A CENA CULTURAL DE PELOTAS | EDIÇÃO 1 Nº0001 | EXEMPLAR DE ASSINANTE
Conheça a artista pelotense Bruna Britto
MÚSICA O cantor norte-americano Biafran Lion conta sobre sua estadia em Pelotas
GASTRONOMIA Conheça os lanches pelotenses e confira dicas sobre os melhores baurus
ARTE DE RUA Histórias de artistas que têm as ruas de Pelotas como palco
ENTREVISTA A companhia de teatro independente Você Sabe Quem fala sobre sua grande paixão pela arte cênica
SATOLEP
SATOLEP ĂŠ uma revista mensal voltada Ă cena cultural de Pelotas. O prĂłprio nome jĂĄ mostra.
(;63,7 † ,36;(: +, ;9 : 7(9( -9,5;,D A revista busca trazer um novo viĂŠs, um novo olhar para a cidade: o olhar prezando as artes, a mĂşsica, a gastronomia. Sua distribuição ĂŠ feita na cidade de Pelotas e outros municĂpios do estado, alĂŠm de ser veiculada online, buscando levar os nomes pelotenses para todo mundo. Nossas fontes sĂŁo nosso diferencial.
96*<9(46: +(9 =6A , =,A ~8<,3,: (9;0:;(: 8<,  6 (7(9,*,4 5( .9(5+, 4Â&#x160;+0(D Artistas de rua, produtores culturais que ficam nos bastidores, grupos independentes: todos eles tĂŞm lugar na SATOLEP. Cada edição da SATOLEP chega Ă s bancas e Ă s casas apresentando ao leitor reportagens especialmente organizadas para revelar novos artistas, novas culturas e novos sabores que sĂŁo encontrados aqui. A revista preza pela qualidade em seus textos, buscando sempre encaixar uma linguagem de fĂĄcil entendimento.
<,9,46: ,:;(9 79Â??046:D A SATOLEP se orgulha em exaltar todas as formas de cultura que sĂŁo produzidas na regiĂŁo. A cultura de Pelotas MERECE ser mostrada. :)
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RepĂłrteres: AndrĂŠ Pereira Editora chefe: Carolina Ă vila Mariana Argoud Giovanni Branco Editor assistente: Juninho Ebersol LuĂs OtĂĄvio Schebek Mariana Florencio Design e diagramação: Matheus Pereira Mariana Argoud Rafael Mirapalheta Matheus Pereira Yago Moreira
Ă?ndice MĂ&#x161;SICA
ARTE
O lugar de todos os leĂľes 03
Arte Ă flor da pele 13
Batucada: substantivo feminino 05
A arte que vem das ruas 15
A cena eletrĂ´nica em Pelotas 06 Uma Pelotas tambĂŠm do hardcore 07
TEATRO
A valorização da cultura pelotense atravÊs da música 09
Entrevista com a companhia de teatro
GASTRONOMIA Princesa do Sul: cidade do... lanche! 11
VocĂŞ Sabe Quem 19
CINEMA Uma cidade de cinema 23
03 MÚSICA
04 música
O LUGAR DE TODOS OS LEÕES Aspectos culturais transformaram Pelotas no ambiente perfeito para o progresso de Biafran Lion
por Juninho Ebersol Que Pelotas é referência cultural no estado não é novidade para ninguém. Mas você já imaginou a riqueza cultural pelotense atrair artistas internacionais? O norte-americano Biafran Lion, de 36 anos, veio a Pelotas como parte de sua turnê na America do Sul para ficar apenas dois meses. Um mês se passou e ele não pensa mais em ir embora. Nascido na pequena cidade de Saint George, ao nordeste de Las Vegas, na fronteira entre os estados de Utah e Nevada, Mcgill Jefferson Kalu vem de família habituada com a música. Sua mãe e seu irmão são cantores.
“MINHA MÚSICA É ASSIM. REAL, VERDADEIRA.” A música de Biafran fala de amor, paz e união. Prega a liberdade e o respeito pelas diferenças. Mas também é verdadeira. Golpeia e abre os olhos dos ouvintes para a realidade. É através dessa mensagem que ele tem a utopia de mudar o mundo. “O mundo está enfermo. Cada pessoa tem que participar para acharmos uma maneira para curá-lo. As pessoas acham que ‘não é meu problema, é problema do mundo.’ Mas é problema meu, de você, de todos. Eu faço minha canção para isso.”
Ele começou cantando Blues, ainda quando criança, mas aos 14 anos um episódio mudou sua vida para sempre. Foi através de um livro, deixado em sua casa por acidente, por uma amiga de sua mãe, que Mcgill conheceu a triste realidade da República de Biafra. O livro mudou a direção da carreira que se iniciava.
Sensibilizado com a situação vivida pelo país que inspirou seu nome, seu discurso e boa parte de suas canções são contra as guerras e em defesa das crianças - Em Biafra, durante a Guerra Civil, morreram mais de 3 milhões de pessoas. A maioria crianças. Por isso, uma de suas músicas preferidas é “Only a Child.”
hor Os horrores da guerra secessionista entre a Nigéria e o pequeno estado africano desenvolveram um sentimento revolucionário em Mcgill, que desse dia em diante, deixou de lado as letras românticas, incorporou a política e os direitos humanos em seu discurso e se tornou Biafran Lion, o leão de Biafra.
“Only a Child conta a história de uma criança que foi abandonada. E não foi abandonada pela mãe e pelo pai. Foi pelo mundo. Eu não sei como veio a inspiração, mas foi muito forte. Muitas pessoas me chamaram para tocar essa música na Suiça, na Alemanha, na Espanha, em toda a Europa.”
“Quando uma pessoa vê uma criança na rua, jogada no chão, ela não quer ver. Ninguém quer ver tristeza. A pessoa atravessa a rua. Mas tem que abrir os olhos, porque esta criança está sofrendo. Alguém tem que ajudar.”
“Eu não costumo fazer shows pequenos, em bares. Eu gosto de fazer shows abertos, grandes. To formando uma banda aqui. Baixista, baterista, duas guitarras, percussão e backing vocal. Quando tiver tudo pronto, vamos sair para fazer shows fora.”
PELOTAS: UM LUGAR DE GENTE ABERTA Biafran formou sua primeira banda em 1998 e depois de uma carreira estabelecida e shows em estados importantes como Texas, Colorado e Novo México, ele decidiu buscar algo mais. Resolveu vir para a América do Sul, onde, segundo ele, o reggae é melhor valorizado. Durante os últimos dois anos, viajou por Argentina, Uruguai e Colômbia, formou uma banda em cada país, fez apresentações em diversas cidades e veio parar em Pelotas, por onde se apaixonou. Com um discurso inflamado em favor das minorias e falando um espanhol carregado de sotaque, ele declarou amor incondicional pela Princesa do Sul. Dentre as particularidades destacadas por Biafran, além da forte cena cultural, a recepção calorosa dos pelotenses chamou a atenção do cantor. “Pelotas é muito boa. É uma cidade tranquila de pessoas muito boas. Eu nunca havia encontrado um lugar tão tranqüilo, que todo mundo te abrace e queira falar com você. Fui muito bem recebido aqui.” Ele veio pra cá sem conhecer ninguém, assim como em todos os outros lugares onde visitou na América. Mas só em Pelotas ele se sentiu a vontade. Logo conheceu o guitarrista Amadeu Machado, com quem fez amizade e começou a construir sua banda. “Nos outros países que eu fui, é muito difícil para falar com outra pessoa. Elas não falam com quem não conhecem. Mas aqui todo mundo me recebeu. As pessoas gostam de ajudar umas as outras. Teve um dia que eu tava na rua e a banda dele (Amadeu) tava tocando. Eu fui fazer uma música, uma pessoa ouviu minha voz, chegou em mim e disse: ‘eu quero falar com você. Ta aqui meu telefone e meu endereço.’ Pouco depois eu tava fazendo um show no evento dessa pessoa. Foi isso que eu encontrei em Pelotas.” Ao lado de Amadeu, ele já tocou em locais como Mercado Público, João Gilberto, Pizza Show, Diabluras e Teus Primos e em eventos como Mandela Day e Agosto Negro. Todo esse trabalho tem o objetivo de formar uma banda com artistas locais, para em seguida, sair em turnê pelo Brasil.
