Artigo MILMQ Jan 2019

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ARTIGO Metodologias de Investigação: Laboratório de Metodologias Qualitativas

Ano Letivo 2018/2019

Carlos Vasconcelos, Mariana Amado, Neil Mason, Tomás Proença TURMA – EB2, LCED


A Relação Pedagógica: perceções e leituras de estudantes universitários de faixas etárias diferentes. Carlos Vasconcelos, Mariana Amado, Neil Mason, Tomás Proença Janeiro 2019

RESUMO A relação pedagógica é a relação educativa vivida na sala de aula entre o professor e o aluno no contexto da educação formal (Trindade, 2009:41). As dimensões desta relação são sujeitas a alterações profundas conforme o paradigma pedagógico em que se encontra o professor (ibidem: 35–38). O paradigma pedagógico do professor tem um efeito positivo ou negativo na experiência pedagógica do aluno, criando emoções de bem-estar ou mal-estar conforme as perceções que o aluno tem das vivências dentro da sala de aula. Cada faixa etária tem perceções diferentes, contudo, as emoções de indignação e frustração demostradas são parecidas, e a preferência por um dos paradigmas — o da comunicação — é visto como superior a um paradigma onde prima a autoridade do docente. Palavras chave: paradigmas, relação pedagógica, autoridade, autoritarismo, poder, emoções

INTRODUÇÃO Este estudo tem como principal objetivo saber quais são algumas perceções e leituras que alunos de diferentes faixas etárias têm da relação pedagógica — a relação vivida entre professor e aluno, principalmente dentro de uma sala de aula — nomeadamente no que toca às ações do professor como figura de autoridade nessa relação.

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“(…) é a dimensão da autoridade aquela que nos coloca perante mais problemas conceptuais, do ponto de vista da análise a que sujeitamos como uma das dimensões estruturantes de qualquer tipo de relação pedagógica.” (Trindade, 2009: 82).

Queremos saber o que os estudantes pensam sobre o exercício do poder e autoridade dos docentes, possíveis diferenças conforme o paradigma pedagógico do professor, perceções e reações a aparentes abusos de poder, e perceber se há diferenças nas reações dos alunos dependendo da sua idade. Como grupo de estudo, partimos da ideia de que haverá diferenças — o estudo procura entender até que ponto as nossas inferências serão corretas, ou se haverá maior semelhança do que imaginamos. Enfrentamos o desafio de manter uma objetividade perante aquilo que estamos a investigar, visto que nós, investigadores, também estamos inseridos no contexto que estamos a estudar. É necessário fazer um esforço para ter um olhar mais crítico e promover um afastamento emocional dos eventos citados e das opiniões expressas pelos entrevistados. É necessário definir alguns conceitos que são centrais à investigação, nomeadamente o que queremos dizer autoridade, poder, autoritarismo e como estes são vivenciados dentro da relação pedagógica.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Autoridade Para o autor Trindade (2009) a autoridade do professor toma formas distintas dentro da relação pedagógica conforme o paradigma pedagógico em que se encontra o professor. Autoridade no paradigma da instrução: A autoridade no paradigma da instrução tende a revelar-se de forma mais autoritária, devido à centralidade que o professor toma dentro desse paradigma. O paradigma da instrução é fortemente criticado por Trindade & Cosme (2010) por essa desvalorização, em que reduz o aluno a um sujeito “ignorante e incompetente” que precisa da libertação através da mão do professor. 2


“De acordo com o paradigma da instrução, cabe, assim, aos professores redimir os alunos da sua ignorância e incompetência, fornecendo-lhes, igualmente, “os instrumentos necessários que possibilitem aos indivíduos integrar-se num ambiente social determinado, ocupando aí um lugar, o seu lugar” (Meirieu, 1993, p.37).” (Ibidem: 21)

Como fruto da autoridade neste paradigma, qualquer conflito que eventualmente venha a surgir na relação é considerado negativo e compreendido como uma afronta à autoridade da figura do professor. (Trindade, 2009: 69). Autoridade no paradigma da comunicação: Neste paradigma, a autoridade não desaparece, mas é vista de forma mais positiva do que no paradigma da instrução. No paradigma da comunicação a autoridade é “inspiradora e influenciadora” e não procura “subjugar” o aluno como o faz no paradigma da instrução. (ibidem: 101). O importante neste paradigma é compreender que a dimensão do conflito não é considerada algo de negativo, mas sim positivo e essencial ao processo de aprendizagem do aluno. O professor não entende o conflito como uma afronta pessoal à sua autoridade enquanto docente. Trindade diz que é a dimensão “estruturante” do paradigma e que se trata de “(…) um fenómeno cultural e epistemológico aceitável”. (ibidem: 114)

Autoridade / poder Maya diz que a autoridade é “a capacidade de alguém influir noutro que lhe reconhece alguma superioridade.” (2000: 10), o que descreve a posição que o professor tem em relação aos seus alunos. A autora explora a distinção entre autoridade e poder e como os termos por vezes são ambíguos, o que torna difícil de fazer uma distinção clara entre as duas palavras. Não nos cabe neste estudo estabelecer uma distinção semântica entre os conceitos de poder e autoridade, que por vezes podem vir a ser utilizados por nós como sinónimos. Entre as fontes de autoridade propostas pela autora (ibidem: 15–23) frisamos as de idade, competência científica, competência pedagógica — e, dentro da competência pedagógica a relação interpessoal, capacidade de liderança e disciplina. Simões (1980) cita outras fontes de poder, a taxonomia de French & Raven (1959): ·

poder coercivo Uma pessoa utiliza o seu poder (força física, social, económica, política) para 3


“obrigar” o outro a fazer algo que não quer fazer, utilizando um poder coercivo. No contexto da relação entre professor e aluno, quando se usa ameaças ou castigos para que os alunos procedam em conformidade com a vontade do professor, por exemplo. ·

poder legítimo A pessoa em autoridade é vista a ter direito ou legitimidade para exercer poder/autoridade sobre a ação do outro.

Os professores têm um poder legitimo, e até legal, para exercer autoridade. O estado ou a instituição formaliza esta autoridade. ·

poder da recompensa Quando a pessoa em autoridade tem o poder de recompensar, ou premiar o outro.

No contexto da educação, as recompensas que podem ser utilizados pelos professores podem ser entendidos como “dar boas notas” para alunos que merecem, ou talvez uma maior aprovação na relação interpessoal. ·

poder da referência Uma pessoa tem autoridade por ser entendido como uma pessoa de influência ou importância, ou por ser alguém admirado ou imitado.

Alguns professores serão eventualmente pessoas que podem exercer alguma autoridade nesse campo. Quando admiramos um professor pelas suas qualidades pessoais ou profissionais, por exemplo. ·

poder de especialista Reconhece-se a autoridade de uma pessoa por este ser um perito ou especialista em alguma área.

Os professores podem frequentemente ter este tipo de autoridade ao serem reconhecidos por serem uma referência académica — ou porque publicaram artigos ou livros, ou porque falam em conferências — onde pode ser reconhecido o poder de especialista. 4


Todas as dimensões de autoridade / poder têm a capacidade de serem utilizadas de forma positiva ou de forma negativa; quando isto acontecer, o resultado é o autoritarismo.

Autoritarismo Nas entrevistas que realizamos, pedimos aos entrevistados para opinar sobre situações em que a prática da autoridade que poderá ser entendida como tendo legitimidade pedagógica ou institucional passa a ser um uso abusivo de poder (Maya, 2000: 22). Quando o interesse (consciente ou não) do professor é de subjugar o aluno, é autoritarismo. “O estilo autoritário caracteriza-se pela imposição de processos de decisão tomados unilateralmente por parte de quem tem o estatuto e o poder para o fazer, esperando a obediência por parte dos que lhe estão subordinados”. Maya, (2000: 21)

Como já referimos, Trindade (2009) aponta que a dimensão da autoridade no paradigma da instrução tende a ser autoritária.

Emoções Desde os anos 90 do século passado que o papel das emoções como fator de influência no comportamento humano tem ganho cada vez mais relevo, (Damásio, 1994; Goleman, 1995; Salovey & Meyer, 1990). E a nível pedagógico, há, por exemplo, estudos que fazem uma ligação entre o estado emocional do professor e a forma como este avalia os alunos (Brackett, Floman, Ashton-James, Cherkasskiy, & Salovey, 2013). Portanto não devemos desvalorizar a importância das emoções na formação de opiniões e interpretações sobre o que é vivido dentro da sala de aula e a influência na relação pedagógica. Com esta investigação procuramos compreender algumas reações emocionais acerca do exercício de autoridade do professor, e as inferências que estas possam causar.

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ENQUADRAMENTO DO ESTUDO – NOTAS METODOLÓGICAS Do ponto de vista metodológico as escolhas que foram seguidas na pesquisa foram sempre seguindo a dinâmica de uma investigação sobre a relação pedagógica na sala de aula, pelo que os sujeitos considerados teriam de cumprir alguns critérios pré-estabelecidos. Teriam de ser 3 alunos mais novos (18-19 anos de idade) que quando iniciaram o curso de Ciências da Educação na FPCEUP teriam acabado de completar o ensino obrigatório e 3 alunos mais velhos (no mínimo 35 anos). Todos os sujeitos estariam inseridos no universo de alunos do mesmo curso. Seguidamente, um outro critério de seleção era que cada um tivesse completado a unidade curricular de Psicologia da Educação, visto que foram abordados conceitos chave nesta investigação ao longo da mesma. A recolha da informação foi realizada através de entrevistas semiestruturadas (Bogdan & Biklen, 1994: 135,136) a um total de 6 participantes. Estas entrevistas tiveram a intenção de ouvir os participantes — enquanto agentes principais na relação pedagógica — na primeira pessoa, de modo a captar os seus pontos de vista no que toca a sentimentos, expectativas e realidades envolvidas na relação pedagógica. As entrevistas foram transcritas e os discursos foram analisados através de uma análise temática (Bardin, 2011:89) em que foram feitas várias leituras dos mesmos, assinalando a cores diferentes as categorias e subcategorias para a análise (Ferreira, 2004). Foi feita uma codificação dos discursos de forma a separarem-se em dois conjuntos distintos. O grupo A representando o grupo de participantes mais novos e o grupo B representando o grupo de participantes mais velhos. A organização dos discursos estruturou-se através de uma categorização (Bardin, 2011:145) a partir do qual foram analisados e discutidos os dados. As entrevistas do grupo A, dos alunos mais novos, foram codificadas com uma numeração A-1, A-2, A-3, e no grupo B com a numeração B-1, B-2, B-3. Os nomes foram retirados para assegurar o anonimato dos sujeitos, tal como de quaisquer unidades curriculares ou professores mencionados.

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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS CONTEÚDOS Apresentamos a interpretação das entrevistas realizadas com os participantes nesta pesquisa. Para uma melhor organização e compreensão destes dados, procedemos ao processo de categorização, organizando-os em cinco categorias e subcategorias: 1) Paradigmas pedagógicos na educação; 1.1) Ensino Secundário; 1.2) Ensino Superior; 2) Expectativas, diferenças e sentimentos na relação pedagógica; 2.1) Surpresas no trato pessoal; 3) A autoridade do professor e a dimensão do poder; 4) Sentimentos na relação pedagógica na dimensão da autoridade; 5) A autoridade e o autoritarismo.

Paradigmas pedagógicos na educação No ensino secundário Nesta subcategoria observou-se coerência nos pontos de vista tanto nos participantes da amostra A como nos da amostra B, ambos referindo o paradigma da instrução (Trindade, 2009; Trindade & Cosme, 2010) como predominante nesta fase, apesar da diferença de idades e contextualização temporal dos dois grupos. “A maior parte dos professores que tive (…) situavam-se sem dúvida no da instrução (…) tínhamos que apropriar o que eles diziam e a autoridade centrava-se neles. (…) eles no lugar do topo e os alunos serem subjugados ao papel de meros recetores de informação e apropriadores.” (A–3) “(…) muito mais na base da instrução (…) posso dizer que por exemplo a minha professora da escola primária ainda era daquelas professoras antigas que batia de reguada (…) “ (B–2)

No ensino superior No entanto, nesta subcategoria, foi observável uma clara diferença entre o grupo A e o grupo B, sendo que, o grupo A identificou o paradigma da instrução como sendo aquele que a maioria dos professores pratica, enquanto que o grupo B apresentou uma visão diferente, em que as opiniões divergiam entre o paradigma da comunicação (Trindade, 2009; Trindade & Cosme, 2010) e o da instrução. “Não todos, mas a maior parte era da instrução. (…) da dimensão da autoridade é tudo paradigma da instrução, por muito que tentem mascarar.” (A–2) 7


“(…) maior parte ainda se insere no paradigma da instrução, embora seja na faculdade (…) têm muito o conhecimento e nós, novamente, temos de apropriar esse conhecimento. Contudo há exceções em que alguns, não todos como é obvio, se inserem na comunicação.” (A–3) “Acho que 60% dos professores estão no paradigma da instrução, nessa dimensão da autoridade, e 30–40% no paradigma da comunicação (…) os professores que ainda estão na instrução talvez possam mudar, mas só muda quem permitir que aquele paradigma faça sentido para ele mesmo.” (B–3) “No paradigma da comunicação, muito mais. Principalmente na dimensão da autoridade, até porque acho que faz mais sentido, somos todos adultos por mais novos ou mais velhos, e acho que esse respeito mútuo e a não imposição de um professor sobre ti se impõe mais (…)” (B–2) A nível geral nota-se uma preferência pelo paradigma da comunicação comparandoo com o da instrução, visando este como superior, mais justo e mais apropriado. O discurso do grupo B parece mais otimista, enquanto que o grupo A mostra mais cinismo com a ação dos professores. Será possível inferir que existe uma diferença na forma como os dois grupos sentem a relação pedagógica?

