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Capa: Scott Hampton Editor do encadernado: Justin Eisinger e Alonzo Simon Projeto gráfico: Claudia Chong Tradução: Octavio Aragão Editor: Júlio Oliveira
MYTHOS EDITORA LTDA. Diretor-Executivo Helcio de Carvalho Diretor-Financeiro Dorival Vitor Lopes REDAÇÃO: Editor Júlio Oliveira Coordenador de Produção Ailton Alípio Tradução Octavio Aragão e Helcio de Carvalho Revisão Priscila Oliveira Letras Celso Pimentel
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IDW PUBLISHING Ted Adams – Fundador e Diretor-Executivo Robbie Robbins – Cofundador e Vice-Presidente Executivo Greg Goldstein – Presidente Justin Eisinger e Alonzo Simon - Editores originais
OS DEVORADORES DE VIDAS é uma publicação licenciada pela Mythos Books, um selo da Mythos Editora Ltda. Redação e administração: Av. São Gualter, 1296, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05455-002. Fone/fax: (11) 3024-7707. Data da primeira edição: dezembro de 2017. Todos os direitos reservados. The Life Eaters é © David Brin. Publicado nos Estados Unidos pela IDW Publishing, uma divisão da Idea and Design Works, LLC. Para a edição em língua portuguesa: © Mythos Editora 2017. Todos os direitos reservados. Os personagens, nomes, eventos e locais presentes nesta publicação são inteiramente fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, tanto em mídias impressas quanto eletrônicas, sem a permissão expressa e por escrito da IDW e dos editores brasileiros, exceto para fins de resenha. História publicada originalmente em The Life Eaters (janeiro de 2015).
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Escritor: David Brin Artista: Scott Hampton Letras: Celso Pimentel Editores originais: Jeff Mariotte & Scott Dumbier
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Brin, David Os devoradores de vidas / David Brin roteiro ; Scott Hampton arte ; tradução Octavio Aragão, Helcio de Carvalho. -- São Paulo : Mythos Editora, 2017. Título original: The Life Eaters. ISBN 978-85-7867-293-5 1. Histórias em quadrinhos I. Hampton, Scott. II. Título. 17-10486
1. Histórias em quadrinhos
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Índices para catálogo sistemático: 741.5
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AGRADECIMENTOS
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ossos agradecimentos àqueles que ajudaram este projeto desafiador – dentre essas pessoas, Trevor Sands, Alberto Monteiro, Stefan Jones, Vince Gerardis, Joe Carroll, Joe Miller, Ruben Krasnopolsky, Dustin Laurence e David Clark. Nada poderia ter acontecido sem John Nee, Scott Dunbier e Paul Levitz, da DC/Wildstorm. Ou Gregory Benford, que me desafiou a escrever a história original Thor meets Captain America, ou os votos que gentilmente a indicaram para um Prêmio Hugo. É claro que foi uma honra trabalhar num “curta-metragem” com o brilhante Scott Hampton e o lendário Todd Klein. Agradecimentos especiais vão para o mestre animador Steve Gold, que primeiro despertou a ambição de estender aquela história para uma dimensão épica, e Jeff Mariotte, que ajudou a torná-la realidade. – David Brin
P
ela ajuda e inspiração, em primeiro lugar e com destaque, Karen Hankala, marionetista e parceira! Agradecimentos também ao seu parceiro Darwin Talon. Na área da inspiração, um enorme agradecimento aos meus colegas de armas – Dave, Chris e Ray, por manter o nível de excelência bem elevado. George, John, Mark – eu sei que provavelmente estão ficando cansados de serem arrastados pelas minhas listas de agradecimentos, mas vocês terão de aguentar isso. (Beverly manda muito bem!) Agradecimentos à Letitia, é claro! Dã! À Meredith e Sherri pela gentileza indizível. E outro agradecimento do tamanho de um mamute para minha família, Dave Elliott, Mark Kneece, Bob Pendarvis, os baristas do Caffe Driade, Stephen King, Stanley Kubrick, Nick Drake, Tom Petty, Yusuf Islam, Will Patton e 5.000 outros. – Scott Hampton
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– PRÓLOGO – Não se deixe enganar pelas lendas. Elas exageram. Ele não era um deus. Nem um pouco. Aqueles que dizem isso roubam o significado da história.
