. A internet é mesmo o máximo, o que seria de nós sem ela? Pois foi na rede que encontrei Wagner Barbosa, músico muito talentoso e que também é professor e cuida de um blog para discutir assuntos ‘saxofonísticos’. Vamos aprender a estudar, pessoal! Em sua primeira colaboração, Wagner nos ensina a unir técnica e pensamento. Confira! Foi com muita satisfação que tive a oportunidade de entrevistar o músico J. T. Meirelles para uma matéria de capa, lá na edição 6 da nossa revista. Gostaria, na verdade, de estar divulgando seus novos trabalhos, porém o músico nos deixou há pouco mais de um ano. Mas não vamos esquecê-lo, o.k.? Confira os detalhes dos shows em homenagem a Meirelles e os Copa 5, que ocorreram em São Paulo e no Rio de Janeiro, produzidos por Carmem Guimarães. Nas entrevistas do mês, conheça Renato Farias, trombonista presidente da Associação Brasileira de Trombonistas e o saxofonista Rodrigo Ursaia, músico que reside em Nova York desde 2000 e conta como andam os trabalhos por lá. Estude, aprenda e, principalmente, divirta-se. Até a próxima!

Milton Guedes: vencendo pelo talento

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SAX & METAIS

EDITOR / DIRETOR Daniel A. Neves S. Lima EDITOR-CHEFE Rogério Nogueira MTB: 43.362 SP EDITORA TÉCNICA Débora de Aquino DIREÇÃO DE ARTE Alexandre Braga REVISÃO Hebe Ester Lucas DEPARTAMENTO COMERCIAL Carina Nascimento e Eduarda Lopes ADMINISTRATIVO / FINANCEIRO Carla Anne ASSINATURAS Barbara Tavares assinaturas@musicaemercado.com.br Tel.: (11) 3567-3022 IMPRESSÃO E ACABAMENTO Vox Editora FOTOS Dani Gurgel, Gabriel Wickbold, Rafael Ianni e Thiago Albuquerque COLABORADORES Araken Busto, Carmen Guimarães, César Roversi, Gabriela Machado, Ivan Márcio, Marcelo Monteiro, Mauro Senise, Robero Sion, Rodrigo Bento e Wagner Barbosa DISTRIBUIÇÃO NACIONAL PARA TODO O BRASIL Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 • Grajaú CEP 20563-900 • Rio de Janeiro • RJ Tel.: (21) 2195-3200 ASSESSORIA Edicase Soluções para Editores SAX & METAIS (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Caixa Postal 21262 • CEP 04602-970 São Paulo • SP • Brasil Todos os direitos reservados. PUBLICIDADE Anuncie na Sax & Metais comercial@musicaemercado.com.br Tel./Fax: (11) 3567-3022 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br editorial@saxemetais.com.br



Workshops Estou aprendendo cada vez mais com os workshops e matérias desta revista. Simplesmente demais, parece que vocês adivinham as minhas necessidades. Adorei e toquei com meu professor o arranjo de Groovin’Hight. Fernando Weffort Curitiba, PR Coleciono a Sax & Metais desde os primeiros números e gosto principalmente dos workshops e matérias técnicas. Só sinto falta de mais assuntos sobre a flauta, que é o meu instrumento, se bem que lendo tantas coisas interessantes já estou pensando em tocar saxofone também. Carlos André Korn Piracicaba, SP

Gerald Albright A Sax & Metais está de parabéns pela entrevista com o Gerald Albright. Ele é simplesmente o ícone do sax alto na atualidade. Seus conselhos para os músicos novos e

cartas

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para editorial@saxemetais.com.br

dicas de estudos para agudíssimos falando até da musculatura bocal foram o máximo, realmente conselhos de um mestre! Junior Ponta Grossa, PR

ficou ainda mais interessante com as dicas de álbuns antigos e importantes de grandes mestres do jazz. Gerson Campos São Paulo, SP

Perfeita a edição 23 com o Gerald Albright na capa. Continuem com o ótimo trabalho. Parabéns! Francisco Pereira Volta Redonda, RJ

Vice-Versa

Reviews Gosto sempre de saber das novidades em lançamentos de livros e CDs, mas a seção

Li o primeiro Vice-Versa com Mauro Senise e Carlos Malta e agora com Teco Cardoso e Léa Freire. É bem legal ver essa troca de opiniões entre os músicos que estão na estrada e são referências para nós. Já estou esperando o próximo. Lilian Alves Niterói, RJ

ORKUT Para saber informações da revista e trocar ideias com outros músicos de sopro, participe da comunidade da Sax & Metais no Orkut – http://www.orkut.com/Community. aspx?cmm=12315174. Já são mais de 2.100 integrantes que enviam comentários sobre instrumentos, músicas, críticas e sugestões para fazer a revista cada vez melhor.

TIRE SUAS DÚVIDAS Estudo sax tenor e há alguns dias comprei um sax alto. Que dicas vocês me dão para eu me desenvolver nos dois, sem que um prejudique o estudo do outro? MOISÉS LEÃO – ORKUT A primeira coisa que você vai perceber é a diferença de embocadura entre o tenor e o alto. No alto a embocadura é um pouco mais ‘mordida’, principalmente nas notas mais agudas. Acredito que na região médio grave você terá bastante facilidade na emissão das notas. Já com as agudas é preciso ter mais cuidado, principalmente na afinação. Confira com um afinador para ver se está tudo ok. No mais, é estudar e ir sentindo as sutilezas entre um e outro. Costumo colocar playbacks de temas de jazz e faço um chorus de improviso com cada instrumento. Dessa forma, além de treinar a embocadura, treino também a mesma música em mais de um tom. Se você não improvisa, toque o tema alternando entre os saxofones. No começo pode demorar um pouco para acertar a embocadura, mas é uma forma bem legal de estudar. POR DÉBORA DE AQUINO – EDITORIATECNICA@SAXEMETAIS.COM.BR

!

CIPE PARTI

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SAX & METAIS

Gostaria de mais detalhes sobre as lições de gaita. Qual o procedimento correto para soprar a gaita, existe alguma técnica? Esses bends, overdraws e overblows são conseguidos somente na cromática? Se não, como posso fazê-los na gaita em dó? ALVES.HSA@HOTMAIL.COM Olá, Alves! Quanto ao sopro, deve ser sempre contínuo e firme, com o diafragma contraído, como se estivesse soprando uma vela sem apagar a chama. Como estava dando continuidade a assuntos que já foram tratados nas últimas edições, não tive o cuidado de explicar o que são bends, já passando exercícios com a utilização da técnica. O bend é a modulação da nota natural para bemol com movimentos de abertura e fechamento da garganta, lábios e diafragma. Podemos sim utilizá-lo na gaita cromática, mas é muito mais usual na gaita diatônica. Overblows e overdraws são técnicas recentes de modulação das notas sopradas e aspiradas em que geralmente não realizamos os bends tradicionais, ou seja, nos orifícios 1, 2, 3, 4, 5, 6 soprados e 7, 8, 9, 10 aspirados. Espero ter ajudado e continue lendo as próximas edições da Sax & Metais. POR IVAN MARCIO – IVANMARCIO@BENDS.COM.BR

A Sax & Metais abre um espaço para você ter suas dúvidas respondidas por profissionais especializados. Encaminhe suas perguntas para o e-mail editoriatecnica@saxemetais.com.br. A revista se reserva o direito de resumir o conteúdo das dúvidas recebidas.



LIVE! Choro em MP3

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Acari Records é a primeira gravadora especializada no mais importante gênero da música instrumental brasileira, o choro. Criada em 1999 pelos músicos Mauricio Carrilho e Luciana Rabello e pelo produtor João Carlos Carino, a companhia tem sede no Rio de Janeiro, cidade onde o choro nasceu há cerca de 140 anos. A gravadora tem por objetivo fazer um registro dos principais compositores e intérpretes do choro em todo o País e em distintas épocas. Além da produção de CDs, a Acari é editora, tendo lançado os Cadernos de Choro e a coleção Princípios do Choro em cinco volumes. A novidade é que o selo está disponibilizando todo o seu acervo musical em MP3, pois alguns álbuns de seu catálogo já estavam esgotados há tempos. Confira em www.acari.com.br.

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

Down Beat Jazz

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tradicional revista de jazz Down Beat promove anualmente entre seus leitores e críticos uma eleição em que premiam os melhores do ano em diversas categorias, como melhor saxofonista tenor, saxofonista barítono, músico, disco, compositor, banda, maestro etc. Este ano, o prêmio de melhor disco ficou com o saxofonista Sonny Rollins, com o álbum Roads Show Vol. 1. O prêmio de artista do ano também ficou com Rollins. Confira algumas outras premiações: ✓ Trompetista: Dave Douglas ✓ Trombonista: Steve Turre ✓ Sax barítono: Gary Smulyan ✓ Sax tenor: Joe Lovano ✓ Sax alto: Lee Konitz ✓ Sax soprano: Wayne Shorter ✓ Clarinete: Don Byron ✓ Flauta: James Moody

Sonny Rollins leva prêmio de melhor disco

Isenção de impostos na importação de instrumentos

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senador Cristovam Buarque divulgou o projeto de lei que fala sobre a isenção dos impostos na importação de instrumentos musicais, bem como de suas partes e acessórios. O projeto de lei do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e prevê que músicos profissionais poderão obter isenção do Imposto sobre Importação na compra de instrumentos musicais. No caso dos músicos, individualmente, a isenção se restringirá a um instrumento a cada cinco anos. Já analisado pela Comissão de Educação, Cultura

e Esporte, o projeto ainda será avaliado, em decisão terminativa, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para depois seguir para a Câmara. Enquanto o projeto não é aprovado, o setor musical está promovendo um abaixo-assinado de apoio ao fim da alíquota de importação. Para participar, acesse www.petitiononline.com/ grpl1205/petition.html. Para conhecer o projeto na íntegra, http:// legis.senado.gov.br/pls/prodasen/prodasen.layout_mate_detalhe. show_integral?t=9076

O choro perde Raul de Barros

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orreu no dia 8 de julho último o maestro Raul Nogueira de Barros (foto), aos 93 anos, em Itaboraí (RJ). Ele sofria de insuficiência renal, tinha um enfisema pulmonar e estava internado no hospital Desembargador Leal Júnior desde 28 de maio. Autor do clássico samba-choro Na Glória, era um dos mais tradicionais trombonistas de gafieira. Já aos 8 anos

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SAX & METAIS

de idade tocava sax horn em bandas. Trabalhou nas rádios Tupi, Nacional e Globo, foi da orquestra da RCA Victor com Pixinguinha, teve sua própria orquestra e gravou 48 discos, a maioria na década de 1960. Criou um estilo chamado hot samba e foi referência para inúmeros músicos e principalmente trombonistas brasileiros. Nossa singela homenagem a este talentoso músico e compositor.


Poços de Caldas Jazz & Blues Festival

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ais um festival de jazz está fazendo parte do calendário anual de eventos do gênero. Ocorreu de 9 a 12 de julho o 2° Poços de Caldas Jazz & Blues Festival, na cidade de Poços de Caldas, Minas Gerais. O destaque do evento ficou mais por conta do blues, com figuras conhecidas do público. No primeiro dia teve apresentação do gaitista Big Chico com sua banda. O encerramento ficou por conta de outro gaitista, Jefferson Gonçalves & Banda. Além dos shows programados, o festival teve ainda as oficinas, nas quais o evento mostrou que também tem por objetivo

estimular o aprendizado musical, oferecendo oportunidade de contato com os instrumentos aos iniciantes por meio de sessões específicas. Os participantes puderam assistir às oficinas de gaita com Big Chico e Jefferson Gonçalves e a um workshop com o escritor Frederico Furtado sobre A vida em jazz – Contos para jazzeificar a vida. No último dia do festival, houve uma jam session ao ar livre, com participação irrestrita de todos os que estiveram no evento. O Poços de Caldas Jazz & Blues Festival já promete sucesso para 2010.

Expomusic 2009 – Prepare-se

O que faço com o meu CD?

