N3E Magazine - 2ª Edição

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Editorial

Novamente

É Ficha técnica Título: N3E Magazine Subtítulo: Engenharia Electrónica no IST Nº2 • Ano 2011 • Direcção Editorial: César Gaspar Equipa de redacção: Ricardo Borges, Pedro Ferreira, Denys Sorokin, Harshit Dhirajlal, Tiago Freire, Luís Costa, Ricardo Correia, João Gonçalves. Colaboram neste número: Professor Ferreira Fernandes, Engenheiro Luís Todo Bom, Professor Marcelino dos Santos, Professor Guilherme Arroz, Professor António Carvalho Fernandes, Professor Miguel Mira da Silva, Professora Tereza Vazão, Vitor Canosa, André Melo, Gonçalo Silva, Luís Rosado, Luís Mendes, Pedro Xavier, Pedro Pinto, André Leitão, Sérgio Saraiva, Fernando Pereira e Irina Ferreira. Apoios: Universidade Técnica de Lisboa, AITECOEIRAS, Taguspark SA, Movensis, Câmara Municipal de Oeiras. Design: César Gaspar Tiragem: 1000 Periodicidade: Anual Propriedade: Núcleo de Estudantes de Engenharia Electrónica do Instituto Superior Técnico; Av. Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, 2744-016 Porto Salvo. geral@n3e.ist.utl.pt http://n3e.ist.utl.pt ISSN: 1647-5151

com uma equipa mais madura, unida e decidida que conseguimos concretizar mais uma edição da N3E Magazine. O desejo de divulgar diversas informações sobre o curso e para o curso, tais como projectos desenvolvidos pelos alunos, testemunhos de antigos colegas, o que fazemos e como fazemos, possíveis empresas empregadoras e as várias vertentes da electrónica foi conseguido novamente nesta segunda edição. Este projecto simboliza para o N3E mais uma prova de que estamos à altura de concretizar as nossas ideias. O passado, o presente e o futuro são três elementos presentes em todos os artigos. É nesta linha temporal que o leitor encontra todos os temas abordados nesta edição, permitindo uma visão global, crítica e apontada para o futuro. Nesta edição damos a conhecer aos nossos leitores a AITECOERIAS, uma agência de desenvolvimento e promoção do espaço empresarial, fundamental para Oeiras. A microelectrónica é um outro tema em destaque. É através da voz do professor Marcelino dos Santos que apresentamos a SiliconGate, uma empresa de sucesso, na área da microelectrónica. Assim como o recente grupo do IST de microelectrónica “WICAS”. O leitor pode contar também com um espaço de reflexão proporcionado pelo artigo de opinião do professor António Carvalho Fernandes e ainda uma secção de cultura. Durante este percurso deixamos de contar com um membro da equipa que acidentalmente foi impossibilitado de colaborar connosco. A equipa do N3E deixa um abraço na esperança de rápidas melhoras para o Luís Costa. Deixamos um agradecimento especial a todos os que colaboraram connosco nesta edição, destacando o Professor Guilherme Arroz, Professor Marcelino dos Santos, Professor Ferreira Fernandes, Professora Tereza Vazão, Professor Luís Todo Bom, Professor António Carvalho Fernandes, Professor Mira da Silva Não seria possível a realização desta revista, de distribuição gratuita, sem o apoio dos nossos colaboradores, Movensis, UTL, AITECOEIRAS, Taguspark SA e CMO, a quem queremos dizer uma palavra de agradecimento. Sendo a distribuição e divulgação da informação o nosso principal objectivo a N3E magazine será distribuída gratuitamente pelos dois pólos do Instituto Superior Técnico, diversas universidades, escolas secundárias e algumas empresas da área de Electrónica/Electrotecnia. Quando a N3E Magazine chegar a todos estes leitores a equipa sentir-se-á com a sensação do dever cumprido e com mais um projecto de sucesso.

Depósito legal: 326658/11 Impressão e acabamento: SIG - Soc. Ind. Gráfica, Lda Distribuição gratuita

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Sumário

N3E 4

História e apresentação

Curso LEE/MEE 5

Entrevista com o Professor Ferreira Fernandes

Actividades N3E 8

Actividades desenvolvidas ao longo do ano pelo N3E

Grupos do IST 10 11

NEECIST JUNITEC

AITECOEIRAS 12

AITECOEIRAS & OEIRASVALLEY

Entrevista com... 14

Entrevista com a Prof. Teresa Vazão (Vice Presidente do IST)

FÉNIX 16

Estrutura e funcionamento do Fénix

Projectos do Curso 18 19 20 21 22

SUBA Carga e Descarga de Baterias de Iões de Lítio Sistema de Medição da Concentração de Ozono Sistemas Embebidos Sistemas Electrónicos dos Computadores

Microelectrónica 23 25

Grupo Wireless Integrated Circuits and Systems SiliconGate - Entrevista com o Prof. Marcelino dos Santos

Mercado de trabalho 28 29

Antigos alunos Dissertação de Mestrado em Engenharia Electrónica

Artigo de opinião 30

“Hey engineers, it’s the philosophy...” - Prof. António Carvalho Fernandes

Secção cultural 32

“Filmes que marcaram 2010”

Passatempos 34

Passatempos


N3E

A continuação O Núcleo de Estudantes de Engenharia Electrónica do IST, N3E, está sediado no campus do Taguspark e é o resultado da vontade e trabalho de alguns alunos da Licenciatura e do Mestrado em Engenharia Electrónica do Instituto Superior Técnico. O N3E foi fundado a 24 de Março de 2009 e em 2 anos conseguiu-se criar uma associação com uma estrutura sólida e capaz de responder a diversas necessidades tanto da Licenciatura como do Mestrado, complementando assim, o dia-a-dia de todos os estudantes destes cursos. Além do papel quotidiano, o N3E organiza e promove actividades para os alunos; actividades essas que naturalmente não estão disponíveis no curso, tais como visitas de estudo, quer a empresas quer a locais de interesse para o curso. Através do N3E são estabelecidos contactos com empresas, para que se desloquem à faculdade e se apresentem aos alunos, dando-lhes a possibilidade de adquirir um conhecimento mais aprofundado sobre o mercado de trabalho, além do contacto directo e pessoal que pode ser estabelecido nestas visitas entre alunos e empresas. Com o intuito de promover o curso e mostrar aos mais novos o que “por cá se faz”, o N3E participa activamente quer na ida a escolas secundárias, como nas visitas de alunos do Ensino Secundário ao nosso pólo. Outro ponto forte do N3E é a organização de actividades extra-curriculares, desde jantares até simples tardes de convívio num local que seja agradável para todos os intervenientes, indo assim de encontro a outro dos grandes objectivos deste Núcleo, a aproximação de todos os alunos e a promoção de momentos que certamente serão inesquecíveis para todos. É de alunos que é constituído este Núcleo e é para os alunos que ele existe. É com a convicção que conseguimos tornar quer a Licenciatura quer o Mestrado em cursos mais completos e capazes de formar pessoas mais competentes e com um espírito empreendedor e associativo, que toda a equipa do N3E trabalha diariamente. No N3E não existem presidentes nem secretários, existe sim uma equipa de 11 pessoas unidas e com um sentimento comum, o de proporcionar uma melhor “viagem” a todos os alunos que passam pelo curso de Engenharia Electrónica de uma das faculdades mais prestigiadas do país, o Instituto Superior Técnico. Ricardo Borges, Presidente do N3E

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Há um ano atrás, ao escrever o editorial da 1ª edição da N3E Magazine dois sentimentos invadiam-me: primeiro, o orgulho pela concretização do projecto que resultou de um esforço feito por uma equipa de pessoas que se empenhou a fundo, e em segundo uma preocupação (ou melhor, uma despreocupação!) pela continuidade desta revista e do próprio N3E. Hoje, as certezas que tinha em relação às pessoas que iriam dar sequência ao projecto confirmam-se, sendo que esta segunda edição é o rosto mais visível da dedicação da nova equipa, mas não único. Constato que os valores e objectivos que estabelecemos para o N3E continuam os mesmos, bem como o seu propósito. Os meus parabéns por esta primeira metade do mandato e felicidades para a concretização das restantes metas.

André Melo Presidente cessante da Direcção do N3E


Curso LEE/MEE

Entrevista com o Professor Ferreira Fernandes (Coordenador da LEE/MEE)

Pedro Ferreira , aluno do IST

Carlos Alberto Ferreira Fernandes, Professor Associado no Instituto Superior Técnico, novo coordenador da Licenciatura e do Mestrado em Eng. Electrónica. Ele fala da sua experiência académica, do seu cargo actual como coordenador e das medidas a tomar. Explica a constituição do curso, as suas vantagens no ensino e no mercado de trabalho. Como foi o seu percurso académico? Entrei na faculdade na Universidade de Luanda exactamente após a reestruturação de 1970, que transformou o curso de 6 para 5 anos com dois ramos: i) Telecomunicações e Electrónica, a minha opção vulgarmente conhecido por correntes fracas e ii) Energia. A Universidade Técnica de Lisboa aderiu à reforma, tal como a Universidade de Luanda: no IST e na Faculdade de Engenharia de Luanda os cursos de Engenharia Electrónica eram idênticos, com os mesmos programas, e com docentes no Departamento de Engenharia Electrotécnica da Universidade de Luanda com fortes ligações ao IST, de tal modo que os processos de equivalência nas transições entre as 2 escolas eram automáticos. No entanto, terminei o curso no IST, já na era pós independência de Angola. Como caracteriza a sua passagem pela faculdade e quais as diferenças que sente para os dias de hoje? As diferenças são sobretudo reflexo das mudanças da sociedade operadas nas últimas 4 décadas. No meu tempo de estudante vivíamos num país não democrático, uma situação que os alunos de hoje muito dificilmente imaginam. Uma universidade é um palco de muitas actividades para além daquelas que têm a ver directamente com a área que escolhemos para a nossa especialização. A realidade de hoje exige cada vez mais que se estabeleçam pontes entre as várias áreas de saber. E cria condições objectivas para as fazermos, não só facilitando a mobilidade das pessoas, nos diversos programas de intercâmbio, que não existiam na altura, como também através dos recursos informáticos que nos fazem aceder a qualquer tipo de informação de forma muito rápida e expedita. No início da década de 70 nenhuma dessas situações era possível. Acresce o facto de que, antes de 1974, até o acesso à informação ser muitas vezes dificultado, por exemplo, com as diversas faculdades duma mesma universidade espartilhadas em espaços físicos distantes para evitar os ajuntamentos, num claro afrontamento à ideia subjacente a uma cidade universi-

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tária. Este é um dos aspectos em que os estudantes de hoje estão numa situação francamente vantajosa. Noutras perspectivas, as coisas não são tão claras. A aparente acalmia do passado não nos criava as angústias de não saber o que fazer quando nos formássemos (havia pleno emprego), numa situação sem qualquer paralelismo com aquelas como as que há semanas atrás a manifestação da “geração à rasca” nos mostrou. No entanto, na comparação com o passado o balanço é francamente positivo para os dias de hoje, embora pense que seja função de todos nós reverter as facilidades oferecidas actualmente (sem dúvida, a um universo maior) em vantagens reais. Como docente no campus Taguspark desde 2004, como vê o Taguspark como estabelecimento de ensino? O facto do campus Taguspark se ter estabelecido num espaço desafogado, permitiu criar um espaço de raiz, com novos laboratórios, uma nova biblioteca, oficina, etc. Deste modo, se evitaram algumas dificuldades que existem no campus da Alameda (por exemplo, a existência no IST-Alameda de uma biblioteca central e de várias bibliotecas periféricas, com o consequente desperdício de recursos). Para além disso, na interacção da escola com as empresas, o factor localização conduz a uma nítida vantagem para o campus do Taguspark, devido ao número elevado de empresas existentes na vizinhança.

