A iniciativa de criação do Memorial Mestre Nato foi empreendida em 2014, logo após o falecimento do artista plástico paraense Raimundo Nonato (1952 – 2014), a princípio como uma forma de salvaguardar as obras que o artista deixou em seu acervo pessoal. Porém, os entusiastas da ideia, familiares e amigos, entendem que para além dos objetos há uma história, há um desejo, uma potência de vida em cada obra deixada pelo artista, de maneira que uma infinidade de possibilidades se abrem, e expostas reverberam a energia da criatividade, da imaginação e da experimentação que emanavam do próprio Nato. Assim, um grupo de pessoas se reuniu. São amigos, parentes e pupilos de Mestre Nato. Cada qual com sua lembrança, cada qual com sua história, mas todos compartilham do mesmo desejo que Nato mantinha: a transformação pelo fazer artístico e a promoção da cultura em suas diversas manifestações. E é nesta energia que o Memorial Mestre Nato vêm se desenvolvendo, a fim de ser para além de um espaço físico de memória, mas um espaço cultural relevante para a comunidade em seu entorno, o bairro do Guamá, onde Nato nasceu e fez história.
Sobre o Artista
Raimundo Nonato da Silva nasceu em Belém do Pará em 1952. Sua formação artística foi autodidata, porém grande influência obteve do ofício de Alfaiate, apreendido na adolescência e que o levou ao sudeste, na década de 70, a procura de aperfeiçoamento. No entanto, o contato com a atmosfera artística da cidade despertou seu interesse e criatividade levando-o a frequentar o curso de Desenho e Aquarela na Sociedade Brasileira de Belas Artes, no Rio de Janeiro, adentrando o círculo artístico da instituição.
Sua produção abrangeu temas ligados à ‘Cultura Popular’, à negritude e ao lócus amazônida, principalmente, entorno das mitologias, da religiosidade e da sexualidade, estes últimos despertaram críticas que o projetaram no cenário local a partir da década de 1990.
Também realizou incursões pelo teatro, obtendo título de Cenógrafo pela Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará, em 2006. Realizou diversas parcerias onde confeccionou figurinos, cenários e adereços à peça. Além de criar, desde o ano de 2002, os estandartes aos tradicionais cortejos folclóricos do Instituto Arraial do Pavulagem.
Seu último trabalho, a série Sagrado Sincretismo, foi fruto do Prêmio Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística do então Instituto de Artes do Pará – IAP , em 2010, são as obras mais expressivas da linguagem que desenvolverá. Entre Cetins, canutilhos e paetês, Nato revelou a maturidade alcançada nas experimentações estéticas e poéticas desenvolvidas ao logo dos anos de carreira, traduzidas em estandartes que narram o sincretismo afro-indígena-católico na Amazônia.
Em 23 de maio de 2014, Nato faleceu em decorrência de um infarto, deixando ao mundo sua arte e ideais. Assim, um grupo de pessoas se reuniu. São amigos, parentes e pupilos de Mestre Nato. Cada qual com sua lembrança, cada qual com sua história, mas todos compartilham do mesmo desejo que Nato mantinha: a transformação pelo fazer artístico e a promoção da cultura em suas diversas manifestações. E é nesta energia que o Memorial Mestre Nato vêm se desenvolvendo, a fim de ser para além de um espaço físico de memória, mas um espaço cultural relevante para a comunidade em seu entorno, o bairro do Guamá, onde Nato nasceu e
1. Somos um grupo de pessoas que possuem objetivos comuns e trabalham solidariamente para a realização de diversas ações artístico-cultural, agregando esforços múltiplos para salvaguardar a memória e o patrimônio da arte, da história e da história da arte amazônida.
2. A gestão deste grupo é formada por uma rede de colaboradores, eventuais ou não, que dispõem seu tempo e suas competências a fim de torna o Memorial Mestre Nato um espaço físico representativo de cultura e arte à comunidade. Mantemos o respeito por uma gestão horizontal focada na empatia, colaboração e experimentação.
3. O Memorial Mestre Nato pretende se institucionalizar como ponto de memória, porém, atualmente o projeto encontra-se em uma fase embrionária, portanto, um delicado momento de decisões. Estamos trabalhando para que uma trajetória não se apague, mas que se mantenha vida por outros passos.
Missão e objetivos
Nossa missão resvala em trinta anos de produção artística que deve ser resguardada pelo Memorial Mestre Nato a partir de um projeto de musealização do acervo deixado.