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Expomusic é o evento mais aguardado por profissionais da música em geral. Este ano, a feira ocorrerá de 23 a 27 de setembro, sendo que nos dias 23 e 24 estará aberto para profissionais do setor e nos demais dias, aberto para o público em geral. Na feira é possível conhecer os principais lançamentos e produtos das grandes marcas de instrumentos musicais, áudio, iluminação e acessórios, movimentando negócios que representam parcela significativa do faturamento anual do setor, estimulando o desenvolvimento da indústria musical no País. É possível também experimentar e conhecer os instrumentos.

ivro sobre o futuro do CD e da música foi lançado em formato PDF. Com participação de vários profissionais renomados da música, o livro O Futuro da Música Depois da Morte do CD é leitura importante para quem é músico ou trabalha com música de alguma forma. Você pode baixá-lo gratuitamente na internet, pois o livro foi lançado em formato PDF e disponibilizado na rede. Os organizadores Irineu Franco Perpétuo e Sérgio Amadeu da Silveira reuniram nomes como Pena Schmidt, Ricardo Bernardo, André Mehmari, Chico Pinheiro, entre vários outros. Os assuntos tratados no livro giram em torno de música digital, cibercultura e novas tecnologias. Leitura indispensável! Faça o download em www.futurodamusica.com.br

50 Anos de Time Out

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os anos 50, a Columbia Records era a grande gravadora de jazz. Nela estavam Miles Davis, Benny Goodman, Louis Armstrong e Dave Brubeck. Sua missão principal era a popularização do jazz, tratando o assunto como um produto de massa. O pianista Dave Brubeck já havia feito dezenas de discos pela Columbia e sua popularidade era crescente, até que no ano de 1959 veio o ousado LP Time Out. Para a gravação, Brubeck contou com a participação de Paul Desmond, sax alto, Eugene Wright, baixo, e Joe Morello, bateria. O que chama a atenção nesse álbum é a facilidade com que os músicos conseguem suingar em fórmulas de compasso não usuais, do famoso 5/4, de Take Five, ao intrincado 9/8, de Blue Rondo a La Turk. Na época, quando o disco chegou às lojas, a crítica torceu o nariz e achou o trabalho acadêmico e cerebral demais para um álbum de jazz. Porém, as experimentações de Dave Brubeck caíram no gosto do público. Hoje o disco está completando 50 anos e ainda tem o frescor de seu lançamento.

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LIVE! Festival Rio das Ostras

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randes nomes da música contagiaram plateias no 7º Rio das Ostras Jazz & Blues, no Rio de Janeiro. O festival seguiu a tradição de se fortalecer a cada edição. A apresentação da Orquestra Kuarup Cordas & Sopros abriu a edição 2009 do festival, no dia 10 de junho. A orquestra é um projeto da Fundação Rio das Ostras de Cultura e essa é a quinta apresentação do grupo no evento. Os músicos são regidos pelo maestro Nando Carneiro, que contou com as participações especiais de David Ganc e Mário Sève nos saxes e flautas. No repertório, músicas de Tom Jobim, Vinicius de Morais e Hermeto Pascoal. O grupo fechou a apresentação com Bananeira, de João Donato. Um dos pontos altos do evento foi a apresentação de Jason Miles, um apaixonado pela música brasileira que tocou pela primeira vez no País, fazendo um tributo ao trompetista Miles Davis. O gaitista Jefferson Gonçalves abriu a segunda noite acompanhado por sua banda. Gonçalves identificou traços semelhantes entre a música negra norte-americana e a do Nordeste brasileiro e levou essa mistura para os seus trabalhos, animando a plateia da Cidade do Jazz, em Costazul. Em seguida foi a vez do quinteto Pau Big Time Orchestra foi uma das grandes atrações da 7ª edição do festival

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Brasil, referência da música instrumental brasileira. Com 25 anos de estrada e oito CDs gravados, a banda já teve diferentes formações e hoje reúne Nelson Ayres (teclados), Paulo Bellinati (violão), Rodolfo Stroeter (baixo), Mané Silveira (saxofone) e Ricardo Mosca (bateria). Grandes sucessos brasileiros, de Rancho Fundo a Bachianas nº 4, foram apresentados pelo quinteto no festival. O evento trouxe ainda a Dixie Square Jazz Band. Liderada por Marcos Vital, a banda percorreu os principais pontos da cidade executando standards do jazz. Também esteve presente a Big Time Orquestra, apresentando o repertório de seu novo CD/DVD Ao Vivo no Bourboun Street. O evento terminou com a apresentação da Banda Spyro Gyra. O grupo de pop jazz, R&B e elementos da música pop e caribenha com o jazz foi criado pelo saxofonista Jay Beckenstein. A banda surgiu em Buffalo, estado de Nova York, em 1974 e tem sido uma das mais expressivas do pop jazz dos últimos 30 anos. O Spyro Gyra foi um dos grupos que teve a recepção mais calorosa do público. A plateia não ficou parada e não precisou fazer força para gostar do que estava ouvindo. Um belo encerramento para o festival.

“Patches” Stewart acompanha o tecladista Jason Miles



LIVE! Rico lança nova palheta com colaboração de clarinetistas

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Rico acaba de anunciar sua nova palheta da linha Reserve. A Reserve Classic foi feita para clarinetas com ajuda de clarinetistas, como Mark Nuccio, da Filarmônica de Nova York, que participou de forma integral de sua produção. “Após 25 anos fazendo minhas próprias palhetas, coloquei a faca de lado”, diz Nuccio. “A Reserve Classic permanece estável sob diferentes temperaturas com maior porcentagem de desempenho em cada caixa”, completa. “Estamos muito excitados com a resposta da nova palheta Reserve Classic”, atesta Robert Polan, diretor de produtos da Rico. “Um por um, vimos os melhores clarinetistas sinfônicos aprovarem o produto. Mais do que isso, eles estão contentes por finalmente recomendarem uma palheta a seus estudantes com total confiança em sua qualidade”, afirmou. Para mais informações, visite o site www.ricoreeds.com.

Bumba Records/ Master Studio lançam a Rede Música Piauí

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Farofa Moderna: jazz na MTV

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Farofa Moderna é um blog muito legal para quem quer conhecer e ficar atualizado sobre boa música, não somente de jazz, mas também de música instrumental brasileira. O blog foi criado em 2006 por Vagner Pitta. Apesar de tratar de mais de um estilo musical, o forte do Farofa Moderna é mesmo o jazz, tanto o mainstream como o de vanguarda. Além de muita informação, tem também os podcats, novidades na área discográfica e alguns discos que podem ser ouvidos apenas clicando sobre seus links. A novidade maior é que o blog foi visitado pela redação de música do Portal MTV, que resolveu convidar Vagner Pitta para escrever sobre jazz e música brasileira no portal. É mais um espaço dedicado à boa música! Acesse http://mtv.uol.com. br/farofamoderna/blog ou http://farofamoderna.blogspot.com.

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SAX & METAIS

selo Bumba Records, idealizado e comandado pelo produtor e músico Márcio Menezes, tem por objetivo apresentar ao mundo a música produzida no Piauí. Para somar esforços, o selo ganhou novo fôlego com seu novo estúdio, o Master Studio. Depois da aquisição do sistema de gravação Pro Tools HD 2 Accel, o Master Studio/Bumba Records anuncia a conclusão de seu projeto acústico. Agora, sem dúvida, apresentam o que há de mais moderno na área em todo o Piauí. “Estamos com equipamentos e instalações para competir em pé de igualdade com muitos estúdios nacionais. Sugerimos que os artistas venham conhecer nossas novidades antes de pensar em gravar material em outro lugar”, comenta Menezes. Acreditando na potencialidade musical do Piauí, o Bumba Records/Master Studio prepara ainda para agosto a primeira reunião de lançamento da Rede Música Piauí_RMP@independente, com o objetivo de aproximar os agentes da música piauiense para propor ideias e soluções criativas sobre a produção musical de todo o Estado. A iniciativa é do selo, mas a rede é de todos. Poderão participar quaisquer pessoas que façam parte direta ou indiretamente do cenário musical do Estado, independente da localidade. Músicos, produtores, bandas, selos, estúdios, empresários, publicitários, jornalistas, DJs, documentaristas, fotógrafos, advogados, profissionais do broadcasting (rádio/ TV) e todos aqueles que se proponham a contribuir com experiências, ideias e projetos. O importante é participar e estimular os negócios dessa cadeia produtiva. Para saber mais, acesse http://bumbarecords.blogspot.com.



5 MINUTOS COM

especial

POR DÉBORA DE AQUINO

Música instrumental: Show em homenagem a J.T. Meirelles reúne grandes nomes da música

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m 1961, enquanto o mundo estava voltado para a bossa nova, começava a surgir no Rio de Janeiro um novo som que vinha do ‘beco’. Isso porque essa música começou escondida, em uma rua sem saída do bairro de Copacabana, que logo tornou-se conhecida por Beco das Garrafas. Diziam que ali estava a melhor música que podia ser ouvida no Rio. Foi em uma das boates do ‘beco’ que a dupla Miéle e Bôscoli começou a produzir seus primeiros shows e era lá também que o pianista Sergio Mendes fazia suas apresentações. Era ele quem comandava as ‘canjas’ de jazz e bossa nova das tardes de domingo na boate Little Club. Essas ‘canjas’ serviram de escola e iniciação para diversos músicos amadores da época, entre eles o trombonista Raul de Souza, os pianistas Luiz Eça e Luís Carlos Vinhas, o baterista Edson Machado e o flautista e saxofonista João Teodoro Meirelles, entre tantos outros. Essa turma gostava mesmo de jazz e com a bossa nova surgiram composições muito boas para se improvisar, e que mais tarde tornaram-se grandes standards jazzísticos, como Batida Diferente, Minha Saudade e Desafinado.

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SAX & METAIS

A ‘turma’ foi se firmando, alguns grupos foram aparecendo, como o Tamba Trio, de Luiz Eça, Bossa Três, de Luís Carlos Vinhas e Meirelles, e Os Copa 5. Meirelles, como a maioria dos músicos da época, começou a tocar muito cedo e logo formou seu grupo, composto por Luiz Carlos Vinhas (piano), Manoel Gusmão (contrabaixo), Dom Um Romão (bateria) e Pedro Paulo (trompete). O som dos meninos nada tinha a ver com ‘o banquinho e o violão’ da bossa nova, tampouco com a voz macia de João Gilberto. Era música instrumental brasileira, muito mais ‘pesada’ e ‘para fora’. Meirelles, dotado de conhecimento das harmonias do jazz, começou a cons-

truir seus próprios temas – Noa-noa, Quintessência, Blue Bottle’s – ao utilizar as harmonias jazzísticas para fazer música. Foi ele o responsável pela mistura do jazz com a bossa nova, que levou o nome de samba jazz, uma nova estética musical que mudou definitivamente os rumos da música instrumental brasileira. O primeiro sucesso de Meirelles foi com um arranjo feito para Jorge Benjor, na primeira gravação de Mas que Nada. A música fez tanto sucesso que o saxofonista foi convidado a integrar o quadro de artistas da gravadora Companhia Brasileira de Discos. A partir daí, começou a fazer os seus próprios álbuns e o primeiro é considerado uma pérola da música brasileira – O Som,

J. T. Meirelles foi um grande músico. Excelente saxofonista, flautista e ótimo arranjador/compositor. Tive relativamente pouco contato com ele. Algumas aulas avulsas sobre harmonia e improvisação. Foi muito bom! Sempre ouvi e ouço ainda os discos de J. T. com muito respeito e interesse. Participar dessa homenagem a Meirelles foi muito bom. Fiquei bastante honrado com o convite. Adorei tocar suas composições, que são sempre muito boas. Os músicos que participaram do tributo comigo eram de primeiro time. Foi uma noite fantástica, como o J. T. merece.”

Mauro Senise

o


orgulho nacional gravado em 1964. Em seguida, mais um sucesso com o álbum O Novo Som, que veio com nova formação para Os Copa 5. O repertório era composto de standards da bossa nova com algumas composições de Meirelles – Novo Som, Serelepe e Solo. Meirelles prosseguiu como instrumentista, maestro, arranjador e produtor musical. Participou de diversos festivais no Brasil e no exterior. Morou na Europa durante três anos, onde integrou diversas orquestras

Meirelles, Casé, Paulo Moura, Zé Bodega, Cipó, foram modelos para a minha geração de bem poucos saxofonistas – eu, Vitor Assis Brasil, Nestico, Íon Muniz, Nivaldo Ornelas. Para mim, particularmente, Meirelles passava a impressão de um músico muito consciente do que tocava ou improvisava. Isso porque, junto ao professor Wilson Cúria, foi um dos pioneiros a fazer o curso por correspondência da Berklee. Naturalmente, todo esse conhecimento passou para seus trabalhos como arranjador. Lembro-me de ficar ouvindo Meirelles nos bailes em Santos (SP), nas boates em São Paulo e de visitá-lo sempre que passava férias no Rio de Janeiro. Em uma dessas visitas, mostrou-me como estudava com os discos e dizia que em alguns momentos não utilizava a chave de oitava (naquela época ninguém falava sobre harmônicos no sax), argumentando que, se os americanos conseguiam tocar tão rápido, só poderia ser por causa disso. Em minhas jovens jam sessions, o Vitor Assis sempre começava seus improvisos sobre Tânia (tema de Meirelles), tocando de cor os dois maravilhosos chorus que ele fez na gravação do álbum O Som. Tenho certeza de que, mesmo indo embora cedo, deixou muita saudade e uma importante obra para todos nós.” Roberto Sion

até que, em certo momento, estava mais na área de produção e educação musical do que atuando como instrumentista. Em 2001, surgiu a oportunidade de relançar o LP O Som, pelo selo Dubas Música. Estava retomada a carreira do instrumentista. Em 2002, gravou Samba Jazz e, em 2005, seu último álbum, Esquema Novo.