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Curso LEE/MEE O IST é uma escola de referência no país e com uma imagem que há muitas décadas está ligada ao espaço físico da Alameda. Para o exterior é natural que o campus do Taguspark apareça em segundo plano. Mas penso que gradualmente essa atitude está a mudar: existe, por exemplo, um número de docente cada vez maior a leccionar no Taguspark. Nesse sentido, uma boa divulgação através da imprensa e a promoção de visitas de estudo a alunos pré-universitários para que conheçam os nossos cursos, as nossas instalações, os trabalhos aqui efectuados, as condições de trabalho, as equipas envolvidas, são acções necessárias para o reconhecimento do campus. Como surgiu a oportunidade de assumir o cargo coordenador de LEE/MEE? Fui nomeado para coordenador da LEE e do MEE pelo Presidente do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC). São cargos que requerem uma grande dedicação e trabalho e, por isso, penso que ao fim de um certo número de anos as pessoas devem mudar para orientar esforços noutros aspectos da sua carreira. Isto não deve ser entendido como algo de nocivo para o bom funcionamento do sistema pois, se por um lado, manter as pessoas nos cargos traz os benefícios associados a um conhecimento mais profundo dos problemas, a mudança permite que se testem novas ideias, novas formas de pensar. De qualquer modo gostaria de realçar que os elementos das anteriores coordenações, quer da LEE quer do MEE, continuam a fazer parte da equipa actual uma vez que integram a Comissão Científica de Coordenação. Quais as funções de um coordenador de curso? As funções de coordenador de um curso estão definidas nos regulamentos do IST, nomeadamente: i) Assegurar o normal funcionamento do curso; ii) Representar o curso junto dos órgãos de gestão do IST; iii) Contribuir para a promoção nacional e internacional do curso; iv) Propor ao Conselho Ciêntifico do IST os numeri clausi e as regras de ingresso no curso; v) Organizar propostas gerais ou individuais de equivalências; vi) Coordenar os programas das Unidades Curriculares (UCs) do curso e garantir o seu bom funcionamento através de uma ligação adequada entre as mesmas; vii) Presidir aos júris das discussões das Dissertações de Mestrado; viii) elaborar os relatórios de coordenação de curso no âmbito de sistema de garantia de qualidade, etc.

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Para as diversas funções conta com a colaboração da Comissão Científica da Coordenação. Quais as maiores dificuldades que sente nessa função? Uma das dificuldades neste momento está associada ao facto de existir uma certa inexperiência no cargo e é, portanto, circunstancial. Muitas das tarefas envolvidas são periódicas, com picos de ocorrência nas transições de semestre. Acontece que a minha tomada de posse como coordenador da LEE e do MEE ocorreu num desses picos, o que tornou especialmente difícil a gestão do meu esforço pelas três vertentes do trabalho no seio da escola: docência, investigação e gestão. Prevejo no entanto que as maiores dificuldades irão decorrer do facto de estarmos a atravessar uma fase particularmente difícil no país, em geral, e nas escolas, em particular, com orçamentos a serem reduzidos e com alterações de funcionamento que podem tornar a execução orçamental bem complicada. Consequentemente, muitas das medidas que gostaríamos de tomar podem tornar-se miragens num horizonte longínquo. Aguardemos pois, e tentemos gerir o melhor possível com as condições que temos. Sendo assim, quais as principais mudanças que pensa adoptar? Na sequência da resposta anterior, as mudanças a adoptar estarão sempre balizadas pelas verbas postas ao dispor. Na situação actual tentar manter a qualidade no funcionamento pode ser já tarefa apreciável. Alguns ajustes poderão no entanto ser possíveis no sentido de melhorar alguns aspectos. Por exemplo, e usando a minha experiência recente neste cargo, fazendo com que todas UCs obrigatórias tenham sempre que possível um funcionamento semestral, ou seja, funcionando também em semestres alternativos, de modo a não criar percalços no progresso académico do aluno. Outro aspecto importante prende-se com o estabelecimento claro e adequado de precedências, que não devem ser entendidas como entraves a uma progressão no curso, mas pelo contrário, como medidas correctas que conduzam a uma interligação apropriada das diferentes UCs do curso, ao estabelecer regras para a sequência na aquisição dos conhecimentos. Em termos genéricos, a análise da evolução do curso deve ser feita periodicamente e as acções tomadas em conformidade com a profundidade que for possível para promover a correcção das falhas detectadas. Referiu há pouco que uma das suas funções é propor os numeri clausi. Por que razão não são aumentados para a LEE? O facto desse número ser relativamente pequeno e poder ser interpretado como um mau


indicador, é, por outro lado, em si uma vantagem. ao mundo empresarial, daí a localização, e orientado A qualidade do curso, com experiências pedagógidesde o princípio para o projecto, a concepção e a cas originais, só é possível pelo reduzido número de criação de sistemas. E a EE é por essência uma área alunos (35/ano). Permite transversal à maioria de fazer uma turma teórica Os alunos de LEE/MEE, assim como engenharias, já que estas e duas de laboratório, recorrem cada vez mais num tipo de ensino que de MEEC, não têm dificuldade de a sistemas electrónicos incide essencialmente em inserção no mercado de trabalho. sofisticados. A aposta na projecto e visando aplicainterdisciplinaridade em ções avançadas de elecprojectos implementados trónica. Um número maior de alunos dificultaria este no Taguspark constitui uma forma inovadora e intetipo de ensino. Foi assim que várias disciplinas na grada de desenvolver as partes experimentais de LEE foram estabelecidas com os docentes e foi posdiversas UCs no seio de uma licenciatura, que seria sível ter um tipo de ensino prático diferenciado. de muito mais difícil implementação na Alameda. Só Em turmas pequenas o ensino torna-se mais personé possível num universo de pequenos números. Em alizado, é possível uma interacção mais forte docensuma, o processo de aprendizagem praticado no te-aluno, é possível ter laboratórios com acesso Taguspark permite criar um ambiente de estudo e de praticamente ininterrupto, incentivando a relação trabalho que considero mais adequado a um espaço do aluno com a escola, com todas as vantagens daí universitário, incentivando a criatividade, o espírito inerentes. No entanto, à medida que o curso avance crítico, a colaboração, um certo risco e uma ligação e se consolide, pode tentar-se aumentar o número mais forte à escola. de entradas sem hipotecar a qualidade da formação. E relativamente ao mercado de trabalho? Vistas as alterações legislativas decorrentes do Para uma melhor inserção no mercado de designado “Processo de Bolonha” ter retirado à trabalho o MEE é a sequência lógica da LEE, uma Ordem dos Engenheiros o poder de acreditação vez que está ligado a UCs de formação avançada. de cursos, em que situação se encontram a LEE/ A formação básica não foi descurada, com 10 UCs MEE? de ciências básicas (matemática, física, química), 6 Existe neste momento um Consórcio de de ciências básicas de electrotecnia, 5 de informátiAcreditação a nível Europeu o EUR-ACE que atribui ca e de computadores. No mercado de trabalho os um selo de qualidade e que o ano passado analisou alunos da MEE têm competências idênticas aos do os nossos cursos do campus Taguspark. O parecer MEEC mas aliam uma componente de projecto e de foi favorável e essa barreira foi ultrapassada com experimentação mais acentuada, o que lhes permite sucesso. Actualmente, como disse, a Ordem dos uma adaptação mais fácil ao mercado de trabalho. Engenheiros já não tem poder para fazer a acrediÉ essencialmente uma formação numa engenharia tação dos cursos, tal como o fazia antigamente. Em de produtos, hardware e software, que penso ser sua substituição existe a Agência de Avaliação e de a melhor escolha para um mercado de um país de Acreditação do Ensino Superior (A3ES) instituída desenvolvimento tecnológico médio/baixo. pelo Estado, por decreto-lei, tendo em vista a promoção e a garantia de qualidade do ensino superior, Para onde vão os alunos formados na LEE/MEE? a quem o IST encomendou o parecer para acredi Os alunos de LEE/MEE, assim como de tação dos cursos de primeiro, segundo e terceiro MEEC, não têm dificuldade de inserção no mercado ciclos. Segundo informação o processo deveria ser de trabalho. Aliás, ainda ao nível do processo interconcluído em Março de 2010. Aguardemos a resposmédio, os alunos que durante o seu percurso acata. démico vão para o estrangeiro em programas como o Erasmus não demonstram qualquer descontinuidade Como surgiu EE e quais as diferenças no ensino no seu desempenho, denotando uma preparação para EEC? adequada. Já na colocação profissional, apesar de Penso que nas respostas anteriores se pode ainda serem números pequenos, existe garantia de adivinhar um pouco a resposta. A Engenharia Elecemprego. Como exemplos temos a Nokia, Siemens trónica foi criada pelo IST sob proposta do DEEC, (hardware, software), Zon Multimédia, Synopsys, por desejo de trazer para o pólo do IST o ramo de EVERIS, Movensis, entre outros. Também de referir Sistemas Electrónicos e Computadores (SEC) da alguns colaboradores e bolseiros em alguns instituantiga LEEC. A decisão foi aprovada na altura por tos (INESC-ID, ISR, IT). mais de 140 docentes do DEEC. Com este objecSão, portanto, as empresas ligadas à área e algumas tivo criou-se um curso com um carácter mais aplidelas inseridas no Parque de Ciência e Tecnologia cado neste domínio, com uma ligação mais estreita Taguspark o principal destino dos alunos formados.

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Actividades N3E

ECO ‘10 O N3E e a TMIST representaram o IST no evento organizado pela Associação Académica da Universidade Atlântica, ECO '10 (Enterro do caloiro de Oeiras 2010), que decorreu na semana de 17 a 21 de Maio de 2010 no espaço da Fábrica da Pólvora, em Barcarena. Este evento teve como principal objectivo promover uma relação de proximidade, cooperação e união entre as diferentes Associações Académicas e de Estudantes do concelho de Oeiras bem como restante população e juventude do concelho. O “Enterro do Caloiro” é uma Tradição Académica que marca uma etapa na vida de todos os estudantes universitários. Ao Caloiro é vedado o uso do traje académico até à cerimónia do “seu enterro”. Portanto não é apenas um evento para os estudantes confraternizarem entre si, este dia tem também um significado especial para os estudantes que sempre quiseram ou sonharam usar o seu traje académico pela primeira vez. O evento teve muita aderência por parte das faculdades do concelho. Nesta noite actuaram as Tunas (TMIST e TUNATLA), ouve também o concerto das Rock’A’Lad, que acabaram por surpreender muita gente, e para finalizar DJ Sunlize para animar o resto da noite para os incansáveis. Como não podia deixar de ser, num evento desta dimensão no concelho, na penútima noite do evento e pela primeira vez o N3E em conjunto com a TMIST tiveram uma banca no Evento.

Jantar de curso Todos os anos o N3E organiza jantares de curso para aproximar e promover o convívio de todos os alunos do curso. Este ano não foi excepção e no início do semestre realizou-se um jantar de curso. Esta altura é especialmente importante para a integração dos novos alunos e nada melhor que um jantar para concretizar essa integração. Tal como em anos anteriores depois do jantar há um convívio, que este ano foi realizado na fábrica da pólvora, perto do Taguspark. Foi uma actividade bastante participada e o saldo final não poderia ser mais positivo. Houve jantar, convívio e acima de tudo muita animação.

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XVI Edição Arraial do Caloiro Este ano realizouconsiderado como uma O evento foi bom e O arraial contou com a Fanfarra, Homens da


iThesis O programa iThesis tem sido desenvolvido desde 2009 em parceria entre o IEEE IST Student Branch e o Núcleo de Estudantes de Engenharia de Redes de Comunicação e Informação (NEERCI). Este programa tinha como principal objectivo a passagem da experiência de alunos que já tinham finalizado a tese para os alunos que estavam a começar, isto é, explicar aos alunos finalistas o que correu mal, o que poderia ser feito, erros cometidos, vantagens das diferentes abordagens possíveis, etc. Esta “passagem” de experiência veio a revelar-se fundamental para quem está a escrever a sua tese, evitando em muitos casos que fossem cometidos os mesmos erros. Este ano o N3E associou-se a esta iniciativa e houve uma mudança de alguns aspectos. Além do que já foi mencionado, o Prof. Rui Crespo, professor no campus da Alameda, foi ao campus do Taguspark explicar boas políticas para a realização e escrita da tese. Foi uma sessão bastante esclarecedora e que certamente trará frutos para todos os presentes, quer pelos conselhos, quer pelas sugestões de alguém com bastante experiência neste campo. Em breve, e ainda no âmbito do projecto iThesis, irá realizar-se um workshop de LaTeX, visto ser uma ferramenta de prestígio para a escrita quer duma tese, quer de outro tipo de documentos oficiais.