Objetivamos a preservação, a pesquisa e a difusão à sociedade da cultural visual, material, ritualística e da memória das comunidades de periferia –termo usual porém inadequado para definir a ocupação da cidade pela população -, como da qual faz parte o bairro do Guamá, onde o artista se estabeleceu com seu atelier, e hoje é sede do projeto memorial.
O Memorial Mestre Nato se apresenta aqui como um coletivo:
Plano de Trabalho (2015/2016)
A partir de parcerias firmadas em 2015 foi possível elaborarmos um Plano de Trabalho, desenvolvimento desde agosto deste ano, que visa as principais ações a serem desenvolvidas até o final do ano de 2016.
1. PROJETO MUSEOLÓGICO ARROLAMENTO
INVENTÁRIO (DECLARAÇÃO / ABERTURA DO PROCESSO / PARTILHA )
PROJETO DE REFORMA (SALA MULTIUSO E ATELIER)
REFORMA I ETAPA
REFORMA II ETAPA
REFORMA III ETAPA
REFORMA IV ETAPA (SEM PREVISÃO)
2. REGISTRO MEMORIAL
ESTATUTO SOCIAL (ELABORAÇÃO)
ESTATUTO SOCIAL (APROVAÇÃO PARCIAL)
ESTATUTO SOCIAL (REGISTRO)
REGISTRO NO IBRAM
3 PROMOÇÃO
SITE (projeto gráfico, criação e lançamento)
EXPOSIÇÃO 2016
CATÁLOGO (CRIAÇÃO E PRODUÇÃO)
CATÁLOGO (LANÇAMENTO)
4 SUSTENTABILIDADE
Campanha de doação: Amigos do Memorial
Elaboração de produtos para venda: Lançamento da Marca Memorial Mestre Nato
Bazar: venda de obras e artesanato de ar�stas diversos
PROSPECÇÃO DE FINANCIAMENTOS DE PROJETOS SOCIO-CULTURAIS E EDUCATIVOS
design natacha barros
Markofontina
Este momento inicial que nos encontramos, de gestação do Memorial, requer um posicionamento de seriedade e compromisso visto à complexidade da missão que assumimos: a de zelar por um trabalho que foi desenvolvido pelo Nato por cerca de trinta anos, enquanto que cada um de nós está iniciando como empreendedor cultural. Acredito que tais substantivos elencados como valores podem agregar mais sentido à “cara” do nosso trabalho. No entanto, tanta seriedade nunca foi perfil do nosso amigo Nato, pelo menos em relação a sua poética.
Memória: um dos elementos recorrentes à iconografia nas obras do Nato é a figura do “Pássaro”. Representado de diversas maneiras, uma é mais comum onde um pássaro encontre-se com as asas abertas que nos remete a ideia de religiosidade, paz; uma segunda forma, mais atraente a meu ver, é o pássaro de duas cabeças encontrado no estandarte de Oba velha. Este ícone pode ser símbolo de mutação ou aberração, neste último vemos na história de Oba uma referência ao seu sacrifício em nome da atenção de Xangô, seu esposo. Acredito que este sacrifício também compartilha o artista quando se dedica aos seus fazeres e em relação a sua imagem no senso comum normalmente associado ao “diferente”, “anormal”.
União e continuidade: estes substantivos desrespeito à capacidade agregadora com que o Memorial pretende se formar. Homem de tantos admiradores e amigos, Nato nos deixa também um legado de parcerias no porvir. Sejam familiares ou profissionais de distintas áreas, são pessoas que atenciosamente procuram contribuir com a conservação, pesquisa e difusão do trabalho do artista. Assim, elementos em círculos estão dispostos de maneira sucessiva e ritmada a fim de provocar a impressão visual de continuidade - à que se pretende o Projeto Memorial - partindo da ideia de que organismos são compostos por unidades que colaboram mutuamente a um determinado objetivo.
Espontaneidade: Referência expressa ao humor e criatividade que vigoravam na personalidade do Mestre Nato e que se fazia presente também na maneira como o artista abordava diversas temáticas em seus trabalhos. Tantas vezes encarado como obsceno, Nato tratava de encobrir qualquer desqualificação com irreverência. Este perfil é representado na marca por meio das fontes escolhidas. Escolho como fonte principal um serifada de ângulos arredondados e sinuosidade na forma (Markofontina), em contrapeso à fonte secundária mais limpas e circulares com percepção na diagonal (Tw Cem MT).