Revista Neo Mondo 34

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Edição Especial

NeoMondo

www.neomondo.org.br

um olhar consciente

Ano 3 - Nº 34 - Maio 2010 - Distribuição Gratuita

BIOMAS BRASILEIROS

08

Orlando Morando

Dr. Marcos Barreto

Natascha Trennepohl

Comerciante das boas causas

Promotor atuante

Mudanças climáticas e seus desafios

16

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Neo Mondo - Maio 2008


Neo Mondo - Maio 2008

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“ Seções Perfil 08 Orlando Morando Comerciante das boas causas

18 Artigo Denise de La Corte Bacci O substrato dos biomas brasileiros

15 Artigo Dilma de Melo Silva Ecossistemas do Estado de São Paulo

16 Artigo Dr. Marcos Lúcio Barreto Minhocão, solução à poluição sonora

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Especial-Biomas Brasileiros Mata Atlântica Joias raras

Especial-Biomas Brasileiros 24 Mata Atlântica O que restou do paraíso

38

30 Mata Atlântica Ameaças ao Patrimônio Nacional Pampa Cenário e ecossistemas pouco explorados

46 Caatinga Único bioma exclusivamente brasileiro

50 Pantanal Maior planície alagável do mundo

42 Cerrado Maiores biodiversidades brasileiras 54 Artigo Ulrike Vogl Pantanal, paraíso ameaçado

58 Zona Costeira A superpopulada Zona Costeira

62 Amazônia RX da Amazônia

64 Amazônia Registrar para preservar

66 Artigo Natascha Trennepohl Mudanças climáticas e seus desafios

Meio Ambiente/Biocombustível 70 Biogás Limpo e renovável

74 Artigo Terence Trennepohl O etanol brasileiro e os Estados Unidos

76 Artigo Cláudia Calais Mudança é uma escolha e exige coragem

78 Artigo Rosane Martins Desafios da saúde pública

83 Artigo Márcio Thamos O poncho preto

Cotidiano 86 NEO MONDO Informa

Profile 12 Orlando Morando Trader of good causes

Special Brazilian Biomes 27 Atlantic Forest What’s left of paradise

34 Atlantic Forest Threats to National Heritage

56 Article Ulrike Vogl ‘Pantanal’ - Threatened paradise

68 Article Natascha Trennepohl Climate change and its threats

75 Article Terence Trennepohl Brazilian ethanol and the USA

Articles in English

Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Natan Rodrigues Ferreira de Melo Silva, Rosane Magaly Martins e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Jornalista Estagiário: Caio Martins Estagiária: Heloisa Moraes Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo 4

Neo Mondo - Maio 2010

Publicação Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


Neo Mondo - Julho 2008

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55 11 8346-9437 efex@efexidiomas.com.br • www.efexidiomas.com.br Neo Mondo - Julho 2008 EFEX IDIOMAS – ENGLISH FOR EXECUTIVES ® Todos os direitos reservados.


Editorial

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rezado leitor, este mês NEO MONDO traz um especial sobre os Biomas Brasileiros. O Brasil é um país de dimensões continentais e possui uma das biodiversidades mais ricas do Planeta. Dia 27 de maio comemora-se o Dia Nacional da Mata Atlântica, segundo bioma mais ameaçado do Planeta; só as florestas de Madagascar estão mais ameaçadas. A Mata Atlântica é considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal e abrange total ou parcialmente 17 estados brasileiros e mais de 3 mil municípios. Ao entrar no Pampa, cavalgaremos por um imenso mar verde que tem suas beiradas no Rio da Prata e seu fim na Patagônia. A paisagem bucólica do Pampa está no imaginário popular, sendo cenário das minisséries O Tempo e o vento e A casa das Sete Mulheres, ambas da Rede Globo. Desbravando o Cerrado, caracterizado por sua preciosa biodiversidade e pela diversidade social, vemos que ainda é visto como mera fronteira para expansão do agronegócio brasileiro. É no Cerrado que está a alma da música caipira do Brasil, o instrumento que melhor simboliza as tradições musicais dessa região é a viola caipira. Já a Caatinga é conhecida como a região do país onde o acesso à água é escasso e a paisagem é pobre; apesar

de ser o único bioma exclusivamente brasileiro, é vítima de um processo de ocupação que explorou a natureza de forma predatória, concentrando terra e poder. O Pantanal, por sua vez, maior planície alagável do mundo, é o elo de ligação entre as duas maiores bacias da América do Sul: a do Prata e a Amazônica, o que lhe confere a função de corredor biogeográfico, ou seja, permite a dispersão e troca de espécies de fauna e flora entre essas bacias.

Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Navegamos pela Zona costeira e detectamos que a principal ameaça a esse bioma são a especulação imobiliária, sobrepesca (industrial e artesanal), poluição das praias e o turismo desordenado. Finalmente chegamos à Amazônia, ícone mundial da biodiversidade, onde estão a maior bacia hidrográfica e a maior floresta tropical do mundo; a região possui ainda uma fantástica diversidade cultural. É a região brasileira relativamente mais preservada de todas. Por isso, constitui a última fronteira do avanço desenvolvimentista brasileiro. Bom, deu pra sentir um pouquinho da riqueza que você vai encontrar em nossas páginas. Essa é uma pequena parte dela.

Tenha uma ótima leitura e viaje pelos Biomas Brasileiros com NEO MONDO!

Instituto

Neo Mondo Um olhar consciente

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Perfil

Comerciante

das BOAS

Meio ambiente, sustentabilidade, moradia, saúde e transporte público qualificados caracterizam mandatos-cidadão

Divulgação

Gabriel Arcanjo Nogueira

Na Assembleia Legislativa paulista, Orlando tem-se destacado por vencer desafios que aprimorem a mobilidade urbana sem prejuízo ao meio ambiente

NEO MONDO: Nesta edição, nosso foco especial são os biomas brasileiros. Em sua avaliação, o que é preciso fazer para cuidar melhor deles? Orlando Morando: O grande desafio nacional - e aí São Paulo procura fazer a sua parte - é propiciar fontes de energia limpa. O impacto das hidroelétricas é muito forte para o meio ambiente 8

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e para as pessoas. Belo Monte está aí como exemplo da insistência em se investir nessa alternativa. Mesmo com possíveis aprimoramentos do projeto, não dá para dizer que é o caminho correto. NEO MONDO: O que é possível ser feito, então? Orlando Morando: O que é feito em São Paulo, para otimizar o uso do

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estilo direto e franco de Orlando Morando Júnior, deputado estadual tucano no segundo mandato, aos 35 anos de idade, é confirmado por ele próprio quando perguntado como se define como pessoa pública: mais técnico que político ou um equilíbrio das duas características? Orlando - formado em Direito e Administração, vereador em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, por dois mandatos - não vacila: “Sou comerciante”. Não é por acaso que o jovem político é também vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Seu empreendedorismo o capacita a enxergar e chegar antes da maioria em várias frentes: meio ambiente, sustentabilidade, qualidade de vida com moradia, saúde e transporte qualificado para a população. Orlando tem consciência de que, acima de tudo, é cidadão e está deputado. Muito bemavaliado, por sinal, por seus pares e pela mídia. Confira a entrevista que concedeu a NEO MONDO, em seu escritório de São Bernardo do Campo (SP), numa manhã nublada e garoenta, com as dependências do imóvel lotadas, logo cedo, de gente que o procura como representante que é das boas causas.

bagaço de cana como energia limpa, deve ser estendido a outros estados. Não podemos descartar esforços para investir em termoelétricas e nas usinas eólicas também. E, enquanto isso, deixar de ver o lixo apenas como lixo. É o hábito do desperdício, próprio de uma país que não enfrentou os horrores da guerra, como as que sacudiram a Europa.


CAUSAS A borra de esgoto, por exemplo, é um elemento orgânico que é possível ser aplicado na produção de cana, de frutas. Aliado a soluções bastante simples, como essa, o combate ao desperdício no transporte de gêneros (que chega a 10% de tudo que se produz no campo) deve ser incentivado. NEO MONDO: Há instrumentos legais que ajudem nessa empreitada? Orlando Morando: São Paulo criou algo precioso nessa linha, que é o Código Estadual de Resíduos Sólidos (ver quadro), cuja elaboração contou com o meu mandato. NEO MONDO: O senhor é muito direto e sincero no que fala. Esse estilo é um dos motivos que o faz próximo do governo estadual, e que papel o senhor desempenha na campanha presidencial dos tucanos à Presidência da República? Orlando Morando: Nossa agenda política é muito intensa e afinada com o governo do Estado, porém voltada às necessidades do Grande ABC (na região metropolitana de São Paulo). Temos laços fortes com a administração estadual e uma experiência acumulada que nos dá visibilidade. Na campanha tucana de José Serra à Presidência da República vou me empenhar como um cidadão, um militante, um soldado do partido, para que se consiga aqui na região um desempenho expressivo com folga de votos para o nosso candidato. NEO MONDO: O senhor tem-se destacado no mandato por emplacar a aprovação de emendas no orçamento do governo paulista, bem como em iniciativas em saúde e habitação, mas o Rodoanel, pode-se dizer, mereceu toda sua atenção desde sempre. Como dar conta de tudo isso? Orlando Morando: Tenho uma folha de serviços prestada ao Grande ABC, supra-

partidária, de olho nos interesses da população; não de partidos que estejam no governo das prefeituras locais. Exemplos são o empenho na educação profissionalizante (está aí a Fatec), em recursos para habitação (a CDHU está presente em São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Santo André, cidades da região administradas por governos diferentes). Tudo é fruto de muito trabalho: acordo cedo, durmo tarde, com foco nos interesses da população. Acima de tudo, sou um cidadão. Agora, em meu segundo mandato, posso dizer que a prioridade foi a construção do trecho sul do Rodoanel, na correta percepção de que a obra, parte de um empreendimento mais abrangente, só poderia trazer benefícios para o Grande ABC. NEO MONDO: O impacto ambiental do Rodoanel, a seu ver, foi bem equacionado no planejamento e execução das obras? Orlando Morando: As críticas que essa obra gigantesca e histórica - fundamental para o desenvolvimento do estado, como um todo - recebeu extrapolaram a realidade. Todos os cuidados foram tomados, na viabilização do trecho sul, no sentido de racionalizar os trabalhos. Desde as pesquisas feitas, as contribuições dos vários segmentos, entre estes, moradores e ONGs. Cada um deles foi ouvido e participou desde os estudos à efetivação do traçado.

Trabalho conjunto que resultou em soluções que permitiram cuidar da flora e da fauna mediante a adoção de campos de manejo nos cinco lotes em que o empreendimento se efetivou. Exemplos são as passagens subterrâneas, para que animais se locomovessem sem correr risco; ou a compensação florestal: se não foi possível evitar a supressão de 297 hectares do que havia no trajeto, por outro lado, foi feita a reposição de 1.200 hectares de mata nativa. Outras medidas preventivas foram adotadas, com sucesso, como os diques de contenção, para evitar que eventuais incidentes (um caminhão tombado, um vazamento) atingissem mananciais. NEO MONDO: A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) constatou que a poluição diminuiu nas duas primeiras semanas de abril, na capital paulista, sobretudo em trechos de vias por onde deixaram de transitar caminhões que se utilizam agora do Rodoanel. O senhor vê isso como significativo e algo que só tende a melhorar? Orlando Morando: Significativo, sem dúvida, mas não deve ir além disso porque a frota de veículos cresce a cada ano. Mas estamos diante de um bom sinal de que os ganhos ambientais vieram quase que simultaneamente à inauguração do trecho sul porque a grande quantidade de caminhões

O que a Cetesb registrou • o trecho sul do Rodoanel foi inaugurado em 30 de março • nas duas primeiras semanas de abril, a média do nível de monóxido de carbono melhorou em relação à média do mês de março • no bairro de Pinheiros, houve a queda mais sensível (46,8%) no nível de partículas inaláveis (fuligem) • na avenida dos Bandeirantes, e na região de Cerqueira César (centro da capital paulista), houve redução de 28,2% e 26,9%, respectivamente Fonte: O Estado de S. Paulo

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Perfil

Divulgação

Orlando Morando e José Serra: afinidade político-administrativa com foco na melhora da qualidade de vida da população

que não passa mais pela avenida dos Bandeirantes, ao deixar de cruzar a cidade, dá um ganho muito grande na qualidade do ar. Sem querer entrar no mérito se essa melhora veio para ficar, me deixa falar de um ganho socioeconômico significativo. Um empresário de Jundiaí (SP) me disse que, antes do Rodoanel, conseguia fazer duas viagens até o porto de Santos. Agora, dobrou o movimento de sua frota, ou seja, faz mais viagens com o mesmo número de veículos e economiza combustível porque não enfrenta congestionamentos. Caminhão parado joga muito mais poluentes no ar. NEO MONDO: Serra no Planalto fará o deputado alçar voos mais altos ou a região do ABC Paulista continuará como sua prioridade política? Orlando Morando: Há muitos desafios pela frente, independentemente de quem vença as eleições presidenciais. O meu foco continua sendo o Grande ABC, região pela qual pretendo disputar o terceiro mandato. Na Assembleia Legislativa, os desafios se traduzem em me dedicar a aprimo10

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rar a mobilidade urbana, e uma das soluções, a meu ver, está na renovação da frota. Somos um país em que ainda não se permite exportar veículos usados, ao contrário do que acontece com nossos vizinhos. Não obstante a boa qualidade das estradas paulistas, a malha rodoviária está esgotada. NEO MONDO: Que outras iniciativas o senhor pretende desenvolver ou já desenvolve na área de transportes? Orlando Morando: Vou me concentrar na necessidade de se investir forte em monotrilhos, modalidade bem menos poluente e muito mais barata, que precisa ser adotada nos grandes centros urbanos. Dá para baixar o custo do investimento por habitante pela metade (de R$ 38 mil para R$ 19 mil) e, no caso do VLT (veículo leve sobre trilho), se avança muito mais: em vez de se construir 100 mil km, dá para fazer 400 km nessa modalidade. As ciclovias também não podem ser descartadas, em que pesem o fator cultural e as características topográficas de nossas cidades, além do clima. Sem falar na extensão do metrô para o Grande ABC, que é uma de nossas metas. Com muita transparência,

temos acompanhado de perto a evolução dos estudos para a ligação da Estação Tamanduateí do Metrô, na capital paulista, aqui para a região. Acredito que, no ritmo em que estamos, dentro de três a quatro anos o metrô chega ao ABC. NEO MONDO: Como o senhor vê a eventual administração federal José Serra em relação ao meio ambiente. Teremos um governo mais regulador, mais fiscalizador, com mais diálogo com os vários segmentos? Como ficaria o Ministério do Meio Ambiente? Orlando Morando: Aqui não se trata de uma expectativa. A prática administrativa no estado paulista é austera no trato ambiental porque entendemos que, acima de tudo, é uma questão de respeito. Agimos de maneira inteligente, sem conivência com a impunidade. Paralelamente desenvolvemos projetos qualificados, como o que está em andamento na Serra do Mar, porque entendemos que não se deve acomodar na tese de que ‘não se pode fazer nada’, para mudar situações críticas, que na verdade acaba no ‘pode tudo’, para deixar o que está ruim ainda pior.

Pressupostos do Código de Resíduos Sólidos • • • •

Lei 12.300/06 defende acesso da sociedade à educação ambiental estabelece a adoção do princípio do poluidor pagador reconhece o resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico, gerador de trabalho e renda

Fonte: Comunicação dep. Orlando Morando

Mandato suprapartidário Em habitação, • 1,5 mil unidades em São Bernardo, 420 delas em 2009 • mais de 2 mil no Grande ABC Em saúde, • R$ 5 milhões ao Hospital Mário Covas, referência de atendimento Dos R$ 2 milhões de emendas pontuais, • R$ 800 mil foram para São Bernardo * • R$ 300 mil para Santo André * • R$ 150 mil para São Caetano * • R$ 300 mil para Ribeirão Pires * • R$ 150 mil para Diadema * • R$ 300 mil para Rio Grande da Serra * * Cidades que compõem o Grande ABC, além de Mauá

Fonte: Diário do Grande ABC


Edição Especial

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um olhar consciente

Ano 4 - Nº 35 - Junho 2010 - Distribuição Gratuita

Dia mundial do

Meio Ambiente Prezado leitor NEO MONDO está em festa. Estamos comemorando não só o dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), mas também nossa entrada no 4o ano de existência. O Meio Ambiente tem sido nossa bandeira desde a primeira edição por um simples motivo: é uma questão de sobrevivência e a destruição do Planeta é um problema nosso! Participe desta edição histórica e ajude-nos a hastear esta bandeira. ACESSE NOSSO PORTAL – WWW.NEOMONDO.ORG.BR

RESERVA DE ESPAÇO - ATÉ 24/05

ENTREGA DE MATERIAL - ATÉ 28/05


Profile

A trader

of Good

Environment, sustainability, housing, health, and quality public transport characterize citizenship-focused terms of office

Divulgação

Gabriel Arcanjo Nogueira

At the State Legislative Council of São Paulo, Orlando has stood out by overcoming challenges to improve urban transport without harm to the environment

NEO MONDO: In this issue of the magazine our special focus is on the Brazilian biome. In your opinion, what must be done to take better care of it? Orlando Morando: The great national challenge – with São Paulo trying to do its part – is to seek and use clean energy sources. The impact of hydroelectric power is very hard on the environment and on the people. Belo Monte is an 12

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example of the negative outcome of insisting on investing in this energy alternative. Even with possible improvements to the project, you cannot say that it is the correct path. NEO MONDO: What can be done then? Orlando Morando: What is being done in São Paulo is to optimize the use of sugarcane pulp as clean energy and this

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ith a direct and frank style, Orlando Morando Junior, the Toucan Party (Social Democratic Party of Brazil – PSDB) State Councilor, in his second term of office, at the age of only 35, confirmed himself to be a balance of the two characteristics when asked to define if a public person is more technical than political. Orlando, who graduated in Business Administration and Law, and has twice been elected Municipal Councilor for São Bernardo do Campo, in the Greater ABC Region, São Paulo, does not hesitate to say: “I am a trader.” It is no coincidence that the young politician is also Vice President of the São Paulo State Association of Supermarkets (APAS). His entrepreneurship qualifies him, ahead of the majority of his competitors, to move ahead in several areas: the environment, sustainability, quality of life with housing, health, and sport. Orlando is aware that, above all, he is a citizen and is a member of the Legislative State Council, who is highly praised by his peers and the media. Check out the interview he granted to the NEO Mondo at his office in Sao Bernardo do Campo (SP), early one cloudy, misty morning with his office filling with people looking to him as a representative of good causes.

should be extended to other states. We cannot rule out efforts to invest in thermoelectric power plants and to use wind power mills too. And, meanwhile, stop seeing garbage just as garbage. It is a habit of wasting, typical of a country that has not faced the horrors of war, such as those that rocked Europe. Sewage sludge, for example, is an organic element that could be used in the produc-


Causes tion of sugarcane and fruits. Coupled with simple solutions, such as this, fighting wasting fruit and vegetables during transport (which currently amounts to 10% of the total produce) should be encouraged. NEO MONDO: Are there are legal instruments to help in this endeavor? Orlando Morando: São Paulo has created something precious along that line, which is the State Code for Solid Waste (see table), whose formulation happened during my term. NEO MONDO: You are very straightforward and sincere in what you say. Is this style one of the reasons that makes you close to the next state government, and what role do you play in the presidential campaign for Presidency of the Republic? Orlando Morando:Our political agenda is very intense and in tune with the state government, but focused on the needs of the Greater ABC. There are strong ties with the state government and that is an experience that gives us visibility. In the campaign of José Serra of the Toucan party (PDSB) for the presidency I will engage as a citizen, an activist, and soldier for the party in order to fill a significant performance gap of votes for our candidate in the region. NEO MONDO: You have stood out out in your term of office for signing the approval of amendments on the budget of the government of São Paulo, as well as initiatives in health and housing. But the beltway, one can say, has deserved your special attention ever since. How do you manage all of this? Orlando Morando: I have a track record of services supplied to the Greater ABC region that go beyond any party affairs, keeping a supportive eye on the population’s interests; not that of the parties

that are in government in the local city halls. Examples of that are the commitment to vocational education (College of Technology - FATEC), and to resources for housing (CDHU is present in São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, and Santo André, cities of the area administered by other governments). Everything is fruit of a lot of hard work. I wake up early; I go to sleep late, focusing on the interests of the population. Above all, I am a citizen. Now, in my second term of office, I can say that the priority was the construction of the southern stretch of the beltway, and the correct perception is that this work, part of a broader project, can only bring benefits to the Greater ABC. NEO MONDO: The environmental impact of the beltway is yours to see; was it well set out in the planning and execution of the construction? Orlando Morando: The criticism of this enormous and historic work, fundamental for the development of the state, as a whole, was unrealistic. All viable precautions were taken to rationalize the construction of the southern stretch of the beltway. From surveys and the contributions from various sectors, including residents and NGOs, all were heard. All participated in the studies and the effectiveness of the plans. This joint effort resulted in solutions that enabled the care of flora

and fauna by adopting management in the fields in five lots in which the undertaking was accomplished. Examples are the underground passageways for animals to move about locally without risk, or compensation forestry. Although it was not possible to avoid the cutting down of 297 hectares which were in the way, on the other hand, the restoration of 1,200 hectares of native forest was made. Other preventive measures have been successfully adopted, such as restraint barriers, to avoid eventual incidents, (an overturned truck, a leak) from affecting native fountainhead areas. NEO MONDO: The Environmental Company of São Paulo (CETESB) found that pollution in the metropolitan area decreased in the first two weeks of April especially on the routes no longer used by trucks, which now use the beltway. Is that seen as significant and something that only tends to improve? Orlando Morando: It is certainly significant, but we should not expect it to improve any further, since the number of vehicles grows every year. However, it is a good sign that the environmental gains came almost simultaneously as the south section of the beltway was inaugurated because most trucks no longer use the Bandeirantes Avenue to cross the city, therefore, improving the air quality considerably.

CETESB (Environmental Company of São Paulo) Recorded • The south section of the beltway was inaugurated on March 30th 2010. • During the first two weeks of April, the average level of carbon monoxide had improved compared to the average in March. • In the Pinheiros district of São Paulo there was quite a sensitive drop in the level of particle emissions (soot) (46.8%) • Bandeirantes Avenue and the Cerqueira César region (Downtown São Paulo) presented a reduction of 28.2% and 26.9% respectively Source: O Estado de S. Paulo

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Profile

Divulgação

Orlando Morando and Jose Serra: political and an administrative attunement focusing on improving the quality of life of the population

Without being controversial whether the improvement is here to stay, let me talk about the significant social and economic gain. A businessman from Jundaí (SP) told me that before the beltway he could only make two trips to the port of Santos; now he has doubled the trips of his fleet and he can make more trips with the same number of vehicles saving fuel because they don’t get stuck in traffic jams. Trucks in a traffic jam pump a lot more pollutants into the air. NEO MONDO: If Serra is elected President should we expect you to seek higher political objectives or will the inhabitants of the Greater ABC continue to be your political priority? Orlando Morando: There are many challenges ahead, regardless of who wins the presidential elections. My focus remains on the ABC, where I intend to be a State Councilor for a third term. The challenges in the Legislative Council result in my dedication to enhance metropolitan mobility. One of the solutions, in my point of view, is the renewal of public transportation. We are a country 14

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that still does not allow the export of used vehicles, unlike our neighbors. Despite the good quality of the roads in the state of São Paulo they are heavily congested. NEO MONDO: What other initiatives do you intend to develop or have already started developing with regard to transportation? Orlando Morando: I will focus on the requirement to invest in monorails, which is a cheaper form of transport that is less polluting and must be adopted in large city centers. You can reduce the cost of investment per capita by half ($ 38 billion to $ 19 billion) in the case of VLT (bus rail) and progress even further: instead of building 100,000 km, 400 can be built instead. Also, you cannot discard cycle-ways, even though the cultural factor, the topographical characteristics of our cities, and our weather don’t exactly help. We cannot forget to mention extending the subway to the ABC region; this is one of our goals. With transparency, we have followed up closely on the evolution of studies for connecting the Tamanduateí Metro

Station in the city of São Paulo to this region. I believe that, at the pace it is happening, within three to four years the subway should reach the ABC. NEO MONDO: How do you see the potential Federal Administration of José Serra with regard to the environment? We will have a more regulatory government, with more surveillance and more dialogue with the various industrial and social segments? What will the Ministry of the Environment be like? Orlando Morando: This is not about expectation. With regard to Environmental matters in the State of São Paulo the Administration is very strict because we understand that, above all, it is a question of respect. We act intelligently without collusion of impunity while, at the same time, we develop qualified projects, such as that in the ‘Serra do Mar’. We believe that we should not Accept the theory that ‘you cannot do anything’ when it applies to critical situations, because that attitude is understood as ‘do anything you want; all is allowed’, making bad things even worse.

Code for Solid Waste Regulations • • • •

Act 12,300/06 defends society’s access to environmental education establishes the adoption of the principle that polluters must pay recognizes solid, recyclable and reusable waste as economic assets, generating employment and income

Source: Communication State Councilor Orlando Morando

Term of Office Transcending Political Parties On housing: • 1.5 thousand Units in São Bernardo, 420 of them in 2009 • over 2 thousand in the Greater ABCD region (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, and neighboring Districts) On health: • R$ 5 million for the Mário Covas Hospital - Model Facility and Service Benchmark Of the R$ 2 million of ad hoc amendments: • R$ 800 thousand went to São Bernardo * • R$ 300 thousand to Santo André * • R$ 150 thousand to São Caetano * • R$ 300 thousand to Ribeirão Pires * • R$ 150 thousand to Diadema * • R$ 300 thousand to Rio Grande da Serra * * Cities that make up the region of Greater ABCD region, besides Mauá

Source: Diário do Grande ABC (The Greater ABC Journal)


Dilma de Melo Silva

Visite e conheça os ecossistemas do Estado de São Paulo

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á à Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, no Butantã e conheça os ecossistemas de nosso estado, numa única viagem. Parece incrível... mas, não é. Esse espaço experimental se localiza no centro do campus oeste da Universidade de São Paulo, em torno de um obelisco com um relógio, dentro de um espelho d’água, ao redor do qual lê-se: no Universo da cultura o centro está em toda parte. Essa praça foi construída em 1971, e, reinaugurada em setembro de 1997, depois de uma reforma avaliada em R$ 1,2 milhão, a partir de um projeto paisagístico elaborado por professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Biociências da USP. O belo projeto criou, nos 176 mil metros quadrados do local (equivalente a 18 quarteirões urbanos), os seis ecossistemas vegetais predominantes no Estado de São Paulo. Num dos lados da praça, junto à avenida Professor Luciano Gualberto, por exemplo, foram plantadas 4 mil mudas de 60 espécies oriundas da Mata Atlântica, como jatobá, jequitibá, pau-brasil e cedro-rosa. Ao longo da praça distribuem-se ainda espécies vegetais da mata araucária, restinga, campo rupestre, cerrado e mata semidecídua, que constituem o ecossistema paulista. Foram colocados painéis explicativos contendo mais informações sobre esses ecossistemas. Foi concebida como Praça/ parque a ser usufruída com lazer cotidiano e com centro da Universidade; no site da USP,

podemos encontrar os seguintes dados sobre o paisagismo da Praça do Relógio. Por essa praça passam, diariamente dezenas de alunos, docentes, funcionários, visitantes que são colocados frente á nossa responsabilidade de preservarmos o que está ameaçado de extinção, por exemplo, a Mata Atlântica e o Cerrado, dois dos hotspots brasileiros. É nosso dever salvar o que resta deles. Por uma razão bem simples: os “hospots” (que incluem 34 regiões do planeta) somados representam apenas 2,3% da superfície terrestre não coberta pelos mares, e, cada um deles já perdeu cerca de 70% de sua vegetação original.