2010 do IST

IST Career Week O N3E participou activamente numa iniciativa lançada pelo IST com o nome de IST Career Weeks – Semana das empresas no IST. De 10 a 17 de Março, passaram pelo campus do IST no Taguspark empresas como a Movensis, Novabase, Synopsys, TECMIC, KPMG, PT, ZON, Hitachi Consulting, entre outras. Este evento, que permitiu uma aproximação entre as empresas e os alunos, possibilitou que estes alargassem os seus horizontes através da participação nas apresentações e nos stands das empresas, montados durante toda a semana no campus. O objectivo passou pelas empresas se darem a conhecer aos alunos, principalmente de Mestrado, e lhes apresentaren o que fazem, em que projectos estão inseridos e o que esperam dos futuros engenheiros do IST.

Workshop “IST- Toolkit” Este evento teve como objectivo integrar os novos alunos nas ferramentas de trabalho diárias de um estudante universitário do IST. Foram abordados os seguintes temas: • contas de email; • ferramentas de trabalho em equipa; • ferramentas de gestão de tempo; • fontes de material de estudo; • repositórios de software.

se mais um arraial no Instituto Superior Técnico, das melhores festas universitárias de Lisboa. esteve com o recinto cheio os dois dias do arraial. presença das tunas do IST (TFIST e TUIST), Farra Luta, Boca Doce, Blind Zero, Diabos na Cruz, Os Pontos Negros e pela primeira vez com uma banca do N3E. O N3E conseguiu dar-se a conhecer num evento de grande dimensão e deixou marcas a quem por lá passou, com ideias creativas que marcaram a diferença em relação a outras bancas. Na banca foram dados diversos brindes tais como pulseiras luminosas, isqueiros, canetas, fitas, entre outros. A principal atracção da banca do N3E foram as pulseiras luminosas que fizeram furor durante toda a festa. O próximo arraial do IST será em Maio e contará novamente com a presença do N3E na esperança de continuar a estar presente nos arraiais que se seguirão.

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Desporto O N3E promove as actividades extra curriculares na convicção que são uma mais valia para todos os alunos. Além das actividades pontuais que se realizam ao longo do ano, como paintball ou caminhadas, também existem actividades regulares. Exemplo disso é um jogo de futebol por semana, onde qualquer aluno pode participar mediante uma pré-inscrição no fórum do N3E. Os sócios do N3E podem requesitar coletes e bola para a realização desta actividade.

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Grupos do IST

NEECIST César Gaspar, aluno do IST

No passado mês de Dezembro tivemos a possibilidade de conhecer mais de perto o NEECIST, uma associação muito similar ao N3E nos seus objectivos e meios de trabalho. Dessa forma decidimos dar a conhecer este núcleo estudantil do IST.

O

NEECIST - Núcleo Estudantes de Electrotécnica e Computadores do IST é uma associação sem fins lucrativos, fundada a 19 de Setembro de 2003, que tem por objectivo principal reunir e representar os estudantes de MEEC do IST. A criação do núcleo começou através da ideia de representar os alunos da LEEC, hoje designada por MEEC dando assim origem a este grupo.

Actualmente o NEECIST ambiciona mais objectivos tais como: • A divulgação do seu curso; • Contribuir para fortalecer a interligação curso-sociedade; • Inserção dos alunos no meio empresarial; • Desenvolver actividades internacionais; • Apoiar e unir os estudantes de MEEC; • Genericamente, divulgar e promover toda a actividade de interesse, de forma a contribuir para a promoção dos estudantes e do curso. Alguns dos projectos do NEECIST são: • As jornadas de Engª. Electrotécnica e Computadores do IST; • Os Workshops & Exchanges com a EESTEC; • Visitas de estudo a empresas; • Actividades desportivas. Uma das suas actividades mais atraente é a possibilidade de os seus membros poderem participar em eventos europeus com a EESTEC – Electrical Engineering Students European Association. Esta organização internacional é destinada a estudantes em engenharia electrotécnica, tendo como objectivo principal a troca de ideias, promover e desenvolver contactos internacionais entre alunos do curso do curso em questão. Em Portugal o NEECIST é o único LC - Local Committees recebendo o título oficial de Júnior LC em 2007. O núcleo conta com um espaço próprio para se reunir e desenvolver as suas ideias numa sala nas instalações do IST no pavilhão de Electricidade, na Torre Norte do campus da Alameda.

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Neste espaço é possível encontrar algum material ao dispor dos associados para trabalharem. O material utilizado nos seus projectos é obtido através de ofertas, reciclagem de outros componentes e em último caso a compra dos mesmos. O NEECIST conta actualmente com mais de 400 membros, que são informados continuamente através da newsletter das actividades, workshops e eventos relacionados com o curso. Este contacto permanente tem mostrado bons resultados, exemplo disso foi o mais recente workshop que superou em dobro o número de participantes esperado.

Apesar dos últimos anos de pouco impacto junto dos estudantes de electrotécnica, o NEECIST está em mudança e no caminho certo para divertir, ensinar e abrir horizontes aos seus associados e a todos os estudantes que queiram participar. De facto, este grupo tem tido um crescente reconhecimento e apoio por parte dos docentes e não docentes do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do campus, o qual se torna um estímulo para querer fazer do NEECIST uma referência.


JUNITEC João Gonçalves, aluno do IST

A JUNITEC apresenta-se como um passo intermédio para a comunidade de jovens empreendedores na criação do seu próprio negócio. São projectos de sucesso como o de João Noéme, que mostram a JUNITEC como sendo uma autêntica plataforma de lançamento de alunos empreendedores e dos seus projectos.

A

JUNITEC – Júnior Empresas do Instituto Superior Técnico é uma Júnior Empresa, constituída por alunos desta Instituição, dos mais variados cursos. Este conceito de Júnior Empresa surgiu em Paris, na École Supérieur des Sciences Economiques et Commerciales de Paris em 1967, com o objectivo de incentivar o espírito empreendedor dos estudantes universitários. Juntando uma equipa polivalente, a JUNITEC possui um alargado conjunto de competências técnicas e profissionais para cumprir o objectivo de dinamizar o empreendedorismo e a ciência junto dos estudantes do IST. Um caso de sucesso a analisar é o de João Noéme que passou pela JUNITEC e concluiu o curso de Engenharia Aeroespacial no IST, ramo de Aviónica, em 2002. Lidera agora uma empresa em expansão, – a UAVision, (ramo de aeronáutica) - que lançou no mercado o U4 Quad Copter1, modelo de aeronave não tripulada destinada a operações de recolha de imagem (monitorização agrícola, florestal e missões de segurança). João Noéme refere a JUNITEC como uma autêntica plataforma de lançamento de alunos empreendedores e dos seus projectos. Actualmente, a JUNITEC encontra-se a desenvolver projectos como a Impressora 3D e a Bolsa de resíduos e serviços. A Impressora 3D é um projecto baseado no RepRap2 que consiste no desenvolvimento de um dispositivo capaz de criar objectos tridimensionais desenhados com o auxílio de programas informáticos. Podem ser impressos objectos em plástico e sendo a impressora composta por partes plásticas pode-se mesmo replicar outra impressora.

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Uma possibilidade interessante é a reciclagem caseira de antigos objectos que podem ser reutilizados pela impressora para fazer uns novos. A RepRap, estende o princípio de open source do software para o hardware, tornando possível que qualquer pessoa possa obter o conhecimento necessário para a sua construção. É deste modo possível, obter esquemas das placas de circuito utilizadas, os ficheiros de CAD, documentação e software, disponível online. Outro projecto actualmente em desenvolvimento é a Bolsa de resíduos e serviços (BRS). A BRS é uma plataforma de divulgação, compra e venda de resíduos, de procura e oferta de serviços, destinada a parques industriais, a concelhos ou a regiões. Através da criação de um modelo Web de cariz geral, capaz de ser posteriormente adaptado às especificidades da região de implementação, a plataforma oferece às empresas a oportunidade única de conciliar ganhos económicos com ambientais. A plataforma está inserida numa lógica de ecologia industrial e permite a possibilidade de redução de custos, incorporando resíduos de uma dada empresa como matérias-primas no processo produtivo de outra. http://www.uavision.com http://reprap.org/bin/view/Main/WebHome 1

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AITECOEIRAS

http://www.aitec-oeiras.pt/

César Gaspar, aluno do IST

Procurando desenvolver e sustentar o concelho de Oeiras, a AITECOEIRAS desempenha actualmente um papel fundamental na promoção do concelho. Presidida pelo Eng.º Luís Todo Bom, ele deu-nos a conhecer mais de perto esta associação.

Fale-nos sobre a criação da AITECOEIRAS. Em que consiste? A AITECOEIRAS é uma agência de desenvolvimento regional, cuja função é promover o desenvolvimento integrado da região de Oeiras. Tem como principal objectivo consolidar o conceito de “Oeiras Valley”, região integrada e sistémica de desenvolvimento, suportada no conhecimento, em empresas de base tecnológica, universidades e institutos de investigação científica. É uma associação sem fins lucrativos que tem como associado de referência a Câmara Municipal de Oeiras e as diversas empresas, universidades e institutos da região. Tem como objectivo fundamental aumentar a qualidade de vida dos que vivem e trabalham em Oeiras, promovendo o equilíbrio social, sendo este essencial para o desenvolvimento das unidades empresariais. Atraímos activamente empresas nas áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação, das Biotecnologias, Tecnologias da Saúde e Tecnologias Tropicais, através de redes internacionais com a Europa, com os EUA e com África, nomeadamente com os países lusófonos. A selecção destes sectores empresariais deve-se ao facto de já termos uma base instalada significativa nestes três clusters. Não promovemos a região a nível nacional, pois a nossa função não é desertificar as outras regiões do país mas sim atrair empresas internacionais. A nossa estratégia é a atracção internacional e o apoio às empresas da região de forma a que estas se internacionalizem.

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O conceito de AITECOEIRAS veio do estrangeiro? Não, ele nasceu da reflexão de um conjunto de pessoas ligadas à CMO. O conceito de “Oeiras Valley” é que vem de fora, tendo sido adoptado o modelo integrado dos vários Valleys de desenvolvimento existentes no estrangeiro. Um dos exemplos mais conhecidos é o “Silicon Valley”, situado na Califórnia, que é suportado por universidades e empresas públicas e privadas na área das tecnologias de informação e comunicação. Quais os protocolos existentes para sustentar as unidades produtoras de conhecimento da região? Não existem protocolos porque tanto as universidades como os institutos de investigação científica são associados da AITECOEIRAS, isto é, fazem parte da organização. Damos a conhecer ao mundo o que cá existe, desde escolas a empresas deste concelho. Desta forma inserimo-las nas grandes redes de tecnologia, das quais Portugal tem estado bastante afastado. Nem Lisboa tem uma rede como Oeiras tem, sendo um caso único em Portugal. Era bom que houvesse mais Valleys em Portugal.