Expectativas, diferenças e sentimentos na relação pedagógica Expectativas na relação pedagógica Em relação às expectativas referentes à relação que se iria ter com os professores ao entrar na faculdade, verificamos que o grupo A partilhava de baixas expectativas, com uma visão global semelhante, enquanto que, no grupo B as expectativas eram altas e também equiparáveis. “(…) pensei que os professores não nos iam conhecer e estavam-se “marimbando” para nós.” (A–3) “(…) geralmente o que se pensa da faculdade é os auditórios enormes e centenas de alunos e um professor, e eu achei que ia ser isso (…) Depois quando percebi que ia ter aulas em salas a sério, por assim dizer, fiquei mais contente (…) a minha expectativa do professor não querer saber tornou-se verdade” (A–2) 8


“(…) já tinha a expectativa de ser uma relação mais de respeito, uma autoridade e não um autoritarismo, muito mais baseado no respeito (…)” (B–2) “Tinha expectativas muito altas, talvez por isso é que esteja tão frustrada nessa questão.” (B–1) Parece que pelo discurso, a nível geral, a experiência acaba por ser contrária às expectativas. Quando existem expectativas altas a deceção é maior. São expressadas emoções muito fortes de frustração, e eventualmente de desilusão e desmotivação, o que coloca a dúvida do impacto que isto pode ter no empenho pessoal do aluno.

Diferenças na relação pedagógica Quando questionados acerca das diferenças no trato pessoal, entre o ensino secundário e o ensino superior, o grupo A notou a existência tanto de diferenças positivas como negativas. No caso do grupo B houve uma concordância geral de que na faculdade, existe, na maior parte das vezes, um trato mais de igualitário, referindo, no entanto, que isto não acontece com todos os docentes. “No secundário, nota-se aquela distância de professor/aluno, “eu sou professor, tens que me tratar por você” (…) aqui somos tratados como adultos, de certa forma (…) já nos vêm como alguém mais equiparado a eles.” (A–3) “Eu acho que tinha melhor relação pessoal com os professores no secundário (…) no caso da faculdade acho que foi aí que eu notei mais diferença, (…) há muitos professores que não querem saber dos alunos.” (A–2) “(…) na faculdade (…) acho que nos tratam muito mais de igual para igual, responsabilizando-te, exigem mais de ti, és um adulto, tens mais responsabilidade, mas numa relação muito mais de igual para igual.” (B–2) “Há alguns professores com que nos identificamos mais, existe mais empatia e uma relação de proximidade. (…) Outros não têm tanto essa empatia então criam uma relação mais distante (…) a própria forma como o professor dá a aula é que vai aproximar ou distanciar esse trato pessoal” (B–3) É o professor que dita a base da relação pedagógica, independentemente do contexto educativo ser secundário ou universitário. A diferença não é o local, mas a

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pessoa. “O professor é a pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor.” (Nias, 1991 in Nóvoa, 1992)

Sentimentos na relação pedagógica No que toca aos sentimentos, dentro do grupo A partilhou-se a opinião de que existe uma maior abertura e proximidade na relação pedagógica, existindo, no entanto, um aparente sentimento de injustiça face ao trato pessoal que ocorre dentro da sala de aula. No caso do grupo B sente-se que os professores muitas vezes não praticam aquilo que defendem. Indicam, no entanto, os professores como sendo totalmente acessíveis e abertos à relação pessoal. “Dentro da sala de aula acho que os professores se focam muito nos alunos que se esforçam mais, ou que participam mais, e parece que chega a altura em que só se focam neles, e ignoram os outros (…)” (A–2) “Notei nela que além de professora, podia ser uma amiga tua na faculdade, ok é mais velha, mas consegue compreender-te (…)” (A–3) “É paradoxo, ele defende abertura e flexibilidade, mas quando um aluno faz determinada questão ou tem determinado ponto de vista, o professor não encara bem.” (B–3) “(…) nunca tive conflitos com professores, sempre foi uma relação na base do respeito, os professores são acessíveis (…) quando temos algum problema, dificuldade, são mais abertos em ouvirem as nossas questões (…)” (B–2) É curioso que ao serem questionados diretamente sobre os seus sentimentos em relação ao trato pessoal, não se nota, explicitamente, uma expressão concreta de emoções, enquanto que na questão sobre as expectativas, houve respostas claramente emotivas. A leitura que fazemos sobre os sentimentos poderá ser interpretada “entrelinhas”, e é implícito, com alguma frequência, um certo tom de cinismo, em pelo menos um dos entrevistados.

A autoridade do professor e a dimensão do poder “a profissão do professor tem por objeto transmitir a própria base do seu poder” (As Bases do Poder do Professor, Joã o F. S. Simõ es, 1980, p. 310) 10


Ouvindo os entrevistados sobre a dimensão do poder, quando confrontados com uma citação que reforça a ligação da transmissão do poder com a profissão de professor o grupo A foi unânime em não concordar com a mesma, enquanto que o grupo B, de forma geral, concordou com a afirmação da frase. “Acho que só o facto de dizer “transmitir” já me dá umas comichões, porque acho que o professor e o ato de exercer essa profissão tem acima de tudo de ser de partilha e não de transmissão.” (A–1) “Não concordo (…) a base do poder dele é o conhecimento, mas a experiência que eu tenho é que esta base é mesmo a autoridade.” (A–2) “Ele tem o poder da sabedoria, de alguém que ali está a promover e potencializar a aprendizagem dos alunos e de si mesmo.” (B–3) “(…) o professor tem de certa forma o seu poder, a sua autoridade, e está ali para ensinar, e há um certo respeito que tem que vir daí (…)” (B–2) Parece-nos que quando se fala de autoridade, o grupo A encara de forma negativa, enquanto que, no grupo B esta expressão é aceite de forma mais abrangente e natural. Como já vimos em Trindade & Cosme (2010) e Trindade (2009), a autoridade revela-se em formas distintas, de acordo com o paradigma onde o professor se enquadra. No paradigma da instrução é visto de uma forma negativa, enquanto que no paradigma da comunicação a autoridade é “inspiradora” e “influenciadora” (Ibidem). Ao serem questionados acerca dos atos de autoridade que consideravam legítimos dentro da sala de aula o grupo A identificou apenas as chamadas de atenção por parte do professor. O grupo B apresentou uma visão mais ampla e completa, referindo valores como a humildade e o respeito como bases de uma autoridade legítima. “Penso que a autoridade dele consiste mesmo nessa consciência dele para com ele mesmo, valores como a humildade, respeito, o otimismo, como a esperança que tem.” (B–3) Voltamos a reparar que o grupo A tem dificuldade em lidar com a autoridade como um conceito positivo. Em French & Raven (1959), como já referimos, existe uma autoridade legítima que reconhecemos no professor. Nas cinco bases de poder dos autores, diríamos que o professor detém quatro: legítima, recompensa, especialista e 11


coerciva. O poder legítima e o de especialista (ibidem), não são em si bases de poder negativas. No entanto, sobre os atos de autoridade ilegítimos, o grupo A centrou-se inteiramente na atitude do professor se achar detentor de todo o conhecimento e poder, e não valorizar o aluno. No grupo B foram apontadas, igualmente, mas com mais profundidade, as situações em que acontece uma desvalorização do aluno, momentos em que são feitos reparos a um aluno em frente ao resto da turma, e também levantamentos de voz por parte dos professores. “O professor não dar voz ao aluno, achar que só ele é que sabe e que só o que ele diz é que é verdade. Não dar uma abertura para a participação do aluno.” (A–1) “Também em certos momentos em que o aluno coloca algumas questões e não lhe é dada a devida importância, ou quando existem vários alunos a fazer questões, é explicado rapidamente e fica-se sem a informação devida.” (B–2) De novo nas bases de poder de French & Raven (1959) o poder de especialista, não sendo por si uma dimensão negativa, dentro do paradigma da instrução pode-se tornar problemático se o professor subjugar os alunos. No paradigma da comunicação, como já referimos, este poder de especialista promove uma posição ao professor como “interlocutor qualificado” (Trindade & Cosme, 2010: 61) Sobre os atos de autoridade que foram mais observados na faculdade, o grupo A identificou a falta de consideração com os alunos a nível de trabalhos, de tempo e a nível de acompanhamento. Também foi referida a perceção da pouca importância que os professores dão às opiniões dos alunos. O grupo B falou de aulas robotizadas e automatizadas, como também, à semelhança do grupo A, foi referida uma falta de consideração para com os alunos no que diz respeito à colocação de dúvidas. “(…) apesar de nos porem a carga em cima, nem sempre sabemos como fazer, e acho que em algumas situações faltaram essas barreiras de ajuda.” (A–1) “O professor ignora completamente a necessidade dos alunos, não quer saber deles, obriga-os a trabalhos que dão imenso trabalho num espaço de tempo minúsculo praticamente impossível de fazer.” (A–2)

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“Também aquelas aulas que se nota que já estão feitas, é só entrar ouvir e sair.” (B–3) “(…) o próprio professor, por não perceber aquela forma de ensinar, está a ensinar mais para ele do que para outro, e tu continuas lá, passivo, o professor finge que ensina, e nós fingimos que aprendemos.” (B–3) “(…) alguns reparos tipo “ah vocês a esta altura já deviam ter isto bem sabido”, “se não sabem isto não sei o que é que estão aqui a fazer, deviam para o primeiro ano para aprender”. Isso parece-me mal da parte do professor, porque às vezes não estamos mesmo a compreender porque não temos tudo mobilizado e não sabemos nem articulamos tudo da maneira como eles fazem (…)” (B–2) Numa questão anterior foi referido que a base da autoridade do professor é o saber, pelo que a maior demonstração de autoridade é o próprio ato de ensinar — o que parece não acontecer de uma forma satisfatória. Pinker (2015: 57) diz “the main cause of incomprehensible prose is the difficulty of imagining what it is like for someone else not to know something that you know”, a que chama de “the curse of knowledge” (a maldição do saber). Parece-nos que os entrevistados partilham da mesma opinião acerca da dificuldade que os professores têm em compreender que os alunos não sabem o que eles sabem.

Sentimentos na relação pedagógica na dimensão da autoridade No que diz respeito a esta categoria, verificamos que no grupo A foram apontadas expressões como revolta, fúria e raiva, quando se viram confrontados com o uso abusivo de autoridade do professor. No grupo B foi possível observar mais profundidade no assunto. Falando do uso abusivo de autoridade, relacionaram sentimentos como, a revolta, o medo, tristeza e também um sentimento de inferiorização. Foi interessante observar que mencionaram sentimentos face a uma aplicação equilibrada de autoridade, sendo estes sentimentos positivos de autonomia, liberdade e pertença. “(…), mas quando um professor usa a sua autoridade para se sobrepor a quem está a ensinar aí fico mesmo revoltado (…)” (A–2) 13


“(…) sinto-me revoltada, claro. Sei que muitos colegas têm medo desse conflito.” (B–2) “Quando ela é de uma forma bem trabalhada (…) sentimo-nos bem, (…) já é uma sensação de autonomia, liberdade e pertença (…)” (B–3) O enfoque do grupo A continua a concentrar-se nos aspetos negativos da autoridade e de abusos de poder, que referimos no início como autoritarismo, que em Trindade (2009) é reconhecido como um aspeto de autoridade no paradigma da instrução, e Maya (2000) quando o professor utiliza a autoridade para subjugar os seus alunos. O autoritarismo provoca emoções negativas fortes. Abordando a possibilidade de existirem diferenças no trato dos professores, para com alunos mais velhos e alunos mais novos, o grupo A diz que os professores têm mais confiança e mais à vontade com os mais velhos, e consideram-nos intelectualmente mais próximos. Já no grupo B focaram, geralmente, a ausência de diferenças. No entanto, consideraram também que há mais respeito pelos mais velhos, e uma atitude mais paternalista para com os mais novos. “(…) sinto que pelas pessoas serem mais velhas e terem mais percurso de vida, que têm mais confiança (…) e têm mais à vontade.” (A–1) “(…) na distinção entre mais velhos e mais novos, nos mais velhos eles tendem a ser mais extremistas, ou adoram completamente a pessoa ou odeiam. No caso dos mais novos, talvez por serem mais homogéneos são mais nivelados.” (A–2) “(…) acho que ás vezes, mesmo sendo um aluno mais velho a fazer as mesmas questões do que um mais novo, o professor não responde com a mesma assertividade ou agressividade.” (B–2) “(…) não suporto muito ver certas atitudes, não para comigo, mas para com pessoas mais novas.” (B–1) A nível geral há uma concordância entre todos, de que há de facto um tratamento diferente. Há inferências sobre os possíveis motivos: por terem mais percurso de vida, pela empatia que o professor terá com alguns, por experiências de vida

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semelhantes. Não há evidência para apoiar estas ideias, são leituras muito particulares.

