Curadoria Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen
DAROS CASA DAROS Aberta em março de 2013, a Casa Daros é um espaço de arte, educação e comunicação dedicado à produção contemporânea latino-americana. A instituição ocupa um casarão neoclássico de 1866, em Botafogo, no Rio de Janeiro, e está ligada à Coleção Daros Latinoamerica, que tem sede em Zurique, na Suíça. Além de exposições, a Casa Daros oferece uma série de atividades em sua programação, como oficinas, formação para multiplicadores, encontros com artistas, programação de cinema, performances e apresentações, entre outras, além de uma biblioteca especializada em arte latinoamericana contemporânea, uma loja e o restaurante e café Mira!. DAROS LATINOAMERICA A Coleção Daros Latinoamerica, com sede em Zurique, é uma das mais abrangentes coleções de arte contemporânea latino-americana. Atualmente, conta com mais de 1.200 obras de 120 artistas, trabalhos produzidos desde a década de 1960 até os dias de hoje. A formação da coleção é orientada não pela busca de uma totalidade enciclopédica, mas sim pela importância e pelo poder expressivo e persuasivo das obras de arte, observando sua relevância dentro da produção do artista ou dentro de um contexto histórico. As obras são selecionadas por sua capacidade de evocar níveis de leitura diversos e de aprofundar questões estéticas, sociais e humanas.
SOBRE A EXPOSIÇÃO MADE IN BRASIL MADE IN BRASIL É A PRIMEIRA EXPOSIÇÃO NA CASA DAROS DEDICADA EXCLUSIVAMENTE À ARTE BRASILEIRA.
Ela foi concebida como uma homenagem ao magnífico ambiente artístico do Brasil, do qual nos sentimos muito felizes por poder participar. Esta florescente paisagem artística fornece a base necessária para uma nova análise de outro fenômeno artístico latino-americano apresentado na Casa Daros. Com nossa abrangente coleção de obras de artistas brasileiros, parece perfeitamente adequado dedicar uma exposição exclusiva à arte brasileira em seu país de origem. Esta mostra também está ligada a apresentações individuais desses artistas brasileiros na Coleção Daros Latinoamerica – como Lenora de Barros, Iole de Freitas, Rosângela Rennó e Eduardo Berliner – que já expuseram na Casa Daros. Em Made in Brasil, as obras reunidas de Miguel Rio Branco, Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Antonio Dias, Milton Machado, José Damasceno, Vik Muniz e Ernesto Neto formam um perfil variado. As qualidades artísticas individuais são demasiadamente distintas para oferecer uma imagem geral homogênea; em vez disso, elas representam o extenso âmbito da produção artística brasileira nos últimos anos, que aqui é evidenciado na soberba série de obras individuais. Apresentaremos outros artistas brasileiros da Coleção Daros Latinoamerica – como – Mario Cravo Neto, Nelson Leirner, Cinthia Marcelle, Valeska Soares, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Lygia Clark – em futuras exposições temáticas. Hans - Michael Herzog e Katrin Steffen
CILDO MEIRELES NASCEU EM 1948 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Cildo Meireles é um dos mais influentes representantes de uma geração de artistas que surgiram no Rio de Janeiro no fim dos anos 1960, cuja obra foi uma rebelião contra a ditadura militar no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Esses artistas não estavam mais interessados em uma arte passiva, do tipo encontrado em museus; queriam que ela promovesse um pensamento livre e crítico, convidando à participação ativa dos observadores. Ao longo dos anos, Meireles criou uma obra abrangente e complexa, em que ele examina as relações entre o poder, o controle e os sistemas autoritários. Além de suas preocupações em termos de conteúdo, ele também lida consistentemente com aspectos formais e estéticos. É principalmente em suas amplas instalações que Meireles transmite vividamente a dimensão físico-sensual
de sua arte. Em Missão/Missões (Como construir catedrais), de 1987, ele utiliza 600 mil moedas, 2 mil ossos e 500 hóstias, materiais também imbuídos de um complexo simbolismo próprio. Essa impressionante instalação é uma crítica ao trabalho missionário dos jesuítas no sul do Brasil, no Paraguai e na Argentina nos séculos XVII e XVIII, em que Meireles realça as forças que atuam nos bastidores. “Eu quis construir uma espécie de equação matemática, muito simples e direta, conectando três elementos: o poder material, o poder espiritual e uma espécie de consequência inevitável dessa conjunção, que se repete historicamente, que foi a tragédia.” A linguagem artística direta de Meireles consegue, afinal, confrontar o público com seu condicionamento social, cultural, histórico e político.