Praça do Relógio

Webliografia: http://www.usp.br/gr/praca.php (consulta dia 30.04.2010)

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto. E-mail: disil@usp.br

Mata atlântica 4.000 mudas de 60 espécies, dentre as quais paus-brasil, jequitibás, angicos-brancos, perobas-rosas, jatobás, palmitos, cedros-rosas, paus-ferros e canelas. Mata descídua 700 mudas de 20 espécies, dentre as quais paineiras, cássias, paus d´alho, araribás, amendoíns-do-campo e perobas-rosas. Mata araucária 1.310 mudas de 60 espécies, dentre as quais podocarpos, bracatingas, cabreúvas, pausmarfim, aroeiras e maçarandubas. Restinga 1.700 mudas de 15 espécies, dentre as quais eugênias, clusia, rheedia e ipoméias. Cerrado 300 mudas de 9 espécies, e dentre as quais angicos, paus-mulatos, ipês-cascudos, sucupiras-brancas e farinhas-secas. Campo Rupestre 1.000 mudas de 15 espécies, dentre as quais: vellozia, dychia, encholirium, lavoisiera e pleurostina. Neo Mondo - Maio 2010

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MINHOCÃO

solução à poluição sonora

O

meio ambiente e a decorrente sadia qualidade de vida, conforme consenso e sensação geral, estão na moda. Que agradável constatação...! Na condição, porém, de Promotor de Justiça do Meio Ambiente de uma das maiores metrópoles do planeta, nos deparamos, por vezes, com situações que ainda estão na contramão dessa alvissareira corrente preservacionista. É o que se verifica, por exemplo, com o drama, podemos assim dizer, decorrente

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da poluição sonora existente, vivido, há quase 40 anos, por milhares de moradores e trabalhadores circunvizinhos do Elevado Presidente Arthur da Costa e Silva, conhecido como “Minhocão”, situado na cidade de São Paulo - traço urbanístico proeminentemente negativo, reiteradamente lembrado e rejeitado em quase todos os seus aspectos. Sensível a tal situação e dada a constatação de que se trata de um problema reconhecidamente atormentante, espe-

cialmente porque agressivo à saúde humana, a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de São Paulo ajuizou ação civil pública, pleiteando, com base em laudos técnicos, a minimização dos respectivos impactos sonoros, através da instalação de barreiras acústicas laterais naquela pista elevada. Cumpre registrar, a propósito, que artigos científicos apontam que poluição sonora, quando produzida de forma reiterada, pode ocasionar estados crônicos de


Carlos Augusto Magalhães

nervosismo, depressão e stress, os quais, por sua vez, levam a transtornos psicofísicos, doenças cardiovasculares e alterações do sistema imunológico, dentre outros. A surdez permanente produz-se por exposições prolongadas a níveis superiores a 75 dB. Trata-se, assim, de uma situação que não pode passar despercebida aos olhos da Administração Pública. Qualquer homem médio, dotado, portanto, dos medianos padrões de sen-

Dr. Marcos Lúcio Barreto

sibilidade, conseguirá enxergar na situação aqui relatada que, a essas milhares de pessoas, está se impondo, há décadas, verdadeiro e inaceitável martírio; sem receio de enveredarmos para um discurso piegas, não podemos deixar de lembrar que estamos tratando de seres humanos, em condições permanentemente agressivas, não sendo concebível que, com os recursos tecnológicos que hoje se tem à disposição, e dizendo respeito a uma incumbência afeta a maior cidade do país, uma das maiores do mundo, a eles não se permita uma situação mínima de higidez física e mental. Nos permitimos falar, com toda segurança, em absoluto descaso do poder público, além de flagrante e total desrespeito ao cidadão... Temos, portanto, uma situação crítica a ser enfrentada, tecnicamente demonstrada, que se arrasta há quase 40 anos, e que pode ser corrigida de uma forma moderna e inquestionavelmente ao alcance da Administração Pública. Em precedente emblemático e significativo, o Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Barueri condenou a DERSA a construir “barreiras anti-ruídos no trecho oeste do Rodoanel, com o objetivo de reparar danos ambientais trazidos aos moradores do Residencial Tamboré I e do Parque Imperial, em função da poluição sonora provocada pelos carros que circulam na rodovia”, decisão essa confirmada em segundo grau, destacando-se a anotação feita pela Câmara Especial de Meio Ambiente, do E. Tribunal de Justiça de São Paulo, de que não “há dúvida de que o impacto sonoro é relevante e a única forma de mitigação consiste na edificação de barreiras refletoras”. Em uma situação, portanto, reconhecidamente menos crítica, pela notória diferença no distanciamento das respectivas fontes de poluição sonora e os moradores atingidos (100 metros, no caso do Rodoanel, e 5 metros, em alguns pontos, no Elevado Costa e Silva, conforme pe-

rícias realizadas), o Poder Judiciário, nas duas instâncias, viu a necessidade de se preservar a higidez física e mental dos ocupantes dos condomínios Residencial Tamboré I e Parque Imperial. Não há porque, assim e à evidência, não se aguardar igual solução ao caso do “Minhocão”... Tais decisões encontram suficiente suporte protetório nas barreiras laterais antirruídos que, em visita a diversos países, pudemos constatar existirem, como proteção sonora a conjuntos habitacionais que margeiam diversas vias expressas. Trata-se, portanto, de uma solução mundialmente adotada, nada justificando, assim, que São Paulo, a maior cidade do Brasil, que vem experimentando uma modernização sem precedentes, não a utilize. No estado do Rio de Janeiro, inclusive, apuramos que, em um “concurso de idéias para projeto de tratamento acústico e paisagístico do Elevado da Perimetral”, os arquitetos Ana Paula Polizzo, Carlos Eduardo e Spencer de Vasconcellos alcançaram o 2º lugar desse certame, com uma proposta técnica que prevê, dentre vários aspectos, a construção de barreiras laterais antirruídos. Nesse trabalho destacamos o importante registro:“Barreiras acústicas usualmente podem fornecer atenuações na faixa de 10 a 15 dB. Em situações muito favoráveis, podem-se obter atenuações maiores, mas não são admitidos valores maiores que 25 dB, devido a efeitos de espelhamento atmosférico”. É de se aguardar, portanto, que o Poder Judiciário, chamado a se pronunciar a respeito, contemple os milhares de ansiosos beneficiários com o devido respeito e dignidade que inafastavelmente merecem.

Dr. Marcos Lúcio Barreto Promotor de Justiça do Meio Ambiente de São Paulo E-mail: marcoslb@mp.sp.gov.br Neo Mondo - Maio 2010

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O substrato dos O

Brasil possui uma das mais ricas geodiversidades do mundo, com testemunhos de praticamente toda a história geológica do planeta Terra. Geodiversidade é definida como “a diversidade natural entre aspectos geológicos, do relevo e dos solos” (Eberhard, 1997). Cada paisagem natural originada a partir da morfologia dos terrenos, sua gênese, evolução e fisiologia está em constante dinâmica por meio da atuação de processos de natureza geológica, biológica, hidrológica e atmosférica. No Brasil, o conceito de geodiversidade vem sendo aplicado ao planejamento territorial e, mais recentemente, aos estudos de geoconservação (conservação do patrimônio geológico). A Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) define geodiversidade como “o estudo do meio físico constituído por uma variedade de ambientes, composições, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas,

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fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo e o turístico”. Dessa forma a biodiversidade está assentada sobre a geodiversidade, é dependente desta, uma vez que são as rochas que fornecem nutrientes para o desenvolvimento das plantas que sustentam a vida no planeta. A formação dos solos por meio do intemperismo (conjunto de modificações de ordem física - desagregação e química - decomposição que as rochas sofrem na superfície da Terra) juntamente com o clima e o relevo oferecem o suporte para o desenvolvimento da vida. Sendo assim, a origem e evolução das paisagens naturais se relaciona aos biomas atuais, seu desenvolvimento e constituição, o que nos remete ao entendimento do planeta Terra como um sistema dinâmico, no qual a interação das esferas terrestres resulta nos ambientes que vemos hoje. A

compreensão desses ambientes e sua utilização sustentável dependem do conhecimento e da compreensão da sua gênese. O atual cenário das paisagens no território brasileiro começa a se delinear a partir de 146 Ma (Cretáceo) com a separação da América do Sul e África, com a formação de inúmeras bacias costeiras e com o soerguimento dos Andes no período Terciário e outras movimentações que levaram à formação da Amazônia Ocidental, das serras do Mar e da Mantiqueira e das bacias sedimentares. Associadas à influência de substratos variados, incluindo tipos de solos e a história pretérita do continente, relacionada à deriva continental e aos movimentos de massa diversos, paleoclimas e fluxos migratórios de plantas e animais, grupos de plantas e animais evoluíram conjuntamente, sob condições particulares de clima, solo e diversos outros níveis de interação, diferenciando-se de maneira a compor faunas e floras características dos vários biomas.


Denise de La Corte Bacci

Região de Cerrado no Centro-oeste do Brasil

De forma a ilustrar essas relações tomemos como exemplo o Cerrado, que se assenta sobre as superfícies de aplainamento e os chapadões do Brasil central e parte da depressão central. Nesse domínio destacam-se quatro padrões morfológicos principais: topos de chapadões sustentados por couraças ferruginosas, planaltos dissecados, depressões e a planície do Rio Araguaia (AB SABER, 1967, 1970). Esses ambientes estão submetidos a um regime climático quente e semi-úmido, com verões chuvosos e invernos secos. Essas características climáticas promovem um forte intemperismo químico das rochas com formação de solos, removendo minerais importantes e formando solos profundos e arenosos com baixa capacidade de reter nutrientes. Esse tipo de solo sustenta uma vegetação de savanas, campos serrados, onde predomina a vegetação herbácea até cerradões onde predomina vegetação arbustivo-arbórea. No caso do bioma da Serra do Mar, as escarpas montanhosas fortemente alinha-

das, apresentam desnivelamento muito elevado, às vezes superior a 2.000 metros. As feições íngremes são cobertas por camadas de solos jovens e espessos que dão suporte à floresta, original de terrenos acidentados. A forma do relevo faz com que a densidade de drenagem seja alta e com que ocorram períodos de fortes precipitações (2.000 a 2.500 mm/ano). Predominam as rochas graníticas e os quartzitos, que sustentam e fazem com que o relevo apresente grande beleza cênica variando de 800 a quase 3.000 metros de altitude e dá suporte à vegetação que variam de campos rupestres (serras do Cipó e Espinhaço em Minas Gerais) onde, os solos são rasos, à vegetação fechada da Mata Atlântica (serras do Mar e da Mantiqueira). Observamos, então, a relação direta e as interações dos processos naturais entre rocha, solo, clima e vegetação na formação dos diferentes biomas, indicando o dinamismo e a interdependência no Sistema Terra.

Para saber mais: Mantovani, W. (2003) A Degradação dos Biomas Brasileiros. In: Ribeiro, W.C. (Org.). Patrimônio Ambiental Brasileiro, p.367-439.w Silva, C.R. Ed. (2008) Geodiversidade d Brasil: conhecer o passado para entender o presente e prever o futuro. CPRM/SGB. Rio de Janeiro. 264 p.

Denise de La Corte Bacci Graduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP. E-mail: bacci@igc.usp.br

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Especial - Biomas Brasileiros

Joias

RARAS Brasil precisa reconhecer, proteger e saber usar seus biomas para merecer o respeito internacional Gabriel Arcanjo Nogueira

“A

mata atlântica continua tendo um papel fundamental para garantir a proteção de nossa rica biodiversidade, não está perdida e é possível recuperá-la, sim. Há muitas áreas livres que podem ser restauradas, e é o que temos feito em nossos programas Florestas do Futuro e Clickarvore, com milhões de árvores já plantadas.” Quem garante é Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, geógrafo e ambientalista, há 35 anos, dos mais respeitados no Brasil e no exterior.

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Em conversa com NEO MONDO, entre um compromisso e outro de sua agenda verde, ambientalista desde criancinha (aos 10 anos de idade, Mantovani acreditava que seu futuro seria ser um ativista socioambiental), ele não tem dúvida: “Participei do surgimento da consciência ecológica no Brasil”. Consciência que o faz considerar que “todas as lutas (preservacionistas) têm espaço e precisam ser divulgadas” porque, para ele, “mata atlântica, Amazônia... são todas joias que o Brasil precisa reconhecer, proteger e utilizar para se posicionar internacionalmente como um país repleto de diferenciais naturais”.

Atenção é para todos Mantovani acredita que, no processo de recuperação dos biomas nacionais, governos, empresas, ONGs, escolas, sindicatos, enfim, cada cidadão deve ser o participante por excelência. E de novo ressalta a questão fundamental do ser consciente: “Cada um precisa ter consciência do seu papel, que implica separar e reciclar seu lixo; gastar menos água e realizar o consumo consciente. O primeiro passo é entender o bioma em que você está inserido e procurar conhecer remanescentes que estejam perto da sua casa. A mata atlântica, por exemplo, está nas prin-


cipais cidades brasileiras, e muitos de seus moradores não sabem disso”. Além disso, para o diretor de Políticas Públicas da Fundação, mais do que nunca é preciso também “fazer valer a importante legislação ambiental que o Brasil possui e que precisa ser aplicada”. A SOS Mata Atlântica desenvolve campanha das mais cruciais em sua trajetória de lutas porque vê riscos de que se mude o arcabouço jurídico brasileiro para pior (ler, na sequência, “Legislação ambiental ameaçada”). Entre suas atividades, a Fundação desenvolve estudos sobre os biomas brasileiros, como parte da sua política de parcerias. Estas são decididas com muito critério no momento da escolha, esclarece Mantovani. O diretor da ONG cita, como exemplo, o Atlas da Mata Atlântica (ver mapa na página 41), feito com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e disponibiliza relatório com dados que ajudam a entender como foi possível chegar a inúmeras parcerias que resultam em projetos relevantes. A mata atlântica - para NEO MONDO, “tão ameaçada e tão rica de esperanças” - é um dos sete biomas brasileiros. Nenhum deles foge à mais recente preocupação do diretor de Políticas Públicas da

ONG, desde 1991, para que “mais de 400 leis ambientais sejam aprovadas”. Ele também atua na Frente Parlamentar Ambientalista desde que foi criada, em 2007. Com muita experiência e dedicação à causa, Mantovani participou de projetos como a elaboração da Lei da Mata Atlântica, 2006; Lei das Águas, 1997, que criou o Sistema Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente e Gerenciamento de Recursos Hídricos; e participa também do projeto Rebob, que prevê consórcios de bacias hidrográficas. Incansável, resume: “Embora a mata atlântica tenha sido 93% devastada, fornece água limpa, ar puro, controle do clima e qualidade de vida para 112 milhões de pessoas habitantes de algumas das maiores cidades brasileiras”. Imagina quando atingir alcance maior em nosso ecossistema. O que é possível se mais gente engrossar as fileiras de ativistas, a exemplo do realista Mantovani: “Nos últimos anos o ritmo de desmatamento tem diminuído na mata atlântica, o que é bastante positivo, mas também é quase natural num bioma que já foi 93% devastado. Não há muito mais o que destruir, por isso precisamos ficar todos atentos para que a fiscalização aconteça e também a restauração”.

Marcelo Trad

Mantovani: mata atlântica, Amazônia (e demais biomas) são parte da mesma luta

Legislação ambiental ameaçada A Fundação SOS Mata Atlântica decidiu ampliar a campanha Exterminadores do Futuro, que lançou em março, por entender que é preciso alcançar apoio mais abrangente da população brasileira. Para o presidente da ONG, Roberto Klabin, a Fundação não se contenta com a polêmica e reação causadas por essa iniciativa na sociedade e no Congresso Nacional. “A campanha foi lançada para valorizar o patrimônio natural brasileiro e mostrar as ameaças ao Código Florestal e a toda a legislação ambiental brasileira com as propostas de alteração que tramitam no Congresso, que não estão sendo discutidas com toda a sociedade de maneira uniforme”, diz. Preocupada em garantir a transparência do processo que desencadeou, bem como o direito de defesa aos parlamentares envolvidos, a SOS Mata Atlântica resolveu também reformular o cronograma de divulgação da lista de exterminadores. O diretor de Políticas Públicas da ONG, Mario Mantovani, explica que o Viva a Mata, nesse

sentido, representou “um momento crucial para envolver as pessoas e explicar melhor nossos objetivos. Queremos que o público possa opinar e colaborar nesse período do Dia Nacional da Mata Atlântica”. O que a instituição propõe é a retomada do diálogo com seriedade e, principalmente, num foro isento, em que representantes da sociedade possam discutir as alterações propostas. “Somos contra a forma como essas alterações estão sendo encaminhadas, pois aparentemente a sociedade está participando das discussões, mas, de fato, não está, e este é um ano político complicado, em que há a campanha presidencial, por isso não é o momento de se definir um assunto tão importante e delicado para o futuro do Brasil”, acrescenta Klabin. Para Mantovani, “há problemas nas convocações das audiências e na composição da Comissão Especial para Discussão do Código Florestal. Isso porque pequenos agricultores, que já têm tratamento diferenciado dado pela Lei da Agricultura Familiar, são induzidos e lotam auditórios país afo-

ra nas audiências públicas”. É quando, no entendimento da Fundação, o Código Ambiental é apresentado como solução para as questões ambientais; dados distorcidos – que incluem na conta de restauração as propriedades com menos de 150 hectares, que têm tratamento diferenciado – são apresentados, e a discussão não acontece com todos os representantes da sociedade. Flexibilidade sem dogmatismos “O meio ambiente não é um entrave ao desenvolvimento econômico; ao contrário, a conservação dos ecossistemas, dos recursos naturais e dos serviços por eles prestados como polinização, combate à erosão do solo, garantia de água para a irrigação, entre outros, é totalmente necessária para a agricultura”, ressalta Klabin. Por isso, a Fundação SOS Mata Atlântica quer dar continuidade ao diálogo sobre o Código Florestal. “Pedimos mais flexibilidade e menos dogmatismo, e a construção de uma solução negociada entre as partes que esteja amparada em argumentos técnicos e científicos”, afirma o presidente.

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Especial - Biomas Brasileiros

Água limpa, ar puro, controle do clima e qualidade de vida para 112 milhões de pessoas, apesar de 93% devastada

Ele acrescenta que a SOS Mata Atlântica pede ainda que a legislação seja mantida tal como vigente até que se estabeleça um calendário de negociação e termos de referência sobre os temas em discussão, como reserva legal, áreas de proteção permanente, procedimentos de regularização de imóveis, instrumentos econômicos para a implementação da legislação florestal e ambiental, entre outros. “Também queremos a definição de um facilitador de comum acordo, com legitimidade e credibilidade para a condução dos processos”, complementa Klabin. Estas são as bases da proposta que ele próprio levou à audiência pública da Comissão Especial, realizada em 13 de abril, na Câmara dos Deputados. Miriam Prochnow, representante da Rede de ONGs da Mata Atlântica e coordenadora de Políticas Públicas da Apremavi, entende que o Código Florestal é também questão de segurança nacional. “A ocorrência, cada vez mais frequente, de tragédias como deslizamentos e enchentes chama a atenção. O Código não foi feito só para proteger animais e plantas mas, principalmente, a população. As áreas de preservação permanente, principalmente as localizadas em encostas e margens de rios, têm essa função específica. É temerário querer alterar o Código Florestal para alterar estas áreas”, explica.

Papel dos eleitores Daí a importância de qualquer pessoa, de acordo com a Fundação, poder informar e cobrar de seus candidatos compromissos com a defesa da legislação ambiental e com a proteção do patrimônio natural do país, utilizando os documentos disponíveis no hotsite da campanha, como cartazes e adesivos. O site www.sosma.org.br/exterminadores traz mais informações sobre a campanha e o trabalho que é desenvolvido, com notícias sobre as votações e audiências, as leis que estão em jogo e, no futuro, os critérios para formatação da lista. A SOS Mata Atlântica ressalta que a campanha não pretende denegrir a imagem ou difamar qualquer cidadão, mas sim alertar a população sobre a falta de diálogo quando o tema é o meio ambiente na formulação de leis. “Uma pessoa pode ter uma excelente atuação em outras áreas, mas se causa danos ao meio ambiente e a sociedade assim o reconhece, então esta pessoa pode se tornar um Exterminador do Futuro”, explica Mantovani. “Quem vai dizer isso são os eleitores. A lista depende da sociedade e só será divulgada após uma checagem com critérios que estamos formulando.” Zerolux/SOSMA

“Viva a Mata” 2009: pessoas aprendem, de maneira lúdica, o quanto e como é importante preservar o meio ambiente

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Manobra ruralista Por ser uma das maiores ONGs ambientais do Brasil, a SOS Mata Atlântica lembra que sempre participou das discussões sobre políticas públicas, como na Assembléia Constituinte, ajudando a garantir o direito ao meio ambiente no artigo 225 da Constituição, ou das discussões sobre as alterações no Código Florestal (Lei 4.771, de 1965). Setores mais avançados do agronegócio, ambientalistas e empresas, entre outros, vinham discutindo democraticamente no Congresso Nacional o projeto de Lei 6.424, de 2005, de relatoria do deputado Marcos Montes (DEM-MG), com os apensos PL 6.840/2006 e PL 1.207/2007. “Este PL traz um novo texto ao Código Florestal e havia consenso da sociedade quanto à sua redação, que inclusive incorpora artigos previstos na Lei da Mata Atlântica, trazendo modernidade ao Código Florestal hoje vigente”, esclarece Mantovani. No entanto, acrescenta o diretor de Politicas Públicas da ONG, enquanto parte do movimento ambientalista, do governo e da sociedade estava com suas atenções voltadas para a CO P15, no final de 2009, o projeto foi modificado e reencaminhado pelos deputados da bancada ruralista. O então relator, deputado Jorge Khoury (DEM-BA), foi destituído, e um novo projeto surgiu. A Fundação SOS Mata Atlântica e outras ONGs ambientalistas (entre elas, Greenpeace, Instituto Socioambiental, Rede de ONGs da Mata Atlântica e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) conseguiram impedir a votação do projeto de lei na ocasião, mas uma semana depois a sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável colocou o novo texto como ponto único da pauta. Novamente, com a pressão da sociedade, a votação foi cancelada. Essa manobra de alguns deputados para votar as alterações no Código Florestal às pressas deu fim ao diálogo, ocasionando a saída das discussões de algumas ONGs que não concordavam mais com o texto que passou a ser proposto. A Fundação acrescenta que foi, então, constituída uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados com o objetivo exclusivo de discutir alterações no Código Florestal: reserva legal (RL) com plantações homogêneas passíveis de exploração, margens de proteção de rios mais estreitas, plantio em inclinações maiores, e outras. O problema é que, junto ao Código Florestal, passou a ser apresentada uma nova


proposta para o Código Ambiental Brasileiro, que simplesmente desmantela todo o sistema nacional de meio ambiente e delega aos estados a função de legislar sobre o assunto. No entender da ONG, são alterações que atentam contra a Política Nacional do Meio Ambiente e contra as conquistas ambientais da sociedade, além de ser nocivas ao meio ambiente, já que desguarnecem sua proteção e levam ao comprometimento de relevantes paisagens e da garantia de vida. Também afrontam claramente a Constituição Federal em seu artigo 225. “As leis ambientais precisam ser aprimoradas para fortalecer a governança e o papel do Estado, fundamentais para que as leis sejam aplicadas na prática e tragam benefícios para todos”, aconselha Sérgio Guimarães, presidente do Instituto Centro de Vida (ICV). “Viva a Mata” 2010

• Mostra de iniciativas e projetos pela Mata Atlântica

• Momento de mobilização importante para esclarecimento de dúvidas e recebimento de sugestões

• Manifestação “O futuro é nosso e o voto também”, a cargo de dezenas de ONGs parceiras da SOS Mata Atlântica e representantes de várias regiões Fonte: SOS Mata Atlântica

Saiba mais da mata atlântica * Dia Nacional: 27 de Maio

* Cobertura original: 1.300.000 km , ou seja, 15% do território brasileiro 2

* Cobertura atual: 7% da área original, 93% do que havia já foi devastado, ou seja, 1% do território brasileiro.

Considerada Hotspot: uma das cinco áreas mais biodiversas e ameaçadas do planeta Espécies de animais ameaçadas de extinção: 383 (de um total de 633 no Brasil)

* Estados em que existe: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

* Flora: 20 mil espécies vegetais (8 mil endêmicas) Fauna: 1020 espécies de aves (188 endêmicas) 350 espécies de peixes (133 endêmicas) 340 espécies de anfíbios (90 endêmicas) 261 espécies de mamíferos (55 endêmicas) 197 espécies de répteis (60 endêmicas)

* Biodiversidade: Bioma com a maior diversidade de espécies de árvores do mundo: mais de 450 espécies de árvores por hectare no sul da Bahia

* Populações tradicionais: Cerca de 70 povos indígenas em inúmeras aldeias Mais de 370 comunidades quilombolas

* Unidades de Conservação Cerca de 1.400 Federal e Estaduais (Parques, Reservas, Estação Ecológica, Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN) Bacias hidrográficas: Abriga 7 das 9 grandes bacias hidrográficas do Brasil Rios São Francisco, Paraíba do Sul, Doce, Tietê, Ribeira de Iguape e Paraná Abastecem mais de 110 milhões de brasileiros em cerca de 3,4 mil municípios * Reserva da Biosfera da Mata Atlântica: Maior reserva da biosfera em área de floresta do mundo: 35 milhões de hectares

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Especial - Biomas Brasileiros

MATA ATLÂNTICA

o que restou do paraíso

É preciso cuidar do que restou de um dos maiores biomas do Planeta Da Redação

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R

espirar fundo e sentir o frescor suave do ar puro que vem da mata, se banhar e refrescar em seus rios e cachoeiras, se deliciar com seus frutos e se maravilhar com a beleza de seus habitantes são privilégios dos brasileiros. Regalias glorificadas pelos europeus que chegaram em 1500 a estas terras de muitas riquezas. Mistérios escondidos dentre a imensidão, até então, infinita de enormes árvores e vegetação fechada da mata banhada pelo Oceano Atlântico. Mas, de quê serve os mistérios, senão para desvendá-los? Riquezas, senão para possuí-las? Terras férteis, senão

para aproveitar-se delas? Foi este o pensamento que motivou os desbravadores desta terra e os acompanhou desde a extração do pau-brasil, da mineração, do plantio da cana-de-açúcar e do café, da expansão da pecuária e da agricultura até os dias atuais. Segundo o geógrafo, ambientalista e diretor de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, os responsáveis pelos ciclos econômicos enxergavam a Mata Atlântica como algo a ser conquistado. E atitudes, que pareciam tão importantes para a prosperidade do homem, o levaram para o caminho da escassez.


Hoje, de toda a imensurável área de Mata Atlântica que percorria o Brasil de Norte ao Sul no período da colonização, que ocupava 15% do território nacional, restam somente derradeiros 7%. Ou seja, foi desmatado, queimado, explorado e urbanizado, sem manejo adequado, 93% da Mata, o que a caracteriza como o segundo bioma mais ameaçado de extinção do Planeta, atrás somente das florestas de Madagascar, no Sul da África. Mesmo assim, “até 30 anos atrás o governo brasileiro ainda tinha como improdutivas as áreas florestais, impulsionando, então, o desmatamento” - destaca Mantovani.

