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para ler


denise bernuzzi de sant’anna – Nascida na capital paulista, ao lado do mirante de Santana. Vive em Perdizes. Escreveu um livro sobre a história da água em São Paulo, e outros sobre a beleza, o lazer e a obesidade. Atualmente escreve sobre as emoções tristes.


Eu cresci com o rosto de Ho Chi Minh

O rosto me chegou antes do nome: desenhado com Nanquim por meu pai quando eu tinha seis anos, mostrava uma barbicha rala, a face esquerda sombreada, a testa alta. Dos lábios eu adivinhava um sorriso jamais confirmado. Os olhos mostravam um declive nas extremidades, semelhante ao da minha amiga Yuko. Era um semblante miúdo, que não me machucava. Um rosto que sabia ser próximo sem se abater pela domesticidade.


Depois do rosto, veio o nome: Ho Chi Minh. Soava como um verso de ninar, um chiado que terminava em mim e sabe-se lá onde começava. Vietnã? Longe, muito longe, no extremo. Ho era um homem, Minh uma princesa e Chi, um gato. Era o que eu via naquele rosto em branco e preto, fixado à parede do quarto em que meu pai passava tardes e noites a desenhar, situado no subsolo da nossa casa amarela, na zona norte de São Paulo. Meu pai costumava dizer que os desenhos não mentem. Ao se refugiar naquele quarto ligeiramente úmido, ele escolhia um dos pincéis com bico de pena, molhava a ponta afiada na tinta escura e levava-o para junto do papel branco, como quem conduz uma dama para a pista de dança. Do manuseio da caneta, traço por traço, eu via brotar um torvelinho de semblantes. Muitas vezes começava pelo


oval da cabeça, por um chumaço arredio do cabelo, depois o contorno do rosto e o seu recheio. Também acontecia do desenho ter início por montanhas ou por um traço que dava a ver uma porta. O pincel parecia um sexto dedo, tornando invisível a arte dos demais em controlar o volume da tinta, sem deixá-la escorrer para o bico e borrar o papel. Foi apenas com o tempo que eu percebi a força aplicada aos dedos e o quanto o seu controle era determinante para a largura das linhas. O rosto de Ho Chi Minh era sólido sem ser compacto. Não era carrancudo, nem monumental. Pendurado à parede, ele funcionava como um passarinho a velar por nós, dia e noite. Seus olhos nunca cansavam de me ver. Ele não dormia, pensava eu, nem piscava. Como era difícil ficar sem piscar! Eu tentei umas vezes e desisti. Também apostava com Yuko quanto


tempo conseguíamos deixar de respirar. Tapávamos o nariz com a determinação de um carrasco que cala um prisioneiro. A seriedade do gesto era aumentada quando nos colocávamos diante do espelho da penteadeira da minha mãe. Com narizes tapados, com toda a força que encontrávamos nos dedos a funcionar como pegadores de roupa, sentíamos um regozijo inaudito naqueles instantes. Havia esforço voluntário, um misto de orgulho e apreensão. Acreditava que via no espelho tudo o que eu era. Prestes a explodir, é mais difícil esconder o que se é. Não demorou muito para que dentro de uma banheira cheia de água morna eu encontrasse a prova cabal dos meus limites, a começar pelos respiratórios. Creio que esta descoberta foi um momento importante para perceber que eu tinha um avesso.


Os desenhos não me pareciam mentiras porque eu os imaginava como tesouros descobertos pelo meu pai. Achava que ele não precisava roubá-los nem trabalhar para adquiri-los. Emergiam. Insurgiam na folha branca para revelar histórias até então enroladas feito embriões junto aos seus miolos. Bastava pegar o pincel, debruçar-se sobre a folha em branco, para que pessoas e paisagens viessem à luz. Aos meus olhos de menina, os desenhos nunca eram rascunhos. Nasciam prontos e eram irmãos dos sonhos noturnos porque pareciam ter vontade própria. Sonhos e desenhos assustavam-me, mas também davam asas ao meu pequeno mundo. Naquele quarto, no subsolo da nossa casa, meu pai também recebia os seus amigos após o jantar. Eu não percebia porque os adultos ficavam tão entusiasmados com a própria conversa


e durante o tempo mais longo que eu conhecia. O falatório daqueles homens durava mais do que o percurso comprido do ônibus que me levava para a escola todos os dias. Ficar adulto era conversar e conversar, sem concluir, pensava. De onde vinham tantos assuntos? Eu queria ser adulta mas era traída pelo sono, enquanto aqueles homens mantinham seus olhos acesos noite adentro, falando e fumando. *** Quando completei sete anos, minha mãe disse que sete era um número mágico. Os gatos têm sete vidas, completou. Podem portanto fazer revoluções seis vezes sem serem mortos, falou rindo. A essas alturas, eu me considerava adulta. Sabia a tabuada e havia descoberto que meu pai e seus amigos queriam fazer uma revolução.


