Diário de Formação - PFA

Page 1

DIÁRIO DE FORMAÇÃO A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE

estudante:

NEIL MASON LCED · E2B 2018

docente: TERESA MEDINA


PRIMEIROS ANOS DE ESCOLA Cresci numa pequena aldeia de mineiros no país de Gales onde havia uma pequena escola primária. A minha casa ficava uns 4 minutos a pé da porta da escola. A escola tinha 4 salas de aula — a primeira era o “nursery” para crianças dos 3 e 4 anos e a última para as crianças até aos 7 anos, que naquela escola era o fim. Aprendi a ler, e ainda me lembro de aprender costura e um pouco de tricô! Fiz um cachecol para o meu urso de peluche! A segunda escola era maior, também havia primária, mas entrei logo na turma da minha idade e lembro-me muito bem da professora — Mrs. James — ela tinha um estante na sala onde havia livros, aquilo funcionava como um estilo de biblioteca e a medida que se ía acabando de ler um livro, trocava para outro. Foi onde comecei a ter o gosto pela leitura de livros de histórias (ficção). Lembro-me muito bem que havia uns aquários com insetos. Havia insetos que pareciam paus (bicho-pau) e apanhávamos aranhas em casa para guardar no aquário da escola. Brincávamos muito na rua, a regra era que quando as luzes da rua ascendessem, tínhamos de estar em casa. Éramos

pobres, mas tínhamos pouca ideia do que era ter mais. As roupas passavam de vizinhos, irmãos e primos mais velhos para vizinhos, irmãos e primos mais novos. Mas apesar da falta de dinheiro, os meus pais pouparam durante um ano para que eu e a minha irmã podessemos ir no passeio da escola na Bélgica. A minha primeira viagem para o estrangeiro, aos 10 anos de idade. O VALE ERA VERDE O que eu me lembro dos vales da minha terra é que eram pretos e cinzentos. A água do rio era negra e parece que tudo estava em preto e branco. A industria do carvão tornou tudo muito cinza. O “lixo” do carvão era colocado em cima dos montes à volta. SECUNDÁRIO Na Grã Bretanha a escola secundária começa aos 11 anos e vai até aos 18. A escola era bastante maior que as minhas escolas anteriores. E ainda outro pormenor — era somente para rapazes. Cada um de nós foi chamado e colocado em turmas com outros rapazes, a maior parte dos quais eu não conhecia. Também

Rapazes anos 60/70 a aprenderem tricô na escola.


não tinha percebido o motivo de nos colocar em grupos diferentes. Diziam-nos que a palavra LUDOVICA tradução latim do nome Lewis, fundador da escola no século XVIII. Depois explicaram que cada turma era por ordem de capacidade de aprender. L e U eram do mesmo nível, D e O, V e I, C e A … e eventualmente os N … para as necessidades educativas especiais. Parece uma barbaridade, mas ninguém achava estranho, e nunca foi comunicado de forma alguma que das turmas mais avançadas eram superiores às outras turmas. Não sei se ainda continua esta forma de dividir os alunos por turmas. Eu detestava as aulas de educação física e desporto (râguebi e futebol). Para mim era traumatizante tomar banho na escola — fisicamente eu estava a desenvolver mais rápido que outros colegas, e tinha muita vergonha das alterações no meu corpo.

grande em mim, e até voltei a visitar uns anos mais tarde. (Ainda estou em contacto com os amigos lá pelo Facebook!)