“Pelotas é muito boa. Eu nunca havia encontrado um lugar tão tranqüilo, que todo mundo te abrace e queira falar com você. Fui muito bem recebido aqui.” - biafran lion “É MAIS QUE UM SHOW, É UM TEATRO” Uma particularidade da carreira de Biafran Lion é o desinteresse pelo formato de álbum. Ele jamais lançou um cd. Todas suas músicas são disponibilizadas online em plataformas como Soundcloud. Hoje, são mais de 50 músicas gravadas. 35 disponíveis na plataforma e mais de 400 ainda por serem gravadas. “Eu gosto de gravar muitas músicas. Fazer um cd é bom, mas a pessoa geralmente está com pressa para vender. Eu não gosto. Eu quero usar meu tempo para fazer uma música. Fazer cd nunca foi algo que eu gostasse.” O objetivo da carreira de Biafran é transformar a vida das pessoas através de espetáculos. Seus shows incorporam elementos além da música. A comunicação se estabelece também com a expressão facial e movimentos. Um teatro, como define. Seu foco é inteiramente nos shows e a estada em Pelotas é uma preparação pra isso. A banda já está ensaiando para sair em turnê em grandes cidades do Brasil. A primeira delas, segundo Lion, vai ser Porto Alegre. De lá, outras grandes capitais devem receber o reggaeiro e sua turma de Pelotas. “Quando eu to escrevendo eu sempre imagino 20 mil, 30 mil pessoas no meu papel. Eu gosto de ver as pessoas curtindo meu show. Eu trabalho todos os dias da minha vida para que as pessoas possam desfrutar do espetáculo.” Biafran Lion não tem previsão para sair de Pelotas. A única certeza é que o curto prazo de dois meses já não faz mais parte dos planos do cantor. Ele até pensa em voltar para Pelotas após as apresentações nas capitais brasileiras e, quem sabe, se estabelecer por aqui. A verdade é que Mcgill Jeferson Kalu encontrou em Pelotas o ambiente perfeito para ser Biafran Lion.
música 06
05 música
BATUCADA: substantivo feminino por André Pereira Em um palco repleto de homens, uma figura no fundo se destaca. As batidas empolgam o público que dança pelo salão. Enquanto alguns - com um olhar um pouco mais apurado - começam a se cutucar e perceber que a responsável pela batucada é uma mulher. O estranhamento inicial dá lugar a admiração. A mulher é Dryka Espinosa, percursionista, 25 anos e dona de um talento ímpar. O primeiro contato com a música veio cedo, aos dois anos de idade Dryka já ensaiava as primeiras batidas na cubana. Já mais velha, com sete anos, acompanhava o pai na banda carnavalesca Ki-bandaço tocando o repenique. De lá pra cá, Dryka se tornou figura carimbada na noite pelotense. Como instrumentista já acompanhou diversos artistas consagrados da cidade, como Toni Konrath, Grupo Renascença, Matheus Almeida, entre outros. Chama atenção pela musicalidade e o ritmo - que não deixa cair - e apesar de estar em uma profissão com uma pr predominância de homens, de acordo com ela, nunca sofreu preconceito: "sempre me trataram com muito respeito. O público também, depois das apresentações sempre elogiam bastante, inclusive pelo fato de ser mulher e tocar percussão. O público me acolhe muito bem."
As principais influências no mundo da música são: Priscila Link e Sivuca."São percussionistas incríveis com técnicas e presença de palco admirável.", comenta Dryka. A musicista, assim como a maioria dos músicos no país ainda batalha para viver da arte, dividindo o tempo com o trabalho no hospital São Francisco de Paula durante à tarde e os shows à noite. Porém, ela não deixa de sonhar com vôos cada vez mais altos:
"TENHO SONHOS SIM, VÁRIOS. O PRINCIPAL DELES É SER RECONHECIDA COMO UMA BOA PERCUSSIONISTA NO MUNDO INTEIRO. TAMBÉM TENHO O GRANDE SONHO EM DIVIDIR O MESMO PALCO QUE A IVETE SANGALO, ACHO QUE PRA TODO PERCUSSIONISTA, ISSO SERIA O ÁPICE. IDOLATRO ELA E OS PERCUSSIONISTAS DELA”. Enquanto os sonhos de Dryka não se realizam ela segue em Pelotas, tocando e surpreendendo quem não está acostumado com o seu talento. Ficou curioso?! No facebook ela posta periodicamente alguns vídeos tocando: https://www.facebook.com/drykaespinosaa.
A CENA ELETRÔNICA EM PELOTAS por Giovanni Branco
Engana-se quem acha que o Brasil é o país apenas do samba, sertanejo, bossa nova e funk. A música eletrônica vem conquistando cada vez mais espaço no país e no mundo. São diversos artistas nacionais e internacionais consagrados que fazem sucesso com o som eletrônico, que possui uma batida bem peculiar, diferente de qualquer outro ritmo, e que escolhe escolheram o Brasil como rota das suas turnês. Aqui no país existem centenas de festivais que celebram a música eletrônica e que reúnem milhares de admiradores e fãs do som de batida única, animado e cheio de personalidade. Entre eles, Tomorrowland, Ultra Brasil, XXXperience e Warung Day Festival são os mais conhecidos dos apaixonados do som eletrônico. Estes festivais recebem os principais DJs – artistas responsáveis por reproduzir as composições e músicas – para animar o público alvo destes eventos. Nomes conhecidos como Matin Garrix, Dimitri Vegas e Hardwell já passaram por aqui e detonaram em suas apresentações. Mas o Brasil também tem seus DJs reconhecidos, como Vintage Culture, Alok, Gust Gustavo Mota, entre outros. Em Pelotas não poderia ser diferente, a cena eletrônica ganha cada vez mais espaço e o número de adeptos ao som vem crescendo de forma gradual. Um dos estilos mais predominantes na cidade é o psy trance, esse estilo que surgiu em Israel tem uma batida rápida entre 132 e 200 batidas por minuto (bpm) e que chama atenção o gr grande público presente nos eventos dedicados a este estilo de som. As raves, como são chamados estes eventos atraem pessoas de diversas partes da região sul e colocam Pelotas como uma das principais cidades que propaga a cena eletrônica no estado, trazendo artistas nacionais e internacionais.
Hoax | foto - divulgação
Gorillowz | foto - divulgação Nesse boom da musica eletrônica surge em Pelotas também um novo projeto de marca e que tem o objetivo de elevar o status da cidade em relação à produção de festas do gênero, a Hoax. Idealizada pelos empresários Mariane Oliveira e Marcelo Zanotto neste evento o som que predomina é das vertentes da house music ao techno e a cada edição que passa ganha um maior numero apreciadores deste novo conceito e estilo de som. A Hoax tem como projetos para o segundo semestre deste ano novas parcerias com festas renomadas e uma pequena tour com a Hoax On The Road, conta entusiasmada a empresaria Mariane Oliveira. Além dessas produções de eventos e festas do gênero eletrônico, a cidade de Pelotas também é protagonista no surgimento de novos artistas do ramo. Alguns nomes como Blazy, Gotinari e Aurora Vortex surgiram aqui e já são destaques em âmbito internacional. A dupla de Djs João Vitor Oliveira e Pietro Rocha de Castro criaram o pr projeto Gorillowz, e vem se destacando não só em Pelotas como em outras cidades da região com o seu estilo de som, o Low. Iniciado na metade de 2016 o projeto da dupla teve referencias de artistas locais como Blazy, responsável por ensinar alguns macetes da produção de musicas. Eles contaram em ent entrevista que sempre gostaram do som eletrônico o que cada um possuía seu projeto, mas decidiram se unir e então surgiu o Gorillowz, que tem como planos para o futuro buscar reconhecimento fora de Pelotas.
mĂşsica 08
07 mĂşsica
/' ?* &). -?. ' ĂŠ'? )?" , ), por Rafael Mirapalheta
Hoje, ĂŠ atravĂŠs de pĂĄgina e grupo no Facebook que eles encontram formas para aproximar a comunidade dela mesma e tambĂŠm das bandas que fazem parte da cena. Entre as principais atualmente, estĂŁo: She Hoos Go, Marinas Found, Codinome HC e Mauscacos.
