Top destinos magazine

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sente a maresia por nina loscalzo

Fotos Latinstock

Maconha, mulheres lindas exibindo-se em vitrines, canais. Se é só isso que te ocorre quando pensa na Holanda, é hora de abrir a cabeça


primeiros trabalhos do artista, que consistem em gravuras inspiradas na arte japonesa, até suas obras mais fascinantes, como Belvedere, Mão com Esfera Refletora e Dragão. Dividida em três andares, a propriedade da mamãe preserva decoração e mobília originais, que dialogam com modernos candelabros de cristal elaborados em proporções enormes com formatos divertidos, como guardachuva e caveira. Nessa mesma vibe de ilusão de ótica, vale conhecer outro patrimônio da capital da paz e da justiça, o Panorama Mesdag, que foi construído em 1881 e é o único panorama do mundo que ocupa seu prédio original. Se você não tem a mais remota ideia do que seja um museu panorama, prepare-se para ter uma surpresa ainda maior quando chegar lá. Depois de cruzar o primeiro andar, o visitante sobe uma escada e se depara com o tal panorama: uma sala circular com a pintura da praia de Haia circundada por areia de verdade e objetos de cena. Pode apostar: você vai ter a real sensação de que está mesmo na praia. Com 20 por 40 metros, a reprodução perfeita tem incidência de luz natural, apesar de a sala ser coberta, e até sons de gaivota. Deixando o mundo dos sentidos

Algumas paisagens parecem verdadeiros cenários futuristas

Foto Victor Maschek / Shutterstock.com

Ao lado, flores em frente ao famoso Tribunal de Haia; nesta página, o inusitado skyline de Roterdã

Foto Shutterstock

Você acha que sabe qual é o grande barato da Holanda, não é? Vamos ter que contar um segredo: essas coisas aí que passaram na sua cabeça são só um pano de fundo para o que há de verdadeiramente mucho loco no país. Porque a Holanda é muito mais do que só fumar maconha de primeira ou ver mulheres peladas nas vitrines de Amsterdã. Na verdade é a arte, em suas mais distintas possibilidades de expressão, o que mais impressiona quem vai até cidades como Haia ou Roterdã. São tantos prazeres estéticos para as pupilas, de pinturas do século 17 à ousadia dos prédios escultóricos, que dá mesmo para pirar, com ou sem necessidade de um aditivo. Nossa viagem começa por Haia, que é a mais pacata das três cidades e tem um curioso entorno formado por prédios baixos de fachadas de tijolo aparente entremeados por praças robustas, rotatórias verdes, parques e mansões dignas de contos de fadas. Num passeio entre uma viela e outra, é comum se pegar pensando que está num filme de época e que o cenário pode desmontar a qualquer momento. Uma certa confusão entre realidade e fantasia é brincadeira frequente em Haia. Não por acaso, a cidade é sede do museu do rei da ilusão, o artista gráfico holandês M.C. Escher, cujos trabalhos incitam o tempo todo o espectador a questionar a realidade e aquilo que você está vendo, refletindo assim sobre a repetição de padrões da natureza e os movimentos cíclicos da vida. Abrigado na residência de inverno que pertenceu à rainha Mother Emma, uma construção do século 17, o acervo traz desde os


a Antiga residência da família real abriga hoje o museu de m.c. escher

Ao lado, reprodução da Mão com Esfera Refletora, de M.C. Escher; à direita, o museu Escher in Het Paleis

e de volta ao mundo da razão, vale conhecer o Gemeentemuseum Den Haag, um verdadeiro antídoto para as loucurinhas óticas da cidade, que conta com a maior coleção de Mondrian do mundo. São mais de 300 peças entre quadros, móveis e maquetes. Obras de Francis Bacon, Sol Le Witt, Monet, Picasso e Cézanne, entre outros, complementam a coleção deste museu contemporâneo. Se você precisar de uma pausa antes ir ao The Mauritshuis encarar a Moça com Brinco de Pérola de frente (o quadro, não a Scarlett Johansson, seu safadinho), nada mais apropriado do que um bom vinho e uma refeição sem pressa à base de frutos do mar. Para isso, a pedida é o restaurante Catch by Simonis, que tem uma vista relaxante para a marina. Seu cardápio oferece ostras fresquíssimas da Normandia que podem abrir o suntuoso prato de frutos do mar – uma torre com três andares cobertos por lagostins, patas de centollas, camarões e mexilhões. Mas voltemos à sedutora Moça com Brinco de Pérola. Ela está prontinha para receber visitas no The Mauritshuis, um dos mais importantes museus da Holanda, que acaba de ser reinaugurado após uma reforma de dois anos.