Foi destruído mais do que o necessário

Contudo, sua magnitude permanece! E mesmo sofrendo com a imprudência, ela ainda é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, distribuída em faixas litorâneas, florestas de baixada, matas interioranas e campos de altitude. Além de ser detentora de sete das nove maiores bacias hidrográficas brasileiras, responsá-

veis pela distribuição de água potável para 3,4 mil municípios, em uma área onde vivem 62% da população brasileira, e para os mais variados setores da economia nacional como a agricultura, a pesca, a indústria, o turismo e a geração de energia. Por isso, não são poucas as intenções de proteção da área existente.

errado de que a Mata Atlântica seria apenas a franja ombrófila densa. Como resultado, tivemos a interpretação criminosa dos que continuavam desmatando como se as áreas não fossem Mata Atlântica (e, portanto, estivessem liberadas para o desmate, principalmente nos estados da região Sul que se interessavam em explorar a araucária)” – explica Mantovani em depoimento ao bole-

tim da SOS Mata Atlântica. Hoje, o intuito da legislação é preservar os 7% restantes da floresta, incentivando a criação de áreas de reserva e proteção ambiental. “Oitenta por cento do restante da Mata está nas mãos de proprietários, mas somente 20% são Unidades de Conservação. A situação é periclitante! Temos que restaurar e espalhar áreas não contínuas da floresta, por meio dessas ações” – alerta o ambientalista.

LEI DA MATA Uma das tentativas de conter a devastação é a Lei da Mata Atlântica, sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, no final de 2006, que modernizou e valorizou o controle socioambiental da Mata. “Corrigimos aqui um erro histórico. Antes, contávamos com o Decreto 750 para regulamentar isso de uma forma muito embrionária e confusa, o que possibilitou o entendimento

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Especial - Biomas Brasileiros

PANORAMA DA MATA ATLÂNTICA Composição da Mata A Mata Atlântica apresenta um conjunto de ecossistemas interligados, formados por florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista (mata de araucárias), Estacional Semidecidual e Estacional Decidual e os ecossistemas associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e ilhas costeiras e oceânicas. A relação entre os ecossistemas, caracterizada pelo trânsito de animais, o fluxo de genes da fauna e flora, forma as áreas chamadas de transição ecológica. Fauna A riqueza da fauna endêmica, peculiar da Mata Atlântica, é impressionante. Das 1711 espécies de vertebrados que vivem ali, 700 são endêmicas, sendo 55 espécies de mamíferos, 188 de aves, 60 de répteis, 90 de anfíbios, 133 de peixes, além daqueles que continuam sendo catalogadas, como a rã-de-Alacatrazes e a rã-cachoeira, os pássaros tapaculoferrerinho e bicudinho-do-brejo, os peixes Listrura boticário e o Moenkhausia bonita, e até um novo primata, o micoleão-da-cara-preta, entre outros. Mas se há abastança de um lado, do outro a realidade é triste. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Mata Atlântica abriga hoje 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil. Água As águas da Mata Atlântica abastecem 70% da população dessa região, mas os rios estão assoreando. Para se ter uma idéia, hoje se gasta mais com

desassoreamento do que com saneamento. “Poderíamos fazer produções diferentes, usar melhor o poder do plantio da nossa terra, produziríamos muito mais” – ressalta Mantovani. Fertilidade da terra Segundo Mantovani, não há necessidade de abrir mais espaço na floresta para o crescimento da agricultura, é possível utilizar as áreas que já foram devastadas e estão inutilizadas. Pois, embora a vegetação original tenha sido degradada, a terra continua fértil. “Foi destruído mais do que o necessário. Atualmente temos 43% dessa área de terra que pode ser aproveitada pela agricultura”. A qualidade da terra é incontestável. Há países em que o eucalipto demora cerca de 50 anos para atingir um tamanho para corte, na Mata Atlântica, isso leva 5 anos. Uso sustentável Se tivéssemos respeitado os 20% de reserva legal das propriedades, onde não é permitido o corte de vegetação, de acordo com a Lei Federal 4.771/65, hoje teríamos 17% da Mata Atlântica. Os ambientalistas defendem que hoje é possível conciliar o desenvolvimento sem destruir nossos recursos. Dentre as alternativas estão o investimento no cultivo de plantas medicinais, de espécies utilizadas como matérias-primas para a produção de vestimentas, corantes, essências de perfumes, nos insumos para a indústria alimentícia, manejo sustentável de árvores por meio do corte seletivo para a produção de móveis certificados, no ecoturismo e no mercado de carbono.

Viva a Mata A Fundação SOS Mata Atlântica realiza, entre 21 e 23 de maio, a sexta edição do Viva a Mata, uma mostra de iniciativas e projetos em prol da Mata Atlântica. O evento acontece na Marquise e numa grande tenda na Arena de Eventos do Parque Ibirapuera (SP) e fica aberto ao público das 9h às 18h.

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O objetivo, além de celebrar o Ano Internacional da Biodiversidade e o Dia Nacional da Mata Atlântica, em 27 de maio, é promover a troca de informações entre as pessoas que lutam pelo fortalecimento do ambientalismo. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica


Special - Brazilan Biomes

what’s left of paradise We must look after what remains of one of the world’s greatest biomes From the Publisher

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o breathe deeply and feel the gentle freshness of clean air coming from the forest, to bathe in its refreshing rivers and waterfalls, to delight with its fruits and marvel at the beauty of its native species are some of the many privileges shared by Brazilians. These were the aspects that were glorified by the Europeans who arrived in 1500’s about this land of many riches. Until then, these mysteries were hidden by the immenseness of the forest, under the huge canopies of the trees and the thick vegetation - as far as the eye could see, stretching along the shoreline of the Atlantic Ocean. But, to what avail are these mysteries if they can’t be unfolded? Should these treasures be possessed? Should these fertile lands be taken advantage of? These were

the thoughts that motivated the pioneers of this land to extract its riches; to cut down ‘Brazil-wood’ (Caesalpinia echinata; ‘Pau-Brasil’ – the tree after which the country was named), extract mineral resources, plant sugar cane, coffee, and engage in cattle farming and agriculture. To this day, we can see the persistence of this approach. According to Mario Mantovani, geographer, environmentalist and Mobilization Director of the ‘SOS Mata Atlântica’ Foundation, those that were responsible for fomenting the country’s economic cycles saw the Atlantic Rainforest as something to be conquered. And it was exactly this attitude, which seemed so important to guarantee man’s prosperity, that led him down the path of scarcity. Neo Neo Mondo - Setembro 2008 Mondo - May 2010

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Special - Brazilan Biomes

Back in the pioneering days, the immeasurable area of the Atlantic Rainforest, which extended from Brazil’s northern to southern states, along the Atlantic coastline, occupied 15% of the country’s territory. Today, only 7% of the forest’s original area remains. That is, 93% of the forest’s territory has been cleared, burned, farmed and urbanized, without any proper land management. This is the main reason why it is the second most endangered biome in the planet, only behind the endangered forests of Madagascar, close to the southern tip of the African continent. “Until 30 years ago, the Brazilian government still saw forest areas as unproductive, fomenting their deforestation and development” highlights Mantovani.

We destroyed more than what was necessary

Nonetheless, the forest’s magnitude still prevails! And even though it suffers from continuous reckless actions of mankind, the Atlantic Rainforest is still one of the richest biomes in the world in terms of its biodiversity, spreading across the Brazilian coastline and distributed into strips of forests, marshland, inland vegetation and high-altitude grasslands. In addition, the Atlantic Rainforest ac-

counts for seven of the nine major river basins in Brazil, serving drinking water to 3,400 municipalities accounting for 62% of the country’s total population. Finally, it acts as a resource for many of the country’s economic sectors, such as agriculture, fisheries, industry, tourism and energy generation. It goes without saying that there are many reasons to protect what is left of the forest’s existing areas.

confused manner, resulting in a misconception: that the protected area would be limited to the forest’s densest fringe line. As a result, criminals found legal loopholes to continue the clearing of the areas that supposedly were not part of the Atlantic Rainforest (and therefore, giving way to deforestation, mainly in southern states, which were interested in exploiting the Araucaria)” – explains Mantovani Montovani in the ‘SOS Mata Atlântica’ Bulletin.

Today, the intent of the legislation is to preserve the remaining 7% of the forest, by encouraging the creation of reserves and environmental protection areas. “Eighty percent of the remaining forest is still in the hands of private owners, and only twenty percent are Conservation Areas. The situation is shaky! We have to restore and expand the fragmented forest areas through these actions “- warns the environmentalist.

Forest Conservation Law The Atlantic Rainforest Conservation Law, signed by President Luiz Inácio Lula da Silva at the end of 2006, represents an attempt by the Federal Government to contain the forest’s devastation. The law modernized and enhanced the socio-environmental control over the Rainforest’s preservation. “We’ve corrected a historic mistake with this Law. Before the law was passed, Federal Decree 750 regulated the forest’s conservation, but it was carried out in a very embryonic and

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A PANORAMIC VIEW OF THE ATLANTIC RAINFOREST The Rainforest’s Biomass The Atlantic Rainforest features a set of interconnected ecosystems, formed by a dense rainforest, araucaria forest, seasonal semi-deciduous and deciduous ecosystems, such as mangroves, salt marshes, swamps, everglades, high-altitude grasslands and coastal and oceanic islands. These interconnected ecosystems are characterized by the movement of animals and gene flow of wild fauna and flora, thus creating territories that are known as areas of ecological transition. Fauna The richness of native fauna, peculiar to the Atlantic Rainforest, is impressive. Of the 1711 species of vertebrates that live there, 700 are endemic, including 55 species of mammals, 188 species of birds, 60 species of reptiles, 90 species of amphibians, and 133 species of fish. This list does not include the species that are still being catalogued, such as the ‘Alcatrazes’ Frog, and Waterfall Frog, bird species, such as the Planalto Tapaculo (Scytalopus Pachecoi) and the Parana Antwren (Stymphalornis Acutirostris), fish species such as Listrura Boticário (a type of catfish), and the Moenkhausia Bonita (a type of Characin Fish) and even a new primate, the Black-faced Lion Tamarin (Leontopithecus Caissara; a monkey only found in parts of the Brazilian Atlantic Forest), among others. But if on one hand we can notice ecological abundance, on the other hand, we can evidence a sad reality. According to the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA), the Atlantic Rainforest is now home to 383 of the 633 endangered species in Brazil. Water Although the water volume held by the Atlantic Rainforest supplies 70% of the population in the region, the rivers

are silting up. To get a better idea of the current situation, today more money is being spent on reducing river sedimentation than on water treatment. “We could engage in different production styles and use the soil’s fertility in a better way - we would produce much more” - stresses Mantovani. Soil Fertility According to Mantovani, there is no need to cut deeper into the forest to open space for agricultural growth. It is possible to reutilize areas that have already been devastated and destroyed. Although the original vegetation has been degraded, the land remains fertile. “We already destroyed more than what was necessary. Currently 43% of these areas can be used for agriculture”. The land quality is indisputable. There are countries where eucalypti take about 50 years to reach harvest size. In the Atlantic Rainforest, the same tree takes five years. Sustainable Use If we respected the “legal reserve preservation clause”, as stated by Federal Act 4,771/65, which prohibits clearing 20% of the native vegetation on private properties, today we would have 17% of the Atlantic Rainforest intact. Environmentalists defend the argument that today it is possible to reconcile development with preservation, without destroying our resources. Among the alternatives, investments could be applied in the cultivation of medicinal plants and other native species that can be used as raw materials for the production of garments, dyes, essences, perfumes, and ingredients in the food industry. Finally, sustainable management through selective logging for the production of certified furniture, ecotourism, and carbon trading, all these options are potential economically viable and sustainable practices.

Long Live the Forest From the 21st to the 23rd of May, the ‘SOS Mata Atlântica’ Foundation will be carrying out the sixth Viva a Mata (“Long Live the Forest”) event – a showcase of projects and initiatives in support of the Atlantic Rainforest. It will take place at the Marquee and in a large tent in the Events Arena of the Ibirapuera Park (SP) and will be open to the public from 9 am to 6 pm. Besides com-

memorating the International Year of Biodiversity and the National Day of the Atlantic Rainforest, (which is celebrated on May 27th), the objective of the ‘Viva a Mata’ event is to foster the exchange of information between people who fight for a stronger environmental movement. Source: Fundação SOS Mata Atlântica

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros Ameaças ao Patrimônio Nacional

Segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta, a Mata Atlântica abriga uma das maiores biodiversidades do mundo

Foto: Luizdemog

Caio Martins

Rio da Mata Atlântica na Serra do Mar

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Mata Atlântica, segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta (ficando atrás apenas das florestas de Madagascar), é a região do Brasil que se estende por 17 estados e mais de 3 mil municípios. Considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, ocupa cerca de 102 mil km² do território nacional. Isso representa apenas 8% do total de mata que existia na chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500 (a área de florestas ocupava 15% do território brasileiro, ou seja, 1.306.421 km²). 30

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A pesar de tais dados, levantamentos recentes divulgados pelo Governo Federal apontam um crescimento de 12% na área florestal do bioma. Isso porque a Mata Atlântica possui uma alta propriedade de regeneração. Outros dados, divulgados pela fundação SOS Mata Atlântica, mostram uma queda no desmatamento da floresta em oito estados brasileiros. No entanto, alguns estados, como Santa Catarina e Paraná, continuam com altos níveis de destruição.

Esse desmatamento e degradação mostram-se como grandes problemas, principalmente porque as 120 milhões de pessoas que vivem na região do bioma dependem da manutenção e dos serviços ambientais prestados por ele, sendo na proteção de nascentes e fontes que abastecem as cidades e comunidades do interior, na regulação do clima, da temperatura, da umidade e das chuvas, na fertilidade do solo ou na proteção das escarpas e encostas de morros de eventuais processos erosivos.


Mata Atlântica Florestal Independente da área reduzida, a Mata Atlântica continua na lista dos biomas mais ricos do mundo em diversidade de plantas e animais. Entre os vegetais, levando em consideração apenas o grupo das angiospermas, plantas que possuem sementes protegidas dentro dos frutos, acredita-se que a Mata Atlântica possua cerca de 20.000 espécies, ou seja, aproximadamente 35% das existentes em todo o Brasil. Desse total, cerca de 8 mil são endêmicas (exclusivas do bioma). Esses dados fazem com que a floresta seja a mais rica do mundo em árvores. Um exemplo da tamanha diversidade está no sul da Bahia. Em apenas um hectare de terra, foram encontradas 454 espécies distintas de árvores (Veja o quadro comemorativo ao Dia da Árvore). Entre as espécies de frutas exclusivas da Mata Atlântica, destaca-se a jabuticaba (Myrciaria trunciflora). Seu nome vem da palavra tupi iapoti-kaba, que significa “frutas em botão”. Outras frutas típicas do bioma são a goiaba, o araçá, a pitanga e o caju. Já entre as árvores, o destaque fica para a erva-mate. A partir de suas folhas é produzido o chimarrão, popular bebida da Região Sul do país. No entanto, da mesma maneira que há o lado positivo de se haver tantas plantas endêmicas no bioma, há também o lado negativo: grande parte das espécies está ameaçada de extinção. Entre os fatores que contribuem para o desaparecimento das plantas está o consumo exaustivo, como é o caso do paubrasil, espécie que deu origem ao nome do nosso país.

Árvore de Jaboticaba (Myrciaria trunciflora)

Outros fatores são as queimadas dos terrenos para a criação de gado, o desmatamento e o comércio ilegal. Este último é um dos principais causadores da destruição da vegetação, mesmo com leis que proíbem o plano de manejo. Espécies, como o palmito-juçara, as orquídeas e as bromélias, quase entraram em extinção por causa da exploração intensiva. Plantas medicinais também sofrem muito com o comércio ilegal, sendo retiradas sem quaisquer critérios e planos de reposição. Mata Atlântica Animal A Mata Atlântica possui uma grande diversidade de animais. Vivem no bioma aproximadamente 1,6 milhão de espécies de animais, incluindo os invertebrados. Grande parte dessas espécies é endêmica, ou seja, não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Ao todo, estão cata-

logadas 270 espécies de mamíferos (73 endêmicas), 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 de répteis e cerca de 350 espécies de peixes. O destaque entre os animais fica para o Mico-leão-dourado. Confira um pouco sobre esse animal no quadro. Extinção Animal Os anos passam e as espécies ameaçadas de extinção aumentam. Em 1989, a lista publicada pelo Ibama já trazia dados impressionantes, mostrando que 202 espécies de animais eram consideradas oficialmente ameaçadas no Brasil, sendo que 171 viviam nas florestas atlânticas. Em 2003, dados ainda piores foram liberados pelo Ministério do Meio Ambiente. O total de espécies ameaçadas no país subiu para 633, sendo que a maioria reside na região da Mata Atlântica.

Foto AMDL

Bicho Destaque: Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)

Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)

O mico-leão-dourado, endêmico da Mata Atlântica de Baixada Costeira do estado do Rio de Janeiro, é uma espécie de macaco que mede cerca de 60 cm, pesando entre 550 a 600 gramas. Encontrado sempre em grupos de 5 ou 6 indivíduos, o primata se alimenta de frutos silvestres, insetos, pequenos vertebrados e, eventualmente, de goma de algumas árvores. Com expectativa de vida média de oito anos, reproduzem-se de uma a duas vezes por ano, produzindo, normalmente, dois filhotes gêmeos. Assim como a maioria dos animais do bioma, o mico também está ameaçado de extinção. Este só não entrou para a história por causa de um programa instalado no Rio de Janeiro na tentativa da recuperação da população desses animais. Para se ter uma idéia, nos anos 70 existiam apenas 200 micos-leões-dourados na natureza. Hoje, o número de micos chega a mil.

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Especial - Biomas Brasileiros

Ribeirinhos sofrem com a falta de água na maior área contínua de Mata Atlântica do país, o Vale do Rio Ribeira de Iguape

Das 265 espécies de vertebrados ameaçados, 185 ocorrem nesse bioma (100 endêmicas). Das 160 aves da lista, 118 vivem na região atlântica (49 endêmicas). Das 69 espécies de mamíferos, 38 residem no bioma (25 endêmicas). Dos anfíbios da lista, todas as 16 espécies ameaçadas são exclusivas da Mata Atlântica. Exemplos de animais ameaçados são o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o muriqui, também conhecido como mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides). Os motivos para essa ameaça variam muito. Um dos principais é o tráfico de animais. O comercio ilegal no Brasil movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano. A cada 10 animais traficados, apenas um resiste às pressões da captura e cativeiro. Outro problema é a perda do habitat para outras espécies. Estes “estrangeiros” invadem regiões de onde não são nativos por terem perdido seu próprio 32

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Mesmo possuidora de tal patrimônio cultural, a Mata Atlântica também é muito excludente. Muitas vezes as comunidades ficam marginalizadas da sociedade. Isso ocorre por causa do processo de desenvolvimento desenfreado das redes urbanas, que acabam por deixar de lado essas populações e até, muitas vezes, acabam expulsando os moradores de seus territórios originais. Desmatamento e Degradação Muitos são os fatores que implicam na destruição da Mata Atlântica. Um deles é o avanço das cidades espontâneas, ou seja, aquelas que não são planejadas e acabam por crescer “desgovernadamente”. Esse tipo de crescimento não leva em conta os remanescentes florestais, o que faz com que o bioma seja destruído. Além disso, sem um prévio estudo da melhor maneira de expandirem-se, muitos desastres acabam por ocorrer, como deslizamentos e enchentes. Outro fator é o da construção de hidrelétricas, em especial em duas regiões: na da Bacia do Rio Uruguai, que fica na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, e na da Bacia do Rio Ribeira de Iguape, divisa de São Paulo com Paraná. Quando construídas, as hidrelétricas alagaram grande parte das áreas ao redor, acabando com a biodiversidade daqueles pontos. Um terceiro fator é a atividade mineradora. As regiões do sul de Santa Catarina e as áreas de Minas Gerais e Espírito Santo têm essa atividade ocupando um alto nú-

Mata Atlântica Social A Mata Atlântica abriga quase 65% de toda a população do Brasil, ou seja, cerca de 120 milhões de pessoas. Isso porque foi na área original do bioma que os primeiros aglomerados urbanos, pólos industriais e principais metrópoles foram formados. Além da população urbana, nela vivem diferentes tribos e culturas tradicionais, o que faz com que a área tenha uma das maiores diversidades culturais brasileiras. Entre os indígenas, destacam-se os Guarani. Já entre as culturas tradicionais não-indígenas, o destaque fica com os caiçaras, os quilombolas, os roceiros e os caboclos ribeirinhos.

21 de Setembro: Dia da Árvore No dia 21 de Setembro, comemoramos o Dia da Árvore. Formalizado há 30 anos no Brasil, esta data relembra os laços do nosso povo com a cultura indígena. Um desses laços é o amor e respeito pelas árvores. Dia 21 marca também a chegada da primavera no hemisfério sul. Uma das mais belas estações, a primavera data um novo ciclo para o meio ambiente, na qual recupera-se a vida na natureza, após os meses de silêncio do inverno.

Foto: Mauroguanandi

Foto:Wilson Dias/ABr

lar. Em outra situação, o próprio homem solta espécies não-nativas em locais inapropriados, prejudicando o desenvolvimento das espécies locais. Isso porque os animais de outras regiões multiplicam-se de maneira muito mais acelerada, já que não tem predadores e têm comida abundante. Um exemplo da soltura indevida aconteceu no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em São Paulo. Foram soltas pelo governo, em 1983, 8 cutias e 5 mico-estrelas. Essas espécies multiplicaram-se muito rápido, chegando a ter populações de 1.160 e 654 indivíduos, respectivamente. Como consequência, cerca de 100 espécies de aves, cujos ninhos são predados por esses animais, foram extintas na ilha.

Pau-brasil: espécie ameaçada de extinção


Fontes: Foto: Luizdemog

mero de hectares da floresta, o que significa que os montantes de impactos ambientais negativos também são grandes. Outra questão importante é o avanço das monoculturas de árvores exóticas e da própria agricultura feita sem planejamento, ordenamento ou controle dos governos estaduais. O desmatamento feito para o plantio de exóticas e de grãos é responsável pela maior parte da atividade destruidora dessas áreas.

- Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - Mundo de Sabores - www.mundodesabores.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br - Instituto Ambiental Nova Era www.diadaarvore.org.br

Curiosidades • A cobertura florestal da Mata Atlântica já ocupou quase 15% do território nacional. Hoje, apenas 8% da cobertura original está intacta. • Segundo as metas da Conservação da Biodiversidade, precisamos ter 10% de cada bioma preservado em unidades de conservação para que este não entre em extinção em poucos anos. No entanto, o índice da Mata Atlântica mal chega a 3%. • A Reserva Biológica de Uma, na região sul da Bahia, possui a maior diversidade de árvores do mundo: cerca de 450 espécies diferentes em apenas um hectare de mata. (Dados obtidos através de um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova Iorque, em 1993) • A Mata Atlântica abriga o primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. Criado em 14 de junho de 1937, entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, ele abriga 360 espécies de aves e 67 espécies de mamíferos. • A UNESCO reconheceu, no começo da década de 90, parte da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera. Com uma área total de 290 mil km², a Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao longo da costa brasileira. • Ao todo, existem quatro espécies de micos-leões, todas exclusivas do Brasil: o micoleão-dourado, residente da Mata Atlântica de Baixada Costeira do estado do Rio de Janeiro; o mico-leão-da-cara-dourada, que mora na região cacaueira do sul da Bahia; o mico-leão-preto, residente do Morro do Diabo, Pontal do Paranapanema (SP); e o mico-leão-da-cara-preta, encontrado na região do Lagamar (Paraná e São Paulo). Destaque para o último, que foi descoberto apenas em 1990.

Cachoeira da Mata Atlantica na Serra do Mar

Receita Típica da Mata Atlântica: Bolo de Pinhão Ingredientes: Massa • 1 xícara de chá de manteiga • 1 lata de leite condensado • 4 gemas • 1 pitada de sal • 1 xícara de chá de pinhão cozido, descascado e moído • 1 xícara de chá de farinha de trigo • 1 colher de sopa de fermento em pó • 4 claras em neve

3. Por último, misture delicadamente as claras em neve; 4. Coloque a massa em uma assadeira untada e leve ao forno; 5. Após 30 minutos, retire a assadeira do forno e deixe-a esfriar. Glacê 1. Em uma panela, coloque o açúcar, o suco de limão e 2 colheres (sopa) de água quente. 2. Leve ao fogo e mexa até obter uma mistura homogênea. 3. Por fim, desenforme o bolo e cubra com o glacê.

Glacê • 1 e 1/2 xícara de chá de açúcar de confeiteiro • 1 colher de sopa de suco de limão Preparo: Massa 1. Bata a manteiga e, aos poucos, coloque o leite condensado até obter um creme; 2. Sem parar de bater, junte as gemas, o sal, o pinhão, a farinha e o fermento;

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Special - Brazilan Biomes

A journey through the

Brazilian Biomes Threats to National Heritage

The Second most endangered biome on the planet; the Atlantic Forest has one of the richest biodiversities in the world

Foto: Luizdemog

Caio Martins

Atlantic Forest River in ‘Serra do Mar’

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he Atlantic Forest biome, the second most endangered in the world (only behind the forests of Madagascar), is a region of Brazil that spans 17 states and more than 3,000 municipalities. Considered a National Heritage by the Federal Constitution, it occupies approximately 102,000 km² of land. That represents only 8% of the forest that existed when the Portuguese first arrived in Brazil in the year1500 (the area of forests then occupied was 15% of Brazilian land, or 1,306,421 km²). 34

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Despite such data, recent surveys released by the Federal Government show a 12% growth in the forest area of the biome. That’s because the Atlantic has a high capacity of regeneration. Other information released by the foundation, the ‘SOS Mata Atlantica’, shows a drop in the forest clearing in eight Brazilian states. However, some states such as Santa Catarina and Paraná still present high levels of deforestation.

This deforestation and environmental degradation are publicized as major problems, largely because the 120 million people living in the area of the biome depend on the maintenance of their environmental services, on protecting the fountainheads and springs that supply the cities and inland communities, on the regulation of the climate, temperature, humidity, rainfall, on soil fertility, or on protecting the steep hillsides from potential erosive processes.


Atlantic Forest - Flora Regardless of its reduced area, the Atlantic Forest remains on the list of biome as one of the world’s richest diversity of plants and animals. Among the plants, taking into account only the group of angiosperms – plants that have seeds protected within the fruit – it is believed that the Atlantic forest has approximately 20,000 species – i.e.: nearly 35%, of the angiosperms that exist in Brazil. Of this total, about 8,000 are endemic (unique to the biome). These facts clarify that the forest is the world’s richest in trees. An example of such diversity is in southern Bahia. In just one hectare of land we found 454 different species of trees (See text box commemorating the Day of the Tree). Among the species of fruit trees unique to the Atlantic Forest are the ‘jaboticaba’ (Myrciaria trunciflora). Its name comes from the Tupi word iapoti-kaba, meaning “fruit buds.” Other fruit typical of the biome are guava, strawberry guava (Psidium Cattleyanum), mulberry and cashews. Among the trees is the prominent ‘erva-mate’ (Ilex paraguariensis). The “chimarrão” tea (Cimarrón) is made of ‘ervamate’ leaves and it is a popular beverage in southern Brazil. However, just as there is a positive side to having so many endemic plants in the biome, there is also a negative side. Most species are threatened with extinction. Among the factors contributing to the disappearance of plants is the entire utilization, as is the case of the ‘‘Brazil-wood’’ (Caesalpinia echinata; Pau-Brasil), the tree that gave rise to the name of our country. Other fac-

‘Jaboticaba’ Tree (Myrciaria trunciflora)

tors include the burning to provide grazing land for livestock, the deforestation, and illegal trade. The latter is a major cause flora destruction, even with laws that prohibit plant commercialization. Species such as the ‘juçara’ palm tree (Euterpe Edulis), orchids and bromeliads, almost became extinct because of intensive exploitation. Medicinal plants also suffer greatly from the illegal trade, and are removed without any criteria and replenishment plans. Atlantic Forest - Fauna The Atlantic Forest has a great diversity of animals. Approximately 1.6 million species of animals, including invertebrates, live in the biome. Most of these species are endemic, i.e.: they cannot be found anywhere else on the planet. Overall 270 species of mammals (73 endemic), 849 spe-

cies of birds, 370 species of amphibians, 200 reptiles, and 350 species of fish are catalogued. The highlight among the animals is the Golden Lion Tamarin (Leontopithecus Rosalia). Check out a little more about this animal in the text box below. Animal Extinction As the years pass, the threat of extinction to some species increases. In 1989, impressive data published by the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA), highlighted that 202 animal species were officially considered endangered in Brazil, with 171 living in the Atlantic Forest. In 2003, even worse data was released by the Ministry of the Environment. The total number of threatened species has increased to 633; most of these are in the Atlantic Forest region.