Desde o inicio dos anos 2000, o hardcore ganhou força em Pelotas formando uma espÊcie de comunidade fechada atÊ mesmo dentro da parcela alternativa da cena musical. A cultura do skate punk, punk rock californiano e das músicas aceleradas, rebeldes e repletas de energia se propagou muito durante os anos 90 e não demorou atÊ reunir os amantes do gênero na cidade. Quem se identificava era de fato fiel à sonoridade e ao ideal de bandas como Millencollin, Lagwagon, Face to Face, Goldfinger, NoFX, Suicide Machines, Satanic Surfers, Bad Religion, Pennywise, entre tantas outras. AlÊm, Ê claro, das pioneiras Ramones, Sex Pistols e The Clash. No entanto, hå mais ou menos uma dÊcada atrås o cenårio hardcore sofreu uma queda brusca, da qual vem se recuperando apenas nos últimos anos. Uma das medidas responsåveis por essa ascensão foi a criação de grupos coletivos que visam impulsionar a cu cultura, como o Hardcore Pride e o AMU (Apoie o Movimento Underground). Esses grupos são de enorme importância para divulgar as atividades das bandas pelotenses e manter acessa a paixão pelo gênero musical na cidade.
Mas a banda de maior consagração se analisarmos os Ăşltimos anos ĂŠ a Suburban Stereotype, que se formou em 2012 e jĂĄ fez shows em diversas cidades do Rio Grande do Sul assim como em Santa Catarina e no ParanĂĄ. A atual formação conta com Augusto Santos no vocal, Maicon Rodrigues e Pedro Bittencourt nas guitarras, Douglas Jardim no baixo e Rodrigo Farias na bateria. Suas mĂşsicas tĂŞm a essĂŞncia do punk rock californiano e a agressividade e crĂtica do ha hardcore de raiz, de bandas como Bad Brains, Black Flag e Dead Kennedys. O baterista Rodrigo Farias, alĂŠm de um dos lĂderes do grupo, ĂŠ um dos mĂşsicos mais ativos da cena em Pelotas. Seu primeiro contato com o gĂŞnero, como nos conta, foi atravĂŠs do game Tony Hawk Pro Skater, cuja trilha sonora influenciou a nova geração. Desde entĂŁo ele esteve certo do que queria para sua vida, passando a estudar o ritmo, a energia, as letras e tudo mais que compunha o hardcore. Hoje, aos 29 anos, alĂŠm de membro da banda, ele ĂŠ dono do estĂşdio A Vapor, que realiza gravaçþes de diversos artistas pelotenses. O estĂşdio A Vapor surgiu a partir de um encontro entre alunos da faculdade de produção fonogrĂĄfica, na Universidade CatĂłlica de Pelotas (UCPel). Rodrigo teve, ao lado dos seus colegas Lauro Maia e Dione Silveira,
a ideia de usar uma das salas de estúdio que estavam vagas dentro da faculdade para juntar equipamentos. A partir daà a ambição do projeto só cresceu, e o que inicialmente tinha foco em ser apenas um estúdio de gr gravação, com o passar do tempo passou a se tornar tambÊm uma gravadora independente que hoje conta com os selos Escåpula Records e Hardcore Pride Records. Ainda que os fundadores do estúdio estejam ligados ao movimento punk e hardcore,
0( +, 6 (9;0: .;(9 (=((<Â&#x201E;3 056/ 56 ,:;Â&#x2013;+06 *64 6 (9;05:D sĂŁo diversos os estilos musicais que jĂĄ passaram na gravadora para realizar os seus trabalhos. Desde arrocha, pagode e mĂşsica regional atĂŠ o jazz, metal e hip-hop. Segundo Rodrigo, a lista de artistas e bandas lançadas ĂŠ imensa para ser descrita, mas entre os principais nomes estĂŁo: Ian Ramil, Thiago Ramil, Paulinho Martins, EsquimĂłs, Musa HĂbrida, Juliano Guerra, Alex Vaz, grupo Kiai, She Hoos Go, Suburban Ste Stereotype, Freak Brotherz, Dontsleep e Zudizilla.
O tempo de gravação com os artistas e a quantidade de trabalhos realizados varia bastante, jĂĄ que estĂşdio atualmente possui estrutura capaz de suportar qualquer tipo de demanda. â&#x20AC;&#x153;Depende muito. Dependendo do trabalho ele pode se estender por meses ou atĂŠ mesmo por anos, como jĂĄ aconteceu mais de uma vez aqui no estĂşdio. Ul Ultimamente vĂnhamos trabalhando simultaneamente em trĂŞs ou quatro discos, mas se for contar trabalhos de locução, singles, trilhas e etc, as vezes rola bastante coisa numa semana sĂł. Outra vezes se mantĂŠm mais intensamente em apenas um ou dois ĂĄlbuns sendo gravadosâ&#x20AC;?, afirmou Farias. Dentre as tarefas do estĂşdio, estĂĄ a de receber os artistas e analisar junto com eles como serĂĄ feito o processo de gravação. HĂĄ aqueles que chegam para ensaiar ou para usar o espaço e os profissionais lĂĄ presentes com o intuito de lapidar suas idĂŠias musicais, de forma a estimular o processo criativo. TambĂŠm existem os mĂşsicos e bandas que chegam pa para gravar suas mĂşsicas jĂĄ prontas visando a melhor produção e captação de ĂĄudio possĂvel. â&#x20AC;&#x153;Se formos pensar em uma banda de formato mais clĂĄssico mesmo, geralmente a galera jĂĄ chega com as mĂşsicas prontas e arranjadas, entĂŁo o processo de produção consiste em fazer uma boa captação do que estĂĄ sendo tocado e se certificar de que estĂĄ saindo tudo como deveria, desde a detecção de problemas no arranjo ou na execução atĂŠ a preocupação com os timbres que compĂľem a textura da mĂşsica, e depois de pronta, tem a parte de distribuição, gestĂŁo e etcâ&#x20AC;?, completou. A grande dificuldade enfrentada pelos que tentam a vida envolvidos com a cena musical focada no hardcore ĂŠ a de se sustentar apenas disso. Para as bandas, hĂĄ os constantes gastos com equipamentos, logĂstica de viagens, membros e as gravadoras. Para as prĂłprias gravadoras, ĂŠ necessĂĄrio a manutenção dos caros equipamentos de estĂşdio. Tudo isto dentro de um cenĂĄrio alternativo, que nĂŁo possui grande apelo e grande procura principalmente em cidades do interior como Pelotas. Por isso, aqueles que se â&#x20AC;&#x153;atrevemâ&#x20AC;? a encarar estes desafios necessitam, ao mesmo tempo, estar envolvido em outros projetos para conseguir ter uma condição financeira que sirva de suporte para eles. Mas para os apaixonados isto nĂŁo ĂŠ problema. Os constantes avanços do gĂŞnero dentro da cidade, por menores que possam vir a ser, jĂĄ sĂŁo combustĂveis o suficiente para eles seguirem em frente com seus objetivos.