TRIBUTO A J. T. MEIRELLES Passados alguns dias após o primeiro ano da morte de J. T. Meirelles, foram realizados em São Paulo dois shows em homenagem a esse mestre, o ‘pai’ do samba jazz. Idealizados pela produtora Carmen Guimarães, que trabalha para que os grandes nomes de nossa música sejam sempre lembrados, sem dúvida o músico foi homenageado à altura. Para os dois shows, Carmen remontou a formação de Os Copa 5. Subiram ao palco do Sesc Santana, em São Paulo, nos dias 18 e 19 de junho, os músicos Fernando Merlino (piano), Adriano Giffoni (baixo), José Arimatea (trompete) e Erivelton Silva (bateria). Para ‘representar’ Meirelles, foram convidados Roberto Sion (para o dia 18) e Mauro Senise (dia 19). Além dos músicos, não poderiam ficar de fora grandes intérpretes, verdadeiras testemunhas ‘oculares’ e ‘auditivas’ de toda a história do surgimento da música de Meirelles. Foram convidados João Donato e Leny Andrade para a primeira noite e Alaíde Costa para a segunda. Johnny Alf estava programado para a segunda noite, mas por problemas de saúde não pôde estar presente, tendo sido substituído por Leny Andrade, que domina o palco como ninguém. Enquanto Merlino fazia a introdução das músicas, Leny contava histórias e brincava com os músicos. Não faltou o sucesso Estamos Aí, que a cantora interpreta divinamente. Arimatea e Senise se divertiram nos improvisos, remontando a atmosfera daquilo que se ouvia nos anos 60. No show do dia 18, João Donato apresentou algumas das melhores músicas de J. T. Meirelles, como Quintessência, Nordeste e Neurótico, enquanto Roberto Sion interpre-

tou outras pérolas do mestre, como Tânia, Solitude e Capitão do Mato, entre outras, inclusive uma composição sua feita recentemente para o homenageado – Pra J.T. O show da segunda noite foi dividido em três partes. A abertura ficou por conta de Leny Andrade, que não deixou de fora Ilusão à Toa, música do parceiro e amigo Johnny Alf. Em seguida, Os Copa 5 tocaram

Leny Andrade interpretou grandes sucessos, como Estamos Aí

alguns dos principais arranjos instrumentais de J. T. Meirelles, entre eles Beco do Gusmão, Copa 5 e Esquema Novo. Essa última é um tema feito por Meirelles com base no famoso arranjo original para a música Mas que Nada, de Jorge Benjor. Criado, aliás, pelo próprio J. T. Meirelles, que também foi executado nesse tributo, em sua versão original, mas sem vocal. Para encerrar o show, foi a vez de Alaíde Costa se juntar ao quinteto e mostrar algumas músicas já consagradas em sua voz, como Estrada Branca, Onde Está Você e Dindi. Foi uma noite memorável e que vai deixar saudades. SAX & METAIS

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Fotos Rafael Ianni e Dani Gurgel

:


5Renato Farias

5 MINUTOS COM

m in u t o s c o m

Performance e muito mais

Com carreira sólida, além de instrumentista, o músico atua como regente, produtor e presidente da Associação Brasileira de Trombonistas

R

enato Farias vem de uma família com tradição na música, conhecida como ‘Os Farias’. O trombonista já nasceu ouvindo todo o movimento musical que ocorria em sua casa. Aos 14 anos, começou a estudar trombone, mas antes passou pela trompa e pelo eufônio (bombardino), instrumento que ainda toca. Durante sua fase de formação, passou por algumas importantes escolas de música de São Paulo, entre elas a Escola Municipal, onde teve aulas com Gilberto Gagliardi. Estudou também nos EUA e graduou-se bacharel em trombone pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Dentre suas atividades como instrumentista, já tocou em uma grande quantidade de bandas e orquestras, tais como Orquestra Jovem Estadual de São Paulo, Orquestras & Coral Baccarelli, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e Orquestra Jazz Sinfônica. Mas o trabalho não para por aí. Atualmente, Renato Farias é presidente e sócio-fundador da Associação Brasileira de Trombonistas e membro da International Trombone Association

O que Renato Farias usa Bocal Monette modelo ‘exclusivo’ TT&B e bocal Renato Farias VIC 4.8 e VAL 6.2.

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SAX & METAIS

POR DÉBORA DE AQUINO


» É cada vez maior o número de músicos que decidem fazer um curso superior e muitos estão seguindo na carreira acadêmica e cursando mestrados e doutorados. Como você vê a importância da formação acadêmica hoje para o músico? É realmente necessário ter um diploma? Renato Farias A formação acadêmica, além de nos acrescentar a disciplina nos estudos, abre grandes possibilidades, como lecionar nas universidades e também seguir carreira internacional. Sem a formação específica é impossível exercer essas atividades. » Como surgiu a oportunidade de ir estudar em Washington (EUA) e, depois, de fazer o mestrado por lá? Qual foi o tema do seu trabalho? RF Em 1994, decidi sair de São Paulo em busca de minha formação acadêmica e também ingressar numa orquestra sinfônica profissional. Por meio de um concurso, tornei-me integrante da Orquestra Sinfônica da Paraíba e, nesse mesmo período, ingressei no Curso Superior da UFPB. Meu professor de trombone e também solista da orquestra ingressou no mestrado e doutorado na Catholic University Of America (CUA), em Washington, e resolvi seguir o mesmo caminho. No caso de instrumentistas, na maioria das vezes o tema é Performance. » Conte sobre a ABT. Que atividades a associação desenvolve? Quais são os benefícios aos associados?

RF Desde a década de 1980, nós, trombonistas, tínhamos em mente criar um evento brasileiro no qual pudéssemos compartilhar nossos conhecimentos. Sabíamos que existia uma associação internacional de trombones com sede nos EUA. Em 1995, fundamos nossa associação e, em nossa primeira edição, que ocorreu em Brasília, tivemos 51 participantes. Acredito ter sido uma boa iniciativa, tanto que estamos no 15º ano de existência e nunca deixamos de realizar nossos festivais, sempre trazendo grandes nomes internacionais na área de trombone, tanto do clássico quanto do jazz. O benefício aos associados é colocá-los gratuitamente em contato com grandes professores nacionais e internacionais e também participar durante uma semana de grandes shows e concertos.

primeiro trombone e maestro assistente e, nas duas edições de A Bela e a Fera, toco trombone baixo e tuba. » Além de instrumentista, você já atuou como regente e produtor musical. Conte como foi. RF Sempre tive muito interesse pela carreira de regente, primeiro para ter uma noção geral do funcionamento de uma orquestra ou banda. Desde o início de minha carreira como músico de orquestra, estudava minha parte individual pela partitura do maestro. Também atuo como produtor musical, gosto dessa figura e a considero muito importante. Paralelamente ao segmento clássico, sempre atuei com artistas populares. A partir daí passei a formar grupos para atuar em eventos, principalmente no ramo hoteleiro e em casas de jazz.

“O bom professor deve entender as intenções do aluno para com a música” » É crescente o número de musicais que são montados todos os anos em São Paulo. Qual é a sua experiência nesses trabalhos? Como é o processo de seleção? O que um músico precisa ter e saber para integrar essas bandas? RF Os grandes musicais da Broadway no Brasil, trazidos principalmente pela T4F Entretenimento, têm sido mais uma grande porta no mercado para músicos, cantores e atores. O processo de seleção é sempre muito rigoroso porque a escolha de quem participará e das equipes de supervisão e montagem do espetáculo vem de nova York ou de Londres, dependendo do musical. O músico, para atuar nesse tipo de produção, além de uma boa formação, tem de ter experiência tanto na área clássica quanto na popular. No caso dos sopros, alguns músicos terão de dominar e executar mais de um instrumento. No meu caso, o fato de tocar outros instrumentos fez com que sempre obtivesse uma vaga nesses musicais. Em Os Miseráveis e Miss Saigon, toquei trombones tenor e baixo; em Chicago, atuei como primeiro trombone e maestro assistente. Em Sweet Charity, também atuei como

» É comum ouvirmos falar que nem sempre um bom músico é um bom professor. Você, que atua em ambas as áreas, acredita nessa afirmação? O que é ser um bom professor? RF Acredito e confirmo sim! Sem depreciar o bom músico, ser um bom professor depende de muitos outros fatores. Além da capacidade musical e intelectual, o fator humano é indispensável nas aulas. Procuro, como professor, sempre saber quais são as intenções do aluno para com a música e se o caminho seguido por mim o satisfaz. » Quais são suas principais atividades atualmente? Estou como presidente da ABT, professor na Fasm e coordenador do Grupo de Metais Fasm. Atuo no musical A Bela e a Fera e integro o Brazilian Trombone Ensemble, a Orquestra Arte Viva, 4-Bones e Tito Martino Jazz Band. Acabo de chegar de uma temporada de sete meses na Alemanha, onde estive tocando no musical Do-Brazil, em Munique, e lecionando Música Brasileira para Metais aos alunos da Universidade de Munique e de Salzburg, na Áustria. SAX & METAIS

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Foto Divulgação

(ITA) desde 1995. Professor coordenador do Grupo de Metais da Faculdade Santa Marcelina (Fasm), também é ‘figura fácil’ dentre os músicos que integram as orquestras dos diversos musicais que são montados em São Paulo, não somente como instrumentista, mas também como regente. Agora está em cartaz com A Bela e a Fera. Confira o bate-papo de Renato Farias com a Sax & Metais.


5Rodrigo Ursaia

5 MINUTOS COM

m in u t o s c o m

POR DÉBORA DE AQUINO

Raízes brasileiras em Nova York

R

odrigo Ursaia é mais um músico brasileiro que resolveu exercer sua profissão fora do País. O saxofonista e flautista reside em Nova York desde 2000, quando foi cursar mestrado na Manhattan School of Music. Por lá, vem atuando ativamente como professor e apresentou um workshop na Universidade de Iowa sobre improvisação e saxofone brasileiro, além de se apresentar regularmente com diversos artistas de jazz e música brasileira, como Matt Wilson, David Berkman, Cláudio Roditi, Dom Salvador e Jovino Santo Neto. Também é integrante do quinteto da cantora Rosa Passos em gravações e apresentações na Europa, Ásia e Estados Unidos. Mas muita coisa aconteceu na vida de Rodrigo antes de se mudar para Nova York. Os estudos de música começaram aos 12 anos e o instrumento escolhido foi a flauta. Por incentivo dos pais, foi estudar no Clam, renomada escola de música em São Paulo. “Meu pai foi baterista amador e sempre teve uma coleção grande de discos e CDs, principalmente de jazz. Ele sai muito para ouvir música instrumental e provavelmente conhece mais músicos profissionais em São Paulo do que eu”, comenta Rodrigo. Após alguns anos de estudo, veio a oportunidade de ir para a Berklee College of Music, em Boston, onde se graduou e teve a oportunidade de estudar saxofone com três grandes mestres: Joe Viola, George Garzone e Bill Pierce. Depois de cinco anos de curso, voltou ao Brasil e apresentou-se com a Banda Mantiqueira, Toninho Horta, Nelson Ayres Quarteto e SoundScape Big Band. Integrou a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo e foi professor assistente na Universidade Estadual de Campinas. Nesta entrevista, Rodrigo Ursaia conta detalhes de sua formação e como anda a vida e os trabalhos na Big Apple. » Como surgiu a oportunidade de estudar na Berklee College of Music? Você fez o curso de saxofone?