Como acha possível haver um maior alinhamento entre o mundo académico e empresarial? Eu não partilho da opinião que exista um total divórcio entre universidades e empresas. O mundo académico conhece bem o mundo empresarial assim como o mundo empresarial conhece quais as universidades que formam bons profissionais. Considero que a ligação entre os dois mundos é razoável e semelhante à de muitos outros países desenvolvidos. Não existe é uma relação estabilizada entre a investigação aplicada nas faculdades e nas empresas. Nesse sentido não tem havido melhorias e a culpa é de ambas as partes. As empresas encomendam pouco às universidades e mesmo as boas universidades não têm capacidade de resposta para mais encomendas, formando-se um ciclo vicioso. As empresas não encomendam porque não têm resposta e as universidades não aumentam os seus recursos para poderem responder a essas encomendas. T e m o s poucos alunos que sejam bons nas universidades portuguesas. Se conseguirmos ter mais bons alunos, as universidades conseguirão responder e as empresas passarão a encomendar mais. Existem várias categorias de universidades e de empresas. Nas de primeira categoria, a relação entre elas é muito mais intensa. Nas outras categorias não é e nem pode ser, visto que as empresas não podem admitir trabalhadores com pouca formação, nem correr o risco de desenvolverem projectos de baixa qualidade. Em que categoria poderíamos inserir o IST? O IST é uma referência a nível nacional, não havendo desemprego para os seus estudantes. As empresas sabem exactamente onde vão buscar os seus quadros e duvido que os engenheiros das boas escolas estejam no desemprego. Em relação ao mundo empresarial, o IST não tem hipótese para dar resposta às solicitações de todas as empresas uma vez que não pode sacrificar os alunos para satisfazer as empresas e visto que existe uma elevada carga horária que tem de ser respeitada, além dos projectos intensos durante o curso. Actualmente há falta de engenheiros em Portugal e praticamente todos os engenheiros têm

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emprego cá. Vão para Alemanha ou para outro país, porque querem e ou ambicionam outros objectivos na vida, por questões de concretização pessoal e não por necessidade imperiosa. Quais as perspectivas e previsões para o futuro da AITECOEIRAS? A nossa perspectiva é que a AITECOEIRAS estará consolidada em 2020. O objectivo é simples: aumentar o conhecimento e a qualidade de vida da região de Oeiras. Não é aumentar o número de empresas nem o Valley. Aumentar sim, mas qualitativamente. De acordo com o nosso programa estratégico pretendemos que o IST tenha mais cursos e que as empresas utilizem esse conhecimento que é criado em Oeiras. Queremos que Oeiras tenha mais universidades, residências de estudantes, hotéis para receber os cientistas e investigadores, que realize mais congressos de tecnologia. No fundo, ter uma vertente mais internacional para que as pessoas sintam que Oeiras faz parte de um mundo global tecnologicamente evoluído. Pretendemos também que a Universidade Atlântica se especialize na área das tecnologias tropicais. Queremos fazer tudo com persistência, sem pressa, visto que um projecto destes requer tempo para que obtenha o sucesso desejado. Também queremos trazer para o concelho, a pouco e pouco, empresas e cursos que fortaleçam tecnologicamente a região. Reflexão final. Gostaria de destacar a importância dos níveis de segurança que o concelho oferece. Oeiras tem níveis de segurança únicos e isto deve-se ao grande equilíbrio social. Por exemplo, temos um bairro social em plena harmonia com o Lagoas Park - um dos parques empresariais do concelho. Os moradores desse bairro trabalham como funcionários menos qualificados das empresas e muito provavelmente os seus filhos irão trabalhar, no futuro, como quadros qualificados dessas mesmas empresas. A qualidade de vida tem um valor incalculável e as empresas que cá estão reconhecem isso e têm tendência a sentirem-se bem.

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Entrevista com...

Entrevista com a Prof. Teresa Vazão Ricardo Borges , aluno do IST

A professora Teresa Vazão é Vice Presidente do IST para a gestão do campus do IST Taguspark. É responsável por operacionalizar neste campus, todas as direcções, regras, procedimentos e iniciativas do IST. Além disso, tem outras responsabilidades locais e mais específicas deste campus, que não tem representatividade do ponto de vista global do IST. Quais os projectos a curto/médio-prazo para este pólo? Um dos projectos com mais importância para os alunos é a construção da residência, que já se encontra na fase de projecto e será num local diferente do que estava previsto inicialmente. É uma obra que tem uma importância vital para todos nós, pela dinâmica e pela nova vida que irá trazer para o campus. A longo prazo vai ser construído um novo edifício neste campus, com o objectivo de reforçar fortemente a componente de investigação em novas áreas. Estão previstos novos cursos para o IST Taguspark? Apesar da capacidade actual do edifício já não ser muito grande para instalar novos cursos, ainda é possível diversificar a actual oferta formativa, com cursos para profissionais ou programas de mestrado. No entanto, neste contexto, o grande salto será dado com a construção dos novos edifícios que fazem parte do projecto original. Na maquete deste pólo existem residência de estudantes, polidesportivo, cantina, etc. O que se vai manter e o que vai mudar? Em termos conceptuais tudo se vai manter, embora possa haver algumas mudanças em relação à maquete, como é o caso da residência, por exemplo. Porque só há cerca de 35 vagas para o curso de Eng. Electrónica? Está previsto um aumento dessas vagas? O IST tem que ser gerido como um todo e não curso a curso. Não se podem aumentar as vagas dum curso sem estar a fazer uma redistribuição interna, nos outros cursos. Em relação ao curso de Eng. Electrónica, em específico, existe um bom equilíbrio e o facto de ser um

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curso pequeno permite ter uma envolvente muito forte, quer entre alunos, quer entre alunos e professores. Ao aumentar o número de alunos do curso dificilmente se vai conseguir manter este modelo. Correse o risco de perder a identidade, muito própria, que se conseguiu criar e que traduz um modelo de sucesso. Como é visto este campus no mundo empresarial? Há diferença entre um aluno formado neste pólo e no pólo da alameda, aos olhos das empresas? Este campus é visto duma forma muito positiva no meio empresarial e tem havido um óptimo feedback por parte dos empregadores que contratam alunos deste pólo. Infelizmente há muitos jovens que não sentem apelo por estas áreas e acabamos por não ter capacidade de resposta para o mercado de trabalho que existe actualmente. Era fundamental que esta mensagem chegasse aos mais novos, porque estamos a falar de áreas com enorme empregabilidade e potencial para criar o valor que o País precisa. Em relação às empresas, não há qualquer distinção

entre alunos do Taguspark ou da Alameda. O que as empresas procuram, para além da qualidade técnica que caracteriza a formação do IST, são pessoas com capacidade de resolver problemas, trabalhar em equipa e não causar conflitos. Estas são características que vão adjacentes a qualquer diplomado do IST, seja qual for o pólo onde estudou, porque no fundo a empresa vai olhar para o diploma que acaba por ser comum aos dois, o diploma do Instituto Superior Técnico.


Quais as principais vantagens deste pólo, no Taguspark? Uma das principais vantagens é o Taguspark ser um parque de ciência e tecnologia, com muitas empresas perto da universidade e com as quais é relativamente fácil começar a ter algum contacto. Outra vantagem é termos instalações excelentes que proporcionam condições únicas para formar um engenheiro. Por último, e não menos importante, é o ambiente do campus, que proporciona o convívio quer entre alunos de diferentes cursos, quer com professores e até mesmo funcionários, formando assim, além de engenheiros, melhores pessoas.

preparando os seus alunos para todo o desenvolvimento que acontecem ao longo dos tempos. A prova disso é ter sido capaz de transferir uma parte muito importante da sua actividade para o Taguspark. Foi a visão estratégica da Instituição que, na década de 90, permitiu perceber a importância de criar um pólo do Técnico no “meio das empresas”. Quando o campus iniciou a sua actividade existia apenas a Licenciatura em Engenharia Informática e Computadores. Passados 10 anos, existe uma oferta formativa mais diversificada que contempla novos cursos, tais como: Engenharia Electrónica, Engenharia de Redes de Comunicações e Engenharia e Gestão Industrial. A recente instalação do Programa MIT-Portugal nas vertentes dos Sistemas Sustentáveis de Energia e dos Sistemas de Bioengenharia é duma importância fulcral para a afirmação do campus. Tudo isto faz parte da estratégia global de afirmação do projecto IST.

O IST consegue responder ao mercado de trabalho ou ainda assim há falta de engenheiros? Para responder ao mercado de trabalho era necessário que houvesse tantos engenheiros quanto necessário, mas na verdade isso não acontece, O edifício principal tem um jardim no meio e um havendo uma grande falta de engenheiros. É um bom telhado vidrado precisamente para tornar o edifício aspecto para quem vai tirar um curso mas é muito num local agradável, tornando-se assim num espaço mau para as empresas porque não têm mão-de-obra que estimula a criatividade suficiente para os seus proe a produtividade. Neste “Maior parte dos alunos deste jectos, tendo a necessidade aspecto somos privilegia- campus criam laços que certamente de contractar outro tipo de dos dentro do IST porque mão-de-obra para colmatar irão durar uma vida inteira.” temos condições únicas e essa falta de engenheiros. vivências muito especiais, próprias dum projecto ainda em fase de construção. O IST é reconhecido internacionalmente? Penso que, a maior parte dos alunos deste campus O IST tem muitas parcerias com escolas internacria laços que certamente irão durar uma vida inteira. cionais, e nomeadamente no campus do Taguspark vêem-se cada vez mais alunos estrangeiros, signifiQual a percentagem de alunos que ficam pelo cando que o IST já é uma referência para quem vem Taguspark? de fora. Ainda não há um estudo sobre essa matéria mas Geograficamente o Taguspark está privilegiado, maior parte dos que ficam, trabalham em PMEs. tendo tanto a praia como a serra bastante perto. Com Acaba por ser um trabalho muito importante porque, a construção da residência e o nosso actual serviço sendo pequenas empresas, cada trabalhador tem de shuttle a ligar a Alameda e o Taguspark por um que fazer um pouco de tudo e os alunos desta instilado, e o Taguspark às estações de Oeiras e do tuição estão muito habilitados a fazê-lo. Além disso, Cacém, por outro, a acessibilidade fica muito facilitamuitos dos alunos que ficaram pelo Taguspark vêm da. Estou certa que, cada vez mais, vamos conseguir frequentemente à universidade almoçar e “matar” captar mais estudantes de fora. saudades. A captação destes alunos tem vindo a ser melhorada ao longo do tempo, até porque a actualmente Em 100 anos de IST, quais as principais as aulas do 2º ciclo são dadas em inglês, caso haja evoluções? E em 10 anos, neste campus? alunos de fora. No IST aumentaram significativamente o número de No caso dum aluno do IST, quando vai para o cursos, assim como o número de alunos. O IST tem estrangeiro, acaba por se diferenciar e ser bem sucetido um papel preponderante ao longo destes anos, dido porque tem uma formação muito sólida, que lhe acompanhando sempre as evoluções tecnológicas e permite lidar com qualquer tipo de problema.

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Fénix

O CIIST/DSI e o Fénix Denys Sorokin e Tiago Freire, alunos do IST

Em colaboração com o professor Fernando Mira da Silva, foi elaborado este artigo onde apresentamos uma breve história sobre o Centro de Informática do IST (actualmente DSI, Direcção de Serviços de Informática) e das suas funcionalidades hoje em dia. Também referimos pormenores sobre o projecto Fénix, salientando o seu avanço a nível tecnológico, o que o torna numa ferramenta fundamental na interacção entre alunos e professores. Sabias que o primeiro computador no IST tinha 64Kb de memória e 1Mb de disco? Com o aparecimento do primeiro computador (1970) do IST, nasce o CIIST, tendo como papel fundamental o cálculo científico. Com o avanço da tecnologia em 1980 foi montada a primeira rede sem ligação à internet que permitia ter os vários departamentos interligados e os alunos a terem acesso interactivo aos computadores. Pela mesma altura os serviços de secretaria do IST começaram também a ser informatizados. Na década de 90 o aparecimento de microcomputadores e a expansão das tecnologias WEB, levaram a que cada departamento tivesse os seus próprios computadores e o CIIST fica reduzido à prestação de serviços informáticos de secretaria, contabilidade, à área de recursos humanos e à manutenção da rede interna. A situação inverteu-se no início do século XXI com a chegada do professor Rito Silva que viu a importância de desenvolver um sistema de informação académico que seja acessível a todos os alunos, docentes e funcionários de uma forma interactiva, de onde nasce o projecto Fénix. O projecto Fénix com mais de 1 milhão de linhas de código é dos maiores projectos Open Source a nível nacional. O projecto Fénix foi um ponto fundamental para dar novamente importância ao CIIST. O projecto gira em torno de 3 vertentes fundamentais, a administração interna alinhada com a estratégia de investigação tendo ainda uma vertente de ligação com a indústria. O facto de o IST ser uma faculdade de Engenharia e ter recursos próprios na área de tecnologias e sistemas de informação, foi uma grande ajuda no

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desenvolvimento do projecto. Alunos de mestrado e doutoramento colaboraram no desenvolvimento do projecto com os seus trabalhos. Houve uma estratégia de criar não apenas uma plataforma de software mas sim uma plataforma que incluísse componentes inovadores do ponto de vista de investigação a nível de comunidade científica. De forma a poder alinhar o projecto com o mercado, este foi desenvolvido em Open Source o que permite que outras universidades adoptem o projecto sem custos de licenciamento. Várias empresas que não estavam relacionadas com o IST mostraram interesse em trabalhar nessa área de instalação do sistema pois o sistema é gratuito mas a sua instalação não é trivial e exige suporte especializado. O Fénix encontra-se ligado a um avançado sistema de gestão de identidades e de autenticação. O sistema de autenticação pode ser feito por vários métodos tais como username e password, autenticação através de cartão de cidadão, sistemas kerberos (é um sistema raro de encontrar mundialmente da forma integrada em que exite no Técnico), tem suporte de federações e, graças à participação no projecto Europeu STORK, é também compatível com o sistema europeu de identidades electrónicas (European e-ID). IST como nó central de ligação da UTL. A ligação entre os pólos TagusPark e Alameda começou por ser de 5 Mbits/s e passou a 25 Mbits/s. Apesar do avanço, o professor Fernando Mira (actual presidente do CIIST) sempre achou que precisavam de uma ligação na ordem dos gigabits o que levou a que há cerca de 3 anos esta ligação passasse a ser de 1 Gbit/s. Esta ligação é feita através de fibra óptica, alugada a uma empresa de telecomunicações. A ligação entre a rede científica nacional e as várias faculdades que fazem parte da UTL é feita através do IST, o que faz com que o IST seja o nó central de ligação na UTL.