Espaços como o Galpão, situado no porto, são fortes aliados nessa luta para manter acessa a chama na cidade. O local promove freqßentemente festas focadas para este público, em que tocam hardcore, punk, e ainda outros gêneros alternativos, como hip-hop e indie rock. AlÊm do mais, Ê palco para eventos de maior visibilidade, como por exemplo a vinda do Ratos de Porão em agosto, uma banda das bandas mais conhecidas nacionalmente. Suburban Stereotype, Estúdio A Vapor e Galpão são entidades de Pelotas que se unem com um só objetivo: manter a cultura hardcore viva. E a alternativa mais eficaz encontrada pelos representantes dessas entidades para propagar o cenårio Ê o da divulgação de seus trabalhos atravÊs das redes sociais. Por isso se você jå faz parte da cena e não quer vê-la perder relevância, alÊm de freqßentar os ambientes, vå para o Facebook e o Instagram apoiar quem estå fazendo este trabalho. Você pode não só estar descobrindo um novo interesse, como tambÊm dando sustento à carreira de centenas de pessoas que vivem desta cultura na cidade. Dessa forma, quem sabe, Pelotas se dese desenvolva para ser conhecida tambÊm como a cidade do Hardcore.
Â&#x201E;Â 6 *64 ( 6+90.6 (90(;,:9 ,,64;@ (7,D <)<9)(5
â&#x20AC;&#x153; , 6 /(9+*69, 5Â 6 -69 ;<+6 5( 405/( =0+(E 7,36 4,56: Â&#x2020; ( ;903/( (90:6:)D , +Â&#x2018;6 +0( (7Â?: +0( ( -(A,9 6 8<, 76::6 7(9( .09(9 ,::( ,5.9(.,4E 79( 8<, ( *60:( -<5*065,D 56 8<, +,7,5+,9 +, 404E +,3, ,< 5Â 6 :(06â&#x20AC;?E G
09 MUSICA
MUSICA 10 por André Pereira
Valdir Robe Júnior - mais conhecido como Manoval - tem trinta e cinco anos de idade, com mais de dez tendo sidos devotados ao fomento da cultura
em
Pelotas
e
no
Brasil.
Um
dos
proprietários do Galpão Satolep, Manoval já produziu mais de duzentos shows na cidade e é, hoje, um dos principais produtores culturais do estado.
No
meio
desses
shows,
Manoval
concorreu ao cargo de vereador da cidade em 2012 pelo PSB, porém não se elegeu. A Satolep traz uma entrevista inédita com ele. Confira:
Por que se envolver com cultura? De onde vem essa vontade de articular eventos e
estudantes voltaram a ter o direito de escolher o seu
Livre, SatolepCircus, circulamos mais de 200 shows
Reitor, e a partir dali então começo esse envolvimento
em Pelotas, muitos inéditos como Júpiter Maçã e
parcial. Após militar no movimento estudantil, passei a
Marcelo Camelo, do Los Hermanos, nos tornando uma
militar na cultura como movimento social, vendo aí a
referência em cultura underground. Paralelo a isso,
possibilidade de luta por uma sociedade melhor
imaginava que teria espaço em algum momento para
através da arte. Isso também responde o porque de
um lugar físico para essas experiências, quando surge
se envolver com cultura.
o convite do Alex Vaz para alugarmos e assumirmos o
De lá pra cá, qual a diferença que tu vês em questão de apoio do governo em iniciativas culturais?
Dj Micha. Vejo o espaço hoje como muito importante,
fundamentais na qualificação as políticas públicas
pois certamente é lembrado como um dos locais
culturais. Poderia citar diversos aspectos, mas lembro
históricos do Underground do sul do Brasil, e que além
dos pontos de cultura como o melhor exemplo. Esse
da parte conceitual, através de parcerias, permite
processo de uma maior importância dada a cultura,
geração de renda através da arte para diversos
também foi visível nas esferas estaduais e municipais.
agentes.
Aqui em Pelotas, por exemplo, lutamos pelo PróCultura, e hoje é uma feliz realidade, com muitos
A relação com a cultura vem desde muito cedo
que traz menos sectarismos que outros campos, por
forte como ouvinte. Acredito que essa vontade de articular eventos e correr atrás dessa pauta vêm inicialmente daí. Lembro de ainda ser criança, ouvir no rádio as músicas Love Street do The Doors e Vida de Cachorro dos Mutantes e ficar Depois,
impressionado.
no
começo
da
adolescência, o Nevermind do Nirvana é histórico pra minha geração. Mas para além desse lance de curtir som, talvez um marco pra produzir e começar na prática o que viria a ser a minha profissão a partir de 2009, foi o período em que fui Coordenador Geral do Diretório Central dos Estudantes da UFPel. Vínhamos de um período de 20 anos sem eleições diretas pra Reitor, e começamos
em
2004
uma
campanha
por
democracia na universidade. Nessas mobilizações, montávamos palcos onde diversas bandas se apresentavam. Isso foi marcante, conseguimos democratizar
a
UFPel
naquele
período,
os
estudantes voltaram a ter o direito de escolher o seu Reitor, e a partir dali então começo esse
A partir daí, colocamos um conceito de diversidade
Os governos Lula e Dilma, na minha opinião, foram
artistas pegando 20 mil reais anualmente pra viabilizar
o estudo musical, sempre tive uma relação muito
linha específica de festivais de heavy-metal e rockroll. sonora no espaço, trazendo parceiros como Dj Helô e
correr atrás dessas pautas?
através da música. Mesmo não prosseguindo com
Galpão do Rock, que vinha com noites eventuais numa
suas produções. Um fator legal do campo cultural, é
Tu já te envolveste em projetos internacionais, como o Grito Rock, certo? Como tu vê essas parcerias com outros países na tentativa de fomentar a cultura?
exemplo se eu tenho divergências programáticas com
Vejo como fundamentais essas parcerias. Atualmente
o PSDB, não impede de realizar ações com a
trabalho num projeto chamado corredor cultural,
Secretaria de Cultura local. Esse governo atual,
conexão nossa com o Uruguai. Isso permite circulação
mesmo eu sendo em tese oposição, não podemos
e trocas entre artistas, produtores, nos conectando
negar que vem lançando inúmeros editais, inclusive
com os países vizinhos e trocando essas experiências.
vários inéditos, como apoio pra circulação de artistas em outras cidades, para uma maior visibilidade de
Em quais projetos estás envolvido agora?
seus trabalhos. Assim, de um modo geral, junto com a
Tô atualmente trabalhando no Galpão, Sofá na Rua,
efervescência cultural de nossa cidade com excelentes
produção do rapper Zudizilla, projeto Cultura Hip Hop
artistas,
em Movimento, Pontos de Cultura Outro Sul e Paralelo
universidade
com
diversas
graduações
relacionadas com cultura e um avanço do poder público, vejo um cenário muito interessante, o que não quer dizer que ainda temos muito que avançar.
Atualmente tu és dono do Galpão Satolep. Qual a importância que tu vês nesse espaço para a cidade?
3.
Tu já te envolveste na política, como foi transitar por esse lado? Fui candidato a vereador, onde na prática visualizei que infelizmente, a política é muito resultado do poder econômico. Temos campanhas em Pelotas para
Sou sócio-proprietário do Galpão desde 2011, mas o
vereador que gastaram 300 mil reais, então os
Galpão atual vem de um contexto anterior que inicia
resultados são baseados nessa estrutura, não no
em 2009. Naquele momento, realizamos a luta pelo
debate de ideias. Assim, não pretendo concorrer, sou
Pró-Cultura, criamos festivais como Primavera Cultura
muito feliz e realizado com meu trabalho na cultura.
