Impressão 200, Caderno I

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Jornal do Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH

Ano 34| Nº 200 Belo Horizonte | MG

Abril | 2016

DANILO SILVEIRA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornalistas relembram época como estagiários do jornal páginas 4 a 7

Dossiê: o esporte sob múltiplos olhares e experiências páginas 8 a 15

Entrevista exclusiva com o escritor e jornalista Humberto Werneck caderno DO!S

CONTRA O VENTO IMPRESSÃO 200: UMA HISTÓRIA DE OUSADIA E EXPERIMENTAÇÃO


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PRIMEIRAS PALAVRAS

Abril de 2016 Jornal Impressão

DO SERTÃO E SEUS SEMEADORES William Araújo De tudo que mostrou até aqui, pouco pautou a frieza humana. Foram muitas palavras quentes, carregadas de emoção. Incontáveis prazeres ao forno, para logo perceber, na boca do outro, o sabor da interpretação. Você assistiu, infantil, à reestruturação do direito de dizer. E disse também, a seu modo. Berrou como um bebê – entrelinhas engessadas do capital –, a poesia do nascer. Você foi parido por uma geração. Mãos ásperas de quem ainda não tinha chão. Desses lavradores, de caravana achinelada em solo árido, com enxada e foice cega; na ponta dos cabos, uma trouxa de passado. Pratos de uma balança, pendentes entre o “conceber” e o “informar”.

Mais de 30 outonos se passaram e muitos semeadores chegam nesse sertão. Sem saber plantar e nem arar a mente. Apenas aquela linhagem de lavradores contumazes permanece. Talvez, por isso, você seja assim, firme e forte perante os açoites da eterna crise. São esses lavradores persistentes que partem e dobram a terra, batem os grãos no ar, rasgam os veios em suas páginas e semeiam um novo olhar.Eu até pensei em fugir, mas sou um filho desse sertão. Você, como pai e mãe, observou atento as nuvens aparecerem e a tempestade chegar. Aquentou todos que estavam ali. Contou histórias ao “pé do ouvido” e nos ajudou a acalmar. O sertão mudou e você mudou o que há em nós. Girou a chave na minha

cabeça e abriu as janelas. Escancarou a porta e apontou para onde eu deveria caminhar. Me ensinou que o templo do jornalista são os livros, mas ele só congrega nas ruas. Sentou comigo na varanda e me ajudou a apreciar a música que o vento traz, as cores que o horizonte pinta e os perfumes que a natureza faz. Eu também vi seu momento rude, porém carinhoso, como um professor que confia na capacidade de seu aluno. O mestre que força o florescer. Não temi, aceitei. Acho que somos mais como a nave que voa sem nunca pousar. Atravessamos duzentas gestações e demos à luz duzentas estrelas, para outros mundos iluminarem. Hoje me adapto. Meus parágrafos encurtaram, minhas frases

são mais diretas e tenho muitas plataformas. Rodopio em simbiose entre o virtual e o tatear. Evito gerúndios e sorrio dos trocadilhos de meus comparsas. Sim, parece um crime perfeito. Mas o juiz é o leitor. Sinto meus pés no chão, a poeira entre os dedos, o cheiro do mato, e fecho os olhos. Me transformei na indefinição de gênero, e ele – ou ela – consegui explicar, na felicidade dos olhares que brilham e brincam qual criança, e, às vezes, cerram um pouco para enxergar mais longe, como se o Japão fosse logo ali. Concordo com você: houve e sempre haverá tempos difíceis. Hoje, a estrutura que viu renascer pode desabar. Concordo, precisamos lutar. É preciso quebrar

EXPEDIENTE

a corrente, germinar a semente, e nos novos lavradores acreditar. É preciso ter fé de que a teimosa e sensível explanação funcionará melhor do que convir calado – como se um golpe selasse seus/nossos lábios. Mas há uma transformação no ar. Não é o mesmo sertão, não são as mesmas linhas, não é o mesmo solo, mas é a mesma linhagem de lavradores que perseverará. Mesmo assim, eu brado, queridos lavradores: sejam cautelosos. Também paira a tristeza de uma despedida no ar. Sei que, nesta casa, sempre seremos aceitos por você – mesmo pródigos. Neste solo, nos permitiu crescer e é com emoção que digo ao leitor: “Bem-vindo a nosso lar”.

VICE-REITORA Profa. Vânia Café

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Prof. Paulo Emílio S. Vaz (diretor) Profa. Cynthia Enoque (adjunta)

COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Prof. João Carvalho

LABORATÓRIO DE JORNALISMO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme Silva Jr.

DIAGRAMAÇÃO Juliana Rolim (LEGRA)

PROJETO GRÁFICO Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)

ESTAGIÁRIOS Danilo Silveira Rodrigo Oliveira Wilson Albino

ILUSTRAÇÃO William Araújo

EM UMA REDAÇÃO QUALQUER...

SELO EDIÇÃO 200

WILLIAM ARAÚJO

Agência DaVinci Jr.

PARCERIAS Lab. de Criação Publicitária (LACP) Laboratório de Jornalismo Online Laboratório de Fotografia

IMPRESSÃO/TIRAGEM Sempre Editora 2.000 exemplares

Eleito o melhor Jornal-laboratório do país na Expocom 2009 e o 2º melhor na Expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Jornalismo do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Av. Mário Werneck, 1685 BH/MG CEP: 31110-320 Tel.: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br


VISÃO CRÍTICA

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Francyne Perácio O futebol é considerado uma das maiores paixões dos brasileiros. A relação entre esporte e torcedores assemelhase à de uma mãe coruja com seu filho – aquela que não se cansa de elogiar as conquistas de sua prole e de defendê-la, com o próprio sangue, dos inimigos e rivais –, mas, também, que cobra resultados e o incentiva a persistir nos objetivos, mesmo quando todos dizem o contrário. Há grupos responsáveis por ampliar a festa nos estádios e representar a paixão pelo time, por meio de músicas, camisas, mascotes, baterias e bandeiras. São as chamadas torcidas organizadas (TOs). Hoje, no Brasil, existem 570, e, em Minas Gerais, 60. Dentre as principais, destacam-se Galoucura, Fúria Alvinegra e Força Jovem, ligadas ao Atlético Mineiro, China Azul, Máfia Azul e Pavilhão, ao Cruzeiro, Desorganizada Avacoelhada e UNA (Unida Nação Americana), ao América.

A grande polêmica sobre esse assunto é que a sociedade, muitas vezes, não os enxerga apenas como torcedores, mas como vândalos e marginais, provocando medo em quem vai aos estádios assistir aos jogos, principalmente, aos clássicos. Muitas confusões entre organizadas rivais ocorreram tanto na arquibancada quanto fora. Entretanto, para os dirigentes das TOs, a punição deve ser atribuída ao torcedor que participou, de alguma forma, das brigas, e não ao grupo inteiro. Para manter o controle, realizam o cadastro de todos os membros, que, se identificados por crimes ou atos de vandalismo, receberão punição, afirma uma das diretoras da China Azul, Elaine dos Santos. Além disso, esses torcedores acreditam que a imagem negativa vista pela sociedade dessas organizações, muitas vezes é influenciada de certa forma pelos jornais e rádios, que não divulgam as ações sociais, como doações

RODNEY COSTA

TORCIDAS ORGANIZADAS?

Criadas para empurrar seus times nos estádios, as torcidas organizadas geralmente são lembradas pela violência

de cestas básicas e de sangue. O fato é que não se pode descartar a importância que esses grupos têm para os clubes, de apoiar o time nos momentos mais difíceis das competições, porém deve ser levado em consideração que existe essa violência e ela deve ser combatida pelos órgãos responsáveis pela segurança pública, e os culpados

punidos de acordo com o delito praticado. Atualmente, a Polícia Militar junto às empresas responsáveis pela organização dos jogos, criaram um planejamento visando garantir a segurança dentro e fora dos estádios. De acordo com o Major Gilmar Santos foram criadas medidas punitivas para o torcedor responsável por crimes relacionados

às torcidas rivais, como detenção, proibição de assistir aos jogos dentro e fora dos estádios, apresentação na delegacia durante a exibição dos mesmos, dentre outras. Apesar de todas essas tentativas de combater a violência entre as torcidas organizadas, existem pessoas que confundem a festa com desordem e insistem em atrapalhar a execução

do evento cultural, que caracteriza o povo brasileiro, o futebol. Assim, para os amantes desse esporte e do real propósito do futebol, resta torcer não só pelo seu clube, mas para que se propague a “paz nos estádios”, conforme estampado nas camisas, no primeiro clássico entre Galo e Cruzeiro, neste ano.