Esta viagem provavelmente foi a maior experiência de aprendizagem de sempre. Tenho plena consciência que abriu a minha mente para um mundo fora da pequena aldeia no pequeno vale de mineiros. Aprendi que havia outras formas de viver. Outras coisas para comer. Outros lugares para passar o verão. Outros tipos de casa. Outras línguas para falar. AS ARÁBIAS Nos anos 70 e 80 a vida na Grã Bretanha era muito difícil. Lembro-me de greves, de subidas do preço dos combustíveis, guerras entre o Iraque e o Irão, a guerra fria, filmes de James Bond. A vida para os

IGREJA Desde pequeno fui à escola dominical, que é uma atividade nas igrejas protestantes. Depois de um pequeno culto, divide-se em grupos e cada idade fica à conta de alguém que ensina histórias da bíblia de forma mais divertida. Todos os domingos de manhã, lá ía eu, a minha irmã, e o meu irmão. Logo que pude escolher não ir — deixei de ir à escola dominical. Achava uma seca. VIAGEM IMPORTANTE No verão de 1977, os meus pais enviaramme até a Noruega durante o verão para visitar um amigo que era sobrinho de uma vizinha nossa. Roy tinha a mesma idade que eu, e conhecemo-nos quando a avó trazia visitar a família na aldeia. Hazel havia casada um um norueguês durante a 2ª guerra e tinha se mudada para lá. Passei 3 semanas de verão num parque de campismo ao lado de um fjord perto de Oslo. Aprendi a pescar, a remar um pequeno barco e comecei até a aprender umas frases em norueguês. Deliciava com tudo que era diferente da minha cultura — estava num mundo diferente, e não queria regressar a casa nunca mais! As visitas aos museu de Kon-tiki e o museu dos vikings em Oslo, deixaram uma marca SVELVIK, NORWAY Parque de Campismo


meus pais era difícil então meu pai procurou trabalho no estrangeiro. Ele trabalhou vários anos na Arábia Saudita e Qatar e mais tarde os meus pais se mudaram para o Omã durante uns anos. Estas experiências profissionais tão longe da família também abriram o meu mundo. Lugares da Arábia agora se tornaram lugares importantes e lugares onde seria possível fazer vida.

Após de um verão em França e Bélgica em trabalho missionário e conferência de para novos recrutas, estava pronto para ingressar no grupo rumo a Suécia para entrar no navio e iniciar o meu compromisso de dois anos abordo.

CONVERSÃO RELIGIOSA — aos 15 anos tive uma experiência de conversão religiosa muito forte o que mudou significativamente a minha vida. Ir à igreja agora fazia parte integral da minha vida. Não ia por tradição ou porque era onde iam os amigos. Era porque queria saber mais de Deus e seguir o plano dele para a minha vida. Após esta conversão comecei a ler a Bíblia, e biografias de homens e mulheres de fé. Li sobre missionários em Africa, China e India, de novo eu estava a ver o mundo além da minha pequeníssima aldeia galesa. ESCOLA

350 / 42 A tripulação do navio era bastante internacional. 350 pessoas — solteiros, famílias, casais, de cerca de 42 nacionalidades diferentes. A cabine onde eu dormia tinha mais 3 pessoas. Um argentino, um indonésio e um indiano. Juan, Tolopan e Paothang

A escola para mim não foi uma história tão feliz. As opções nos anos 80 eram limitadas. Poucos eram que teriam alguma hipótese de seguir estudos superiores. Não me era esperado ir à faculdade. Era suposto sair da escola e começar a trabalhar. Ninguém da minha familia tinha curso superior. Curioso que entretanto alguns primos e a minha irmã estudaram para a licenciatura mais tarde, em adulto. As minhas primas agora com quase 50 anos fizeram o curso nos últimos 10 anos. TORNEI-ME MISSIONÁRIO Em 1984, com 18 anos de idade, tive uma oportunidade de passar dois anos num barco missionário chamado Doulos, de uma organização chamada OM (Operation Mobilization). Acabei a escola em Junho, e em Agosto fiz o recrutamento para a OM. A minha vida iria mudar e nunca mais voltará a ser a mesma pessoa que era.

Este grupo tão internacional seria a minha família durante dois anos, e formava em muito a pessoa que sou hoje.