Livre, SatolepCircus, circulamos mais de 200 shows
faço possivelmente mais pela minha cidade do que
gastronomia 12
11 gastronomia
Princesa�do�Sul:�cidade�do...�lanche! por Carolina Ávila
As Avenidas Bento Gonçalves e Duque de Caxias, principalmente, abrigavam os tradicionais trailers e quiosques de lanches, o que oferecia uma vasta diversidade de estabelecimentos pertos um do outro. Em 2014, em virtude de uma ação do Ministério Público que exigiu uma melhor reorganização do espaço púb público, esses estabelecimentos foram retirados das ruas e tiveram que se reorganizar para continuarem trabalhando. Alguns seguiram com trailers regularizados (com o tamanho exigido pela Prefeitura de Pelotas e possuir quatro rodas, ser móvel) e com horário para funcionamento. Já outros, decidiram construir ou alugar algum lugar pa para o seu negócio. Um dos que tiverem que se readaptar - embora o trailer principal se localizasse na rua 3 de Maio – foi o Circulu’s. Essa lanchonete ganhou notoriedade em Pelotas e a maionese ficou famosa. Segundo João Fernandes Medeiros (proprietário), no ano de 1991 o seu sobrinho, que possuía um trailer, o convidou para trabalhar fa fazendo lanches. Um mês depois de iniciarem os trabalhos, o sobrinho de João saiu do negócio e vendeu para ele o “automóvel” em 36 vezes. Seu João, como é conhecido, frisa que no início não foi fácil: “Era difícil, vendíamos pouco. Com o passar do tempo, começamos a conquistas os clientes”.
foto: divulgação
Hoje em dia são 79 funcionárias que trabalham no Circulu’s - “As mulheres são mais profissionais”, ressalta o proprietário – inclusive a filha de João, que após muito o pai pedir, assumiu a chefia da tele-entrega. Há mais de 25 anos no me mercado, o Circulu’s Lanches dispõe de três pontos de venda e uma cozinha industrial, esta a qual Seu João gosta de falar: “Está aberta para visitações, mas não pode avisar, tem que aparecer de surpresa”. O segredo do sucesso? Segundo o dono, ele sempre afirmou que ninguém é trouxa, por isso, vendem a mesma qua qualidade do começo até hoje para os clientes. A lanchonete já apareceu em grandes programas, como Mais Você da Ana Maria Braga, Tele Domingo, Programa da Rodaika, Pretinho Básico, etc. Conversador e cativante, João vai todos os dias para sede da Rua 3 de Maio, pois afirma que todos os funcionários são como uma grande família e a alegria deles é o prazer em agradar os clientes.
foto: divulgação
Pelotas: a cidade do doce. É essa a referência que os turistas têm da nossa Princesa do Sul. Já quem mora aqui na cidade, a referência é outra – mais salgada, Pelotas: a cidade do lanche.
Mas não são só os estabelecimentos que já estão há alguns anos no mercado que ganham notoriedade, embora existam inúmeras lanchonetes na cidade de Pelotas, há espaço para novos empreendedores, como é o caso do Sr. Bauru. Os proprietários Denise Amaral Medeiros e Carlos Renato Bento Junior inauguraram o novo de local no dia 4 de dezembro de 2016. Denise, responsável pelos lanches, possui vasta experiência – trabalhou mais de 20 anos em outra lanchonete, na qual possuiu diversos cargos e o último foi de gerente. O sócio dela, Junior, já havia lhe feito uma proposta no ano anterior para montarem um estabelecimento, mas Denise só tomou co coragem há alguns meses “Pensei e decidi que era a hora de ter meu próprio negócio, fazer as coisas do jeito que eu achava melhor”.
13 arte
arte 14
a flor da pele
A expressĂŁo do feminino nas pinturas e tatuagens de Bruna Britto por Mariana Florencio
B runa
Suas obras encantaram tanto que Bruna jĂĄ
B runa ama viajar e levar seu trabalho a
participou de diversas exposiçþes coletivas,
diversos lugares, mas ama ter seu lugar
e a honra de ter sua própria exposição.
em Pelotas. Para ela Pelotas ĂŠ um Ăłtimo
â&#x20AC;&#x153;Des mancharâ&#x20AC;? foi o nome do seu trabalho
lugar culturalmente falando, onde hĂĄ uma
individual, que ocorreu em 2014 na Mercar-
grande movimentação e artistas bons e
do Skateshop, reunindo diversas obras em
focados trabalhando duro. Para quem
aquarela. Para ela esse foi um dos momen-
deseja conhecer mais sobre seu trabalho
tos mais marcantes de sua carreira, â&#x20AC;&#x153;foi
pode conferir sua pĂĄgina no Facebook
muito gratificante e um processo de muito
(facebook.com/brunabrittoartista/),
autoconhecimento produzir uma exposição
passar no seu estĂşdio de tatuagem na Rua
sozinhaâ&#x20AC;?, diz a artista.
VoluntĂĄrios da PĂĄtria, 678.
Britto ĂŠ uma jovem
â&#x20AC;&#x153;JĂĄ estĂĄ muito diferente desde que
artista natural de Pelotas, onde
comecei atĂŠ agora. Direciono o meu
vive e trabalha como pintora e
trabalho
tatuadora. Graduada no curso de
consegue ver a tattoo como outra
artes visuais na Universidade Fed-
forma de arte, tanto para se expressar
eral de Pelotas (UFPel), mas se
artisticamente, quanto para valorizar a
compreende como astista desde a
arte do tatuador.â&#x20AC;?. Sobre ser tatuado-
infância. Seu mundo sempre foi
r a, Bruna diz que a tatuagem que a
coberto por cores, criatividade e
escolheu, que desde seu primeiro
vida, assim como suas artes em
trabalho nĂŁo conseguiu mais parar, se
aquarela e suas tatuagens inspira-
apaixonando por essa forma de arte.
sociedade, ainda mais trabalhando com
A artista entĂŁo divide seu tempo entre
comenta. PorĂŠm, isso nĂŁo ĂŠ motivo para
para
um
pĂşblico
que
jĂĄ
doras. A arte sempre esteve em volta da
a pintura e a tatuagem. Suas artes sĂŁo
vida da artista, mas foi na facul-
inspiradas no mundo feminino, trazen-
dade que Bruna descobriu sua
do toda suavidade e leveza desse
paixĂŁo pela pintura e desenhos
universo. Bruna transmite em sua a
em aquarela. Esse tipo de arte ĂŠ
arte as experiĂŞncias da prĂłpria vida e
expressiva, cheia de cor e vida, e
das mulheres que a cercam. â&#x20AC;&#x153;Sempre
ĂŠ exatamente isso que a obra de
fiz minha arte de forma sincera, e
B runa transmite. JĂĄ a tatuagem ĂŠ
sempre expressei o que sinto, uso a
uma forma mais desvalorizada de
arte como uma forma de â&#x20AC;&#x2DC;botar para
arte, mas que vem crescendo
foraâ&#x20AC;&#x2122; o que estĂĄ dentro de mim.â&#x20AC;?,
muito nos Ăşltimos tempos.
comenta.
Atualmente, Bruna deu uma pausa na pintura para se focar na tatuagem. Ela possui seu prĂłprio estĂşdio na cidade, que demanda muito trabalho para se manter. â&#x20AC;&#x153;NĂŁo ĂŠ fĂĄcil ser autĂ´noma e mulher nessa algo que ainda ĂŠ muito marginalizadoâ&#x20AC;?, desmotivar Bruna. Ela divide seu tempo entre Pelotas e Porto Alegre, onde tatua uma vez ao mĂŞs. Em junho ela passou um mĂŞs em Recife, onde foi convidada para trabalhar. Aos poucos Bruna vai conquistando o mercado, mostrando cada dia mais que a tatuagem pode ser sim uma forma de arte.