Eu estava lá – na noite em que tudo começou – servindo como copeiro para o “rei dos deuses”. Por isso, sei a respeito deles.
E sei o que pode ser realizado por um mero homem.
É por essa razão que lutei… e ainda luto até hoje.
Lembro-me desta taça – e tudo mais – tão claramente como essa manhã…
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– PARTE UM –
“NOITE DE PERGUNTAS”
NHHHH.
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Ele chegou aqui em Gotland naquela noite, muito tempo atrás, acompanhado por outros heróis, numa revoada de pássaros poderosos – bombardeiros B83 vindos de bases no Canadá – todos voando com destino ao Polo em formação, sabendo que aquela missão era só de ida. A maior parte dos aviões caiu por terra antes de alcançar o Báltico… derrubados por foguetes alemães ou pelo martelo de Thor. Ninguém soube dizer qual… E, quando um bombardeiro sobrevivente finalmente abriu seu ventre sobre o mar escuro para despejar a carga que carregava – um submarino –, que bateu contra a superfície da água e afundou sob as ondas, ninguém a bordo da embarcação se sentiu seguro.
O anão de Loki é um habitante das florestas densas e das cavernas escuras. Não foi feito para lugares como este.
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Apenas homens escolheriam morrer deste jeito, dentro de um caixão de aço cheio de goteiras, numa tentativa desesperada de explodir Valhalla.
Mas, até aí, não é como se o anão tivesse alguma escolha.
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“Por quê?”, Chris
de repente se perguntara, não pela primeira vez.
“Por que tais criaturas existem? Não estaria o Mal se dando muito bem antes delas aparecerem para ajudar?”
Os motores do submarino rugiam e Chris Turing pensava. Sequer imaginar um mundo sem os aesires e seus servos era agora tão difícil quanto recordar um tempo sem guerra.
Ouvindo o gélido mar Báltico através do casco de espessura fina, Chris observava o gnomo agachado sobre a caixa contendo partes de uma bomba de hidrogênio. A criatura deu outro resmungo enquanto o periscópio do Razorfin subia. Mais água gorgolejou pelas linhas de pressão.
O que está incomodando o maldito anão?
Sei lá.
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Pensei que você fosse um especialista em aesires. Nem imagina por que o bicho está espumando de raiva?
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Por que você não pergunta pra ele?
Levantar e pedir pra aquela coisa fedida explicar o que tá sentindo? Hah! Prefiro cuspir no olho de um aesir.
Aí, compadre! Olha no periscópio que tem um aes na parada!
Escreve umas runas na escarradeira dele.
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O que ele disse?
O major Marlowe fez uma careta. Seria melhor Leary ter sugerido que ele enfiasse a mão no exaustor de uma turbina.
Zap quer que cê faça um teste cuspindo no olho de Loki.
Um plano desesperado. No final de 1962 havia pouco tempo para uma última aliança contra o nazismo. Qualquer coisa que pudesse postergar o inevitável parecia uma boa aposta.
Mesmo Loki – parecido com um urso, quase invulnerável, sempre soltando gargalhadas que provocavam arrepios na espinha dos humanos – mesmo ele tremeu quando o Razorfin deixou a barriga do bombardeiro agonizante, embrulhando seu estômago, e mergulhou no gélido abraço de Netuno. Chris sequer respirou durante a queda breve, mas que pareceu infinita do avião. O impacto subsequente… o grito de metal retorcido… veio quase como um alívio.
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MMFFF!
Eles não estão acostumados com submarinos.
Não faço ideia de como Loki conseguiu convencer esses anões a se juntarem a nós… ainda mais numa missão suicida.
Naquele momento, um dos fuzileiros perto de nós cometeu o erro de deixar cair um cartucho de balas dentro do radiador. Marlowe expressou sua frustração atacando o coitado com um rico arsenal de palavrões criativos.
