50 conteúdos sejam trabalhados de forma articulada à realidade histórica e social e em que o conhecimento seja concebido como emancipação, ao contrário do conhecimento como regulação, em que os conteúdos são naturalizados, fragmentados (da mesma forma que o trabalho historicamente o foi), de maneira a formar o sujeito adaptável à sociedade que aí está.
Educação inclusiva no contexto da sociedade capitalista Para compreender os fenômenos que ocorrem na sociedade, faz-se necessário realizar uma reflexão rigorosamente crítica, a partir da perspectiva histórica. Nesse sentido, a análise da educação inclusiva deve ser enfocada de um ponto de vista não idealista e voluntarista, mas explicitando-lhe as contradições e os determinantes que a condicionam. O termo sociedade ou modo de produção foi assim estabelecido para que não se confunda sociedade com sistema social (o que pressuporia, numa concepção positivista, que ela funciona sempre de determinada forma, naturalmente), mas que, em contrapartida, tenha-se claro que nenhuma sociedade pode existir e se estruturar, a não ser a partir de sua sobrevivência, isto é, de sua produção, de como os indivíduos que a compõem conseguem as coisas para viver (comida, vestimenta, moradia) e pelo pressuposto histórico de que é preciso compreender como ela foi gerada. Ao situar a educação nesse movimento, nesse processo de transformação políticosocial, o ponto de partida é o trabalho artesão que, como afirma Enguita (1989), em A face oculta da Escola, tinha um potencial formativo “teóricoprático”, ao contrário do trabalho capitalista, cujo caráter é deformativo, pois não exercita as capacidades intelectuais do homem. Em 1932, no Brasil, um grupo de intelectuais denominado profissionais da educação, publica o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que, dentre outras ideias inovadoras para a educação do país, trazia os princípios da laicidade, obrigatoriedade, gratuidade e de que a escola deveria ser única e universal. Subjacentes a esses princípios, vinham as ideias apoiadas nos acontecimentos que ocorriam pelo mundo, especialmente na Europa: a Igreja perdendo o domínio sobre o ensino secundário e superior na França de Napoleão, passando-o para o Estado; a revolução francesa tentando resgatar as ideias de que os homens nascem livres e iguais, por meio da obrigatoriedade e gratuidade do ensino, pois, se o fato de o homem ser livre para vender sua força de trabalho havia sido um engodo na sociedade capitalista nascente, então a escola os tornaria iguais, pois todos teriam a oportunidade de acesso a ela. É o ideário liberal constituindo-se em ideologia educacional (XAVIER, 1990). No entanto, o capital não torna gratuita a escola pública, por uma preocupação humana, mas pela preocupação com a produção. Se o capital não garante mais a igualdade social, a escola haveria de promovê-la. Até o século XIX, a preocupação da escola era com a moral e a disciplina. Era necessária uma educação voltada para os bons costumes, com o objetivo de estabelecer a ordem, de converter os súditos em cidadãos. A educação superior estava inteiramente pautada nos clássicos da época, pois isso era um conhecimento livresco, enciclopédico.