RODAPÉ RELAÇÃO MÃE E FILHO

CHAME L PARA ESCAPAR

Ana Carolina Reis

Danilo Silveira

Mudar da casa dos pais, para algumas pessoas pode ser uma tarefa bem difícil. Encontrar um lugar tão confortável, em que se tem a liberdade e o aconchego do lar, nem sempre é possível. Ao contrário da clássica frase There’s no place like home (não há lugar como a nossa casa) no pensionato que dona Mary Costa (68) administra, essa frase não se aplica. A sensação é de um novo lar, ainda que temporário. Depois de ter passado 24 anos traba-

lhando na cozinha de restaurantes e lanchonetes, Mary parou. Com os dois filhos casados e sem planos de voltar para casa, resolveu, então, abrir um pensionato. Pelo fato de adorar estar sempre cercada por gente e não querer ficar sozinha, anunciou as vagas no jornal. A pensão atende jovens moças que saem de casa em busca de outras oportunidades de estudo e trabalho. Mary oferece todas as refeições, lava e passa as roupas de todas. “Cheguei a abrir mão

da minha própria cama para acomodar as meninas”, ressalta. Hoje, já se passaram mais de 20 anos e mais de 60 garotas, de várias localidades do país, provaram de sua hospitalidade, sendo que até uma inglesa já esteve por aqui. “Mantenho o contato com a maioria das meninas, que estão com a vida feita, casadas e com filhos”, afirma. Mary é um belo exemplo de que, mesmo longe de casa, é possível encontrar o carinho e o cuidado de uma segunda mãe.

L é uma mulher comum. Como qualquer ser humano, acumula amores e desventuras. Mora em bairro remoto, na Região Metropolitana de BH. Acorda antes das 5h. Prepara o café, acorda o marido e o filho, arruma-se, despede-se, leva o garoto ao colégio e, às 6h15, está no ônibus para o trabalho. Às 8h, pega serviço em um hotel 3 estrelas no centro da capital. Sai às 17h, após aspirar halls e fazer a arrumação de cem quartos. Ela faz as contas do tempo

que lhe resta de trabalho para se dedicar ao lazer predileto: trair. L descobriu o “esporte” há pouco, quando o marido pediu “mais espaço” na relação de 16 anos: “Para ele, posso sair com outras pessoas. Digo que não quero”. No início, o casamento aberto não rendeu felicidade à esposa, que quis se separar. O homem não aceitou. L se adaptou ao estilo sexualmente aberto. “Às vezes, a falta de carinho nos obriga a isso. O que faço é errado, mas tem que ser assim”. Apesar de pular a cerca, o ho-

mem está presente e cuida bem do filho. L não dá na cara com as “escapadas”. “Se me atraso ao voltar para casa, meu marido achará que estou traindo e me pegará no pé”. Ela sabiamente confessa, às amigas de trabalho, os futuros atos pecaminosos. Mostra fotos e ouve comentários sobre os amantes. “Não se pode confiar em ninguém. Só porque sou casada, uns me veem como vagabunda”. Quanto às colegas, nada de “olho furado”. Afinal, ressalta L, “uma é lésbica e a outra, sapatão”.


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ESPECIAL 200

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O QUE APRENDI COMO Minha passagem pelo IMPRESSÃO foi curta, mas muito proveitosa, pois foi minha única experiência com imprensa escrita antes de estagiar no Estado de Minas, onde acabei ficando por mais de sete anos e construindo a maior parte da minha carreira jornalística até aqui.

Entrei no IMPRESSÃO no 2º semestre de 2000 como monitora e fiquei por um ano. Lembro que na época o editor era o professor João Joaquim. Logo depois o professor Fabrício Marques assumiu como editor. Nesse período, o jornal passou por uma grande transformação. A mudança foi um momento importante, em que a equipe se sentiu mais motivada a escrever, buscar pautas interessantes, pesquisar assuntos, discutir o jornalismo. O jornal também passou por uma mudança na diagramação, ficou mais moderno com visual bem mais atraente. A parte de fotografia também passou a ter mais destaque. O IMPRESSÃO foi fundamental para meu crescimento profissional. Lá tive oportunidade de desenvolver meu potencial como jornalista, além de conhecer várias pessoas especiais, fazer grandes amigos...alguns que ainda mantenho contato até hoje!

GILMAR LAIGNIER (Cancha Assessoria)

ARQUIVO PESSOAL

FRAN DORNELAS (criadora da Uweba! Comunicação)

Lembro que minha primeira participação no IMPRESSÃO foi como “editor”. Meu forte sempre foi escrever, mas eu fui escalado para ajudar a organizar a produção. Aí, de repente, o então prof. João Henrique Faria, coordenador do laboratório, me disse assim: “Falta o editorial. Escreva um agora”. E completou, assertivo: “Agora!”. Faltava uns 40 minutos para encerrarmos tudo, porque havia um feriadão no caminho. Eu nunca havia escrito um editorial na vida, mas me sentei à máquina de escrever mecânica e fiz um – datilografado a quente, sem nenhuma rasura ou erro, em meio à barulheira da turma durante a aula. Hoje, penso que aquela experiência foi, na verdade, uma espécie de rito de passagem. Naquele momento, eu senti que a minha inclinação para a escrita elaborada podia ser utilizada também em situações, digamos, de “emergência”. E o melhor de tudo: o prof. João Henrique mandou o meu editorial para a diagramação sem nenhum reparo. Quando o vi no papel jornal, fiquei muito feliz. A sensação de ver que o meu editorial havia saído no jornal exatamente como eu o escrevi foi parecida com a que senti ao conseguir o meu primeiro emprego (repórter do Diário do Comércio).

REPRODUÇÃO

SÉRGIO VILAS BOAS (autor do livro O estilo magazine)

Antes do IMPRESSÃO e Depois do IMPRESSÃO. Isso resume minha trajetória no jornalismo. Naquele quinto andar do CPM, tive a oportunidade de colocar em prática duas máximas que andam esquecidas nas redações: contar histórias e sujar os sapatos. Pude aprender a pensar um jornal como um todo. Como redator freelancer, antes eu me preocupava apenas com apuração e texto. No IMPRESSÃO, aprendi a pensar na capa, na composição das imagens, títulos, versais, edição final, diagramação. E, mais importante, tive a comprovação de que jornalismo se faz em grupo. E que grupo tínhamos! Sob a batuta rígida e amorosa do Leo e do Maurício, velhos abnegados do Ribeiro de Abreu (piada interna), ao lado de amigos como Natan, Zuliani, João, Jon, Alex, Hiago e tantos outros, passei por momentos incríveis. O IMPRESSÃO era um refúgio e, ao mesmo tempo, uma trincheira. Ali, vi que é possível fazer jornalismo como ele deve ser feito, e não como é praticado pela mídia nativa. E que, uma vez interessada, a Academia tem papel fundamental para o desenvolvimento da comunicação.

Eu nunca me imaginei trabalhando no IMPRESSÃO. Na ocasião da prova de seleção para a escolha de novos estagiários, contudo, o coordenador do jornal à época, professor João Luiz, sugeriu que eu participasse do teste. Hoje sei que o incentivo dele fez toda a diferença na minha vida profissional.

DANY STARLING (Vilarejo Comunicação)

FRANCIS ROSE (TJMG)


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ESTAGIÁRIO DO JORNAL O IMPRESSÃO para mim foi uma escola, tão ou mais importante que a própria teoria aprendida nas disciplinas do jornalismo da faculdade. A graduação foi uma bússola para a compreensão das técnicas e responsabilidades para que eu conseguisse estar no caminho para atingir meus objetivos profissionais. Mas foi no jornal que aprendi a ser jornalista e fotógrafa, e a perceber a realidade de forma mais madura. Aprendi, com os melhores mestres, que a notícia não se faz apenas com a base, aquela que te instrui a ver e a construir a notícia com ética e fórmulas. Mas, também, com o coletivismo entre a equipe, com a preocupação social e com a criatividade. Aprendi que o jornalismo pode ser cada vez mais interessante e completo se construído em conjunto com diversas outras àreas e técnicas de criação, sem perder o realismo e a credibilidade. O IMPRESSÃO para mim é um exemplo de publicação não só no Brasil mas no mundo, foi onde ganhei meu primeiro prêmio como jornalista e foi imprescindível para eu ser a pessoa e profissional que sou hoje. (Que muitos outros se espelhem no jornalismo feito no jornal!)

Trabalhei no IMPRESSÃO por quase um ano como monitora de edição jornalística. O jornal abriu as portas para que eu conseguisse outras oportunidades de trabalho e lá aprendi muito, além de construir grandes amizades.

ARQUIVO PESSOAL

MARINA MESSIAS (Prefeitura Municipal de Caeté)

FABÍOLA PRADO (fotojornalista especializada em áreas de conflito)

Fui estagiário do IMPRESSÃO durante todo o ano de 2001, sob a coordenação de Fabrício Marques. Em uma temporada no jornal, aprendi mais que nos outros três anos de faculdade. No laboratório, pude trabalhar com prazos, mesmo que mensais, fazer apuração e entrevistas, e ainda tive noções de edição e diagramação, tendo a chance de simular o que viveria numa redação posteriormente. Além disso, o Fabrício me indicou ao jornal O Tempo, onde iniciei minha trajetória jornalística.