Missão/Missões (Como construir catedrais) 1987 Moedas, ossos, hóstias, luz, paralepípedos e tecido preto
CILDO MEIRELES NASCEU EM 1948 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Cildo Meireles é um dos mais influentes representantes de uma geração de artistas que surgiram no Rio de Janeiro no fim dos anos 1960, cuja obra foi uma rebelião contra a ditadura militar no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Esses artistas não estavam mais interessados em uma arte passiva, do tipo encontrado em museus; queriam que ela promovesse um pensamento livre e crítico, convidando à participação ativa dos observadores. Ao longo dos anos, Meireles criou uma obra abrangente e complexa, em que ele examina as relações entre o poder, o controle e os sistemas autoritários. Além de suas preocupações em termos de conteúdo, ele também lida consistentemente com aspectos formais e estéticos. É principalmente em suas amplas instalações que Meireles transmite vividamente a dimensão físico-sensual
de sua arte. Em Missão/Missões (Como construir catedrais), de 1987, ele utiliza 600 mil moedas, 2 mil ossos e 500 hóstias, materiais também imbuídos de um complexo simbolismo próprio. Essa impressionante instalação é uma crítica ao trabalho missionário dos jesuítas no sul do Brasil, no Paraguai e na Argentina nos séculos XVII e XVIII, em que Meireles realça as forças que atuam nos bastidores. “Eu quis construir uma espécie de equação matemática, muito simples e direta, conectando três elementos: o poder material, o poder espiritual e uma espécie de consequência inevitável dessa conjunção, que se repete historicamente, que foi a tragédia.” A linguagem artística direta de Meireles consegue, afinal, confrontar o público com seu condicionamento social, cultural, histórico e político.
Missão/Missões (Como construir catedrais) 1987 Moedas, ossos, hóstias, luz, paralepípedos e tecido preto
ERNESTO NETO NASCEU EM 1964 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Expandindo-se muito além do entendimento tradicional da escultura, as obras e instalações biomórficas de Ernesto Neto estimulam a percepção humana em sua totalidade. Sua atitude artística primária está profundamente enraizada na história da arte e da cultura brasileiras. A mudança básica para uma arte interativa que envolve não apenas todos os sentidos, mas também seu potencial social, já havia sido iniciada nos anos 1960, em particular por Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape. Ao mesmo tempo, o conhecimento indígena e o artesanato tradicional têm um papel importante no cosmo artístico das esculturas biomórficas de Neto, que se baseia em uma visão de mundo
voltada para a natureza, a humanidade e a voltada para a natureza, a humanidade e a sociedade, formando um todo único. sociedade, formando um todo único. Neto não apenas cria proximidade; ele Neto não apenas cria proximidade; ele também transcende limites. No caso também transcende limites. No caso de seus Humanoides (2001/2015), os de seus Humanoides (2001/2015), os visitantes podem e são incentivados a visitantes podem e são incentivados a entrar nas esculturas – tubos de poliamida entrar nas esculturas – tubos de poliamida cheios de bolas de isopor –, penetrácheios de bolas de isopor –, penetrálas, cheirá-las, carregá-las pelo espaço las, cheirá-las, carregá-las pelo espaço e sentar-se nelas, para experimentar o e sentar-se nelas, para experimentar o próprio eu em conexão com a arte. Essa próprio eu em conexão com a arte. Essa acessibilidade corporal-sensual imediata acessibilidade corporal-sensual imediata é uma característica habitual das obras é uma característica habitual das obras de Neto: as pessoas fazem parte da arte, de Neto: as pessoas fazem parte da arte, assim como fazem parte da natureza – assim como fazem parte da natureza – consciência, responsabilidade e respeito consciência, responsabilidade e respeito são requisitos em sua interação. são requisitos em sua interação.