Construido em 1914 nos seus mais de 100 anos, teve vários nomes e funções. · SS Medina (1914–1948) · SS Roma (1948–1953) · MS Franca C (1953–1977) · MV Doulos (1977–2010) · MV Doulos Phos (2010–atual) https://en.wikipedia.org/wiki/MV_Doulos_Phos


MEU TRABALHO ABORDO Vivendo num navio é uma escola autêntica. Temos de aprender as regras de viver no mar. Temos de aprender o que fazer em situações de emergência — trabalhar com os barcos salva-vidas, etc. No dia-a-dia havia vários departamentos. Sala das máquinas onde as pessoas tinham de manter o motor e geradores a funcionarem, o “deck department” para manter o barco em condições (pintar, manutenção, etc.) Outros departamentos que tratavam de todos os assuntos práticos e legais, e claro, os oficiais todos. Mas o propósito do navio era viajar e “ministrar”. Faziamos reuniões em escolas, ajudas de saúde (especialmente em África), programas abordo — promoção de colaboração internacional, reuniões religiosas, conferências para profissionais, famílias, igrejas, crianças, jovens, etc. E uma grande livraria conhecido por ser “a maior livraria flutuante no mundo”. Durante a maior parte dos dois anos, foi neste departamento que trabalhei, chegando a liderar a equipa de um dos turnos. Na equipa da livraria tinha comigo pessoas de vários países da America latina (Brazil, Argentina, Chile, Peru, Colombia, Mexico) … Asia (Hong Kong, China, Singapura, Malasia, Filipinas, India, Korea…) Europa (Grã Bretanha, Suiça, Suécia, Noruega, Alemanhã, Espanha, Portugal …) e ainda Australia, Estados Unidos e Canadá, Africa do Sul, Nigeria, Zimbabwe, e outros.

Parte da equipa da livraria do Doulos. Aqui são 10 pessoas de 8 nacionalidades!

Naquela altura, esta realidade era algo normal. É ao refletir nesta experiência com alguma distância de anos que vejo como é incrível a forma com que conseguimos trabalhar num contexto tão multicultural e criar uma coesão e união de uma forma tão intuitiva. Esta aprendizagem tem me servido nos últimos 32 anos desde que saí do navio em Outubro 1986. Continuo a ter os contactos com muitos dos amigos daquela altura. Quase não há país no mundo onde não tenha alguém daquele tempo. INTERCULTURALIDADE O contexto intercultural é, para mim, a zona de conforto. Estou mais “em casa” num contexto onde ouço pessoas de várias línguas à minha volta e o meu grupo à mesa tem pelo menos 4 ou 5 nacionalidades diferentes. Fiz, entretanto, um curso de comunicação intercultural com uma empresa no Dubai, e leciono um curso de Comunicação Intercultural na FLUP (formação contínua). As competências e aprendizagens do meu tempo nos anos 80 formaram em muito a base da minha profissão hoje. Não há escola, faculdade ou curso que poderá ensinar o que aprendi nos dois anos a viajar desde a Suécia em Outubro 1984 até Duala (Camarões) em Outubro 1986, passando por uns 25 países e trabalhando com amigos de todo o mundo.


1986–1989

PROFISSIONALIDADES …

O filme “Billy Elliot” retrata bem as história politica e social da Grã Bretanha em 1985. A greve dos mineiros mudou a sociedade, e a minha “casa” era uma aldeia e uma zona de mineiros.

Fui professor de inglês durante cerca de 20 anos, mas sentia que precisava de mais formação formal.

Só foi após ter visto o filme que me apercebi parte da razão pelo qual a minha readaptação à cultura da Grã Bretanha foi tão difícil. Viver as experiências é importante — mas às vezes é necessário uma compreensão destas mesmas experiências. O contexto informal do filme que ligou algumas ideias que até aí não tinha, e o curso não-formal de comunicação intercultural foram a chave de compreender o que se passava dentro de mim. A adaptação cultural é um processo complexo, mas o regresso a casa pode ser uma verdadeira mina de emoções e problemas. As minhas experiências de vida despertaram em mim o desejo de, de alguma forma, ser intencional na procura de compreender o que tinha acontecido comigo, e equipar-me com ferramentas que fossem úteis a nível profissional para ajudar outros em situações semelhantes. Em 1989 fiz um curso para ensinar inglês como língua estrangeira — um curso certificado pela Universidade de Cambridge — e mudei para Portugal para aprender a língua e poder de novo trabalhar num contexto mais internacional.