Perguntei como seria uma revolução. O pai respondeu algo como “uma mudança abrupta no poder e na sociedade, em nome de justiça social”. Depois explicou que, numa revolução, a ordem das coisas é completamente invertida. No dia em que a minha amiga Yuko se mudou para bem longe, eu presenciei a cena. A cama desmontada, os pratos empilhados no chão da sala, os sapatos enfileirados em cima da mesa de jantar; em suma, uma revolução. No subsolo da minha casa, eu descobri que Ho Chi Minh era um líder revolucionário que lutou contra potências mundiais. Aprendi que ele vivera em diversos países e, também, dentro de uma caverna. Doravante, não seria apenas o Ho Chi Minh que me olharia. Eu passaria a vê-lo e a falar com ele. E a primeira coisa que lhe perguntei em silêncio foi sobre a vida na caverna, cujo ventre, pensava,


um civilizado não mora nem habita, se esconde. Dentro da caverna, ele organizou um grupo de revolucionários. Tal como os prisioneiros do Carandiru, presídio que eu avistava do quintal da minha casa, todos os dias. Tal como o meu pai e seus amigos no subsolo da casa. Seria preciso estar dentro de cavernas para tramar? Os amigos do meu pai riam porque nem tudo é sério entre os adultos. Provavelmente pensavam que o mundo infantil era feito apenas de diversão. Ficavam surpreendidos quando o meu semblante mantinha-se sério e atento. Minutos antes do sono me levar, eu os olhava sem os ver, suas vozes transformavam-se num caudaloso zumbido. Esse espaço entre sono e vigília era como estar dentro de um túnel, um mergulho na piscina, um tempo em que meu avesso e meu direito embaralhavam-se. Mesmo em


meio a esses momentos de torpor, o rosto Ho Chi Minh mantinha-se presente, tão silencioso e solitário quanto o meu. Numa daquelas noites, eu ouvi pela primeira vez a palavra pusilânime. Um fenômeno semântico impressionante para os meus ouvidos. Achei que era uma doença dos pulsos. Ou então uma lâmina a cortá-los. Boa coisa não era. *** Aos doze anos, o rosto de Ho Chi Minh era também o das palavras ditas pelos amigos do meu pai que falavam sobre greve e governo militar. Mas as vozes antes empinadas mudaram de prumo, foram rebaixadas por alguns suspiros e por uma cadeira vazia. O amigo gordinho havia desaparecido. Morrer e ser enterrado parecia um luxo diante dos desaparecidos.


Desaparecer não faz parte do mundo, ou se foge, ou se morre. Mesmo quando a água evapora, ensinava a professora de ciências, ela não desaparece, transforma-se. O que é dar sumiço? Perguntei ao pai. Não me lembro da resposta. Na Bíblia há um Deus que só deu a aparecer, apenas criou. É verdade que descansou no último dia, e pouco se sabe sobre isso. Desapareceu. Queria crer que desaparecer fosse uma ilusão dos ateus. Nesse tempo, o rosto de Ho Chi Minh pregado à parede parecia-me dividido ao meio: um lado escuro e outro claro, tal como os dois conceitos taoístas, ou como as duas faces da revolução. Eu descobria naquele rosto uma história universal que não lhe pertencia unicamente mas fazia coro com inúmeras revoltas espalhadas pelo mundo. Naquela altura, eu percebia o quanto o meu próprio rosto estava


mudado, alongou-se. As sobrancelhas, que antes eu mal percebia, ganharam a gravidade de duas sentinelas sobre os olhos. Entre os lábios, cresceu o traço de alguma malícia. O rosto de Ho Chi Minh era o de uma população agrupada em milhares de subsolos como aquele da minha casa. Mas o rosto de Ho Cho Minh não se parecia com o do Che Guevara, mirando um horizonte altaneiro, que eu pude ver num célebre pôster trazido pelos amigos do meu pai. O rosto de Ho (meu pai preferia dizer H) não lembrava um chamado às armas e sim uma pausa dos guerreiros para o chá. Aquele rosto oriental era sustentado, logo abaixo, por ombros estreitos. Era possível ver que Ho Chi Minh vestia um uniforme. Os botões bem fechados até o pescoço mostravam uma imagem mais rigorosa e disciplinada do que as suas faces.