ARQUIVO PESSOAL

FLÁVIO HENRIQUE SILVEIRA (Rádio Inconfidência)

Adotei o IMPRESSÃO como minha casa. Sempre trabalhei, o que inviabilizava fazer estágios. O fato de ter sido só no último ano de faculdade é a única coisa da qual me lamento. E mesmo com todo aquele turbilhão de projeto de monografia, pesquisas e leituras intermináveis, tive a sorte de entrar no laboratório em um ótimo período, quando um time muito bem formado já estava em campo. Na verdade, fui à redação do jornal à pedido de um colega de sala apenas para entregar alguns exemplares que sobraram da distribuição no campus. Desse dia em diante, todo o sentido da minha formação foi alterado – para muito melhor. Conheci pessoas incríveis, com as quais pude entender um pouco mais sobre o processo de produção jornalística, sujando os pés e queimando até a última gota de combustível criativo para executar pautas, fazer fotos, montar cenários para ilustração de textos e tudo aquilo que diz respeito à rotina de um jornal de respeito. NATANAEL VIEIRA (TV Globo)


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Duas reportagens me marcaram. A primeira, logo na segunda edição da qual participei, descreveu a guerra existente na imprensa entre apoiadores e oposicionistas ao governo. Entrevistamos alguns dos mais importantes jornalistas do país, dentre eles Mino Carta, demiurgo da imprensa brasileira. Essa matéria inaugurou uma prática no IMPRESSÃO que dura até hoje, a dos dossiês, produzidos pela própria equipe do jornal. E nos rendeu o segundo lugar no Prêmio Délio Rocha, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas. A outra também envolve o Mino. Desta vez, atuei como pauteiro e editor. Aproveitando a vinda dele a Belo Horizonte para o lançamento do livro O Brasil, realizado no próprio UniBH, a equipe do IMPRESSÃO fez uma sabatina com Mino, que falou do passado, do presente e do futuro. A preparação para as perguntas demandou uma semana de discussões, revendo antigas entrevistas e artigos, para que o conteúdo fosse o mais relevante possível. Melhor ainda foi, tempos depois, reencontrá-lo e receber elogios pelo trabalho. Bons tempos.

NATANAEL VIEIRA (TV Globo)

DANY STARLING (Vilarejo Comunicação) ARQUIVO PESSOAL

Tive várias boas experiências com a produção de reportagens para o IMPRESSÃO. Contei um pouco da história do maior complexo de vilas e favelas de Minas Gerais, o Aglomerado da Serra, participei de um desafio em que chegar na frente não importava muito, e sim o que se contava sobre a cidade no percurso feito, cedi minha camisa xadrez para ser usada como forro de piquenique, enfim. Mas viajar 500 Km para entrevistar um dos repórteres mais importantes da história do jornalismo brasileiro foi, certamente, a mais sensacional das experiências. Fui recebido por José Hamilton Ribeiro em sua fazenda, em Uberaba, onde procurei extrair o máximo de seu domínio jornalístico, sua essência de contador de fatos e casos. Sem sequer ter me formado, deparei-me com um recordista do Prêmio Esso – maior premiação a repórteres no Brasil – sem máscaras, holofotes, estrelismo. Ali, despido de qualquer vaidade, conversei com José Hamilton sobre a Guerra do Vietnã, sobre espiritismo, ditadura e, claro, jornalismo – da ideia, ao texto final. Uma aula de uma lenda viva, presente das reuniões de pauta do IMPRESSÃO.

Como monitora do IMPRESSÃO, pude vivenciar todas as etapas da produção de um jornal. Reunião de pauta, discussão das fotos, apuração, redação e edição das matérias – tudo contribuiu para a minha formação profissional. Esse aprendizado, que foi fundamental, levei para o jornal Estado de Minas, onde trabalhei dez anos, e continua sendo uma bagagem importante no serviço público, onde atuo hoje. FRANCIS ROSE (TJMG)

Uma das edições mais marcantes do foi a 182, de outubro de 2010, em que editei textos e escrevi uma reportagem junto a dois colegas, Ariane e Rafael. Hoje, este número do jornal parece tão atual quanto na época. Isso é o que mais me encanta no IMPRESSÃO, sempre pensando no futuro, com ideias à frente e gente que sempre quer inovar. Também gostei de trabalhar na MÚLTIPLA, que foi minha primeira experiência em revistas. MARINA MESSIAS (Prefeitura Municipal de Caeté)

RODNEY COSTA

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS


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DO IMPRESSÃO Acho difícil contar um caso ou situação que me marcou durante o período em que trabalhei no IMPRESSÃO pois foram vários casos e experiências, todas elas importantes e marcantes. Mas recordo-me sempre em como a prova para entrar no jornal como estagiária de fotografia mudou a minha forma de olhar para algo, muitas vezes já conhecido, e procurar pela foto. O pré-requisito exigido era que as fotos fossem em preto e branco e eu, então, peguei a minha câmera, que na época daquelas de bolso, e caminhei ao redor da faculdade em busca de situações. Como resultado, conheci uma vila inteira riquíssima em detalhes e histórias, na qual eu passava em frente todos os dias e nunca tinha reparado com a atenção merecida. A partir daquele momento, antes mesmo de fazer parte da equipe, eu já estava aprendendo. Outra experiência marcante no jornal foi ter a oportunidade de entrevistar um dos fotojornalistas brasileiros que mais admiro, o Evandro Teixeira. Com a entrevista pude conhecer melhor o trabalho por ele realizado e aprender muito. Depois desta entrevista sei que meu sonho de seguir a profissão de fotojornalista cresceu e nunca mais foi esquecido ou deixado de lado.

Dos tempos de IMPRESSÃO, me lembro de uma entrevista que fiz com o Trio Amaranto, que lançara um disco em 2001. Fui à casa delas para fazer a matéria. Participei de todo o processo da reportagem, desde a sugestão da pauta até a edição. Outra boa lembrança é que cobri para o IMPRESSÃO o Seminário de mídias universitárias, em São Paulo. O evento, realizado pela gravadora Trama, promoveu o encontro de seu casting, que contava com Claudio Zoli, Wilson Simoninha, Leci Brandão, entre outros, com estudantes de jornais e rádios de universidades de vários estados. Trabalhei no jornal O Tempo de 2002 a 2008, no qual fui repórter e redator. Estou há 11 anos na rádio Inconfidência, onde, entre outras coisas, faço a produção do programa Bazar Maravilha, a apresentação e programação musical do “Forró Brasil” e comentários sobre literatura e música.

ARQUIVO PESSOAL

FLÁVIO HENRIQUE SILVEIRA (Rádio Inconfidência)

Curiosamente, minha principal lembrança do IMPRESSÃO foi quando eu ainda não era estagiário. Eu estava no primeiro período da faculdade e participei voluntariamente de uma reunião de pauta, pois tinha interesse em escrever sobre peculiaridades e semelhanças entre os bairros de Santa Teresa, no Rio, e Santa Tereza, em BH. A ideia surgiu em um trabalho de uma disciplina do professor Maurício. A pauta foi aprovada pelo professor Fabrício, responsável pelo jornal naquela época, e eu tive meu primeiro contato real com o jornalismo, já que aproveitei uma viagem ao Rio para produzir o lado carioca da reportagem. Foi quando me veio aquela epifania dizendo que eu havia acertado na escolha da profissão.

FABÍOLA PRADO

ARQUIVO PESSOAL

GILMAR LAIGNIER (Cancha Assessoria)

Começamos a fazer várias reportagens especiais e em uma delas ganhamos o Prêmio Docol – categoria para estudantes com um especial sobre Água, em que retratamos a crise hídrica. Depois também fizemos um especial que me marcou muito sobre as eleições municipais e entrevistamos os candidatos eleitos ao cargo de vereador de Belo Horizonte. Sempre fui apaixonada por cinema e escrevi várias dicas legais de filmes, participei de eventos e entrevistei autoridades e personalidades nacionais e internacionais. FRAN DORNELAS (criadora da Uweba! Comunicação)

FABÍOLA PRADO (fotojornalista especializada em áreas de conflito)


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DOSSIÊ ESPORTES

E NO AR, A LIBERDADE Pedreiras, cascatas, montanhas ou edifícios são pontos de partida para uma boa aventura. Espaços explorados por Humberto de Vasconcelos e seus amigos, que se entregam ao sabor da adrenalina, desafiam as alturas e provam que o céu não é o limite WILSON ALBINO


CÉU, TERRA E CORDA Segredos, paixões, generosidades e pelejas de um rappeleiro Wilson Albino Para a primeira entrevista, ele escolheu a Praça Sete às 15h, em plena sexta-feira. Enquanto o aguardava, acabei emboscado por uma cacofonia infernal. O palavrório e as buzinas que soavam em timbres, durações e intensidades diversas promoviam o pandemônio. Ele chegou cinco minutos adiantado. Para minha surpresa ou decepção, preferiu ficar ali, no meio daquele furdunço, a buscar um lugar menos barulhento. Pronto – pensei – danou-se o áudio. Mas segui o fluxo. Aos 64 anos, Humberto de Vasconcelos, funcionário público, está apto, disposto e capaz para desempenhar qualquer atividade. Sua pressão arterial nunca passa de 120/80. Ou seja, normal. Também estão normais as frequências cardíaca e respiratória, e todos os hemogramas. Detalhe – ele não faz uso de nenhuma medicação. Seu abdômen está plano, braços e pernas exibem grande vigor. Em resumo – é um menino. Algum segredo para uma vida longa, ativa e saudável? Ele respondeu que um segredo apenas não, mas vários: alimentar-se sem exageros, dormir apenas o suficiente, consumir o mínimo de bebidas alcoólicas, e, talvez, as duas dicas mais importantes: leituras diversas e atividades físicas regulares. Humberto considera a leitura indispensável ao espírito. “Leio de tudo, principalmente textos relacionados à tecnologia”, revela. Nascido e criado em Belo Horizonte, é apaixonado pela história da cidade. Visitou mais de 50 sebos em Minas, São Paulo e Rio, à caça de

livros raros, como dicionários toponímicos e obras que detalhassem a vida dos primeiros moradores, emigrantes e políticos que ajudaram a edificar a provinciana Curral Del-Rei. Assunto puxa assunto. Depois de um determinado momento, não mais lembrei que estava naquele “randevu” de sonoridades simultâneas. Entre uma e outra confabulação, lancei a palavra “rappel” no meio de uma pergunta e, de repente, as cinco letrinhas surtiram um efeito mágico. Foi como se um “abretecésamo” iluminasse os olhos e o rosto do entrevistado.