Candidatei-me a um mestrado na Universidade de Manchester — Ensino de Inglês como Língua Estrangeira & Tecnologia na Educação. O curso era feito à distância (b-learning). Durante o mesmo período de estudo, trabalhava como professor de inglês numa escola de línguas, em cursos de formação livre na FLUP, escrevia manuais de inglês para a Porto Editora, e dava formação para professores como parte do “pacote” de marketing da Porto Editora. Infelizmente, os estudos sofreram e não terminei o mestrado. Fiz a parte curricular — 90 créditos, mas faltava a preparação para a dissertação (30 créditos) depois a dissertação (60 créditos). Com a parte que tinha estudado, a Universidade de Manchester concedeu um certificado de pós-graduação. Ao refletir no meu percurso há uns anos atrás, reconheci que um traço típico que tinha feito parte integral da minha vida era a mentoria. Sempre acompanhei de perto alguns jovens mais novos, ajudando no percurso, passando tempo de conversa e a levá-los a refletir nos seus percursos. Estive presente num workshop em 2014 com o tema “PASSIONALITY” … que procurava criar uma ligação entre a

Doulos, Porto Leixões abril 1985. A minha primeira vez em Portugal. O navio recebia visitas do público diariamente para conferências e para visitar a livraria.


Bem-vindo abordo. A dar as boas vindas aos visitantes.

Universidade de Monrovia, Liberia. Venda de dicionários para os estudantes. Praticamos preços especiais em Africa para posibilitar a comprar de livros educacionais.

Conferência com programas culturais internacionais. Aqui assumo a identidade de brasileiro, todos os outros no grupo são “autênticos”. Meu primeiro contacto com Português foi abordo o navio.


“paixão” e a “personalidade” da pessoa. No final do workshop, cada pessoa teria uma frase que representava o seu propósito ou visão de “paixonalidade”.

professores de inglês). E através da Porto Editora realizei dezenas de formações em todo o território português para professores de inglês.

A minha frase foi “I influence potential through mentoring”. Nitidamente eu sou um pessoa que por intuito procura exercer influência. Quando trabalho ou convivo com outros, vejo sempre uma pessoa com um potencial, e tendencialmente utilizo a influência para ajudar a mobilizar este potencial no outro. E a forma que uso para influenciar, é através da mentoria. O workshop foi interessante, e despertou em mim o desejo de ser mais intencional no exercício desta influência no potencial do outro.

Realizei formações sobre comunicação intercultural na Ucrânia, Africa do Sul, Bélgica, Inglaterra e Portugal, onde dou um curso de formação contínua na FLUP.

Então, fiz uma pós-graduação em Coaching e Mentoria na Universidade de Gloucestershire na Grã Bretanha, para formalizar e aprofundar os conhecimentos nesta área. PROFISSÃO COACH Completei em Novembro um curso nãoformal de 18 meses com uma academia de coaching para liderança internacional com vista a completar a minha creditação para a ICF (International Coach Federation). Exerço funções de coach em várias empresas na zona do Porto e tenho clientes internacionais de várias nacionalidades. O foco do coaching é liderança e transição (acompanhar pessoas em adaptação cultural em vários contextos. Estou inscrito no CNAIM como mentor voluntário. E acompanho alguns lideres em organizações não governamentais como voluntário. Tenho um interesse especial no papel do coaching como ferramenta na formação continua de professores em todos os níveis de ensino.