A autoridade e o autoritarismo Nesta última categoria, constatamos que o grupo A sente que o professor passa de uma autoridade saudável ao autoritarismo, quando não deixa o aluno contribuir, não respeita a sua opinião e este se sente inferiorizado. Quanto ao grupo B é mencionado que este limite é ultrapassado quando o professor se fecha no seu saber, não levando em conta o património cultural do aluno. Revelam que também a falta de respeito e os reparos que são feitos ao ponto de ridicularizar o aluno passam de autoridade para autoritarismo. “(…) quando o aluno quer contribuir e o professor lhe nega isso, aí é que eu sinto mesmo cá dentro, que abusou da autoridade.” (A–2) “(…) ele passa da autoridade para autoritarismo, porque se fecha no saber dele.” (B–3) “Quando deixam de respeitar a pessoa que têm à sua frente (…) aí passou o limite.” (B–2) Há nestas intervenções expressões de sentimento muito fortes, o que seria quanto ao autoritarismo e/ou abusos de poder. Podemos revisitar Maya (2000) e Trindade (2009), que focam estes aspetos da relação pedagógica. Um comentário que consideramos interessante, contrasta de forma significativa com o pensamento e os sentimentos do sujeito em questão. Este aluno foi dos que reagiu com mais crítica e cinismo face às ações dos professores, mas quando reconhece que um professor trabalha, na sua perceção, de acordo com o paradigma da comunicação, o entrevistado, em suma, diz que sente a permissão de ser autêntico, podemos inferir que então nos outros casos, sente o oposto. “(…) dentro da sala de aula dessas pessoas o aluno sente-se mesmo livre, no sentido que consegue ser quem é e fazer perguntas o mais estúpido que seja, que não vai ser julgado por causa disso, no caso do prof (nome de professor) ele até dizia que vocês até podem dizer asneiras, e eu dizia porque me ajudava a explicar o que eu queria dizer”. (A–2) 15


Embora não explicitado pelos entrevistados da mesma forma que este, podemos talvez concluir que é um sentimento generalizado — todos preferem quando o professor trabalha de acordo com um paradigma que consideram mais “humano”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há dúvida que o professor é uma figura de autoridade, que tem legitimidade para exercer poder no contexto pedagógico (French & Raven, 1959; Maya, 2000) mas também é verdade que a autoridade na sua prática pode ser experienciada de forma diferente por parte daquele que é considerado o “subordinado” na relação. Não é surpreendente que quando existe uma perceção, por parte do “subordinado”, de que existe injustiça, falta de consideração, autoritarismo e arbitrariedade, as reações podem ser fortemente sentidas e a indignação cria um clima de mal-estar. O paradigma da instrução é alvo de críticas fortes por parte do aluno que se vê subjugado, e, diminuído. A nossa expetativa era que estes sentimentos fossem expressos de formas diferentes nas duas faixas etárias que entrevistamos, mas na prática, as reações emocionais não são tão distintas e a frustração é sentido tanto por uns como por outros. O facto dos entrevistados terem estudado todos a mesma temática na unidade curricular de Psicologia da Educação, parece dar uma forma comum de articular as reações e os motivos de forma mais coerente. Os grupos sabem identificar as razões pela “comichão” que sentem no paradigma da instrução. Antecipávamos que o grupo com mais idade viesse a exprimir expressões de indignação e revolta por se sentirem tratados como alunos “ignorantes e incompetentes” (Trindade & Cosme, 2010), e essas expectativas foram também desenvolvidas face aos pontos de vista e opiniões de dois membros do nosso grupo de investigação que se inserem nesta faixa etária e partilham do mesmo contexto. Para nossa surpresa, as expressões mais fortes de indignação foram, de forma geral, transmitidas pelos entrevistados mais novos. É possível inferir que isto ocorra por questões inerentes à própria idade dos entrevistados, em que existe uma afluência maior e mais intensa de sentimentos e emoções, agravando o impacto que cada momento da relação pedagógica tem.

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Reparamos que os entrevistados do grupo A mostravam grande dificuldade em entender o conceito de autoridade de forma positiva, pelo que associaram quase que automaticamente isto a experiências negativas e momentos de abuso de autoridade dos professores. Existiu uma maior quantidade de inferências no que toca às motivações dos professores ao terem certas atitudes. Estas inferências podem, quase que inevitavelmente, ser afetadas pela idade do aluno e pela instabilidade e impulsividade que esta envolve. A diferença de idades representa também uma diferença significativa nos percursos e experiências de vida, e isto foi uma das explicações que consideramos para o contraste que existe nas expectativas que estes têm ao entrar no ensino superior. Foram continuamente exprimidos sentimentos fortes e emoções negativas face ao paradigma da instrução, que simultaneamente parece ser aquele que todos consideram ser o mais utilizado. Independentemente de ser no contexto do ensino secundário ou o ensino universitário, estas emoções são exprimidas de igual forma relativamente a este paradigma. É o professor como pessoa que é considerado o aspeto mais importante na criação de uma boa relação pedagógica. Os alunos anseiam por uma relação onde são ouvidos, respeitados, e onde a perceção seja que o professor se preocupe. Isto vai ao encontro do estudo de Teven & McCroskey (1997) que estabelece uma relação direta entre o sucesso académico e a perceção do aluno sobre a preocupação do professor para com ele. O que nos faz questionar até que ponto estas perceções sentidas pelos entrevistados poderão afetar o seu percurso académico na faculdade. SUGESTÕES PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES Numa investigação de um universo tão pequeno, dificilmente se pode tirar conclusões sólidas, mas pensamos que o tema merece um estudo mais completo e abrangente, não sobre as diferenças sentidas por faixas etárias diferentes, mas eventualmente sobre o efeito que estas emoções sentidas pelos alunos do ensino superior afetam o sucesso académico ou até a relação com a saúde mental dos alunos do primeiro ciclo do ensino superior.

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BIBLIOGRAFIA de Mendonça, José R. C., & Dias, Sónia Marua R. C. (2006). De French e Raven (1959) ao modelo poder/interação de influência interpessoal: uma discussão sobre poder e influência social. Cadernos Ebape. BR, 4(4), 1-19 Bogdan, Robert C., Biklen, Sari Knopp, Alvarez, Maria João, Vasco, António B., dos Santos, Sara B., & Baptista, Telmo V. M. (1994). Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora. Brackett, Mark. A., Floman, James L., Ashton-James, Claire, Cherkasskiy, Lillia, & Salovey, Peter (2013). The influence of teacher emotion on grading practices: A preliminary look at the evaluation of student writing. Teachers and Teaching, 19(6), 634-646. doi:10.1080/13540602.2013.827453 Damasio, A. R. (1994). Descartes’ error: Emotion, rationality and the human brain. Ferreira, Virgínia (2004). Entrevistas focalizadas de grupo: Roteiro da sua utilização numa pesquisa sobre o trabalho nos escritórios. In Actas dos ateliers do Vº Congresso Português de Sociologia (pp. 102-107). Associação Portuguesa de Sociologia. French, John R. P., Jr., & Raven, Bertram. (1959). The bases of social power. In D. Cartwright (Ed.), Studies in social power (pp. 150-167). Oxford, England: Univer. Michigan. Goleman, D. (1995). Emotional intelligence: Why it can matter more than IQ. Simões, João F. S. (1980). As bases do poder do professor. Revista portuguesa de pedagogia, ano 14, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, p. 301-328 Teven, Jason, & McCroskey, James C. (1997). The relationship of perceived teacher caring with student learning and teacher evaluation. Communication Education, 46(1), 1-9. Trindade, Rui, & Cosme, Ariana. (2010). Educar e Aprender na Escola: Questões, desafios e Respostas pedagóticas. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão. Versão eletrónico. *(paginação diferente à versão em papel). Trindade, Rui (2009). Escola, Poder e Saber: A relação pedagógica em debate. Porto: Livpsic. Salovey, Peter, & Mayer, John. D. (1990). Emotional intelligence. Imagination, cognition and personality, 9 (3), 185-211.

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ANEXO 1 — Entrevistas GRUPO A Entrevista A-1 1. Instrução. Principalmente na dimensão da autoridade. 2. Acho que diferem alguns, ainda senti principalmente no primeiro semestre, ainda senti alguma autoridade, e os que davam assim mais liberdade acho que não sabiam dar essa liberdade, ou seja queriam-se situar no paradigma da comunicação mas fugia-lhes sempre alguma coisinha e acho que no máximo estavam no paradigma da aprendizagem, mas realmente só depois de entrar na faculdade é que eu comecei a perceber um bocado estas mudanças. 3. Não tinha expectativas nenhumas porque eu entrei neste curso por engano, mas fiquei o primeiro ano só porque tinha que acabar o ano para fazer transferência. Mas eu gostei muito do curso e do ambiente. Achei que ia ser mais autoritário do que é, que não íamos ter tanta liberdade, e gostei de nos ter sido dada essa liberdade e de podermos ser nós a conduzir muitas das aulas, e gostei dessa parte de nos darem essa responsabilidade. Sinto que melhorei o meu sentido crítico e falar em público, sinto-me muito mais à vontade. 4. Isso foi uma das coisas que me fez continuar no curso, porque a relação entre professor e aluno sinto que na faculdade é completamente diferente. Apesar de sermos uma faculdade diferente, porque eu tenho amigos que estão em faculdade com turmas de 200 e os professores quase nem sabem o nome deles, nós como temos turmas pequenas sentimos mais proximidade. E isso eu gosto, porque acho que antes de haver uma relação apenas de professor de aluno dentro da sala de aula tem de haver uma relação pessoal para ser tudo mais fácil. E na faculdade vi isso, enquanto que no secundário quase nunca senti isso, apenas com um ou dois professores que foram aqueles que ficam sempre na memória, que gostavam e que se importavam em dar aulas pelos alunos e não só por receber o dinheiro ao fim do mês. Tive algumas experiências más com professores e por isso é que nunca senti muito essa relação professor aluno. 5. Eu acho que é muito mais pessoal aqui na faculdade do que era antes, sentia que havia muita autoridade antes e os professores referiam-se ao estritamente necessário enquanto que na faculdade há sempre aquela fuga á vida pessoal experiências pessoais,


há muito mais partilha e essa relação pessoal entre professor aluno, apesar de haver uma certa autoridade porque eles não deixam de ser professores. 6. Senti-me surpreendida pela maneira como davam as aulas e pelos conteúdos em si. Um professor que digo que me marcou e que me fez ficar neste curso foi o (Nome de Professor). Foi super bom, adorei, foi daquelas aulas que eu não queria faltar, gostava da maneira como falava, não só pelos conteúdos, mas pela forma de dar as aulas, acho que isso sim é um professor. Acho que foi o mais marcante até agora. 7. Acho que só o facto de dizer “transmitir” já me dá umas comichões, porque acho que o professor e o ato de exercer essa profissão tem acima de tudo de ser de partilha e não de transmissão. Acho que tanto o professor como os alunos têm a aprender uns com os outros. Poder também é outra coisa que não concordo muito, porque lá está, está a transmitir autoridade e acho que isso não é decisivo no papel de um professor. 8. Lá está, como eu dizia, que os professores se calhar fugiam um bocadinho quando davam uma certa liberdade e depois não sabiam lidar com isso, se calhar um bocadinho nessa coordenação, não autoridade mas coordenar mais, porque acho que quando é dade demasiada liberdade nós não sabemos o que fazer com ela, por isso talvez essa parte de coordenar e ter um bocado mais a mão do professor. 9. O professor não dar voz ao aluno, achar que só ele é que sabe e que só o que ele diz é que é verdade. Não dar uma abertura para participação do aluno. Eu na faculdade já nem falo muito nisso, mas claro que essas partes de abusarem da sua autoridade para faltas de respeito e isso já nem falava porque acho inadmissível. 10. Os inadmissíveis como eu falei agora acho que não. Não tenho sentido esse excesso de autoridade. Às vezes sinto um bocado de falta de coordenação na parte de dar-se demasiada liberdade, porque depois também apesar de nos pôr a carga em cima de nós, nós nem sempre sabemos como fazer, e acho que em algumas situações faltaram essas barreiras de ajuda. 11. Hoje em dia lido muito bem com isso, acima de tudo tento relativizar e ver se estou certa ou errada, onde é que estamos em conflito, e tento resolver as coisas da melhor maneira. Mas tive algumas situações más no secundário. (Fala de experiência pessoal) de abuso de autoridade por uma prof de secundário em que esta prof pressionava alunos com notas mais baixas a trocarem por outro exame para não baixar a sua média pessoal, e (revoltada) ao opor-se a isso ela começou aos gritos e prejudicou-a pessoalmente)


Desde então sinto que tenho muito mais capacidade de crítica e de resolver os problemas, e acho que se fosse hoje eu não tinha ficado calada. 12. Isso noto muito. Até tenho na minha turma uma estudante que é mais velha, e sinto que há tanto da parte do professor como da parte da estudante, um abuso de confiança. Digamos que é um bocadinho desculpado tudo o que é feito por essa aluna. Mas não me sinto pessoalmente prejudicada, nem sinto que tenha alguma influência na minha aprendizagem, mas realmente sinto que pelas pessoas serem mais velhas e terem mais percurso de vida que têm mais confiança e menos aquela coisa do secundário que nós trazemos de que os alunos têm de estar caladinhos e assim, e têm mais à vontade. Não acho que seja mau, de todo, mas sim, existe diferença. 13. Eu acho que é quando me sinto prejudicada de alguma maneira, quando sinto que sou inferiorizada, seja por que situação for, acho que não é necessário chegar a um ponto em que uma pessoa se sinta mal com alguma atitude do professor. Entrevista A-2 1.