Rappeleiro maluco “Você disse rappel? Ah, é a outra parte de mim”. Instrutor de rapel, Humberto encheu os pulmões de ar e principiou uma aula. Segundo ele, todo aspirante à prática do rappel precisa, antes de tudo, fazer um curso para aprender noções de escalada e escotismo. É o momento de entender mais sobre o uso de equipamentos, como cordas (que suportam 2.500 kg), freio, cadeirinha, capacete, mosquetões, luvas. Atividade de aventura e esporte radical, o rappel não possui regras definidas. Pode ser praticado em áreas urbanas, em prédios e viadutos. Nas áreas rurais, a escolha é por cachoeiras, cavernas e picos elevados. No instante exato em que ele falaria dos vários estilos de rapel, uma interjeição entrecortou a linha de raciocícinio. “Ah! Você sabe onde fica a pedreira Santa Rita? Os caras do ‘Morcegos Adventure’, grupo de rapel do qual amo fazer parte, vai brincar um pouquinho, no domingo... Aparece lá”, convidou.

De frente pro abismo No dia marcado, nos reunimos na praça da Cemig. Humberto trajava camiseta personificada com a logo do grupo, calça e coturnos com camuflas que lembram a estampa do exército. Mariana, candidata a rappeleira, vestida toda de preto, e Adamastor. Esse último é um Fusca 81, que além de trava e vidro elétricos, tem até página no Facebook. Inseparável companheiro de aventuras, transporta os equipamentos para a prática de rappel, ciclismo e corrida, já que seu dono tem, pelos esportes, um apetite do tamanho do mundo. Às 9h chegamos à tal pedreira. De acordo com Humberto, grande parte das pedras utilizadas nas construções do bairro Eldorado foi dali extraída. Há ainda, no lajedo, marcas onde eram depositadas as dinamites. O cenário impressiona pela dimensão. É largo demais, acidentado demais e assustador demais. O resultado da exploração de recursos naturais é uma chapada que, de altura mede 45 metros, e que tanto o povo do rappel, quanto o da escalada, fazem de “playground”, desejosos de tornar o inóspito ambiente em lar doce lar. Uns “mano” que curtem os “benefícios” da erva natural há tempos fazem o lugar de morada. Na pedreira, encontramos mais um estreante no esporte, outro Humberto, o filho. Enquanto os veteranos não chegavam, Humberto, o pai, livrou Adamastor das parafernálias. Aproveitou para verificar os equipamentos. Alguém perguntou por que o instrutor trazia uma pena afixada no capacete. “É uma pena do rabo. E, quem tem pena do rabo...”

Enquanto repassava as instruções, Humberto volta e meia olhava em meus olhos e dizia: “Wilson, preste bastante atenção, tá legal, meu caro?” Além de equipamentos para ele, para o filho e para Mariana, vi que havia mais um, sobressalente. Por curiosidade ou inocência, perguntei a necessidade de quatro equipamentos, se só três desceriam o pedregoso paredão? “É pra você descer, meu chapa”, revelou. Levei uns alguns segundos medindo com os olhos aquele chapadão. Imaginei-me grudado na pedrona, amendrontado feito Prometeu. Retruquei: “Eu? Não vou descer porra nenhuma!” Só percebi o quanto havia falado alto quando o instrutor e seus alunos caíram na gargalhada. Minutos depois chegou o restante da trupe. Disfarçados de motociclista, vigilante, enfermeiro, advogado, administrador, médico, são todos, a bem da verdade, rappeleiros e se dizem amantes do que existe entre céu e terra – liberdade. Praticantes há mais de uma década, foram unânimes ao afirmar que o friozinho na barriga, sentido na primeira vez, ainda é o mesmo. Humberto de Vasconcelos, até então contente, descansou o sorriso ao se lembrar dos amigos ausentes. “Pô, só achei ruim que nem todos vieram se reunir com a gente hoje, inclusive o Osnam (fundador dos Morcegos Adventure)”, lamentou, enquanto se preparava para descer a pedra colossal uma vez mais. Ah, e antes que me esqueça: ali, cara a cara com os obstáculos naturais, “os dois alunos receberam dez com louvor”.

9 FOTOS: WILSON ALBINO

DOSSIÊ ESPORTES

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DOSSIÊ ESPORTES

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IMORTAIS ENQUANTO DUREM WILLIAM ARAÚJO

Histórias gloriosas de times de futebol que, um dia, foram eternos

Danilo Silveira “O nosso time é imortal”. “Tens imortal tricolor”. “Ninguém poderá nos derrotar”. “Eterno símbolo de orgulho”. “No atletismo, és um braço; no remo és imortal”. “Eternamente, dentro dos nossos corações”. A imortalidade, tanto almejada pelo ser humano, está impressa e estampada, ao longo de décadas, nos hinos dos clubes de futebol. E quando um time morre? E quando chega a “fatal derrota” de um time invencível? Testemunhas oculares de um time sensação entram apressadas no “Campo dos Eucaliptos”: uns pelos portões, outros por cima do muro. Como exemplo, lá vai Antônio, mais conhecido como Xuxu. O boleiro de fim de se-

mana está acompanhado dos amigos. Vixi! Pegos por um guarda de boné azul, que os expulsou (Ufa!), acabam salvos por um funcionário – ou coordenador de algo –, destes que usam influência para ajudar companheiros. Naquela tarde, Xuxu e os “parças” assistiram ao “Canhão dos Eucaliptos” fazer dois gols contra o “todo poderoso” Cruzeiro. Não tinha pra ninguém! O mesmo time que ganhava da Raposa vencia o Leão, o Coelho, o Galo e, até mesmo, a Tartaruga do Napoleão. Algum tempo depois, Xuxu jogou naquele mesmo gramado, não como profissional do clube, mas no papel de pontadireita do time do setor de alvejaria da fábrica de tecidos Renascença. Como titular, ganhou 15

campeonatos internos da tecelaria, onde trabalhou durante 27 anos, conheceu a esposa e foi delegado sindical. Hoje aposentado, Xuxu vende comes e bebes em frente à faculdade Universo e costuma encarar o passado no dia a dia. Nos fundos da faculdade, afinal, estão as ruínas do que fora uma fábrica de tecidos. (Naquele tempo, aliás, a cantora Clara Nunes era, ali, apenas uma tecelã.)

Campeões O Esporte Clube Renascença surgiu no início da década de 1940, fundado por funcionários da fábrica de tecidos. Conquistou a Copa Belo Horizonte de 1961, contra os quatro grandes clubes da capital mineira à época (América, Atlé-

tico, Cruzeiro e Sete de Setembro), derrotando, na final, por 2 a 0, o Galo do técnico Kafunga. Debaixo das traves, a equipe contava com Tonho. Já Celso, Dilsinho, Pireco, Coelho e Zeca formavam a zaga. Por fim, Grilo, Luís Carlos, Germano, Rafael e Róbson farejavam o gol adversário. Em 1963, a equipe derrotou todos os adversários nos pênaltis. Uma vez mais, o Renascença tornou-se campeão sobre o Atlético: 9 a 6, em cobranças alternadas. Os jogadores usavam chuteiras de couro negro engraxado, meias com listras horizontais e calções até a metade da coxa. Além disso, camisa de gola polo em V, com linhas verticais, e, no canto superior esquerdo, uma engrenagem

estampada com o R no meio. A equipe campeã tinha Arésio no gol, Sérgio e Fernando nas laterais; Grilo e Borges fechavam a zaga. No meio, Wilson e o amigo De Paula. No ataque, Jorge, Zimba, Miltinho e Robson. Dois anos antes, o jovem Wilson chegava como aspirante do Renascença. Seu ganha-pão vinha de uma empresa de reforma de pneus. Não ganhava nada no clube, mas satisfazia a busca pelo sonho de ser jogador “profissional” – o que só ocorreria em 1962, quando assinou o primeiro contrato. Aquilo seria apenas um rótulo. No fundo, ele sabia que não receberia nada. Em 1963, depois de ganhar o Torneio Início, o cartola cruzeirense Felício Brandi

viu potencial no jovem e resolveu contratá-lo. Para isso, o rapaz precisaria rescindir o “contrato” com o Renascença e receber seus direitos. Já que não tinha como pagá-lo, o presidente do clube da tecelaria resolveu dar produtos de uma lanchonete como “acerto de contas”. O garoto Wilson precisou vender garrafas de guaraná e cerveja, latas de salsicha e condimentos para receber o dinheiro. Nos primeiros momentos de Cruzeiro, o jogador não mudara apenas de clube, mas, também, de emprego. À época, complementava a renda como profissional do Banco do Comércio. Para treinar e jogar, Wilson – que se tornara conhecido por Piazza, a fim de se diferenciar de um xará do clube –


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Siderúrgica, campeão mineiro de 1964, em partida contra o América/MG, no Estádio da Alameda, em Belo Horizonte

do Galo e do Villa Nova, de Nova Lima, largou o futebol, mas, tempos depois, voltou a jogar em um time com menos compromissos, onde encerrou a carreira. Hoje, sentado junto ao amigo Piazza, relembra histórias “da época das camisas virgens” – que não exibiam aquele rol de patrocínios. “Quando jogávamos futebol, não tínhamos nada. Já viu como pobre é feliz?”, filosofa De Paula. Quanto ao bairro Renascença, tudo se mantém como sempre. O estilo interiorano das pessoas continua. Já as casas, repletas de muros, protegem-se do progresso. Mesmo assim, o movimento de pedestres e veículos é pacato. Ali, os escombros da fábrica ajudaram a alicerçar a Universidade Salgado de Oliveira (Universo), que funciona no local desde 2004 e, também, gerencia o “Campo dos Eucaliptos”. Curioso perceber que certos funcionários desconhecem certas glórias passadas: “Havia mesmo um time aqui?”.