A maior parte da preparação para dar estas formações não vem do meu percurso de formação formal — mas a formação informal e não formal têm informado a minha procura e percurso de educação formal — incluindo o percurso atual de formação na FPCEUP em Ciências da Educação. FRUSTRAÇÃO / REFLEXÃO Em Portugal, se uma pessoa não tem licenciatura, não é nada. Para funcionar com credibilidade, é preciso ter o “canudo”. O meu percurso não incluiu uma licenciatura. Chegou uma altura em que as opções à minha frente (que incluem formação para professores com creditação da CCPFC. Estou inscrito como formador com “mestrado sem dissertação”, mas limitado a formação na área da tecnologia na educação. Embora tenha um curriculum que inclui 8 manuais escolares de inglês da Porto Editora, e dezenas de formações pela Porto Editora e APPI, e de ter trabalhado com professor de inglês na FLUP e ter sido examinador de inglês para a Universidade de Cambridge e nativo da língua — o CCPFC não aceitou acreditarme para dar formação de inglês!

PROFISSÃO FORMADOR

Há situações em que somente conta a formação formal — e uma das frustrações grande que sempre tive com a formação formal (escola e faculdade) é a fraca qualidade que muitas vezes tenho visto e experimentado.

Ao longo dos últimos 20 anos tenho trabalhado também como formador. Todos os anos dou formação na conferência nacional da APPI (associação portuguesa de

Vejo pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades de tirar um curso na faculdade que os jovens de hoje, mas que são extremamente capazes e competentes,


e desconsiderados profissionalmente por não poderem por a cruzinha na caixa de “licenciado” — mas que provaram sem sombra da dúvida o valor profissional. Mas, o sistema somente valoriza uma via. NOVAS OPORTUNIDADES Vejo-me inscrito num curso de licenciatura que captou a minha imaginação. Este curso é um paradoxo, e tenho muitas críticas. Muito que aprendi neste primeiro metade do curso é pelo exemplo de como não fazer as coisas. E num curso que devia estar na vanguarda da educação. Se a minha opinião de que os cursos em muito somente servem para ter o “canudo” mas não as competências, confirma-se — infelizmente. A educação formal que é tão valorizada, em muito carece de qualidade que supostamente garante. Empresas que dizem “não queremos licenciados, queremos pessoas que sabem fazer o trabalho”. Mas por outro lado, quem não tem um curso superior ainda sente o estigma de não o ter. Faço este curso para ter o canudo — mas escolhi um curso onde senti que podia acrescentar um valor de saberes significativos e que acrescentam valor à minha prática. REFLEXÃO Esta reflexão acerca do meu percurso, embora incompleta, foi importante para reconhecer a forma que as experiências e oportunidades ao longo da vida têm moldado a minha identidade, não somente a minha profissão (Medina, 2008: 99, 100). Embora que a formação formal, na escola e/ou na faculdade tem uma importância incontornável, um “Curriculum Vitæ” focado somente nestes aspetos formais seria muito incompleto, vazio, morto. Ao longo da foram vários os pequenos ouvida, grandes acontecimentos

Ao longo da vid pequenos ou gr que, pelas razõ tornaram partic assumindo uma no processo de Foram episódio parte da história “confrontações contrariedades declaradas” (Do


A FISGA

(Rio Grande)

Trago a fisga no bolso de trás E na pasta o caderno dos deveres Mestre escola, eu sei lá se sou capaz De escolher o melhor dos dois saberes O meu pai diz que o sol é que nos faz Minha mãe manda-me ler a lição Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz Faz-me falta ouvir outra opinião

da, foram vários os randes acontecimentos ões mais diversas, se cularmente significativos, a particular importância e formação de cada um. os e estórias que fazem a de cada vida, da vida quotidiana, sofridas, revoltas ominicé, 1988:56) (Medina, 2008: 100

Eu até nem sequer sou mau rapaz Com maneiras até sou bem mandado Mestre escola diga lá se for capaz P'ra que lado é que me viro, p'ra que lado Eu até nem sequer sou mau rapaz Com maneiras até sou bem mandado Mestre escola diga lá se for capaz P'ra que lado é que me viro, p'ra que lado Trago a fisga no bolso de trás E na pasta o caderno dos deveres Mestre escola, eu sei lá se sou capaz De escolher o melhor dos dois saberes Autores: Joao Daniel Pereira Nunes Monge & Joao Manuel Gil