Feature Animal: Golden Lion Tamarin (Leontopithecus Rosalia)

Golden Lion Tamarin (Leontopithecus Rosalia)

The Golden Lion Tamarin, endemic to the Atlantic Forest on the Coast of Rio de Janeiro, is a species of monkey that measures about 60 cm, weighing between 550-600 grams. It is always found in groups of five or six individuals. The primate feeds on berries, insects, small vertebrates and possibly some gum trees. With average life expectancy of eight years, it breeds one to two times a year, producing usually two young twins. Like most animals of the biome, the monkey is also threatened with extinction, which did not occur thanks to a preservation program implemented in Rio de Janeiro in an attempt to recover the population of these animals. To give an idea of the gravity of the situation, in the 70’s there were only 200 Golden Lion Tamarins in the wild. Today, the number has grown to a thousand monkeys.

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Special - Brazilan Biomes

People living alongside the ‘Ribeira do Iguape’ River suffering from water shortage in the longest continuous area of Atlantic Forest in the country

Of the 265 threatened vertebrate species, 185 live in this biome (100 endemic). On the list of 160 birds, 118 live in the Atlantic region (49 endemic). Of the 69 species of mammals, 38 live in the biome (25 endemic). Of the list of amphibians, all 16 threatened species are unique to the Atlantic Forest. Examples of animals that are the most endangered are the giant anteater (Myrmecophaga Tridactyla) and the muriqui, also known as wooly spider monkey (Brachyteles Arachnoides). The reasons for the threat vary widely. One of them is the increase of animal trafficking. This emerging illegal trade in Brazil brings in about 10 billion dollars a year. Of every 10 trafficked animals, only one survives the pressures of capture and captivity. Another problem is loss of habitat to other species. These “foreigners” invade regions where they are not native because 36

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Atlantic Forest – Social The Atlantic Forest is home to almost 65% of the entire population of Brazil, or about 120 million people. This is because in the original area of the biome the first urban settlements, industrial areas, and major cities were formed. Besides the urban population, it has tribes with different cultures and traditions; this means that the area has one of the largest Brazilian cultural diversities. Among the indigenous tribes the Guarani stand out. Among the non-indigenous traditional cultures, emphasis lies on the coastal dwellers, the runaway slave descendants, the planters and riverside settlers.

Despite having such cultural heritage, the Atlantic Forest is still taken for granted. Communities are often marginalized in society. This happens because of the process of unrestrained development of urban networks, which ultimately sets aside these populations, end up forcing them to leave their original territories. Deforestation and Degradation There are many factors that cause the destruction of the Atlantic Forest. One is the spontaneous growth of cities; i.e.: those that are unplanned and ultimately grow “ungoverned”. This kind of growth does not take into account the amount of remaining forest that makes up the biome and is destroyed. Moreover, without a prior study about the best way to expand, eventually too many disasters occur, such as landslides and floods. Another factor is the construction of hydroelectric power stations, especially in two regions: the Uruguay River Basin, which is on the border of Santa Catarina and Rio Grande do Sul, and the Ribeira River basin of Iguape, on the border of São Paulo and Paraná. When built, the hydroelectric power stations flooded a great part of the surrounding areas, putting an end to the biodiversity of these places. A third factor is the mining activity. Mining in the areas of the south of Santa Catarina, Minas Gerais, and Espírito Santo encompasses a high number of hectares of forest, which means that the negative environmental impact is vast.

September 21st – The Day of the Tree (Dia da Árvore) On September 21st the Day of the Tree is celebrated. It was formalized thirty years ago in Brazil; this day reminds people of our ties with the indigenous culture. One of these bonds is the love and respect for trees. The 21st day also marks the arrival of spring in the southern hemisphere that is one of the most beautiful seasons. Spring time is beginning of a new cycle for the environment, which restores the life back into nature, after months of the still of winter.

Foto: Mauroguanandi

Foto:Wilson Dias/ABr

they have lost their own homes. Another situation is man himself letting loose nonnative species in inappropriate areas, damaging the development of the local species. This is because animals from other regions are proliferating much more rapidly, since they have no natural predators and there is an abundance of food. An example of the improper release took place at the Anchieta Island State Park, São Paulo. Eight agoutis and five star monkeys were released by the government in May 1983.These species multiplied very fast and the populations increased to 1,160 and 654 individuals respectively. As a result, about 100 species of birds, whose nests are predated by these animals, became extinct on the island.

Brazil-wood: species threatened with extinction


Fontes: - Social and Environmental Almanac Brazil - ISA 2008 - “Mundo dos Sabores (World of Flavors) - www.mundode-sabores.com.br - WWF Brazil - www.wwf.org.br - New Age Environmental Institute www.diadaarvore.org.br

Foto: Luizdemog

Another important issue is the advance of monocultures of exotic trees and agriculture itself carried out without planning or control of state governments. Deforestation made for the planting of exotic plants and grains is responsible for most of the destructive activity of these areas.

Interesting Facts • The Atlantic forest covered nearly 15% of the country. Today, only 8% of the original forest is still intact. • According to the goals of Biodiversity Preservation, we must preserve 10% of each biome in order to prevent them from becoming endangered in a few years. However, only 3% of the Atlantic forest remains intact. • A Biological Reserve in southern Bahia has the greatest diversity of trees in the world. There are approximately 450 different species in one hectare of forest. (This data was obtained from a study conducted by technicians from the New York Botanical Garden in 1993) • The Atlantic Forest is home to the first Brazilian national park. The Itatiaia National Park was created on June 14th 1937, between the states of Rio de Janeiro and Minas Gerais. It is home to 360 species of birds and 67 species of mammals. • In the early 90’s, UNESCO declared part of the Atlantic Forest a global Biosphere Reserve with a total area of 290,000 km². The Reserve extends for about 5000 km along the Brazilian coast. • There is a total of four species of Lion Tamarins that are unique to Brazil: The Golden Lion Tamarin lives in the Atlantic Coastal in the state of Rio de Janeiro. The Goldenfaced Lion Tamarin lives in the cocoa region of southern Bahia, the Black Lion Tamarin is a resident of ‘Morro do Diabo’, Pontal (SP), and the Black-face Lion Tamarin can be found in the region of Lagamar (Paraná and São Paulo ). Interestingly the latter was only discovered in 1990.

‘Serra do Mar’ Atlantic Forest waterfall

A typical recipe from the Atlantic Forest: Pine Nut Cake Ingredients: Cake Mixture: • 1 cup butter • 1 can sweetened condensed milk • 4 egg yolks • 1 pinch salt • 1 cup of pine nuts cooked, peeled and crushed • 1 cup flour • 1 tablespoon baking powder • 4 egg whites Icing: • 1 and 1/2 cup of powdered sugar • 1 tablespoon lemon juice

3. Finally, gently mix in the egg whites. 4. Place the mixture in a greased baking tin and bake. 5. After 30 minutes, remove the tin from the oven and allow to cool. Icing 1. In a saucepan, place sugar, lemon juice and 2 soup spoons of hot water. 2. Gently heat and stir until smooth. 3. Finally, remove the cake from the tin and cover with icing.

Preparation: Cake Mixture 1. Beat the butter and gradually add the condensed milk until creamy. 2. Continue beating and add the egg yolks, salt, pine nuts, flour and baking powder.

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros Os mistérios do Pampa

Apesar de possuir uma paisagem marcante, o bioma esconde diversos cenários e ecossistemas pouco explorados Caio Martins Foto: Isaias Mattos

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Pampa, conhecido também como Campos do Sul ou Campos Sulinos, estende-se por grandes áreas de três países da América do Sul (Argentina, Uruguai e Brasil), ocupando quase 700 mil km² dos territórios dessas regiões. No Brasil, o bioma ocupa quase 180 mil km² de área, estando presente, em sua maior parte, nas regiões sul e sudeste do Rio Grande do Sul (dois terços do estado).

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Apesar de possuir uma paisagem marcante, com predomínio de gramíneas, o bioma esconde inúmeros outros cenários e ecossistemas, modificados, em sua maioria, por causa do vento, fator vital na configuração da paisagem e que dá um caráter único à região. Mesmo com tais paisagens exclusivas, as áreas naturais protegidas no país são as menores de todos os biomas. Ele

possui a menor representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), com apenas 0,36% de seu território transformados em áreas de conservação. Grande problema! Isso porque o Pampa tem duas das mais importantes funções na preservação da biodiversidade mundial: atenuar os efeito estufa e ajudar no controle da erosão.


Pampa Florestal No bioma, que antes de ser estudado a fundo chegou a ser classificado como um “vazio ecológico”, já foi identificada a presença de mais de 3000 espécies de plantas, sendo que aproximadamente 400 delas são gramíneas. A pesar de possuir uma paisagem marcante (planícies cobertas de gramíneas, plantas rasteiras e algumas árvores e arbustos encontrados próximos a cursos d’água), a grande variedade vegetal torna seu cenário bastante diversificado. Conheça três dessas paisagens:

Foto: Francisco Renato Galvani

1. Parque do Espinilho: Localizado exclusivamente no sudeste do Rio Grande do Sul, é marcado por uma vegetação espinhosa e seca (daí o nome). Os últimos remanescente significativos desse tipo de formação estão no Município de Barra do Quarai, numa área de cerca de 1.618 hectares, dentro do Parque Estadual do Espinilho (Decreto nº 41.440, de 28 de fevereiro de 2002). Duas espécies bem características e que determinam o aspecto curioso desde parque são o algarrobo (Prosopis algarobilla) e o nhanduvaí (Acácia farnesiana). 2. Banhados: Diferente das peculiaridades do Parque do Espinilho, os banhados possuem as características marcantes do Pampa, com predomínio de gramíneas. Em sua grande maioria, as regiões com essa cobertura vegetal foram drenadas para uso agrícola, através do Programa Pró-Várzea, do Governo Federal, na década de 1970. Dentre as áreas de destaque, a mais

Vista aérea do Parque Estadual do Espinilho - Barra de Quaraí - RS

conhecida está localizada no sul do estado, chamado de Banhado do Taim (protegida por um parque de mesmo nome). Outra área relevante é a dos municípios de Itaqui e Maçambará, na fronteira com a Argentina. Lá ocorre o banhado de São Donato, reconhecido como reserva ecológica na década de 1970, mas que até hoje ainda não foi efetivado. Atualmente, possui uma extensão de 4.392 hectares, que está praticamente cercada pela agricultura, principalmente a de arroz. 3. Cerros e serras: Localizado, predominantemente, no sudoeste do RS, os cerros e serras são um mistério para os estudiosos, já que surgem, aparentemente, do nada (pequenos e baixos morros aparecem em uma área totalmente plana, sem pedras evidentes,

Divulgação

sem florestas, sem cavidades). Sua característica principal é uma aparência de arenito conglutinado. Pampa Animal Apesar de não ter tido sua fauna muito estudada, os Campos Sulinos abrigam pelo menos 102 espécies de mamíferos (cinco delas endêmicas), 476 espécies de aves (duas endêmicas) e 50 espécies de peixes (12 endêmicas). Dentre elas, 24 espécies de aves e as cinco espécies exclusivas de mamíferos estão ameaçadas de extinção. Uma das principais causas do declínio no número de espécies da região é a expansão da monocultura de árvores exóticas. Ela foi responsável pela destruição de pelo menos 26 espécies da fauna dos Campos do Sul, além de ser o agente de cerca de 10% das ameaças de extinção.

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Gato montês (Felis silvestris)

Puma (Felis concolor)

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Especial - Biomas Brasileiros

Foto: Ronai Rocha

chegar a medir até 2,40 metros de comprimento e alcançar 100 quilos. Vive solitário e costuma caçar no final do dia. Tem expectativa de vida média de 15 anos. 4. Caminheiro-grande (Anthus nattereri): é uma das aves dos Pampas mais ameaçadas de extinção. Pode chegar a medir 15 cm de comprimento. Alimenta-se, basicamente, de insetos. Entre suas peculiaridades está seu canto complexo durante vôos altos, em que a pequena espécie sobe quase 25 metros verticalmente, deixando-se cair, depois, rapidamente. 5. Caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster): é um pássaro que pode chegar a medir até 10 cm de comprimento. Tem um canto suave e agradável, com diversas notas. Alimenta-se de gramíneas e sementes.

Nos limites entre Rosário do Sul, Alegrete e Santana do Livramento há uma região de cerros, chamada Serra do Caverá, onde, entre outras maravilhas geológicas e históricas, encontram-se pequenos cerros como esse

Mesmo com números preocupantes, o Brasil é o único país, dentre os que compõem o bioma, que a existência desses animais ainda não está totalmente comprometida. Conheça alguns dos animais que fazem parte da fauna do Pampa: 1. Gato montês (Felis silvestris): é um tipo de felino carnívoro, que habita preferencialmente bosques fechados. É um animal noturno, que durante o dia refugia-se em buracos de árvores, fendas nas rochas ou tocas abandonadas de outros animais. 2. Gato do mato (Leopardus tigrinus): é um felino originário da América do Sul e da América Central. Embora semelhante a uma jaguatirica, este gato distinguese pelo pequeno tamanho (medem cerca de 50 centímetros, sendo considerado o menor dos felinos silvestres brasileiros) e pelas manchas em sua pelagem. Alimenta-se de ratos, pássaros e insetos. 3. Puma (Felis concolor): é o segundo mais pesado felino carnívoro da América, ficando atrás apenas da onça-pintada. Pode 40

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Pampa Social: Problema e Solução Os Campos do Sul estão localizados na metade mais podre do Rio Grande do Sul. Apesar dos grandes latifúndios, a região não conseguiu desenvolver-se economicamente. Visando minimizar os problemas socioeconômicos, os governantes vêm, há vários anos, criando programas que buscam levar o “progresso” para a região. No entanto, alguns programas acabam por degradar o bioma. Um dos exemplos é o projeto do governo de implantação de monoculturas de árvores para a região. Como a metade sul do estado é uma grande planície, o plantio extensivo de árvores altera o regime de ventos e de evaporação da região, causando impactos significativos no clima, nos recursos hídricos e na cultura. Por outro lado, o programa de desenvolvimento das fazendas de criação de gado é uma

das alternativas para a manutenção do Pampa. Como a região é constituída basicamente de grandes fazendas de criação, a implementação de técnicas mais avançadas de manejo acabam por ajudar na proteção das terras. Aliados à grande produtividade, à manutenção da biodiversidade do campo nativo e aos ganhos financeiros significativos para o produtor rural, esse programa é um dos mais eficazes aplicados até hoje no Rio Grande do Sul. Degradação do Pampa Alguns são os fatores que contribuem para a degradação desse bioma. Um deles é a expansão descontrolada do plantio de monoculturas, como arroz, milho, trigo e soja. Devido à riqueza do solo, algumas áreas cultivadas do Sul cresceram rapidamente sem um sistema adequado de preparo, resultando em erosão e, até, na desertificação de algumas partes da região. Outro fator, considerado um dos mais ameaçadores à sobrevivência dos Campos Sulinos, é a exploração indiscriminada de madeira. Algumas árvores de grande porte foram derrubadas e queimadas para dar lugar ao cultivo de milho, trigo e videira, principalmente. Um dos exemplos dessa exploração descontrolada fica por conta da mata das araucárias ou pinheiros-do-paraná. Antes, essas árvores estendiam-se por cerca de 100 mil km² de matas de pinhais. No entanto, por mais de 100 anos, os pinheiros alimentaram a indústria madeireira do sul, fazendo com que hoje restem apenas 2% da cobertura original da mata das araucárias. Os pequenos vestígios da formação original dessa vegetação que restam estão confinados em áreas de conservação do estado. Um terceiro problema é a ampliação da área de plantio de soja e a cultura da ma-

Foto: Eduardo Amorim

São Francisco de Paula (RS) - Imagem típica do Pampa : relevo baixo e seco


mona para elaboração de biocombustível. Estas duas práticas são consideradas as mais recentes ameaças à região e vem rapidamente destruindo os solos do bioma. Constante e antiga ameaça dos Campos do Sul é a mineração e a queima de carvão mineral. Os impactos locais, regionais e globais são muitos, variando entre a acidificação da água, a alteração da paisagem, o deslocamento de populações assentadas, o aumento de incidência e frequência de doenças pulmonares, as chuvas ácidas e emissão de gases de efeito estufa.

Divulgação

Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - Defesa da Vida Gaúcha www.defesabiogaucha.org - Mundo de Sabores www.mundodesabores.com.br - Pampas Online www.pampasonline.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br

Curiosidades • Filmes e mini-séries já foram gravados nas regiões dos Pampas. Entre os filmes, o destaque fica para “Intrusa”, de Carlos Hugo Christensen, ganhador de quatro Kikitos no 8º festival de Cinema de Gramado. O longa mostra como vivia o gaúcho no século XVIII. Já entre as mini-séries, os destaques ficam para “O Tempo e o Vento” e “A Casa das Sete Mulheres”, da Rede Globo, que também mostram um pouco da história do Pampa e muito de sua paisagem. • Os campos sulinos foram palco da Guerra do Paraguai, entre os anos de 1864 e 1870. Desta guerra participaram Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. • A região coberta pelos campos sulinos apresenta clima subtropical, com temperaturas amenas e chuvas regulares, sem grande alteração durante o ano. • A vegetação herbácea dos pampas varia entre 10 e 50 cm de altura. • No Pampa vive o Gato dos Pampas (Felis Colocolo). Este curioso felino pode medir até 85 cm, sendo que 25 cm são só de calda.

Imagem de satélite da Lagoa dos Patos. localizada no município de São Lourenço do Sul. Ele é a maior laguna do Brasil e a segunda maior da América Latina.

Receita Típica do Pampa: Arroz Carreteiro Ingredientes: Massa • 200g de Charque* • 4 colheres (sopa) de óleo • 5 dentes de alho picados • 1 cebola grande picada • 4 tomates picados • 3 pimentões picados • 1 colher de sopa de cheio verde • 350g de arroz • Sal a gosto

6. Em seguida, junte o arroz, um pouco de água fervente e deixe cozinhar por 15 a 20 minutos; 7. Adicione sal, se necessário; 8. Por fim, salpique o cheiro-verde para dar gosto * O charque é uma carne salgada que se tornou o principal produto da economia do Rio Grande do Sul no século XIX. Difere-se carne-desol e da carne-seca no modo de preparo (não fica exposta ao sol) e na quantidade de sal que utiliza na produção (usa-se muito mais sal para produzir o charque, por causa da umidade da região).

Preparo: Massa 1. Coloque água em uma panela e leve ao fogo até que ela ferva; 2. Adicione o charque e deixe por meia hora; 3. Retire do fogo, escorra a água e corte a carne em pedaços pequenos; 4. Em outra panela, aqueça o óleo, junte o alho, a cebola, o tomate e o pimentão; 5. Deixe cozinhar por cerca de 8 minutos, mexendo de vez em quando;

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros

As verdades por trás do Cerrado Visto como um tipo de vegetação pobre e como uma fronteira, o bioma abriga uma das maiores biodiversidades brasileiras Caio Martins

Edison Luís Zanatto

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cerrado, segunda maior formação vegetal brasileira, estende-se por uma área de aproximadamente 2 milhões de km², abrangendo 12 estados brasileiros: Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Pará e Rondônia, além do Distrito Federal e de aparecer em manchas em Roraima e no Amapá. O bioma detém um terço da biodiversidade brasileira, 5% da fauna e flora mundiais (es-

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tima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam na região) e é o nascedouro das águas que formam as bacias hidrográficas Amazônica, do Rio São Francisco e do Paraná/Paraguai. Além disso, sob o solo de vários estados do Cerrado, está o Aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo. Seu clima é típico das regiões tropicais, com duas estações climáticas bem definidas: uma seca, entre abril e setembro,

e outra chuvosa, entre outubro e março. O solo, característico de savanas tropicais, é deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, fazendo assim com que sua paisagem abrigue plantas com aparência seca, pequenas arvores de troncos retorcidos e curvados, além de folhas grossas e esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores de porte médio, chamadas de Cerradões.


Cerrado Florestal Apesar de ainda pouco conhecida, a flora do cerrado é uma das mais ricas do mundo. Estima-se que existam 10 mil espécies de plantas, sendo 3.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e 7.000 do herbáceo-subarbustivo. Em termos de riqueza de espécies, este bioma é superado apenas pelas floras da floresta Amazônica e da Mata Atlântica. Entre as plantas, destacam-se as famílias das Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), das Gramíneas (Poaceae) e das Compostas (Asteraceae). Uma das características do bioma é a heterogeneidade de sua distribuição, havendo espécies endêmicas em cada região do Cerrado. Cerrado Animal Seguindo a linha de sua vegetação, a fauna do bioma é pouco conhecida. Mesmo assim, ela apresenta números impressionantes. Existem cerca de, no mínimo, 161 espécies de mamíferos, 837 espécies de aves (4º lugar em diversidade no mundo), 150 espécies de anfíbios (8º lugar em diversidade no mundo), 120 espécies de répteis, além de uma grande concentração de invertebrados, na qual predomina o grupo dos Insetos. Entre os vertebrados, o destaque fica para os animais de maior porte, como a jibóia, a cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, o urubu-comum, o urubu-caçador, o uruburei, as araras, os tucanos, os papagaios, os gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o veado campeiro, o cateto, a anta, o cachorro-domato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, a onça-parda e a onça-pintada. Conheça as características de alguns deles:

João Antonio de Lima Esteves

O ipê-amarelo, árvore típicas do cerrado brasileiro

1. Sucuri verde (Eunectes murinus): chamada também de Anaconda, vive em áreas alagadas do Cerrado. É a maior e mais conhecida sucuri brasileira, tendo a fama de ser uma cobra enorme e perigosa. 2. Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla): é um animal que não tem dentes e que, portanto, utiliza sua língua longa e pegajosa para facilitar a captura de alimentos. Tem em seu cardápio formigas, cupins e larvas de besouros, chegando a comer cerca de 30.000 insetos por dia. É um animal solitário, que se aproxima de outros da mesma espécie somente na hora do acasalamento e da amamentação. 3. Veado Campeiro (Ozotoceros bezoarticus): é um veado campestre que mede cerca de 1 metro de comprimento. Tem a pelagem dorsal marrom, com barriga, contorno da boca e círcu-

Malene Thyssen

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)

lo ao redor dos olhos brancos. Possui uma galhada com três pontas e cerca de 30 cm de altura. 4. Urubu-rei (Sarcoramphus papa): é uma ave de rapina da família Cathartidae, que tem sua caça proibida no Brasil, pois é considerada uma ave importante na limpeza do meio ambiente. 5. Lobo-guará: (Chrysocyon brachyurus): é o maior mamífero canídeo nativo da América do Sul. A sua distribuição geográfica estende-se pelo sul do Brasil, Paraguai, Peru e Bolívia, estando extinto no Uruguai e na Argentina. É considerado espécie ameaçada de extinção no Brasil. Cerrado Social O aparecimento de pessoas na região data de pelo menos 12 mil anos. Grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais começaram a povoação no bioma. No entanto, o aumento no nú-

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Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)

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Especial - Biomas Brasileiros

João Antonio de Lima Esteves

Formações de arenito do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães vistas do mirante da “Cidade de Pedra”

mero de habitantes foi lento. Há cerca de 40 anos é que esse panorama mudou. Um grande número de pessoas começou a migrar para a região por causa das novas políticas econômicas instaladas nas décadas de 60 e 70. Atualmente, vivem no bioma cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros, principalmente por causa do desenvolvimento desigual dentro do bioma, segundo Análises realizadas pelo Laboratório de Processamento de Imagens da Universidade Federal de Goiás. Apesar dos dados negativos em relação ao desemprego, à falta de habitação e à poluição, algumas das áreas onde a agricultura comercial conseguiu se desenvolver mais intensamente apresentaram avanços significativos em termos de desenvolvimento humano, com diminuição dos índices de pobreza e aumentos impor-

tantes do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Por outro lado, algumas áreas de ocupação mais recente mostram uma tendência ao acentuamento na concentração de renda na mão de poucos. Cerrado Econômico Na economia, o destaque fica para a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir, principalmente, a partir de 1960. Naquela época, o Cerrado sofreu uma forte expansão da fronteira agropecuária, estimuladas por políticas de crédito nacionais e internacionais voltadas para exploração de grãos e de carnes. Em 1970, novas políticas de desenvolvimento, o surgimento de novas tecnologias e investimentos em infraestrutura ajudaram na geração de uma nova dinâmica econômica, que resultou na abertura e ocupação de grandes áreas

de Cerrado através da expansão da agricultura comercial. Ainda por causa das novas tecnologias, as produções de grãos começaram a aumentar. Um exemplo é a soja. A região Centro-Oeste aumentou em quase 900% sua produção, chegando, hoje, a produzir 50% da soja do todo e Brasil e 13% da soja de todo o planeta. Outros exemplos de produção do Cerrado são: o milho (20% da produção nacional), o arroz (15% da produção nacional) e o feijão (11% da produção nacional). Na pecuária, o Centro-Oeste detém mais de um terço de todo rebanho bovino nacional e cerca de 20% dos suínos. Por outro lado, a expansão da fronteira agropecuária e a evolução tecnológica de agricultura no Cerrado fizeram com que a absorção de mão-de-obra ficasse cada vez menor. Em 1985, por exemplo, as áreas mais evoluídas tecnologicamente da agricultura geravam praticamente quatro vezes menos emprego que as áreas ainda não incorporadas à economia de mercado. Sem atividades no campo, a população começou a migrar para as cidades, que também não conseguiram receber e empregar todo o contingente de migrantes. Hoje, as áreas de agricultura comercial consolidada no Cerrado ainda são aquelas onde há menor disponibilidade de empregos por área utilizada. Problemas biológicos A vasta riqueza biológica que o Cerrado possui acaba trazendo problemas para seu ecossistema. Inclusive, ele é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. A caça e o comércio ilegal de animais é um deles, o que acaba fazendo com que grande parte dos animais entre em extinção.

João Antonio de Lima Esteves

Imagens: NASA.