Humanoides 2001/2015 Tule de lycra, tecido, especiarias e bolas de isopor
ERNESTO NETO NASCEU EM 1964 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Expandindo-se muito além do entendimento tradicional da escultura, as obras e instalações biomórficas de Ernesto Neto estimulam a percepção humana em sua totalidade. Sua atitude artística primária está profundamente enraizada na história da arte e da cultura brasileiras. A mudança básica para uma arte interativa que envolve não apenas todos os sentidos, mas também seu potencial social, já havia sido iniciada nos anos 1960, em particular por Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape. Ao mesmo tempo, o conhecimento indígena e o artesanato tradicional têm um papel importante no cosmo artístico das esculturas biomórficas de Neto, que se baseia em uma visão de mundo
voltada para a natureza, a humanidade e a voltada para a natureza, a humanidade e a sociedade, formando um todo único. sociedade, formando um todo único. Neto não apenas cria proximidade; ele Neto não apenas cria proximidade; ele também transcende limites. No caso também transcende limites. No caso de seus Humanoides (2001/2015), os de seus Humanoides (2001/2015), os visitantes podem e são incentivados a visitantes podem e são incentivados a entrar nas esculturas – tubos de poliamida entrar nas esculturas – tubos de poliamida cheios de bolas de isopor –, penetrácheios de bolas de isopor –, penetrálas, cheirá-las, carregá-las pelo espaço las, cheirá-las, carregá-las pelo espaço e sentar-se nelas, para experimentar o e sentar-se nelas, para experimentar o próprio eu em conexão com a arte. Essa próprio eu em conexão com a arte. Essa acessibilidade corporal-sensual imediata acessibilidade corporal-sensual imediata é uma característica habitual das obras é uma característica habitual das obras de Neto: as pessoas fazem parte da arte, de Neto: as pessoas fazem parte da arte, assim como fazem parte da natureza – assim como fazem parte da natureza – consciência, responsabilidade e respeito consciência, responsabilidade e respeito são requisitos em sua interação. são requisitos em sua interação.
Humanoides 2001/2015 Tule de lycra, tecido, especiarias e bolas de isopor
JOSÉ DAMASCENO NASCEU EM 1968 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
A força motriz por trás do trabalho de José Damasceno é a exploração de territórios ainda não mapeados. Ele insiste que o que chamamos de realidade é uma enorme rede de vários universos, dimensões, níveis e camadas, cujas conexões são reveladas de acordo com a posição e a perspectiva de cada um. O artista deseja que sua arte defina percepção, pensamento e espaços em movimento, dando assim continuidade subjetivamente ao legado do movimento neoconcretista dos anos 1950 e 1960, que caracterizaram fortemente a paisagem cultural brasileira. Desde que começou sua carreira, no início da década de 1990, Damasceno transformou objetos e materiais cotidianos em arranjos surpreendentemente poéticos, muitas vezes com um ligeiro viés surreal.
Em Agregado (1999), o artista soldou prateleiras de alumínio comuns de forma que cria um arranjo totalmente novo e expansivo. Ao fazê-lo, submete esses objetos utilitários a uma metamorfose física e intelectual, questionando seu significado, sua forma e sua função. O novo formato escultural, o processo de transformação e o material fonte permanecem assim igualmente presentes – um estado alegre, carregado de energia, entre o caos e a ordem. O título da obra em si é programático, com o termo “agregado” – que geralmente designa uma totalidade composta de partes internamente incoerentes e é discutido em biologia, tecnologia, sociologia e filosofia desde a época de Aristóteles – abrindo aqui uma extensa rede de possíveis referências.
Agregado 1999 Alumínio
JOSÉ DAMASCENO NASCEU EM 1968 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
A força motriz por trás do trabalho de José Damasceno é a exploração de territórios ainda não mapeados. Ele insiste que o que chamamos de realidade é uma enorme rede de vários universos, dimensões, níveis e camadas, cujas conexões são reveladas de acordo com a posição e a perspectiva de cada um. O artista deseja que sua arte defina percepção, pensamento e espaços em movimento, dando assim continuidade subjetivamente ao legado do movimento neoconcretista dos anos 1950 e 1960, que caracterizaram fortemente a paisagem cultural brasileira. Desde que começou sua carreira, no início da década de 1990, Damasceno transformou objetos e materiais cotidianos em arranjos surpreendentemente poéticos, muitas vezes com um ligeiro viés surreal.