REFLEXÃO DA UC Em Medina (2008) vemos que não podemos desvincular a vivência da formação. A canção “A fisga” (Monge & Gil, 1996) fala dos dois saberes — aqui no percurso de vida, é possível ver de forma nítida estes saberes que são tão distintas, mas que também podem convergir. Procurei formação para ensinar inglês, porque tinha surgido a oportunidade de forma não formal a ajudar outros que aprendiam. Procurei formação em mentoria e coaching, porque já fazia estas atividades de forma “intuitiva” e senti a necessidade de criar uma base mais sólida — uma teoria para alicerçar a minha prática. O percurso de vida, a história poderá servir também de guia para as decisões tomadas ao longo do caminho — e informar as opções de formação não formal e formal. No relatório Delores (1996) é realçado a aprendizagem ao longo da vida visto nos 4 pilares — “Aprender a conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a conviver, Aprender a Ser”, não vejo que seja possível que estas aprendizagens sejam possível somente com um ensino teórico na escola ou na universidade sem que elas se tornam parte da própria identidade de cada um.

Unidade Curricular. Não tivemos nenhum “training” sobre como fazer uma ação de formação, como falar com uma audiência, como preparar a sala … mas, a experiência foi altamente “formativa” no sentido que cada um teve de criar uma experiência e que muito provavelmente cometeria erros básicos para uma formação, mas os sentimentos e o desconforto criam uma necessidade de mobilizar estratégias de forma intuitiva ou procurar aprender com o trabalho em grupo expor as suas ideias perante o grupo. As ações de formação criaram uma “experiência de vida”, não uma formatação de fazer ações de acordo com regras préestabelecidas. O desconforto criado, no final foi compreendido com parte importante para a aprendizagem. Além de um exercício prático, foi um exercício psicológico, confrontando cada um com o seu desafio particular. Vygotsky fala da zona de desenvolvimento proxima (ZDP), (Wertsch, 1985: 67, 68) onde existe a tensão entre aquilo que uma pessoa sabe fazer, e o que ainda não consegue fazer.

A interiorização das aprendizagens vai muito além do conceito de uma mera “formação profissional”, ou uma lista de competências adquiridas para uma pessoa realizar determinada função técnica, não digo, no entanto que não seja necessário este tipo de formação de competências — “skills training”. Em Português o conceito de FORMAR podemos ver como algo mais completo que a palavra que usamos em Inglês “TRAINING”. A ideia de “training” tem como implícito a ideia de formatação, da mesma maneira que se treina um animal a fazer certas coisas. “Formação” pode ter como implícito a ideia de formar ou criar forma e, eventualmente, ser visto com algo mais holístico — em Inglês, usa-se por vezes a ideia de “learning & development” (L&D) em departamentos de formação profissional para significar algo mais completo que a aprendizagem de funções ou competências técnicas. Podemos usar, como exemplo, as ações de formação realizadas nas aulas da

ZPD (s.d.)

No caso das ações de formação, a ajuda que possibilitava completar o tarefa veio do próprio grupo … e não depende da professora. Neste caso, como diz Pacheco (2000): “O professor é um recurso, disponibilizando informações requeridas, proporcionando aos estudantes um clima de aceitação


incondicional e oportunidades de contacto com problemas, que lhes permitirão seguir os seus próprios percursos de mudança.” Penso que aqui existe, de facto, uma distinção entre a professora que forma e a que formata os alunos. Geralmente, foi nos criado uma clima em permitisse a formação — não a formatação, como é a nossa experiência em muitas outras UCs, e geralmente no ensino escolar ao longo da vida. Aquilo que Trindade & Cosme (2010) criticam como o paradigma da instrução, e em que propõem o paradigma da comunicação como a alternativa mais adequada (ibidem: 14), onde o professor é visto como o “interlocutor qualificado” (ibidem: 61) que não deixa os alunos entregues a si próprios, mas que sabe exercer várias funções conforme as necessidades dos seus alunos. Se os alunos que são crianças rejeitam a ideia do professor autoritário; quanto mais o aluno adulto? Independentemente se concordamos com a teoria de andragogia de Knowles (Smith, 2002), o aluno adulto num contexto de formação terá, com certeza, expetativas da forma em que quer ser tratado — o que não se enquadra no paradigma da instrução.

