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MÁGICO VENTO DELUXE No. 1, outubro de 2017, é uma publicação de Mythos Books, selo da Mythos Editora Ltda., mediante licenciamento. Redação & Administração: Av. São Gualter, 1296 – São Paulo – SP – 05455-002. Fone/fax: 11-3024-7707. Copyright 2017 Sergio Bonelli Editore/Gianfranco Manfredi. Licenciado por Panini SpA. Todos os direitos reservados. MYTHOS EDITORA LTDA. Diretores: Dorival Vitor Lopes / Helcio de Carvalho. Gerente Comercial: Márcia Lucena de Castro Coordenador de Produção: Ailton Alípio. Tradução: Júlio Schneider. Letras: Sílvia Lucena. Editor: Dorival Vitor Lopes
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UM NOVO VELHO OESTE Uma introdução de Gianfranco Manfredi
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omo todos os meninos, quando eu era criança, gostava de brincar de índio e caubói... e, como muitos outros, eu gostava mais de ser o índio. Na minha época de adulto jovem, fiquei feliz em ver que os índios e o mundo deles haviam se tornado protagonistas do cinema de faroeste, graças a uma nova leva de diretores e roteiristas que, bastante envolvidos nos movimentos de protesto contra a guerra do Vietnã, finalmente rendiam justiça aos nativos americanos. Por fim nos recordaram do genocídio perpetrado e nos aproximaram mais da cultura indígena, na década de 1970, com filmes como Quando É Preciso Ser Homem, de Ralph Nelson, inspirado nos eventos que levaram ao massacre de Sand Creek, Pequeno Grande Homem, de Arthur Penn, e Um Homem Chamado Cavalo, de Elliot Silverstein, que, no seu zelo de reconstrução, chegou até a fazer os personagens falarem em língua lakota, relegando para sempre ao passado os ugh,
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os verbos pronunciados no infinitivo e muitas outras licenciosas aproximações com que eram representados os peles-vermelhas. Esses filmes compensaram com folga a decepção que eu sentia pela quase total inexistência de índios nos faroestes à italiana. O projeto de Mágico Vento nasceu na década de 1990, em sintonia com o retorno do grande cinema de faroeste e com a retomada de interesse pela cultura dos nativos americanos, graças a filmes como Dança Com Lobos, de Kevin Costner, e O Último dos Moicanos, de Michael Mann. Mas eu tinha comigo que era hora de ousar mais e de misturar o modo clássico de contar o faroeste com uma estética mais próxima das gerações jovens, que também tinham as suas raízes no gênero terror. Daqui veio a definição — meio ambígua, admito — de faroeste-terror, o que fez alguns pensarem que era um projeto de série B.
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Na verdade, na minha cabeça, era algo bem mais ambicioso (e difícil). Ao colocar Poe, um sósia de Edgar Allan Poe, ao lado do personagem principal Ned, um soldado azul que não só passou para o lado dos lakotas como ainda se tornou um xamã, eu pretendia de algum modo cicatrizar uma ferida: James Fenimore Cooper (autor do romance fundador do épico do faroeste, O Último dos Moicanos) e Edgar Allan Poe eram adversários. O primeiro afirmava que a América podia — aliás, devia — buscar na Literatura da Fronteira a raiz nacional específica. Já o outro afirmava que, tendo a cultura americana nascido da mistura de muitas culturas diferentes, mas em particular ligada a uma raiz europeia, não poderia se fechar nas fronteiras nacionais. Nós sempre vimos como separados esses dois autores e os filões literários que nasceram por impulso deles: de um lado o Oeste, do outro a cultura de raiz puritana da Costa Leste. Aventuras de fronteira de um lado e gótico, horror, terror e mistério de outro. Dois caminhos paralelos, mas bem distintos. Pequeno detalhe: no meio havia autores como Stephen Crane ou Ambrose Bierce, gente que cruzou as duas trilhas várias vezes, e sem problemas. Muitas das histórias deles já haviam tido versões em quadrinhos