Qualquer coisa era melhor que a longa e acidentada viagem sobre o Polo, rodeados por mísseis nazistas, sobrevoando montanhas e águas cinzentas, ouvindo sem poder fazer nada, afivelados no banco, enquanto os aeronautas pilotavam seus caixões voadores aqui e ali – rezando para que os mestres aesires do inimigo não estivessem patrulhando aquela parte do norte naquela noite…
Dos vinte submarinos de carga enviados da ilha Baffin, apenas seis chegaram entre a Suécia e a Finlândia. Tanto Cetus quanto Tigerfish se partiram ao bater na superfície da água, abrindo-se como latas de sardinha e arremessando sua infeliz tripulação para uma morte congelante.
Sobraram apenas quatro submarinos,
pensou Chris.
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Nossas chances podem ser pequenas, mas aqueles pobres pilotos… eles, sim, são os verdadeiros heróis.
Duvido que um único membro da equipe conseguirá atravessar, em segurança, a escura e mortal Europa até Teerã.
Capitão Turing!
Já falo contigo, comandante Lewis.
Diz pra eles que nossa bebida é boa demais pra gente compartilhar.
Calaboca, beatnik idiota.
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Eu conheço Loki há anos. Lutei ao lado dele contra seus irmãos aesires. Ainda fico bem assustado quando olho pra ele.
Sob a fraca luz, Chris achou que Lewis parecia ter envelhecido nas últimas vinte horas. O jovem subcomandante sabia que sua esquadra não era a única coisa considerada dispensável na operação. Milhares de milhas a oeste, o que havia sobrado da Marinha de superfície dos Estados Unidos se engajara no combate por um único motivo – distrair a kriegsmarine, a SS e, especialmente, um certo “deus do mar” – longe do Báltico e da Operação Ragnarok. Tyr, primo de Loki, não podia muito contra submarinos, mas, se sua atenção não fosse desviada para outro lugar, ele poderia tornar a vida um inferno quando a pequena força aliada tentasse desembarcar.
Obrigado. Vou contar pro Marlowe e pra minha equipe de demolição.
Senhor, estamos perto do ponto y?
Mais uns vinte minutos.
Por isso, esta noite, em vez de atacá-los, ele levaria o inferno para marinheiros da América, do Canadá e do México. Chris evitou pensar sobre quantos jovens morreriam ao largo de Labrador apenas para manter uma criatura alienígena ocupada, enquanto quatro submarinos sobreviventes tentavam se esgueirar pela porta dos fundos…
PRECISAS SABER DE ALGO MAIS. TERÁS UM PASSAGEIRO INDO À TERRA.
Você?
CORRETO. NÃO ACOMPANHAREI OS NAVIOS SUBMERSOS, ENQUANTO TENTARÃO INVADIR PELO SKAGERRAK. EM LUGAR DISSO, IREI CONTIGO POR TERRA À GOTLAND.
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Chris manteve o rosto impassível. Não havia maneira dele, ou Lewis, ou alguém mais impedir que aquela criatura fizesse o que bem entendesse. De um jeito ou de outro, os Aliados estavam prestes a perder seu único amigo aesir na longa guerra contra a praga nazista.
Se é que a palavra “amigo” alguma vez pôde descrever Loki – que certo dia surgiu na pista de pouso de uma base aérea escocesa, durante a evacuação final da Inglaterra, acompanhado por oito pequenos seres barbados carregando caixas. Ele foi até o embasbacado oficial mais próximo e pilotou o avião particular do Primeiro Ministro até a América. Talvez um batalhão blindado pudesse tê-lo detido. Segundo relatórios de guerra, aesires podiam ser mortos, com sorte, se fossem acertados por um golpe forte e rápido o bastante. Mas o comandante local decidiu arriscar.
Loki havia provado seu valor diversas vezes desde aquele dia, dezoito anos atrás. Até agora, pelo menos.
Se você insiste.
EU INSISTO.
Então vou explicar pro major Marlowe. Com licença.
