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O Globo Online – August 12th 2014

A faiança de Delft do século XVII aos nossos dias Delft, na Holanda, é uma pequena cidade abençoada... Lá nasceram Johannes Vermeer, o extraordinário pintor que viveu toda sua vida onde nasceu. Foi lá também que nasceu a maravilhosa faiança holandesa. Desde o século XII Delft era um ativo centro comercial. Começou fabricando e vendendo cerveja; logo seus tecidos ganharam nome e a tecelagem de Delft passou a ser um ponto por onde passavam emissários de várias casas reais. Em meados do século XVII começou a fabricar sua até hoje célebre faiança. Abaixo, um vaso do fim do século XVII, acervo do Museu da Faiança de Delft.

A origem da criação de faiança em Delft é polêmica. Há quem diga que tudo começou com ceramistas italianos que se instalaram em Anvers no século XVI. Ao serem expulsos dessa cidade pelas tropas de Felipe II, foram para Delft, onde iniciaram a fabricação da cerâmica. Há outras fontes que dizem que tudo começou com Abraham de Coog, que se inspirou na porcelana chinesa. O que é fato é que as mais belas peças são as de 1680 a 1740: retratam marinhas, flores, cenas bíblicas, paisagens. É preciso não confundir a faiança com porcelana: os artesãos de Delft, por mais habilidosos e talentosos que fossem não possuíam o caulim, elemento essencial para o fabrico da porcelana. Mas isso não impediu o sucesso das cerâmicas de Delft. No entanto, a mais valorizada ainda era a porcelana chinesa, disso não há dúvida. Quando, em 1647, graves perturbações políticas na China interromperam o comércio da Companhia das Índias Orientais, os artesãos de Delft aproveitaram para expandir a venda de seus produtos e passaram a imitar cuidadosamente a porcelana chinesa. A começar pelas cores, o azul e branco.


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Terrina fabricada entre 1660/1690 - Acervo Rijksmuseum De tal forma foram bem sucedidos que o azul usado passou a ser conhecido com o Azul de Delft. Mas ao olhar as lindas peças no Museu da Faiança em Delft podemos ver que, tal como os chineses, os holandeses também usavam outras cores e há peças com uma bela policromia.

Placa com motivos chineses do século XVIII Em 1742 a produção era de tal ordem que havia seis moinhos de vento na região encarregados de moer os óxidos metálicos e os minerais necessários para a fabricação dos esmaltes coloridos e 17 fábricas que lavavam e preparavam as terras ao longo do canal de Rotterdam. A pasta era uma


O Globo Online – August 12th 2014 mistura de quatro tipos de terras: de uma região da Bélgica, Tournai; de Mullheim, nas margens do Reno alemão; da chamada terra negra e da terra de Delft. Ao serem expulsos por perseguições religiosas, os ceramistas de Delft foram para a Inglaterra e lançaram ali sua faiança que desde então é chamada de Delftware. A única fábrica original que permaneceu em atividade em Delft foi a Royal Delft, que existe até hoje. Outras surgiram ao longo dos tempos e Delft continua a produzir lindas peças com o encantador Bleu de Delft.

As peças mais procuradas eram e são ainda aparelhos de jantar, vasos, estatuetas, bustos, placas, quadros emoldurados em madeira negra que podem ser ovais ou retangulares. Mas o maior sucesso ficou por conta dos azulejos de Delft. Medindo 13 cm ou 14 cm, tinham como motivo central paisagens, flores, animais, cenas da região, marinhas.


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Muitas mansões e palácios europeus, dos séculos XVII e XVIII, ainda possuem paredes e pisos com azulejos de Delft. Os mais conhecidos são o Castelo Nymphemburg, em Munique e o Palácio Menchikov, em São Petersburgo. Na França ainda pode ser admirado o banheiro do conde de Toulouse no Castelo de Rambouillet e o piso do Castelo de Beauregard. Acima, a Sala dos Tártaros, no Castelo de Groussay, com paredes e piso recobertos com mais de 10 mil azulejos de Delft (fabricados em 1960). Abaixo, os Namorados, data deconhecida, estatueta em que o lindo azul de Delft se mostra em toda a sua beleza.


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