Estamos vivendo nas ruínas de um mundo marcado pelos excessos metabólicos da industrialização. Chamamos de Antropoceno, Capitaloceno, até Plantationoceno — mas e se ousássemos outro nome? Donna Haraway nos propõe Chthuluceno, um tempo de enraizamento, continuidade e relação.
O Chthuluceno não é algo como uma utopia distante, algum capítulo monocrônico de nossa caminhada, mas um convite para mergulhar no húmus da terra, junto aos seres ctônicos: esses monstros terra-ficantes que demonstram, tecem, proliferam e resistem. Eles nos lembram que o viver-com e o morrer-com não são fraquezas, mas caminhos potentes para reimaginar o agora.
Neste tempo de kainos — nem passado nem futuro convencional — somos desafiados a cuidar das heranças e dos porvires. A resposta talvez esteja em estórias de simbiose: não mais separar, mas ouvir. Não mais dominar, mas coabitar.
Que o pensamento tentacular do Chthuluceno possa nos guiar: bricolante, poroso e insurgente como a vida em si.