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tatuagem feita por Bruna - divulgação
Ă
i
ou
15 ARTE
ARTE 16
cercada de arte e cultura. De um lado há a Praça
Pelotas por ser mais perto do Chuí. A cidade me
Coronel Pedro Osório, cercada de casarões e prédios
encanta.
históricos. Bem próximo há o Mercado Central e
demonstram mais carinho e parecem gostar do meu
toda a sua aura histórica. É na Quinze, também, que
trabalho”, revela Fernandez. Violinista desde os
ruas
está o Café Aquários e seus clientes costumeiros,
nove anos de idade, Micaela participou de cursos
constituem o maior palco para qualquer artista.
conversando e contando histórias do passado e
gratuitos
Há o céu, as árvores, o barulho constante da
impressões sobre o presente. Um pouco mais
estudava em Montevidéu. Muito de seu talento,
rotina urbana e o contato direto com o público.
adiante, ainda na mesma rua, encontramos uma
porém, vem de berço. O pai é guitarrista, professor
As ruas oferecem liberdade e inconstância. Não
loja de histórias em quadrinhos, souvenires e
de música e maestro; assim, a família sempre deu
existem dias iguais quando se trabalha a céu
demais materiais relacionados à cultura popular
suporte para Fernandez expressar o seu talento
aberto. O artista é autônomo, faz seus próprios
moderna. Além disso, podemos encontrar livrarias
através do violino. Já adulta, e dominando o
horários, vende sua arte em diferentes lugares e
abarrotadas de livros velhos e novos. É arte,
instrumento, Micaela deu aulas de violino em sua
apenas busca capturar a atenção das pessoas
passado e presente para todos os lados.
cidade natal. A vontade de ser livre e conhecer o
A Arte Que Vem das Ruas
por Matheus Pereira Muito
se
comenta
que
as
que passam distraídas pelas ruas e avenidas da cidade. Em Pelotas, cidade do interior do Rio Grande do Sul conhecida por ser um lugar artístico e cultural, os artistas povoam o centro
Enquanto os casais passeiam pela Pedro Osório e os clientes do Aquários tecem suas conversas e bebem seus cafés, um som tenta
As
pessoas
oferecidos
na
daqui
são
escola
simpáticas,
pública
onde
mundo, porém, falou mais alto. Fernandez se juntou a namorado, pegou seu filho de seis anos, colocou o violino na mala e veio para Pelotas.
irromper da balbúrdia constante do movimentado
Desde então, Micaela toca nas ruas da
centro de Pelotas. O som do violino muitas vezes é
cidade. Começou no Calçadão, mas resolveu ir para
abafado por alguma gritaria, buzina ou carro de
um lugar mais calmo e, segundo ela, “mais
som, mas todos que chegam perto podem escutar
artístico”: a Quinze. Sobre sua rotina, Fernandez
É comum caminharmos pelas ruas e
as belíssimas peças tocadas pela violinista. Antes de
comenta: “Não há rotina. Cada dia é diferente.
passarmos por uma “estátua viva”, por exemplo.
podermos conversar com a artista, esperamos que
Venho pra cá em horários diferentes e saio em
Na preocupação e correria do dia a dia, não
ela terminasse o número que executava naquele
horários diferentes. Se chove, não trabalho.” Ainda
pensamos que aquela pessoa, com o corpo
momento. Tratava-se de Por Una Cabeza, tango de
assim, Fernandez diz que o trabalho nas ruas é
pintado e executando movimentos ensaiados,
Carlos Gardel. Ao terminar de tocar, a violinista
fascinante. “As pessoas se encantam. O contato é
está ali trabalhando, buscando dinheiro para
balança os braços cansados e sorri para um senhor
excelente. As ruas proporcionam uma proximidade
sustentar a si mesmo e, talvez, uma família
que levanta de um banco e aplaude de pé o belo
com o público que o teatro não oferece”.
inteira. Os artistas, além de tornarem a cidade
tango que acabara de ouvir.
da cidade com cor e música. Em cada cantor há uma história; em cada pintor, palhaço ou malabarista, há um passado.
mais bonita, buscam um lugar ao sol, uma
Micaela, então, demonstra seu amor à arte:
Micaela Fernandez, a violinista, agradece o
“É o que amo fazer. Não faço pelo dinheiro, embora
carinho e o punhado de moedas que recebe de dois
ele seja bom. Faço porque gosto”, afirma. A vontade
ou três transeuntes. Todos que puderam presenciar
de conhecer o mundo continua e, por isso, Micaela
aquele momento e escutar aquela canção sabem
embarca com a família para Santa Catarina ainda
que
são
este ano. Ela espera obter lá o mesmo carinho e
suficientes, não pagam o valor merecido. Mas as
sucesso que conquistou aqui. Pelotas lhe trouxe
ruas são injustas e Por Una Cabeza não deve ter
felicidade, amigos, dinheiro, aprendizado e uma
levado mais de três reais. Ao cumprimentar, Micaela
filha.
já denuncia: ela não é brasileira. O sotaque abre
setembro. A menina nasceu em Pelotas e pode ser
A Rua XV de Novembro (Quinze, para os
diversas possibilidades: seria argentina? Chilena?
considerada
pelotenses) encontra-se em um de seus dias
Uruguaia? “Montevidéu”, ela responde. Uruguaia,
Micaela,
habituais. As pessoas que buscam fugir da
afinal.
“cidadãos do mundo”.
oportunidade para viver fazendo aquilo que amam. No intervalo entre uma música e outra, entre um quadro e um número de dança, buscamos conhecer um pouco sobre alguns dos artistas de rua de Pelotas.
Argentino o Uruguayo?
aglomeração e barulho do famoso Calçadão acabam atalhando pela Quinze. A rua parece cercada
as
poucas
moedas
recebidas
não
Fernandez conta que veio para Pelotas em março deste ano e o encanto foi imediato. “Escolhi Pelotas por ser mais perto do Chuí. A cidade me encanta.
As
pessoas
daqui
são
simpáticas,
Micaela ganhou seu segundo brasileira,
porém,
ou
melhor,
quer que seus
filho
em
pelotense.
filhos
sejam
17 ARTE
ARTE 18 10
O Outro Lado da Rua Nem todos sentem o mesmo encanto por
sobreviver vendendo seus discos no Centro. “Passei
Pelotas como Micaela. Lúcia da Silva e Francisco
duas semanas sem vender nenhum disco. Teve um
Teixeira, o conhecido Casal Show do Calçadão,
dia que vendi sete, mas é muito raro”, revela José
criticam a organização da cidade e o desrespeito
Gomes. O músico diz amar seu ofício, mas confessa
com que os artistas de rua são tratados. Os
que a música nunca foi uma boa fonte de renda.
problemas já começam no próprio local de trabalho,
Durante a vida fez inúmeros serviços rápidos por
onde os artistas disputam uns com os outros pelo
encomenda (os chamados “bicos”), foi sapateiro,
melhor espaço do Centro. “Nós ficávamos em um
mas nunca abandonou a música. Ao fim da
ótimo lugar, mas emprestamos para outro artista
conversa, onde se abriu e contou um pouco de sua
ficar por uns dias. Quando voltamos para reaver o
história, Gomes retira do bolso um punhado de
local, ele não quis sair. Perdemos o ponto”, revela
cartões e nos entrega: “Liguem caso queiram um
Lúcia. As críticas continuam: “É só em Pelotas que
show. Mateada, aniversários, festas em geral. De
encontramos dificuldade. Estou há 13 anos no
graça”. A última palavra escancara a maior realidade
Calçadão,
nos
de todas: muitos dos artistas que labutam nas ruas
apresentamos nas ruas de outra cidade, o retorno
não querem nosso dinheiro, apenas mostrar a sua
das pessoas é ótimo, aqui, ninguém se importa”,
arte e capturar nossa atenção.
e
é
muito
difícil.
Quando
conta Lúcia. embarca com a família para Santa Catarina ainda
Sobre o retorno financeiro, o casal diz que
este ano. Ela espera obter lá o mesmo carinho e
já passaram por dias melhores. Hoje, o casal chega
sucesso que conquistou aqui. Pelotas lhe trouxe
a R$ 200 por semana que deve ser dividido, claro,
felicidade, amigos, dinheiro, aprendizado e uma
em duas partes iguais (Micaela, a violinista, por
filha.
Micaela ganhou seu segundo
filho
em
setembro. A menina nasceu em Pelotas e pode ser considerada Micaela,
brasileira,
porém,
ou
melhor,
quer que seus
pelotense.
filhos
sejam
“cidadãos do mundo”. O único medo que Fernandez sente da nova empreitada é que os catarinenses não entendam o que ela diz devido ao seu sotaque carregado. Ela espera, porém, que todos entendam que ela é uruguaia, e não argentina: “Todos perguntam: argentina ou uruguaia? Uruguaia, claro!”, comenta Fernandez.
“Os
argentinos.