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SAX & METAIS

Rodrigo Ursaia Fui para a Berklee ainda inexperiente e aprendi muito por lá. A estrutura da escola, a parte didática e o nível dos professores, tanto musical como em experiência profissional, são muito bons. Também valeu pela vivência com os outros alunos e a possibilidade de tocar em grupo diariamente, em aula ou jam sessions. Citando um professor que tive, Steve Coleman, “um músico se desenvolve principalmente tocando com outros músicos (de preferência melhores do que ele) em todas as oportunidades que tiver”. » Como foi estudar com Joe Viola, que, para nós, no Brasil, é uma das referências em saxofone por seus métodos que chegaram por aqui? RU Quando o conheci já estava perto de se aposentar e tinha uma carga horária limitada, além de uma lista de espera grande. Consegui uma vaga com ele no meu último ano por lá e valeu a espera. Conhecia tudo de técnica do saxofone e produção de som, uma referência para todos. Também me influenciou bastante por seu estilo de ensinar, muito exigente mas afável, dando ênfase a uma relação mais pessoal e de confiança com seus alunos. » Quando voltou ao Brasil, você foi estudar na Unicamp. O que estudou e por que a necessidade de voltar para estudar no País? RU Entrei na Unicamp para completar a graduação que comecei na Berklee e tive uma ótima experiência por lá. Fiz relações profissionais importantes, toquei muita música brasileira e tive a oportunidade de dar aula de saxofone e improvisação como substituto, o que foi valioso para o meu desenvolvimento. » Lembra-se de seus primeiros trabalhos como profissional? Como foram e com quem? RU Meus primeiros trabalhos foram como

Radicado nos EUA desde 2000, o saxofonista volta ao País frequentemente para beber a música brasileira na ‘fonte’

baixista, aos 16 anos, numa peça de teatro profissional e numa banda que viajava concorrendo em vários festivais de MPB no interior de Minas Gerais e em São Paulo. Eu abraçava toda e qualquer oportunidade. Também trago vivamente na memória o primeiro trabalho que fiz na noite em São Paulo, em um bar da avenida Henrique Schaumann. Eu no baixo, com repertório mínimo e ouvido musical ainda engatinhando, e dois músicos muito experientes, mas não muito pacientes, no violão/voz e bateria. Iam puxando temas um atrás do outro sem me dizer nome, tom, estilo, nada. Fim da noite, eu suando depois de passar três sets tentando acertar alguma nota que fosse e um pouco preocupado pela minha integridade física, recebo o dinheiro do violonista com um sorriso: “Ótimo, pode voltar amanhã?” » Conte um pouco sobre a Jazz Sinfônica. Como ingressou na orquestra e como era a rotina de trabalho?


a

O que Rodrigo Ursaia usa Sax tenor Selmer Mark VI com boquilha Lamberson J8 de massa e palheta Bari Star Hard Sax soprano Yanagisawa com boquilha Bari 78 e palheta Rico Select Jazz 2,5 Flauta em C Sankyo Artist Flauta em G Emerson USA Pífanos do Zé Cláudio de Oliveira Lino

» Como você vê o mercado de trabalho para o músico brasileiro no Brasil e no exterior? RU Acho que o mercado de música cresceu muito no Brasil desde 2000, principalmente para instrumentistas e educadores. Perce-

bo vários projetos e bandas desenvolvendo repertório original, buscando novas concepções de arranjo, orquestração e composição. Vejo também uma força criativa e grande movimentação cultural, o que gera novos caminhos, resgatando as raízes da música brasileira. Percebo uma nova geração de músicos muito boa, muito preparada e madura em concepção artística, improvisação e técnica do instrumento. No exterior, o músico do Brasil geralmente se destaca porque a música brasileira é adorada, continua em alta e há sempre um interesse por bons profissionais com conhecimento e vivência nessa linguagem. » Mudou-se para os EUA para fazer mestrado e acabou ficando. Por que tomou essa decisão? RU Por duas razões. A primeira, familiar e pessoal, pois a minha esposa na época tinha acabado de ser aprovada para um importante projeto de pesquisa em sua área. A segunda, musical, pois como o mestrado

havia sido muito intenso, exigindo dedicação integral, tinha tido até então poucas oportunidades de explorar a cena musical riquíssima de Nova York. Mas sempre continuei muito conectado à música brasileira e ao País, voltando frequentemente para tocar, dar aulas e palestras, ter aulas e ‘beber’ da fonte. » Qual é a diferença no estilo ‘saxofone brasileiro’? Você ministra aulas sobre o assunto, não? RU A diferença, em minha opinião, é a mesma ligada às características da música brasileira: o lirismo, as concepções melódica e harmônica baseadas na tradição da música popular e seus vários estilos (samba, bossa nova, choro, baião, coco, frevo etc.) e, principalmente, a divisão rítmica. Dei algumas aulas e palestras especificamente sobre o assunto, na convivência com os saxofonistas e flautistas daqui, e percebo que o interesse por música brasileira é grande, principalmente pelo choro. SAX & METAIS

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Foto Divulgação

RU A Jazz Sinfônica foi, para mim, um motivo de orgulho. Recebi um telefonema do Demétrio Lima porque eles estavam com urgência para completar uma vaga no naipe de saxofones. Fui ao primeiro ensaio no dia seguinte e não saí mais. Depois de um ano fui aprovado em concurso e permaneci por três anos, até me mudar para NY. Identifiquei-me muito com a orquestra, chegando a atuar como presidente da associação dos músicos. Sempre que explico a concepção da Jazz Sinfônica para músicos no exterior – de uma orquestra sinfônica com uma big band de jazz acoplada, mantida pelo Estado e tocando repertório de música brasileira escrito exclusivamente para ela – recebo exclamações efusivas de admiração.


técnica

POR WAGNER BARBOSA

Guia prático do TÉCNICA

improviso O encontro do pensamento com a técnica para expandir sua mente musical com ciclos de quintas e quartas

O

lá, amigo da Sax & Metais. Nesta matéria, vamos abordar os famosos ciclos das quintas e quartas, assunto bastante procurado e que por vezes torna-se um tanto misterioso, para não dizer um pânico, pelo modo como chega ao estudante.

“Você sabe tocar o ciclo das quintas? E o das quartas? Não?! Como não? Na próxima semana, me apresente arpejos maiores em ciclo de quartas.”

Exemplo 1

Arpejos Maiores em Ciclos de Quartas

Chega a semana seguinte e logo apresentamos a lição. Pronto, já sei tocar os arpejos maiores em ciclos de quartas, mas... e daí? Qual foi a funcionalidade do exercício em meu desenvolvimento musical? Será que foi mais uma lição a ser tocada e nada mais? Continuo o mesmo da semana passada? Perguntas e pensamentos como esses me incomodaram e, tenho certeza, alguns de vocês também. Então, vamos finalmente desvendar esse ‘mistério’. Para entender tudo o que será dito daqui para a frente, é necessário que você já tenha estudado construção de escalas maiores e análise interválica.

O ‘RELÓGIO’ Como se estivéssemos tomando um cafezinho no fim de tarde, ao sabor de um bate-papo, sem pressa, partindo do início, vamos entender como funcionam e por que utilizar os ciclos para o desenvolvimento técnico.

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SAX & METAIS

Muitos já viram a figura abaixo. Observe o nosso ‘relógio’ no sentido horário. Qual é a lógica da sequência das notas? Exemplo 2


Partindo do Dó (C), a próxima nota é Sol (G), que é o 5º grau ou 5ª nota da escala de Dó. Seguindo esse ‘relógio’, depois do Sol (G) vem

o Ré (D), que é o 5º grau ou a 5ª nota da escala de Sol. Então, essa é a lógica do ‘relógio’, as notas vão aparecendo em intervalos de quintas.

Exemplo 3

Dito isso, o mais importante não é tocar as 12 notas, nem dizer e pensar que já sabe tocar o ciclo de quintas, mas sim entender como podemos utilizar esse ciclo para organizar nossos estudos. Uma maneira de estudar de forma progressiva e ir conhecendo

melhor seu instrumento é por meio dos ciclos. Observe novamente o ‘relógio’ em sentido horário acima. Tendo Dó (C) como ponto inicial, a nota seguinte é Sol (G). Quantas notas diferentes existem entre a escala de Dó maior e a escala de Sol maior?

Exemplo 4

Como podemos ver no exemplo acima, a diferença é de apenas uma nota. Na escala de Dó, o Fá é natural e, na escala de Sol, o Fá é sustenido. Seguindo assim, fica fácil. A cada nova escala, percebe-se que a diferença em relação à anterior é de apenas uma nota (observe os números dentro do círculo) e o estudo segue gradativo. No início da matéria, dei um exemplo bem comum de arpejos maiores com sétima maior, em ciclos de quartas. Já entendemos o ciclo de quintas, agora vamos ao de quartas. Voltamos ao nosso ‘relógio’, porém, agora invertendo o sentido, analisaremos os intervalos em sentido anti-horário.

Exemplo 5

Se no sentido horário as notas surgem em intervalos de quintas, no anti-horário elas aparecem em ciclos de quartas. Exemplo 6

SAX & METAIS

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técnica ORGANIZAÇÃO MENTAL De fato, tudo o que foi dito até aqui é apenas uma introdução. O mais importante desse relógio-guia é a ajuda que ele nos oferece para organizar nossos estudos, tanto em sentido horário (ciclo de quintas), como no sentido anti-horário (ciclo de quartas). A partir de agora, daremos outra dimensão ao tema de ‘Estudos dos Ciclos’. É fato que geralmente surgem limitações na hora de tocar em determinadas tonalidades, principalmente para os iniciantes no mundo da improvisação. Essas limitações são mecânicas, devido às diferentes digitações

a que temos de nos acostumar. Porém, investigando mais um pouco, percebemos que não é simplesmente uma questão de limitação técnica, mas também uma falta de treino mental. Ou seja, você sabe tocar todos os tons separadamente, mas no momento da produção musical, quando a sequência de acordes vai surgindo, sua mente e sua técnica não se encontram. Se o cérebro não mandar a informação correta, os dedos não acompanharão. Pensando nesse desencontro entre pensamento e técnica, segue um exemplo para corrigir, treinar e expandir a sua mente e técnica sempre pensando no ‘relógio’.

Exemplo 7

TÉCNICA

Arpejos Maiores em Ciclos de Quintas

COMO ESTUDAR Atenção: A minha proposta não é apenas ler e executar os exercícios, mas treinar para que seu raciocínio e mecânica (técnica) caminhem juntos. 1 Primeiro, toque um arpejo de cada vez e separadamente, sem se preocu-

par com o tempo. Dessa forma, seus dedos irão assimilar a digitação.

2 Após fazer o estudo proposto, é natural que um ou mais arpejos tornem-se mais difíceis de ser assimilados. Pegue o arpejo em questão e estude da seguinte forma:

Exemplo 8

3 Depois de digitar todos os arpejos separadamente e estar familiarizado com cada um deles, é hora de deixar a partitura para memorizálos. A dica para conseguir fazer isso é pensar o seguinte: ✓ Todos os acordes são maiores com sétima maior. ✓ Todos os arpejos começam pela tônica. Não se preocupe se nesse estágio do estudo ocorrer certa demora em pensar qual é o arpejo seguinte. É exatamente nesse ‘momento pensativo’ que seu cérebro estará trabalhando, criando sua própria lógica e associação para que você assimile corretamente esse novo conhecimento.

Particularmente, não gosto de exercícios puramente mecânicos, aqueles que não me fazem pensar ou desenvolver meu raciocínio musical. São exercícios que leio e, ao fechar o livro, entendo que sei tocar aquele conteúdo, porém o tempo passa e nada muda em meu aprendizado. É necessário entender tudo o que se executa. É também nesse momento do estudo, quando estamos tocando sem ler para memorizar o exercício, que pode acontecer de conseguir tocar o primeiro arpejo, o segundo, o terceiro, o quarto, e dar aquela escorregada no quinto. O importante aqui é não retomar a partir do quinto arpejo.

“A combinação da prática física e mental leva a um aperfeiçoamento da execução mais acentuado do que a prática física sozinha...” Avaro Pascual-Leone – PHD em Neurofisiologia e professor em Harvard Exemplo 9

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SAX & METAIS



técnica 4 Se errar algum arpejo na hora da execução, retorne ao primeiro, pois tocar arpejo por arpejo você já sabe. O lance agora é juntar todos eles, começar a desenvolver e ter a liberdade de tocar digitações diferentes. É muito comum desenvolver o vício de tocar bem certos tons e outros não. Esta é a oportunidade de começarmos a eliminar esse vício. Neste estudo, se você não for honesto consigo mesmo, os anos vão passar e você não sairá do lugar 5 Para essa prática toda, considere imprescindível o uso do metrônomo. Ele o ajudará a ter uma meta e fará seu cérebro pensar mais rápido.

6 Comece devagar. Aconselho metrônomo igual a 60 bpm (batidas por minuto). Um andamento lento fará com que você tenha tempo de raciocinar melhor e tocar de forma 100% consciente. Conforme for sua evolução, vá aumentando gradativamente o bit e sem pressa. Dica: Além de todo o conhecimento teórico e mecânico abordado aqui, sugiro que estes estudos sejam praticados em diversas articulações. Utilizo o estudo em colcheias para a prática da articulação do jazz (ex. 10 a) e em semicolcheias para treinar o duplo golpe de língua (ex. 10 b).

TÉCNICA

Exemplo 10

QUEBRANDO O PADRÃO Agora vamos expandir nossa mente e visualização do instrumento, fugindo do padrão convencional de estudar de tônica a tônica. Exemplo 11

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SAX & METAIS

Vamos começar tocando a partir de outra nota do arpejo, usando o padrão de quatro em quatro notas.



técnica Estudando dessa forma, você ampliará a visualização do acorde em seu instrumento, além de começar a desenvolver a liberdade técnica de estudar os exercícios não apenas começando pela tônica, mas também pela terça, quinta e sétima. Esse estudo também ajudará na hora de estudar improvisação. Ao ver o acor-

de, você já estará familiarizado tecnicamente com todas as notas dos arpejos, em diferentes regiões. Outra proposta de exercício é tocar os arpejos em saltos, sempre utilizando somente as notas do acorde.