Ho Chi Minh era anticolonialista e esteve no Brasil quando a capital era o Rio de Janeiro. Ele percebeu que havia um pelourinho plantado no meio do verde-amarelo. Naquela época, Ho Chi Minh tinha outro nome. Ele falava vários idiomas e teve diferentes nomes. Ele era muitos, antes de muitos serem como ele. Foi cozinheiro, jardineiro, trabalhou em navios e em terra firme. Acreditava que a terra devia ser de quem nela trabalha. Era patriótico. Para os medíocres, o amor à Pátria parece uma piada de mal gosto se florescer entre povos colocados em terceiro plano, terceiro mundo, terceira classe. Nem sequer imaginam que esses povos podem viver na “terceira margem do rio”. E que a Pátria não é tropa nem cardume. ***


Aos catorze anos, eu sabia que Ho Chi Minh havia morrido e sido o líder de um país comunista. No subsolo da minha casa, meu pai reunia-se com apenas três amigos. Mas continuava a desenhar. E eles ainda falavam em piquetes, repressão e revolução. A minha mãe tinha medo. Eu acho que ela tinha medo de não compreender porque era normal sentir medo. Ho Chi Minh teria sentido medo? Aprendi que havia uma pista Ho Chi Minh. Os vietcongues transgrediram fronteiras em bicicletas francesas enquanto os americanos rasgaram o céu com helicópteros americanos apelidados de Huey. Nome que parece marca de prancha de surf. Os americanos são mágicos porque inventam nomes com o poder de transformar uma bomba num baby. Transfigurando as coisas por meio da linguagem, eles permanecem cada


vez mais americanos. Já os vietnamitas continuaram vietnamitas utilizando as bicicletas francesas e fumando cigarros Philip Morris. Para os americanos, tratava-se de uma guerra contra um povo esquálido e esquisito, cujos nomes eles não conseguiam pronunciar. Naquela terra estranha, os soldados americanos foram sabotados, logo cedo, pela linguagem. Faziam a guerra contra os vietnamitas que empreendiam uma multiplicidade de lutas, emboscadas e guerrilhas. Os vietnamitas pareciam grãos de arroz a sufocar um touro. E eu ouvia dizer que comunista comia criancinha. Na falta dessas, os comunistas de olhos rasgados comiam cachorros. A política nasce ou morre pela boca? Somente na idade adulta descobri o quanto os americanos foram imbecis ao negar os acordos propostos por Ho Chi Minh. Eles preferiram apoiar a França.


Acreditavam que os vietnamitas eram inferiores, atrasados, e que Ho não passava de um “pau mandado” dos soviéticos. Era como se Ho Chi Minh fosse considerado por eles um “sertanejo ignorante”, um “pau de arara” oriental. Mania essa de colocar o pau na linguagem sempre que há o temor de ser enrabado. Nesses anos, eu me achava muito sabida. Os vietnamitas estavam habituados a lutar contra grandes impérios: chineses e franceses, somente mais tarde, contra os americanos. Ho Chi Minh tentou inúmeras vezes aproximar-se dos EUA enquanto resistia ao franceses. Mas muitos ocidentais receavam os contatos do povo mirrado com Moscou. Quando a imbecilidade adquire poder, emerge o Apocalipse. É um desalento acreditar que não há como impedir o avanço da estupidez e o predomínio dos canalhas.


Meu pai desenhou guerrilheiros com os pés protegidos por sandálias parecidas com as nossas Havaianas, antes delas serem globalizadas. Naquela época, a Havaiana ainda era vista como chinelo de pobre. Os guerrilheiros, dizia ele, usam túneis para se esconder dos soldados americanos. A entrada dos túneis é diminuta mas dentro deles há um labirinto. O túnel é quase uma caverna que anda, pensei. Dentro de túneis, os vietnamitas solapavam o céu abocanhado pelo inimigo. Vivíamos dentro de uma caverna? Ou a caverna seria o nosso futuro próximo? O espectro da pré-história nunca abandonaria o Brasil? Meu pai empunhava a caneta de Nanquim para ilustrar capa de discos, inventar charges, mas um dia foi rejeitado porque censuraram uma das cabeças desenhadas. Os desenhos não mentiam, e esta era uma verdade nem


sempre bem vinda. Mas a verdade mais secreta era outra: o corte das cabeças assemelhava-se à redução do mundo a dois lados, vítimas ou cúmplices. Um terceiro lado, o dos lutadores resistentes, estava condenado a não ter visibilidade. Não, não era o espectro da pré-história que assolava o país, mas sim o do assassinato impune. Eu era altivamente certa de mim mesma naqueles anos. *** Com os meus dezesseis anos, o desenho do rosto de Ho Chi Minh já havia amarelado, tal como um pedaço de bambu disposto ao sol. Mesmo assim, aquele rosto mantinha-se presente em minhas lembranças. As reuniões dos amigos do meu pai viraram encontros para lutar contra o que nos anos 70 se chamava


fossa. A luta interna revelava-se uma arma imprescindível para continuar a viver. Meu pai falava em tomar sol e fazer exercícios físicos. E eu continuava a ver os prisioneiros do Carandiru em pleno jogo de futebol dominical, embora não avistasse a bola. Sem ver a bola, o jogo virava um corre-corre de malucos. Há muitas bolas de futebol nas guerras. Há a que uniu franceses e alemães na Primeira Guerra Mundial, há a "cabeça do preto" na guerra colonial portuguesa. Já o pênalti rememora uma execução. Nessa época, eu me imaginava a fazer revoluções contra as guerras insanas do mundo. Foi quando eu perguntei a mim mesma: meu pai estaria vencido ou preso? Desertou ou desistiu? Estava individualista como um adolescente pós-moderno, ou lúcido e sozinho como um cão que acabou de levar uma surra?