Em Agregado (1999), o artista soldou prateleiras de alumínio comuns de forma que cria um arranjo totalmente novo e expansivo. Ao fazê-lo, submete esses objetos utilitários a uma metamorfose física e intelectual, questionando seu significado, sua forma e sua função. O novo formato escultural, o processo de transformação e o material fonte permanecem assim igualmente presentes – um estado alegre, carregado de energia, entre o caos e a ordem. O título da obra em si é programático, com o termo “agregado” – que geralmente designa uma totalidade composta de partes internamente incoerentes e é discutido em biologia, tecnologia, sociologia e filosofia desde a época de Aristóteles – abrindo aqui uma extensa rede de possíveis referências.
Agregado 1999 Alumínio
MIGUEL RIO BRANCO NASCEU EM 1946 EM LAS PALMAS DE GRAN CANARIA, ESPANHA VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL Katrin Steffen
Miguel Rio Branco – que se considera um cidadão do mundo, apesar de viver no Rio de Janeiro desde os anos 1970 – ganhou fama internacional como fotógrafo, mas nunca se identificou totalmente com o meio. Está mais interessado na construção independente e na montagem de conteúdo imagético do que em uma visão documental da realidade: “Quero transformar a realidade em uma declaração poética”. O cosmo de imagens alquímicas saturadas de cores de Rio Branco foi moldado significativamente por sua experiência de cineasta e pintor. Em Entre os olhos, o deserto, de 1997, ele reuniu centenas de imagens, a maioria delas das regiões de San Diego e Tijuana, na fronteira entre Estados Unidos e México, em uma opulenta projeção em
que três séries de imagens em constante alteração aparecem lado a lado. Isso resultou em uma sequência de imagens visualmente maravilhosas, imersas em uma sensibilidade musical semelhante à improvisação do jazz. Exatamente porque a colagem de imagens coreografada de modo impressionante está aberta a numerosas interpretações, ela tem o poder de cativar o público. Na verdade, a força das imagens sombrias e às vezes misteriosas anda de mãos dadas com uma sensualidade sedutora. Entre os olhos, o deserto é um loop de filme de grande densidade existencial, sobre amor e morte, beleza e decadência, o cíclico e o metamórfico. Nada é conclusivo nem inequívoco; tudo está em fluxo, aberto a transformações. Entre olhos, o deserto 1997 instalação de vídeo e som em três canais
MIGUEL RIO BRANCO NASCEU EM 1946 EM LAS PALMAS DE GRAN CANARIA, ESPANHA VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL Katrin Steffen
Miguel Rio Branco – que se considera um cidadão do mundo, apesar de viver no Rio de Janeiro desde os anos 1970 – ganhou fama internacional como fotógrafo, mas nunca se identificou totalmente com o meio. Está mais interessado na construção independente e na montagem de conteúdo imagético do que em uma visão documental da realidade: “Quero transformar a realidade em uma declaração poética”. O cosmo de imagens alquímicas saturadas de cores de Rio Branco foi moldado significativamente por sua experiência de cineasta e pintor. Em Entre os olhos, o deserto, de 1997, ele reuniu centenas de imagens, a maioria delas das regiões de San Diego e Tijuana, na fronteira entre Estados Unidos e México, em uma opulenta projeção em
que três séries de imagens em constante alteração aparecem lado a lado. Isso resultou em uma sequência de imagens visualmente maravilhosas, imersas em uma sensibilidade musical semelhante à improvisação do jazz. Exatamente porque a colagem de imagens coreografada de modo impressionante está aberta a numerosas interpretações, ela tem o poder de cativar o público. Na verdade, a força das imagens sombrias e às vezes misteriosas anda de mãos dadas com uma sensualidade sedutora. Entre os olhos, o deserto é um loop de filme de grande densidade existencial, sobre amor e morte, beleza e decadência, o cíclico e o metamórfico. Nada é conclusivo nem inequívoco; tudo está em fluxo, aberto a transformações. Entre olhos, o deserto 1997 instalação de vídeo e som em três canais
VIK MUNIZ NASCEU EM 1961 EM SÃO PAULO, BRASIL VIVE E TRABALHA EM NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS, E NO RIO DE JANEIRO, BRASIL Katrin Steffen