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nas páginas da revista Creepy. A questão era: teria como voltar a contar histórias do Oeste, narrando também o lado obscuro e visionário, ou seja, não só os pistoleiros, mas também os fantasmas? Bem, só havia um jeito de descobrir: tentar. Eu já estava trabalhando em Mágico Vento quando, em 1995, como por uma milagrosa sintonia, saiu nos cinemas Dead Man, de Jim Jarmusch. O protagonista morto que anda que homenageava o grande poeta visionário William Blake e era conduzido por um índio numa viagem mística em descoberta de uma cultura outra, foi de um conforto enorme para mim. Significava que a minha ideia não era isolada, e também não era uma bizarrice de momento. Sem contar que o desenhista que eu havia solicitado e que Sergio Bonelli me concedeu para o primeiro número da série — José Ortiz e o seu branco e preto fortemente emotivo — era perfeitamente adequado para expressar essa sensação da fronteira como um limite (transponível) entre realidade histórica e experiência visionária. Para Bruno Ramella (autor gráfico do personagem) e Giuseppe Barbati, que juntos formaram o eixo central da nova série, eu passei episódios que mistu-
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ravam a tradição do faroeste sujo no estilo de Sam Peckinpah com a dos filmes de zumbis. A série começou com esses três desenhistas e depois, sob a supervisão de Renato Queirolo, muitos outros se juntaram ao grupo, alguns pouco presentes até então nos quadrinhos Bonelli, mas destinados a um belo futuro, outros já apreciados pelo público e mestres reconhecidos. Pasquale Frisenda aprofundou o aspecto gótico e dark do Oeste que queríamos representar, Goran Parlov evidenciou o fascínio romântico do protagonista Ned Ellis, até chegar a um momento em que a série pôde contar com um time de altíssimo nível: Ivo Milazzo (criador de Ken Parker e mestre de uma geração inteira de jovens desenhistas), Corrado Mastantuono, Luigi Piccatto, Stefano Biglia, e muitos outros que aos poucos fortaleceram a série, até Darko Perovic, que conduziu a última parte das aventuras de Ned. Nesse ínterim, a continuidade entre os episódios ficou mais cerrada, e a história dos índios das grandes planícies — e, mais em geral, a dos Estados Unidos da América (em particular nos anos 1870) — tornou-se o fio condutor da série. Nós chegamos ao ponto mais alto — e creio que essa seja a opinião dos leitores — com os cinco episódios consecutivos dedicados às Guerras Indígenas até a morte de Cavalo Louco. Àquela altura, muitos temiam que a série fosse encerrada, visto também que havia superado a marca do n° 100. Mas nós continuamos, mudamos o módulo por mais trinta números, e os leitores mais aficionados (que não eram poucos) se fizeram presentes com seu apoio. Até que se decidiu que, depois de uma saga assim tão longa e trabalhosa, havia chegado a hora de se encerrar de forma digna, para não correr o risco de que o tempo a arruinasse, que a qualidade das histórias e dos desenhos baixasse de nível e que os enredos entrassem numa es-
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piral repetitiva, estragando o que de bom e de original havia sido feito até ali. Ao mesmo tempo, Mágico Vento havia desembarcado em vários países, em outros ainda estava sendo publicado, e depois chegou aos Estados Unidos, com as edições especiais coloridas que haviam sido há pouco lançadas na Itália — e que agora chegam ao Brasil — motivadas pelo afeto dos muitos leitores que sentiam saudade do personagem e, esperamos, dos novos que vão se juntar a nós. Encerro desejando uma boa leitura com a saudação indígena ritual com que eu concluía a página das cartas da edição italiana, que era repetida na brasileira: Mitakuye Oysain, que, em língua lakota, significa “somos todos irmãos”. Gianfranco Manfred