Siderúrgica Após retirar dois recortes de jornais de uma gaveta, ele escolhe um e começa a ler em voz alta: “Vez por outra, o que eu faço com enorme prazer, reservo agradáveis horas para permancer no parque... Vou pular

uma parte: ‘E não é que me deparei, na página de esportes do Estado de Minas do dia 29 de 1952, com espetacular vitória do Siderúrgica sobre o América, placar de cinco tentos a dois, no Independência? Nada de estranho no triunfo de alvianis ou alamedinos por qualquer placar, mas o curioso se deu porque o América fizera um a zero, gol relâmpago aos dois minutos, autoria de Wilson Segundo. O Siderúrgica empatou com Ceninho, Michel fez dois a um para os sabarenses, Cabecinha fez três a um. Na fase final, Michel, por duas vez, marcou, registrando o quarto e o quinto gols da equipe da Praia do Ó’”.

América, os resultados foram cinco a dois, com três de Michel”, relembra o próprio, na terceira pessoa.

Gol e TV “Campeã mineira de 1937 e 1964, a equipe de Sabará participou de um dos primeiros jogos transmitidos pela tevê Itacolomi, inaugurada em 1955. A emissora dos Diários Associados estreou as transmissões, uma partida em 15 de janeiro do ano seguinte: a vitória do Siderúrgica sobre o Villa Nova, por 2 a 1, no Independência... Segundo o presidente do clube de Sabará, Alexandre Sanches, o primeiro gol transmitido pela tevê em Minas Gerais foi marcado por Michel Spadano, logo aos dois minutos de jogo”. Neste outro recorte de jornal, lido com sobriedade por Spadano, aparece nada menos do que a primeira transmissão de um gol por uma emissora de televisão em Minas. Apesar disso, o feito de Michel não teve grande repercussão à época. Recentemente, o Estado de Minas o entrevistou devido aos 60 anos do episódio. Sem perder tempo, a citadina Folha de Sabará aproveitou para registrar a data, homenagear o ilustre cidadão e relembrar os feitos grandiosos da

Tartaruga do Napoleão. O Siderúrgica, aliás, tentou retornar ao futebol em 2015. No entanto, amargado por derrotas e empates, foi eliminado prematuramente do módulo B do campeonato mineiro. A Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, que criou o time para divulgar a marca da empresa, resolveu encerrar o patrocínio do clube logo após a vitória da equipe no mineiro de 1964. Anos depois, os alvianis caíram para a segunda divisão do campeonato estadual. Ensaiaram retornos ao longo das décadas de 1990 e 2000, mas, sem o apoio e o patrocínio de um padrinho forte, não alcançaram novas conquistas. Geraldo Aires, que foi morador de Sabará e filho de um dos fundadores da equipe, diz que não existe mais o torcer pelo time. “A torcida vive apenas de recordações e lembranças. Principalmente no meu caso, pois não moro na cidade e não acompanho nada, nem as atividades amadoras. Assim, o torcedor tem de se contentar com as conversas e casos acontecidos”, conta Geraldo, que forneceu as imagens publicadas nessa página, partes de seu acervo pessoal sobre o clube. REPRODUÇÃO

precisava, muitas vezes, trocar de turno com os colegas bancários. Em 1965, com a inauguração do Mineirão, os times passaram a faturar mais com a bilheteria. Resultado? Wilson Piazza largou o emprego no banco para viver como atleta profissional. Com relação ao Renascença, os anos pósMineirão não seriam tão favoráveis quanto para Piazza. Nos campeonatos mineiros de 1964 e 1965, o time oscilou na tabela e terminou na 11ª posição. No ano seguinte, foi rebaixado à segunda divisão, e, atolado em dívidas, encerrou as atividades. Em 1996, a fábrica de tecidos também fecharia as portas, devido a débitos com credores. Aos 73 anos, Piazza se divide entre os “ofícios” de avô e presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional (AGAP) de Minas Gerais, organização que ajudou a fundar. Em uma parede de seu escritório, o tricampeão exibe sua fotografia, registrada há 40 anos. A imagem inicia uma fila de retratos de ex-presidentes da instituição, como Heleno e Warley (exjogadores do Galo) e Toledo (América, Atlético e Renascença). Outra foto importante revela o amigo que o acompanha desde os tempos de Renascença: De Paula. O ex-jogador

Eis a leitura de um senhor que viveu oito décadas, das quais 37 anos foram reservados a trabalhar em uma companhia siderúrgica de Sabará, onde nasceu, cresceu, constituiu família e passou a presidir uma associação de aposentados. Químico de formação, Michel Spadano começou a vida profissional como operário e a terminou como chefe de controle de qualidade. Nos primeiros anos de siderurgia, vestiu a camisa da empresa nos gramados, como centroavante da equipe. Em 1951, o Fluminense Football Club quis levá-lo para o Rio de Janeiro. Ofereceramno Cr$ 50 mil. Recusou, pois estava prestes a se casar e tinha emprego garantido. Fugiu, também, do estereótipo de vagabundo, comum aos jogadores de futebol à época. Naquele período, Spadano morava em João Monlevade, por motivos profissionais. Enquanto isso, o Siderúrgica jogava o campeonato mineiro. A equipe parecia bem, mas quase não fazia gols. A saída foi implorar pela volta do atleta-operário: “O time era uma máquina de costura sem agulha. Quando a agulha chegou – o Michel –, já no primeiro jogo, contra o

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Depois de 1964, o Siderúrgica perdeu o patrocínio da Belgo Mineira e abandonou a competição devido às constantes derrotas


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UM... DOIS... TRÊS... É SUA VEZ GETÚLIO MOREIRA

Reconhecido como esporte em 1977, futebol de botão ainda cativa muitos e muitos “atletas de mesa” ganização do torneio”, explica, ao destacar a necessidade de ajuda de todos que amam a atividade. “Mensalidades contribuem com a boa formação da sede de clubes e a compra de campos, bolinhas e botões”, conclui. A Federação não possui sede física. Até porque seus membros estão espalhados por Minas Gerais. No total, cinco pessoas compõem a entidade: além de Marcelo de Mendonça, há o presidente, Daniel Sales, de Juiz de Fora, e os diretores técnicos da três toques, Marcos Mota, da 12 toques, Igor, de Poços de Caldas, e da regra dos Dadinhos, Luiz Henrique. Embora as peças sejam pequenas e as jogadas curtas, as emoções da modalidade são imensuráveis

Caíque Matheus Getúlio Moreira Luiz Gustavo Yasmim Esteves Ano de 1970, período de desestabilização no “campo” verde e amarelo. A nação passa por crise econômica, que se agrava dia a dia. O elevado preço do petróleo e as altas taxas de juros internacionais desequilibram a balança de pagamentos e estimula a inflação. Apesar dos problemas financeiros e sociais, as belezas do esporte e da tecnologia também se mobilizam: seleção brasileira tricampeã da Copa do Mundo, realizada no México. Jogos olímpicos de Munique. Lançamento do primeiro microprocessador do mundo, o Intel 4004, e do Odyssey 100, videogame inédito no planeta. Dia 25 de agosto de 1977: reconhecimento do futebol de mesa como modalidade esportiva praticada no país, no hall dos esportes de salão.