Onde estão os servidores do IST? A maior parte dos servidores encontram-se na Alameda, num espaço novo e remodelado. Os servidores tiveram de ser mudados de sítio devido à falta de condições do antigo local onde estavam. Esta mudança foi feita sem períodos de downtime devido à forma como o CIIST administrou e projectou esta deslocação. Hoje em dia, muitos docentes e investigadores guardam os seus computadores de cálculo científico nas instalações do CIIST, visto que o mesmo possui as condições de potência e ar condicionado necessárias ao bom funcionamento destas máquinas.

utilização do sistema, mas evidenciam-se durante as inscrições, dado o pico de carga a que o sistema é sujeito. Em qualquer caso, há uns tempos atrás demorava-se 5 a 6 horas para desentupir o sistema nas inscrições, enquanto que nos últimos anos a maioria das inscrições decorre nos primeiros 20/30 minutos. O problema na detecção destes problemas é o facto de só se poder testar 2 vezes por ano pois a carga a que o sistema é submetido nestas alturas é muito difícil de simular com recursos próprios. Sempre que têm sido detectados problemas, estes são corrigidos com mudanças a nível de software e hardware.

Achas que é só informáticos a trabalhar no CIIST? Actualmente o CIIST conta com a colaboração de vários alunos interessados em participar neste projecto. Estes alunos não têm disponibilidade total para dar ao projecto, trabalhando em média 12 horas por semana. Para tornar os serviços estáveis, o CIIST conta com a colaboração de técnicos, licenciados e mestres na área, que trabalham a tempo inteiro. Muitos alunos queixam-se da lentidão dos serviços do Fénix em épocas de submissões de projectos e inscrições. O CIIST reconhece que estas queixas têm origem justificada, mas afirma que estes aspectos têm vindo a ser substancialmente melhorados. Estes nem sempre resultam de limitações do Fénix, mas de problemas inerentes a um sistema extremamente complexo e que está continuamente a ser melhorado, basta que algures no sistema Fénix ou no sistema operativo ocorra uma alteração que provoque um pequeno estrangulamento numa transacção para que possam surgir problemas em situações de carga elevada. Estes problemas podem não ser detectados durante todo o ano, em condições normais de

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A rede sem fios. A norma que o CIIST suporta é B/G e em alguns locais já estão a colocar AP’s (pontos de acesso) com norma N, não estando a colocar em muitos locais porque os AP’s com norma N têm um custo muito elevado e não se sente necessidade disso em locais pouco concorridos. Apesar disso a biblioteca do Taguspark que é um local problemático a níveis de rede já está coberto com norma N tal como os locais com grande afluência de estudantes.

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Projectos

Arquitectura de Computadores - Projecto SUBA Sérgio Saraiva, aluno do IST

O Projecto SUBA é um trabalho inovador na introdução de conhecimentos que serão necessários ao longo do percurso académico. Tem por base sistemas mecânicos e electrónicos, envolvendo várias áreas tais como física, circuitos eléctricos, sistemas digitais, entre outras. Este projecto permite uma primeira abordagem aos verdadeiros problemas de Engenharia Electrónica.

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a unidade curricular em que o projecto é realizado – Arquitectura de Computadores - o objectivo principal é fazer com que o carro, uma réplica deo Subaru Impreza WRX, da Fuji Heavy Industries, consiga percorrer sozinho uma pista. Para isso, ele tem de seguir uma linha branca que serve de pista. Esse controlo é efectuado graças a um par de sensores que detectam a linha branca. Com o processamento dos dados, o carro terá de virar as rodas caso esteja fora da linha. Para além deste objectivo ainda existe o controlo da velocidade e do som, ou seja, o carro deverá tocar uma música enquanto se desloca. As principais dificuldades que surgem imediatamente são a do controlo da velocidade e a da direcção do carro, isto porque o carro deverá efectuar tudo de forma autónoma. São tarefas que envolvem esforço e dedicação para que sejam alcançados os objectivos pretendidos. Nada que seja impossível, muito pelo contrário, mas que requer o seu tempo e exige um bom raciocínio para superar tais dificuldades.

A experiência é sem dúvida marcante e importante no decorrer do curso. É o primeiro contacto directo com os sistemas electrónicos e permite compreender como alguns aspectos funcionam. Entende-se a estrutura básica por detrás do seu funcionamento e como é possível utilizála para controlar um carro com pequenas peças. Como já foi referido, este é um projecto que envolve diferentes áreas, sendo uma oportunidade para que essas possam ser aprofundadas

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e para que alguns conceitos específicos possam ser entendidos. A Física é uma das principais áreas. Conhecimentos sobre velocidade; actuação de forças num corpo, como o peso e a força de atrito; potência necessária para o andamento do carro e muitos outros, são aqui explorados. A Electrónica, visto que é a principal área envol- vida no projecto, é muito explorada. São abordados conceitos sobre processadores e microprocessadores, memórias ou outros sistemas, o seu funcionamento, as suas relações de harmonização, comunicação, controlo do carro, etc. Para além disto, é um projecto sempre em desenvolvimento e que acompanha as inovações tecnológicas. Novos componentes estão a ser preparados para que num futuro próximo possam ser utilizados e implementados. Sistemas electrónicos e mecânicos que farão o SUBA evoluir e ter uma melhor performance. Entre eles destacam-se, o sensor de presença de obstáculos e os sistemas sensoriais por infra-vermelhos. Diversas técnicas fundamentais são aplicadas de forma a permitir uma interacção dos conhecimentos adquiridos nas várias disciplinas que servem de base para a engenharia moderna. Todos estes aspectos e conhecimentosfazem dele um projecto único que permite ao aluno um primeiro contacto com a electrónica de uma forma original e prática, que estimula bastante o interesse pelos conceitos fundamentais e o seu entendimento. http://lee.tagus.ist.utl.pt/SUBA


Carga e Descarga de Baterias de Iões de Lítio Pedro Pinto e André Gomes, alunos do IST

O projecto Carga e descarga de baterias surgiu no âmbito da unidade curricular de Instrumentação e Medidas, do terceiro ano da LEE, e tinha como objectivo o desenvolvimento de um sistema misto de software e hardware que permitisse monitorizar testes de resistência a baterias de Iões de Lítio.

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projecto “Carga e descarga de baterias de Iões de Lítio” revelou-se um desafio interessante uma vez que o conhecimento sobre o assunto não era muito até então. O objectivo de desenvolver e implementar um sistema autómato que permitisse testar e monitorizar cargas e descargas sucessivas, levou inicialmente a um estudo sobre baterias, sobre a forma de as carregar e quais as características da sua resposta

durante a carga e durante a descarga. Após uma importante pesquisa sobre o assunto, avançou-se então com o desenvolvimento do hardware e software. O hardware encontra-se dividido em duas secções. A primeira para a carga e a segunda para a descarga da bateria . A implementação deste circuito numa PCB (Printed Circuit Board) tal como pedido nas especificações do projecto. Os circuitos eram separados por um relé, controlado por software, permitindo assim ao utilizador optar por carregar ou descarregar a bateria. Para o circuito de carga ligouse uma fonte de alimentação à bateria, a qual era controlada através de software por GPIB (General Purpose Interface Bus), e para a qual eram definidos dois parâmetros, a corrente e a tensão máxima fornecidas. O circuito de descarga da bateria era compos-

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to por três cargas independentes. As cargas eram três resistências de potência de valores 4Ω, 22Ω e 100Ω, podendo ser combinadas em paralelo, para se poder analisar a resposta da bateria perante diferentes necessidades de potência. Foram escolhidas resistências de potência uma vez que se atingiam potências superiores a ¼ W na descarga. A selecção da carga era feita por software, correspondendo em hardware a activar ou desactivar a passagem de corrente para cada carga através de relés. A tensão na bateria era adquirida com o auxílio de uma DAQ (Data Aquisition) e representado em tempo real no software. O software foi desenvolvido em LabVIEW, e tinha um funcionamento autónomo, permitindo efectuar sucessivamente ciclos de carga alternados com ciclos descarga. A cada ciclo regista-se num ficheiro, todos os valores relevantes tais como valores de tensão e de corrente, intervalo entre aquisições, hora do início e do fim do ciclo, entre outros, ficando estes ficheiros disponíveis para posterior processamento dos dados. O utilizador tem controlo sobre os valores limite de tensão e de corrente que a fonte de alimentação impõe à bateria no ciclo de carga, o valor de carga a utilizar no ciclo de descarga o intervalo de tempo entre registos de tensão e de corrente e o número de ciclos consecutivos a realizar. As aquisições efectuam-se em modo analógico, enquanto que o controlo do sistema é assegurado pelo modo digital da DAQ. Era ainda calcula-se ainda e de forma aproximada o tempo de vida da bateria e o seu tempo de carga. A realização deste projecto proporcionou uma experiência enriquecedora, que permitiu expandir o conhecimento em relação ao tema das baterias de Iões de Lítio proporcionando ainda a oportunidade de desenvolver um projecto de raiz, uma vez que foi a primeira vez que este foi proposto nesta unidade curricular. Resta-nos agradecer o apoio prestado pelo Professor Pedro Ramos.

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Projectos

Sistema de Medição da Concentração de Ozono

André Leitão, aluno do IST

Devido à preocupação com a concentração de ozono na atmosfera do nosso planeta, decidiu-se criar um módulo de baixo consumo e de elevada portabilidade para medição da concentração de ozono. O módulo utiliza uma interface gráfica que permite a conexão a qualquer computador.

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terra é envolvida por uma frágil camada de ozono que protege animais e plantas dos raios ultravioleta (UV) emitidos pelo sol. Na superfície, o gás ozono (O3) contribui para agravar a poluição do ar e dar origem às chuvas ácidas. Mas, na estratosfera, entre 25 e 30 km em altitude, o ozono funciona como

um filtro. Sem ele, os raios ultravioleta poderiam aniquilar quase todas as formas de vida no planeta. Este projecto consistiu no desenvolvimento de um sistema de medição da concentração de ozono presente num local fechado e foi desenvolvido pelos alunos Marco Pereira e André Leitão. Este módulo seria apenas alimentado por uma porta USB de um

computador. Como este trabalho foi efectuado no âmbito da unidade curricular de Sensores e Actuadores Inteligentes, o objectivo era então usar um sensor químico condutimétrico que, de acordo com a concentração de ozono, gerasse um sinal relacionável com uma característica eléctrica, neste caso a resistência.

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O sistema desenvolvido teria de conter uma interface de comunicação USB com um computador de modo a apresentar os resultados através de uma aplicação, também esta desenvolvida. Foi utilizado um microcontrolador PIC, ligado ao sensor de ozono, programado em linguagem C e com a possibilidade de calibração da função de transferência, identificação do sensor e leitura do nível de ozono. Para efeitos de teste e calibração da função de transferência do sensor foi utilizada uma máquina geradora de ozono. Os sensores químicos que foram utilizados são do tipo HMOS (Heated Metal Oxide Semicondutor) e funcionam através do aquecimento de um substrato de platina. A uma temperatura superior a 300ºC este substrato é muito sensível ao ozono tornando possível medir a resistência associada a este substrato, pois esta é proporcional à tensão nele aplicada. A programação do microcontrolador PIC foi escrita em linguagem C. Neste PIC foram activados vários dos seus blocos internos de modo a obter o resultado pretendido: • O conversor analógico-digital (ADC), de modo a possibilitar a manipulação digital de uma tensão proporcional à resistência do sensor e obter a concentração correspondente. (É de salientar que a relação entre a tensão de entrada do ADC e a concentração de ozono correspondente é chamada de função de transferência e pode ser calibrada pelo utilizador); • Temporizadores e interrupções, de modo a garantir um intervalo de tempo específico entre leituras do ADC; • A interface USB, para comunicação com um computador. Foi também desenvolvida uma aplicação possível de ser executada nos três sistemas operativos mais comuns (Windows, Linux e MacOS). Nesta fase foi necessário utilizar a ferramenta LabVIEW 2009 para configurar a ligação USB e possibilitar a transferência de dados do PIC para o computador, apresentando ao utilizador final os dados, as funcionalidades e as informações relevantes através de gráficos e de tabelas. Com este trabalho foi possível criar um módulo de baixo consumo e de elevada portabilidade para medição da concentração de ozono. Este é útil para discernir eventuais fugas deste gás em indústrias que o utilizem com frequência.