Soldier (2003), Marilyn Monroe (2004) e a imagem de Che Guevara (2000). Com criatividade inventiva e muito humor, Vik Muniz utiliza a riqueza da história da arte e do imaginário da mídia. A hábil alienação do sujeito é usada para testar nossa percepção e focar a atenção no que uma imagem realmente é. Muniz, que vive basicamente em Nova York desde os anos 1980, adota uma surpreendente variedade de materiais em suas efêmeras construções visuais, que continuam existindo somente em forma de fotografias: o chocolate usado para desenhar o retrato de Sigmund Freud (1997) ou os soldados de brinquedo, diamantes reluzentes e sopa de feijão com os quais ele criou, respectivamente, Toy
Ao dotar a fotografia de forte presença física, Muniz consegue, com sua obra, redefinir o significado do meio. Ele se concentra no envolvimento intenso do público com seu trabalho e no prazer sensual da experiência visual. Usando uma inteligente interconexão de vários níveis de significado, chama a atenção sem esforço para as complexas questões de percepção e memória e para o significado, a representação e a reprodução da informação visual. Ao fazê-lo, coloca em permanente flutuação os limites entre realidade e ilusão, concreto e abstrato, ideia e imagem, meios e fins.’
Toy Soldier 2003 Soldado de Brinquedo Da série Mônadas Cibachrome
VIK MUNIZ NASCEU EM 1961 EM SÃO PAULO, BRASIL VIVE E TRABALHA EM NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS, E NO RIO DE JANEIRO, BRASIL Katrin Steffen
Soldier (2003), Marilyn Monroe (2004) e a imagem de Che Guevara (2000). Com criatividade inventiva e muito humor, Vik Muniz utiliza a riqueza da história da arte e do imaginário da mídia. A hábil alienação do sujeito é usada para testar nossa percepção e focar a atenção no que uma imagem realmente é. Muniz, que vive basicamente em Nova York desde os anos 1980, adota uma surpreendente variedade de materiais em suas efêmeras construções visuais, que continuam existindo somente em forma de fotografias: o chocolate usado para desenhar o retrato de Sigmund Freud (1997) ou os soldados de brinquedo, diamantes reluzentes e sopa de feijão com os quais ele criou, respectivamente, Toy
Ao dotar a fotografia de forte presença física, Muniz consegue, com sua obra, redefinir o significado do meio. Ele se concentra no envolvimento intenso do público com seu trabalho e no prazer sensual da experiência visual. Usando uma inteligente interconexão de vários níveis de significado, chama a atenção sem esforço para as complexas questões de percepção e memória e para o significado, a representação e a reprodução da informação visual. Ao fazê-lo, coloca em permanente flutuação os limites entre realidade e ilusão, concreto e abstrato, ideia e imagem, meios e fins.’
Toy Soldier 2003 Soldado de Brinquedo Da série Mônadas Cibachrome
Marilyn Monroe 2004 From the series pictures of diamonds Cibachrome
Sigmund 1997 From the series pictures of chocolate Cibachrome
Che (Black Bean Soup) 2000 Cibachrome
ANTONIO DIAS NASCEU EM 1944 EM CAMPINA GRANDE, PARAÍBA, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL, E EM MILÃO, ITÁLIA Katrin Steffen
Antonio Dias surgiu no cenário artístico na década de 1960 com obras irônicas de crítica social que refletiam aspectos da pop art. A abordagem existencialista do artista vai muito além de uma mera reprodução do mundo da mercantilização e do consumismo ao incorporar temas como erotismo, sexo e opressão política. Dias trocou o Brasil pela Europa em 1966, durante a ditadura militar. Os paralelepípedos de bronze que trazem as instruções To the Police, de 1968, foram criados quando o artista vivia em Paris e no momento em que os movimentos estudantis na Europa haviam atingido o auge. Em Milão, durante os anos 1970, Dias desenvolveu uma obra predominantemente conceitual, multimídia, carregada de elegância formal, em que ele entremeia questões políticas com reflexões intrinsecamente artísticas e impressões pessoais. Obras como The
Occupied Country e o díptico Environment for the Prisoner: The Day/The Night, ambas de 1970, não devem ser meramente interpretadas no contexto da ditadura militar no Brasil. Precisam também ser vistas em relação a uma transformação estética, geralmente válida, de opressão aberta e encoberta. Os depoimentos artísticos de Antonio Dias nunca são unidimensionais. Ao contrário, ele imbui seus trabalhos de um estado enigmático de incerteza: abertos, dinâmicos, sensuais, irônicos, comprometidos com a situação social, dotados de uma força subversiva. De fato, o artista não quer se amarrar. Com seu grande amor pela experimentação, utiliza uma ampla variedade de técnicas e materiais para revelar cada vez mais níveis de significado. Ao fazê-lo, ele se inscreveu na paisagem cultural brasileira, onde há muito é incluído entre os mais importantes artistas.