Estritamente instrução. Autoridade: Se calhar é mesmo na dimensão da autoridade que notei mais, acho que todos os professores que tive nunca nos deram poder a sala de aula. Não é que nós não tentássemos ter poder, há pessoas que fazem de formas diferentes, há pessoas que tentam dar hijack à aula, porque é aquela, tipo tamos na escola muitas horas por dia, tamos mais tempo na escola do que em casa e não temos poder nenhum no que fazemos, e isso torna-se frustrante e os professores, na minha experiência não ajudam muito com isso.

2.

Não todos, mas a maior parte era da instrução. Especialmente nas cadeiras de (nomes de várias unidades curriculares) e provavelmente muitas mais que não me estou a lembrar é estritamente instrução, tentam mascarar de outra forma, mas uma pessoa não… O caso que me lembro é a (nome de professor) porque ela tem o projeto educativo todo maluco que vocês é que leem os textos e toca a apresentar mas tu chegas lá e tás a apresentar e o que é que ela diz? Isso não importa não importa isso não importa…para que é que li esta merda toda? Isso não tem muito a ver com a autoridade mas é aquela noção de… ela diz-nos o que fazer e nós fazemos, e depois diz que não era isso, ou que não é isso que importa… não sei explicar bem, mas ya é a maior parte tudo da dimensão na autoridade é tudo paradigma da instrução, por muito que tentem mascarar.


3.

É assim, geralmente o que se pensa da faculdade é os auditórios enormes e centenas de alunos e um professor, e eu achei que ia ser isso, o professor estava lá, vomitava a matéria quem apanhasse apanhasse quem não apanhasse que se lixe. E foi a impressão que eu tive quando cheguei cá porque a primeira coisa que se vê é o auditório e achei vou ter aulas aqui vai ser horrível, porque vai ser centenas de pessoas para um professor e o professor não tem capacidade para isto tudo. E se não tem capacidade secalhar também não quer ter. Depois quando percebi que ia ter aulas em salas a sério por assim dizer fiquei mais contente, porque é mais familiar à minha experiência, e a minha expectativa de o professor não ia querer saber tornou-se verdade. Os professores querem saber de ti, mas só querem saber de ti quando se relaciona à disciplina deles, só querem saber de ti para tirar dúvidas por exemplo, se vais com eles para um problema não faz diferença nenhuma não querem perceber. Depois no segundo semestre, e até neste agora, já se nota alguma diferença, já se nota alguma diferença, nota-se que são pessoas que querem mesmo fazer a mudança. No primeiro semestre notou-se com (nome de professor), eu não acho que conseguiu tão bem como (nome de professor) mas acho que a unidade dela tocava em muitas coisas e tornou-se difícil não ser um bocado “pega pega pega pega” e depois se não conseguires aquela nota fala comigo. E depois, eu não falei com ela mas sei que se falasse com ela tava completamente disponível.

4.

Eu acho que tinha melhor relação pessoal com os professores no secundário por acaso…Os professores apesar de terem a autoridade toda na sala de aula não era por isso que eram más pessoas…havia professores que falavas com eles fora das aulas e eram pessoas excelentes…na maior parte, também há professores que não. No caso da faculdade acho que foi aí que eu notei mais diferença, foi aí que me inteirei que há muitos professores que não querem saber dos alunos. Tive uma situação em que faltei a um grande momento de avaliação do 1 semestre, não pude vir, e tive 2 professores que disseram que estavam completamente na boa, 1 professor que disse que era na boa mas por causa do cargo dele tinha que justificar, porque senão era ele que ficava mal, e 1 professora que ignorou completamente tudo o que eu disse porque eu tinha que ir tinha que ir tinha que ir, e ao final de contas eu não fui e acabei por ter razão porque tudo o que ela disse que ia acontecer, e era preciso eu ir, não acabou por acontecer, e ela é que ficou mal. Nunca a confrontei com isso, também não tenho necessidade de, não fico contente por “ahah eu é que tinha razão” mas a relação pessoal, acho que tinha melhor experiência no secundário.


5.

Dentro da sala de aula como é que eles tratam os alunos?…como é que eles lidam com as opiniões?…(repetimos pergunta) Dentro da sala de aula acho que os professores focam-se muito nos alunos que se esforçam mais, ou que participam mais, e parece que chega à altura em que só se focam neles, e ignoram os outros, eu tive o exemplo da (nome de professor), nada contra ela gosto muito dela, mas ela trata o meu grupo como se fosse eu e os outros, ela na aula passada ou há 2 aulas, tínhamos aquela coisa de falar sobre os papéis, e a prof perguntou se tínhamos feito em grupo e nós dissemos que não, e ela basicamente pôs as culpas em mim, porque o (entrevistado) é a lebre e a lebre é que tem que puxar os outros, e os outros é que têm de dizer á lebre que estão a ficar para trás, ou seja desvalorizou completamente todos os outros membros do grupo, e disse que ah o (entrevistado) é que é…E aconteceu mais exemplos disso mas esse foi o mais claro. Obvio que os membros do grupo não gostaram, eu também não gostei, não gosto que me elogiem á custa dos outros, claro que se fosse “ o (entrevistado) porta-se muito bem, o (entrevistado) é muito bom aluno” eu gostava, mas quando é “oh (entrevistado) tu é que tens que puxar por estas pessoas, que estas pessoas n\ao fazem nada…” não gosto disso. Depois a professora, relativamente á cadeira de (nome de disciplina) também foi um bocado isso, a professora de (nome de disciplina) também, é um bocado com todos, mas os que se notou mais… a prof de (nome de disciplina) também só se focava muito nas pessoas que falavam muito mas também não diziam nada, e também com outros professores, mas a tendência que eu reparo é que ignoram um bocado os alunos que estão calados a aula toda , e se calhar podem perceber tudo , mas não gostam de falar ou têm vergonha de falar, e haver alguém que só fala fala fala fala, não diz nada mas está sempre a puxar por essa pessoa para moderar por assim dizer a aula, é um bocado por aí.

6.

Pelo negativo. Por exemplo com a cadeira de (nome de disciplina), que a professora desvalorizou completamente a minha situação, não gostei mesmo mesmo mesmo nada. Pelo lado positivo talvez foi os outros professores que defenderam a minha posição e percebram perfeitamente. Não tive muitos casos de me relacionar com os professores nesse sentido, mas os que tive marcaram-me, para o bem e para o mal. Houve profs que estavam super disponíveis, e há outros professores que é “tudo eu tudo eu tudo eu” a minha cadeira é que importa e pronto, tens que ir tens que ir tens que fazer tens que fazer, seja o que for. (pergunta geral ou em casos específicos) Foi em casos específicos. Como eu já disse, no geral os professores são simpáticos com os seus alunos, toleram-nos. Mas os casos que se destacam é nos extremos mesmo.


7.

Não concordo. É assim o que eu interpreto dessa frase é que a base do poder do professor é o conhecimento, e o objetivo dele é transmitir o conhecimento, concordo com essa parte mas não acho que o conhecimento seja a base do poder do professor. Para bem e para mal acho que prof muitas vezes tem autoridade porque está escrito no papel. Pode não saber nada sobre aquilo e dar aulas á mesma, pode saber menos que os alunos, também acontece isso cá na faculdade. Acho que a base do poder do professor devia de ser … a palavra poder é muito opressiva, porque quando se pensa em poder pensa-se no mau uso do poder, mas no caso da sala de aula sim, acho que o professor tem de ter algum poder, e o que qualifica o professor diferente de nós é que ele sabe mais daquilo que nós, sabe mais e sabe, em teoria, ensinar aquilo a quem não sabe. O poder do prof é o conhecimento, o objetivo é, no geral, transmitir o conhecimento, mas a base do poder dele é o conhecimento, mas a experiência que eu tenho é que esta base é mesmo a autoridade.

8.

A autoridade no sentido de, por exemplo punir os alunos…? (aconselhado para pensar nos 3 paradigmas) é assim por exemplo, isto claro que depende de quem está a usufruir da autoridade, é muito relativo á pessoa, mas por exemplo acho que o professor, quando se está por exemplo a debater nas aulas, não gosto que o professor tenha a última palavra , porque o que dá a entender que “pronto isto acabou , é o que eu acho e acabou” já tenho notado isso muitas vezes. Não acho correto, por exemplo os professores não quererem saber do alunos, pronto vocês fazem isto é isto que têm de fazer, está no plano, tens 161 horas de trabalho e não tens 161 horas sequer para todas as cadeiras…Eu fiz a experiência no primeiro semestre que foi pegar na bibliografia obrigatória para todas as cadeiras, fiz número de páginas e fui ver quanto tempo é que se demorava a ler uma página em média, e o total dava 30 dias para ler aquilo tudo, e o semestre tem quase 3 meses. Era impossível ler aquilo tudo. O caso que eu acho legítimo a autoridade da professora é, por exemplo, quando está alguém a interromper a aula para os outros aí acho que o professor tem a autoridade não de mandar embora mas de chamar à atenção, porque muitos colegas não prezam isso, acho que os colegas “ok está a falar, eles que falem porque o professor vai lidar com isso”, e a autoridade também devia vir da parte dos alunos acho que os alunos também deviam zelar pelo bem da aula, se tá alguém a falar, xiu, não é ser só o professor quando está no limite bater na mesa ou CALOU. Aí acho que já levou longe demais.


9.

Os ilegítimos são aquilo que eu disse, o professor tem, ou quer ter a última palavra para mostrar o seu poder entre aspas sobre os alunos. Também tem a ver com o exemplo que eu disse que é os professores não perceberem a situação dos alunos e obrigarem-nos a coisas que eles não estão confortáveis ou que não conseguem mesmo fazer, é o caso dos trabalhadores estudantes que não têm avaliação específica e queres fazes a cadeira para o ano. É um caso ilegítimo da autoridade.

10.

O professor tem a última palavra, o professor ignora completamente a necessidade dos alunos, não quer saber deles, obriga-os a trabalhos que dão imenso trabalho num espaço de tempo minúsculo praticamente impossível de fazer, não tem consideração pelas outras cadeiras, acham que a faculdade é só a cadeira deles, e dão-te 160 horas de trabalho só para uma cadeira, e tens mais 4. Professores que usam a autoridade deles para calar os alunos, por assim dizer. Já reparei em alunos a dar a opinião e o prof “ah, mas agora não temos tempo para isso” não é que não tenham tempo, o professor é que não quer enfrentar a opinião dele. É esses que eu noto mais.

11.

