Sax & Metais #26

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workshop S A XO F O N E

Por Rodrigo Capistrano

O saxofone por si só As articulações devem ser levadas ao extremo para assim criar impacto e surpresa. Da mesma forma, as dinâmicas têm de ser bastante exageradas para dar a coloração adequada às ideias musicais que se pretende passar. A ideia dos tempos (andamentos) escolhidos também merece atenção especial, pois o pulso interno do músico tem de estar absolutamente compreendido e orgânico para evitar flutuações que prejudiquem a fluência do discurso e, consequentemente, o fraseado. Para se chegar a essas definições, necessitamos fazer inúmeros testes antes de escolher as marcações metronômicas de estudo e que serão depois utilizadas em concerto. A presença por assim dizer ‘cênica’ do músico e a sua postura no momento da performance são aspectos a se valorizar, já que certas peças contemporâneas pedem que todo o espaço do palco seja explorado de forma a fazer parte ‘ativa’ da composição. A própria colocação das estantes deve ser feita de forma a não esconder a movimentação do instrumentista e assegurar o menor número de viradas de páginas da partitura – eventualmente duas ou até três estantes podem ser usadas para se tocar um único movimento. Um detalhe interessante é que algumas obras solo, embora não possuam acompanhamento, são escritas especificamente para algum tipo

PEÇAS ADAPTADAS Algumas peças solo originais para outros instrumentos são também utilizadas pelos saxofonistas. A seguir, alguns breves exemplos: • Tango – Etudes. (Astor PIAZZOLLA) Ed. Henry Lemoine • Vingt-deux Pièces – Cinq Suites. (Johann Sebastian BACH) Gérard Billaudot Éditeur • Caprice Op. 1 N° 24. (Nicolo PAGANINI) Dorn Publications/Cop. • Partita Pour la Flûte Traversière.* (Johann Sebastian BACH) G. Henle Verlag *Obs.: Esta é uma das obras pedidas no programa de ingresso ao Conservatório de Paris.

PEÇAS ORIGINAIS

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SAX & METAIS

Segue uma lista de algumas obras solo originais e as suas respectivas editoras: • Seresta Nº 2. (Liduino PITOMBEIRA) Edição do autor • Improvisation et Caprice. (Eugène BOZZA) Alphonse Leduc • Monólogo 96. (Edmundo VILLANI-CÔRTES) Edição do autor • Improvisation I. (Ryo NODA) Alphonse Leduc • Duas Peças. (Ricardo RAPOPORT) Edição do autor • Improvisation II. (Ryo NODA) Alphonse Leduc • Solilóquio I. (Harry CROWL) Manuscrito do autor • Improvisation III. (Ryo NODA) Alphonse Leduc • Suíte. (Henrique David KORENCHENDLER) Edição do autor • Madness in Three Episodes. (David S. POLANSKY) • Monólogo para um Amigo. (Andersen VIANA) Edição do autor Almitra Music Co • Khyma. (Gilberto CARVALHO) Edição do autor • Maï. (Ryo NODA) Alphonse Leduc • Prelúdio Nº 1. (Dilson FLORÊNCIO) Edição do autor • Mélange. (Jeffrey MILLER) Norruth Mus. Inc. • Fracta. (Hudson LACERDA) Edição do autor • Monolog Nr 4. (Erland von KOCH) SK-Gehrmans Musikforlag • Paisagem Sonora N. 06 Op. 34. (Rodrigo LIMA) • Sequenza VII b. (Luciano BERIO) Universal Edition • Sequenza IX b. (Luciano BERIO) Universal Edition Edição do autor • Agnus Dei. (Gottfried MULLER) Ed. Kuffner & Drechsler • Six Miniatures. (Jacques BERNARD) Ed. Andel • Caprice en Forme de Valse. (Paul BONNEAU) Alphonse Leduc • Solfegietto N. 8. (Claude BALLIF) Ed. Musicales Transatlantiques • Congoja. (Esteban EITLER) Ed. Politonia • Sonata. (Sigfrid KARG-ELERT) Musikverlag Zimmermann • 12 Études – Caprices. (Eugène BOZZA) Alphonse Leduc • 25 Capricen Op. 153. (Sigfrid KARG-ELERT) • Èpisode Quatrième. (Betsy JOLAS) Alphonse Leduc Musikverlag Zimmermann • Ètude de Concert. (Guy LACOUR) Gérard Billaudot • Sonate. (Jeanine RUEFF) Alphonse Leduc • Fantasy Piece. (Ronald L. CARAVAN) Ethos Publications • Suite Pour Saxophone Solo. (François DANEELS) Shott • Hard. (Christian LAUBA) Ed. J.M.Fuzeau • Tre Pezzi. (Giacinto SCELSI) Ed. Salabert • Horoscope. (Marie Hélène FOURNIER) Ed. M.Combre • Maknongan. (Giacinto SCELSI) Ed. Salabert • Huit Petites Etudes Autour du Tango. (Gustavo • Ixor. (Giacinto SCELSI) Ed. Salabert • Distance. (Toru TAKEMITSU) Ed. Salabert BEYTELMANN) Misterioso

WORKSHOP

O

lá, caros colegas. O assunto a ser abordado nesta edição é o repertório erudito para saxofone solo. Quando me refiro à palavra ‘solo’, entenda-se ‘desacompanhado’, ou seja, tocando sem o acompanhamento de piano, violão ou qualquer outro instrumento harmônico ou mesmo melódico. Da mesma forma que em meu último artigo, que tratava de um assunto pouco explorado pelos saxofonistas (repertório orquestral para o saxofone), o tema desta edição também é modestamente abordado, pois quase sempre a escolha do repertório a ser apresentado pelos músicos dá preferência às peças com acompanhamento de piano, aliás, fórmula essa extremamente rica em termos de escrita para os dois instrumentos quando juntos em um recital. Temos uma gama incrível de obras importantíssimas para essa formação dos mais diversos estilos e de compositores de várias nacionalidades. De volta ao assunto em questão, chegamos obviamente à conclusão de que quando estamos tocando sozinhos no palco, a responsabilidade se multiplica e as atenções da plateia estão voltadas única e exclusivamente para o saxofonista em cena. Esse processo musical se constitui em um imenso e interessantíssimo desafio. Sob certo aspecto, tal desafio é muito mais difícil do que tocar acompanhado de uma orquestra. Tudo ali está exposto e desnudo no palco e o solista deve ser o único agente interlocutor com o público, assumindo sozinho todos os riscos dessa aventura. Todas as possibilidades de sons, timbres e cores instrumentais devem ser exploradas ao máximo pelo intérprete, que deve levar para o palco o famoso conceito de que menos é mais. Todo o detalhamento da preparação de uma interpretação solo deve ser evidenciado se comparado à forma de se tocar em grupos, sejam eles menores ou maiores. Pelo fato de estarmos sós, devemos rever atentamente conceitos básicos como articulação e dinâmica, sem esquecer, é claro, da afinação, já que as relações intervalares entre as notas têm de permanecer corretas mesmo sem o apoio de um instrumento harmônico.


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