Sistemas Embebidos Ricardo Borges e Ricardo Correia alunos do IST

No âmbito da unidade curricular de Sistemas Embebidos foram desenvolvidos diversos projectos distintos, tendo estes em comum a plataforma de desenvolvimento e a interface com o utilizador. Estes projectos tiveram uma componente de software e outra de hardware.

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istemas embebidos é uma unidade curricular (UC) do primeiro ano do Mestrado Bolonha em Engenharia Electrónica e tem como principal objectivo a familiarização com sistemas embebidos de tempo real, incluindo aspectos relacionados com a sua especificação, desenvolvimento e teste. Os principais assuntos abordados foram os sistemas operativos de tempo real, a concorrência, a comunicação, a sincronização, os algoritmos de escalonamento, a interacção com dispositivos periféricos, a interface com buses comuns e as redes para sistemas embebidos, entre outros. Todos os projectos tinham em comum uma placa de desenvolvimento AT91EB55, que possui o microprocessador ARM7TDMI da Atmel, um teclado 4x4 e um LCD alfanumérico de 2x16 posições. Além deste hardware comum, cada projecto tinha hardware específico, dependendo da sua funcionalidade. Todos os projectos foram realizados com as ferramentas de desenvolvimento CodeWarrior (Windows) e RedBoot/Gdb (Linux). Neste último, adaptou-se o código desenvolvido no CodeWarrior para correr sobre o sistema operativo eCos. Um dos projectos realizados foi uma bússola electrónica. O principal sensor deste projecto foi o integrado HMC1022. Este integrado é constituído por DUAS pontes de wheatstone, onde cada uma delas está orientada sobre um eixo diferente (X e Y). Cada uma destas pontes é sensível ao campo gravítico da terra, ou seja, cada ramo varia a sua impedância consoante o eixo em que desloca o sensor. Do ponto médio de cada ramo da ponte, lê-se a tensão, que após condicionamento é digitalizada e processada pelo ARM. No final do processo é apresentada a informação dos graus e os pontos cardeais, para o utilizador, no LCD. Outro dos projectos realizados foi um velocímetro com múltiplas funcionalidades, tais como horas, calendário, velocidade instantânea, velocidade média, velocidade máxima, calorias gastas e distância percorrida. Além das opções de mudança de hora, calendário, peso, raio da roda, também é

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possível fazer reset a todos os parâmetros. Foi utilizado um switch accionado por um campo magnético, que estava fixo na bicicleta. Para accionar este sensor, foi colocado um íman fixo num dos raios da roda. Quando o íman passa pelo sensor, o sinal passa de 0V a 5V. Por cada volta completa que a roda dá, o sensor envia um impulso para o processador, que processa o sinal e procede a todo o processamento para as funcionalidades descritas. Uma chaleira inteligente foi outro dos projectos elaborados nesta UC. O principal objectivo deste projecto foi a construção de um sistema de controlo automático de temperatura da água numa chaleira. Este aquecimento podia ser programado ou definido para manter a temperatura da água. O principal sensor utilizado foi o LM35, sensor de temperatura, que monitorizava a temperatura da água dentro da chaleira e enviava uma tensão, que variava linearmente com a temperatura, para o processador. Outro projecto foi um sistema de contagem de entrada de carros num parque de estacionamento. O título é auto explicativo e é extremamente útil para saber se o parque de estacionamento ainda tem lugares livres ou se já se encontra lotado. O principal sensor utilizado neste projecto foi o AMN1 -sensor de movimento. Quando o sistema detecta um carro incrementa o valor de contagem e apresenta no LCD o número de lugares ocupados. No LCD é apresentada a informação relevante, nomeadamente, o número de lugares preenchidos e a hora da última entrada. Por último temos o ARMAlarm, que consiste na personalização do alarme de um relógio alarme. O tom do alarme é gravado pelo utilizador através de um microfone, sendo depois convertido em formato digital e guardado numa memória não volátil. O alarme é configurável pelo utilizador, e quando o tempo expira, o tom é lido da memória e convertido num nível de tensão analógico através de uma DAQ. A onda de tensão é amplificada e convertida em som através de um altifalante.

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Projectos

Sistemas Electrónicos de Computadores Pedro Ferreira, aluno do IST

A unidade curricular de Sistemas Electrónicos de Computadores visa ministrar conhecimentos de sistemas electrónicos programáveis baseados em microcontroladores e dispositivos lógicos programáveis. Neste artigo serão abordados 2 projectos, sendo um de processamento de imagem em tempo real e uma interface USB entre um rato e um PC utilizando um microcontrolador PIC.

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s sistemas com computadores encontram--se amiúde. Pensamos imediatamente em PC’s, portateis, mainframes, servidores, etc. Mas há outro tipo de sistemas com computadores muito mais utilizados, disto é exemplo todos os outros dispositivos electrónicos que contêm uma unidade de processamento de informação como um microprocessador ou microcontrolador. Esta classe de dispositivos estende-se desde telemóveis e televisões, a frigoríficos e automóveis. Neste âmbito, esta unidade curricular veio ministrar as matérias essenciais para os alunos projectarem, implementarem, testarem e fabricarem sistemas electrónicos programáveis e completamente dedicados, baseados em microcontroladores e em dispositivos electrónicos de lógica configurável (FPGA). Foram desenvolvidos dois projectos. Inicialmente foi desenvolvido um sistema de processamento digital de imagem em tempo real, proveniente de uma câmara de vídeo, recorrendo ao processador Microblaze, implementado numa FPGA Xilinx Spartan-3. As interfaces utilizadas foram um conversor analógicodigital de 8 bits, que tem como função converter a saída digital da Spartan-3 correspondente à imagem, num sinal VGA e o hardware necessário para a ligação da câmara à placa Spartan-3. Estas ligações na placa Spartan-3, são depois associadas a circuitos lógicos implementados em VHDL, como periféricos do processador Microblaze. O trabalho teve como objectivo a implementação de um algoritmo de detecção de contornos (edge detect) que utiliza o algoritmo de Sobel, que calcula o gradiente da intensidade de uma imagem, oferecendo uma noção de como varia a luminosidade em cada ponto, de forma mais suave ou abrupta. Para tal é

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efectuada a convulsão de duas matrizes, em cada pixel da imagem em estudo. Seguidamente foi desenhado o histograma da imagem original, que representa quantos pixéis existem na imagem com uma determinada intensidade. A partir deste desenvolveu-se um algoritmo de equalização da imagem, onde a cada pixel foi atribuída uma nova intensidade, uniformizando o histograma. A programação dos algoritmos foi efectuada recorrendo às linguagens de programação C e assembly. O segundo projecto consistiu na implementação de um sistema electrónico baseado no microcontrolador da família Programmable Interface Controllers, PIC18F4550 da Microchip Tecnology. Teve como objectivo, utilizando os sensores de um rato, detectar o movimento físico deste e posteriormente transformá-lo em movimento do cursor no ecrã do computador, recorrendo a uma comunicação USB (comunicação série universal). O rato utilizado possuí uma esfera que gira de acordo com o movimento. Este movimento ir-se-á transmitir aos eixos, fazendo com que os discos de cada eixo rodem de acordo com um deslocamento vertical e horizontal. Os furos nos discos interferem com o caminho da luz entre os LEDs e os sensores, de forma a criar uma onda quadrada em que o número de transições é directamente proporcional à distância percorrida pelo rato. Todo o processamento de detecção do movimento do rato foi efectuado no microcontrolador PIC e depois enviado, utilizando o protocolo USB para o computador quando o PIC fosse solicitado.


Microelectrónica

Grupo Wireless Integrated Circuits and Systems “seduz” alunos do Taguspark Vítor Canosa, alumini do IST - MEE

O curso em Engenharia Electrónica no IST – Taguspark (IST-TP), em especial, o Mestrado em Engenharia Electrónica (MEE), “estreita” a ligação entre alunos e os centros de investigação. O grupo Wireless Integrated Circuits and Systems (WICAS) e os alunos do MEE estabelecem o link entre estudantes e centros de investigação.

O

WICAS, sediado no edifício do Instituto de Telecomunicações (IT) no pólo do IST – Alameda, tem como principal objectivo promover investigação/projectos na área circuitos integrados para aplicações em rádio frequência (RF) e microondas. O trabalho no projecto de circuitos de RF e microondas tem sido direccionado para a análise e design de vários dispositivos sem fios, para uma ampla gama de frequências e aplicações. Esses desafios incluem filtros passivos e activos, amplificadores de baixo ruído e de potência, misturadores e sintetizadores. Uma ênfase especial foi colocada em implementações monolíticas CMOS.

Após a realização da análise, o design dos circuitos e a fabricação, estes têm de ser medidos. O grupo também desenvolveu ao longo dos últimos anos conhecimento na área de teste e medições de circuitos de altas frequências, devido às excelentes condições em termos de equipamento laboratorial no IT. A seguir são apresentados, de forma breve, alguns dos projectos em que o grupo se encontra envolvido de momento:

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SiMTraMil – Este projecto tem como principal objectivo projectar um receptor de ondas milimétricas e os principais componentes do transmissor (amplificador de potência), para um sistema LMDS (Local Multipoint Distribution Systems) na banda dos 30 GHz, completamente integrado em CMOS. Quando necessário, modelos melhorados para os componentes activos e passivos em altas frequências serão desenvolvidos e validados através da caracterização experimental. Como objectivo secundário será estudado, através de simulações, o desempenho dos principais componentes de um receptor/transmissor para a banda dos 60 GHz WLAN (Wireless Local Area Network) em SiGe (Silicon-germanium) e CMOS. O team leader do projecto é o professor João Costa Freire, antigo Coordenador da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Electrónica.

Digital_PAs – O objectivo principal deste projecto é estudar e implementar soluções para a utilização de amplificadores de potência em aplicações cujos sinais tem modulações digitais. Para isso, irão ser abordados os conceitos a nível de sistema e arquitecturas para transmissores. O Professor João Vaz faz parte da equipa de desenvolvimento do projecto e lecciona as unidades curricula-

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Microelectrónica res de SIA (Sistemas Integrados Analógicos) e MT (Microelectrónica das Telecomunicações) no MEE. Devido ao serviço docente que os referidos professores tem prestado no IST-Taguspark, existe uma relação de grande proximidade com os alunos do MEE e o WICAS. Os alunos Ricardo Cunha, Vítor Canosa, André Melo, Marco Silva e Paulo Gomes são exemplos disso. Todos os alunos referidos anteriormente estão a realizar ou já realizaram teses de mestrado com o professor João Vaz e algumas dessas teses estão directamente relacionadas com os projectos em que o grupo se encontra envolvido. e alguns deles irão trabalhar futuramente nesses mesmos projectos.

Uma das principais razões pela qual o MEE permite esta estreita relação de proximidade com o WICAS é em especial devido à disciplina de MT, que no IST existe apenas no curso de Engenharia Electrónica do pólo IST-TP. Uma vez que a disciplina de MT não existe no Mestrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores (MEEC), curso situado no pólo IST – Alameda, a maior parte dos alunos que realizam teses de mestrado nessa área específica são alunos do MEE.

Esta relação de proximidade entre alunos e os centros de investigação é extremamente benéfica, não só para o curso como também para o grupo e para os próprios alunos. Em geral, os alunos durante as suas teses de mestrado desenvolvem

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um conhecimento específico e bastante aprofundado numa determinada área mas, depois de finalizarem o seu trabalho, acabam por trabalhar em outras áreas, às vezes devido à imposição do mercado do trabalho (por não existirem empresas capazes de absorver o conhecimento desenvolvido) ou simplesmente porque os centros de investigação nem sempre possuem condições para financiar bolsas de investigação para os alunos recém-diplomados. E, na pior das hipóteses, quando os alunos decidem continuar na área onde se especializaram, não tem

outra alternativa senão ir trabalhar para o estrangeiro. Esta “fuga” de mão-de-obra especializada para fora do país é uma realidade crescente e acontece devido aos problemas referidos anteriormente. No entanto, apesar do intercâmbio de mão-de-obra até ser benéfico, é necessário que seja bilateral, o que actualmente não acontece. Resta a esperança que comecem a surgir pequenas start-ups, do meio académico ou industrial, para reter esta mão-de-obra tão importante para o desenvolvimento nacional.