Estrada no Cerrado

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Mapa da ecoregião do Cerrado Os limites da ecorregião mostrados em amarelo


Outro problema é a atividade garimpeira na região. Ela acaba contaminando os rios com mercúrio e contribui para seu assoreamento, além de favorecer o desgaste dos solos. Solo que também sofre com outro problema: a erosão. O manejo pouco cuidadoso do mesmo tem ocasionado perdas expressivas desse precioso recurso natural. Segundo estimativas do WWF, para cada quilo de grãos produzido no Cerrado, perdem-se de 6 a 10 quilos de solo por erosão. O meio aquático também é afetado pela agricultura. Há um grande consumo de água para irrigação, o que, na maioria das vezes, acaba gerando um desperdício excessivo desse bem. O resultado disso é o número crescente de conflitos pela água entre agricultores, e entre uso agrícola e uso urbano da água em muitos estados. Desmatamento e Degradação O Cerrado, assim como todos os biomas brasileiros, sofre com a destruição de sua paisagem. Avaliações recentes apontaram uma perda entre 38,8% (segundo dados da Embrapa Cerrado) e 57% (segundo dados Conservação Nacional) na cobertura vegetal nativa da região. A diferença nos dados apresentados está diretamente ligada a grande dificuldade de se mapear os diferentes ecossistemas do bioma, principalmente na diferenciação de pastagens naturais e pastagens plantadas. Outro dado, também da Conservação Internacional, apontou que a taxa de desmatamento no bioma, até o ano de 2004, era de 2,6 hectares por minuto, ou seja, 111 mil hectares por mês. Parte

da culpa dessa destruição está ligada ao efeito do desenvolvimento das agriculturas em larga escala. A abertura de estradas durante o mesmo desenvolvimento também resultou no desmatamento de boa parte do bioma. Uma contradição disso tudo é que, mesmo com esses números alarmantes, o Cerrado é um dos biomas mais desamparados e esquecidos em termos de proteções legais. Até 2003, menos de 2% de sua área encontrava-se protegida em unidades de conservação de uso sustentável. Além dis-

so, o Cerrado não é considerado Patrimônio Nacional na Constituição Federal, diferentemente da Amazônia, da Mata Atlântica, da Zona Costeira e do Pantanal. Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - Mundo de Sabores: www.mundodesabores.com.br - Portal Brasil: www.portalbrasil.net - WWF Brasil – www.wwf.org.br

Curiosidades • A ocupação do Cerrado iniciou-se no século XVIII com a mineração, que se desenvolveu num rápido ciclo de exploração intensiva. • O Cerrado é uma região com algumas peculiaridades: conta apenas com duas estações climáticas bem marcadas (seca e chuvosa) e tem uma rica biodiversidade associada a uma aparência árida, decorrente dos solos pobres e ácidos. • Somando-se as áreas da Espanha, França, Alemanha, Itália e Inglaterra, chegamos ao espaço ocupado pelo Cerrado. • Por não ser considerado “Patrimônio Nacional” pela Constituição Federal, diferentemente da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira, a tarefa de conservar o Cerrado é ainda mais difícil e debilitada. • As árvores do Cerrado são responsáveis por cerca de 80% do carvão vegetal consumido no Brasil. • O Cerrado possui um grau de endemismo (exclusividade) altíssimo e é uma das regiões de maior diversidade do planeta, mesmo sendo um bioma pouco conhecido e estudado. • Das 837 espécies de aves registradas no Cerrado, 759 se reproduzem na região e o restante são aves migratórias. • O Cerrado é uma das regiões do Brasil com o maior número de insetos. Apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, 1000 espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas. • O Cerrado abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul: Platina, Amazônica e São Francisco, sendo assim considerado o “berço das águas”,

Receita Típica do Cerrado: Frango com Pequi* Ingredientes: • 1 frango caipira picado e sem pele • 12 caroços de Pequi • 1 cebola média picada • 4 dentes de alho amassados com sal • 1 colher de sopa de óleo • 1 litro de água • Salsa, cebolinha e pimenta-de-cheiro

Observação: Só se come a camada amarela e macia que envolve o caroço do pequi. A parte interna da fruta é cheia de espinhos e, se morder com força, pode acabar machucando a boca. *O pequi (Caryocar brasiliense) é uma árvore nativa do cerrado brasileiro, cujo fruto é muito utilizado na cozinha do nordeste, do centro-oeste e do norte de Minas Gerais.

Preparo: 1. Ponha óleo na panela; 2. Assim que o óleo esquentar, coloque a cebola para dourar; 3. Depois disso, acrescente o alho com o sal e o frango; 4. Deixe refogar bem e acrescente o Pequi; 5. Adicione a água aos poucos; 6. Quando a água estiver toda na panela, acrescente a pimenta e o cheiro verde, e deixe cozinhar por mais ou menos 30 minutos; 7. Se necessário, adicione mais água; 8. Quando o frango estiver bem cozido, está pronto para servir.

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros As diversas faces do semi-árido nordestino Conheça as características da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro Caio Martins

Foto: Valdir Picheli

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Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, é a região do Brasil que ocupa 9,92% do território nacional. Seu nome, de origem tupi-guarani, significa floresta branca, referência ao retrato de sua vegetação que perde as folhas durante a seca para reduzir a perda de água, adquirindo um tom branco-acinzentado em seu tronco. Distribuída em 844 mil km², ou seja, 60% do nordeste brasileiro, engloba os estados do Ceará (100%), Rio Grande do Norte (95%), Paraíba (92%), Pernambuco (83%), Piauí (63%), Bahia (54%), Alagoas (48%), Sergipe (49%), Minas Gerais (2%) e Maranhão (1%), segundo o Mapa de Biomas do Brasil, lançado em 2004, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. 46

Neo Mondo - Maio 2010

Sua paisagem reflete seu clima quente, com temperaturas elevadas durante a maior parte do ano, chuvas escassas e irregulares, longos períodos de secas, precipitação anual média variando entre 400 e 650 mm e solos rasos e pedregosos. Seus rios são, na maioria, sazonais. As únicas exceções são os rios Parnaíba e São Francisco.

Caatinga Florestal Segundo o livro “Ecologia e Conservação da Caatinga”, existem 12 tipos diferentes de “caatingas”, que variam desde florestas altas e secas, com árvores de até 20 metros de altura, até afloramentos rochosos com arbustos baixos e esparsos, e com cactos e bromélias saindo das fendas do solo. Há ainda o “mediterrâneo” sertanejo, que abriga brejos florestais, várzeas e serras, sendo essa uma área mais úmida e de clima mais ameno.

Ao todo, são 932 espécies de plantas na região, sendo 318 exclusivas da área. Por causa do clima semi-árido, elas precisaram se adaptar para sobreviver, resultando em plantas tortuosas, de folhas pequenas e finas ou até reduzidas a espinhos, com cascas grossas e sistema de raízes e órgãos específicos para o armazenamento de água. Exemplos de vegetação típica da Caatinga são os cactos, como o mandacaru ( Cereus jamacaru ) e o xique-xique (Pilosocereus gounellei), as barrigudas ( Cavanillesia arbórea ), o pau-mocó ( Luetzelburgia auriculata ) e o umbuzeiro (Spondias tuberosa), famoso por possuir múltiplos usos: das folhas, saem saladas; do fruto, polpa para sucos, licor e doces; e da raiz, farinha comestível, ou vermífugo.


Caatinga Animal A Caatinga possui uma grande diversidade animal em seu bioma. Existem 510 espécies de aves, 240 de peixes (136 endêmicas), 154 de répteis e anfíbios (57 endêmicas), e 144 de mamíferos (10 endêmicas). Destaque para os peixes que, mesmo com o predomínio de rios temporários e da contaminação dos cursos de água, ainda conseguem sobreviver nesse ambiente. Para isso, vivem em rios sazonais como estratégia de reprodução: depositam os ovos residentes que só eclodem em épocas de chuva. Entre os mamíferos nativos da região, há o predomínio das espécies de morcegos e roedores: 64 e 34, respectivamente. Já entre répteis e anfíbios, os destaques ficam para as serpentes, lagartos e anfisbenídeos, conhecidos como cobra-cegas. Estes são considerados animais característicos do semi-árido da Caatinga, sendo, a maioria, endêmica do Médio do Rio São Francisco. Isso porque, após a alteração de seu curso, devido às mudanças climáticas no fim do Período Pleistoceno (entre 1,8 milhão e 11 mil anos atrás), esses animais ficaram separados em grupos nas margens do rio, estimulando a formação de novas espécies e, consequentemente, de espécimes exclusivos. Por outro lado, de acordo com a lista nacional das espécies de fauna brasileira ameaçada de extinção, publicada em maio de 2003, pelo Ibama, vivem no bioma 28 espécies ameaçadas de extinção. Conheça alguns dos animais ameaçados: • Tatu-bola (Tolypeutes trinctus): considerado o menor tatu brasileiro, medindo de 22 a 27 centímetros, esse animal enrola seu corpo e fica parecido com uma bola quando se sente ameaçado.

Foto: Valdir Picheli

Mandacaru e Rio São Francisco ao pôr do sol

• Mocó (Kerodon rupestris): rato que chega a medir 40 centímetros. Está ameaçado de extinção pelo fato de figurar entre as espécies da caça de subsistência praticada pelo sertanejo para acabar com a fome. • Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii): a pequena ave está praticamente extinta na natureza, vítima do tráfico de animais silvestres. É uma das muitas espécies que durante a seca se refugiavam em brejos de altitude, beira de rios, entre outros locais mais úmidos. • Arribaçã (Zenaida auriculata noronha): é uma espécie de pomba que migra de acordo com a frutificação da flora no sertão nordestino. Está ameaçada de extinção por ser presa fácil para os caçadores, já que faz ninhos no chão. • Galo-da-campina (Paroaria dominicana): é considerado um dos mais bo-

nitos pássaros brasileiros. Alimentase, principalmente, de sementes. Por possuir um belíssimo canto, é muito perseguido pelos comerciantes de animais da região.

Caatinga Social A Caatinga abriga as maiores desigualdades sociais do Brasil. Sua população de cerca de 28 milhões de pessoas figura entre as mais pobres do Nordeste, recebendo, em média, menos de um salário mínimo por mês. Além disso, a região possui os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), os mais elevados percentuais de população empobrecida, as maiores taxas de mortalidade, cerca de 100 mil por mil, e elevadas taxas de analfabetismo para maiores de 15 anos (entre 40% e 60%). Esses dados refletem o processo de ocupação da Caatinga, que concentrou terra e poder no domínio de poucos.

Foto: Luis Neto

Divulgação

Tatu-bola (Tolypeutes trinctus)

Galo-da-campina (Paroaria dominicana)

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Especial - Biomas Brasileiros

Foto: Anderson Carvalho

grar para as grandes cidades da região ou para outras regiões, o que geraria um caos nas metrópoles, que não teriam condições de abrigar tantas pessoas, agravando ainda mais os problemas sociais e urbanos.

Medicina da Caatinga

Barragem em plena caatinga do nordeste brasileiro. Observa-se o contraste da coloração da vegetação, seco ao fundo e verde próximo a barragem

Degradação da Caatinga A Caatinga, como todos os biomas brasileiros, também está sofrendo um processo de degradação acelerado. Uma das principais causas é o desmatamento, feito em especial para a produção de lenha, utilizada como fonte de energia em residências, olarias e siderúrgicas. Outros dois fatores de degradação são a pecuária extensiva, com o consumo e destruição da vegetação pelos animais, e a agricultura de irrigação, que avança ao longo do Rio São Francisco em municípios como Juazeiro e Petrolina. Tal modelo de cultivo compromete os lençóis freáticos, salinizando e contaminando o solo com agrotóxicos. A desertificação, processo de degradação ambiental que ocorre nas regiões com clima seco, também é responsável pela destruição do bioma. Esta atinge 181 mil km² do semiárido brasileiro, sendo que 15 mil km² já estão em situação de extrema gravidade.

Mudanças Climáticas na Região As mudanças climáticas vêm afetando todo o mundo. Com o aumento da temperatura, que nos próximos anos pode subir até 3°C, a Caatinga poderá dar lugar a uma vegetação típica dos desertos, com predominância de cactáceas. Isso porque o bioma possui um alto potencial para a evaporação e, combinado com o aumento da temperatura, causaria diminuição da água de lagos, açudes e reservatórios. Ambientalmente, o Nordeste ficaria a mercê de chuvas torrenciais, que resultariam em enchentes e, consequentemente, em grandes impactos ambientais. Além disso, a frequência de dias secos consecutivos e de ondas de calor aumentaria. Socialmente, as mudanças climáticas também trariam problemas. A falta de água e as altas temperaturas tornariam a produção agrícola de subsistência inviável. Com isso, populações inteiras começariam a miFoto: Valdir Picheli

Angico, usado na medicina como adstringente

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A medicina na Caatinga é baseada no uso de plantas. O utilização de folhas, raízes e cascas, entre as quais as da catingueira (antidiarréica), do jerico (diurético) e do angico (adstringente), é muito difundida entre a população que habita a região, sendo estes itens obrigatórios das tradicionais feiras e mercados locais. Com base nas plantas medicinais, o projeto “Farmácias Vivas” foi criado pela Universidade Federal do Ceará em 1985. Ele visa transferir para pequenas comunidades governamentais o conhecimento científico sobre plantas medicinais da região e seu uso medicamentoso correto. Dessa maneira, a parte menos abastada da população nordestina poderia empregar tais ervas no tratamento de doenças. O projeto já selecionou e comprovou cientificamente a eficácia de mais de 60 espécies de plantas medicinais do Nordeste.

Parque Nacional Serra da Capivara O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do Estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. Cobrindo uma área de 130 mil hectares e tendo um perímetro de 214 km, ele é o único Parque Nacional situado no domínio da Caatinga. Criado por diversos motivos, que variam desde a preservação de seu meio ambiente específico até fatores culturais e turísticos, o parque tornou-se Patrimônio Natural da Humanidade em 2002, 11 anos após o pedido da UNESCO para tal feito. Foto: Robsson Rodriguess

Parque Nacional Serra da Capivara


Possuidora de um grande patrimônio cultural, a unidade de preservação tem uma das mais largas quantidades de sítios arqueológicos do mundo. Atualmente, cerca de 912 sítios estão cadastrados pela FUMDHAM (Fundação do Homem Americano), sendo que 657 apresentam pinturas e gravuras rupestres. Isto indica que o homem já habitava aquela região há 100 mil anos atrás. Além da parte cultural, o Parque Nacional Serra da Capivara possui uma riqueza vegetal exclusiva de tal área, resultante de duas grandes formações geológicas: a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco. A região é uma das últimas do semi-árido possuidora de importantes diversidades biológicas, com paisagens que variam entre serras, vales e planícies. Todas as belezas dessa unidade de conservação dão ao parque uma importante função no turismo, sendo esta uma alternativa de desenvolvimento para a área. Porém, o parque já sofreu com a degradação. Depois de criado, a região ficou abandonada durante dez anos por falta de recursos federais. Durante este período, a Unidade de Conservação foi considerada “terra de ninguém”. Por tal fato, ela sofreu com a depredação e destruição da flora, principalmente através de caminhões vindos do sul do país que desmatavam e levavam, de maneira descontrolada, as espécies nobres, próprias da Caatinga. Também, a caça comercial se transformou numa prática popular com consequências horríveis para as populações

animais. As espécies começaram a diminuir em uma velocidade impressionante e algumas delas, como os veados, emas e tamanduás, praticamente desapareceram.

Museu do semi-árido Criado em 15 de maio de 2007, o Museu Interativo do Semi-Árido (MISA) nasceu a partir de uma iniciativa da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) de fomentar a importância da Região Semi-Árida para o país. Através da Exposição “Viver e Compreender”, o museu é elemento primordial para a transmissão dos traços fundamentais do semi-árido, exibindo as principais nuan-

ces e faces que compõem esse importante ponto estratégico do Brasil. Na exposição, localizada em um salão de mais de 200m² no Campus Campina Grande da UFCG, belos painéis explicativos, peças em barro, madeira, roupas de couro, cancioneiro popular, utensílios domésticos e de trabalho do homem do campo remetem os visitantes aos ambientes nativos da Caatinga. Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental 2008 – ISA (Instituto Socioambiental) - WWF - http://www.wwf.org.br

Curiosidades • Existem cerca de 327 espécies de animais endêmicas, ou seja, exclusivas na Caatinga. • Na vegetação, os números são parecidos: cerca de 323 espécies de plantas são endêmicas. • Uma área bem conservada de Caatinga pode abrigar cerca de 200 espécies de formigas, enquanto uma mais degradada não suporta mais do que 40. • As ações do homem na Caatinga já destruíram metade da paisagem da região, sendo que quase 20% do bioma já estão com alto grau de degradação, ou seja, com risco de desertificação. • A Caatinga abriga a ave com maior risco de extinção no Brasil, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Apenas um único macho dessa espécie foi encontrado na natureza. Também nesse bioma vive a segunda ave mais ameaçada do país, a arara-azul-delear (Anodorhynchus leari), que habita os arredores de Canudos (BA). • Na estação seca das regiões da Caatinga, a temperatura do solo pode chegar a 60ºC. • As vegetações do bioma se adaptaram ao ambiente que vivem de forma estratégica: a perda das folhas das plantas reduz a superfície de evaporação quando falta água.

Receita Típica da Caatinga: Baião de Dois Ingredientes: • 1/2 kg de feijão verde, ou feijão de corda (feijão verde já seco) • 200 g de toucinho defumado • 1 paio (cortado em rodelas) • 2 tabletes de caldo de bacon • 1 cebola grande picada ou ralada • 1 dente de alho amassado • 1 pimenta de cheiro amarela • 4 colheres (sopa) de óleo • Salsinha ou coentro picado, de 1 colher (sopa) à 1 xícara • 2 e 1/2 xícaras (chá) de arroz • 150g de queijo de coalho (cortado em fatias finas)

Junte o coentro e o arroz na panela e refogue bem; Acrescente o feijão e o paio já cozidos, juntamente com o caldo e misture bem os ingredientes; Tampe a panela e deixe cozinhar até que o arroz fique cozido, úmido e com consistência cremosa; Durante o cozimento do arroz, se necessário, adicione água, tomando o cuidado para não deixar a mistura ficar seca; Junte a salsinha e mexa com cuidado; Cubra o arroz com as fatias de queijo, tampe a panela novamente e deixe que o vapor derreta o queijo. Quando o queijo estiver derretido, sirva o prato com carne-de-sol frita.

Preparo: Lave o feijão e deixe-o de molho na véspera do preparo; No dia seguinte, cozinhe-o juntamente com o paio e o caldo de bacon, dissolvido em dois litros e meio de água fria; Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 1 hora; Em outra panela, coloque o óleo e deixe a cebola e o alho dourando;

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros Por baixo das cheias do Pantanal

Considerado como a maior planície alagável do mundo, o bioma tem a importante função de corredor biogeográfico entre as duas maiores bacias da América do Sul Caio Martins

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Pantanal, maior planície alagável do mundo, se estende por diversos países da América Latina, entre eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando uma área total de 210 mil km². Com a maior parte no território nacional (cerca de 70%), o bioma está presente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Considerado como um elo de ligação entre as duas maiores bacias da América do Sul (do Prata e da Amazônia), a região pantaneira tem a importante função de corredor biogeográfico, permitindo assim a dis50

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persão e a troca de espécies de fauna e flora entre os lugares. Por esse e por outros motivos, grande parte do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica do Prata) é considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, além de estar presente na Constituição Brasileira como Patrimônio Nacional. Mesmo não possuindo um número muito grande de espécies endêmicas (exclusivas), o bioma tem qualidades de uma “ecorregião”, ou seja, possui características específicas por englobar diversos outros biomas, como o Cerrado (leste, norte e sul), o Chaco (sudoeste),

a Amazônia (norte), a Mata Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste). Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheia e seca, faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito grande de espécies. Em relação ao clima, a região possui temperaturas quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em torno de 1000 e 1400 milímetros.


Pantanal Florestal O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca de 1650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os campos pantaneiros são, predominantemente, cobertos por gramíneas e vegetações típicas do cerrado. Já nos pontos mais altos, como picos de morros, há o predomínio da flora típica da caatinga, com barrigudas, gravatás e mandacarus, além da ocorrência da vitória-régia, planta típica da Amazônia. Nas partes alagadas, as vegetações flutuantes, como aguapé e a salvinia, são predominantes. Essas, quando carregadas pelos rios, formam ilhas verdes, chamadas de camalotes. Outra flora existente é a de mata densa e sombria, normalmente encontradas em volta das margens mais elevadas dos rios. Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o Carandá (Copernicia australis), planta da família das arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio. Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria madeireira para construção de postes para linhas telefônicas e elétricas. Pantanal Animal Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira também é muito grande, sendo, inclusive, considerada umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1800), 1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do bioma:

Felipe Trindade

Tuiuiú (Jabiru mycteria)

Jenny Mackness

Aguapés no Pantanal

1. Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade, dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos vertebrados. 2. Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto, e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar 8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.

3. Cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos. Maior veado da América do Sul, o cervo-doPantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não sirva para comer, o cervo-do-Pantanal é caçado por causa do seu couro e galhada. 4. Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. Seu nome derivase de sua habilidade de colher, através do seu bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.

Divulgação

Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus)

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Cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus)

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Especial - Biomas Brasileiros

Jenny Mackness

Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare)

Pantanal Social e Econômico Com uma população aproximada de 1,1 milhão de pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes, como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como Cuiabá (MT). Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa população, destacase a pesca, que tem ligação direta com o turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo de estimulo econômico é o maior gerador de renda dos residentes da região, dividido em três categorias: pesca de subsistência, que é fonte de alimento das populações ribeirinhas; pesca profissional, que tem a função de gerar renda aos pescadores, principalmente, na venda de espécies nobres, como pintado, dourado e pacu; e pesca esportiva, maior atrativo turístico do Pantanal, o qual recebe, em média, 450 mil pescadores de fora por ano. Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva, ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de cabeças 52

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na área pantaneira) dependem do período de cheia e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento das partes baixas, os animais tem que ser levados aos locais mais altos para se alimentar e procriar. Uma terceira atividade econômica é a mineração e siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas tem uma importante função no crescimento não só da economia regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres. Degradação do Pantanal Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal também sofre com problemas ambientais de degradação.

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5. Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois a três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos. Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é sua temperatura corporal, que varia entre 25 a 30 graus.

Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado a uma grande fonte de renda da região e do País como um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de forma impressionante. As queimadas são outro problema da região pantaneira. Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes, atingem a própria população, que fica contaminada pela fumaça, lotando os postos de saúde com problemas pulmonares, e também os pássaros, que acabam se afastando, também por causa da fumaça. Um terceiro problema é a exploração incessante de algumas espécies de animais e de plantas nativas do bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso, há o comercio ilegal de madeira, que destrói e acaba com as árvores do território. O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça e a venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam com esses animais, o que influencia diretamente na cadeia alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática. Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente da pecuária no planalto, que faz com que diversos sedimentos rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água. O sexto problema está ligado às atividades mineradoras, que acabam contaminando os lençóis freáticos.

Fazenda típica do Pantanal no Mato Grosso do Sul


Curiosidades • Considerada a maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos. • O Tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas. • Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do pantanal. • As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas. • O Pantanal brasileiro possui 144.294 km² de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram no Mato Grosso do Sul e 38,1% no Mato Grosso. • O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores. • Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. • A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que vivem na região. • O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. • O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai ande bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal. • A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira. • Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).

Bonito - Mato Grosso do Sul

Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - São Lucas do Pantanal www.saolucasdopantanal.com.br - Terra - http://360graus.terra.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br

Receita Típica do Pantanal: Furrundum Ingredientes: • 2 cidras médias (cerca de 1 kg) • 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas ou 3 xícaras de açúcar mascavo • 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado • 1 coco grande ralado fino

6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando, mexendo sempre, por mais alguns minutos; 7. Tire do fogo e deixe esfriar; 8. Retire pequenas porções da massa e modele formando bolinhas; 9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa.

Preparo: 1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso sem atingir a polpa; 2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela com água fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo; 3. Escorra e esprema bem; 4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte a rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo; Acrescente gengibre e leve ao fogo brando; 5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo da panela começar a aparecer;

Rendimento: cerca de 30 doces.