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Vozes sussurravam. Todos os jovens falavam inglês, mas apenas metade era americana. Suas dragonas – França Livre, Rússia Livre, Irlanda Livre, Cristãos Alemães – eram invisíveis à luz baça, mas a mistura dos sotaques era inconfundível, assim como o jeito que acariciavam suas armas ou o brilho que Chris percebeu em muitos pares de olhos. Esses eram os voluntários para missões suicidas; um tipo de gente – comum no mundo depois de vinte e três anos de uma guerra horrível – que não tinha nada a perder. O major Marlowe voltou para ajudar o desembarque. Ele não aceitou bem as novidades.
Loki quer vir junto? A Gotland?
O safado é um espião. Eu sabia!
Ele nos ajudou uma centena de vezes, John. Só por ter acompanhado Ike a Tóquio e convencer os japoneses--
Grande coisa! Nós já tínhamos derrotado os japas! Como teríamos esmagado Hitler se esses monstros não tivessem aparecido do nada, feito uma praga de Satã!
Já faz anos que ele vive entre a gente, observando nossos métodos, nossas táticas, nossa tecnologia… a única vantagem que nos sobrou!
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Chris fez uma careta. Como ele poderia explicar a Marlowe? O oficial da Marinha jamais estivera em Teerã, como Chris. Marlowe jamais vira a capital de IsraelIrã, o maior e mais leal aliado da América, baluarte do Oriente. Ali, acampados ao longo da margem leste do Eufrates, Chris encontrou homens e mulheres ferozes com números de Treblinka, Dachau e Auschwitz tatuados no braço. Ouviu histórias de como, em uma noite desesperançada, sob o arame farpado e o fedor de chaminés, as massas famintas viram um estranho vapor no céu. Olhos incrédulos e assustados pela morte observaram, atônitos, enquanto as brumas se juntavam e se fundiam em algo que parecia quase sólido. A partir da névoa, uma ponte multicor tomou forma – um arco-íris aparentemente infinito, ligando o local de horror à noite sem luar. E então, cada um dos condenados ali presentes viu descer uma figura de olhos negros montada num cavalo voador. Eles a sentiram sussurrar em suas mentes. VENHAM, CRIANÇAS, ENQUANTO SEUS ALGOZES OLHAM INCRÉDULOS, PRESOS EM MINHA ARMADILHA MENTAL. VENHAM PARA A SALVAÇÃO, ANTES QUE MEUS PRIMOS PERCEBAM MINHA TRAIÇÃO.
Quando os condenados se ajoelharam, ou gritaram preces de agradecimento, a figura bufou em escárnio. Sua voz sibilou dentro de suas cabeças. NÃO ME CONFUNDAM COM SEU DEUS, QUE OS DEIXOU AQUI PARA MORRER! NÃO POSSO EXPLICAR A VOCÊS A AUSÊNCIA DELE OU SEU PLANO EM TUDO ISSO. O PAI DE TODOS É UM MISTÉRIO ATÉ PARA O GRANDE ODIN! SAIBAM QUE EU OS LEVAREI A UM LUGAR SEGURO, MAS APENAS SE FOREM LÉPIDOS! VENHAM E AGRADEÇAM DEPOIS, SE NECESSÁRIO!
Nos campos, em guetos sombrios, nas cidades sitiadas, pontes se formaram e desapareceram em uma única noite, como um sonho. Dois milhões de pessoas — idosos, aleijados, mulheres, crianças, escravos das fábricas de guerra de Hitler —, subiram em tais pontes, já que não havia outra escolha, e foram transportados para um deserto às margens de um rio ancestral.
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Eles chegaram a tempo de pegar em armas e salvar o exército britânico, que se retirava das ruínas do Egito e da Palestina. Então se juntaram aos persas atônitos e aos refugiados da Rússia mutilada, formando uma nova nação a partir do caos.
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Foi por isso que Loki surgiu na pista da Escócia. Depois daquela noite de milagres, ele não poderia enfrentar a fúria de seus parentes aesires. Retornando para Gotland, ele estaria tão em perigo quanto os comandos.
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“Não, Marlowe, Loki não é um espião. Não faço ideia do que ele seja...”
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“...mas espião, eu apostaria minha vida como ele não é.”
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