Para saber mais sobre o WICAS pode consultar:

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Entrevista

Pelo Núcleo de Estudantes de Engenharia Electrónica

A microelectrónica é uma area em grande crescimento e de um valor económico incalculável, mudando muitos aspectos da sociedade nas últimas décadas. Fomos ao encontro de um exemplo de sucesso no mercado português, apresentado pelo Professor Marcelino dos Santos.

“Deixo uma receita para sucesso com uma pitada de picante!” Como descreve a SiliconGate e a sua relação com a empresa? A SiliconGate faz projectos de circuitos integrados mistos, sendo especialista em módulos de gestão de energia que se destinam a ser integrados em Systems-on-Chip (SoC). Estes SoC são depois usados em telemóveis, PDA, GPS, tablets, etc. Eu sou co-fundador da empresa e o meu grupo do INESC-ID tem projectos em colaboração com a SiliconGate. Como tem sido o percurso da SiliconGate desde o seu início de actividade? A SiliconGate foi fundada no final do ano de 2008. O primeiro ano da empresa destinou-se a criar propriedade intelectual (IP) e a desenvolver demonstradores que permitissem evidenciar as qualidades da equipa técnica. O segundo ano, 2010, foi o ano em que se iniciou o esforço de marketing e se concretizaram as primeiras vendas. Neste momento, o maior desafio é encontrar recursos para fazer frente ao número de projectos que estão a decorrer e em fase de negociação. Num ano que o Professor esteve de licença sabática decidiu investir o seu tempo a colaborar com o grupo de power management da Chipidea. Que motivos o levou a tomar esta opção e em que beneficiou? Gosto de fazer projecto de engenharia e considerei que a licença sabática era uma oportunidade única para ter uma experiência na indústria

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onde me envolveria em trabalho de engenharia de forma profissional. Tive a felicidade de encontrar um grupo que me acolheu com agrado e me proporcionou as condições, a formação inicial e o acompanhamento necessários para permitir que eu liderasse o projecto de um conversor DC/DC para um cliente. Tive a oportunidade de participar em todo o projecto, desde o planeamento, passando pela análise detalhada da tecnologia de fabrico (Physical Design Kit), até à simulação dos blocos e ao projecto do layout, ajudado por uma equipa de alunos de mestrado que estavam a fazer a tese em colaboração com a MIPS ABG, orientados por mim e por colegas do DEEC, a Prof. Beatriz Borges e o Prof. Júlio Paisana. Adicionalmente, tive oportunidade de testar esse circuito no laboratório e de participar nas discussões com o

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Entrevista cliente sobre as evoluções pretendidas. Tratou-se de uma experiência extraordinária que marcou a minha vida profissional. Foi um contributo muito positivo quer para a minha formação como docente no ensino da microelectrónica quer para a orientação da minha actividade de investigação.

De que forma foi e continua a ser importante a ligação da SiliconGate com a universidade e em particular com o INESC-ID? É muito importante a proximidade da universidade para permitir que os alunos com interesse na área da microelectrónica possam fazer o trabalho da dissertação de mestrado em colaboração com a SiliconGate. Trata-se de um momento da vida dos alunos em que estes definem o que irá ser a sua actividade profissional, e o contacto com a empresa tem vantagem para ambas as partes: os alunos recebem formação e apoio de engenheiros experientes e podem avaliar se o meio onde se encontram integrados constitui o que pretendem para a sua vida futura; os engenheiros seniores têm a oportunidade de avaliar os alunos como possíveis novos colaboradores. Sendo eu investigador do INESC-ID, o meu grupo no INESC-ID é a unidade de acolhimento dos alunos de mestrado e de doutoramento que pretendem colaborar comigo, nomeadamente no âmbito dos projectos em que o grupo colabora com a SiliconGate. Adicionalmente, procuro envolver os meus colegas do INESC-ID o mais possível em projectos conjuntos, pois considero que é juntando esforços que se atingem objectivos e que o somatório de muitas forças aleatórias resulta nulo. Estão a decorrer co-orientações de alunos de mestrado e de doutoramento, projectos nacionais e internacionais conjuntos que envolvem diferentes grupos do INESC-ID e a SiliconGate. Sendo Power Management o core business da SiliconGate, existem perceptivas futuras de expansão para outras áreas da microelectrónica? Sem dúvida que sim. Um dos produtos que desde o início da fase de comercialização se destacou pelas características únicas que apresenta é um oscilador a cristal que apresenta um consumo muito

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baixo: poucas dezenas de nA. A área de gestão de energia é a área em que a equipa técnica é reconhecida internacionalmente e por isso é, naturalmente, onde a aposta inicial tinha de ser efectuada. Há projectos de investigação a decorrer noutras áreas em que se pode aproveitar o know how da gestão de energia e que em breve poderão originar produtos alternativos. Sendo o mercado da microelectrónica global, possuem alguma estratégia de expansão para outros países? As nossas vendas são globais, não temos clientes em Portugal. A expansão para outros países é muitas vezes motivada pela necessidade de recursos (nomeadamente humanos) e não tanto pelas características do mercado. Na nossa fase actual, o crescimento ainda se consegue fazer com os recursos disponíveis no país. Contudo, não é de excluir a criação de pólos noutros pontos do globo se aí se encontrarem as condições necessárias para suprir necessidades futuras.

Quais são as características que procuram num aluno da LEE/MEE para que estes tenham possibilidades de trabalhar na Silicon Gate? 1) Gosto por aprender microelectrónica – curiosidade e motivação. 2) Empenho em atingir objectivos – ninguém controla horários, mas os objectivos são ambiciosos. 3) Capacidade de trabalhar em equipa – aceitar críticas e encará-las como oportunidade para aprender e ajudar os colegas. Que mensagem transmitiria aos alunos de LEE/ MEE para que estes se interessem mais pelo estudo na área da microelectrónica? Deixo uma receita para o sucesso com uma pitada de picante! Primeiro tentem descobrir o que gostam de fazer. Se gostam de electrónica então microelectrónca é provavelemente o melhor desafio


que existe. Este é um ramo onde muitas vezes a indústria está à frente da investigação aplicada e é uma oportunidade de contribuirem por exemplo para o próximo iPad. Na SiliconGate tenho colegas que desenharam cores para a Xbox, iPod, etc. É uma oportunidade de realização pessoal única. A nível de

emprego há uma grande procura global por este tipo de competências pelo que o mercado irá absorver todos os bons profissionais. Para além das empresas que já existem e que procuram sempre novos talentos, muitas outras estariam dispostas a abrir centros em Portugal se conseguissem encontrar engenheiros qualificados. É uma área de actividade muito dinâmica, que funciona a nível global, onde o sucesso não está ligado à economia do país onde trabalhamos

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(isto é bom nos dias que correm), dependendo sim do investimento que cada um faz em sí, na sua equipa e na sua empresa. A equipa é muito importante, hoje os sistemas são muito complexos pelo que o trabalho é sempre em equipa, o que normalmente também é muito motivador pois uns puxam pelo sucesso dos outros. Há muito trabalho para fazer e não se trata de algo momentâneo. Os engenheiros que investem de forma séria o seu trabalho, fazem não só um investimento na sua carreira presente, mas conseguem ainda uma valorização extraordinária do seu currículo pois trabalha-se com tecnologias, ferramentas e soluções que são state-of-the-art. O número de especialistas com nível elevado é limitado, sendo muito procurados (e bem pagos). Quem integra esta equipa recebe reconhecimento internacional não só pelos projectos em que participa e pela utilização dos seus desenhos em produtos de grande consumo, mas também pelo contacto e troca de experiências com os clientes. Finalmente vou terminar com uma ilustração picante, pois estas coisas envolvem muita confidencialidade e não são supostas saberse (xiu). Quando no pico da crise correram rumores de despedimentos por reestruturação na Chipidea as empresas de recrutamento acorreram a Portugal, contactando os funcionários pelo LinkedIn e fazendo as entrevistas em hoteis. A certa altura era visível a azáfama na zona do Marquês de Pombal.

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Mercado de trabalho

Depois do Mestrado... Luís Rosado, aluno do IST

D

urante os anos que frequentei a Licenciatura e posteriormente o Mestrado em Engenharia Electrónica apreciei acima de tudo a componente experimental intensa e voltada para aplicação dos conhecimentos adquiridos em problemas de engenharia do mundo real. Destaco também a proximidade que existia nas relações entre colegas, docentes e funcionários que se proporcionava pela dimensão do curso e principalmente pelo carácter das pessoas. Acabei o mestrado em 2009 e rapidamente surgiram propostas de emprego, algumas delas bastante aliciantes. No entanto por entusiasmo com os desenvolvimentos conseguidos na dissertação, continuei a estudar como aluno do Programa de Doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Espero que do esforço de investigação e desenvolvimento dos próximos 4 anos tudo se proporcione para alcançar o grau académico e para assentar os alicerces de um projecto empresarial na área dos ensaios não destrutivos. Em simultâneo com estas actividades tenho ainda a satisfação de leccionar aulas de laboratório na Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores nas instalações da Alameda. Frequentar a Engenharia Electrónica no Taguspark foi sem dúvida uma experiência gratificante e que contribuiu intensamente para a minha formação a nível pessoal e profissional. Foram momentos quase sempre descontraídos e muito bem passados num ambiente de companheirismo e dedicação colectiva.

Um exemplo de vitória

I

Luís Mendes , aluno do IST

niciei a minha licenciatura em Setembro de 2004, tendo entrado na altura na segunda fase. Fiquei logo traumatizado na primeira aula, quando me deparo com anfiteatro cheio de alunos interessados e participativos numa coisa que eu nunca tinha visto na vida (Álgebra). Nessa altura pensei: “Mas o que é que eu faço aqui?”. Para piorar ainda mais a minha sensação de que realmente não percebia nada, a minha segunda aula foi programação. Nessa altura pensei mesmo que a minha vida estava a andar para trás, quando fui confrontado com uns hieróglifos sem sentido nenhum (gcc - g - o …). Mas graças ao excelente grupo de alunos que frequentam o curso consegui recuperar o tempo perdido e no final do semestre consegui terminar as cadeiras. Penso que a tudo se deve ao facto de existir uma grande entreajuda entre os alunos de LEE, mas nunca deixando para trás aquela competitividade positiva que permite obter resultados sempre melhores. Quando se fazem as coisas por gosto, não existem coisas impossíveis. Existe algo bastante importante a retirar do curso de LEE, o que se aprende ao longo do curso é muito mais que electrónica, matemáticas e físicas. No final o que importa mesmo é que nós tenhamos apreendido a desenvolver, a criar, a projectar algo a partir de uma simples ideia ou rascunho. Isso sim é que vai ser o necessário quando mais tarde se entrar no mercado de trabalho, a capacidade de desenvolver algo derivado de uma simples ideia. Neste momento encontro-me a trabalhar na EFACEC Engenharia, onde entrei após a conclusão do mestrado (Outubro de 2009). Estou na unidade de Automação e Sistemas de Energia onde projecto circuitos impressos para aquisição e processamento de sinais da rede eléctrica e desenvolvo software para esses mesmos produtos da EFACEC. É um trabalho que me deixa bastante realizado, uma vez que me permite ter alguma liberdade no desenvolvimento dos produtos e porque estou a aplicar os conhecimentos que vim adquirindo ao longo do curso. Com a preparação que os alunos saem do curso, penso que não haverá qualquer problema na altura de ir trabalhar. Boa sorte a todos os futuros alunos da LEE.

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Dissertação de Mestrado em Engenharia Electrónica Desenvolvimento e implementação do sistema de controlo do detector ClearPEM Sonic. Gonçalo Silva , aluno do IST

Desenvolvi o trabalho da minha dissertação inserido num grupo de investigação que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias para a detecção de cancro. Concretamente a dissertação está inserida no desenvolvimento de um protótipo para a detecção de cancro da mama.