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O centro virou periferia Uma viagem para o Pantanal, paraíso ameaçado

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ou uma mulher da cidade. Nasci em Viena, que é o centro cultural, político e econômico da Áustria e que era, até uns 100 anos atrás, a capital de um grande império, a da Áustria-Hungria. Não posso me imaginar morando numa cidade provincial ou no campo. Às vezes, porém, me apaixono por uma região periférica que é carente em infraestrutura e pouco habitada, mas dotada de uma beleza irresistível. Já aconteceu no Alasca, na Patagônia chilena e nas ilhas Lofoten na Noruega. No Brasil, uma das regiões julgadas periféricas é o Pantanal. O Pantanal faz parte de uma grande planície com partes localizadas nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, na parte ocidental da Bolívia e no Paraguai. Em 1981 uma grande parte da região pantaneira foi transformada em Parque Nacional. Do ponto de vista geográfico, o Pantanal fica no centro mesmo da América do Sul. Um lugar a alguns quilômetros ao norte da região pantaneira foi identificado como centro geodésico do continente sul-americano. Nesse lugar uma placa informa que estamos num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico. Esse ‘centro’, porém, é pouco habitado: a densidade demográfica do Mato Grosso é de apenas 2,6 habitantes

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por km2 e a capital, Cuiabá é, com 482.500 habitantes, uma das menores capitais estaduais do Brasil. É uma cidade com pequeno centro colonial, mas cercada de prédios modernos e altos, o que dá um pouco de ar de metrópole a ela. Em geral, porém, Cuiabá não tem muito a oferecer aos turistas que normalmente só passam pela cidade no caminho para o Pantanal. A nossa viagem para o Pantanal Norte também começou em Cuiabá. Foi lá que encontramos o guia, Pedro Paulo, que iria nos levar de carro para o interior do Parque Nacional. A intenção era viajar pela Transpantaneira até a Pousada Rio Claro. A Transpantaneira foi construída entre 1972 e 1977 durante a ditadura militar. Na época existiam planos de construir uma estrada que ligasse Poconé (perto de Cuiabá) a Corumbá (um trecho de 397 quilômetros). Mandaram milhares de soldados para realizar o projeto. Falta de dinheiro e protestos de ecologistas fizeram com que o projeto nunca fosse terminado. Resta uma estrada sem saída, sem asfalto, de 149 quilômetros. O Volkswagen do Pedro Paulo balançava bastante na Transpantaneira que estava em estado ruim. Fora da van se estendia um vasto terreno verde. Não tinha lojas, propagandas ou postos de gasolina. Entramos

em terra desconhecida. O nosso guia Pedro Paulo, no entanto, parecia se sentir a vontade. Era óbvio que para ele não se tratava de terra desconhecida: o Pantanal é o seu centro do mundo. Segurando bem a direção, ele estava ao mesmo tempo olhando para o campo e mostrando animais da seguinte forma: jacaré-Kaiman-caiman, capivara-Wasserschweincapybara, martim-pescador-Eisvogel-kingfisher. Era como se tivesse apreendido de cor o nome dos animais em três línguas. O entusiasmo dele pegou. Descobrimos dois tuiuius que são o símbolo do Pantanal. Só a alguns metros da Transpantaneira vimos lontras na água, comendo peixe. Perto delas, inúmeros jacarés meio escondidos no capim alto. E sobretudo pássaros, de todas as cores e tamanhos do mundo. Nos lembramos de um trecho num guia turístico onde o autor chama o Pantanal de ‘jardim zoológico gigante’. Dizem que o Pantanal tem a fauna e a flora mais diversas da América do Sul: foram identificadas mais de 260 espécies de peixe, 656 espécies de pássaro e 50 espécies de réptil. Depois de 42 quilômetros na Transpantaneira viramos à esquerda e seguimos numa pequena estrada que nos levou à Pousada Rio Claro. De novembro até março só se pode chegar na Pousada de barco. O Pan-


Ulrike Vogl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

no coração da América do Sul tanal é cercado de planaltos e na época das chuvas, quase toda a água dos planaltos se reúne na planície do Pantanal e faz com que grandes partes de terra sejam inundadas. A Pousada estava lotada de turistas: da Holanda, da Bélgica, da Inglaterra, da Alemanha e da Polônia; mas nenhum do Brasil. Ao perguntarmos por que haviam poucos turistas brasileiros no Pantanal, nos disseram que ‘brasileiros preferem praia’. Acrescentaram que ‘se não tivesse tido a novela Pantanal nos anos 90, ainda menos brasileiros teriam visitado a região’. Por um lado compreendo bem que os brasileiros em geral prefiram passar as férias no litoral. Sendo de um país sem acesso ao mar, sempre sonhava em visitá-lo quando era criança. Até hoje tenho saudades do mar e gosto muito de passear na orla. Por outro lado, sei por experiência própria que férias no ‘interior’ podem também ser muito divertidas. Quando era pequena, sempre passava as férias na Áustria que só tem ‘interior’, não tem litoral. Ia para as montanhas com a minha família, nadava em lagos e aproveitava bastante. Essa situação me fez pensar que talvez exista uma diferença profunda entre a Europa e os outros continentes no que se refere à relação entre centro, periferia, inte-

rior e litoral. Na Europa, regiões periféricas podem ser situadas tanto longe quanto no litoral mesmo. Aqui não se liga automaticamente periferia (política, econômica e cultural) com interior e litoral com a idéia de centro (político, econômico e cultural) como é comum no Brasil. Ao contrário, na história da Europa, países localizados no centro do continente viram nisso um sinal de poder. Por exemplo, uma linha do hino nacional da minha terra, da Áustria, diz: ‘fervorosamente disputada, furiosamente desejada, está no meio do continente, igual a um coração poderoso’. Essa metáfora que compara o centro geográfico a um coração poderoso é menos corrente no caso do Brasil. Sem dúvida isso tem a ver com a história da colonização e, em específico, com a direção da colonização. Os colonizadores se aproximaram pelo mar e se instalaram no litoral. Na historiografia brasileira, a colonização do interior é descrita como empreitada dura e perigosa que perseguia um objetivo principal: descobrir metais preciosos. Em busca de ouro os bandeirantes descobriram e exploraram o interior, fundando colônias no caminho. Ouro Preto é o exemplo mais conhecido. Um outro exemplo é Cuiabá, pois a cidade foi fundada em 1719

nas margens do Rio Cuiabá quando bandeirantes encontraram ouro na região. Os bandeirantes são descritos como heróis que superaram o clima desagradável e sobreviveram a doenças tropicais e conflitos com a população indígena. Talvez seja essa imagem do interior como um lugar desconhecido e hostil que ainda impede a maioria dos brasileiros de escolher o interior como destino de viagens de lazer. Porém, é mais do que a imagem do bandeirante em ambiente hostil que sobreviveu até hoje. A tradição da exploração do interior também continua. Hoje em dia, grandes partes do interior estão sendo exploradas por causa das suas riquezas naturais. Fora do Parque Nacional do Pantanal a savana foi desmatada para dar lugar a criações de gado e plantações de soja onde, pesticidas contaminam os rios da região. Ao voltarmos para Cuiabá, entre Poconé e Santana do Livramento, descobrimos o que pareciam ser colinas. Porém, o nosso guia explicou que eram áreas que foram degradadas para dar lugar ao garimpo. O solo devastado nos fez lembrar que de fato, a mineração de ouro ainda não terminou. Até hoje garimpeiros usam mercúrio para extrair ouro da terra. O mercúrio contamina o solo e a água o que representa uma ameaça à saúde dos habitantes do Pantanal. O centro geográfico do continente, longe de ser aceito como ‘coração’ do país, é um paraíso em perigo. Continuamos a nossa viagem em direção à costa baiana. No final das contas, sou como os brasileiros: gosto de praia. Passamos o resto das férias na Praia do Forte, sonhando com a beleza do Pantanal e refletindo porque, no Brasil, o centro virou periferia. Professora e Pós-doutoranda na Freie Universität (FU) em Berlim Doutora em Filologia Holandesa e Mestre em Lingüística Aplicada (Universidade de Viena, Áustria) E-mail: uvogl@zedat.fu-berlin.de

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From the Center to the Outskirts

A Voyage to the Threatened Paradise of the ‘Pantanal’

I

am a city girl. I was born in Vienna, the cultural, political, and economic center of Austria. Just one hundred years ago, the city was also the capital of the great Austrian-Hungarian Empire. I can’t imagine myself living in a rural city or in the hinterlands. But, at times, I just fall in love with remote and scarcely-inhabited regions, deprived of infrastructure, yet endowed with an irresistible beauty. It already happened in Alaska, the Chilean Patagonia, and with Norway’s Lofoten Islands. Brazil’s ‘Pantanal’ is considered to be one of its most remote regions in the world. The ‘Pantanal’ is an area of vast plains that spreads throughout the States of Mato Grosso and Mato Grosso do Sul, east of Bolivia and Paraguay. In 1981 a considerable area of the ‘Pantanal’ region was transformed into a National Park. From a geographic point of view, the ‘Pantanal’ is located in the heart of South America. A few kilometers north of the ‘Pantanal’, the region was identified as a geodesic center of the South American continent. In this place, there is a plaque informing visitors that they are exactly at an equal distance between the Atlantic and Pacific oceans. Yet this “center” is scarcely inhabited: the demographic density of Mato Grosso is 2.6 inhabitants/km2, and its capital, Cuiabá, is home to a population of 482,500 thousand – one of the smallest 56

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state capitals in Brazil. The city cherishes a small, historic, colonial downtown, surrounded by tall and modern buildings, giving it a somewhat metropolitan feeling. However, Cuiabá has little to offer to the tourists, who usually go through the city on their way to the ‘Pantanal’. Our trip to the Northern ‘Pantanal’ region also began in Cuiabá, where we met Pedro Paulo, our local guide that would take us by car deep into the heart of the National Park. Our intention was to take the ‘Transpantaneira’ route, arriving at the ‘Rio Claro’ Bed & Breakfast. The ‘Transpantaneira’ Highway was built between 1972 and 1977, during the military dictatorship. During that time, the idea was to connect Paconé (close to Cuiabá) to Corumbá (at a distance of 397 kilometers). They sent thousands of soldiers to build the highway, but due to lack of funding and protests from ecologists, the project was never completed. What is left of the project is a dead-end dirt road that stretches for 149 kilometers. On the rough roads of the ‘Transpantaneira’, Pedro Paulo’s Volkswagen wobbled quite a bit. Through our windows we saw the vast green plains stretching as far as the eye could see. Meanwhile, our guide, Pedro Paulo, seemed to be completely at ease. It was obvious that he knew these lands: the ‘Pantanal’ is his center of the world. While keeping the van steady, he was observing

the grassy fields and pointing out some of its natice species: the ‘Kaiman-caiman’, the ‘Wasserschwein Capibara’, and the ‘Martim Pescador’ (Eisvogel-kingfisher). It seemed like he’d just memorized the names of the animals in three different languages. His enthusiasm was contagious. On our way, we saw two ‘tuiuiú’ birds (red-necked tuim - Jabiru mycteria), which are the symbol of the ‘Pantanal’. Just a few meters to the side of the ‘Transpantaneira’ we saw otters in the water feeding on fish, and numerous crocks, hidden in the tall grasses. And above all, we saw birds of all species, colors and sizes. We remembered a passage in a tourist guide where the author refers to the ‘Pantanal’ as an “immense zoo”. They say that the ‘Pantanal’ has the richest and most diverse fauna and flora in Southern America: 260 fish species, 656 bird species, and 50 reptile species were identified in the region. After traveling 42 kilometers on the ‘Transpantaneira’ we turned left onto a small side road that took us to the ‘Rio Claro’ B&B. From November to March, the B&B is accessible only by boat. The ‘Pantanal’ is surrounded by highlands, and during the rainy season, all the water from the plateau rushes down to the Pantanal’s lowlands flooding a large part of the territory. The B&B was swarming with tourists: from Holland, Belgium, England, Germany,


Ulrike Vogl

Special Correspondent from Berlin, Germany

in the Heart of South America and Poland. Yet, we didn’t meet any Brazilian tourists. When we asked about the presence of nationals in the ‘Pantanal’, they told us that “Brazilians prefer the beaches”. They added that if the ‘Pantanal’ would have not been chosen to stage a ‘Novela’ (soap opera), in the 90’s, the region had even less Brazilian tourists. On the one hand, I understand why Brazilians prefer to spend their vacations on the coastline. Being from a landlocked country myself, I dreamed since my childhood, of visiting Brazil’s beaches. Until today I miss the sea and I just simply love walking on the waterfront. But on the other hand, and I say this based on my own experience, I know how wonderful vacations can be in the hinterlands. When I was a child, I always spent my Austrian vacations in the ‘hinterlands’ – after all, we don’t have a coastline. I used to go hiking in the mountains with my family and swimming in the lakes. It was a lot of fun. This situation made me think about perhaps one of the greatest differences between Europe and other continents, that is, the relation between the center and the outskirts - the inlands and the coast. In Europe, peripheral regions can be remote and/or can be found on the coastline. Where I am from, we don’t make this automatic link between the periphery (political, economic and cul-

tural) and the hinterlands and we don’t associate the coast with the idea of a center (political, economic, and cultural). This linkage is commonly made in Brazil. To the contrary, throughout Europe’s history, countries that are located in the center of the continent see this as a signal of power. For example, one of the phrases in the national anthem of my homeland, references Austria as being “feverously disputed, furiously desired, in the center of the continent, just like a powerful heart”. The metaphor that compares the geographic center to a powerful heart is less prevalent in Brazil’s case. Without a doubt this has to do with the country’s colonial history, and specifically, with the direction taken by the process of colonization. The settlers came to this land by sea and they settled on the coastline. In Brazilian history, colonization of the hinterlands is often described as an arduous and dangerous task thrusted by a single objective: discovering precious metals. In search of gold, the ‘Bandeirantes’ discovered and exploited the hinterlands, settling new colonies along their path. Ouro Preto is the most famous example known in Brazil. Another example is Cuiabá. The city was founded in 1719 by the banks of the Cuiabá River, when the ‘Bandeirantes’ found gold in its vicinities. The ‘Bandeirantes’ are described as heroes that overcame the treacherous climate, surviving tropical diseases and conflicts with the indigenous population.

Perhaps, the imagery of the hinterlands as a somewhat unexplored and hostile territory is something that still prevents most Brazilians from choosing the inlands as a destination for their vacation and leisure. However, it’s more than just the image of the ‘Bandeirantes’ in a hostile territory that still prevails today. The tradition of exploration of the inlands continues on an ongoing basis. Today, large parts of the hinterlands are being exploited due to their natural resources. Outside the Pantanal’s National Park, the savanna has been completely deforested, giving way to cattle and soy plantations where pesticide use contaminates the region’s waterways. On our way back to Cuiabá, between Poconé and S. do Livramento, we discovered what initially seemed like a series of hills. Yet our guide explained to us that those were degraded areas resulting from the panning process for gold and other precious metals. The devastated soil reminded us that, in fact, gold mining did not end. Until today gold washers use mercury to extract gold from the ground. Mercury contaminates the soil and the water, representing a great health risk to the inhabitants of the ‘Pantanal’. The geographic center of the continent, far from being accepted as the “heart” of the country, is a piece of paradise that is under threat. We continued our trip towards the Bahia coast. At the end of the day, I felt just like a Brazilian: I loved being on the beach. We spent the rest of our vacation at ‘Praia do Forte’, dreaming of the beauty of the ‘Pantanal’ and reflecting on why in Brazil, the center, turned into suburbs.

Professor post-Doctoring at Freie Universitat (FU) in Berlin Doctor in Dutch Philosophy And Master in Applied Linguistics (University of Viena, Austria) E-mail: uvogl@zedat.fu-berlin.de Neo Mondo - May 2010

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Especial - Biomas Brasileiros

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros A superpopulada Zona Costeira

Abrangendo diferentes ecossistemas, o bioma abriga 70% da população nacional Caio Martins

Praia de Copacabana, Rio de Janeiro

A

Zona Costeira, bioma que possui 41% da área emersa do Brasil, é a região que ocupa cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados do país. Estendendo-se por mais de 8.500 quilômetros do litoral, o bioma abriga 70% da população brasileira. Por ter em seu território um grande conjunto de ecossistemas, é uma das áreas de maior diversidade nacional.

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Divisão da Zona Costeira A Zona Costeira brasileira possui uma grande variedade de ecossistemas, todos de grande relevância ambiental. Estão presentes dunas, manguezais, costões rochosos, recifes de corais, entre outros. Por serem diferentes, todos os ambientes abrigam espécies únicas de animais e plantas, devido às diferenças climáticas e ao relevo. É na zona litorânea que está

localizado o que restou da Mata Atlântica, uma das maiores biodiversidades do planeta. Além disso, existem os manguezais, áreas de grande importância para a reprodução biótica marinha. Cada um desses ecossistemas é importante à sua maneira e tem significantes reservas de recursos naturais. No entanto, a ocupação desordenada, que será explicada mais para frente, está colocando em risco


Ilhas: Divisão Especial Assim como a Zona Costeira é dividida em diversos ecossistemas, há também uma divisão de ilhas. Ao todo, são três

Wanderson Oliveira

a biodiversidade litorânea. Conheça melhor as divisões da costa brasileira: 1. Litoral Amazônico: começa na foz do rio Oiapoque e vai até o delta do rio Parnaíba. Os manguezais são predominantes na região, assim como as matas de várzeas de maré, praias e campos de dunas. Por conta desses ecossistemas, o litoral amazônico apresenta uma grande diversidade de crustáceos, peixes e aves. 2. Litoral Nordestino: começa na foz do Parnaíba e continua até o Recôncavo Baiano. Suas maiores características são as dunas que se movimentam com o vento e os recifes calcíferos e areníticos. É nesta área do Nordeste que se encontram o peixe-boi e as tartarugas marinhas, ambos ameaçados de extinção. 3. Litoral Sudeste: vai do Recôncavo Baiano até São Paulo e é a área com a maior densidade demográfica do país. Com a costa muito recortada, é tomada pela Serra do Mar. Entre as características mais marcantes do litoral sudeste estão as praias de areias monazíticas (mineral marrom escuro), os recifes e as falésias. As espécies que habitam essa parte do litoral são a preguiça-de-coleira e o mico-leãodourado, animais em extinção. 4. Litoral Sul: começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Por possuir áreas predominantemente de mangues, é mais comum a aparição de aves. Outras espécies frequentes são as lontras, capivaras e ratões-do-banhado.

Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas, que pertence ao estado do Rio Grande do Norte

tipos, sendo que a maioria delas nasceu a partir da imersão de partes de terra da costa brasileira. Por tal motivo, são consideradas prolongamentos do litoral do país. São elas: 1. Serra do Mar: conjunto de ilhas que aparecem como pedaços emersos de porções que ficam abaixo das águas da Serra do Mar. São centenas delas, que são encontradas ao longo do litoral. 2. Litoral Paulista: são porções de ilhas que se encontram no litoral de São Paulo. São considerados pedaços de terras sedimentares de baixa altitude, denominadas como prolongamento do estado. Exemplo: Ilha Comprida, que é um longo segmento de território isolado pelo mar. 3. Ilhas oceânicas: São ilhas resultantes de fenômenos naturais, como o vulcanismo submerso no fundo atlântico. Neste caso, são conside-

radas totalmente desvinculadas do relevo continental brasileiro. Exemplos: Fernando de Noronha e Atol das Rocas. Fauna Marinha O bioma abriga também uma enorme variedade de animais marinhos, divididos em zonas. Em especial, detalharemos três delas: 1. Zona médiolitoral: é a zona com maior consistência marítima, sendo, portanto, possuidora da maior variedade de espécimes aquáticas. Entre os animais característicos estão a craca (Chtamalus stellatus), um tipo de crustáceo, a lapa ( Patella piperata), um tipo de molusco, diversas algas cianófitas, diferentes espécies de pequenos poliquetas, crustáceos e outros gastrópodes, além de peixes, como o caboz ( Coryphoblennius galerita).

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Craca (Chtamalus stellatus)

Divulgação

Caboz (Coryphoblennius galerita)

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Especial - Biomas Brasileiros

Raia (Raja clavata)

2. Zona infralitoral: também é muito variada. No entanto, diferencia-se da zona médiolitoral por estar permanentemente debaixo da água. É a área normalmente explorada pelos mergulhadores. Por estar em locais profundos, recebe pouca luz, observando-se, então, a presença de algas fotófilas, enguias-de-jardim (Heteroconger longissimus), raias (Raja clavata), além de invertebrados, como poliquetas, crustáceos decápodes e moluscos. 3. Zona circlitoral: área marinha coberta por diversos tipos de algas, possuindo, assim, um substrato rico em nutrientes, que facilita o desenvolvimento de pequenos invertebrados. Exemplos de animais são o pargo (Pagrus pagrus), peixe com dorso prateado, e o encharéu (Pseudocaranx dentex), outro tipo de peixe, caracterizado pelas barbatanas amareladas. Superpopulação destrutiva A Zona Costeira possui uma das maiores densidades demográficas do Brasil. Em média, vivem 87 habitantes por quilômetro quadrado, ou seja, cinco vezes mais que a média nacional (17 hab./km²). Como hoje metade da população brasileira vive em regiões que ficam distantes em uma faixa de até 200 quilômetros do mar, ou seja, quase 100 milhões de pessoas, a área acaba sofrendo com a destruição causada pela superpopulação. 60

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Isso impacta diretamente nos ecossistemas litorâneos, principalmente porque a urbanização em torno destas regiões cresce desordenadamente, com carência em serviços básicos. Tal fato acarreta contaminação das águas e, consequentemente, degradação do meio marinho. Além disso, a superpopulação trouxe para a Zona Costeira brasileira atividades agrícolas e industriais. Com ela, a poluição, a especulação imobiliária sem planejamento e ainda o grande fluxo de turistas que, cada vez mais, ameaça a integridade ecológica da costa nacional pressionada pelo crescimento dos grandes centros urbanos. A ”invasão” da área litorânea também causa problemas.

A devastação das vegetações nativas pelos ocupantes leva a movimentação das dunas e até a desabamentos de morros, deformando a paisagem local. Os animais, os vegetais e até mesmo o “filtro” natural, que limpa as impurezas lançadas nas águas, são postos em perigo devido ao aterro dos manguezais. Alguns mangues estão estrategicamente situados entre a terra e o mar para formar um estuário para a reprodução de peixes, mas as submersões parciais das raízes das árvores do mangue espalhamse sob a água e impedem que os sedimentos escoem para o mar. Outros problemas enfrentados pelos moradores da região são o lançamento de esgoto no mar sem nenhum tipo de tratamento e o vazamento de petróleo por parte das transferências de cargas e outras operações feitas pelos terminais marítimos. Além de toda a degradação natural da parte física da faixa litorânea, a cultura dos povos que habitam a área está perto da extinção devido à expulsão das populações caiçaras de seus locais de origem. Tentando contornar esses problemas, o Ministério do Meio Ambiente, em cooperação com o Conselho Interministerial do Mar, os governos estaduais e outras instituições, está tentando ordenar e proteger os ecossistemas com a implementação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC). Por sua vez, o Ibama fica encarregado de desenvolver projetos e ações contínuos de gerenciamento dos ecossistemas costeiros. Anselmo Garrido

Divulgação

Praia do Forte, Bahia


Curiosidades Wanderson Oliveira

• O Brasil possui 7.367 km de linha costeira. No entanto, se levados em conta os recortes litorâneos, como baías, reentrâncias e golfões, a área aumenta para mais de 8,5 mil km. • Quase toda Zona Costeira brasileira está virada para o Atlântico Sul. No entanto, há uma pequena porção que divide águas com o Mar do Caribe. • O Amapá é o estado que possui a maior área costeira do Brasil (cerca de 12,3% do total). Por outro lado, a área do Piauí não passa de 0,2% do total.

Fernando de Noronha, Pernambuco

• A Zona Costeira tem densidade • Somente na costa do Rio Grande demográfica média cinco vezes do Sul, foi registrada a presença maior que a média nacional (87 de aproximadamente 570 espéhab/km² contra 17 hab/km²). cies de aves diferentes. • O arquipélago de Fernando de No- • Como a Zona Costeira recebe a maior parte das águas dos prinronha, uma das mais belas regiões cipais rios do País, o bioma é um da Zona Costeira, fica a 345 km do dos mais vulneráveis às consenordeste brasileiro e é constituído quências ambientais negativas por uma ilha principal e 19 ilhotas, (resíduos de agrotóxicos, adupossuindo um dos maiores índices bos e efluentes das indústrias). de biodiversidade marinha do Brasil.

Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - Ambiente Brasil www.ambientebrasil.com.br - Animal Show www.animalshow.hpg.ig.com.br - Mundo de Sabores www.mundodesabores.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br

Receita Típica da Zona Costeira: Mariscos Gratinados Ingredientes: • 1 e ½ quilos de mariscos • 2 colheres de sopa rasas de manteiga ou margarina • 50 gramas de farinha de rosca • Pimenta-do-reino em pó • 1 maço de salsa picado • Óleo ou azeite • Sal

8. Deixe cozinhando no fogo alto durante alguns minutos; 9. Quando estiver com uma boa consistência, adicione a salsa picada; 10. Polvilhe com sal e pimenta-do-reino; 11. Despeje a mistura nos mariscos; 12. Regue com bastante óleo ou azeite e leve ao forno quente, deixando a forma durante 5 minutos, para gratinar; 13. Retire do forno e sirva imediatamente.

Preparo: 1. Raspe as conchas dos mariscos com o auxilio de uma faca; 2. Lave-as muito bem e despeje-as numa frigideira grande, sem adicionar água; 3. Leve ao fogo forte e, à medida que as conchas forem se abrindo, retire-as da frigideira; 4. Separe as conchas, jogando uma das partes fora, deixando apenas a metade em que o molusco estiver preso; 5. Coloque as partes com o molusco em uma forma refratária, uma ao lado do outro, formando uma só camada; 6. Em outra panela, coloque a manteiga ou margarina, deixando-a no fogo até que derreta; 7. Acrescente então a farinha de rosca e mexa bem com uma colher de pau;

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Especial - Biomas Brasileiros

RX da Am Estatísticas apontam disparidades entre riqueza de biodiversidade e indicadores sociais Da Redação

Abrangência: A Amazônia é a região definida pela bacia do rio Amazonas, que nasce na cordilheira dos Andes e estende-se por nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela e onde se localiza a maior cobertura vegetal de floresta tropical, a Floresta Amazônica. Bacia Hidrográfica: Tem muitos afluentes importantes tais como o rio Negro, Tapajós e Madeira, sendo que o rio principal é o Amazonas. Temperatura: A temperatura média anual é de 28ºC. Amazônia Brasileira: Sessenta por cento da Amazônia está em território brasileiro, em área chamada Amazônia Legal , constituída por 750 municípios distribuídos em nove Unidades Federativas: Amazonas (62), Amapá (16), Acre (22), Roraima (15), Rondônia (52), Pará

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(143), Tocantins (139), Maranhão (160) e Mato Grosso (141), perfazendo um total de 5.033.072 km 2, o que representa 61% do território brasileiro. População: 24,5 milhões de habitantes correspondendo a 12% do contingente populacional brasileiro. Em cada quilômetro quadrado da região tem-se, em média, 3,3 habitantes enquanto que no restante do país essa proporção é de 21,4 habitantes por km2. Diversidade social: A região é a segunda do país em registros de remanescentes de quilombos, bem como é onde se concentra a maior parte da população indígena, representando 49% do total. É também onde se encontra o maior percentual de projetos de assentamentos da reforma agrária e diversas comunidades locais, como: caiçaras, babaçueiros, jangadeiros, ribeirinhos/caboclo amazônico, ribeirinhos/caboclo não amazônico (varjei-

ro), sertanejos/vaqueiro, pescadores artesanais, extrativistas, seringueiros, camponeses. PIB: Em 2004, o PIB da região foi de R$ 137,9 bilhões (US$ 64,7 bilhões), o que representa 8% do PIB nacional. IDH: Em 2000, a região apresentava médio desenvolvimento humano, com um IDH igual a 0,705. Biodiversidade: • Reúne quase 12% de toda a vida natural do planeta; • Concentra 55 mil espécies de plantas superiores (22% de todas as que existem no mundo); • 524 espécies de mamíferos; • Mais de 3 mil espécies de peixes de água doce; • Entre 10 e 15 milhões de insetos (a grande maioria ainda por ser descrita); • Mais de 70 espécies de psitacídeos: araras, papagaios e periquitos;


azônia •

Grande variedade de ecossistemas, dentre os quais: matas de terra firme, florestas inundadas, várzeas, igapós, campos abertos e cerrados; Jazidas minerais de metais nobres dos mais variados tipos, acumulando recursos da ordem de US$ 1,6 trilhão.

Principais Ameaças à Floresta: Grilagem (posse ilegal de terras mediante documentos falsos), Desmatamentos, Queimadas, Atividades extrativistas predatórias (madeireiras, pesca, caça ilegais e biopirataria), Expansão da fronteira pecuária e agrícola (soja, principalmente, no Mato Grosso) e Fiscalização insuficiente. Indicadores Sociais: • Analfabetismo: Entre os maiores do Brasil, em 2005 chegava a 10,3% (maiores de 15 anos) e 13% (menores de 15 anos). • Insegurança Alimentar: 35% da população da Amazônia viviam, em

2005, em domicílios onde havia insegurança alimentar média ou grave Mortalidade infantil: 25,8 crianças na Região Norte morrem antes de completar o primeiro ano de vida em cada grupo de mil nascidas vivas, sendo que a média brasileira é de 24,9 e da Região Sul é de 16,7. Registro Civil (Certidão de nascimento): O estados amazônicos ainda concentram as piores taxas, chegando a superar 40% em algumas regiões. Saúde: A taxa da incidência de AIDS , em 2004, subiu dez vezes, chegando a 12,4 por 100 mil habitantes. A Amazônia responde pela quase totalidade dos casos registrados de malária no país. Entre 2002 e 2004, o número de casos aumentou 32% e a taxa de incidência subiu 19% na região. Saneamento Básico: A porcentagem da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de

água aumentou de 48%, em 1990, para 68% em 2005, contra a média de 88% no resto do Brasil. A porcentagem da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto na Amazônia aumentou de 33%, em 1990, para 48%, enquanto a média brasileira é de 67%, em 2005. Somente na Amazônia, 11,7 milhões de pessoas vivem em residências sem coleta de esgoto. Assassinatos Rurais: A Amazônia lidera casos de assassinatos rurais (60%) dos 386 ocorrências (1997 a 2006). Trabalho Escravo: A região é campeã em trabalho escravo, com 66% dos casos. Só em 2006 foram libertadas 12 mil pessoas do regime escravo.

Fontes de Pesquisa: Conservation International, IBAMA, Silvan, Câmara dos Deputados, Unicef, Imazon e Datasus

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Especial - Biomas Brasileiros

Registrar para PRE Alguns animais que compõem a riquíssima fauna Amazônica Da Redação Fotografia: PaulaLyn Carvalho

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or maiores que sejam as informações recebidas sobre as riquezas da região Amazônica é no flagrante das lentes fotográficas e cinematográficas que a exuberância dessa grande fatia do Brasil chega às demais regiões e ao mundo. O papel desses profissionais em captar a beleza e muitas vezes, também o pedido silencioso de socorro dessas espécies, é imprescindível para conscientizar sobre a importância de ser manter a floresta em pé. A fotógrafa PaulaLyn é uma dessas profissionais que emprestam a sensibilidade e técnica, a serviço da defesa do meio ambiente. Com um trabalho voltado

à essa causa, vem realizando ensaios e exposições sobre o tema. São dela as fotos da fauna amazônica, expostas a seguir. Agumas dessas imagens fizeram parte da exposição “Sentir Brasil”, que aconteceu em junho na Câmara Municipal de São Paulo. A maioria das imagens foi captada no Parque Ecológico de Januari, em Manaus, no Amazonas e no Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA), em janeiro de 2008. Paula é motivada pela sua paixão pela natureza. “Olho a lua, o sol, o mar, as árvores, os rios, os animais, como se os estivesse vendo pela primeira vez. São, para

mim, respostas a todas as minhas perguntas.” – disse. A fotógrafa acredita que cada um pode contribuir com ações que estão ao seu alcance. “A minha contribuição é através das imagens. Quero poder tocar o coração de cada um através do meu olhar, usar um sentido humano tão valorizado na contemporaneidade para despertar os outros sentidos e a consciência. Registrar para preservar” – concluiu. Se o mundo precisa da Amazônia para minimizar os efeitos ambientais do aquecimento global. Para esses animais, que somam milhares de espécies, a Floresta é sinônimo de vida.