TÉCNICA

Exemplo 12

É importante dizer que todos esses padrões podem ser aplicados em qualquer formação de acorde, sejam eles maiores, menores, meio diminutos, alterados, com nona etc. Exemplo 13

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SAX & METAIS

Pratique esses dois últimos exercícios em todos os tons, conforme o exemplo abaixo:


Exemplo 13

– continuação

Ao tocar o mesmo padrão de estudo passando pelos 12 tons, tanto pelo ciclo das quartas como pelo das quintas, você desenvolverá a mesma facilidade de tocar os arpejos em Dó ou qualquer outro tom mais ‘difícil’. Essa prática fará com que ocorra um nivelamento de seu nível técnico e mental na execução de qualquer tonalidade, além de uma visualização mais ampla do acorde em seu instrumento.

ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES Questione, entenda o que está tocando. Exercícios têm de provocar alguma mudança em nossa mente musical e técnica. Para os que al-

mejam improvisar, procurem ou criem exercícios que o condicionem tecnicamente para um situação real musical, tendo então o ‘relógio’ como padrão para abordar os 12 tons de forma gradativa. ‘Waleu’ e até a próxima!

Wagner Barbosa é saxofonista integrante do grupo Celso Pixinga Quartet, com quem já gravou o CD Bossa Jazz e o DVD O Jogo. Desenvolveu o método de saxofone Sax e sua mecânica, a ser lançado, e mantém o blog Planeta Sax (http://planetasax.blogspot.com).

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DICAS DE MANUTENÇÃO

dicas de manutenção

POR ARAKEN BUSTO

Cuide melhor do seu

instrumento

Confira as sugestões de Araken Busto, técnico do Atelier de Sopros Yamaha, para preservar trompetes e trombones

D

eve-se conhecer e pesquisar sobre os produtos específicos para cada tipo de acabamento, tais como prateado, niquelado ou laqueado. 1 Instrumentos prateados tendem a escurecer. É um processo normal do acabamento, que reage em contato com o oxigênio e o suor da mão. Por isso é muito importante que, após o uso, o instrumento seja limpo com uma flanela – de preferência específica para prata – para retirar as marcas deixadas pelo contato com a mão. Também deve-se retirar toda a umidade do instrumento, evitando que resíduos se fixem em sua parte interna. 2 Nos casos de acabamentos laqueados e niquelados também estão disponíveis no mercado produtos específicos. Existem diversos tipos de óleos, lubrificantes e graxas para cada instrumento. Não basta utilizar qualquer produto, isso pode até comprometer o bom funcionamento do instrumento. 3 Faça uma limpeza mais completa no mínimo a cada três meses, desmontando com cuidado e lavando o instrumento. Para este procedimento é importante lembrar algumas regras básicas: a) Preparar o local que será utilizado para a manutenção, de preferência longe de crianças, e uma superfície plana e estável para não correr o risco de derrubar nenhuma parte do instrumento. b) É indicado utilizar água morna (30ºC a 40ºC) e sabão especial para metal ou sabão neutro, 10 a 15 partes de água para uma de sabão. c) Nos instrumentos de pisto, ao desmontálos, coloque sempre em ordem as peças e lave cada pisto individualmente, tomando cuidado para não bater, pois são peças de altíssima precisão e qualquer deformidade impossibilitará retornar a peça ao seu lugar. Caso ocor-

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SAX & METAIS

ra algum acidente, jamais tente recolocar o pisto no instrumento. Leve-o a uma oficina especializada ou entre em contato com a loja onde você adquiriu o produto. 4 Escovas e hastes flexíveis são fundamentais para uma boa limpeza. Adquirir esses acessórios é investir no seu instrumento e em você mesmo. A boa manutenção aumentará consideravelmente a vida útil do instrumento. 5 Após lavar e secar todas as peças, certifique-se de que toda a sujeira foi removida e só então inicie a lubrificação e a montagem. Verifique se cada parte está bem fixa para não sofrer queda nesse momento. 6 Evite o consumo de alimentos quando estiver tocando. Isso é imprescindível, pois os resíduos irão diretamente para a máquina de pisto, podendo causar sérios danos. 7 Os instrumentos de rotores precisam de uma atenção especial. A máquina de rotor só deve ser desmontada por um técnico especializado. Caso tenha de lavar o instrumento, faça a água passar no sentido contrário ao do ar para que os resíduos não sejam empurrados para dentro do rotor. Não esqueça de retirar toda a umidade do interior do instrumento após a lavagem.

ACESSÓRIOS PARA MANUTENÇÃO DE INSTRUMENTOS DE METAL Escovas para bocais Limpam o interior do bocal. Mouthpiece cleaner Remove a sujeira e higieniza a parte externa do bocal. Brass soap Sabão líquido para instrumentos de metal.

Polidores Restauram o lustre do acabamento dos instrumentos. Existem polidores de diversos tipos: para instrumentos laqueados, prateados e para niquelado ou metal sem acabamento. Hastes de limpeza São ideais para a limpeza das chaves d’água dos metais. Vareta de limpeza e gaze de polimento Utilizadas para remover sujeiras da parte interna da camisa de pisto e de tubos. Removedor de óleo e graxa Remove o excesso de óleo dos pistos. Limpadores flexíveis Fio flexível e revestido de plástico com uma pequena escova na ponta. É indicado para limpeza em tubulações e locais difíceis de alcançar.

ÓLEOS Existem diversos tipos de óleos para lubrificação dos instrumentos de metal. Observe a funcionalidade de cada um: Óleo para pisto Formulado especialmente para dar aos pistos um rápido e suave movimento. Óleo para rotor Ajuda a prevenir a corrosão e produz uma fricção suave. Óleo para alavanca e óleo para eixo do rotor Proporcionam um mecanismo sem ruídos. Óleo para bomba de afinação e graxa para bombas Criam uma perfeita vedação de ar e evitam o emperramento das bombas de afinação.



capa

C A PA

Milton Guedes revela detalhes de sua carreira nesta entrevista exclusiva concedida Ă Sax & Metais

O triunfo do tale n 32

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o e nto

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Por Débora de Aquino e Rogério Nogueira | Fotos Gabriel Wickbold

empre tive dificuldade em me admitir como um profissional do sax”, revela o carioca Milton Guedes. Entretanto, isso não impediu que o músico vencesse por meio do talento. Autodidata, Guedes já acompanhou diversos músicos de renome no Brasil, como Lulu Santos e Oswaldo Montenegro, além de ser solicitado para inúmeras trilhas sonoras na televisão, especialmente na Rede Globo. Versátil, Guedes não só conquistou os fãs da música no saxofone, como também demonstra intimidade ímpar ao tocar gaita e flauta. Se já não fosse bastante, o instrumentista e compositor ainda canta e assovia. Com um currículo mais do que aprovado, Guedes lançou recentemente o álbum Certas Coisas, pela Som Livre. Esse e outros assuntos você confere agora nesta entrevista exclusiva à Sax & Metais.

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C A PA

capa » Você nasceu no Rio de Janeiro, mas tornou-se músico em Brasília, na época em que as principais bandas de rock dos anos 80 estavam surgindo. Como era essa época por lá e como foi o seu começo na música? Milton Guedes Sempre tive contato com música por causa de dois irmãos, também músicos, Marco Guedes, baterista, e Fátima Guedes, cantora. Por meio deles adquiri o interesse pelo canto, inicialmente. Só depois, quando fui convidado a integrar a banda Pôr do Sol, que teve grande participação na cena pop de Brasília no início dos anos 80, resolvi que queria ser músico. Na época, explodiam festivais na cidade por conta do sucesso de bandas como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, entre outros. Ensaiávamos no mesmo prédio e a ‘competição’ era interessante. Chegamos a gravar um compacto com duas canções minhas para o selo RCA/Barklay na época. » Lembremos de seu trabalho da época em que tocava com Oswaldo Montene-

O que Milton Guedes usa Endorsee Exclusivo Condor Winds Sax alto, tenor, soprano, flauta. Endorsee Hering Harmônicas Cromática e diatônica blues. Sax alto Selmer Super Action 80 Sax soprano Yanagisawa Straight Sax barítono Amati ABS 64 Boquilha BN 7- (Norberto) Massa Ivan Meyer Power 8 – Metal (feita para Milton Guedes) Palhetas Fibracell nº 2 Plastcover 2 e 1/2 Mic Shure Beta 98H Wireless Mic Harmônica Hohner Blues Blaster Amplificador Orange Crush 30 R Pedais Boss Super Shifter PS 5 t.c. electronic Chorus Delay Line 6 – DL4 MXR Auto Q MXR Distortion +

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gro. Como foi seu encontro com ele e o convite para trabalharem juntos? MG Com o fim da banda Pôr do Sol, passei a cantar e a tocar nos bares da cidade. Numa sexta-feira, em março de 1986, apareceu na plateia o Oswaldo Montenegro, que me convidou, ao fim da apresentação, para participar de um dos seus musicais, que já contava com nomes como Cássia Eller, Zélia Duncan e Deborah Blando, entre outros. Na segunda-feira seguinte eu estava morando no Rio de Janeiro novamente e começando minha carreira profissional. Para isso, larguei uma carreira promissora como bancário e também como skatista profissional. Fui campeão três vezes, mas parei quando comecei a tocar, por causa das fraturas. » Qual foi o seu primeiro instrumento e como vieram os outros? MG Meu primeiro instrumento foi a flauta doce, para aprender a ler músicas do coral de que participei com 17 anos. Depois veio a gaita cromática, pois o Lula Galvão, grande violonista, havia me apresentado o disco ME, do mestre Mauricio Einhorn, quando nos reuníamos para tocar com amigos na entrada do prédio onde ele morava, em Brasília. Foi paixão à primeira ouvida e ainda consegui ter aulas com o mestre. O sax veio por último. O Sérgio Galvão me incentivou a aprender sax porque piramos no instrumento na mesma época. Ele me ensinou a tirar som pela primeira vez num clarinete, mas resolvi comprar um sax que ele conseguiu para mim. Também me impressionei ao assistir um show do Renato Vasconcelos, onde ouvi o Vidor Santiago tocar pela primeira vez. Foi quando resolvi aprender sax e flauta, aos 20 anos, com meu vizinho, que era professor na escola de música da cidade. O sr. João Batista foi um grande incentivador e nunca me cobrou nada. » O seu assovio é muito ‘famoso’ e realmente não é fácil fazer o que você faz. Como começou a assoviar e percebeu que poderia incorporar o assovio em solos, como um instru-

mento? Existe alguma técnica especial nisso? MG Eu morava relativamente perto do colégio onde estudava e caminhava assoviando o tempo todo. Tentava imitar os pássaros que podia ouvir no caminho. Mas foi depois que gravei a música Lua e Flor, um grande sucesso do Oswaldo Montenegro, onde solava com sax, flauta, assovio e gaita, que comecei a gravar trilhas para novelas e cinema. Sentia-me estranho ganhando para fazer aquilo, já que era algo tão natural para mim. A dificuldade maior é conseguir uma boa posição no microfone para tirar o ruído do sopro e, por conta dos harmônicos presentes nas frequências do assovio, às vezes tenho de gravar forçando a afinação para cima para soar afinado. O Caetano Veloso e o Roberto Carlos são ótimos assoviadores. » Além dos diversos instrumentos (sax, gaita, flauta), você canta e assovia. Qual é a sua formação musical? É autodidata ou estudou formalmente? MG Existe uma frase que diz: “Autodidata é o ignorante por conta própria” (risos). Sempre fui autodidata, apesar de ter iniciado meus estudos com aulas particulares. Estudei muito sozinho. Tudo aconteceu muito rapidamente, apesar de ter começado a tocar tarde para os padrões normais. Aprendi tudo tocando ao vivo e ouvindo muita coisa, tirando os solos de que mais gostava e que me desafiavam tecnicamente. Claro que tive a ajuda de amigos e, principalmente, da minha esposa, Adriana Maciel, que toca flauta e sempre me aconselhou a estudar mais, apesar da facilidade que sempre tive. » Você já gravou e tocou com renomados artistas da MPB. Como os convites foram surgindo? Tem algum que você destaque? Em algum momento de sua carreira dedicou-se apenas a ser músico de estúdio? MG Com a minha entrada na banda do Lulu Santos, que tem grande visibilidade na mídia, e alguns solos do Oswaldo Montenegro que tocaram muito nas rádios e em novelas, os convites para gra-


var surgiram rápido. Virei o saxofonista da vez nos anos 90 e gravei quase mil músicas com grandes nomes da nossa música e alguns internacionais. Gastaria horas para falar deles aqui. Brincavam comigo dizendo que eu era o ‘One Take Man’, pois eu ‘matava’ o solo de primeira e os produtores confiavam generosamente em mim. Nunca tive a pretensão de impor um solo. Sempre aceitei todos os toques e me permiti não ter preconceitos como músico, o que não significa que levaria para casa tudo o que gravei até hoje. Aprendi muito com isso. Sempre consegui conciliar as turnês com as gravações, mas gosto mesmo dos shows ao vivo. Não tem nada mais gratificante do que tocar com um ídolo seu. Entrar em cena e me ver ao lado desses monstros sagrados me faz ser o músico mais risonho dos DVDs de que participei (risos). Amo o que faço.