A illustraçao da arte/ economia/modelo, 1975/2015 Tecido
ANTONIO DIAS NASCEU EM 1944 EM CAMPINA GRANDE, PARAÍBA, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL, E EM MILÃO, ITÁLIA Katrin Steffen
Antonio Dias surgiu no cenário artístico na década de 1960 com obras irônicas de crítica social que refletiam aspectos da pop art. A abordagem existencialista do artista vai muito além de uma mera reprodução do mundo da mercantilização e do consumismo ao incorporar temas como erotismo, sexo e opressão política. Dias trocou o Brasil pela Europa em 1966, durante a ditadura militar. Os paralelepípedos de bronze que trazem as instruções To the Police, de 1968, foram criados quando o artista vivia em Paris e no momento em que os movimentos estudantis na Europa haviam atingido o auge. Em Milão, durante os anos 1970, Dias desenvolveu uma obra predominantemente conceitual, multimídia, carregada de elegância formal, em que ele entremeia questões políticas com reflexões intrinsecamente artísticas e impressões pessoais. Obras como The
Occupied Country e o díptico Environment for the Prisoner: The Day/The Night, ambas de 1970, não devem ser meramente interpretadas no contexto da ditadura militar no Brasil. Precisam também ser vistas em relação a uma transformação estética, geralmente válida, de opressão aberta e encoberta. Os depoimentos artísticos de Antonio Dias nunca são unidimensionais. Ao contrário, ele imbui seus trabalhos de um estado enigmático de incerteza: abertos, dinâmicos, sensuais, irônicos, comprometidos com a situação social, dotados de uma força subversiva. De fato, o artista não quer se amarrar. Com seu grande amor pela experimentação, utiliza uma ampla variedade de técnicas e materiais para revelar cada vez mais níveis de significado. Ao fazê-lo, ele se inscreveu na paisagem cultural brasileira, onde há muito é incluído entre os mais importantes artistas.
A illustraçao da arte/ economia/modelo, 1975/2015 Tecido
Environment for the Prisoner: The Day/The Night 1970 Ambiente para o Prisioneiro: O Dia/A Noite AcrĂlico sobre tela
History 1968 História Pvc, terra, poeira e entulho
The Eletrician 1986 Graphite on canvas, wood, rubber and wire
To the police 1968 À polícia Bronze
MILTON MACHADO NASCEU EM 1947 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Para Milton Machado, a perplexidade é nossa única certeza. E o artista é aquele que, de alguma maneira, a partir de encontros e desencontros, responde a essa perplexidade contemporânea. Com formação multidisciplinar de arquiteto – nas próprias palavras do artista, ele teve uma formação “bagunçada mesmo”, chegou a cursar um ano de engenharia, tem mestrado em planejamento urbano e doutorado em artes visuais –, Milton Machado é ainda escritor, pesquisador e músico amador. Talvez resida aí a razão pela qual transite com tanta tranquilidade pelos mais diversos meios e materiais: desenho, objetos, escultura, instalações, vídeo, pintura, colagem, fotografia. Na exposição Made in Brasil, vemos um conjunto de desenhos dos anos 1970 chamado Desenhos raivosos (dentre eles Cheiro da corte, 1976), uma obra da série
Conspiração arquitetura (Pulmão, 1976) e um grupo mais recente de trabalhos de grande formato feito de nanquim e bico de pena (dentre eles Oslo, 2011). O artista comenta que esses grandes desenhos são feitos com muito pouca preparação, sem um projeto a priori, o que dá a ele uma liberdade muito grande para encontrar os caminhos que o trabalho vai tomar e acaba produzindo narrativas “improvisadas”, que surgem do próprio ato de desenhar ou de histórias vividas. Em um de seus textos Machado escreveu: Desenho é ... Ponte para atravessar para o outro lado. Alavanca para mover a rocha do outro lado e lançá-la no rio para barrar o ímpeto da correnteza. Jangada para navegar nas águas caudalosas de um rio visando chegar ao outro lado.