Sim, naquele exato dia, uma paixão surgia: o futebol de botão, assim chamado nos seus mais gloriosos dias, trazia consigo regras que, junto a toques bem pensados, culminaria em gols certeiros. Aguenta, coração! Atravessar as fronteiras do tempo é descobrir que muitas coisas continuam ali, intactas, e prontas a serem redescobertas. O “ludopédio” de mesa é uma dessas particularidades a integrar um universo que merece, após 45 anos de existência, ser bem lembrado. Marcelo de Mendonça Virgílio, de 41 anos, é servidor público federal, vice-presidente da Federação Mineira de Futebol de Mesa e praticante apaixonado dos jogos de botão desde 1996. Diante dos repórteres, ele deixou claro que explicaria tudo sobre o “futmesa”, mas, a seu ver, aquela brincadeira não capturaria o interesse dos mais jovens. Sem manetes, sons estridentes

e posições confortáveis, Marcelo se inclina sobre a mesa de 2m20 X 1m60 e inicia uma partida. Ele é craque! Enquanto mira e dá três toques, conta que existem dificuldades. A Federação, responsável por organizar os campeonatos, cria o regulamento e as tabelas. É algo bem profissional, mas há aqueles que, sem compromisso, não trabalham para ajudar no fortalecimento das competições. Segundo o vice-presidente, o esporte “vem sobrevivendo”. Com o esforço de praticantes, mantém-se tradicional e inabalável para a alegria de muitos. Os campeonatos têm pouca visibilidade, não recebem patrocínio e as premiações – geradoras de orgulho perceptível – são medalhas e troféus. “Os clubes federados pagam uma taxa para se filiar. Quando temos campeonatos, os praticantes arcam com custos de inscrição. A verba destina-se à or-

Dá seu toque, botonista!  Comecemos pelos 12 toques. Também conhecida como “regra paulista”, a modalidade tem 20 minutos de duração por partida, sendo disputada em duas fases de 10 minutos, com intervalo máximo de cinco entre cada etapa. Uma vez com a posse de bola, o jogador terá direito a um limite coletivo de 12 toques. Se até o 12º, não houver chute a gol, ocorre punição, com tiro livre indireto cobrado do local de onde estiver a pelota. Obedecido o limite coletivo de 12 toques, cada botão terá direito a três toques ou acionamentos consecutivos. Se ocorrer um quarto, será punido com tiro livre indireto, cobrado de onde aconteceu o toque excedente. O primeiro Campeonato Mundial da modalidade “bola 12 toques” foi realizado em 2009, em Budapeste, na Hungria. O Brasil sagrou-se campeão pela categoria de equipes, com a formação de jogadores do Pal-

meiras, do Corinthians, do Vasco e do Maria Zélia. Já o atleta Marcos Paulo Liparini Zuccato, mais conhecido como Quinho – do Palmeiras –, tornou-se campeão mundial individual. O Campeonato Brasileiro Individual da modalidade é disputado desde o final dos anos 1980, e dele participam os melhores botonistas de cada estado.  A modalidade “3 toques” exige concentração e cálculo minucioso. A pequena quantidade de passes aumenta a dificuldade das jogadas e do aprendizado. Nesta categoria, as regras são basicamente as mesmas do futebol de campo, tendo lances como o impedimento, o sobrepasso e o tiro livre indireto. O tempo de duração é de 40 minutos, divididos em dois tempos de 20, com intervalo de 5.  O campeonato brasileiro começou a ser disputado no início dos anos 1980, jogado individualmente ou por equipes. Com o tempo, a disputa de equipes passou por mudanças. Inicialmente, jogavam dois atletas. Depois, eram três, e, hoje, são quatro por equipe. O atual campeão brasileiro de clubes é o Tupi, de Juiz de Fora (MG).  As outras duas modalidades de futmesa são a “disco” e a “dadinho”. A primeira conta com duas vertentes, a “liso” – em que os botões são lisos por baixo –, e a “livre”, na qual são cavados. Trata-se da categoria mais antiga, sendo que sua abrangência é nacional. Já na dadinho, a bola de jogo é um cubo confeccionado em acrílico ou material semelhante.

Liberdade  Na região oeste de BH, um time dedicado se reúne às terças-

feiras e pratica algo que faz parte de um mundo paralelo e só deles: “Sejam bemvindos, é o Futebol de Mesa Liberdade”. Criada em 2006, a equipe inicia sua trajetória com duas mesas boas, e uma “não tão boa assim”, que, por algum motivo, molhou e estragou. Era só o começo. Ao pagar adiantado as mensalidades, um dos jogadores comprou uma mesa, ou uma espécie de “joia”, para o time. Com o tempo, os integrantes se organizaram, e, hoje, o próprio time se mantém. Na atual sede, onde há três mesas, bandeiras, camisas do time, fotos e dois prêmios de Campeonato Mineiro de Equipes, os participantes aprimoram conhecimentos. Frederico Goulart Borja, admirador dos botões desde criança, reencontrou o futmesa há três anos, por indicação de um amigo, que também faz parte do time. “Sou o novato. Jogo há três anos, mas algumas pessoas têm 15, 20 anos de experiência. Sou um dos mais frequentes e preciso treinar muito para alcançá-los”, afirma, ao confessar que treina oito horas semanais. Ao entrar na sede do Liberdade, é notável o clima de amizade, e, principalmente, o apego pelo jogo. Aliás, o lema dos praticantes do time já revela a paixão que nutrem pela atividade: “Das coisas menos importantes da vida, o futebol de mesa é a mais importante delas”. Os botonistas contam que o esporte de salão é uma maravilhosa distração. Trata-se do momento “cachaça” dos jogadores, que para além de hobby, relaxa a mente. Em outras palavras, é uma eterna brincadeira entre pai e filho.


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SONHOS FRUSTRADOS Aspirantes contam como quase entraram para o mundo do futebol profissional Ana Borges O que Daniel, Getúlio, Henrique, Rafael e Tiago tiveram em comum, quando novos? Todos eles correram atrás do sucesso como jogadores de futebol, mas, por motivos variados, não chegaram a atuar profissionalmente.

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Viagens e doença Getúlio Neto, como muitos garotos, sempre jogou futebol. Quando tinha 6 anos, começou a treinar em escolinhas de futebol. Aos onze, deu início à bateria de testes, inicialmente no comercial do Barreiro, onde foi descoberto o jogador Bernard, que chegou à Seleção Brasileira e disputou a Copa do Mundo de 2014. Depois, Getúlio fez teste no América Mineiro, no Mogi Mirim, no Atlético de Sorocaba e no Flamengo. Foi aceito nos dois últimos.

Em Sorocaba, não pôde ficar pois teria que morar longe da família e na época tinha apenas 14 anos. No Flamengo, também não ficou, pois o time queria transferí -lo para o Caxias, e ele, já com 17 anos, prefiriu não aceitar. Outro problema enfrentado por Getúlio foi uma doença nos ossos, que o faz ter a idade óssea dois anos abaixo da idade real e o impediu de ser aceito em alguns times.

Bateu na trave Daniel Ricardo Rodrigues sempre jogou muita bola, em peladas na rua e outros locais. Como seu pai vivia viajando a trabalho, o menino foi “meio que criado” pelos tios, que nunca o tinham visto jogar bola. Por isso, demorou a fazer testes em times de futebol: só quando Daniel tinha 17 anos. Primeiramen-

te, participou de uma “peneirada” no América Mineiro, depois no Villa Nova e por último, no Clube Atlético Mineiro, time pelo qual sempre torceu.

“Foi dispensado antes de se apresentar para a ‘Massa’, apelido da torcida do time. Isso porque, segundo os médicos do clube, ele não tinha massa muscular para ser jogador de futebol.” Daniel diz que no América e no Villa fez testes apenas como treinamento, pois queria jogar mesmo era no Galo. Por ser um menino sem massa muscular suficiente, e por já existirem jogadores na posição que ele tentou, foi dispensado. Sua frustração foi maior porque os pais dos outros meninos parabenizaram o pai de Daniel, afirmando que ele seria o escolhido.

A massa e a Massa Henrique chegou a jogar no Clube Atlético Mineiro dos 13 aos 17 anos. Porém, foi dispensado antes de se apresentar para a “Massa”, apelido da torcida do time. Isso porque, segundo os médicos do clube, ele não tinha massa muscular para ser jogador de futebol. Depois dessa dispensa, e já se considerando velho para recomeçar, Henrique decidiu que estava na idade de se dedicar mais aos estudos, e assim abandonou o sonho de ser jogador de futebol. Contatos Rafael Henrique sempre gostou de jogar bola, mas só começou a fazer testes quando tinha 14 anos. Morador de Belo Horizonte, tentou no América e no Cruzeiro. Foi aprovado no clube celeste, como lateral esquerdo, mas

só ficou ali durante dois meses. “Fizeram falta um empresário ou um agente”, ele acredita. O processo era muito burocrático e, como não tinha contato nem influência com profissionais do ramo, não conseguiu prosseguir. Já o paranaense Tiago não passou por este tipo de problema, pois seu padrasto tinha contato com diversos times de futebol. O jovem participou de campeonatos em Curvelo e depois, quando o padrasto foi transferido para BH, para trabalhar no Cruzeiro, Tiago teve que vir junto. Sua mãe preocupada com o peso do filho, e lembrando que ele gostava do esporte, o inscreveu em escolinhas de futebol. Quando foi visto nos treinos, recebeu um convite para jogar em um time de Sarzedo, em Minas Gerais, onde morava na concentra-

ção e só via a família de seis em seis meses. Ali, um olheiro do Clube Atlético Mineiro o descobriu aos 19 anos e o convidou para participar de uma “peneirada” no Galo. Tiago passou no teste e se revelou muito empolgado, imaginando que seria o começo de uma carreira, mas, quando realizou os exames médicos necessários, foi diagnosticado com um tumor de três milímetros abaixo do coração. Dispensado em função da enfermidade, quase entrou em depressão . Os jovens jogadores, como tantos e tantos outros, tiveram que encontrar novos caminhos e comprovam a máxima: no futebol, é escolhido um em um milhão. Além do talento, entram em campo quesitos como sorte, oportunidade, contatos, força, fé e foco.