O
brasileiros mundo
todo
não não
gostam
de
gosta
de
argentinos!”, caçoa. Micaela sorri, agradece e retira
“É o que amo fazer. Não faço pelo dinheiro, embora ele seja bom. Faço porque gosto” -Micaela Fernandez
exemplo, diz arrecadar R$ 500 por semana). As esperanças de melhora parecem ter acabado. Segundo o casal, personagens são criados e as apresentações renovadas de tempos em tempos, sempre buscando inovar e chamar a atenção do público. Ainda assim, o retorno não tem agradado. Se Micaela, a violinista, viajará para outra cidade para conhecer o restante do Brasil, o casal garante que irá para outro lugar simplesmente para deixar
Pelotas.
Piratini
e,
principalmente,
Rio
Grande, estão entre os objetivos dos artistas. Já para José Gomes, músico de Capão do Leão que vende seus CDs em Pelotas, a vida é difícil, mas Pelotas é uma das melhores cidades para
o violino de uma pequena caixa. Ela começa a tocar.
ser um artista de rua. Gomes alega ter 60 anos de
Os casais passeiam pela Pedro Osório, os clientes do
carreira. Diz ter trabalhado na adolescência com
Aquárius conversam e tomam café e o som do
Lupicínio Rodrigues, conhecido diversos músicos e
violino de Micaela tenta achar espaço no meio de
feito inúmeros shows. Hoje em dia, porém, depois
toda a confusão do dia a dia comum e urbano.
de um severo problema de visão, Gomes tenta sobreviver
“É só em Pelotas
que encontramos dificuldade. Estou há 13 anos no Calçadão, e é muito difícil. Quando nos apresentamos nas ruas de outra cidade, o retorno das pessoas é ótimo; aqui, ninguém se importa” -Lúcia da Silva
teatro 20
19 teatro
O curso de Interpretação com data de estreia do espetáculo para o dia 25 e 26 de novembro.
f | ~ | ~ | | | *
Você alguma vez já pensou em resgatar um antigo sonho de infância e apostar todas as suas fichas para torna-lo realidade? Ousado, né?! Mas foi exatamente uma atitude como essa que inspirou um grupo de nove atores a investir na sua grande paixão e criar a companhia pelotense de teatro independente Você Sabe Quem. No dia 1º de julho de 2013, durante o espetáculo “A Lição” de Eugene Ionesco, os amigos Aline Cotrim, Damaris Cogno, Diego Carvalho, Eduarda Bento, Evelin Suchard, Iago Mattos, Marcos Kuszner, Mateus Armas e Thalles Echeverry resolveram arriscar tudo e tirar essa ideia do papel. De acordo com Diego, um dos idealizadores, a criação do grupo surgiu justamente do desejo destes atores em fazer a diferença na atividade teatral de Pelotas, onde, além de promover a prática, fosse possível experimentar as diversas linguagens que o teatro pode oferecer e, ao mesmo tempo, estender essas mesmas linguagens e práticas à comunidade. A escolha do nome que iria identificar a companhia não foi nada fácil, foram dias de discussão até alcançar um consenso. O problema é que não poderia ser um simples nome, pois o objetivo era idealizar algo que pudesse representar a multiplicidade que o grupo buscava, mas que também apresentasse de maneira espontânea o pr produzir, o fazer e o ensinar teatro. A partir daí, surgiu a reflexão de que todos poderiam fazer teatro e que o ato de vivenciar e conhecer novas formas de expressão deveria ser tão universal, “a ponto de que não somente eu fizesse teatro, mas inclusive ‘VOCÊ SABE QUEM’.”
por Yago Moreira Atualmente, a companhia desenvolve dois cursos distintos, o de introdução às linguagens teatrais, ministrados por Diego Carvalho e Evelin Suchard e o de Interpretação Teatral, comandado por Aline Cotrim e Thalles Echeverry, todos professores de Teatro. Ao total, participam da companhia 24 alunos, divididos entre essas duas modalidades cênicas. A companhia não conta com patrocínio financeiro. O único apoiador é a Bibliotheca Pública pelotense, que cede um espaço para as apresentações e oficinas. Portanto, para manter as atividades em funcionamento, o grupo busca realizar trabalhos como as próprias oficinas, encenações públicas ou então utiliza recursos próprios. A mensalidade de cinquenta reais, vinda de cada aluno, é destinada para a manutenção do grupo e para as próprias produções que são realizadas pelos cursos. ________________________________________ Quais são os cursos promovidos pela companhia? A Cia já realizou diversos cursos ao longo dos anos, além dos cursos de Introdução às linguagens teatrais e de Interpretação, anteriormente oferecíamos o curso de teatro liquido, onde a ideia era de um curso onde professores e alunos ministrassem juntos as oficinas e exercícios. Outras ideias e modalidades su surgiram, porém por falta de estrutura física e humana permanecemos apenas com as duas oficinas na Bibliotheca Pública.
Qual é o objetivo desses cursos? Quando eles ocorrem? O objetivo do curso de Introdução às linguagens teatrais é de apresentar as linguagens teatrais para quem teve ou não algum contato com o teatro. Passando por três módulos distintos onde o aluno aprende sobre arte, cultura e expressividade corporal, indo para linguagens como Clown, teatro épico e pós dramático até o úl último módulo de interpretação. O curso busca, de forma ampla, apresentar as formas de fazer e compreender teatro. O curso de interpretação busca dar continuidade ao primeiro curso, oportunizando ao transcorrer do ano que os alunos possam realizar um trabalho mais minucioso sobre a prática de construção de uma peça teatral, oportunizando que possam construir, de forma completa, uma peça teatral. Ambos os cursos acontecem, atualmente, nas tardes de sábado na Bibliotheca Pública Pelotense. Existe algum pré-requisito ou qualquer pessoa pode realizar os cursos? Qualquer pessoa com desejo e boa vontade pode participar dos cursos, porém para o curso de interpretação, sugere-se que a pessoa tenha tido algum contato com outro curso previamente, uma vez que o foco é justamente de uma montagem teatral. Também se salienta que, por motivos de organização, a faixa etária das oficinas é de 14 aos 120 anos. Como e quando ocorrem as apresentações das peças promovidas pela companhia? As apresentações das peças acontecem de formas esporádicas, dependendo da demanda e dos editais lançados pelos meios públicos. O grupo tem a tradição de sempre realizar apresentação de uma peça adulta em comemoração ao seu aniversário, em julho, em outubro de uma das peças infantis em cartaz, assim como no dia mundial do teatro. Estas apresentações, quase sempre, são gratuitas. Também realizamos apresentações dos cursos, como no Curso de Introdução, que realizamos 3 mostras de processos, marcadas para o dia 22 de julho, dia 24 de setembro a 2 mostra de processo e a última com data prevista no dia 16 e 17 de dezembro.
Existe alguma linha teatral que a companhia segue ou são ensinadas diversas vertentes dessa arte? Trabalhamos principalmente com a linguagens stanislaviskiana, por abordar basicamente a totalidade do teatro moderno. Porém buscamos experimentar de outras linguagens dependendo da proposta da peça ou mesmo da motivação dos atores e/ou alunos. Autores como Lehmann, Artaud, Bob Wilson, Boal e diversos outros influenciam e muito a estética do grup grupo, porém preferimos trabalhar de forma mais rizomática e liquida, transitando entre eles para, quem sabe, poder descobrir uma vertente artística própria. Como ocorre o processo de escolha das peças que são apresentadas pela companhia? Normalmente trabalhamos com peças autorais, onde as inquietações sociais, políticas e artísticas impulsionam o grupo a buscar dialogar com a sociedade por meio delas. As vezes algum texto lido durante um curso, algum poema ou mesmo noticia servem de disparador para outras buscas, outras escritas, outras artes. Pelotas sempre foi considerada uma cidade expressivamente cultural, principalmente no cenário teatral. Porém, com o passar do tempo, essas atividades foram perdendo força e até mesmo sumindo. Como vocês avaliam essa ausência de fomento em um lugar onde a estrutura não é um problema? Pelotas sempre representou muito belamente sua cultura, porém a falta de investimentos públicos, a falta de apoio dos artistas locais, uns para com os outros, foram minando os poucos trabalhos que ainda restavam na cidade. Os poucos grupos que ainda resistem estavam cansados de lutar sozinhos por arte e cultura. Com o advindo da universidade e do curso de teatro, alguns grupos surgem e vão para além da universidade, compreendendo que, na atual situação brasileira, a cultura é um instrumento de resistência a uma estetização do mundo. Mesmo sem espaço, fazer teatro, é um ato político e ético, por isso, creio que os grupos surgem com força e folego para tentar fazer a diferença e lutar por espaços dignos e pela volta de uma cidade culturalmente bela e diversa, como antigamente.