O

protótipo é baseado na tomografia por emissão de positrões, onde a radiação emitida pelo corpo humano, devido à injecção de uma substância radioactiva nos pacientes, é detectada por cristais cintiladores que transformam a radiação em luz. Esta luz é convertida em sinais eléctricos por fotodiodos de avalanche (APDs). A amplificação e processamento dos sinais dos fotodiodos são efectuados em ASICs, especificamente desenvolvidos para este projecto. O sistema, está equipado com 64 ASICs e permite detectar e processar sinais de 12288 APDs. As tensões necessárias ao funcionamento dos APDs e dos ASICs são geradas numa placa independente, designada por placa de Service Board. A primeira parte do trabalho consistiu no estudo do software de controlo e monitorização do hardware do primeiro protótipo, o detector ClearPEM. Para além do estudo também foram efectuadas melhorias no software, que está desenvolvido em NI LabVIEW.

O software tem como principais funções ligar, desligar e monitorizar os estados de vários instrumentos (Fontes de alta e baixa tensão, Service Boards, etc), garantindo assim o correcto funcionamento do detector. Tem implementado vários protocolos de comunicação incluindo, RS-232, CanBus, I2C e também GPIB. A segunda parte prendeu-se com o desenvolvimento do sistema de controlo do detector ClearPEM Sonic. Que para além de controlar os instrumentos referidos atrás, também controla o sistema de arrefecimento das cabeças detectoras. Também este software foi desenvolvido utilizando NI LabVIEW. Neste software foram reduzidos o número de protocolos utilizados, apenas se utilizam o RS-232 e o CanBus. Na terceira e última parte da minha dissertação, efectuei o trabalho de calibração das placas de serviço do ClearPEM Sonic. Esta calibração é feita ao nível de controlo de baixas e altas tensões, garantido o correcto funcionamento dos APDs e dos ASICs. A calibração também foi efectuada ao nível da monitorização da temperatura, para se garantir que a temperatura nas cabeças é correctamente controlada. Ao longo da minha dissertação absorvi um enorme leque de conhecimentos, derivado principalmente por estar inserido num grupo de investigação, e num projecto onde são investigadas várias áreas tecnológicas. Aconselho vivamente a quem tenha muita vontade de trabalhar e aprender, fazer a dissertação inserido num grupo de investigação.

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Artigo de opinião

Hey engineers, it’s the philosophy… (ou o imperativo categórico da eficiência)

António Carvalho Fernandes, professor do IST

Futuros engenheiros!... Despertem para a vida real porque há mais dificuldades do que pensam (alguns)! Há muita matéria para estudar? Esperem até verem o que vem aí, no vosso próximo futuro.

N

o número anterior desta revista, alertei para a economia, para saberem valorizar a tecnologia, que é o produto do vosso trabalho; hoje, digo-vos que também terão de entender filosofia, para saberem como se pensa, como se aprende e como se actua. Sem isso, não percebem o que se passa no mundo nem como funciona a sociedade, e não saberão pensar uma estratégia pessoal e profissional. Mas há mal em poder ser apenas um simples técnico, das 9 às 5h, em vez dum engenheiro empenhado na sua profissão e cidadania? Poder ser pode mas, como diz o anúncio, não é a mesma coisa...A fazê-lo, as oportunidades e as promoções poderão passar ao lado e, na próxima crise, vai-se o emprego ou vai-se a empresa. Exagero? Penso que não. Mas não é nosso dever saber do nosso quintal que Deus saberá de todos? Não! É preciso conhecer o mundo para saber por onde e para onde vamos. Mas não é a divisão de trabalho a base da economia, como diziam os clássicos? Também não! Isso é apenas uma ideia muito básica. Mas não temos o direito de fazer e saber o que nos apetecer? Ter temos, mas não esperemos então uma boa retribuição da sociedade, que ela não virá. Mas então é preciso saber de tudo: engenharia, economia, design, biologia, matemática, filosofia? É preciso, é! Como é que isso se consegue? 1ª resposta: como dizia o poeta castelhano António Machado, o caminho faz-se caminhando, e terão de encontrar o vosso, Caminante, son tus huellas el camino y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace el camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante no hay camino sino estelas en la mar.

2ª resposta: há quem diga enigmaticamente carpe diem, mas eu digo que isso não chega. 3ª resposta: é preciso ir seguindo sim, mas é preciso saber para onde, porque andar às voltas não nos leva a lado nenhum. 4ª resposta e definitiva: estudando, pensando e agindo - o que precisa de tempo e de eficiência. Chegámos ao mote deste comentário, a eficiência, embora não se veja ainda a sua relação com a filosofia, o que vai já ver-se. Tomemos um caminho mais longo, passando pela biologia (quem faz vela sabe que o caminho mais curto não é necessariamente o mais rápido). A eficiência, dirão os engenheiros, é um conceito da teoria dos sistemas, omitindo que na história das sociedades se verifica que, tacitamente, o conceito tem milhares de anos. Mais, observando a Natureza como Darwin fez, verifica-se que ele se lhe aplica há mais de 3 mil milhões de anos. É nada mais que a condição da sobrevivência das espécies. Em suma, a eficiência é também a condição da própria sobrevivência, a nossa, pessoal, familiar, nacional. É portanto razoável afirmar que quem não sabe isto não sabe como viver (melhor). De facto, os actuais organismos são a montra por excelência dos sistemas eficientes. Porquê? Porque, se não o fossem, a selecção natural já os teria ultrapassado. Para sermos bons profissionais, bons cidadãos, bons

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filhos e bons pais, temos de compreender estas leis, os contextos em que os organismos se desenvolvem e os processos de selecção. Porquê? Porque, basicamente, nas organizações da sociedade humana aplica-se os mesmos padrões, mesmo que muita gente pense que não deveria ser assim. Os detractores da eficiência enganam-se e enganam. Ela não é incompatível com a alegria, a poesia, a beleza, o descanso, a reflexão, a solidariedade, o entusiasmo. Ela é, realmente, inimiga da preguiça, da desorientação, do desleixo, da ignorância, da falta de atenção, da desorganização, do chico-espertismo, do mau humor, e por aí fora...Presumo que já perceberam onde quero chegar. E a filosofia, onde é que entra? Kant apresentou a noção de imperativos categóricos e os filósofos posteriores não o contrariaram, no essencial. São leis morais universais, exigíveis a todos e a qualquer um: pessoa, família, empresa, país...Estudou matemática, física e cosmologia, seguindo de perto os trabalhos de Newton, que morreu mais menos quando ele nasceu. Afirmou que as leis universais da moral eram como as da física e da natureza, provinham da razão, pura e prática. Hoje, a ciência também as encontra na biologia e sua evolução, na esteira de Darwin, que nasceu quando Kant morreu. Digo eu, a boa eficiência é um imperativo categórico! E como vamos de eficiência, por aqui? Em cada duas cadeiras em que vocês se matriculam, passam a uma. Podemos continuar assim? O nosso ensino superior só gradua metade dos alunos que recebe. Os mais nórdicos do que nós, nos vários continentes, graduam entre 80 e 95%. Podemos continuar a esbanjar dinheiro assim? A produtividade da nossa indústria é 3 vezes mais baixa que a dos países avançados. Podemos sobreviver assim? Não, não podemos. Tal como aconteceu no passado e vai continuar a acontecer no futuuro: as espécies, as sociedades e as pessoas que não se adaptam, extinguem-se..., duma forma ou de outra. Os engenheiros também têm de compreender estas leis! É preciso melhorar muito, e a vossa geração terá de o fazer. É imperioso começar já, hoje!

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Secção cultural

Filmes que marcaram 2010 Pedro Xavier, aluno do IST

Na altura em que escrevo estas palavras vejo o fim de ano cada vez mais próximo e com ele chegam também as memórias dos filmes que fecham o ano cinematográfico: animação para miúdos e graúdos, filmes de aventuras repletos de efeitos especiais e outros já com cheirinho a nomeação para um Óscar em 2011. No entanto, ainda com um mês pela frente, já é possível realizar um balanço dos filmes que estrearam nas salas nacionais em 2010.

A

inda na ressaca de mais um capítulo das aventuras de Harry Potter, começo pelas animações. Destaca-se com distinção e, devo arriscar, sem concorrência merecida desse nome, Toy Story 3, de Lee Unkrich. O cowboy Woody e os seus amigos regressam para mais uma aventura pelo mundo dos brinquedos. A tarefa não se adivinha fácil pois fazer reviver as personagens para um terceiro capítulo, quinze anos após o original, não iria trazer, à partida, qualquer novidade. Foi com essa premissa que surgiu o argumento de Toy Story 3. As personagens tinham crescido, tal como o espectador. Assim os brinquedos de Andy saltam de um possível fim de vida no sótão da casa para um orfanato onde estão inúmeras crianças necessitadas, e um conjunto de brinquedos liderado por um urso pouco

simpático e sem boas intenções. Não se dedicando exclusivamente ao público infantil, Toy Story 3 segue a mesma linha de excelência que a parceria Disney/ Pixar tem vindo a apresentar nos últimos anos (Up/ Altamente (2009) e Wall-E (2008)), conseguindo uma humanização das personagens que cativa o público mais adulto. Essa humanização revelou em Toy Story o negro problema do abandono, tanto físico como emocional, da procura do amor e o receio pela morte. E precisamos de recuar até 1942 para termos personagens animadas e estas vacilarem perante a existência da morte. O filme desse ano

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chama-se Bambi e, ainda hoje, consegue comover os espectadores. Juntamente com a qualidade técnica e artística, com grandes momentos de

humor e um tango inesperado, Toy Story 3 é um dos grandes de 2010 e junta-se às animações que servirão de referência daqui em diante. Foi também no verão que estreou aquele que é um marco de 2010. Inception-A Origem- de Christopher Nolan, é um dos filmes do ano e o mais digno sucessor de Matrix (1999). Foram precisos 11 anos para que se fundissem dois elementos básicos do

cinema de entretenimento: uma narrativa original e consistente aliada à capacidade técnica de surpreender, para os quais não temos objectivos.


«invencível» de 2010. Cá esperamos por Hereafter, também com Matt Damon, com estreia prevista para 2011. Com cinquenta obras já realizadas, incluindo documentários, Martin Scorsese fez reviver em Shutter Island o noir dos anos 40 e o suspense de

Do mundo dos sonhos para o virtual, The Social Network -A Rede Social- de David Fincher, relata o nascimento do Facebook. Os temas abordados são muito mais universais do que a mera criação de uma rede social contemporânea. A lealdade, o poder, a inveja, a vingança, a avareza, a competição, o reconhecimento social, a maturidade e a amizade são alguns dos temas abordados ao longo do filme.

Quando estão em causa centenas de “amizades” são as relações entre as pessoas que realmente importam. Nisso a tagline do poster promocional e a letra de Creep no trailer resumem de forma eficaz o filme que caracteriza, sem dúvida, uma geração. E se de gerações se fala, então são incontornáveis as referências a dois históricos da sétima arte: Clint Eastwood apresentou Invictus e Martin Scorsese apresentou o magnífico Shutter Island que é, na minha opinião, o melhor filme do ano. O primeiro é tão pouco uma história de râguebi como Touro Enraivecido (Scorsese, 1980) uma história de boxe, sendo muito mais que uma simples história de desporto. Invictus é a história de dois heróis de carne e osso, Nelson Mandela (Morgan Freeman) e François Pienaar (Matt Damon), que através do râguebi unem as duas cores de uma África do Sul desfeita pelo Apartheid. A grandeza das interpretações e a subtileza clássica de Eastwood tornam Invictus num

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Hichcock, que se encontra presente em todas as linhas do filme. A soberba interpretação dos actores, dos quais se destaca Leonardo DiCaprio, que conta já quatro participações com o realizador de descendência italiana, e um argumento de ferro e extremamente inteligente, leva-nos por um labirinto emocional de recantos escuros e aterradores num hospital

psiquiátrico, isolado do mundo, e das suas paranóias, assim como era o hotel por onde deambulava Jack Nicholson em Shining (Kubrick, 1980). O exercício cinematográfico presente em Shutter Island é não só a reinvenção da linguagem visual do realizador mas também um inteligentíssimo trailer que não fica visto numa só vez. António Lobo Antunes confessou numa entrevista que o pai, à beira da morte, lhes quis deixar a ele e aos irmãos, o amor das coisas belas. Pois não é a esta, a sétima arte (de Scorsese, de Eastwood, de Fincher, de Unkrich), algo a ter-se em conta? Bom cinema!

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Passatempos

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“Septoku”, Estás a altura? Regras

34 - N3E 10/2011


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