Pulmão 1976 Da série Conspiração Arquitetura Tinta sobre papel
MILTON MACHADO NASCEU EM 1947 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
Para Milton Machado, a perplexidade é nossa única certeza. E o artista é aquele que, de alguma maneira, a partir de encontros e desencontros, responde a essa perplexidade contemporânea. Com formação multidisciplinar de arquiteto – nas próprias palavras do artista, ele teve uma formação “bagunçada mesmo”, chegou a cursar um ano de engenharia, tem mestrado em planejamento urbano e doutorado em artes visuais –, Milton Machado é ainda escritor, pesquisador e músico amador. Talvez resida aí a razão pela qual transite com tanta tranquilidade pelos mais diversos meios e materiais: desenho, objetos, escultura, instalações, vídeo, pintura, colagem, fotografia. Na exposição Made in Brasil, vemos um conjunto de desenhos dos anos 1970 chamado Desenhos raivosos (dentre eles Cheiro da corte, 1976), uma obra da série
Conspiração arquitetura (Pulmão, 1976) e um grupo mais recente de trabalhos de grande formato feito de nanquim e bico de pena (dentre eles Oslo, 2011). O artista comenta que esses grandes desenhos são feitos com muito pouca preparação, sem um projeto a priori, o que dá a ele uma liberdade muito grande para encontrar os caminhos que o trabalho vai tomar e acaba produzindo narrativas “improvisadas”, que surgem do próprio ato de desenhar ou de histórias vividas. Em um de seus textos Machado escreveu: Desenho é ... Ponte para atravessar para o outro lado. Alavanca para mover a rocha do outro lado e lançá-la no rio para barrar o ímpeto da correnteza. Jangada para navegar nas águas caudalosas de um rio visando chegar ao outro lado.
Pulmão 1976 Da série Conspiração Arquitetura Tinta sobre papel
Prato de resistĂŞncia (en tenue de ville) 1976 Da sĂŠrie desenhos raivosos Tinta, aquarela, papel impresso e lĂĄpis de cor sobre papel
Cheiro da corte 1976 Da sĂŠrie desenhos raivosos Tinta e aquarela sobre papel
WALTERCIO CALDAS NASCEU EM 1946 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
revigorar nosso pensamento e nossa capacidade de ler entre as linhas. Juntamente com a escultura, o livro-objeto é um meio autocontido de expressão artística que é um componente constante na obra de Waltercio Caldas. Desde os anos 1960 até hoje, ele explora, em intervalos irregulares, os espaços de potencialidade que se abrem entre e além da capa dos livros. Seja prestando homenagem ao poeta Rainer Maria Rilke, na densidade poética da migração noturna de um pássaro, ao lidar com os princípios do mundo da arte, seja dialogando com artistas famosos como Matisse, Velázquez, Giacometti ou Man Ray, Caldas cativa o público com arranjos enigmáticos, sempre novos. Ao chamar a atenção para como realmente enxergamos, ele rompe os padrões preestabelecidos da percepção para, em última instância,
A história da arte e a poesia claramente têm uma função nisso, pois, ao longo dos séculos, ambas contribuíram para estabelecer hábitos de visão e processos de interpretação. Em seu livro Velázquez, de 1996, Caldas apagou todas as figuras dos famosos quadros e borrou as páginas com texto, deixando-as irreconhecíveis com comentários cáusticos sobre a inadequação das reproduções, mesmo as de elaborados livros de arte. Com suas variações desfocadas de Velázquez, Caldas penetra até a essência, libera um espaço e recorre à ambiguidade para refletir sobre as possibilidades e as limitações da representação e da observação.