» Como foi a produção feita por Lulu Santos em seu primeiro álbum, autointitulado, de 1993? Como surgiu a proposta? MG Lulu é uma referência nos palcos e ninguém melhor que ele para dirigir um projeto na mesma linha. Eu sempre quis fazer algo solo, já que comecei cantando antes de tocar qualquer instrumento. Ele sentiu minha necessidade e me deu uma música de presente. Aproveitamos a gravação do disco Mondo Cane para fazer esse primeiro single, Kriptonita. Eu queria fazer rock na época e a música tocou bastante nas rádios. Apesar disso, os diretores da gravadora na época, Marcos Mainardi e Max Pierre, me dispensaram. Acontece.

» Fale sobre seu encontro com Lulu Santos. Há quanto tempo trabalham juntos? MG Conheci o Lulu quando ele gravava o disco Toda Forma de Amor e, enquanto eu fazia uma gravação na sala ao lado da dele, com uma banda iniciante, no antigo estúdio da BMG, ele foi lá nos ouvir. Convidou-me então para fazer parte da banda Auxílio Luxuoso. Acabei tocando com ele por 18 anos, com alguns intervalos. Tudo o que aconteceu nesse período, em grande parte, vem do destaque que ele me dava nos shows. Não havia limites para performar em cena e, com isso, desenvolvi algo bem particular no meu jeito de atuar em um show. Depois saí para um trabalho-solo e estou com ele novamente faz três anos. Encerraremos mais uma turnê este ano. Tenho de destacar que nunca consegui fazer solos diferentes dos eternizados pelo Leo Gandelman. Era como uma homenagem a ele e são muito bem construídos. O Leo é um músico inteligente e sempre foi generoso comigo. SAX & METAIS

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C A PA

capa

Álbuns preferidos de Milton Guedes “Esta talvez seja a pergunta mais difícil e eu provavelmente enumeraria uns cem...” STEVIE WONDER Songs In The Key Of Life THE BEATLES Help DAVID SANBORN Straight To The Heart MICHAEL JACKSON Off The Wall LINCOLN OLIVETTI E ROBSON JORGE Lincoln Olivetti e Robson Jorge

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» Você já teve várias músicas incluídas em trilhas de novelas e séries da Rede Globo. Como essas músicas foram escolhidas? MG A minha necessidade de ser um artista que canta e toca me fez procurar possibilidades para mostrar isso. Como gravava muitas trilhas para novela, me foi oferecida pelo Mariozinho Rocha uma música do Moacir Luz, Separação (Meu Bem, Meu Mal), onde pude cantar e tocar sax e gaita. Logo depois veio a trilha da minissérie Riacho Doce, com a canção O Sonho Se Perdeu, de Danilo Caymmi, em que o produtor Ary Sperling me fez assoviar e tocar um naipe de flautas que harmoniza toda a canção. Depois veio um sucesso meu, Sonho de uma Noite de Verão, escolhida pelo diretor Jorge Fernando para a novela Zazá e que também estourou nas rádios. Era o começo da minha carreira-solo e agradeço sempre a eles e também ao Wolf Maia pelo apoio. » Fale um pouco sobre o Milton Guedes compositor. Quando fez as primeiras músicas? Qual é a sua forma de compor? MG As primeiras canções vieram com a banda Pôr do Sol, ainda em Brasília. Com o relativo reconhecimento como músico, me distanciei da composição até fazer meu primeiro CD-solo. O produtor Guto Graça Mello me incentivou a compor mais e a fazer versões, o que resultou numa série de convites e gravações das minhas músicas por muitos artistas. Sempre tenho a ideia da canção antes da letra, mas procuro fazer tudo junto. Tenho um estúdio no Rio e gravo minhas demos lá. » Em 2003, você gravou seu primeiro álbum instrumental, Cinema, com músicas que fizeram sucesso no cinema e, atualmente, está divulgando seu segundo instrumental, Certas Coisas. Pretende dedicar-se mais à carreira de instrumentista? MG O convite para gravar o Cinema foi do produtor João Augusto. Era um projeto em que eu seria o intérprete daqueles temas, como no CD Certas Coisas. Não os vejo como trabalhos de carreira, apesar do prazer e dos desafios que tive em fazê-los. Foi uma oportunidade para

testar novas possibilidades sonoras. Estou com um novo projeto instrumental para este ano, ainda em segredo, em que contarei com participações de grandes músicos das antigas. Clássicos bem dançantes, todos nacionais. Adoro poder exercitar esse lado mais ‘músico’. » Quais os principais desafios que encontrou durante os trabalhos de seu novo disco, Certas Coisas? MG Resolvi gravar o Certas Coisas com todos os músicos tocando juntos, como se costumava fazer. Dá mais veracidade às interpretações, mas requer mais ensaios e preparo. Porém, o prazer de ver o resultado surgir tão rápido é sensacional. Resolvi também apostar numa sonoridade mais suave, pois sempre toquei para fora, com mais força. A música pop quase sempre pede isso. Neste CD usei boquilhas e palhetas mais leves. Queria uma sonoridade mais madura, mas sem perder minha identidade, o som rouco e o vibrato. » Como escolheu o repertório e o instrumento que iria utilizar em cada faixa? MG A ideia inicial era fazer uma série de CDs com repertório de novelas da Globo, desde os anos 70. No final, o repertório se misturou para compilarmos tudo no mesmo CD, mas consegui manter clássicos como Maria Fumaça, da banda Black Rio, além da participação de músicos maravilhosos, como Hamilton de Holanda, Celso Fonseca e a banda sensacional que gravou o álbum também: Sacha Amback nos teclados, Marcelo Costa na bateria e percussão, Vini Rosa na guitarra e André Vasconcelos no baixo, além da participação de Dunga no baixo e da minha banda com o Júnior Lima, a Soulfunk. O estilo e a melodia de cada canção me levaram a escolher o instrumento que senti ser mais adequado. » Em Roxanne, do grupo inglês The Police, há destaque para seu assovio. Existe alguma particularidade para definir o arranjo e a tonalidade quando se trata do assovio como ‘solista’? MG A dificuldade aumenta de acordo com a tonalidade. Quanto mais agudo,

mais difícil de captar, por conta dos harmônicos e do sopro, produzidos pelo assovio, além de não poder gravar assovio depois de qualquer outro instrumento, pois é necessário manter os lábios bem relaxados. Roxanne foi um desafio, pois gravamos primeiro uma versão de gaita. Resolvi gravar de assovio com um solo de sax soprano e no mesmo tom da original do Sting. Foi uma boa surpresa quando a gravadora apostou na versão com assovio. É a versão mais comentada deste CD e tem vídeos no YouTube e no meu MySpace ao vivo. » Como você define sua música e sua sonoridade? MG Sempre tive dificuldade em me admitir como um profissional do sax, principalmente, mas consegui uma identidade sonora que acredito ser a grande busca de todo instrumentista. É muito bom quando um leigo em música reconhece um solo seu. Isso acontece com frequência e sinto que o objetivo foi atingido. Vejo-me como um artista que canta e toca alguns instrumentos. Não gosto de separá-los. Sou tudo isso ao mesmo tempo. Não sou do jazz e sinto falta de mais técnica, pois a estrada me fez ir direto ao assunto muito cedo. E, mesmo com algumas deficiências, felizmente consegui uma credibilidade. Gosto de ouvir solos de novos saxofonistas e gaitistas por aí que parecem ter sido gravados por mim, tal a semelhança do playing. É bom imaginar que influenciei algumas pessoas. » Quais foram as suas influências musicais de maneira geral e quais as principais influências no saxofone? MG Stevie Wonder é meu grande mestre e, como ele, busco tocar meus instrumentos do mesmo jeito como canto. Sou um melodista, acima de tudo, apesar de ter gravado centenas de solos até hoje. Como muitos saxofonistas, tenho o David Sanborn como influência maior, mas admiro e escuto vários músicos, como Michael Brecker, Kirk Whalum, Leo Gandelman, Marcelo Martins, Eduardo Neves, entre outros. Gente que sabe passear em todas as praias. Claro que sempre vai faltar alguém nessa lista... SAX & METAIS

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análises UM

POR DÉBORA DE AQUINO

BOM COMEÇO

FLAUTA TRANSVERSAL ARMSTRONG 104

ANÁLISES

A

s flautas Armstrong já são instrumentos conhecidos por aqui há algum tempo e sem dúvida disputam espaço com os modelos de mesma categoria da Yamaha. Essas flautas são fabricadas nos Estados Unidos há mais de 75 anos e é a última fábrica de flautas modelo estudante ainda por lá. Outras marcas americanas agora são fabricadas na Ásia. O modelo Armstrong 104, especialmente, é uma flauta que já tem certa tradição nos Estados Unidos por ser a primeira escolha dos jovens estudantes. Possui uma construção robusta e o mecanismo de G (Sol) é feito em uma chave separada, o que dá a ele maior resistência. Essa flauta é o modelo mais conhecido e utilizado da Armstrong. Minha primeira flauta foi uma Armstrong 104, exatamente o modelo que descrevo aqui. A minha

da chave de G. Nas descrições que encontramos, temos duas opções: G fora de linha (offline) e G alinhado (in-line). As off-line são mais indicadas para quem está começando, fazendo com que a posição da mão esquerda fique mais confortável. Essa característica é encontrada em instrumentos para estudantes e levam esse nome porque a chave de G é desalinhada em relação às demais chaves do instrumento. As in-line, ao contrário da anterior, são geralmente encontradas nos modelos profissionais e têm por característica o alinhamento da chave de Sol em relação a todas as outras chaves. A mecânica da Armstrong 104 está bem macia e regulada,

era da década de 1980, mas esse modelo passou por alguns ajustes, nem sempre visíveis, mas perceptíveis ao tocá-la, e agora essas flautas são mais práticas na hora da manutenção. Desde 2008, a Armstrong passou a utilizar novos tornos para a fabricação das chaves, já que o processo antigo deixava-as irregulares, tornando o sapatilhamento mais difícil e até mesmo deformando as sapatilhas. Com os novos tornos, esse problema foi resolvido e as sapatilhas também foram melhoradas. A flauta Armstrong 104 apresenta-se em um estojo de fibra, do tipo standard. Vem com vareta de limpeza e afinação e panos para limpeza interna e externa, além do manual de cuidados e manutenção.

não apresenta nenhum tipo de folga ou ‘jogo’ nas chaves. Foi muito prazeroso executar peças com nível de dificuldade elevado e observar sua excelente resposta em passagens rápidas. Em algumas flautas transversais, a posição do Si bemol, por trabalhar com várias chaves, às vezes apresenta resposta lenta e deve ser observada. Mas aqui seu desempenho foi excelente.

MECÂNICA E ERGONOMIA A Armstrong 104 possui chaves fechadas, chave de G (Sol) fora de linha e pé em Dó. Para quem quer comprar a primeira flauta transversal, é importante prestar atenção na tal posição

AFINAÇÃO E SONORIDADE Essa flauta possui cabeça, corpo e pé prateados. Os instrumentos com essas características possuem um timbre pouco brilhante e perdem volume nos graves, o que não ocorre com instrumentos com, pelo menos, a cabeça em prata. Com essa flauta não foi diferente e senti essa perda de volume. A afinação é perfeita em todas as regiões — não foi preciso fazer nenhum tipo de acerto de embocadura para que o instrumento afinasse. Isso é importante, já que se trata de um modelo estudante, sendo que o estudante ainda está ‘afinando o ouvido’, buscando a sonoridade. Começar o estudo de

um instrumento com um equipamento ruim torna o aprendizado mais difícil e desestimulante. A afinação pode ser analisada ao tocar peças lentas com maior quantidade de notas longas. Assim, percebe-se tanto o equilíbrio dela quanto da sonoridade.

CONCLUSÃO Fiquei feliz em poder experimentar essa Armstrong 104, que, como disse no começo desta análise, foi o modelo com que comecei meus estudos. É bom saber que após tantos anos a Armstrong continua preocupada em aprimorar seus processos de fabricação para assim conquistar novos estudantes. Quem sabe futuros profissionais da música, que sem dúvida começarão seus estudos com um bom instrumento. Bonito, bem-acabado, com equilíbrio de sonoridade e, principalmente, muito afinado. Parabéns à Armstrong!

FLAUTA TRANSVERSAL ARMSTRONG 104 Importador: Plander Fabricante: Armstrong Prós: Excelentes afinação e sonoridade. Contra: Perde bastante volume nos graves. Preço médio: R$ 1.355,00 Garantia: 90 dias. Afinação ....................... Sonoridade.................... Mecânica....................... Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação

Tire suas dúvidas com o importador: www.dotstore.com.br/plander e (41) 3323-3636. Quer falar com o autor desta matéria? Débora de Aquino, saxofonista e flautista. Contato: editoriatecnica@saxemetais.com.br.