teatro 22
21 teatro
Â&#x2026; 694(34,5;, ;9()(3/(46: *64 7,Â&#x201E;(: (<;69(0:E 65+, (: 058<0,;(Â&#x201E;Â&#x2019;,: :6*0(0:E 763Â&#x160;;0*(: , (9;Â&#x160;:;0*(: 047<3:065(4 6 .9<76 ( )<:*(9 +0(36.(9 *64 ( :6*0,+(+, 769 4,06 +,3(:D? G '0( 'j &
De que forma você acha que a pråtica das artes cênicas pode influenciar na vida de uma pessoa? A pessoa ao se abrir para as artes, ao se deixar levar por essa potência, jamais voltarå a ser a mesma. Quando a experiência, do teatro, atravessa o sujeito, este transforma-se em outro, não Ê mais o mesmo, não melhor nem pior, mas Ê alguÊm novo que pode ter outras escolhas, outras formas de se portar e ser no mundo. Acho que o teatro tem esta força de permitir este contato com esta experiência potente de impulsionar o sujeito a novas formas de viver. _____________________________________________________________________________________________________________
Aline Cotrim
Recentemente, a companhia participou da I Mostra Pelotense de Teatro Independente. Qual foi a sensação de participar desse evento e o que essa participação agregou para o grupo? Você acha que Pelotas estå vivendo um momento de resgate do passado? A ideia da mostra surgiu de um desejo antigo, principalmente de tentar unir forças com os outros grupos que fazem movimento na cidade de Pelotas. Idealizamos e produzimos esta Mostra com o intuito de que a cidade pudesse compreender estes novos movimentos e, assim como os diversos grupos, pudessem somar forças para que a cidade pudesse ser vista como uma efervescência cultural como antigamente era. Quais são as maiores inspiraçþes para o trabalho desenvolvido na companhia? A Cia tem diversos autores, dramaturgos e pensadores do teatro clåssico e contemporâneo que perpassam e auxiliam o grupo a se inspirar. Grupos como Terreira da Tribo e Nelic de Porto Alegre, o Oficina Uzina Uzona, do ZÊ Celso, Eugenio Barba, Bob Wilson e diversos outros servem de inspiração e referência para o grupo.
Na cidade de Pelotas sempre lembramos dos trabalhos produzidos pelo TEP, Cia Cem Caras e Cia Pelotense de Repertorio, porÊm, os grupos que impulsionaram a VSQ a modificar este cenårio da cidade são os antigos grupos da cidade como a Cia Aurora de Teatro e Cia Informal de Teatro. Se você pudesse definir o teatro em uma palavra, qual seria? E por quê? Potência. Pois dela que surge tudo, desta potência de criar mundos, vidas, de pegar um vazio e deste vazio poder preencher e produzir novas relaçþes, novos cuidados, novas pråticas, novas formas de ser no mundo e de ser. Acredito no teatro não como algo pronto e acabado, mas como algo em constante, efêmero, que tudo pode transformar. Como você deseja ver o teatro daqui a dez anos, em Pelotas? Que não apenas o Sete de Abril esteja aberto, mas que exista um centro cultural onde os grupos possam realizar oficinas, conversas e apresentaçþes, que seja referência não somente no estado, mas no mundo inteiro, como um local onde diversos grupos transformam vidas pela arte.
Iago Mattos
Damaris Cogno
Marcos Kuszner
Diego Carvalho
Eduarda Bento
Mateus Armas
Evelin Suchard
Thalles Echeverry
23 CINEMA
CINEMA 24 O mesmo acontece no cinema do Shopping
Cinema, no final, é um negócio. As opções são
Pelotas. Para a gerência do lugar sempre haverá
diversas:
público. A dificuldade é saber como agradá-lo. A
dublados, legendados, 3D, promoção, pipoca e muito
questão dos filmes dublados e legendados é uma das
mais. Quem curte uma opção diferenciada ainda há o
mais polêmicas. A equipe, por exemplo, joga filmes
Cine UFPel, que realiza exibições especiais com
legendados para o turno da noite, o que gera
programação predefinida.
reclamações por parte daqueles que só têm a tarde livre. Já as cópias dubladas são mais procuradas, mas afastam completamente aqueles que procuram uma experiência mais pura, com som original e texto mais fiel.
tem
salas
pequenas,
grandes,
filmes
Agora, no início do inverno, muitos talvez prefiram ficar em casa, no conforto e calor de seus lares. É bom saber, entretanto, que os cinemas estarão lá, em seus devidos lugares, sempre que quisermos retornar. Como uma segunda casa.
No meio da briga, as salas de exibição tentam agradar todos os públicos, mesmo que isso seja impossível. Os lançamentos, por exemplo, não são decididos pela equipe local. Quem define o que entra e sai de cartaz é uma equipe específica para isso que envia os filmes selecionados para cada cidade. O Quem conheceu Pelotas há algumas décadas
digitais. A tecnologia 3D também chegou na intenção
sabe que cada bairro tinha uma ou mais salas de
de inovar e trazer as pessoas que acabaram migrando
cinema. Vários eram os espaços onde a população
para a forte concorrência que surgiu há alguns anos.
podia desfrutar dos mais diversos exemplares do audiovisual. Com o tempo, as salas foram entrando em extinção e grandes cinemas foram fechando as portas, deixando prédios abandonados ou nas mãos e outros negócios. Onde antes havia o Cine Capitólio, um dos maiores cinemas da cidade, hoje existe um estacionamento de veículos.
Calçadão central, uma enorme rede de cinemas inaugurava mais uma de suas filias. O Cineflix variedade maior de filmes, além de maior rapidez nas estreias. Além disso, investiu em cinco grandes salas
desde o
surgimento
das
em exibição, a empresa não exibirá esse gênero no futuro.
De um lado uma enorme franquia de cinemas...
situações foram equilibrando.
Espaço para todos
dividem a atenção do público. Um é o CineArt, o mais antigo da dupla, que tenta conquistar mais público através de uma mudança radical.
Conversando com os gerentes de ambos os cinemas, a resposta é uma só: ainda há público e espaço para o cinema. Para os proprietários do
Localizado no centro da cidade, no terceiro
CineArt, é cada vez mais difícil convencer as pessoas a
andar de um pequeno centro comercial, o CineArt
saírem
tenta vencer a concorrência e as adversidades do
plataformas de streaming, downloads, TV a cabo e
negócio ao tentar cada vez mais melhorar os serviços
muitas outras opções, sair do conforto do lar pode ser
prestados ao público. Depois de ano exibindo filmes
a última escolha de uma família. É por isso que é
em película, a gerência finalmente trocou todo o
preciso inovar em conforto, novos filmes, variedades
sistema
nas guloseimas à venda e, claro, nas promoções.
para
não procura por filmes de terror quando estes estão
concorrência parecia desleal, mas com o tempo as
interesse o público. Em Pelotas, hoje, dois cinemas
exibição
mercado. Em outras palavras, se o público pelotense
Shopping Pelotas acabou conquistando com uma
tecnologias e pirataria até a simples perda de
de
certamente leva em conta o histórico da cidade e o
de exibição com conforto, projeção digital e em 3D. A
As explicações para o fechamento de cinemas são inúmeras e vão
No Shopping Pelotas, pouco mais distante do
processo não é inteiramente conhecido, mas a seleção
modernos
projetores
digitais. A tecnologia 3D também chegou na
de
casa
para
assistir
um
filme.
Com
...de outro, um cinema gratuito e independente.