REALIDADE SALARIAL DO FUTEBOL BRASILEIRO A Diretoria de Registro e Transferência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou um levantamento, em fevereiro deste ano, sobre o número de jogadores em atividade no país e suas condições monetárias (valores de salário, transferências, vínculos contratuais etc.). Confira abaixo os números, referentes aos mais de 28 mil atletas (profissionais, amadores e intermediários) que atuam no futebol nacional atualmente: Mais de 23 mil jogadores recebem até R$ 1 mil por mês. Aproximadamente, 4 mil futebolistas recebem entre R$ 1 e 5 mil. 1,35% ganham até R$ 10 mil. 1,7%, até R$ 50 mil. 0,40%, até R$ 100 mil. De R$ 100 a 200 mil, 78 jogadores. De R$ 200 a 500 mil, 35 atletas. Só um profissional recebe acima de R$ 500 mil.


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AO ACASO, TORCEDORA Elisângela Arantes Ao receber o convite para assistir a um jogo de futebol, minha primeira resposta foi um “não” bem decidido, já que não herdei, na infância, a paixão pela bola. Desde que a seleção brasileira deixou de ser aquela de 1994, passei a gostar mais do evento do que, propriamente, do jogo. Meu interesse sempre esteve focado na vida do atleta e em sua capacidade de superação. Para além da torcida durante a Copa do Mundo, e paralelamente ao fato de eu não ter um time de futebol, resolvo ver como tudo funciona. Assistir a uma partida, no estádio, comprar o ingresso, enfrentar uma fila imensa e conhecer a história do time. De fato, minha atitude sempre foi um tanto blasé, no sentido de que tanto poderia ser Atlético, Cruzeiro ou Atlético X Cruzeiro... O jeito de ver, na verdade, não entrava nessa disputa. Em Quando é dia de futebol, Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério”. É preciso gostar já na infância? Será tarde para revelar a si mesmo essa paixão? Afora o patriotismo da Copa, resta-me decifrar o segredo do coração de torcedor, ou me aproximar desse sentimento peculiar e genuíno. Entro em contato com Vinicius Alves, de 24 anos, ator, atleticano desde novinho, frequentador do Mineirão e do Independência, para, de modo inédito, fazer-lhe o convite. Surpreso, meu amigo responde que sim. “Convite aceito” X “Ideia proposta”. Resultado: Atlético X Caldense, 26 de abril, no Mineirão. “Você terá que assistir ao jogo e torcer para

o Atlético ganhar. Se perder, não vai ter jogo no Mineirão”. Foi assim, nessa tensão, que assisti a Atlético e Cruzeiro, no dia 19 de abril, pela TV. Naquelas duas horas, as histórias do time começaram a apitar alto em meus ouvidos. Em sua tentativa de me transformar em torcedora, numa atitude típica de alguém acostumado a “catequizar” quem não tem time, o alvinegro Vinicius fez o que se pode chamar de “propaganda categórica”. Ouvi algo sobre o devotamento do torcedor. O termo “Maria”, cujo trecho ficaria na cabeça até o dia do jogo, o espetáculo da Rua de Fogo, as torcidas organizadas, o hino... Percebi que estava na torcida certa, pois o critério da escolha do time se deu pela diversidade de atribuições conferidas aos torcedores e à história do clube. Quando dizem que o futebol é uma religião, percebo, ali, o processo de evangelização. O Atlético vence essa partida e o dia do jogo se aproxima.

O ingresso A venda começa em dois pontos da cidade: no Clube Labareda e na Sede de Lourdes, ao valor de R$ 30 e R$ 60. Ao me aproximar da bilheteria, avisto uma fila a dar voltas, e quase encontrando com o início, de modo a tomar conta de três quarteirões. Perplexa, quero não acreditar que passarei algumas horinhas ali. As pessoas davam cerca de dez passos a cada meia hora. Por que a fila não anda? Não é só pagar e pegar o ingresso? E se eu ficar na fila, chegar à bilheteria e acabarem os bilhetes? Enquanto tomo coragem para enfrentar a fila, alguém da Galoucura oferece ingresso pelo mesmo preço da bilheteria. Depois, um cambista

WILLIAM ARAÚJO

Repórter vai pela primeira vez a uma partida de futebol e descreve o que viu, ouviu e sentiu me oferece a “superior” por R$ 100. Trata-se do melhor lugar, sem fila! Ele me diz ter recebido os ingressos pela manhã e que, no sábado, tudo ficaria mais caro. Policiais se aproximam, cambistas se dispersam. Por isso é que todo mundo se torna sócio? A fila obriga o torcedor a se filiar. Desisto e vou embora. Mal sabia eu que essas perguntas seriam respondidas no dia seguinte.

The day after São 9 horas de sábado e me instalo na fila. Há poucas mulheres, que, assim como eu, revelam-se enfadonhas. Já os homens parecem que vão entrar num pub. Assim, preparo meus ouvidos para escutar muita coisa sobre futebol nas horas que ficaria em pé. Aquilo parecia, na verdade, uma mesa redonda pós-jogo. Falam sobre tudo, tudo, mesmo! Mas sempre sobre... futebol! Um homem diz que quer se tornar sócio, para não enfrentar filas. “O esquema é esse: forçar a gente a se tornar sócio.”, desabafa o atleticano. Naqueles instantes, crio um mantra: “Cada passo é uma esperança”, repetia, baixinho. Alongo discretamente os músculos. Tomo água. Tento vencer o cansaço observando os torcedores. Carros buzinam. Todos se cumprimentam cantando o hino. O mascote aparece – lá vem o “Galo Doido”! – e os pais correm em sua direção, para tirar fotos com os filhos. Depois de três horas, compro dois ingressos. Encontro-me com Vinicius para fecharmos os detalhes para o domingo no estádio. Um dia de atleticana “Tem que se preparar para uma possível corrida”, diz meu amigo, ao sugerir a roupa certa

Depois de 90 minutos de emoção e fanatismo, é possível entender por que o Brasil fica vazio nas tardes de domingo

para o jogo. Visto uma legging e a camisa de treino do Galo, que ele me emprestou. Sinto-me bem e respeito, assim, o time. O dia está lindo: sem shopping, nem piscina. Seguimos à estação e pegamos o 51, ao invés do 55, que segue lotado. Passa o 55 com os torcedores espremidos nas portas, batendo no vidro e cantando o hino. A meu lado, uma mulher diz: “Esse é um programa de família”. Compramos cervejas, pois faz calor. Sinto uma atmosfera diferente, como se fosse o carnaval, mas diferente no sentido de que todos parecem unidos pelo compromisso. Têm um objetivo. Ali, não é você ou eu. Ali, são torcedores. Um deles solta um grito de guerra e o outro responde. Alguém canta

um trecho do hino, o outro fecha o punho e continua a letra. A entrada no estádio é tranquila. Subimos a escada. A imagem do gramado se abre a cada degrau. Fico sem palavras. Sinto-me maravilhada. Lá dentro, ficamos tão pequenos! Eu ali, com a camisa do Atlético, na torcida do Atlético. A magia do futebol me emociona uma vez mais. Os times entram em campo. Meu coração bate mais forte. A arbitragem é vaiada. Cada jogador anunciado no telão é aplaudido. Conheço ao menos três: Luan, Pratto e Victor, considerado o santo do time. O jogo começa. O ataque, a defesa e as faltas são as regras que conheço. Isso já é suficiente. Cada lance recebe aplau-

so e, no meio de uma jogada, muitos cantam o hino. Isso não se ouve pela TV, nem pelo rádio. Sem exagero: a transmissão parece silenciosa. No setor vermelho, o sol é escaldante. Assim como o calor das pessoas. Do nada, meu amigo passa a cantar: “Lutar, lutar, lutar!”. Começo a me sentir cansada, mas me encanto com a torcida, que grita sem interrupção. São 54 mil pessoas. Distraio-me a olhar o estádio e as pessoas a meu redor. No jogo, nada acontece: a partida termina em 0 x 0. Nenhuma falta grave, nenhum gol. Mas Vinicius me explica: “Não é uma partida de futebol. É o jogo do Galo”. Para mim, não havia diferença. • Colaborou Wilson Luiz de Oliveira


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UMA ALUNA EM ALTA VELOCIDADE Em um dia como piloto de kart, nossa repórter vestida de rosa encarna a Penélope Charmosa em uma corrida quase maluca Palco de diversos campeonatos, competições ou mero lazer, o Kartódromo é o lugar para os amantes da alta velocidade. À primeira vista lembra o famoso “carrinho de bate-bate” ou “carrinho de trombatromba” de um parque de diversões. A diferença é óbvia, a velocidade que o kart atinge é imensuravelmente maior do que o brinquedo. Então, qual a razão de usar um veículo relativamente mais perigoso e custo de utilização mais elevado? Ao longo da reportagem descreverei minha experiência como “piloto de Kart”. Naquela tarde, uma sexta-feira, ensolarada, eu ansiava pela chegada das 17h30min, horário no qual foram agendadas as voltas na pista do Kartódromo Internacional de Betim. Aproveitando uma viagem à cidade de Crucilândia, resolvi fazer essa experimentação antes do passeio. Já imaginava que enfrentaria um congestionamento nas principais avenidas da capital, mas não esperava demorar horas para chegar a meu destino. Neste dia tudo estava contra minha programação, o GPS resolveu falhar exatamente quando procurava a melhor rota para chegar à cidade vizinha. Quase uma hora após sair de casa, enfim encontrei o caminho rumo à aventura. Apesar das intempéries, às 17:40h, trajava meu macacão cor de rosa à espera das instruções para a aula. Para quem se interessa por esse esporte e pelo pequeno “carrinho”, não basta apenas ir a um Kartódromo e sair dirigindo. Primeiramente é necessário se ater de algumas

normas de segurança e dos equipamentos utilizados. Assisti a uma pequena aula de como manusear o veículo e suas restrições. Para garantir a segurança e integridade física, é obrigatório o uso de capacetes, macacão, suporte para pescoço, colete ou protetor de costelas e balaclava (touca para evitar que suor chegue até os olhos).

