luiz felipe nascimento 22-03-2020
O teatro dos olhares É engraçada a sensação de sentar pra escrever: você senta, põe o fone, lo-fi hip hop ao vivo, cria seu próprio universo, seu transe. E a partir dali todo ruído da sua respiração e dos seus pensamentos, todo esse ruído é completamente individual, solitário. Seu. ... Primeiro Ato Atores nas coxias, prontos para entrarem em cena. Observam. É fundamental que observem. Sua movimentação estará em perfeita sincronia com cada pensamento dos atores que já estavam no palco, dali a poucos segundos. É fundamental que observem. Remontam em pequenas frações de piscada, tudo aquilo que já se construiu desde o início da peça. O roteiro. As falas. Os temas. As atmosferas. Tudo isso para que enfim: entrem em cena e atuem. Uma atuação que pode ser singela ou grandiosa, mas que no contexto da ópera estará sendo observada com mesmo cuidado pelo espectador mais atento. É fundamental que observem. Cada fala. Cada movimento. Para enfim, contribuírem com suas falas, expressões, gestos e olhares. É fundamental que observem. É fundamental também que atuem. A mais singela atuação. Segundo Ato Oswald Andrade é figura indissociável deste trabalho. É impossível discutir tropicalismo sem mencioná-lo; Sua obra, em si, será pouco citada, mas suas ideias sustentam um dos conceitos mais importantes do universo que aqui estamos compartilhando. A antropofagia. Expressão filha de seu Manifesto Antropófago, de 1928; O manifesto, em si, é um grande mosaico liberto de muitas amarras literárias. Repito: literárias. Que, substancialmente politizado, apresenta uma visão sobre a relação entre a arte que era produzida no Brasil, naquele momento, e as indribláveis influências europeias. Oswald defende a ideia da deglutição: vamos observar. É fundamental que observemos. Compreender. Associar. E não só as europeias. É fundamental que observemos tudo que está ao nosso alcance e que se possa compreender, associar. Para então digerir. Antropofagia é digestão. Por fim, produzir. Entrar em cena dotado de todas as ferramentas que seu pensamento crítico te permitiu carregar a partir da digestão. Entrar em cena, e atuar. Um breve parêntese. Uma pausa para água, antes do último ato. Muito se fala sobre como o capitalismo tem se mostrado frágil diante da pandemia que imprimiu uma sombra sobre o ano de 2020. Pessoas em casa. Negócios fechados. Ninguém compra. Ninguém vende. Falência. Capitalismo frágil? Talvez a margem do capitalismo, mas é justamente da margem que se alimenta o vigoroso núcleo. O capitalismo se fortalece com a tragédia. O capitalismo dos capitalistas. Que investe rios e mais rios do seu precioso dinheiro na guerra, na tragédia. O capitalismo dos capitalistas poderá ser mais hegemônico e impositor sobre aqueles que estão à sua margem.
Terceiro Ato (se exitoso, curto e objetivo) Bibliografia: Contexto, ideias, reflexões, leituras, falas, interpretações, linguagens serão cuidadosamente observados. É fundamental que se observe. Textos. Vídeos. Documentários. Peças. Estruturas curriculares. Projetos. Filmes. Álbuns. Fotografias. Plantas. Cortes. Elevações. Perspectivas. A perspectiva literária, a musical, a cinematográfica. É fundamental que se observe. Mas é fundamental também que se atue. E a atuação deste trabalho não será tímida, revisionária, é fundamental que se frise. Estaremos ao longo de toda essa nossa discussão construindo uma ideia e, principalmente, o espaço onde essa ideia se manifestará. Transarte e seu templo. Seu templo-oficina. Toda observação cuidadosa nos guiará até a expressão espacial de transarte. O caminho e o fim. Fim?