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FÁCIL

DE TOCAR

BOQUILHA MEYER 5M PARA SAX ALTO

A

s boquilhas Meyer são bastante reconhecidas e procuradas por músicos profissionais e também por estudantes. Grandes nomes do jazz já utilizaram ou utilizam essa boquilha. Um bom exemplo disso é o saxofonista Paul Desmond. A boquilha Meyer de massa possui a câmara redonda. A abertura 5M é indicada para quem está começando, por ser considerada uma boquilha fechada. Costumo indicar essas boquilhas para quem está procurando uma sonoridade mais voltada para o jazz, algo mais vintage. Porém, é uma boquilha bastante versátil. Apresenta-se em uma caixa de papelão duro brilhante e vem com abraçadeira de metal e cobre-boquilha.

afinação. A boquilha Meyer é extremamente afinada e de fácil emissão por ser fechada. É uma excelente dica para quem quer e precisa investir em uma primeira boquilha. E não pense

AFINAÇÃO Hoje, existe no mercado uma grande quantidade de marcas de saxofones fabricados na Ásia e, aos poucos, esses instrumentos estão conquistando mercado e mostrando o seu valor. Porém, a maioria ainda deixa a desejar na questão boquilha. Quase todos vêm com boquilhas ruins, o que já não ajuda, principalmente na questão afinação. Minha dica é adquirir logo de cara uma boa boquilha para não pegar vícios de embocadura, principalmente no que diz respeito à correção da

TÉCNICA Por ser uma boquilha de emissão muito fácil, o estudo é prazeroso. A Meyer responde bem no que se refere a vibratos, legatos e staccatos. Toquei diversos exercícios de escalas experimentando as variadas articulações e o resultado foi muito bom. A interpretação agradece!

CONCLUSÃO Para quem está procurando uma boquilha com características timbrísticas mais genéricas e que pode se adaptar a diversos estilos, a Meyer 5M é uma opção. Apesar dessa coisa meio camaleão, é uma boquilha para quem quer uma sonoridade mais densa e jazzística, com timbre encorpado e aveludado, sem grande projeção e não muito volume.

SONORIDADE Particularmente, gosto bastante da sonoridade das boquilhas Meyer e utilizo uma, mas de abertura maior. Possuem um timbre mais aveludado, sem muita ‘pegada’. Já alerto àqueles que gostam de pop que essa não é a boquilha que vocês procuram. A boquilha Meyer de massa possui os graves bem presentes e os agudos têm boa projeção e certo brilho, mas sem exageros. É uma boquilha muito equilibrada em toda a sua extensão.

fazem sentido. É muito fácil mudar de palheta (ou até mesmo uma mesma palheta com numeração diferente) e conseguir extrair características timbrísticas diferentes com a mesma boquilha Meyer.

que é um investimento que logo precisará ser substituído, pois é por essa razão que é indicada para iniciantes, como disse no início do texto. É uma boquilha consagrada e muito utilizada também por profissionais.

VERSATILIDADE Considero a boquilha Meyer um coringa no que diz respeito a possibilidades. Gosto de experimentar sempre novas palhetas e, com isso, consigo tirar da Meyer diversas sonoridades e características. A variedade de palhetas que existe hoje é bem grande. Palhetas para jazz (Rico Jazz, Vandoren Jazz), para música clássica, para pop/fusion, sintéticas e tantas outras. Na boquilha Meyer, essas características das palhetas realmente

ANÁLISE BOQUILHA MEYER 5M Fabricante: Meyer Mouthpiece Prós: Afinação e emissão. Contra: Pouca projeção. Preço médio: R$ 400,00 Garantia: 90 dias. Afinação ....................... Sonoridade.................... Emissão........................ Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentação ao vivo ❏ Gravação

Onde encontrar: www.leimar.com.br. Quer falar com o autor desta matéria? Débora de Aquino, saxofonista e flautista. Contato: editoriatecnica@saxemetais.com.br. SAX & METAIS

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vitrine Sax

& Metais recomenda

Confira sugestões de INSTRUMENTOS e ACESSÓRIOS que estão chegando às lojas e prometem fazer sucesso entre os músicos Correia acolchoada Nova correia acolchoada da Rico. Utiliza material arejado, macio e se conserva seco, para maior conforto do pescoço. INFORMAÇÕES:

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Flughorn modelo CFH193

VITRINE

Flughorn da Condor laqueado com partes niqueladas, campana de 143 mm, calibre 11,7 mm, pistos em monel, capelotes niquelados, gatilho regulável na terceira pompa e segundo tubo de encaixe laqueado. INFORMAÇÕES:

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Saxofone TJS 6433-1 L Saxofone da Shelter com afinação Bb, apoio de polegar regulável, chave do Bb grave articulável, chave de F# agudo e acabamento laqueado dourado. Acompanha estojo e boquilha. INFORMAÇÕES:

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Trombone YSL-882OR Trombone da Yamaha com campana feita de latão, diâmetro da campana de 220 mm, volta de afinação invertida, rotor balançado, curva de afinação confeccionada em alpaca, leadpipe removível e bocal 51C4L. INFORMAÇÕES:

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Informações cedidas pelas empresas. A revista Sax & Metais não se responsabiliza por qualquer alteração nos produtos apresentados pelos fabricantes e/ou distribuidores.

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r e v i e w s CDs

Quinze anos de carreira e o primeiro disco-solo está saindo do forno. Após tocar com os mais diversos nomes da música brasileira, de Barão Vermelho a Chico Buarque, Ed Motta, Bebel Gilberto, Gilberto Gil e Caetano Veloso, chegou a hora de Henrique Band mostrar seu talento também como compositor e arranjador. Como não poderia deixar de ser, é muita influência e o próprio músico afirma: “Praticamente a música do mundo inteiro passou pelo meu sangue”. E toda essa mistura e maturidade musical podem ser ouvidas agora em Caleidoscópio. O multiinstrumentista assina 12 faixas do CD, as outras duas são Saltando de Band, de Gilson Peranzzetta, composta em homenagem a Henrique, em que o próprio Peranzzetta participa na execução, e Bala com Bala + Cobra Criada, de João Bosco e Paulo Emílio.

BRASILEIRO SAXOFONE

EUFONIUM BRASILEIRO

TEMA FELIZ

ARTISTA: NAILOR PROVETA GRAVADORA: ACARI RECORDS WWW.ACARI.COM.BR

ARTISTA: FERNANDO DEDDOS SELO: INDEPENDENTE WWW.MYSPACE.COM/DEDDOS

ARTISTA: PAULINHO TROMPETE E BANDA SAMBOP SELO: GUANABARA RECORDS WWW.GUANABARARECORDS.COM.BR

O objetivo deste novo CD de Nailor Proveta é trazer o saxofone para mais perto do universo musical brasileiro, das rodas de choro, das bandas, dos coretos e regionais. Aqui, Proveta mostra um pouco da história do instrumento no Brasil, desde o sax tenor de Pixinguinha, muito utilizado para fazer os contracantos, ao sax alto de Abel Ferreira e ao soprano das rodas mais camerísticas. Neste disco, Proveta utiliza bastante o sax tenor, o que não é muito comum em seus trabalhos. Ternura, uma das músicas mais conhecidas de K. Ximbinho, é tocada com tenor e acompanhada por um regional composto por flautim, flauta baixo, clarinete, sax alto, trompete, bombardino e tuba, além de violão de seis e sete cordas e bandolim. São 12 faixas com diversas formações, tendo sempre como base o sopro de Proveta e os violões de Mauricio Carrilho.

Não é comum ver o eufônio como instrumento solista, mas aqui o objetivo é esse. São músicas compostas e arranjadas especialmente para o instrumento, somente de compositores brasileiros. Em seu primeiro trabalho, Fernando mostra a que veio. Músico de irretocável técnica e sensibilidade, não só como instrumentista, mas também como compositor, Fernando assina cinco faixas do CD, entre elas Frevo do Besouro, em que faz uma alusão ao Voo do Besouro, de Rimsky Korsakov. Há desde músicas folclóricas tradicionais, como a que abre o disco, Saudação, até composições com caráter mais contemporâneo, como Ratatá, de Fernando. Em tempo: não poderia deixar de citar Quem Sabe, de Carlos Gomes, cujo original foi escrito para canto e piano e que aqui vem em uma bela adaptação para eufônio e viola caipira, executada por Adailton Pupia.

Do alto de seus 40 anos de carreira, Tema Feliz é o novo álbum do trompetista Paulinho Trompete, em homenagem ao violonista e compositor Durval Ferreira. Não pense que neste CD irá encontrar as tão consagradas músicas de Durval Ferreira, como Batida Diferente, Nuvens, Estamos Aí e tantas outras. Como Ruy Castro escreve no encarte do CD, as músicas contidas neste álbum são como um ‘lado B’ desse grande compositor da bossa nova. Paulinho Trompete reuniu um ‘time’ de primeira do cenário carioca – a banda Sambop, para juntos gravarem esta homenagem a Durval Ferreira, falecido em 2007: Widor Santiago, sax tenor e flauta; Hamleto Stamato, piano; Ney Conceição, contrabaixo e Erivelton Silva, bateria. Paulinho não ficou só no trompete, tocou também flugelhorn e trombone de válvula.

Herbie Mann DO THE BOSSA NOVA Herbie Mann foi um dos primeiros músicos americanos a se dedicar à flauta no jazz, durante os anos 1960. Em 1961, o flautista jazzman veio para o Brasil para o Festival de Jazz do Rio de Janeiro, apaixonou-se por nossa música e nove meses depois estava de volta para gravar este LP com os melhores músicos brasileiros: Tom Jobim, Baden Powell, Sergio Mendes e Paulo Moura, para citar alguns.

Wayne Shorter NATIVE DANCER Wayne Shorter tomou conhecimento da música brasileira por meio de Airto Moreira, percussionista do famoso grupo Weather Report. Moreira também o apresentou a Milton Nascimento. A partir daí, o saxofonista juntou Herbie Hancock, Robertinho Silva, Wagner Tiso, Airto Moreira e Milton Nascimento para gravar este álbum que abre com Ponta de Areia, do compositor mineiro.

Victor Assis Brasil PEDRINHO Este disco está entre os melhores de jazz já gravados no Brasil e foi o último álbum de Victor Assis Brasil. Pedrinho é um tema de Victor em homenagem ao seu irmão caçula e aqui é interpretado maravilhosamente no sax soprano e por Jota Moraes ao vibrafone. Tem também dois temas de Cole Porter, It’s All Right With Me e Night and Day. Mas o ponto alto é o solo de O Cantador. Vale a pena transcrevê-lo. Fica a dica!

David Sanborn UP FRONT David Sanborn não toca o jazz tradicional, nem faz smooth jazz – e este álbum é um dos meus preferidos do saxofonista. Up Front é uma reunião de estrelas e foi produzido pelo baixista Marcus Miller, que não poderia deixar as levadas funkeadas de fora. Também não falta o som ‘romântico’ do saxofone na balada ‘rock blues’ Soul Serenade e uma pitada de música latina em Bang Bang. Impossível ouvir parado!

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REVIEWS

CALEIDOSCÓPIO

ARTISTA: HENRIQUE BAND SELO: INDEPENDENTE WWW.HENRIQUEBAND.COM.BR

POR DÉBORA DE AQUINO


workshop F L AU TA

Por Gabriela Machado

prática e aplicação I Q

uando recebi o convite para escrever este work para flauta transversal, o primeiro tema que me veio à cabeça foi a sonoridade desse instrumento. Lembrei que foi ouvindo um lindo som de flauta transversal que me apaixonei por ela e resolvi estudá-la. Fui percebendo, aos poucos, que a flauta tem uma variedade enorme de timbres, independente da marca do instrumento. Porém, completamente dependente do instrumentista que toca e desenvolve a habilidade de criar vários tipos diferentes de sons. Sendo, dos instrumentos de sopro, o único que não possui uma embocadura já construída, seja com palhetas (simples ou dupla), como no caso do saxofone, da clarineta, do oboé ou do fagote, seja diretamente encostada à boca com bocais, como no caso do trompete, trompa, trombone, tuba, eufônio etc., a flauta tem uma característica também única: uma vez que o flautista não tem resistência já pronta na forma de palheta ou bocal, ele cria nos próprios lábios essa resistência para moldar e direcionar a coluna de ar que se transformará em som. Dessa forma, os exercícios para sonoridade contribuem fortemente para o domínio do instrumento, possibilitando o controle de uma extensa gama de dinâmica e coloridos, flexibilidade e afinação.