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Pintada em 1665 pelo holandês Vermeer, a obra, cujo filme homônimo ajudou a deslanchar a carreira de Scarlett Johansson, divide as atenções com cerca de outras 800 telas da mesma época. Quem for conhecer ou revisitar o local, que serviu de residência para Maurício de Nassau – o conhecido estadista e líder da colonização holandesa no Nordeste do

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o gemeentemuseum tem o maior acervo do pintor mondrian em todo o mundo 96

Acima, o visual do Gemeentemuseum, onde fica a maior coleção de Mondrian do mundo. Abaixo, uma das salas de exposição do The Mauritshuis. Na página à direita, vista para a área externa do museu do Escher

Foto Shutterstock

Brasil no século 17 –, deve se surpreender não somente com as pinturas de Vermeer e Rembrandt expostas em salas intimistas, mas também com a nova proposta arquitetônica do museu. Foram investidos ali mais de 30 milhões de euros para torná-lo mais confortável e atrativo. A exposição hoje em cartaz sobre a colonização holandesa no Nordeste brasileiro vale o ingresso. Hora de dar um salto temporal e seguir para Roterdã, o grande centro cosmopolita holandês. Bombardeada pelas tropas de Hitler em 1940, a cidade teve que ser inteira reconstruída a partir de então –, o que fez com que se tornasse um cenário futurista, autêntico paraíso da arquitetura de vanguarda. São construções como as Casas em Cubo, que desafiam as leis da física e zombam da percepção espacial de quem as observa. Sentiu a maresia? Para uma experiência de arquitetura, urbanismo e design na veia, hospede-se no hotel Nhow, que oferece uma das melhores vistas da cidade. Suas suítes de linhas retas e espaços abertos têm enormes janelas de vidro que dão para a magnífica ponte estaiada Erasmus sobre o Rio Nieuwe Maas. Quando o sol estiver se pondo, dê um pulo no barrestaurante do sétimo andar e peça um bom drinque para acompanhar o espetáculo.

Ah! O café da manhã do Nhow também é uma loucura. De iogurtes frescos a ovos preparados na hora ao gosto do freguês, passando por sucos de frutas e vegetais, o leque de opções é de babar. Destaque para a seleção de bebidas detox, que só faltam tirar as rugas. Outro passeio para refletir sobre arquitetura e inovação, a Van Nelle Factory,

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Foto Mediagram / Shutterstock.com


As famosas casas cubo de roterdã parecem desafiar leis da física 100

Nesta página, o visual inusitado das Casas Cubo de Roterdã e a varanda do Hotel Nhow. À direita, ponte estaiada com a vista para o Nhow ao fundo

Foto VanderWolf Images / Shutterstock.com

uma antiga fábrica de tabaco, café e chá, foi tombada como patrimônio mundial pela Unesco em junho deste ano. Inspirada pelos trabalhos de Le Corbusier, um dos papas da arquitetura do século 20, a Van Nelle Factory foi planejada para privilegiar a luz e a ventilação naturais, criando uma atmosfera de pureza e bem-estar capaz de aumentar a produção – conceitos totalmente revolucionários para o momento de sua construção, realizada entre os anos de 1925 e 1931. Com uma vida cultural efervescente, Roterdã convida o viajante a andar por suas ruas e bairros para descobrir monumentos como a audaciosa estação de metrô e ponte de madeira, que lembra um pouco a High Line de Manhattan, em Nova York. Ao cair da tarde, vale flanar pela Witte de Withstraat, rua repleta de bares, casas noturnas e alguns discretos coffeeshops. Antes de se despedir da mais interessante das cidades portuárias, não deixe de jantar no Las Palmas, localizado a alguns metros do hotel Nhow. Um dos restaurantes mais interessantes da cidade tem sua cozinha no meio do salão e uma decoração que mistura cabeças de animais de caça empalhadas a extravagantes arranjos de flores artificiais. O menu, assinado pelo chef Herman den Blijker, segue os preceitos da slow food

e oferece receitas executadas à perfeição, caso da terrine de pato com compota de maçã servida com brioche e da costela de vitela assada com cogumelos, cebola e seu próprio molho. A apenas uma hora de trem, ou 40 minutos de carro, de Roterdã está a almejada Amsterdã, o charme em forma de cidade. Conhecer Amsterdã é descobrir uma curiosidade sobre os holandeses. É que, ao contrário do que muita gente pensa, eles não são necessariamente o povo mais liberal do planeta. Na verdade eles são, sim organizadíssimos. Tanto que organizaram até mesmo aspectos de questões geralmente polêmicas como as drogas ou a sexualidade. Por isso o Red Light District, onde se escolhem garotas de programa nas vitrines, os parques com áreas liberadas para o sexo ao ar livre ou para o consumo de drogas injetáveis. Para alegria dos Bolsonaros da vida, no ano passado surgiram rumores de que novas leis haviam restringido a venda de maconha para turistas estrangeiros. Sabe de nada, inocente. A equipe de reportagem de TOP Destinos, aquela que vai além da notícia, foi checar o que estava acontecendo por lá. E o que descobriu é que com as liberações recentes de venda de maconha em países como Portugal, Uruguai e algumas regiões dos Estados Unidos, os holandeses, que não são bobos, deixaram para lá essa história de perder o dinheiro dos turistas da maconha.