Depende da autoridade, por exemplo se for o professor a chamar a atenção porque os alunos tão a perturbar a aula em si, não fico contente nem chateado mas percebo a posição do professor, mas quando um professor usa a sua autoridade para sobrepor-se a quem está a ensinar aí fico mesmo revoltado, fico revoltado por causa disso e fico revoltado porque sei muito bem que mesmo que faças uma queixa à faculdade eles fazem 1001 coisas para tu não fazeres queixa. Foi o que aconteceu com a professora de (nome de disciplina), houve uma aluna que era trabalhadora estudante, a professora recusou-se a fazer a avaliação diferente, ela foi fazer queixa à faculdade e a faculdade mandou por 1001 pessoas todas a dizerem que era uma má ideia “ah não faça isso, porque não sei quê, tá cá há muitos anos” isso aconteceu o a professora de (nome de disciplina) e o argumento que usaram para nós não fazermos queixa dela foi “ah ela tá cá na casa há muitos anos fica mal e tal” não é uma questão de ficar mal é o bem dos alunos, se 90% dos alunos está mal com aquela professora algo está mal com a professora, muitas vezes relacionada com a autoridade, que a prof pode quer e manda e os alunos estão ali como robôs. Quando uma pessoa passa tanto tempo num sítio onde é completamente submissa, isso consome uma pessoa, ou consegue sentir o poder por assim dizer no seu tempo livre, senão dá o burnout, eu já tive burnout que é aquela coisa eu não tenho poder nenhum aqui, o meu poder é fazer o que o professor me manda, é dar o meu melhor no que ele manda. Quando é com os outros, fico revoltado, se calhar quando é comigo fico triste, não é que fique triste por mim


mesmo, é mais naquela cena tipo, tu consegues fazer alguma coisa e tás aqui a marrar nisto e podes muito bem fazer alguma coisa sobre isso…Mas triste, chateado, revoltado. O melhor termo que eu posso dar é mesmo fúria, fúria de raiva e fúria de tristeza. É a melhor forma de conseguir descrever. 12.

Com os alunos mais velhos eu acho que os professores conseguem trata-los, depende…Quando é os alunos mais velhos são mais extremos por assim dizer, quando é um aluno mais velho que eles gostam eu acho que eles coceguem relacionar-se mais facilmente com ele do que com mais novos porque a idade tem experiencias semelhantes, mas também quando é um aluno mais velho que não chega ás expectativas deles eles ignoram completamente ou acabam por estar sempre em cima deles. Com os alunos mais novos eu percebo o lado dos professores porque claro eles tiveram experiências de vida completamente diferentes das nossas, e torna-se difícil, mas não impossível. Há profs que se calhar são mais velhos e têm melhor relação com os alunos e percebem melhor a realidade dos alunos do que os que saíram da faculdade nem há 10 anos. Mas na distinção entre mais velhos e mais novos, nos mais velhos eles tendem a ser mais extremistas, ou adoram completamente a pessoa ou odeiam. No caso dos mais novos talvez por ser mais homogéneos são mais nivelados, não há grandes picos na relação.

13.

Eu acho que a linha é quebrada quando um professor abusa da autoridade parece que se sente cá dentro, parece que a sala toda cai o coração de toda a gente, por exemplo o (nome de aluno) e (nome de professor). Quando ele saiu da sala em revolta, sentiuse, porque percebeu-se que a professora foi longe de mais. Se ele dissesse que não tinha gostado ela “AH estou a brincar e tal” e acaba por ter a última palavra, porque acredita-se mais no professor, ah ela disse que tava a brincar ele é que é um coninhas. Esse é um exemplo concreto. Não consigo falar por toda a gente, mas se um professor me corrigisse e eu estivesse a fazer ago de mal eu percebia o que ele queria dizer, e quando é o caso dos outros eu percebo o que eles querem dizer. Mas há casos que eu acho que estão mesmo a abusar da autoridade. Um exemplo pessoal, a professora de (nome de disciplina), disse que é para chegar às 09:45, houve um dia que tive uma emergência, cheguei ás 09:50, entrei até me sentar esteve a mandar vir, Um colega nosso chegou 45 mins atrasado e ela nem piou, aí toda a gente reparou, e na outra aula aconteceu o caso da professora me ignorar completamente, que eu estava com a mão no ar e ela olhou para mim, e ela continuou com a aula, porque estava mesmo num debate, eu tinha. A mão no ar, a professora tava com pressa, ah este só diz


asneiras, olhou para mim, pronto vamos continuar a aula e toda a gente percebeu, toda a gente se riu, mas aquele riso nervoso, se calhar o que define o limite da autoridade do professor é quando ela infringe na capacidade do aluno se exprimir. Óbvio que não é o aluno estar sempre a falar par ao lado, mas quando o aluno quer contribuir e o professor lhe nega isso aí é que eu sinto mesmo cá dentro, que abusou da autoridade. Extras: o que eu posso dizer é que dentro desta instituição há pessoas que querem a mudança, e que dentro da sala de aula dessas pessoas o aluno sente-se mesmo livre, no sentido que consegue ser quem é e fazer perguntas o mais estúpido que seja, que não vai ser julgado por causa disso, no caso do prof (nome de professor) ele até dizia que vocês até podem dizer asneiras, e eu dizia porque me ajudava a explicar o que eu queria dizer, e acho que é algo muito bom, espero que não fique só dentro dessa sala de aula, espero que essas pessoas consigam ter influência em mais sítios, sei que várias pessoas são contra isso, porque muitas pessoas têm medo, porque as pessoas vêm estes casos e ah o prof tá a perder autoridade e o prof é que manda e tem razão e deixar um aluno dizer asneiras na sala de aula é errado mesmo que seja a forma de ele explicar o seu ponto. Infelizmente há casos na faculdade que não são assim, mas os que são, são quase o ponto alto da semana, é tipo ei vou ter aquela aula em que o prof me deixa ser eu e que me deixa participar e que fala de coisas interessantes. O professor parece um ser vivo, o professor não parece um robô. É um ser humano com sentimentos e defeitos e que os admite, não é aquela pessoa que até quando é corrigido tem de ter razão e tem de ter a última palavra. E estes professores colocálos-ia no paradigma da comunicação.

Entrevista A-3 1.

A maior parte dos professores que tive antes de entrar no curso situavam-se sem dúvida no da instrução, porque detinham de certa forma o conhecimento todo e nós éramos vistos como meros transmissores, ou seja, tínhamos que apropriar o que eles diziam e a autoridade centrava-se neles. Eles transmitiam, tinham o currículo estabelecido, e digamos que se nós conseguíssemos apropriar bem, tudo bem, éramos considerados os alunos inteligentes. Caso contrário, se nós mostrarmos mais dificuldades, éramos vistos como aqueles que não se preocupavam que não se interessavam. Era visto assim, eles no lugar do topo e os alunos serem subjugados ao papel de meros recetores de informação e apropriadores.


2.

É assim, eu acho que maior parte ainda se insere no da instrução, acho que ainda acontece muito, embora seja na faculdade, e não têm a noção destes paradigmas, acho que muitos ainda se inserem no da instrução, têm muito o conhecimento e nós novamente temos de apropriar esse conhecimento. Contudo, há exceções em que alguns, não todos, como e óbvio, se inserem na comunicação, que vêm o aluno… não o colocam no lugar do topo, vá no de “rebaixar. Estão ali no meio termo, tanto o professor como o aluno, nem o professor tem o conhecimento todo, nem o aluno tem a insuficiência de conhecimento por assim dizer. O aluno aprende com o professor e o professor aprende com o aluno. Há este jogo de ajudo, digamos assim. Mas sim, a maior parte ainda se insere no paradigma da instrução, mas há exceções.

3.

Eu ainda não tinha bem uma ideia do que era o curso, então não sabia bem para o que servia. Pensava que ia ser mais um curso em que os professores não conheciam os alunos, que iam ser turmas gigantes, que éramos só mais um aluno, só mais um a ser avaliado, e por isso pensei que a relação fosse tão próxima como realmente é, a turma não é muito grande, então os professores têm algum conhecimento dos alunos. Sabem quem eles são, se eles vêm às aulas se não, conseguem ajudar minimamente. Como no secundário, as turmas são pequenas, e o professor sabe o que “está” ali. Por isso mesmo, as expectativas não corresponderam aquilo que tinha em mente porque lá está pensei que os professores não nos iam conhecer e estavam-se “marimbando” para nós. Iam ser só mais um avaliado, a que iam aplicar aquele método, e não nos iam conhecer minimamente, se éramos de longe de perto, se assim fosse.

4.

No secundário, nota-se aquela distância de professor-aluno, eu só professor, “tens que me tratar por você”, que era o que maior parte queria, havia alguma exceção, mas havia sempre este trato de professor/aluno. Aqui já não é tanto esse trato, mas se calhar - não é uma relação de amizade como é óbvio - mas aqui somos tratados como adultos, de certa forma, já não as crianças que nos tem de respeitar, mas já nos vêm como alguém mais equiparados a eles. Estamos, digamos, próximos a nível de estatuto.

5.

A minha opinião vai um bocado na via do que eu disse, nota-se que há algum distanciamento, há certos que acentuam isso, mas maior parte já nos vê como adultos, e tratamos como tal, e por isso, se calhar aquelas brincadeiras que tínhamos no secundário já não são tão aceites. Mas a maneira como nos tratam que é mesmo por aí, e uma questão de ser adulto, e crescer, e deixar de ter tantas brincadeiras no sentido de infantilidade, acho que é por aí.


6.

Tenho casos específico, no primeiro semestre a prof (nome de professor) era muito simpática e ajudava muitos os alunos, eu reparei nisso, era muito recetiva aos alunos. Nós podíamos falar com ela se tivéssemos algum problema e ela ajudava. Tanto ela como o (nome de professor), no segundo semestre, se mostrava igualmente disposto a ajudar. Ela até deu o caso de um aluno no natal não tinha ca a família, acho que era de Erasmus, e ela o acolheu e eu achei essa ação algo incrível que maior parte dos professores não faria. Notei nela que além de professora, podia ser uma amiga tua na faculdade, ok é mais velha, mas consegue compreender-te, eu gostei bastante. A ligação que ela criava com os alunos e o (nome de professor), acho que são ambos parecidos nisso, era muito positiva e consegue distanciar-se do papel só do professor e conseguem colocar-se mais no papel… de alguém que está mais próximo de nós, não é só aquele que nos está a transmitir conhecimento mas alguém que nós pessoalmente podemos confiar, podemos pedir ajuda. Mostravam-se muito dispostos a isso, e lá está, acho que foram o que tiveram mais impacto em mim nessa situação, porque lá está se eu tivesse algum problema, por acaso não foi o caso, mas se tivesse e não tivesse mais ninguém a quem me refugiar podia-me refugiar neles. Sabia que eles estavam ali para nós, até noutras questões, não só a nível mais pessoal, mas até monetários, eles falavam muitas das vezes que podíamos falar com pessoas da faculdade e aconselhavam-nos a falar com elas se tivéssemos problemas em pagar propinas por exemplo, eles davam muita orientação sobre isso. e acho que além de professores, foram nossos amigos nesse caso, porque os outros nunca se preocuparam em informarem-nos sobre essas questões nem contar essas histórias. Tinha aqueles professores que lá está, eram os típicos professores que só queriam transmitir a matéria, por exemplo, no primeiro semestre tivemos o professor (nome de professor) se é que posso dizer, que nunca estabeleceu uma relação com os alunos. Ele limitava-se a transmitir o que tinha para transmitir e deixava de lado completamente o resto. Não queria saber se estávamos a entender, se não. Ele não se preocupava em estabelecer essas ligações mais pessoais, não digo íntimas porque não o são, mas de preocupação. É por aí.

7.

Eu acho que um professor não tem de ter digamos um poder definido concreto, tem vários papeis, ajudar os alunos transmitir o conhecimento. Mas ele é acima de tudo um educador, é alguém que passa muito tempo convosco e há partida devemos conhecer um bocadinho melhor, conhecer quais são os nossos objetivos, as nossas limitações, e ajudar nesse sentido. Não é só “tens de saber isto” “tens que saber aquilo” “no teste vai


sair isto ou aquilo”, acho que se devem preocupar mais no sentido em que, eu tenho mais dificuldade nisto, tem de me ajudar, numa perpectiva futura eu gostava de fazer isto, e ele aconselhar para nos envolvermos em algum projecto, aconselhar a fazer outras coisas além de estar ali a estudar só para a disciplina dele, acho que eles não têm só esse poder e não deviam ter um poder definido. O que foi transimitido, desde o secundário, é que o poder do professor era o da figura principal, de transmitir o conhecimento, e eu considero que ele não tem de ter só esse poder, não sei se é para isso que remete mas a meu ver o poder que lhe estava confinado não tem de ser esse, e agora com a licenciatura e com outros conhecimentos, e os vários professores que tive essa perspectiva mudou um bocadinho e eu realmente percebo que não tem de ter esse poder, não deve estar definido. Ele tem de se preocupar com os alunos, estes são pessoas, tem limitações, tem objectivos, tem coisas em que são melhores, tudo isso tem de ser tido em conta. Não se pode preocupar só com um, tem de se preocupar com todos, e por isso não pode aplicar o mesmo método a todos, tem que ter em conta tudo isso. 8.

É mais facil dizer os não legitimos. Legitimo, ilegitimo… acho que não. Não tem de estar ali só a transmitir o conhecimento, a ser a figura central. Tem de dar espaço aos alunos para se revelarem.

9.

