Capitalismo dependente, racismo estrutural e educação brasileira: diálogos com Florestan Fernandes

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LIMA, K. R. de S.. (Org.). Capitalismo dependente, racismo estrutural e educação brasileira: diálogos com Florestan Fernandes. Uberlândia: Navegando Publicações, 2020

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FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA E RACISMO ESTRUTURAL: DEBATE SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DA CANNABIS MEDICINAL* Sálvia Karen

INTRODUÇÃO A cannabis sativa ficou popularmente conhecida como maconha no Brasil, mas recebeu vários nomes ao longo do tempo: haxixe, cânhamo, diamba, fumo de negro, fumo d’Angola, erva do diabo, pito de pango, liamba, riamba, cânhamo-da-índia entre outros. Originária da Ásia Central, a cannabis sativa é considerada uma planta exótica. Dado o fato de não ser uma planta nativa do Brasil, há diversas hipóteses sobre a chegada da planta, dentre elas temos a de que a maconha foi trazida pelos negros africanos escravizados e por esse motivo denominada Fumo de Angola. (CARLINI, 2006). Na África, além do uso medicinal, a maconha é considerada uma erva sagrada, fazendo parte de alguns rituais religiosos. No Brasil, o seu uso ritualístico-religioso pôde ser percebido em algumas cerimônias das religiões afro-brasileiras, umbanda e candomblé, no entanto, por conta da proibição e intolerância religiosa, poucos estudos relatam sobre esse uso (MACRAE; SIMÕES, 2000). A partir de discursos morais, racistas e tendo como referência a política de restrição às drogas dos Estados Unidos, a primeira lei brasileira que proibiu o uso da maconha é datada de 1830. Cabe destacar que, apesar da proibição ser direcionada para todos, havia distinção de penas entre brancos e negros, evidenciando que a criminalização da maconha apresenta um caráter racista. Conforme diversos estudos apontam, a sua aplicação medicinal é milenar, ou seja, a maconha nem sempre foi proibida, tendo sido utilizada no tratamento de uma gama de doenças, dentre elas malária, insônia, asma e epilepsia. Na contemporaneidade, os canabinóides1 presentes na planta cannabis sativa têm sido utilizados no tratamento do Mal de Alzheimer, Câncer, Fibromialgia, Mal *

DOI - 10.29388/978-65-86678-36-9-0-f-283-300

1

Canabinóide é um termo utilizado para descrever as substâncias presentes na planta cannabis sativa que ativam os receptores do tipo CB1 ou CB2.

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SOBRE OS AUTORES

8min
pages 301-310

XV FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA E RACISMO ESTRUTU RAL: DEBATE SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DA CANNABIS ME DICINAL Sálvia Karen

30min
pages 283-300

XIV - RACISMO ESTRUTURAL E A POLÍTICA DE COTAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS Michely Mezadri

31min
pages 265-282

XIII PEDAGOGIA DA OCUPAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O PROTAGONISMO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA NAS OCUPAÇÕES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO RIO DE JANEIRO Luana Luna Teixeira

30min
pages 247-264

XII - FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA NOS INSTITUTOS FEDERAIS: O QUE ESTÁ RESERVADO PARA A EDUCAÇÃO DOS “DE BAIXO” Lucília Carvalho da Silva

28min
pages 229-244

XI - DUALIDADE EDUCACIONAL, INSTITUTOS FEDERAIS E TERRITÓRIO: UM DEBATE NECESSÁRIO Larissa de Moura Paquiella

30min
pages 211-228

X UNIVERSIDADE BRASILEIRA E FUNDOS PATRIMONIAIS (ENDOWMENTS FUNDS): NOVOS TRAÇOS DO “COLONIALISMO EDUCACIONAL” E “PRIVATISMO EXALTADO” Viviane Queiroz

35min
pages 187-208

IX - ENSINO SUPERIOR PRIVADO-MERCANTIL E A APROPRIA ÇÃO DO FUNDO PÚBLICO PELO FIES Jerillee Silva de Arruda e Luciana Freitas

35min
pages 167-186

VI - CAPITALISMO DEPENDENTE E A UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA: PARTICULARIDADES E DESAFIOS NO SÉCULO XXI João Paulo Valdo

1hr
pages 111-150

VIII - A IDEOLOGIA BURGUESA NA CONFORMAÇÃO DA UNI VERSIDADE PÚBLICA NO BRASIL Priscila Keiko C. Sakurada

25min
pages 151-164

I DE VICENTE A FLORESTAN: A TRAJETÓRIA DE UM DOS PRINCIPAIS PENSADORES DO BRASIL Paulo Honorato

1hr
pages 25-60

V A CRISE NA UNIVERSIDADE PÚBLICA COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL Lívia Prestes

31min
pages 95-110

IV NOTAS SOBRE O PENSAMENTO EDUCACIONAL DE FLORESTAN FERNANDES Janaína Lopes do Nascimento Duarte

30min
pages 77-94

III DESAFIOS ÉTICOS E POLÍTICOS DA LUTA DE CLASSES E O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL EM FLORESTAN FERNANDES Kátia Lima

27min
pages 61-76

APRESENTAÇÃO Kátia Lima

12min
pages 15-22

PREFÁCIO Plínio de Arruda Sampaio Jr

4min
pages 11-14
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