Para Rilke 1992 Papel, granito, vidro, acrílico e madeira
WALTERCIO CALDAS NASCEU EM 1946 NO RIO DE JANEIRO, BRASIL VIVE E TRABALHA NO RIO DE JANEIRO Katrin Steffen
revigorar nosso pensamento e nossa capacidade de ler entre as linhas. Juntamente com a escultura, o livro-objeto é um meio autocontido de expressão artística que é um componente constante na obra de Waltercio Caldas. Desde os anos 1960 até hoje, ele explora, em intervalos irregulares, os espaços de potencialidade que se abrem entre e além da capa dos livros. Seja prestando homenagem ao poeta Rainer Maria Rilke, na densidade poética da migração noturna de um pássaro, ao lidar com os princípios do mundo da arte, seja dialogando com artistas famosos como Matisse, Velázquez, Giacometti ou Man Ray, Caldas cativa o público com arranjos enigmáticos, sempre novos. Ao chamar a atenção para como realmente enxergamos, ele rompe os padrões preestabelecidos da percepção para, em última instância,
A história da arte e a poesia claramente têm uma função nisso, pois, ao longo dos séculos, ambas contribuíram para estabelecer hábitos de visão e processos de interpretação. Em seu livro Velázquez, de 1996, Caldas apagou todas as figuras dos famosos quadros e borrou as páginas com texto, deixando-as irreconhecíveis com comentários cáusticos sobre a inadequação das reproduções, mesmo as de elaborados livros de arte. Com suas variações desfocadas de Velázquez, Caldas penetra até a essência, libera um espaço e recorre à ambiguidade para refletir sobre as possibilidades e as limitações da representação e da observação.
Para Rilke 1992 Papel, granito, vidro, acrílico e madeira
Giacometti 1997 Livro, metal e carimbo de borracha
Rilke 1996 Papel達o, tecido, madeira e carimbo de borracha sobre algod達o
Estudos sobre a vontade 1975/2000 Papel達o, tecido, fotografias p/b e lat達o
Voo noturno 1967 PapelĂŁo, Papel e Barbante
EXPOSIÇÃO MADE IN BRASIL
Biblioteca Quarta a sábado 13 às 18h
21 mar a 09 ago de 2015 Quarta a sábado 11 às 19h Domingos e feriados 11 às 18h
Conta com um acervo especializado em arte contemporânea da América Latina; publicações de arte e educação, teoria e crítica de arte, uma seção de livros de arte para crianças e vídeos produzidos pela Casa Daros.
INGRESSO MADE IN BRASIL
Contato para pesquisa: biblioteca@casadaros.net
R$14,00 (Entrada às quartas)
Loja
Confira a possibilidade de meia-entrada ou gratuidades
Quarta a sábado 11 às 19h
VISITAS
Domingos e feriados 11 às 18h Restaurante Mira!
Grupo pré-agendados Quartas e sextas 10h30 e 14h - duração 1h30 Visitas à exposição, ações no ateliê de criação e encontros. Voltadas para escolas, organizações sociais e outros grupos interessados. Inscrições: agendamento@casadaros.net Para público espontâneo Aos sábados 16h – duração 1h Visitas à exposição e ações participativas para o público espontâneo.
Às terças-feiras 12 às 16h Quarta a sexta 12 às 17h Fins de semana e feriados 12 às 18h Café Mira! Quarta a sábado 11 às 19h Domingos e feriados 11 às 18h Um menu especial inspirado na exposição Made in Brasil é oferecido durante a mostra. Contato: +55 21 2275-0737
Senhas: uma hora antes
ESPAÇOS PERMANENTES Espaço de leitura O público pode saber mais sobre Made in Brasil por meio dos catálogos e das publicações especialmente selecionados a partir do acervo da biblioteca. Espaço de documentação Materiais de pesquisa com informações, vídeos, imagens e documentos relacionados aos artistas em exposição.
Endereço Rua General Severiano, 159 Botafogo, Rio de Janeiro Contato +55 21 2138-0850 www.casadaros.com.br