AS EMOÇÕES Medina (2008), e Pacheco (2000) falam do papel das emoções no processo de formação / aprendizagem. O propósito do livro do Damasio (1994) é para nos mostrar o papel fundamental que as emoções têm nas nossas escolhas e vivências. Na formação de adultos, não podemos, como formadores, esquecer que teremos de lidar com seres emocionais com tudo que isto pode representar com as complexidades, conflitos, altos e baixos. “Esta descoberta integra-se ainda num mundo sensível em que emoções e sentimentos estão presentes e têm uma significância muitas vezes contraditória com a racionalidade que as exprime, e que têm em conta as implicações dos diferentes parceiros, nas suas ambivalências, equívocos e conflitualidades, o que nos remete para o conceito de implexidade, articulando, segundo Barbier (1997), a complexidade e a implicação.” (Pacheco, 2000)

CRITICA DAS AULAS Não posso deixar de tomar a oportunidade de fazer alguns comentários sobre as aulas da UC. Com certeza serão ideias e opiniões subjetivas, visto de um ponto de vista do “outro lado da mesa”. Pelo negativo Houve aulas em que a professora recorreu a uma exposição de conteúdos “corrido”, com preocupação com o tempo porque “era muito importante” falar dos assuntos. A minha observação aqui é que tenho a certeza que haverá outras formas de tratar da matéria de forma mais dinâmica e significativo para os alunos. As ações de formação — se em vez de tomar o tempo todo da aula, cada grupo tivesse 60 minutos, seria possível criar mais grupos (mais pequenos) … e eventualmente utilizar menos aulas somente nas ações de formação. Pelo positivo Sem dúvida o mais positivo é a forma com que a professora cria uma à vontade na sala de aula de forma a que os alunos possam ser autênticos. Há uma disponibilidade de escutar e é comunicado de forma implícita e explícita uma preocupação com os estudantes. A professora é autêntica, e humana — cria uma empatia que permite dar o feedback negativo das ações de formação sem que o aluno se sinta atingido, diminuído, ou rebaixado. Não pretendo que este comentário seja de forma alguma um elogio vazio. O que procuramos como estudantes são professores que nos vêm como seres humanos. Professores que encarnem as qualidades humanistas de que fala o Rogers (1977:53) das “relações de ajuda eficazes”. Professores que criam uma clima emocional pelo positivo, não pelo negativo como tem sido frequentemente o caso na escola e na universidade.


BIBLIOGRAFIA

Damasio, Antonio (1994). Descartes’ error: Emotion, rationality and the human brain. Delors, Jaques (1996) Learning: the treasure within; report to UNESCO of the International Commission on Education for the Twenty-first Century (highlights). Paris: UNESCO. Medina, Teresa (2008). “HISTÓRIAS DE VIDA, HISTÓRIAS DE FORMAÇÃO”, in Experiências e memórias de trabalhadores do Porto. A dimensão educativa dos movimentos de trabalhadores e das lutas sociais. FPCEUP: Tese de Doutoramento; pgs. 97-103 Monge, João & Gil, João (1996) A Fisga. Rio Grande. EMI-Valentim de Carvalho, Portugal. www.youtube.com/watch?v=1Mtg-6lQIss Pacheco, Natércia (2000). Relatório da disciplina de Psicossociologia da Formação de Agentes Educativos. FPCEUP (doc. policopiado). Rogers, Carl (1977). Tornar-se pessoa, Lisboa, Morais. Smith, Mark (2002) 'Malcolm Knowles, informal adult education, selfdirection and anadragogy', the encyclopedia of informal education, www.infed.org/thinkers/etknowl.htm. Last updated: © Mark K. Smith 2002 Wertsch, James (1985). Vygotsky and the social formation of mind. Harvard University Press. ZPD (s.d.) Imagem: www.verbaltovisual.com/visualizing-the-zone-of-proximal-development-vtv007



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.