Arara As araras estão entre os pássaros mais belos da fauna brasileira. São aves grandes e possuem e um bico curvo resistente usado para quebrar frutos e sementes. As araras vivem em casais nas copas das árvores mais frondosas e fazem seus ninhos em ocos de árvores.

Bicho-Preguiça O Bicho-Preguiça é considerado um animal muito sossegado. Dorme o dia todo nas árvores, pendurado num galho de costas para o chão e com a cabeça pendida sobre o peito. É um mamífero de hábitos noturnos. Orienta-se pelo olfato, pois tem uma visão muito fraca. Alimenta-se apenas das folhas, frutos e brotos de algumas árvores. É um animal inofensivo.

Gavião-real O gavião-real, também conhecido como harpia ( Harpia harpyja), é a maior ave de rapina do Brasil e do mundo, podendo atingir 2,5 m de envergadura. Seus hábitos são diurnos. Alimenta-se de moluscos, crustáceos e peixes até serpentes, lagartos, alguns pássaros e alguns mamíferos, como a preguiça (seu alimento favorito) que captura no solo.

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SERVAR Jacaré O jacaré é um dos maiores répteis brasileiros. O jacaré amazônico chega a alcançar até 5 metros, mas em geral não ultrapassa 2 metros. A temperatura do seu corpo varia de acordo com o meio em que ele está, por isso precisa ficar exposto ao sol a fim de captar calor.

Macaco-de-cheiro O Macaco-de-cheiro é um primata que gosta de viver no topo das árvores mais altas da floresta, geralmente a 30 ou 40 metros do chão. São animais de extrema agilidade. Sua comida preferida são insetos, mas alimenta-se também de frutos e da seiva das árvores. Na Amazônia, os ribeirinhos costumam domesticá-los. São peraltas e brincalhões.

Macaco-aranha O Macaco Aranha possui como habitat as florestas tropicais chuvosas e tem hábitos diurnos. Vive em bandos de até 30 indivíduos e pode chegar até 33 anos. Os animais atingem de 6 a 8 quilos. Alimentam-se de frutas, sementes, folhas, insetos e ovos.

Tartaruga A tartaruga da Amazônia passa os dias nos rios de águas calmas, nadando, alimentando-se e de vez em quando sai para respirar e tomar um pouquinho de sol a fim de manter a temperatura do corpo São ovíparas, colocando seus ovos nas praias, durante a noite, em buracos que escavam na areia. São animais de vida longa, podendo atingir centenas de anos.

“Um Olhar Consciente” em “Este Mundo é Meu” Em continuidade ao projeto “Um Olhar Consciente”, PaulaLyn participará com painéis fotográficos no evento “Este mundo é meu 2008: integração sócio-ambiental”, que irá ocorrer no Centro Cultural São Paulo, de 08 a 29 de outubro de 2.008. Com ênfase nas questões ambientais, nas ações da sociedade em defesa da cidade, de si própria e de tudo que gira em seu entorno. A programação permitirá reflexões por meio de palestras, com convidados de várias especialidades na área de meio ambiente, bem como, oficinas e instalações.

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Mudanças Climáticas: Os desafios da implementação da Política Nacional

A

última lei sancionada pelo presidente Lula no ano de 2009 ganhou destaque na imprensa e nos principais portais de notícias do país. Não era para menos. A lei em questão instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima e, surpreendentemente, transformou em artigo de lei o compromisso nacional, divulgado nas semanas que antecederam a COP 15, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do país. A adoção desse compromisso surpreendeu, pois evidencia uma mudança de postura do país. O Brasil sempre invocou “o princípio da responsabilidade comum, 66

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mas diferenciada” e defendeu a posição de que os países industrializados possuem responsabilidade histórica pela concentração de GEE e que os países em desenvolvimento devem receber auxílio financeiro para implementar ações de mitigação. No entanto, durante a COP 15, o presidente Lula voltou a mencionar o compromisso do país em reduzir suas emissões em no mínimo 36% e, mais uma vez surpreendendo, afirmou que se fosse necessário, o Brasil também contribuiria financeiramente para ajudar outros países. É certo que o Brasil não vai abandonar o “princípio da responsabilidade comum,

mas diferenciada”, mas a postura brasileira serviu para mostrar que todos os países vão precisar fazer concessões para que se chegue a um novo acordo climático. E, nesse quesito, o Brasil mostrou liderança em Copenhague e foi muito elogiado. Voltando da COP 15, o presidente sancionou a Lei 12.187/09, vetando três trechos que diziam respeito ao uso de combustíveis fósseis e orçamento. A lei não apresenta apenas a meta brasileira de redução de emissões, vai além e dispõe sobre princípios, objetivos e instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima.


Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

É verdade que apesar do avanço em termos de comprometimento político e jurídico alcançado com a publicação da lei, algumas questões ainda ficaram em aberto. Uma delas é a definição de metas por setor, de modo a deixar bem clara qual a redução que será arcada por cada um deles (indústria, transporte, construção etc.). Para isso, é necessário ter um complexo inventário nacional de emissões, bem como a projeção das emissões do país para o ano de 2020, uma vez que a nossa meta de redução se baseia no cenário conhecido como “business as usual”, ou seja, considera-se qual seria a emissão do país se ne-

nhuma medida fosse adotada e a partir daí se calcula a redução desejada. O presidente mencionou em seu discurso na COP 15 que ações na agricultura e na siderurgia, bem como o aprimoramento da matriz energética (uma das mais limpas do mundo) e a redução do desmatamento da Amazônia, seriam algumas medidas adotadas para se alcançar a meta de redução. A própria Lei 12.187/09 prevê que as ações necessárias para alcançar a meta de redução sejam detalhadas em decreto e que o Inventário Brasileiro de Emissões seja concluído ainda em 2010. Apesar de o inventário nacional ainda não ter sido divulgado, já é possível encontrar algumas iniciativas de monitoramento de emissões. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), por exemplo, divulgou em março um relatório sobre o desmatamento na Amazônia e pela primeira vez reportou emissões de carbono decorrentes do desmatamento na Amazônia Legal. Outro exemplo foi a divulgação de inventários de emissão de GEE de diversas empresas nacionais que aderiram à plataforma Empresas pelo Clima e ao Programa Brasileiro GHG Protocol. Apesar da realização do inventário ser um passo fundamental para a definição de metas por setor, outra questão que não está bem definida é como acontecerá o financiamento das ações de mitigação. Um primeiro passo já foi dado com a criação do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.114/09). Outro importante fundo que pode ter seus recursos usados em ações de mitigação, especialmente no combate ao desmatamento, é o Fundo Amazônia (Decreto 6.527/08). As doações feitas ao Fundo Amazônia serão usadas em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas brasileiras. Lembre-se que o desmatamento na Amazônia é o vilão

em termos de emissões de GEE no país, já que temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Outro desafio para a implementação da Política Nacional sobre Mudanças do Clima é a regulação do mercado de carbono no país de modo a incentivar investimentos e o comércio dos créditos de carbono. É certo que a falta de regulação pode trazer incerteza jurídica e inibir investimentos nacionais e internacionais nessa área, já que o setor empresarial busca regras claras e bem definidas para poder realizar investimentos e apostar em novos projetos. Em consonância com essa necessidade, a ABNT criou uma Comissão de Estudo Especial de Mercado Voluntário de Carbono para definir regras para esse novo mercado no contexto nacional. É certo que uma excelente oportunidade para novos negócios está crescendo neste momento e que aqueles que se adiantarem e realizarem inventários de emissão de GEE e adotarem medidas para reduzir sua pegada de carbono sairão lucrando. Já é possível perceber uma mudança de postura do país quanto às suas emissões de GEE no texto da Lei do Clima. No entanto, ainda temos muito trabalho pela frente. Mas, como o próprio ministro do Meio Ambiente escreveu recentemente: “O Brasil começa a entrar no clima”.

Natascha Trennepohl* Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim. E-mail: natdt@hotmail.com *foi membro da delegação brasileira que esteve na COP 15.

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Climate Change: The challenges to the National Policy implementation

T

he last bill sanctioned by President Lula in 2009 gained the attention of the press and of the main news web portals in the country. This came as no surprise. This Legal Act instituted the National Policy on Climate Change, turning the national commitment of reducing greenhouse gas (GHG) emissions, publicized a few weeks prior to the COP15, into law. This enactment was rather astonishing, since it proves that the attitude of the country has greatly changed. Previously, Brazil had always resorted to the principle of “common, but differentiated

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responsibility”, supporting the theory that industrialized countries are historically responsible for the concentration of GHG in the atmosphere and that developing countries must receive financial aid to implement mitigating actions. However, during the COP 15, President Lula mentioned, once again, the commitment of the country to reducing emission by at least 36% and, even more surprisingly, declared that, if necessary, Brazil will also financially aid other countries. Of course Brazil will not discard the principle of “common, but differentiated responsibility”, but the Brazilian attitude

shows that all nations will have to give in a little if a new climate agreement is to be reached. As far as compromising is concerned, Brazil played a leadership role in Copenhagen and was greatly praised for that. Back from the COP 15, President Lula sanctioned bill 12,187/09, after vetoing three items pertaining to the use of fossil fuel and its budget. The new law not only formalizes the Brazilian emission reduction target, but also establishes the principles, objectives, and instruments of the National Policy on Climate Change.


Natascha Trennepohl

Special Correspondent in Berlin – Germany

It is true that, in spite of the progress made in terms of political and legal commitment achieved through this law, some issues still remain unresolved. One of them is the setting of goals by sector so as to clearly define the reduction each of them will be accountable for (Industry, Transport, Civil Construction, etc.). That requires a complex national emissions inventory, as well as emission forecasts for 2020, since our reduction target is based on a scenario known as “business as usual” – i.e.: the emissions of the country are calculated as if no measures had been taken and, based on that, the desired reduction is calculated.

President Lula mentioned, during his is the main villain when it comes to greCOP 15 speech, that actions for agriculture enhouse emissions in the country, since and steel manufacturing, along with imour energy matrix is one of the cleanest provements to the energy matrix (one of in the world. the cleanest power matrices in the world) Another challenge to the National Poand a reduction in the deforestation of the licy on Climate Change implementation is Amazon would be some of the measures the regulation of the carbon market in the adopted to meet the reduction objectives. country in order to attract investments The new Act 12,187/09 itself states and the commercialization of carbon crethat the actions required to meet the redits. Lack of regulation may arouse legal duction objectives must be detailed in a uncertainty and scare away national and decree and that the Brazilian Emission Inforeign investments in this area, since the ventory must be finished before the end business sector seeks clear and well deof 2010. fined rules in order to invest and bet on Although the National Inventory new projects. In conformance with this has not yet been publicized, it is already requirement, ABNT created a Special Vopossible to find emission monitoring iniluntary Carbon Market Study Committee tiatives. IMAZON (Amazonian Institute to define rules for this new market within of Man and Environment), for instance, the national scenario. published a report in March on the defoAn excellent opportunity for new burestation of the Amazon and, for the first sinesses is clearly springing up now and time, carbon emissions resulting from the those who first take advantage of it, cardeforestation of the “Legal Amazon” rerying out emission inventories and adopgion were gauged. Another example was ting measures to reduce them, will profit the publication of the GHG results of sea great deal. veral national companies who joined the It is already possible to notice the ‘Companies for Climate’ initiative and the country’s attitude change toward GHG Brazilian GHG Protocol Program. through the articles of the Climate Change Despite the fact that the inventory is Law, although there is still a lot of work a fundamental step toward defining secahead of us. However, as the Minister of tor goals, another issue which has not the Environment recently wrote: “Brazil is been well defined is how the financing beginning to get into the climate protecof mitigating actions will be carried out. tion mood”. A first step was taken with the creation of the National Fund on Climate Change (Act 12,114/09). Another important fund Natascha Trennepohl* whose resources can be used for mitigaLawyer and Environmental Consultant ting actions, especially with regard to de- Master’s Degree in Environmental Law (UFSC) forestation, is the Amazon Fund (Decree Undergoing her PhD at Humboldt 6,527/08). Donations made to the AmaUniversität (HU) in Berlin. zon Fund will be used in preventive, moE-mail: natdt@hotmail.com nitoring, and combat actions against the deforestation of Brazilian forests. Bear in * Member of the ABNT Committee on the mind that the destruction of the Amazon Regulation of the Voluntary Carbon Market in Brazil. Neo Mondo - May 2010

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Meio Ambiente/Biocombustível

limpo e renovável Combustível ainda pouco explorado no Brasil pode ser utilizado na geração de energia elétrica e como substituto do gás natural Rosane Araujo

E

le já é amplamente utilizado no setor de transportes da Suécia, também move ônibus na Suíça, além de ser uma importante fonte de energia elétrica na Alemanha. Em termos mundiais, porém, a popularidade do biogás, combustível gasoso composto principalmente por metano e gás carbônico, ainda é baixa. Só o Brasil desperdiça 1 milhão de m³ do gás por dia, montante que é queimado em aterros sanitários, estações de tratamento de água e na agroindústria. A quantidade é suficiente para abastecer 200 postos com gás natural veicular (GNV) ou acionar uma usina termoelétrica de 100 megawatts (MW). Produzido naturalmente em meio anaeróbico pela ação de bactérias em matérias orgânicas, o gás também pode ser produzido artificialmente por meio de biogestores, tendo como matéria-prima resíduos de produção vegetal (como restos de cultura) e animal (como esterco e urina) e até da atividade humana (como fezes, urina e resíduos domésticos). “Esse desperdício em relação ao potencial energético do biogás está relacionado à escala de geração e produção. Os custos de implantação acabam não viabilizando isso”, avaliou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Airton Kunz. Para ele, o gás é uma fonte de energia bastante interessante, já que vem da

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biomassa, uma substituta limpa para os combustíveis fósseis. “O cenário (da baixa utilização) deve mudar nos próximos anos”, acredita. Marcio Schittini, sócio da Acesa, empresa com dois projetos de aproveitamento de biogás em implantação no país, concorda. “O mercado brasileiro de biogás praticamente não existe. São muitas tentativas de pequeníssimo porte, e apenas duas de grande porte. Não obstante, aqui se produz mais resíduo e biomassa que qualquer outro lugar, portanto a tendência é que o Brasil seja o maior mercado de biogás do mundo”, prevê. Incentivo ao MDL O caminho para ampliar a utilização, segundo ele, é incentivar que os projetos Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que envolvem biogás não apenas o queimem, mas façam também seu aproveitamento. “É preciso que tanto o painel intergovernamental de mudanças climáticas, em nível nacional e internacional, quanto a ONU avaliem positivamente projetos MDL que hoje apenas queimam biogás e queiram mudar para queima com uso energético. Realmente não faz muito sentido, na nossa visão, que os projetos já aprovados estejam presos a uma metodologia. Entendemos que os CERs (Certified Emission Reduction ou Certificados de Redução de Emissões) existem para

promover um mundo com produção mais eficiente e limpa e, no entanto, os projetos são obrigados a queimarem e desperdiçarem o gás?”, questiona. Um exemplo citado pelo empresário é que quase todos os aterros privados do Brasil fazem uso do biogás, mas apenas para queima e não para utilização energética. A queima por si só já gera CERs que são negociados no mercado global trazendo lucros aos donos dos aterros. Já no caso dos aterros públicos e privados de pequeno porte, não existe qualquer aproveitamento. “Os aterros públicos têm problemas tanto burocráticos quanto operacionais. Captação de gás em aterro é assunto delicado e, se não está bem organizado, a iniciativa privada não tem interesse em participar. Isso acontece ainda mais nos aterros de menor porte, onde a escala, sendo pequena, precisa de organização e esforço ainda maiores”, disse. No caso dos aterros de grande porte, pelo menos existem perspectivas para que o produto passe a ser aproveitado. A venda de gás natural extraído do biogás está crescendo e os lucros têm atraído empresários do setor. “Este mercado ainda está incipiente justamente pelo ponto dos CERs, mas isso já está mudando. Os donos de aterro têm consciência de que o modelo de venda de gás não só traz mais benefícios quanto mais lucro”, explica Schittini.


Neste caso, o biogás passa por uma espécie de purificação que resulta no gás natural. Atualmente esta é a principal área de atuação de sua empresa, que tem agroindústrias, empresas de saneamento, aterros sanitários e usinas de etanol como clientes. “Chamamos esse combustível de gás natural renovável (GNR) e ele é exatamente igual àquele encontrado nos gasodutos. É uma ótima destinação para o biogás, pois, seja no quesito ambiental quanto no financeiro, substituir gasolina e diesel por GNR é muito melhor do que apenas queimar este gás ou usá-lo para gerar energia elétrica”, opina.

Para o pesquisador Airton Kunz, tanto o mercado de créditos de carbono quanto o aproveitamento energético são importantes. “Não se pode pensar o biogás centrado no crédito de carbono. Agora, a produção está se distribuindo tanto para este mercado quanto para a geração de energia. As duas atividades podem coexistir. Você pode ter certificação para créditos com geração de energia”, analisa. Segundo ele, o crescimento da utilização do biogás para obtenção de gás natural só depende de logística. “É um gás natural que não está purificado, se você conseguir ajustar a logística disso, terá uma grande fonte. A Embrapa está trabalhando nisso”.

Em agosto passado, a empresa participou, como parceira, do lançamento da Rede Brasil-Biogás, uma iniciativa da hidrelétrica Itaipu Binacional. A rede tem como objetivo promover a cooperação entre cientistas, técnicos e pesquisadores da área de geração de energia a partir do biogás. “A ideia principal é muito parecida com a Rede Européia que é agregar os interessados na geração e utilização do gás e também fazer com que a rede brasileira interaja com outras redes e mercados”, conta o pesquisador. Segundo ele, são várias as experiências de sucesso obtidas no continente europeu. “Lá a coisa está bastante avançada”, diz.

Processo de produção de biogás

1 Excrementos animais e

restos de alimentos são misturados com água no alimentador do biodigestor

3 O gás metano pode

ser encanado para alimentar um gerador ou aquecedor

4 As sobras

servem como fertilizante

2 Dentro do biodigestor, a ação das bactérias decompõe o lixo, transformando-o em gás metano e adubo

Fonte: Wikimedia

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Meio Ambiente/Biocombustível

Wikimedia

Ônibus movido a biogás circula em Berna, na Suíça

e sua comercialização em todo o país, realizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em dezembro passado. Pela Resolução Normativa 390/2009, qualquer distribuidora de energia elétrica pode fazer chamadas públicas para comprar eletricidade produzida por biodigestores, que agora poderão fornecer para a linha de distribuição, em vez de somente consumir. “Isso permitirá que pequenos geradores de energia elétrica tenham ganhos a partir

Agência Petrobras

Um dos motivos do avanço, segundo sua avaliação, é o fato de haver fortes subsídios para geração de energia elétrica a partir do biogás. “Acho que é uma alternativa também para o Brasil. Precisam existir mecanismos de incentivo para que essas tecnologias sejam implementadas e haja ganhos por parte dos geradores. É o fator econômico que faz a roda girar”, argumenta. Por outro lado, a implantação do modelo europeu, defendida por ele, é restrita ao que se refere aos subsídios. “Precisamos desenvolver tecnologias brasileiras e a Embrapa está trabalhando nesse processo. Nossa matriz energética é diferente. No Brasil, os custos de geração de energia são bem menores do que temos na Europa, onde existem usinas nucleares e termoelétricas, enquanto nossa energia provém das hidroelétricas. São situações diferentes”. Mesmo já possuindo opções baratas de geração de energia, Kunz acredita que o biogás pode ter um papel importante no país. “Precisamos ter alternativas. A questão do biogás é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. O Brasil tem possibilidades muito grandes neste setor e precisa ser competitivo. Temos que olhar para o futuro”. Uma novidade que pode ajudar neste avanço, segundo ele, é a regulamentação da geração distribuída a partir do biogás

Ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, e Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobrás - observados pelo governador fluminense Sérgio Cabral e pelo prefeito carioca Eduardo Paes -, viabilizam o contrato para compra do biogás purificado, produzido na Usina de Biogás do Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), vendido para a Petrobrás

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Neo Mondo - Maio 2010

do biogás, abrindo oportunidades econômicas para o produto no meio rural”. O potencial suíno Há cinco anos, uma parceria entre a Itaipu Binacional, Companhia Paranaense de Energia (Copel) e produtores rurais de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, permite a produção de energia elétrica a partir de dejetos suínos. A eletricidade gerada é usada pelas propriedades e o excedente é vendido à Copel. Cada suíno produz 10 litros de dejetos por dia e cada mil litros rende 1.360 litros de biogás, que geram 0,4 kWh de energia. Só na região, são 3 mil suínos. Com a regulamentação esse modelo poderá ser adotado por produtores rurais de todo o país e o mesmo vale para empresas de saneamento, que também poderão utilizar os dejetos para gerar energia a partir de biodigestores. Exemplo de sucesso na área de saneamento, o projeto-piloto conduzido pela Acesa em parceria com a Petrobrás na Central de Tratamento de Esgotos Alegria, no Rio de Janeiro, já está implantado e gerando energia elétrica para consumo da CEDAE na própria estação de tratamento de efluentes onde é produzido o biogás. “Estamos fazendo a operação assistida da solução neste momento e estamos vendo que é possível substituir 30% da energia elétrica demandada pela estação usando o biogás”, encerra Schittini.


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Neo Mondo - Setembro 2008

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Terence Trennepohl

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

O etanol brasileiro e os Estados Unidos

A

despeito do que bradam ferozes e radicais vozes em prol de um meio ambiente saudável e por vezes imaculado, o Brasil sabe como preservar suas riquezas florestais. Temos atualmente 14,7% do nosso território pertencente a reservas indígenas, ou seja, 1.250.000 km2; possuímos, ainda, 13,7% destinado a reservas ambientais protegidas, totalizando 1.170.000 km2. Portanto, 28,4% do território nacional (sem contar áreas de preservação permanente e áreas de Reserva Legal) são intocáveis por determinação legal. Demais disso, é de se ressaltar que somos o segundo maior país do mundo em termos de preservação florestal, com 477 milhões de ha (hectares) aproveitáveis, ficando somente atás da Rússia, com 800 milhões de ha (sendo mais da metade dessa área inaproveitável, em razão das baixas temperaturas), e seguido do Canadá, com 280 milhões de ha. Segundo recente pesquisa da FAO, o país apresenta a maior área para ser utilizada para expansão do setor agrícola, seguido dos Estados Unidos e Rússia. Vale mencionar também que China e Índia, nossas parceiras no BRIC, não possuem mais áreas que possam ser utilizadas para expansão de seu agronegócio. Pois bem, a despeito das inúmeras, e muitas vezes desarrazoadas, restrições administrativas impostas pela legislação ambiental brasileira, e comumente seguida pela desmedida busca por preservação ambiental a qualquer custo de um Ministério Público desapegado do senso de desenvolvimento em um país carente de infraestrutura, e apegado à literalidade da lei, continuamos a ser o maior produtor mundial de açúcar, café e 74

Neo Mondo - Maio 2010

suco de laranja, e o segundo produtor mundial de etanol, soja e carne. Isso tudo atuando em consonância com as restrições legais impostas, no mais das vezes, décadas atrás e sem o compromisso com o desenvolvimento. Estudo recente da Agência Ambiental Americana (EPA) mostrou que o etanol da cana-de-açúcar é 61% menos poluente que a gasolina, enquanto o etanol do milho apenas 21%. Essa foi uma vitória técnica expressiva para que o agronegócio brasileiro, principalmente representado pelo setor sucroalcooleiro, tivesse motivos para comemorar. Nesse cenário, a produção mundial de etanol, nos últimos dez anos, saltou de 30 bilhões de litros em 2000 para 90 bilhões de litros em 2009. Alguns números comparando Brasil e Estados Unidos assustam. Enquanto temos aproximadamente 36 milhões de veículos, os Estados Unidos contam com uma frota de 250 milhões. Enquanto nosso consumo de gasolina é de 4 bilhões de galões por ano, os Estados Unidos consomem 140 bilhões! Pois bem, no começo deste ano a Universidade de Harvard publicou dois estudos dando conta das vantagens da implantação da cana-de-açúcar em países subdesenvolvidos como forma de um upgrade econômico e social nessas regiões pobres. Além disso, propôs a adoção de uma maior mistura de etanol à gasolina americana (que nos Estados Unidos é de 5% e no Brasil voltou a ser de 25%). Lembre-se que desde 2 de maio deste ano, a proporção de álcool anidro na gasolina voltou a ser de 25%. Desde 1º de fevereiro, o patamar tinha sido reduzido para 20%, cumprindo a determinação de uma portaria, válida por 90

dias, dos Ministérios da Agricultura, de Minas e Energia, da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Enfim, esses estudos são importantes formadores de opinião na comunidade científica e empresarial americana e estão sendo largamente divulgados por aqui. Como nenhum país do mundo conseguiu implantar um sistema tão eficiente de substituição da gasolina por um combustível menos poluente, como o uso do etanol no Brasil, somos um exemplo a ser seguido. Demais disso, se a gasolina usada mundialmente fosse substituída por 5% de etanol, o Brasil teria de aumentar sua produção de 28 milhões de litros em 2010 para 102 bilhões de litros até 2020. Outro mercado importante é a União Europeia, que, seguindo a orientação estabelecida em 2007, ao pretender substituir 5,6% de sua frota por veículos flex-fuel, precisará de aproximadamente 18 bilhões de litros nos próximos anos. Diante de todos esses dados, só nos resta esperar o movimento do mercado e aproveitar as oportunidades. O Brasil, portanto, há de estar preparado para essas oportunidades, que se avizinham num horizonte não muito distante. Terence Trennepohl Sócio de Martorelli e Gouveia Advogados Senior Fellow na Universidade de Harvard Doutor e Mestre em Direito (UFPE) Bolsista da CAPES E-mail: tdt@martorelli.com.br