Essa é mais fácil. O facto do professor não se preocupar em transmitir, em mostrar o poder que lhe está garantido. Acho que é mais preocupar-se com que tem a frente que são pessoas e não como objectos que são maliaveis, que ele pode moldar como deseja. Acho que tem de existir uma preocupação com o cariz mais pessoal. Nisso dos professores terem a autoridade máxima, quando os alunos têm necessidades especiais, posso dar esse exemplo. Nunca presenciei muito na minha turma, mas no secundário. Mas tinha conhecimento que esses alunos eram mal tratados, deixados de lado e visto como pesssoas que não valia perder tempo com, que tinham necessidades, e que para esse efeito tinha o professor de necessidades especiais, então deixavam de lado esses alunos. Considero que seja desnecessário, porque são pessoas, têm as suas limitações como toda a gente, e precisam de ajuda. E isso foi uma das coisas que não gostava de ouvir.

10.

Na faculdade, senti mudanças notórias nesse aspecto, como já referi. Assim de mais autoridade, não ter em conta o que o aluno tem para mostrar, as experiências que o aluno têm, o conhecimento que ele também tem. Quando um aluno contradiz um professor muitos deles não aceitam, e começam imediatamente com criticas e


multiplas teorias a volta daquilo e simplesmente não aceitam outro ponto de vista, acham que aquilo é uma ofensa pessoal para o professores. E não é, as opiniões têm de ser respeitadas e muitos deles é mesmo uma posição de “eu é que sei, tu és só um aluno”, já vi alguns casos desses e acho que é mais por aí. 11.

Não gosto quando os professores vem os alunos como incapazes e não têm consideração pela sua opinião. Quando os alunos dão a opinião deles ou contradizem, eles atacam, ou seja, não vêem aquilo como algo que os ajude a crescer mas sim como uma ofensa. E atacam e atacam. E também não gosto daqueles professores que têm a mania que sabem tudo e que têm o conhecimento todo, e tudo gira a volta daquilo, são um pouco limitados nesse sentido. Tudo o resto é acessório para aquilo que não seja a disciplina deles.

12.

Na minha turma há pessoas mais velhas e isso nota-se, alguns professores olham para esses alunos e vêem-nos de uma maneira diferente dos mais novos. Olham para os mais novos e como eles acabaram a relativamente poucos anos o secundário, ainda vêem muito com aquelas ideias mais de criancices, o que nem sempre é o caso como é óbvio. Acho que vêem os mais velhos mais adultos, e isso é uma verdade, mas com mais… digamos… inteligênica. E muitos deles, era o que notava, acho que vêm esses alunos como mais ao nível deles. Não são professores, mas é quase como se fossem, porque percebem imenso daquele assunto ou porque utilizam outras teorias ou outros autores, e vêem-nos como mais capazes. Quando perguntam “então oh x o que tens a dizer sobre isto?” e se calhar não vêem os mais novos, e eles também podem estar dentro do assunto, ter estes conhecimentos, mas eles como são mais novos “não sabem tão bem… não está tão bem definido” e acho que é um bocado por essa vertente. Mas claro, há exceções e há professores.

13.

Quando não respeitam a opinião pessoal dos alunos como já disse, e atacam. Acho isso absurdo.


GRUPO B Entrevista B-1 1. Mediante ao conhecimento o ano passado é aquilo que disse desde sempre — que eu tive, há quarenta anos atrás, professores colocados no paradigma do na instrução, e outros, mesmo numa ditadura, já estavam no paradigma da comunicação. Assim como, em 2018 continuo a ter professores colocados na instrução e professores na comunicação. Nota: nós nunca podemos estar a falar de aprendizagem sem nos relacionarmos com o tempo em que vivemos, certo? se estou a falar de há 40 anos atrás o sistema político em questão era um partido direito, de um partido único, portanto todo o sistema educativo era regido de uma só maneira. Todo o professor que saísse dessa trajetória, podia dar-se mal. O que é que acontecia — eles lecionavam a maneira como dizia o currículo mas depois eram capaz de estar connosco no café e dar-nos uma abertura, um conhecimento, totalmente diferente. 2. Há um paradoxo, eu sinto que os professores que eu tive no primeiro ano, não vou dizer nomes, alguns deles levaram a pensar que o ensino poderia estar diferente a nível da autoridade. O que eu encontro nesta universidade, e nos professores, alguns que tenho este ano é que autoridade está oculta. Eles continuam a ter a autoridade, só que está oculta. Só uma pessoa muito observadora é que vê certos procedimentos que são autoritários. 3. Tinha expectativas muito altas, talvez por isso é que esteja tão frustrada nessa questão. Um curso de ciências de educação…nota, eu fiz uma et23 e entrei em duas universidades, o que me fez escolher esta, foi ciências da educação. Porque para mim, embora tu tenhas uma educação formal, não formal, informal, tu podes ainda sempre desenvolver a tua própria educação. E para mim educação é uma arma mesmo poderosa para não deixar que me calquem, entendes? Por isso escolhi este curso, não está a ser mesmo o que estava a pensar que era, não deixa de ser um bocadinho os conteúdos muito dados levianamente que aliados a teoria para uma prática, não condiz uma coisa com a outra. 4. Eu neste momento, por incrível que pareça, eu tenho um à vontade com a docência, sempre com muito respeito, que não teria há quarenta anos atrás. 5. Neste segundo ano, neste segundo ano e este primeiro semestre, eu tenho só dois docentes que afirmam esta autoridade na sala de aula. Os outros, estão ali no meio, não são totalmente isentos da autoridade. Aliás, o poder está na mão deles, sempre.


6. Pelo positivo, surpreende-me pela positiva sempre quando tenho aulas, porque quando intervenho, intervenho sempre com respeito e com educação, mas é porque não percebo, ou porque acho que é um paradoxo aquilo que nos estão a tentar lecionar e aquilo que tenho de aprender. Portanto sempre muito bem tratada nisso. Alguns dizem que é sorte, não acho que seja sorte, é simplesmente, o docente que eu tenho a frente a olhar para mim quando questiono e perceber que não estou com más intenções. Pelo negativo não. Na minha pessoa. Eu chego a ficar ofendida e às vezes intervenho na maneira como o docente age de maneira negativa com certas colegas meus. Não é comigo, e com um colega meu. Que seja com um colega meu, eu dou-me na mesma. Isto em casos específicos. Eu acho que o aluno tem muito que se posicionar nessa questão, não é só o docente, o aluno tem que dar abertura e tem que marcar postura perante o docente. E aquilo que vejo mais é o aluno que não dá qualquer tipo de feedback ao docente. 7. Acho que não estou de acordo com essa frase. A posição do professor nem sempre é uma posição transmissora de poder. É claro que ele exerce um poder subentendido, e um bom professor é o que faz isso, porque, eu acho que tem que haver um poder sempre, em qualquer circunstância, e o poder neste momento, sendo tu aluno, tens que te pôr no teu papel de aluno. O poder para mim é o conhecimento que eles têm que tu não sabes, por isso é que estás cá. 8. Nenhuns. 9. Um professor levantar a voz a um aluno, um professor chamar a atenção a aluno de maior idade de que, ameaçando, que lhe pode correr mal a vida, isso é ilegítimo, isso não é autoridade. 10. Pois os atos de autoridade é mais ao menos o que eu acho que o professor me dita o meu percurso que tenho que fazer para ter êxito na unidade curricular. E eu já frisei que não considero a autoridade má. Sempre que me desvio desse percurso e se abusam da autoridade aí é que eu acho mal. 11. Pois eu aí, eu sou uma pessoa um bocadinho descontrolada, eu sou uma pessoa, que tem esta vivência toda, tenho uma carga já de educação que eu considero educação, e não suporto muito ver certas atitudes como já referi ao princípio, não para comigo mas para pessoas mais novas. 12. Eu julgo que não entenderia assim, eu continuo a achar que não há diferenças. Aliás, eu sempre que entrei aqui desde o primeiro ano, eu sempre vos pedi por me tratarem de


por tu, porque não quero, eu vejo isso como um ato discriminatório da vossa parte, vocês dizem-me que é respeito, mas eu acho que não. É vocês estarem-me a dizer, esta pessoa não é como nós. Assim como se um docente me tratar assim, eu vou pensar da mesma maneira. O que vocês tentam-me dizer, e ouvi essa frase muito no primeiro ano, se fosse um de vocês a dizer as coisas que eu digo, o docente não levaria da mesma maneira com as coisas que eu lhe digo. Se é um problema de idade? Não, eu acho que isso é uma questão de postura. Quando eu intervenho, eles sabem que alguma coisa se passa. 13. Eu sei como te hei de descrever isso. Como o prof (nome do professor) nos disse, partilhou connosco o conhecimento desta autoridade e autoritarismo. Eu, autoritarismo, eu percebo num agente da polícia que pode intervir porque tem num sistema legal, um professor não considero que possa ter esse autoritarismo. Essa postura comigo não. Eu acho que também essa distância, eu lamento estar a dizer isso, mas comigo não. Eu não dou abertura para isso. Quando eu vejo que as coisas podem ir, nem nunca vi num docente mesmo para os meus colegas esse autoritarismo. Eu vejo muito, é este o meu padrão, é esta a linha vou utilizar, e vocês têm que fazer igual. Não penso que isso seja autoritarismo na avaliação, eu não sei. Entrevista B-2 1. Muito mais na base da instrução, até porque já tenho mais idade e posso dizer que por exemplo a minha professora da escola primária ainda era daqueles profs antigas que batia de reguada, portanto ainda tínhamos essas questões, ela batia não só por comportamento, mas também por não sabermos, e era aquela aula completamente autoritária. A partir do ensino secundário, claro que se foi atenuando um pouco, porque a metodologia de ensino já é completamente diferente, também mais dirigida para outras idades, e baseada noutras coisas, mas mais também no paradigma da instrução e um pouco alguns professores na aprendizagem. Comunicação era mais raro, acho que era aquele um professor ou dois que nos toca e que nos lembramos pela positiva. 2. No paradigma da comunicação, muito mais. Principalmente na dimensão da autoridade, até porque acho que faz mais sentido, somos todos adultos por mais novos ou mais velhos, e acho que esse respeito mútuo e a não imposição de um professor sobre ti que se impõe mais quando somos mais velhos, até se pressupõe que também nós próprios já tenhamos outras capacidades e que não precisemos de uma autoridade imposta como precisamos talvez quando somos mais novos, não digo que não. Aqui partimos do ponto de que somos todos adultos e que estamos todos no mesmo patamar.


3. Sinceramente não tinha assim expectativas no sentido de estar a pensar como seria. Tinha já partilhado experiências com algumas pessoas que estavam aqui e sabia que já era uma relação completamente diferente. Enquanto os profs no secundário ainda nos impõem mais essa autoridade ainda há mais aquela relação do professor exercer essa autoridade sobre nós, já tinha a expectativa de ser uma relação mais de respeito, uma autoridade e não um autoritarismo, muito mais baseado no respeito, por causa disso que referi há pouco, acho que os professores aqui já nos tratam muito mais como um adulto, e respeitam e valorizam muito mais aquilo que nós já trazemos connosco. 4. Como eu referi há pouco, muito mais respeito, muito mais liberdade os professores deixam muito mais á nossa escolha como fazer e o que fazer, menos pressão porque acho que já partem do princípio que já somos adultos neste momento, embora no meu tempo houvesse uma diferença a nível secundário porque não era obrigatório como agora, portanto nós já estávamos lá porque queríamos, mas ainda há aquele paternalismo porque nós ainda somos adolescentes, e aqui na faculdade não noto isso, acho que nos tratam muto mais de igual para igual, responsabilizando-te, exigem mais de ti, és uma adulto, tens mais responsabilidade, mas numa relação muito mais de igual para igual. 5. Até agora os sentimentos positivos, desde o tempo em que andei para trás e que depois tive interrupção então dos (número) anos, nunca tive conflitos com professores, sempre foi uma relação na base do respeito, os professores são acessíveis, até agora comigo, quando temos algum problema, dificuldade, são mais abertos em ouvirem as nossas questões como não são no secundário, até porque pronto aqui também tamos numa fase de vida em que muitas vezes já trabalhamos, já temos outro tipo de responsabilidades que não temos no secundário, e se calhar aqui os professores compreendem melhor às vezes as nossas condições de vida e as dificuldades, e acho que são mais acessíveis. Da minha parte sempre me dei bem com todos os professores, e acho que quando os professore vêm que estás empenhado e que estás inteiro nas coisas, que também retribuem isso. 6. Pelo negativo não, como já referi não tive experiências negativas com professores, pelo positivo sim, achei sempre bastante abertura da parte dos professores, e nomeadamente este ano, porque quando andei há (número) anos atrás eu era estudante, mas agora é diferente, há muito menos tempo para o estudo, para os trabalhos, também faço alguns trabalhos agora com colegas também trabalhadores estudantes, porque acaba por ser mais fácil e haver uma compreensão até a nível dos horários e assim, e