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OS AUTORES DESTE ESPECIAL GIANFRANCO MANFREDI nasceu em Senigallia (leste da Itália) em 26/11/1948. Ator, cantor e compositor, roteirista e diretor de filmes de TV e cinema, autor de teatro e de romances e quadrinista. A sua primeira HQ foi Gordon Link (1991, Editora Dardo), cujo sucesso o levou à Bonelli para escrever histórias de Dylan Dog (1994) e Nick Raider (1996). Em 1997 lançou Mágico Vento. Hoje autor regular de Tex, a sua primeira história do personagem foi publicada em 2005, mesmo ano de estreia da sua criação Face Oculta, continuada em Shangai Devil (2010). Em 2014, mandou às bancas italianas seu novo personagem, Adam Wild, série em que também atuaram dois artistas brasileiros, Pedro Mauro (Itu) e Ibraim Roberson (Curitiba). JOSÉ ORTIZ nasceu em Cartagena, Espanha, em 01/09/1932. Começou a desenhar muito jovem, e seu primeiro sucesso foi Sigur, o Viking, criado em 1958. Nas décadas de 1960 e 1970, fez inúmeros trabalhos para Inglaterra (guerra e ficção científica) e Estados Unidos, com material de terror em revistas como Creepy e Horror. Na década de 1980, surgiu a parceria com Antonio Segura e uma grande e variada produção (Hombre, Morgan, Burton & Cyb, etc.). Na Bonelli a partir de 1991, assinou um Tex Gigante e vários Tex Anuais. Ilustrou uma HQ de Ken Parker (1995) e foi convidado a fazer o n° 1 de MV, alternando histórias do xamã com as de Tex. Em 2012, fez uma HQ colorida de Dylan Dog. Faleceu em 23/12/2013. BRUNO RAMELLA nasceu em Impéria, região de Gênova, em 31/10/1959. Entrou para o mundo dos quadrinhos ao redescobrir o prazer dos gibis num período de convalescença de uma cirurgia nas costas, decorrente de um problema causado pelo seu trabalho de lenhador. Após um aprendizado com Ivo Milazzo, entrou para a Editora Eura e, em 1992, foi chamado por Claudio Nizzi para o quadro de desenhistas de Nick Raider, de quem se tornou capista até passar o timão a Corrado Mastantuono. Em 1996, criou o modelo gráfico de MV e desenhou histórias da série, ora fazendo a arte-final em lápis de Giuseppe Barbati, ora atuando sozinho. GIUSEPPE BARBATI nasceu em Nápoles em 11/04/1966. Entrou para os quadrinhos por meio do estúdio de Dino Leonetti e, depois de vários trabalhos, em 1992 integrou a equipe da revista Ken Parker Magazine, da Parker Editore. Em 1995, chegou à Bonelli, para o time de desenhistas de Nick Raider. Seu trabalho com o faroeste de Ken Parker lhe valeu o convite de Renato Queirolo para entrar no time de MV em 1997. Em 2012 integrou a equipe de Shangai Devil. Faleceu em 16/11/2014, enquanto desenhava uma HQ de Nathan Never e Coney Island (minissérie em 3 partes escrita por Manfredi e concluída por Bruno Ramella).
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História originalmente publicada em Magico Vento nº 1 (Itália, julho de 1997).
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pegadas de cavalos ferrados e uma carroça...
...alguns wasicun(*) chegaram antes de mim, mas não pararam!
(*) homens brancos.
por que não cuidaram de seus mortos?
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woha! alguém ainda está vivo!
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você se afastou sem dar explicações, cavalo manco... e agora volta com um wasicun ferido!
acolha o ferido na sua tenda, rabo de touro! logo vai saber de tudo!
algum evento funesto ameaça nosso povo?
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...já sou velho! quem vai me substituir quando meu dia chegar? há muitas luas uma dúvida me perturbava...
mas em nenhum deles eu vejo um waayatan!(*)
os jovens ouviram seus ensinamentos! um deles pode se tornar um homem da medicina!
(*) homem que tem o dom da visão.
foi por isso que decidiu partir?
sim! tive que me isolar em busca de uma visão!
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“vaguei por três dias e três noites, sem água ou comida! no quarto dia, o sol cegou minha vista...”
“...resolvi implorar ao grande ser misterioso...”
“...não distinguia mais céu e terra, parecia que seguia no ar...”
wakan tanka, escute, mesmo que minha voz seja fraca... mostre o caminho... me dê forças para ver!
“de repente, no branco das rochas se desenhou uma longa trilha de sombra, e eu a segui confiante...”
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