Ele parecia tão silencioso quanto Ho Chi Minh. Estava diante da dureza. Meu pai amoleceu ao sol, mas continuou a desenhar. Sem ver luz ao fim do túnel, eu não conseguia evitar o sentimento de impotência (ou covardia?). Distanciava-me da coragem que meu pai dizia ter sido típica daquele líder comunista. Momentos arrastados e melancólicos. *** Mas, como eu cresci com o rosto de Ho, guardava em algum lugar de mim o sentido inapreensível daqueles olhos bem vivos, a lembrança do Nanquim a dançar figuras que estavam em alguma biblioteca, em algum subsolo, entre improváveis amigos. Aquele rosto não era um porto para atracar, mas um peixe com asas e culhões. A imagem de Ho Chi Minh não me tornou


revolucionária, embora Robin Wood ainda hoje me enterneça. Ela me dispôs, talvez, a não me dar sossego. Percebi o quanto era comum, passageira, um tanto quanto covarde e parva. E é com toda essa tranqueira que me esforcei para não sucumbir à estupidez. Restava-me uma vaidade considerável. Na infância, diante do rosto do líder vietnamita, eu me entusiasmei com a luta para fazer justiça por meio de uma revolução. Depois de adulta, senti vontade de desgrudar das minhas entranhas todas as possibilidades de ser eu própria uma estúpida. A mediocridade é morna e pode ser confortável, crescer junto aos desenhos mentais de qualquer um. Ninguém está a salvo. Queria convocar a vontade de dragões para incinerar em mim a mediocridade latente, a arrogância que nega o contraditório, as ideias que não me


tiram da zona de conforto. Queria incinerar a imbecilidade que nos é oferecida em forma de pizza, evangelhos, adulações e dinheiro. Esse combate nunca é de uma vez por todas. É constante. Queria tornar suspeita a recompensa emocional imediata, dificultando o contentamento comigo a cada pequena vitória sobre a covardia. Não se tratava exatamente de “cultivar o próprio jardim”, de tomar sol fora das ruas como se fosse uma deserção do público (cansada ou aliviada) para salvar o privado. Mas talvez eu quisesse muito rapidamente, e exigisse demasiado. Passado mais algum tempo, eu não me dispunha à guerra mas não conseguia paz. Entre uma e outra, vivi o torpor similar àquele entre sono e vigília, sem mais crer que o rosto de Ho Chi Minh pudesse velar por nós ou indicar o mapa da mina capaz de acabar com a miséria. Senti


medo e desalento. Era mais bonito e mais fácil propor do que realizar. Não tinha o rigorismo e a coragem de Ho para edificar heroísmos, nem a arte do meu pai para inventar desenhos com ânima. *** Enfim, chegou o tempo mais sombrio que eu já havia vivido. Parecia que não existia mais vergonha nem vexame. A bandidagem e a canalhice se banalizavam. Tornava-se dificílimo encarar o presente e quase impossível projetar um mundo melhor amanhã. A euforia já podia ser comprada com remédios, mas as dúvidas, os questionamentos, as críticas, os desenhos e tantas outras artes não se criavam com a mesma bomba utilizada para liquidá-los. Apesar dos pesares, eu permaneci sonhadora.


Meu pai morreu. Parou de desenhar somente depois que sofreu um AVC porque perdeu força nos dedos. Guardei os seus pincéis de Nanquim, talvez para preservar o que mais estimava e o que menos conhecia em sua pessoa. Não era mais possível torcer com ele pela vida, seja em uníssono, seja em discordância. Eu sonharia enquanto vivesse, pois não dependia de mim totalmente colocar essa engrenagem misteriosa em funcionamento. Pelo menos, é desse modo que vejo os sonhos e desejos. Felizmente eles são maiores do que quem os imagina. Se assim for, enquanto viver, terei a chance de escrever um sonho em forma de história. Uma história com ou sem H. Ainda acredito que se não contarmos o que temos a contar, alguma coisa de importante irá se perder. Jardim da Parada, 22 de julho de 2019.


acéuaberto é um projeto de leitura pública iniciado na Ocupação 9 de Julho.

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