tenho achado sempre os professores bastante acessíveis e compreensivos com essa situação. É alguns casos específicos, há de tudo, não é tudo rosas. Claro que há professores com quem eu menos me identifiquei, pela sua postura, que não são tão acessíveis a nível do PowerPoint e assim, têm aquela postura mais conservadora, tens de ir aos livros e ler. Compreendo essa postura claro. Não são todos, mas de uma forma geral acho que os professores são mais acessíveis. 7. Não me posiciono muito nessa citação, embora claro acho que quanto mais descermos na faixa etária o professor tem de certa forma o seu poder, a sua autoridade, e está ali para ensinar, e há um certo respeito que tem de vir daí, mas ser a função do professor transmitir apenas a base do seu poder e basear a sua relação aluno professor apenas no poder que tem sobre o aluno, porque tem de facto, o aluno tem de obedecer, não está numa posição de igual para igual. Eu compreendo que isso tenha de acontecer principalmente em algumas idades quando ainda não estamos construídos a nível pessoal e psicológico para nos posicionarmos de igual para igual, ainda estamos numa fase de aprendizagem, e também precisamos dessa questão mais das regras, e não nos darem tanta liberdade para ser o que somos até porque ainda não sabemos o que somos e estamos em construção, mas acredito muito mais num ensino onde o poder do professor é mais subtil, onde entra por exemplo o poder do professor quando é mais necessário, mas nas outras situações há liberdade e há também um reconhecimento pelo professor daquele aluno que está à frente dele, que também tem ideias e idiossincrasias e formas de estar que também têm de ser respeitadas e compreendidas. A relação tem de ter em conta o respeito e o reconhecimento, se for só pelo poder é uma relação bastante limitada. 8. Eu acredito mais numa noção de autoridade como por exemplo a escola (nome), onde a autoridade é partilhada no sentido de que são todos que constroem as regras em conjunto, é uma decisão partilhada onde todos acordam o que deve e não deve ser feito, e acho que a partir daí a a imposição de regras deixa de ser tanto uma imposição e passa a ser uma aceitação e uma construção porque foi deita por todos, e daí tu respeitas de outra forma. Mas acho que principalmente nas idades mais baixas quando ainda estamos em crescimento concordo que haja coisas de autoridade e respeito. Respeitarmo-nos uns aos outros, respeitarmos o querer participar dos outros, não interromper, acho que são regras básicas de educação, e acho que na faculdade já não deveria ser necessário os professores estarem com esse tipo de regras. Acho que não devemos negar que tem de haver autoridade, que é diferente do autoritarismo, e por si só acho que aqui na faculdade o professor muito mais tem a sua autoridade, até porque é uma pessoa que


muitas vezes já estudou muitos anos, investiga e é doutorado. Chegar cedo, chegar a horas, embora aqui não seja tão pertinente, mas basicamente é o respeito, o respeito mútuo. 9. Por exemplo ridicularizar alguém, fazer reparos por exemplo no secundário à frente dos outros colegas, acho que somos todos adultos, se o professor tem algo a dizer chama a pessoa à parte e não tem de estar ali a falar à frente de todos. Somos adultos, se nos posicionarmos numa posição de respeito de adulto para adulto, não acho admissível para um professor estar a fazer reparos à frente dos outros a um aluno que já é adulto. 10. Mais quando há barulho mesmo, o mandar calar, ou então quando estamos a ter uma aula ou a apresentação de um trabalho e o pessoal não está a ver e está a fazer outro trabalho ou no computador ou no telemóvel. E até agora tem sido isso, aqui os atrasos e esse tipo de questões acho que não se coloca, somos todos adultos, chegam quando chegarem e vão embora quando quiserem. A esse nível do barulho tem acontecido muito. Chamadas de atenção. Às vezes há algumas questões que me parecem um bocado…alguns reparos tipo “ah vocês a esta altura já deviam ter isto bem-sabido” “se não sabem isto não sei o que é que estão aqui a fazer, deviam voltar para o primeiro ano para aprender”. Isso parece-me mal da parte dos professores, porque às vezes não estamos mesmo a compreender porque não temos todo mobilizado e não sabemos nem articulamos tudo da maneira como eles fazem, e para mim é uma realidade, o secundário não nos prepara para o tipo de pensamento que nós temos de ter aqui, que é um pensamento muito mais crítico e reflexivo, e há se calhar uma certa dificuldade que talvez os professores não compreendem de os alunos perceberem certos conceitos mais abstratos, e parece-me que ficam chateados quando são colocadas algumas dúvidas. Isso só vai fazer com que o aluno para a próxima não coloque a dúvida com medo de levar na cabeça à frente de todos. E sinto que isso acontece muito. E mesmo em trabalhos de grupo que estamos a apresentar há muito medo de falhar, o pessoal fica muito nervoso. Nós não vamos para ali para fazer tudo perfeito, vamos mesmo para fazer erros porque é assim que aprendemos, e precisamos de ter espaço para esses erros, se cada vez que errares o professor te cair em cima isso dificulta muito. 11. Ainda não aconteceu comigo, mas nestes casos eu diria ao professor que se lhe estou a colocar uma questão é porque não sei. Não tenho medo do conflito. Mas quando é com outros colegas sinto-me revoltada, claro. Sei que muitos colegas têm medo desse conflito. 12. Grandes diferenças. Com alunos mais velhos às vezes acontece os alunos serem da idade ou mais velhos do que o professor, e automaticamente a idade traz consigo uma


questão de outro trato e de outro respeito. Se calhar com os alunos mais novos acho que o professore tendem a ter uma atitude muito mais paternalista, de falarem convosco mais como se vocês fossem crianças, o que falar para um adulto mais velho não é aceitável, e para a própria forma de relacionamento interpessoal do professor também não seria aceitável, isto são coisas inconscientes que nós temos não é. Os alunos mais novos, se calhar os professores até têm filhos da idade deles, e há mais atitude paternalista. Em relação aos mais velhos os professores tendem a respeitar um pouco mais e a não ter certo tipo de intervenções, acho que às vezes mesmo sendo um aluno mais velho a fazer as mesmas questões do que um mais novo o professor não responde com a mesma assertividade e agressividade. Também porque muitas vezes os mais velhos são trabalhadores estudantes, têm outras vidas e outras ocupações, e os professores compreendem que isso condiciona um pouco. Talvez os mais novos tenham uma vida mais desafogada, e por isso talvez eles exijam mais dos mais novos e sejam mais condescendentes com os alunos mais velhos. 13. Quando deixam de respeitar a pessoa que têm à sua frente, porque apesar de tudo e nós estarmos numa relação igual, o professor tem um certo tipo de autoridade que acho que tem de ter, mas não é o dono da aula ou da unidade curricular, e quando não há respeito, quando eu não te considero e não discuto, não tenho em conta aquilo que tu tens a dizer, aquilo que tu podes acrescentar à própria UC e estou numa relação desequilibrada em que eu te respeito mas tu não me respeitas, aí passou o limite. Porque desde que haja respeito e educação acho que tudo pode ser dito sem magoar o outro, sem rebaixar ou ridicularizar. Por exemplo com os reparos dos profs penso que é ridicularizar, porque há um risinho aqui e ali. Isso não me parece ser aceitável, porque é possível eu fazer um reparo com respeito sem tu ficares rebaixado. E quando se passa a linha passa-se a linha.

Entrevista B-3 1. Antes…então acredito que eu tive dois tipos de paradigmas. Eu tive do paradigma da aprendizagem, porque eu estudei na escola de (nome), então era muito baseado no aluno, na questão das necessidades, na questão das dificuldades do aluno, e então o centro de olhar era muito focado nas nossas necessidades e condições de aprendizagem. Posteriormente eu passei (número) anos lá com esse paradigma, e assim eu tinha …antes de ir para lá eu estava numa escola tradicional onde o paradigma era de instrução, não me adaptei muito bem e por essa inadaptação eu fui para o instituto


(nome), onde foi com esse acolhimento que recebi, esse olhar diferenciado e afetivo, fiquei ficar na escola, e consegui desenvolver as minhas potencialidades. Depois saí da (nome), primeiro ano, segundo. Aí foi totalmente, até sair do ensino médio, foi tudo praticamente paradigma da instrução. (Questão da autoridade mais concretamente) Eu sentia que o professor comandava tudo, dizia as regras, passava os conteúdos e a gente tinha que seguir aquilo, memorizar, decorar, encontrar uma melhor estratégia, no meu caso foi a memorização, porque as perguntas dos exames eram praticamente, se a gente colocasse uma opinião pessoal, a questão não estava certa. Então fomos condicionados realmente a reproduzir o que se passava na aula. 2. Acho que 60% dos professores estão no paradigma da instrução, nessa dimensão da autoridade, e 30-40% no paradigma da comunicação, é bem notável que, mesmo com a abertura que a própria licenciatura apresenta, alguns professores ainda se mantêm no paradigma da instrução, e acabamos por ficar iguais….ás vezes lembro-me do meu tempo de aluna “normal”. Mas fico feliz porque esses outros 40% que trouxeram uma aprendizagem baseada no paradigma da comunicação, o interlocutor qualificado, que vai dando condições para que você pense, para que construa também o seu aprendizado, a autoridade também passa por isso, não por autoritarismo mas por saber ver que dificuldade e que potencialidades o aluno tem, e que estratégia de ensino, que dispositivo pedagógico eu vou utilizar para que este aluno saia desta aprendizagem para outra superior. Então eu fiquei feliz, acredito que seja um processo gradual. Os professores que ainda estão na instrução talvez possam mudar…Mas só muda quem permitir que aquele paradigma faça sentido para ele mesmo, e não porque os outros fazem… Se para ele faz sentido estar na instrução, dificilmente mudará. 3. Ao princípio tinha uma expectativa diferente, também podia ser uma coisa assim extraordinária, de outro mundo… Acredito que quando mudamos esperamos que vai ser muito diferente de onde estamos, então eu vinha com a expectativa realmente de encontrar algo diferente. Também ao ver a diversidade do curso e as especificidades deste também acentuou mais a expectativa do que estes professores iam fazer. 4. Alguns profs nós identificamos e têm mais empatia e sentimos uma relação de proximidade. Outros às vezes não têm tanto essa empatia então criam uma relação mais distante, e eu hoje relaciono a própria forma como o professor dá a aula que vai aproximar ou distanciar esse trato pessoal. Porque ás vezes no paradigma da instrução há muita formalidade, mas mesmo os professores que estão no paradigma da instrução eu pude fazer uma leitura e chegar-me a eles, mas claro que é uma relação diferente, de


olá e adeus, uma coisa mais formal, enquanto que os outros professores, pela proximidade, consegue-se fazer relações significativas, também uma coisa que parte do aluno, tentar uma aproximação, independentemente do paradigma, antes de ele ser professor é um ser humano, ás vezes o aluno queixa-se muito do professor, mas antes de serem aluno e professor são ambos seres humanos. Portanto procurei relacionar-me com todos. Mas realmente esses professores de quem me aproximei mais, nos espaços informais, no bar em momentos que encontrava, super afetivos, super atenciosos, embora note muitas vezes sobrecarga de trabalho, cada um a correr com o seu trabalho só dá tempo para dizer olá e adeus. São variáveis que fazem com que esse trato pessoal não ocorra com mais pontualidade e com mais sentido. 5. Eu tive experiências de momentos significativos, de momentos em que foram momentos bastante enriquecedores. Houve alguns momentos em que achei algumas posturas pontuais de alguns professores autoritárias, como darmos uma resposta que não esteja de acordo com que ele defende ou com a ideologia dele, não valorizar o meu ponto de vista porque ele não pensa assim, apesar de ele defender uma abertura. É paradoxo, ele defende abertura e flexibilidade, mas quando um aluno faz determinada questão ou tem determinados pontos de vista o professor não encara bem. Eles falam disso, mas quando chega a hora eu não cumpro aquilo que digo. Mas de uma forma geral eu procuro ver todas as formas como os professores se comportam dentro da sala de aula, eu procuro ver o facto real mas também depois ver para além do facto real, o que pode ter motivado aquela postura e aquela ação daquele professor. 6. Sim, em alguns momentos determinados professores se colocaram com uma postura de otimismo, de esperança, estamos muito incertos com o curso, e o professor com o que ele trabalha com o que ele defende, com a ideologia dele de vida, ou a própria postura mediante as reflexões trazidas pelos alunos ou contributos dele com a sua sabedoria, tudo isto me fez animar e mostrou-me um outro foco de possibilidades, então foram pessoas que positivamente contribuíram assim. Alguns tiveram algumas posturas que … eu via aquela postura e depois tentava pensar no porquê do professor ter agido assim, porque é que ele foi autoritário ou porque é que não deu valor aquela opinião, mas ninguém sabe tudo, quem achar que o professor sabe tudo não entendeu a educação, mas a partir do momento em que o feedback do professor é negativo é muito desanimador. A surpresa positiva foi generalizada, porque eu notei momentos de positividade e de satisfação em todos os professores. Agora os negativos foram