“Para muitas pessoas dar voltas circulares, sem um destino final, é algo sem sentido. Contudo, duvido que após boas recomendações, você não esteja curioso para vivenciá-las” A experiência de um dia como piloto de Kart foi indescritível. A sensação de liberdade se espalha por todo o corpo, a adrenalina sobe, e a cada segundo se quer mais velocidade. Dentro dele, todos os problemas são esquecidos, não é possível pensar em nada, apenas em correr e ultrapassar seu oponente. Cada milésimo de segundo é precioso, e cada movimento brusco pode ser fatal. Apesar da emoção e vontade de acelerar, é preciso ser prudente, pois uma simples batida em um pneu que delimita a área da corrida, pode trazer sérias e dolorosas consequências. Um atleta dessa modalidade automobilística precisa inicialmente ter coragem, agilidade e principalmente ser apaixonado por grandes velocidades. Estar dentro de um pequeno objeto, próximo ao chão, onde todos os movimentos e ações partem de você e cuja velocidade é de aproximadamente 70 km/h, em uma pista com inúmeras curvas, é surpreendente. Mesmo estando somente

eu na pista, era possível visualizar mentalmente como seria participar de uma competição. Uma satisfação combinada à insegurança das consequências de acelerar ou frear, invadem a mente. É preciso pensar e agir rapidamente, ao mesmo tempo em que todos os hormônios ligados ao prazer, me impedem de encerrar o circuito. Ao passo que se completam as voltas, o medo ao desconhecido desaparece e nem as dores provocadas por estar sentada em um peque-

no carro incomoda. Vários campeões da Fórmula 1 iniciaram sua carreira pelo kart, como Felipe Massa, Michael Shumacher, dentre outros. Comparar esses veículos quanto ao tamanho, velocidade, estrutura, é desnecessário, são muito diferentes. Podemos analogamente assemelhá-los à fase infantil e adulta do ser humano. Na primeira se aprende os valores e conhecimentos que te seguirão por toda a vida, é a fase de aperfeiçoar as técnicas; na segunda

já se possui uma certa experiência e prática, e as consequências dos erros poderão mudar o rumo da vida. A pista na qual foi realizada a inusitada experiência tem 1,1km de extensão. Para percorrer esta distância com aproximadamente 60km/h, gasta-se cerca de 2 minutos. O irônico é que nos horários das 7 horas, 12 horas e 18 horas, de um dia comum na capital mineira, leva-se cerca de 40 min a 1h, para andar os mesmos quilômetros. Esse fato

comprova a carência da mobilidade urbana em BH. Consequentemente dirigir nesses horários no atual trânsito gera estresse e riscos, todos estão sujeitos a acidentes, causados por motoristas imprudentes e desrespeito à sinalização. Para muitas pessoas dar voltas circulares, sem um destino final, é algo sem sentido, perda de tempo. Mas duvido que, após várias respostas positivas e boas recomendações, você não esteja curioso para também vivenciá-las. WILLER FRANCO

Francyne Perácio

Sorridente, corajosa e decidida, a repórter cor-de-rosa prova que o lugar da mulher é onde ela quiser, até mesmo dentro do cockpit de um kart


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JORNAL DAQUI

Abril de 2016 Jornal Impressão

DIVERSÃO COM LIMITES WILLIAM ARAÚJO

Regulamento de conduta do Parque Aggeo Pio Sobrinho, no Buritis, não permite entrada de animais domésticos

William Araújo Warley Carvalho Os 73 parques de BH abrigam diversificadas flora e fauna, e ainda servem como corredores biológicos para que a natureza se reproduza. Não é incomum ver miquinhos, esquilos, tucanos e outros animais, silvestres e campestres, vivendo em algum parque. Nem é raro encontrar visitantes, estimulados pelas paisagens, passeando pelo local com seus pets. Buscar harmonia entre seres humanos e animais é um trabalho árduo e delicado. De um lado, a preservação, do outro, o uso do equipamento público. Leis orgânicas – regras criadas pelos municípios e que não infringem a Constituição – são necessárias para conciliar dever e lazer. Não é à toa que BH abriga nove pautas sobre parques em suas regras municipais.

Após a aprovação da Lei 8.616, de 14 de Julho de 2003 (que abriga o Código de Posturas Municipal), BH passou a ter a normatização dos deveres para boa convivência entre cidadãos, e com a natureza. Tais posturas obrigam aos donos de animais, presos em coleiras ou não, a recolher os dejetos em sacos plásticos, depositando -os em lixeiras. Desse modo, a convivência em parques pode ficar mais agradável. Alguns parques, como o Rosinha Cadar, localizado no Santo Agostinho, considerado, como o que mais recebe animais, puderam ter sua higiene aumentada. Contudo, mesmo com o Código de Posturas, outros tiveram problemas e foram levados a aplicar normas mais rígidas para uso do equipamento público. O Parque Municipal só autoriza a entrada de

animais domésticos de pequeno porte e presos por coleiras. Os responsáveis pelo parque salientam que não podem permitir piqueniques no chão onde animais transitam e defecam. Além disso, animais de pequeno porte, apesar de miúdos, oferecem perigo às crianças quando soltos. Por isso, a prioridade foi manter o ambiente de modo a receber os piqueniques, e não os animais. O morador Rafael diz que proibir a entrada de animais em parques é a ponta de um iceberg. Na verdade, o problema é mais complexo e a prefeitura não é responsável. O respeito e educação têm que partir do cidadão. Por causa de alguns frequentadores que trazem seus animais, passeiam e não recolhem o lixo deixado por eles, os demais foram punidos com a restrição. Já a fototerapeuta

Ana Paula, acha errada a proibição. “Nunca vi ocorrência de cães atacando alguém no parque e lugar de cão não é passeando nas ruas, sujando os passeios. Para mim, as pessoas deveriam usar o local para isso”. Parques como o Aggeo Pio Sobrinho, Jacques Costeau, Bandeirante Silva Ortiz e Conjunto Estrela Dalva, que circundam os bairros Buritis e Estoril, vedaram a entrada de animais e, assim, geraram insatisfação dos usuários. Contudo, mesmo com as reclamações sobre a proibição, são amparados pela portaria 0023/2003. Os demais parques da Regional Oeste permitem acesso de animais, desde que estejam presos à guia por coleira. Pit Bulls precisam usar focinheiras e os donos não devem permitir que acessem jardins, espelhos d’água

e canteiros. Por fim, têm que recolher os dejetos deixados pelos bichos.

Administrar é preciso Parques são ferramentas públicas em que a comunidade pode expressar seus valores e artes. Por isso, dependem de uma gestão atenta. Cada região tem seu próprio Chefe de Departamento, responsável pela Divisão de Manejo e Operações dos parques pertencentes à coordenada geográfica. Edanise Reis, Bióloga, Paisagista e Chefe do Departamento Sudoeste, conta com o auxílio de Maxwell Scher, responsável pela Divisão de Parques do Buritis. Ele reporta a ela problemas, interesses, sugestões e demandas dos parques, como o Aggeo Pio Sobrinho, segundo maior parque de Belo Horizonte, localizado na Regional Oeste, perdendo apenas para o Parque das Mangabeiras.

O Aggeo Pio Sobrinho tem área de 600 mil m², mas seu espaço de convivência é reduzido, de acordo com normas internas do equipamento público. Nele, podem ser organizados passeios guiados em trilhas ecológicas, promovendo, ao usuário, uma experiência diferente da tida entre os escorregadores e gangorras do espaço aberto ao público. O parque também permite diversas atividades, solicitados anteriormente à Divisão de Eventos da PBH, em que a comunidade passa de usuária à auxiliadora de ocupação. Edanise diz que o Aggeo abriga diversos públicos, de crianças e babás, durante a manhã, a grupos de idosos que praticam Liam Gong – técnicas e exercícios chineses usados para tratar dores corporais –, no período da tarde. Em função da alta demanda, o parque precisa ficar atento e manter a segurança do usuário. O uso deste tipo de equipamento público, como o Aggeo Pio Sobrinho, é incentivado por escolas que promovem, ali, a Festa da Família. Também aparecem grupos que organizam as festas de aniversários no ambiente público. Todos, é bom que se diga, com prévia autorização. Com a aprovação da Divisão de Eventos, usuários podem levar camas elásticas, piscinas infláveis, pula-pulas e outros brinquedos, desde que cientes de que aquele é um equipamento público e não existem áreas privadas. Os brinquedos, aliás, também não podem privar as áreas. Segundo Edanise, a demanda da comunidade dita as regras do parque, mas, na verdade, a harmonia resulta da conduta e do bom senso dos usuários.


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