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Para quem nunca ouviu falar, a maioria dos coffeshops de Amsterdã tem pinta de bar universitário, cheios de adolescentes chapadões. A rede Bulldog é mais organizada e limpinha, digamos assim, mas a turma que veste laranja na Copa acha que ir a um Bulldog em Amsterdã é como ir a Paris e comer no McDonald’s. Dentro de um estabelecimento como esse é possível comprar os mais diversos tipos de maconha, chás de cogumelos, cookies psicodélicos ou até mesmo o cigarro prontinho (alguns fornecem até mesmo aqueles cones jamaicanos). Geralmente esses lugares atraem para perto de si uma espécie de “comércio hemp” com as mais variadas opções para consumo ou plantio (indoor ou outdoor) de maconha: cachimbos, estufas, sementes, e até sacos de cocô de morcego para uma adubagem caprichada nas suas plantinhas. Só não vale fumar nas ruas, ok? Lembra do “Tijolinho Construtor”, aquele brinquedo de pecinhas de madeira pintadas como casinhas de tijolinho aparente que você usava para construir cidades? Pois aquela cidade que você construiu na infância existe de verdade e se chama Amsterdã. Você vai ter essa exata sensação ao se deparar com os canais navegáveis, os prédios lindíssimos, as galerias de arte, os museus, as cervejarias e 102

Foto Giancarlo Liguori / Shutterstock.com

amsterdã possui quase 1 milhão de bicicletas, mais de uma por habitante


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Foto Shutterstock

Foto VanderWolf Images / Shutterstock.com

restaurantes desta incrível cidade. Certifique-se de ter sempre um mapa digital ou impresso à mão, pois a cidade gosta de pregar truques e confundir seus visitantes que não raro se perdem. O que não chega a ser um problema, uma vez que essas são as melhores oportunidades para descobrir lugares como o restaurante Simpel, que tem uma comida tão boa que dá vontade de se mudar para lá. O carpaccio com maionese de trufas, a sopa de abóbora com creme de leite e o trio de sobremesas que leva cheesecake de queijo fresco, musse de chocolate e sorvete de baunilha são de dar água na boca! As enormes suítes do The Grand, que já receberam figuras ilustres como os Medici, de Florença, possuem a combinação de decoração atual com a estrutura do edifício antigo de 1578. Mimos como um primoroso café da manhã, amenities da Hermés e docinhos servidos a tarde no lobby são outros atrativos do hotel que conta também com um spa maravilhoso. Como não poderia ser diferente nesse país, Amsterdã está repleta de museus que garantem diversão para um dia inteiro. Comece pelo Rijks, que foi construído em 1865 sobre 80 mil pilares de madeira e reabriu no ano passado após uma grande reforma. Ali, encontram-se mais de 500 anos de arte holandesa, entre pinturas de nomes como Rembrandt e objetos

como porcelanas típicas, casas de boneca e móveis de época. Na enorme praça que abriga os museus, o Stedelijk logo chama a atenção de quem passa por causa de sua estrutura gigante que lembra uma banheira acoplada a um prédio antigo. Completamente surreal, a brincadeira do arquiteto Benthem Crouwel, responsável pelo projeto que modernizou o museu, instiga o observador a entrar no edifício para tentar descobrir como é feita a junção entre as duas partes. Ali dentro há uma boa coleção dos chamados novos clássicos com exemplares que vão do Cubismo ao Expressionismo, passando pelo Pontilhismo. Para encerrar a temporada, visitar o museu do mais crazy e famoso dos pintores holandeses é imprescindível. No Van Gogh Museum, (atenção: lá eles pronunciam “Vanrrôr”), que tem a maior coleção do artista, dá para entrar numa boa onda e se deixar levar pelas pinceladas do mestre do impressionismo para um universo onírico de camadas de cores, formas e texturas. Acredite: ver Van Gogh ao vivo é uma experiência completamente diferente de ver seus quadros em livros de arte. O passeio é a confirmação de que arte e loucura andam juntas, especialmente quando se vai à Holanda.

À esquerda, letreiros do Bulldog, o McDonald’s da maconha de Amsterdã. Acima, o pátio interno do The Grand e, abaixo, o detalhe de um dos quartos do mesmo hotel

as meninas do red light district promovem hoje um divertido flashmob


Ver as obras de van gogh ao vivo é uma sensação absolutamente especial

O mais crazy dos pintores holandeses marca sua presnça até pelos muros das cidades

GUIA TOP

The Grand Hotel. Diárias a partir de 331,08 euros. Reservas: Tel. +31 20 555 3111 ou sofitel-legend-thegrand.com/ amsterdam Onde comer Catch by Simonis. catch-bysimonis.nl Las Palmas. Tel. +31 10 234 5122 ou restaurantlaspalmas.nl Simpel. Tel. +31 20 672 0672 ou simpelonline.nl Outros Bulldog. Tel. +31 20 627 0295 ou thebulldog.com Marie-Stella-Maris. marie-stella-maris.com

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Foto Latinstock/© Barry Lewis/In Pictures/Corbis/Corbis (DC)

Onde ficar Nhow. Diárias a partir de 159 euros. Rerervas: +31 010 206 7600 ou nh-hotels.com


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