pontuais, tivemos realmente alguns professores em que essa surpresa negativa realmente marcou. Foram poucos. 7. É interessante. O professor tem um poder, não autoritário, não é de comandar ou de dar a última palavra. Ele tem o poder da sabedoria, de alguém que ali está e promover e potencializar a aprendizagem dos alunos e de si mesmo. Portanto tem sim poder, não é por acaso que ele está ali. Muitos não fazem jus a esse poder e transformam esse poder em simples atos de ensinar e não de educar. O poder do professor é muito amplo e complexo, mas principalmente se ele gostar do que faz, este poder não vai ser egoísta e autoritário, ele vai tentar fazer com que o outro desperte tudo de bom, todas as potencialidades, e não vê como um aluno mas como um ser humano. 8. Quando o professor consegue fazer o seu trabalho pedagógico de uma forma sábia, ou seja, ele consegue formar, ele tem o conhecimento, e precisa que aquele aluno saia dali com maior conhecimento, então a autoridade dele acho que está baseada em valores como a humildade e a honestidade, de ele estar ali a educar, não pela cadeira em si, mas pelo que aquela cadeira pode fazer para sermos melhores seres humanos. Penso que a autoridade dele consiste mesmo nessa consciência dele para com ele mesmo, valores como a humildade, respeito, o otimismo, como a esperança que tem nele. Não na transmissão de conhecimento, mas fazer com que a diversidade de alunos que ali está, como eu vou mediar a situação para que aquele aluno se possa desenvolver o mais possível. Autoconsciência do professor. 9. Às vezes eles não aceitam determinadas intervenções ou opiniões dos alunos, que se posicionam e eles têm uma formação ou sabedoria daquilo e eles às vezes não respeitam nem valorizam a opinião do aluno. Também em certos momentos em que o aluno chega com algumas questões e não se dá a devida importância, explica rapidamente ou são vários alunos ao mesmo tempo, e a pessoa fica muito sem a informação devida. Outro é que o próprio professor por não perceber aquela forma de ensinar, ele está a ensinar mais para ele do que para o outro, e tu continuas lá, passivo, o professor finge que ensina e nós fingimos que aprendemos. 10. A maioria de forma geral tem um compromisso com o saber, tem o compromisso de estar a passar conhecimento, sabedoria, a tentar que aquele aluno adquira novas aprendizagens. Outro ato de autoridade é de mostrar essa pluralidade e diversidade de conhecimento que existem e de nos tornar pessoas mais críticas, mais reflexivas, que possam ter mais intervenções na própria vida pessoal, na vida académica e na vida profissional quando daqui saímos. Essa influência positiva, essa determinação, para que


os alunos saiam daqui com esse olhar diferente que a própria licenciatura promove, que é uma coisa contínua, é um curso que se faz ao longo da vida. Existem também alguns pontos negativos de alguns professores que aconteceram, e nós questionamo-nos como é que falam daquela forma e depois agem de outra. Mas também não posso dizer que isso acontece só com o professor porque também connosco por vezes dizemos algo e praticamos outra coisa. Também aquelas aulas que se nota que já estão feitas, é só entrar ouvir e sair. Se cada aluno é diferente, cada turma é diferente, e eu vou ensinar da mesma forma? Vou passar os mesmos textos? Assim torna-se numa coisa robotizada e automática. 11. Quando ela é de uma forma trabalhada, na questão do paradigma da comunicação, então sentimo-nos bem, enquanto que no paradigma da instrução faz-nos sentir pouco capazes, o professor tem todo o conhecimento. Mas quando realmente é no paradigma da comunicação já é uma sensação de autonomia, liberdade e pertença que nós também construímos o saber. Mas quando estamos ali numa de recetores, estar ali a ouvir, dá uma sensação de “para que é que eu vim para a aula?” faz-me sentir que estou a perder tempo. Sinto-me triste. 12. Eu não percebi nenhuma diferença que eu possa relatar aqui, em nenhum momento eu pude perceber diferenças. 13. Eu acho que quando ele se fecha em questões pontuais daquele saber, em que notamos que algumas apresentações nossas, ou algumas intervenções ou ideias não são acolhidas, percebemos isso. Então isso, ele passa da autoridade para o autoritarismo, porque se fecha no saber dele. Tudo bem que ele já tem um saber mais complexo que o nosso, mas acredito que não aceitar ou não valorizar o que o aluno sabe ou o ponto de vista mostra uma rotura dessa questão da autoridade, do poder dele. Porque a opinião do aluno pode não estar certa, mas seria o dever dele acolher aquilo e saber raciocinar aquilo com o aluno e transformar e não se fechar, não invalidar a do aluno e dizer que aquilo que eu acho é que é válido. Aquilo que eu sinto ás vezes é que eles querem vender aquilo que sabem, é assim que eu construo o meu saber e todos vocês têm de saber fazer assim. Portanto para mim quando não valoriza o aluno ou quando age com rispidez, e age de uma forma brusca ao não considerar a opinião do aluno, passa a autoritarismo.


ANEXO 2 — Tabela para análise de conteúdo. Categorias Paradigmas Pedagógicos

Subcategorias No ensino secundário No ensino superior

Indicadores Diferença na relação pedagógica

Frequência 6

Unidades de Registo

Expectativas, Diferenças e sentimentos na relação pedagógica

- Expectativas - Diferenças - Sentimentos

- A expectativa mostrou-se diferente da realidade - O professor tem um papel determinante na relação pedagógica - Interpretação Subentendida

6

“(...) pensei que os professores não nos iam conhecer e estavam-se “maribando” para nós.” (A-3) “(...) geralmente o que se pensa na faculdae é os auditórios enormes e centenas de alunos e um professor, e eu achei que ia ser isso (...) Depois quando percebi que ia ter aulas em salas a sério, por assim dizer, fiquei mais contente (...) a minha expectativa do professor não querer saber tornou-se verdade” (A-2) “(...) já tinha a expectativa de ser uma relação mais de respeito, uma autoridade e não um autoritarismo, muito mais baseado no respeito (...)” (B-2) “Tinha expectativas muito altas, talvez por isso é que esteja tão frustrada nessa questão.” (B-1)

“A maior parte dos professores que tive (...) situavam-se sem dúvida no da instrução (...) tínhamos que apropriar o que eles diziam e a autoridade centrava-se neles. (...) eles no lugar do topo e os alunos serem subjugados ao papel de meros recetores de informação e apropriadores” (A-3) “(...) muito mais na base da instrução (...) posso dizer que por exemplo a minha professora da escola primária ainda era daquelas professoras antigas que batia de reguada (...)” (B-2) “Não todos, mas a maior parte era da instrução. (...) da dimensão da autoridade é tudo paradigma da instrução, por muito que tentem mascarar.” (A-2) “(...) maior parte ainda se insere no paradigma da instrução, embora seja na faculdade (...) têm muito o conhecimento e nós, novamente temos de apropriar esse conhecimento. Contudo há exceções em que alguns, não todos come é óbvio, se inserem na comunicação” (A-3) “Acho que 60% dos professores estão no paradigma da instrução, nessa dimensãod e autoridade, e 30-40% no paradigma da comunicação (...) os professores que ainda estão na instrução talvez possam mudar, mas só muda quem permitir que aquele paradigma faça sentido para ele mesmo.” (B-3) “No paradigma da comunicação, muito mais. Principalmente na dimensão da autoridade, até porque acho que faz mais sentido, somos todos adultos por mais novos ou mais velhos, e acho que esse respeito mútuo e não imposição de um professor sobre si se impõe mais (...)” (B-2)

“No secundário, nota-se aquela distância professor/aluno, “eu sou professor, tens que me tratar por você” (...) aqui somos tratados como adultos, de certa forma (...) já nos


vêem como alguém mais equiparada a eles.” (A-3) “Eu acho que tinha melhor relação pessoal com os professores do secundário (...) no caso da faculdade acho que foi aí que eu notei mais diferença, (...) há muitos professores que não querem saber dos alunos.” (A-2) “(...) na faculdade (...) acho que nos tratam muito mais de igual para igual, responsabilizando-e, exigem mais de ti, és um adulto, tens mais responsabilidade, mas numa relação muito mais de igual para igual.” (B-2) “Há alguns professores com quem nos identificamos mais, existe mais empatia e uma relação de proximidade. (...) Outros não têm tanto essa empatia então criam uma relação mais distante (...) a própria forma como o professor dá a aula é que vai aproximar ou distanciar esse trato pessoal” (B-3) “Dentro da sala de aula acho que os professores se focam muito nos alunos que se esforçam mais, ou que participam mais, e parece que chega a altura em que só se focam neles, e ignoram os outros (...)” (A-2) “Notei nela que além de professora, podia ser uma amiga tua na faculdade, ok é mais velha, mas consegue compreender-te (...)” (A-3) “É paradoxo,ele defende a abertura e flexibilidade, mas quando um aluno faz determinada questão ou tem determinado ponto de vista, o professor não encara bem.” (A-3) “(...) nunca tive conflitos com professores, sempre foi uma relação na base do respeito, os professores são acessíveis (...) quanto temos algum problema, dificuldade, são mais abertos em ouvirem as nossas questões (...)” (B-2)

A autoridade do professor e a dimensão de autoridade

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Diferenças na interpretação de autoridade e o exercício de poder na sala de aula

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“Acho que só o facto de dizer “transmitir” já me dá umas comichões, porque acho que o professor e o ato de exercer essa profissão tem acima de tudo de ser de partilha de não de transmissão.” (A-1) “Não concordo (...) a base do poder dele é conhecimento mas a experiência que eu tenho é que esta base é mesmo a autoridade.” (A-2) “Ele tem o poder da sabedoria, de alguém que ali está a promover e potencializar a aprendizagem dos alunos e de si mesmo” (B-3) “(...) o professor tem de certa forma o seu poder, a sua autoridade, e está ali para ensinar, e há um certo respeito que tem que vir daí (...)” (B-2) “Penso que a autoridade dele consiste mesmo nessa consciência dele para com ele mesmo, valores como a humildade, respeito, otimismo, como a esperança que tem.” (B-3) “O professor não dar voz ao aluno, achar que só ele é que sabe e que só o que ele diz


é verdade. Não dar uma abertura para a participação do aluno.” (A-1) “Também em certos momentos em que o aluno coloca algumas questões e não lhe é dada a devida importância, ou quando existem vários alunos a fazer questões, é explicado rapidamente e fica-se sem informação devida.” (B-2) “(...) apesar de nos porem a carga em cima, nem sempre sabemos como fzer, e acho que em algumas situações faltaram a essas barreiras de ajuda” (A-1) “O professor ignora completamente a necessidade dos alunos, não quer saber deles, obriga-os a trabalhos que dão imenso trabalho num espaço de tempo minúsculo praticamente impossível da fazer.” (A-2) “Também aquelas aulas que se nota que já estão feitas, é só entrar ouvir e sair.” (B-3) “(...)o próprio professor, por não perceber aquela forma de ensinar, está a ensinar mais para ele do que para outro, e tu continuas lá, passivo, o professor finge que ensina, e nós fingimos que aprendemos.” (B-3) “(...) alguns reparos tipo “ah vocês a esta altura já deviam ter isto bem sabido”, “se não sabem isto não sei o que é que estão aqui a fazer, deviam para o primeiro ano para aprender”. Isso parece-me mal da parte do professor, porque às vezes não estamos mesmo a compreender porque não temos tudo mobilizado e não sabemos nem articulamos tudo da maneira como eles fazem (...)” (B-2)

Sentimentos na relação pedagógica da autoridade

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Há diferenças no tratamento dos mais novos e mais velhos

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“(...) mas quando um professor usa a sua autoridade para se sobrepor a quem está a ensinar aí fico mesmo revoltado (...)” (A-2) “(...) sinto-me revoltada, claro. Sei que muitos colegas têm medo desse conflito.” (B-2) “Quando ela é de uma forma bem trabalhada (...) sentimo-nos bem,(...) já é uma sensação de autonomia, liberdade e pertença (...)” (B-3) “(...)sinto que pelas pessoas serem mais velhas e terem mais percurso de vida, que têm mais confiança (...) e têm mais à vontade.” (A-1) “(...) na distinção entre mais velhos e mais novos, nos mais velhos eles tendem a ser mais extremistas, ou adoram completamente a pessoa ou odeiam. No caso dos mais novos, talvez por serem mais homogéneos são mais nivelados” (A-2) “(...) acho que às vezes, mesmo sendo um aluno mais velho a fazer as mesmas questões do que um mais novo, o professor não responde com a mesma assertividade ou agressividade.” (B-2) “(...) não suporto muito ver certas atitudes, não para comigo, mas para com pessoas mais novas.” (B-1)


A autoridade e o autoritarismo

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Sentimentos fortes referentes ao autoritarismo

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“(...) quando o aluno quer contribuir e o professor lhe nega isso, aí é que eu sinto mesmo cá dentro, que abusou da autoridade” (A-2) “(...) ele passa da autoridade para autoritarismo, porque se fecha no saber dele.” (B-3) “Quando deixam de respeitar a pessoa que têm à sua frente (...) aí passou o limite.” (B2)


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