Existem vários métodos de flauta que trabalham a questão da sonoridade na flauta e um dos mais conhecidos e estudados é De la Sonorite – Art et Technique, do flautista francês Marcel Moyse, que aborda a sonoridade sob três aspectos principais: notas longas, extremos de dinâmica (do pianíssimo ao fortíssimo e vice-versa) e flexibilidade labial (do grave ao agudo e vice-versa) com grandes ligaduras. Durante esse período de estudo, descobri que estudar ficava mais interessante e gratificante quando eu criava meus próprios exercícios baseados na proposta do autor. Assim, após estudar um método, o aluno pode aplicá-lo em cima de frases escolhidas do seu repertório de estudo ou criar suas próprias frases. Na primeira parte deste workshop, vamos trabalhar notas longas. Costumo utilizar esses exercícios de sonoridade para aquecimento diário, lembrando sempre de tocar em toda a tessitura do instrumento, ou seja, regiões média, grave e aguda.

NOTAS LONGAS 1. O exercício proposto por Marcel Moyse é de notas longas em escala cromática. Um exercício simples que, com alguns detalhes, pode surtir um grande efeito para ajustar a sonoridade. Pratique descendente e ascendentemente.

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Exercício 1

WORKSHOP

Sonoridade:


Exercício 2

É sempre bom aproveitar esse tipo de exercício para respirar ao máximo com a garganta aberta, como se fosse bocejar, e soltar o ar de forma regular, mantendo sempre a garganta aberta, pois o som começa antes do instrumento, no próprio corpo. Se o tubo de ar dentro do corpo for grande, o som também terá essa característica, amplificado pelo instrumento. É quase como tocar bocejando. Bem aberto! Para manter a regularidade do ar, não podemos nos esquecer da pressão constante que o diafragma exerce na produção do som, a coluna de ar.

Um professor, uma vez, sugeriu a seguinte imagem de que gostei e adoto sempre: “Observe uma mangueira aberta derramando água. Se você colocar um pouco de pressão com o dedo, fechando suavemente a saída da mangueira, a água ganha pressão e direção. É dessa direção que precisamos para manter uma nota longa afinada”. Após tocar o exercício 1 com semitons, experimente aumentar os intervalos para um tom (segunda maior), um tom e meio (terça menor) e assim sucessivamente até intervalos de oitava. Crie variações rítmicas diferentes e pratique também na terceira oitava.

Exercício 3

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workshop F L AU TA Exercício 3

WORKSHOP

Exercício 4

Solte a imaginação e crie outros padrões intervalares para tocar de cor e repetir o mesmo padrão subindo de meio em meio tom em toda a tessitura do instrumento.

Aproveite para escolher trechos musicais que se apliquem a esse fundamento, como é o exemplo do clássico solo de flauta do prelúdio para orquestra de Claude Debussy – Á l’après Midi d’un Faune.

Exercício 5

Exercício 6 Prelúdio para Á l’après Midi d’un Faune – Claude Debussy

autor

Gabriela Machado é flautista formada pela Fundação das Artes de São Caetano e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Desde 1995 é solista do grupo Choronas que tem três CDs lançados.

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workshop T É C N I C A

Por Rodrigo Bento

Respiração

contínua (circular) U

m assunto muito popular entre os instrumentistas de sopro, porém ainda pouco explorado e divulgado. Assim podemos definir a chamada respiração contínua ou circular. Talvez o ícone dessa técnica na música popular mais atual seja mesmo Kenny G., que entrou para o Guinness Book ao sustentar uma mesma nota por um período ultraprolongado durante um show ao vivo. Instrumentistas de sopro eruditos já conhecem e dominam há muito tempo esse artifício, executando peças como Moto Perpetuo (Paganini) e Caprice (Eugene Bozza), entre outras, sem parar para respirar em momento algum, atraindo a atenção e a admiração de plateias mundo afora. A técnica consiste em sustentar a coluna de ar sem interrupções entre a emissão das notas e uma próxima respiração, mantendo uma nota ou trecho de notas sem qualquer variação durante a execução, sem a necessidade de parar para respirar e continuar, como normalmente ocorre. Uma boa maneira para iniciar o estudo é utilizar um copo com água pela metade e um canudo mais grosso. Não há necessidade de usar o instrumento nessa primeira fase. Iniciamos a prática apenas soprando com o canudo para observar a formação das bolhas na água, que serão muito importantes para saber se a técnica está sendo bem aplicada (as bolhas não devem parar enquanto sopramos com o canudo e ao inspirar). Naturalmente, evitamos inflar demais as bochechas ao praticar o instrumento. Porém, nesse caso, será extremamente necessário utilizá-las como uma espécie de concha para armazenar o ar que vem pelo diafragma e funcionar como uma bomba propulsora, ajudando a expulsar esse ar com muita velocidade enquanto inspiramos novamente. Parece mais complexo do que prático, mas é exatamente o que ocorre. Por isso, deve-se sempre observar a formação das bolhas na água para ter certeza de que há um fluxo e um contrafluxo na respiração. Comece sempre depois de inspirar profundamente e observe as bolhas, enchendo gradativamente as bochechas até uma concentração confortável de ar. Nesse momento, é necessário imaginar

que o ar que já está comprimido pelas bochechas deverá ser levado rapidamente ao céu da boca, para que haja a troca através da nova respiração, o que permite fazer o processo de renovação do ar sem que haja prejuízo para a execução. A troca é extremamente rápida e necessita de controle do diafragma, que também funciona como propulsor durante o processo de saída do ar, fazendo com que a coluna mantenha-se perfeita para sustentar a nota ao mesmo tempo em que inspiramos. Após o treino com o copo, água e canudo, passamos para o instrumento. Sempre é bom iniciar com notas no registro médio, mesma região na qual começamos a estudar o sax, trompete, flauta, clarinete etc. Andamento lento (semínima = 60), tocando semibreves, ligamos duas notas e tentamos aplicar a técnica entre o quarto tempo do primeiro compasso e o primeiro tempo do segundo. Sempre ocorre uma falha na ligação nas primeiras tentativas, o que é perfeitamente compreensível. A prática levará a um nível bem avançado de execução, diminuindo o intervalo entre as trocas de ar. Aos poucos, começamos a treinar com frases maiores, em diferentes andamentos e divisões rítmicas, sempre legato e aumentando e diminuindo a dinâmica. O ideal é ouvir uma nota sem emenda com a próxima, como se fosse um órgão ou violino, por exemplo. Lembre-se de que se trata apenas de um artifício a ser utilizado para dar mais colorido à música, principalmente em trechos mais rápidos e de virtuosismo, sem interrupções e com mais fluidez. Muitos grandes instrumentistas (a maioria, aliás) nunca utilizaram essa técnica em gravações ou apresentações ao vivo, por não ser de extrema necessidade para os instrumentos de sopro. Porém, entender e dominar uma nova técnica é sempre uma boa perspectiva para o músico e enriquece a sua performance. autor

Rodrigo Bento é saxofonista, bacharel pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor da escola Class em São Paulo (Rua Teodoro Sampaio, 784). Dedica-se a trabalhos de black music e ao naipe de metais Magic Horns. Contato: bentosax@hotmail.com

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O Pife do N

a edição anterior da Sax & Metais, você pôde conferir um 5 Minutos com um grande tocador de pífano de Caruaru (PE), o Biu do Pife. Dando sequência àquela matéria, irei mostrar um pouco como tocam os duos de pífanos. Geralmente, os tocadores de pife tocam ‘de ouvido’, ou seja, sem partitura e de uma maneira livre, mas aqui fiz uma transcrição de um trecho da música Chamego de Mãe, do CD da Banda de Pife Princesa do Agreste de Caruaru. Reparem que é uma escrita básica da melodia, na qual os tocadores exploram muito a espontaneidade e a liberdade de criar frases e ornamentos em torno dela. Essa música pode ser ouvida no

Por Marcelo Monteiro

Biu site www.selomundomelhor.org/discos/banda-de-pife-princesa-do-agreste-de-caruaru-pe. O pife é um instrumento simples, um pedaço de bambu ou taboca com sete furos, um que serve de bocal e seis para digitação, e que pode ser feito também com outros materiais, como canos de PVC ou metal. Dentro dessa simplicidade, existe toda a riqueza da musicalidade das músicas populares, religiosas ou não, músicas para dançar, músicas de procissão etc. Os pifeiros se sentem livres para improvisar melodias, sempre bem ritmadas com os instrumentos de percussão, e por aí segue pelo tempo que quiserem. Bom para quem toca e especialmente para quem ouve!

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Choro de Mãe

WORKSHOP

workshop F L AU TA


autor

Marcelo Monteiro é flautista e saxofonista, toca em formações instrumentais de jazz, bossa e choro. Atualmente integra o Projeto Cru, Luz de Caroline, Freegideira, Donazica e Comadre Fulozinha.

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workshop S A XO F O N E

Por César Roversi

samba no dedo

O

balanço do Brasil, nossa música, nossa ginga, seja ela paulista, carioca, cearense, pernambucana ou de qualquer outro canto de nossa ‘Mãe Gentil’, onde quer que seja ouvida, desperta curiosos sentimentos singulares em quem quer que a ouça. Mas o que é o ‘balanço’ da nossa música? Como nossos grandes mestres faziam para despertar nas pessoas essa vontade de não ficar paradas ao ouvir o gingado criado por mãos e dedos castigados pelas diferenças sociais e raciais que insistem em nos perseguir até os dias de hoje? Nesta matéria, veremos algumas formas de como colocar o ‘molho’ na execução da nossa música. A música brasileira é muito rica em ritmos e o que dá o balanço é a forma como tocamos esses ritmos. Para ser mais específico, usaremos o samba como exemplo, que tem, como base rítmica, as semicolcheias. Essas semicolcheias não são divididas em quatro partes iguais e, exatamente por essa divisão não ser perfeita, conseguimos criar nossa ginga.

Se pensarmos em um andamento em que a semínima é igual a 100 bpm (batidas por minuto) e dividirmos esse tempo em quatro, o resultado será quatro semicolcheias a 400 bpm. Para dar o balanço do samba, as semicolcheias têm uma pequena alteração em seus valores. A primeira semicolcheia é tocada um pouco mais longa, a segunda e a terceira mais rápidas e a quarta semicolcheia, como a primeira, também mais longa. Para se ter uma ideia mais clara, traduziremos esses valores em batidas por minuto. Continuando com a mesma referência de andamento, ou seja, semínima igual a 100 bpm, a primeira e a quarta semicolcheias têm valor aproximado de 398 bpm e a segunda e a terceira equivalem aproximadamente a 402 bpm. Dessa forma, dividimos um tempo de 100 bpm em quatro partes diferentes, criando um padrão rítmico que gera o balanço das semicolcheias do estilo. Para completar, é preciso adicionar as articulações, que podem ser de duas maneiras.

A primeira é acentuando as semicolcheias tocadas no grave do pandeiro. Exercício 1

Na segunda, tomamos por base a acentuação das platinelas do pandeiro, que neste caso é a segunda semicolcheia de cada tempo. Exercício 2

Uma boa maneira de praticar no seu instrumento é fazendo estudos sobre escalas com essas acentuações, até conseguir executá-los naturalmente.

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Exercício 3

WORKSHOP

Samba no pé,


Exercício 4

Exercício 5

Exercício 6

Exercício 7

Exercício 8

Os mesmos exercícios também podem ser executados ligando a segunda semicolcheia na terceira. Exercício 9

Exercício 10

Esses modelos podem ser variados de acordo com a necessidade técnica de cada um, podendo ser feitos em saltos maiores, em vários tons e sobre outros tipos de escalas. É muito importante ouvir diversas gravações de sambas tradicionais e choros, dando maior atenção ao pandeiro, para reforçar as referências rítmicas das semicolcheias. Uma boa referência, dentre tantas, é o disco Arranca Toco, lançado pela gravadora Acari Records em setembro de 2000 (ver catálogo em www.acari.com. br). Isso por ter, além do pandeiro ‘bem temperado’ do Jorginho, uma boa qualidade de gravação, que possibilita melhor audição, tornando mais fácil a compreensão do ‘balanço’ do instrumento. Vale lembrar que esses exercícios são para sentir o estilo rítmico nos instrumentos melódicos e, para a execução de melodias, esta é apenas uma das formas de interpretação.

Sentir o ‘balanço’ rítmico tocado por instrumentos de percussão e transpô-los para o seu próprio instrumento é o primeiro passo para incorporar os estilos musicais brasileiros. ALGUMAS OUTRAS REFERÊNCIAS DE LANÇAMENTOS RECENTES: ✓ Grupo Choro Rasgado, Baba de Calango. ✓ Grupo Ó do Borogodó, Toca Altamiro Carrilho. ✓ Tiago França, Na Gafieira. ✓ Nailor Proveta, Brasileiro Saxofone. autor

César Roversi é professor de saxofone da faculdade Mozarteum, saxofonista do grupo de música instrumental brasileira Mente Clara e lidera os grupos de choro César Roversi Trio e César Roversi e Regional de Choro.

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