Terence Trennepohl

Special Correspondent from Boston, USA

Brazilian Ethanol and the United States

I

n spite of radical voices fiercely crying out in favor of a healthy and immaculate environment, Brazil knows how to preserve its forest riches. We now have 14.7% of our territory belonging to Indian Reserves, accounting for 1.25 million km2, with an additional 13.7% designated for protected environmental reserves, representing an additional 1.17 million km2. Therefore, in total, 28.4% of the country’s territory (excluding permanent preservation areas and legal reserve areas) are untouchable by law. In fact, we are the second largest country in the world in terms of forest preservation, with 477 million ha (hectares) of usable protected land, only behind Russia, with 800 million ha (of which more than half is unusable because of the low temperatures) and ahead of Canada which preserves 280 million ha. According to a recent survey conducted by FAO, the country has the largest land area potential for agricultural expansion, followed by the United States and Russia. It is also worth mentioning that China and India, our BRIC partners, do not have any land areas left that could be used for expanding their agribusiness. As such, and in spite of the numerous and often unreasonable, administrative restrictions imposed by Brazilian environmental legislation, commonly enforced by the Federal Prosecutor’s Ministry through an unbridled pursuit of environmental preservation at any cost, with an exacerbating literal interpretation of the law and, most importantly, without the sense of development of a country lacking infrastructure, we remain the world’s largest producer of sugar, coffee, and

orange juice, and the second largest producer of ethanol, soy, and meat products. And all this production acts in line with the legal restrictions in force, which, in most cases, were imposed decades ago without any reasonable commitment to development. A recent study published by the U.S. Environmental Agency (EPA) showed that ethanol from sugar cane is 61% less polluting than gasoline, while corn ethanol is only 21%. This represents a significant victory for the Brazilian agribusiness and a reason to celebrate the recognition of Brazilian technology, especially in the development of the sugar-based ethanol sector. In this scenario, world production of ethanol in the last ten years, jumped from 30 billion liters in 2000 to 90 billion liters in 2009. Some figures comparing the productivity of the United States and Brazil are quite frightening. While we have approximately 36 million vehicles, the United States has a fleet of 250 million. While our consumption of gasoline is 4 billion gallons a year, the United States consumes 140 billion gallons! Earlier this year Harvard University published two studies on the benefits of deploying sugar cane production in underdeveloped countries as a means of fostering an economic upgrade and social development in these poor regions. In addition, the studies proposed the adoption of a higher mix of ethanol to U.S. gasoline (which in the U.S. is set at 5% and in Brazil is, once again, 25%). Let’s also remember that since May 2nd of this year, the proportion of ethanol in gasoline has been increased back to 25%. Since February1st, the levels had been reduced to 20%,

fulfilling the determination of a federal decree, valid for 90 days, issued by the Ministries of Agriculture, Mines and Energy, Finance and Development, Industry and Foreign Trade. Finally, these studies act as important opinion makers in the American business and scientific communities and are being widely disseminated here. Since no country in the world is able to deploy a more efficient system to replace gasoline with a less polluting fuel such as ethanol, as is the case in Brazil, this should be used as an example to be followed. In addition, if worldwide gasoline usage were partially replaced by a 5% ethanol mix, Brazil would have to increase its production of 28 million liters (2010) to 102 billion liters by 2020. The European Union is another important market, which, following the guidelines established in 2007, intends to substitute 5.6% of its motorized fleet with flex-fuel vehicles, and to do so, will require approximately 18 billion liters of alternative energy sources in the coming years. In light of the data mentioned above, all we can do is wait for market forces to take advantage of the opportunities. But to do so, Brazil needs to be prepared to capitalize on these opportunities, which, quite frankly, are quickly approaching on the distant horizon. Terence Trennepohl Partner of Martorelli & Gouveia Advogados Senior Fellow at Harvard University PhD and Masters in Law (UFPE) CAPES Grant Holder E-mail: tdt@martorelli.com.br Neo Mondo - May 2010

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Mudança é uma escolha e exige coragem

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s institutos e fundações responsáveis pelo direcionamento de grande parte do investimento social privado no Brasil, assim como governos, empresas e sociedade civil, precisam ficar atentos a uma nova demanda para os seus investimentos: os eventos climáticos extremos. Não considerar as ações da natureza e seus impactos, principalmente nos grandes centros urbanos, pode ser um equívoco no qual não podemos incorrer. Porém, o foco da reflexão sobre este tema não pode ser o de culpar a natureza pelas

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mazelas que temos acompanhado ultimamente nos noticiários, e sim a nossa falta de comprometimento em propor ações responsáveis e focadas no que convencionamos chamar de novo ciclo de desenvolvimento, que pressupõe ações economicamente viáveis, socialmente justas, ecologicamente corretas e culturalmente aceitas. A tragédia que, comovidos, acompanhamos nos morros do Rio de Janeiro não é diferente da registrada no início deste ano na região de Angra dos Reis (RJ) ou da que acompanhamos no final

de 2008 no Vale do Itajaí (SC). Culpar a natureza por essas mortes é um crime, pois essa justificativa encobre nossa omissão e nossa falta de responsabilidade na hora de definir sobre os investimentos, sejam eles públicos ou privados, de pessoa física ou pessoa jurídica. Os fatos que temos acompanhado nos noticiários têm de dar um novo sentido à questão da responsabilidade pelas nossas escolhas e decisões. E, nesse processo de definição de investimento, alguns entendimentos são fundamentais. O primeiro deles é sensibilidade para entender que


Cláudia Buzzette Calais

estamos lidando com gente, independente da classe social a que pertença. Temos de quebrar o paradigma de que, principalmente, para os pobres e necessitados, qualquer solução serve. Não serve! Sinto que, em algum momento, perdemos a conexão com a nossa condição de seres humanos. Existe um elo perdido que precisamos recuperar. O segundo é a valorização do conhecimento. Academia e poder público, pesquisa e iniciativa privada não podem estar dissociados. Os saberes que produzimos dentro das nossas uni-

versidades e institutos de pesquisa têm de caminhar lado a lado com as nossas práticas do dia a dia. Se os alertas feitos pelos geólogos da FURB - Universidade de Blumenau há 20 anos tivessem sido ouvidos pelas autoridades do Vale do Itajaí, a tragédia de 2008 poderia ter sido evitada, pois os morros ocupados de maneira desordenada pela população já tinham sido apontados pelos geólogos como áreas de risco. O terceiro entendimento é o nosso compromisso com o que convencionamos chamar de novo ciclo de desenvolvimento. As soluções que levamos às nossas comunidades, empresas e cidades têm de apresentar um compromisso com a sustentabilidade, têm de deixar de ser discurso e passar a ser prática. É necessário sair da zona de conforto. Geralmente, os princípios sustentáveis são trabalhados depois de satisfeitos todos os interesses dos envolvidos. O desafio que se apresenta é o convite à reflexão e à mudança antes dessa linha de satisfação. A nossa falta de formação em conceitos socioambientais consistentes não pode justificar a nossa omissão frente ao que estamos acompanhando. Também não podemos delegar às gerações futuras a responsabilidade pela busca dessas soluções. O quarto é o compromisso com o desenvolvimento e o envolvimento local. As comunidades locais não podem ser apartadas das decisões sobre seus desafios. Até porque as soluções passam por elas. Mas essa constatação tem de deixar de ser um clichê e virar uma verdade absoluta. Ações inovadoras só chegarão por meio do diálogo e pelo envolvimento da sociedade. As mudanças estruturais não chegarão de helicóptero, como grande parte da ajuda en-

caminhada pelos brasileiros às vítimas das tragédias. Elas virão da sociedade. Essa demanda é nossa. Não podemos aceitar qualquer coisa do poder público, da iniciativa privada ou de quem quer que seja. E nós, que de alguma forma, seja em que instância for, temos o poder de decisão sobre esses investimentos, não podemos nos omitir. Tem de ser premissa nossa o compromisso com as pessoas. Temos de propor ações focadas nesse novo ciclo de desenvolvimento, assegurando a valorização do saber e o envolvimento local na busca das soluções para os nossos desafios. Esse novo tem de ser construído a partir do referencial das pessoas para que faça sentido para a sociedade. Também é muito importante que essas ações inovadoras não sejam encaradas como doutrina, regra ou religião, mas sim como um convite a pensar diferente. Propor o novo em situações de caos, como a vivida atualmente pelo Rio de Janeiro, não é fácil, pois as necessidades são urgentes. O problema é que, para atender a mandatos curtos, de quatro anos, ou sanar grandes catástrofes, as soluções apresentadas são tão frágeis como as que ocasionaram a tragédia. Mudanças estruturais sérias são uma escolha e exigem coragem. E precisamos fazer essa escolha e ter essa coragem. Não existe mágica, existe responsabilidade, compromisso e diálogo. A mudança precisa começar.

Gerente de Responsabilidade Social da Fundação Bunge

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Morrer de fome ou vítima de obesidade? Alguns desafios da saúde pública

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té pouco tempo atrás, crianças rechonchudas eram o sinônimo de crianças saudáveis. A infância dos brasileiros que hoje têm 40-50 anos de idade foi cercada de guloseimas e dos famosos “fortificantes” que “abriam o apetite” daquelas que relutavam em ingerir alimentos mais do que o necessário à sua sobrevivência diária. Óbvio que a maioria destas crianças encontrava-se inserida em famílias pobres que passaram por grandes dificuldades e carências nutricionais. O Brasil de hoje enfrenta um problema antagônico à subnutrição, que é a obesidade e seus problemas decorrentes. Enquanto países em desenvolvimento estudam estratégias políticas e econômi-

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cas para extirpar a fome e pobreza de seu “menu”, outros países tratam a obesidade de seus cidadãos como um problema que deverá ser combatido e enfrentado. Países desenvolvidos como Japão e Estados Unidos enfrentam uma verdadeira epidemia de pessoas obesas que desenvolvem as mais variadas doenças decorrentes de uma alimentação hipercalórica e do sedentarismo. O paradoxo é a informação das Nações Unidas que prevê que o século 21 será o século da fome. O problema da fome agravouse em 2009 e, segundo o relatório apresentado pela ONU, a quantidade de famintos em todo o planeta aumentou para 1,02 bilhão de pessoas. Em termos estatísticos, uma em

cada seis pessoas do planeta não dispõe de alimentação em quantidade suficiente. A maioria dos subnutridos e famintos vive em países em desenvolvimento, em especial no continente africano. A humanidade sempre se preocupou com a alimentação da população, pois a fome e a subnutrição sempre estiveram presentes na sociedade. Atualmente o percentual de pessoas obesas igualou e/ ou superou o de pessoas subnutridas, fato que ocorreu pela primeira vez na história da humanidade. A obesidade é caracterizada pelo acúmulo de gordura, que aumenta a massa corpórea, assim, o peso fica acima do ideal.


Rosane Magaly Martins

O estado patológico provoca uma predisposição maior a doenças, como problemas de coração, diabetes, sem contar que pessoas obesas têm uma expectativa de vida menor do que a de um indivíduo de peso normal. Na China, o país mais populoso do mundo, estimativas revelam que o índice de obesos já atingiu 15% da população, enquanto que o de subnutridos é de 11%. O agravante é que à medida que diminui o percentual de subnutridos, aumenta o de obesos. Nos EUA, recente levantamento mostra que 30% dos americanos são obesos, mas esse número provavelmente deve ser maior, cerca de 50%, isso porque eles pos-

suem critérios avaliativos não muito rígidos, diferentemente dos europeus. Na Europa e Japão a obesidade atinge 20% da população. No Brasil a porcentagem de obesos atinge 11% da população adulta, número bastante superior ao de subnutridos, que é de 4%. As principais causas da obesidade é o alto consumo de alimentos não saudáveis, sedentarismo e consumo de alimentos industrializados. A Organização Mundial de Saúde criou um termo chamado “globesidade”, decorrente das mudanças ocorridas no processo de globalização. Mas esse problema não se restringe aos ricos e à classe média, é também problema dos pobres. Nas duas últimas décadas os brasileiros transformaram os modos alimentares, deixaram de lado o tradicional arroz e feijão, para ingerir alimentos como cachorro quente, sanduíches e fastfood em geral. Esse tipo de alimento é altamente prejudicial à saúde. Estas são algumas das novas demandas da saúde pública mundial, onde combate-se a subnutrição em algumas regiões e obesidade e sedentarismo noutras. Na maioria dos governos o risco de evento futuro é repassado ao indivíduo, que deverá assumir a fatura de seu modo de vida. Termos uma cintura fina e hábitos de vida saudável não evitará que sejamos acometidos de alguma doença, muito menos que estaremos livres de qualquer sofrimento. Os riscos de viver estão presentes desde nossa concepção. Vitoriosos aqueles que podem viver e morrer longe de toda esta pós-modernidade controlada, individualizada em que estamos nos inserindo e sofrendo por antecipação. Campanha contra obesos O Japão não é um país conhecido pelo excesso de peso de seus cidadãos, mas mesmo assim empreendeu uma das mais ambiciosas campanhas nacionais já tentadas para criar uma população mais magra e

– em consequência –, saudável. Para atingir seu objetivo de reduzir em 10% (próximos quatro anos) e em 25% (próximos sete anos) a população com excesso de peso, o governo imporá penalidades financeiras às empresas e governos regionais que não consigam cumprir metas específicas. Uma lei nacional que entrou em vigor no início de 2010 obriga que empresas e governos realizem a medição das cinturas dos japoneses com idade entre 40 e 74 anos, como parte de seus exames anuais de saúde. Isso representa mais de 56 milhões de cinturas, ou cerca de 44% da população do país. Aqueles que excederem os limites prescritos pelo governo - 85 centímetros para os homens e 90 centímetros para as mulheres (norma estabelecida em 2005 pela Federação Internacional do Diabetes) poderão apresentar riscos de saúde. Aqueles que estiverem sofrendo de doenças relacionadas ao excesso de peso receberão orientação dietética, caso não percam peso em prazo de três meses. Se não houver resultado, as pessoas serão encaminhadas a novos programas de reeducação depois de seis meses. O Ministério da Saúde japonês argumenta que a campanha ajudará a manter sob controle a expansão de doenças como o diabetes e as circulatórias. Óbvio que o objetivo da redução de peso dos japoneses é reduzir os custos dos serviços de saúde, em uma sociedade que está envelhecendo de forma acelerada. Caso os japoneses continuem a engordar, poderão aumentar os custos de consultas, internações e o uso excessivo de medicamentos que elevam os custos de saúde no país. Aqueles que não alcancem as medidas estipuladas, perderão os benefícios dos planos públicos de saúde, passando a arcar integralmente com os custos de planos de saúde privada. O perigo desta campanha do Japão e iniciada em outros países é desenvolver uma fobia social contra obesos, que Neo Mondo - Maio 2010

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passam a ser vistos de maneira negativa. Empresas japonesas estão obrigando seus funcionários a cumprir as metas de emagrecimento ou correm o risco de pagar multas de até US$ 19 milhões ao governo, por conta do aumento dos custos com a saúde pública.

tivo da recompensa. Algumas cidades mexicanas prometem um prêmio de 100 pesos (cerca de 7 euros) por quilo perdido. Há uma forte orientação para que os policiais pratiquem mais esporte e vigiem seu peso, o que não surtiu resultados esperados.

Corra que a polícia vem ai No mesmo mês em que as drásticas notícias do Japão tomam noticiários do mundo, outro fato estarrece gordinhos do mundo todo. O governo da África do Sul não vai mais tolerar policiais acima do peso. Alguns estados adotaram a partir de março a política de tolerância zero para os policiais obesos do país. Eles terão que caber nos uniformes que usavam quando foram treinados para entrar para a polícia. Os que fizerem pedidos de ajustes e alargamento das fardas terão seus pedidos negados e, em vez dos ajustes, receberão um plano de perda de peso que dura um ano, para que suas antigas roupas voltem a servir. Aqueles que não conseguirem perder peso depois deste programa serão demitidos. Já no México o governo também incentiva seus policiais, frequentemente obesos, a emagrecer, com apelo posi-

Síndome metabólica O termo “Síndrome Metabólica” descreve a associação de diversos problemas que aumentam a chance de uma pessoa desenvolver doenças cardíacas, derrame cerebral e diabetes. A causa exata da síndrome metabólica ainda não é conhecida, mas a carga genética (características herdadas da família), além do excesso de gordura no corpo e a falta de atividade física, auxilia no desenvolvimento dessa condição. O diagnóstico de síndrome metabólica é feito quando a pessoa apresenta três ou mais dos problemas como ganho de peso, especialmente no abdômen, história de diabetes na família, pressão alta, alto nível de colesterol (gorduras) no sangue e sedentarismo (pouca atividade física). Possuir três ou mais desses fatores de risco é um sinal de que o corpo é resistente à ação da insulina, um importante

CONFIRA OS PARÂMETROS DA SÍNDROME METABÓLICA Vários critérios foram criados para encontrar e diagnosticar a síndrome metabólica. Em 2005, a American Heart Association e outras entidades coligadas fizeram uma revisão de critérios. Estabeleceram o diagnóstico de síndrome metabólica quando a pessoa apresenta em conjunto três ou mais dos seguintes critérios: • •

Perímetro abdominal aumentado: Homem — Igual ou superior a 102 cm Mulher — Igual ou superior a 88 cm Triglicerídeos elevado: Igual ou superior a 150 mg/dL (ou a utilização de fármacos para o controle)

• Colesterol HDL (“bom”) diminuído (ou a utilização de fármacos para a sua elevação) Homem — Inferior ou igual a 40 mg/dL Mulher - Inferior ou igual a 50 mg/dL • Pressão arterial elevada: Igual ou superior a 130/85 mmHg (ou a utilização de fármacos para o seu tratamento) • Elevação da glicose em jejum: Igual ou superior a 100 mg/dL (5.6 mmol/L) (ou a utilização de fármacos para o tratamento da hiperglicemia

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hormônio produzido pelo pâncreas. A insulina tem várias ações importantes, sendo uma delas o controle dos níveis de glicose no sangue. Quando a insulina é produzida mas não consegue exercer seus efeitos adequadamente, surge a resistência à ela – ou seja, mais insulina que o normal é necessária para manter o corpo funcionando e para controlar a glicemia. Uma em cada cinco pessoas, nos países desenvolvidos, é portadora da síndrome metabólica. A síndrome geralmente segue um padrão familiar. Isso quer dizer que, se alguma pessoa tem a síndrome, várias outras pessoas na sua família geralmente também são portadoras dela. É mais comum em negros, indígenas e orientais. Quanto mais velha a pessoa, também maior é sua chance de desenvolver a síndrome metabólica. A maioria das pessoas que têm a síndrome metabólica sente-se perfeitamente saudável e pode não apresentar quaisquer sintomas. No entanto, essas pessoas têm uma chance muito aumentada de desenvolver doenças sérias no futuro, tais como infarto do miocárdio, diabetes e derrame cerebral, e por isso devem ser tratadas. Pessoas com risco de apresentar a síndrome metabólica devem procurar um médico, de preferência um especialista. O endocrinologista, especialista em hormônios e metabolismo, pode avaliar se a pessoa apresenta ou não a síndrome metabólica e também recomendar o melhor tratamento.

Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/ México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fundadora e presidente da ONG Instituto AME SUAS RUGAS, participando desde 2007 na Europa e na América Latina de congressos, cursos e especialização que envolve o tema. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas” lançados no Brasil e em Portugal. E-mail: advogada@rosanemartins.com Site: www.rosanemartins.com


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O poncho preto

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ontei antes sobre a simpaticíssima impressão que tivemos do casal de comerciantes que nos atendeu em Pelotas, quando procurávamos incansavelmente um poncho para Giovanna. Mas não falei sobre a vantagem que nos foi proporcionada de surpresa ao final da negociação... Os de lãs mais puras e caras, bem como os com echarpe, foram por nós sumariamente refutados com base no argumento de sua total inadequação ao clima paulista (eu digo nós o tempo todo como força de expressão, pois quem decidia mesmo se queria ou não queria era a Giovanna, afinal o poncho era para ela). Mas havia um, um só, um único, o último de toda a loja, que estava exposto na vitrine, e que eu achei lindo logo que vi. Era vermelho com uns pequenos quadriculados pretos em todo o manto, as bordas adornadas por uma espécie de mosaico grego, e umas franjas suaves fazendo o arremate. Infelizmente não vinha com echarpe embutida. Uma pena. Em compensação, era leve, feito de uma lãzinha fina mas honesta e, afinal, não era muito caro. A Giovanna adora vermelho. O argumento da inadequação ao nosso clima, dessa vez, não tinha muito cabimento. E o preço era, na verdade, bem razoável em comparação a todos os outros que tínha-

mos visto naquela e em outras diversas lojas. Eu pensei: é esse! E não tive mais dúvida nenhuma quando ela vestiu o poncho e foi-se olhar no espelho: uma prenda perfeita! Ela vai levar... – concluí comigo. Ora, nem tudo nessa vida é assim tão previsível e fácil de entender: “É bonito, mas não é bem o que eu queria...” − disse ela. E não quis mesmo. Àquela altura, eu por mim estava mais era querendo voltar para o hotel depois de um dia inteiro camelando pela cidade atrás de um poncho. Assim, nem insisti muito para que ela ficasse com aquele (mas, no fundo, eu tinha certeza de que mais tarde ela haveria de se arrepender...). Já nos despedíamos e nos dispúnhamos a transpor o limiar da loja, quando dona Eva, no último instante, fez a oferta, com amabilidade indescritível: “Se não levares a mal, tenho este aqui com um defeitinho de nada que te faço pela metade do preço”. A Giovanna, além de não levar nem um pouco a mal, levou foi de muito bom grado o poncho assim oferecido (que, por sinal, era igualzinho ao vermelho, só que preto com os detalhes em branco). E ficou assim visivelmente satisfeita, até porque o defeito era mesmo coisa à-toa: umas descosturinhas sem mais na franja, cujas condições para

Márcio Thamos

o reparo a mesma dona Eva com a gentileza de costume prestativamente providenciou: “Tu tens aqui agulha e linha, não te dá trabalho nenhum”. Por fim, de improviso, também eu me animei a comprar qualquer coisa. O que eu queria de verdade era um sobretudo legítimo do Sul. Mas não tivera tanta sorte. Em todas as lojas que percorremos atrás do poncho, não havia nenhum sobretudo tão conveniente como aquele poncho preto, isto é, leve, de boa qualidade e – sobretudo – em promoção realmente irresistível. Conclusão: tive que resistir. Assim, escolhi um chaveiro de que gostei – e precisava havia tempo –, verde, amarelo e vermelho, cheio de ganchos para as chaves. Coisa fina (e legitimamente gaúcha até onde se podia notar). Acabamos ainda ganhando de brinde uns broches bem delicados. O meu, abertamente revolucionário, com o brasão da bandeira farroupilha; o da Giovanna, já mais conciliador, com a bandeira gaúcha e a brasileira entrelaçadas. Fizemos questão de sair da loja cada um com o seu cravado no peito. Afinal, era setembro, mês da Independência, quando o clima patriótico no Sul é deveras contagiante. Seu Sinval e dona Eva, os gentis proprietários, nos acompanharam até a porta da loja: “Vão com Deus, bah! E passem amanhã, se puderem, para experimentar um chimarrão”. Ficamos com uma vontade louca de poder.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br Neo Mondo - Maio 2010

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Há 10 anos, centenas de pessoas dos mais diferentes perfis atuam como voluntários do programa sociocultural Doutores Cidadãos. Elas são treinadas para levar alegria e cidadania a hospitais e asilos, atuando também com pacientes normalmente pouco beneficiados pela arte-terapia: adultos, idosos e profissionais da saúde. Os milhões de sorrisos já conquistados comprovam que amor e alegria são remédios universais. Para manter e ampliar o trabalho, o grupo realiza atividades em ambiente corporativo, como apresentação de eventos, palestras, oficinas e outras.Saiba mais sobre os Doutores Cidadãos e os outros programas sociais do Canto Cidadão em www.cantocidadao.org.br. Doutores Cidadãos. Há dez anos fazendo graça de graça.

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Cotidiano

NEOMONDO INFORMA Acompanhe aqui, em cada edição, as novidades mais quentes sobre o que está acontecendo no mundo Da Redação

Do bem ou do mal? maior produção de energia para suprir a demanda do Brasil.

Situação hoje

- Com informações de O Estado de S.Paulo, UOL Notícias e Folha Online

Situação após a construção da usina de Belo Monte UOL

A polêmica, insatisfação e dúvida geradas em torno da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), finalmente acabaram. Pelo menos nesta primeira fase, que terminou em 20 de abril com a escolha do consórcio liderado pela estatal de energia Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) e a Queiroz Galvão para construir a usina. Com a definição, o empreendimento deve continuar driblando manifestações e liminares de entidades ambientalistas e prevê que o início das operações aconteça em 2015 (1ª fase) e 2019 (2ª fase). O projeto atual, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), é o mais responsável ambientalmente - comparado com os projetos de 30 anos atrás, – o que é ressaltado por grande parte dos políticos a favor da construção, inclusive o presidente Luís Inácio Lula da Silva. Apesar disso, manifestações e liminares ainda acontecem diante dos riscos do impacto ambiental e deslocamento da população ribeirinha – o que vira um verdadeiro imbróglio diante da necessidade de

Empresas custeiam reflorestamento na Amazônia R$ 605 milhões: essa é a quantia que a mineradora Vale, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos de pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobrás (Petros) irão destinar para recuperar áreas degradadas de florestas no Pará. O projeto, anunciado em 5 de maio, tem como objetivo arrendar

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propriedades que podem ser regularizadas e reflorestar 450 mil hectares de áreas degradadas até 2022. Florestas industriais ocuparão cerca de 150 mil hectares, que poderão a longo prazo suprir demandas da Vale ou ser comercializadas.

Com informações do Globo.com


Viabilidade econômica e benefício ambiental

Até o fechamento desta edição, a poluição causada pelo vazamento ainda não havia sido contida e o óleo pode jorrar durantes meses

Indo na contramão das tecnologias tradicionais, o professor Marcos Yassuo Kamogawa, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, desenvolveu um destilador barato e ambientalmente correto que produz água com alto grau de pureza. O protótipo foi construído com peças de aquecedor solar doméstico e conta com a inserção de um anteparo de resfriamento para capturar a água condensada e destilada do reservatório de água quente. Com isso, é possível aproveitar 100% da água utilizada e não gastar energia elétrica, o que torna o processo até 20 vezes mais barato - nos sistemas convencionais, esses itens somam até R$ 280,00 para custear a produção de 1m³ de água destilada.

Desde o afundamento da plataforma petroleira Deepwater Horizon em 22 de abril, os Estados Unidos estão em alerta: há grandes chances de que o acidente se torne uma das piores catástrofes ecológicas da história do país. A mancha de óleo se espalha rapidamente desde então e já começa a atingir terra firme, segundo informações da Guarda Costeira americana. Com os ventos, é possível que o óleo chegue à costa da Luisiânia e da Flórida, que são zonas de proteção da fauna local e de indústrias pesqueira e turística. Para tentar reverter o estrago, voluntários e barcos pesqueiros se comprometem a ajudar na limpeza da costa

e a British Petroleum (BP), empresa responsável pela operação da plataforma, corre contra o tempo para conter o fluxo de óleo. Robôs fecharam um dos três pontos de vazamento – mas como era o menor, não contribuirá significativamente na redução do fluxo. A próxima tentativa de solucionar o problema fica por conta de um domo gigante de aço, que deve ser baixado até o fundo do mar para bombear o óleo para um navio na superfície. Estima-se que cerca de 10 milhões de litros de óleo já vazaram e se as próximas tentativas não resolverem o problema, o petróleo vai continuar jorrando no mar por meses.

Com informações da Agência USP de Notícias Paulo Soares

Folha Online

Vazamento de petróleo no Golfo do México pode ser o maior da história

Processo aproveita 100% da água com menos energia elétrica e custos

Com informações da Folha Online

Papel de plástico, literalmente O plástico, se reciclado, também vira uma espécie de papel. É isso que mostra um projeto pioneiro da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que cria uma espécie de papel a partir do lixo plástico. O material se parece com o papel couché, mas é mais duradouro, impermeável, resistente a rabis-

cos e amassos, exige 20% menos tinta no processo de impressão e não causa distorção nas imagens. Por conta do lançamento recente, a demanda é tímida e ainda não foi suficiente para baratear o produto, que custa até 30% a mais que o papel convencional. Entretanto, com a ótima recepção

das indústrias, gráficas e editoras, a tendência é que o papel plástico fique cada vez mais conhecido e ganhe ainda mais terreno por ser uma alternativa sustentável e que auxilia na preservação do meio ambiente.

Com informações do Globo News

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