NeoMondo
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um olhar consciente
Ano 6 - Nº 49 - Julho/Agosto 2012
Exemplar de Assinante Venda Proibida
R$8,00
RIO+20,
Viva a diversidade! Especial 06 04
Festival de Cannes
Carbo Expo – Mercado de carbono:
Síntese Completa
28
Rumo à fragmentação
2632
Grandes ideias
www.rio20.gov.br
QUANDO AS SÃO A NATUREZA TAMBÉM A . CAIXA. PARCEIRA DA RIO+20.
Nosso futuro depende do que fazemos hoje. Por isso, a CAIXA se orgulha de ter sido parceira da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Lá, foram discutidos temas, práticas e ideias para que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade caminhem juntos. Um passo fundamental para um futuro melhor para todo o planeta.
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Neo Mondo - Maio 2008
,
caixa.gov.br SAC CAIXA: 0800 726 0101 (informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala: 0800 726 2492 Ouvidoria: 0800 725 7474
Neo Mondo - Maio 2008
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Seções Especial Rio+20 Firulas ambientais; iniciativas pontuais Evento decepciona na tomada de decisões oficiais Especial Rio+20
10 José Goldemberg Caminhamos anestesiados para a Rio+20”
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Especial Rio+20 Objetividade alternativa Sociedade Civil amplia alcance de seus projetos
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16 20 Artigo Thiago Garcia e Gabriela Nakano Educomunicação
Prefeitos fixam compromissos Meta de emissão de gases é estipulada
Especial Rio+20 Camila T. Bertoldo Correspondente na Itália Crise vista como oportunidade
Especial Rio+20 Coisas que eu vi Humberto Mesquita
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32 28 Artigo Natascha Trennepohl Mercado de Carbono: Rumo a fragmentação
26 CULTURA FLIP – Uma década de debate literário Homenagem a Carlos Drummond de Andrade meio ambiente
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Artigo Rafael Pimentel Lopes Lições do maior festival de ideias do planeta
36 Artigo Ricardo Ribeiro Desenvolvimento sustentável promove competitividade
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42 Artigo Márcio Thamos Mitologia clássica
Reports in english Bruno Molinero – Correspondente na Espanha) Selva de pedra?
30 Article - Natascha Trenepohl Carbon Market: Towards Fragmentation
Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Estagiário: Bruno Molinero Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo
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Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
Publicação Capa: fotomontagem Renata, com fotos ABr. Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Antônio Cardoso Franco nº 250, Casa Branca – Santo André – SP Cep: 09015-530 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br
A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.
w
Editorial Tripé capenga
A
Rio+20, se serviu para alguma
Entendemos que a sociedade civil
coisa, foi mostrar que o tripé da
foi a estrela que brilhou na Rio+20.
sustentabilidade – ser ambien-
Pessoas vindas de ONGs, tribos
talmente correto, causando o menor
indígenas, artistas, mulheres, jovens,
impacto possível ao meio ambiente;
ambientalistas, entre outros grupos, se
socialmente justo e economicamente
instalaram como puderam na Cúpula
viável - está capenga por falta de metas,
dos Povos, expuseram suas ideias
prazos e compromissos assumidos pelas
de modo claro, às vezes até mesmo
pessoas que se revestem de autoridade.
visceral, organizaram manifestações
Atento observador dessa Conferência da ONU confidenciou a NEO MONDO que nem Cristo, do alto do Corcovado,
Não houve dessa vez alguém que sobressaísse por si só. Já não se pode dizer o mesmo do lado
resultados alcançados e teria preferido
oficial. E, se uma das críticas mais
fechar os olhos ante o que se desenrolava
severas ao que se decidiu na Cúpula da
notadamente na Cúpula da Terra, como
Terra foi a da falta de ousadia, temos
também é chamado o evento.
de lembrar que faltou esse atributo
a nosso ver, por falta de aviso, vindo de gente abalizada, como o professor José Goldemberg (ver Perfil da edição Maio-
Junho em neomondo.org.br). NEO MONDO circulou na Rio+20 e teve esgotados todos os exemplares da edição impressa. Desde nossas primeiras edições, ao longo de mais de 4 anos, temos ouvido especialistas de diversas áreas sobre os caminhos da desejada sustentabilidade. Aqui nos reportamos a uma dessas edições (número 17, Dezembro de 2008), em que Miriam Duailibi, especialista em Educação Ambiental e Educação para a
a governantes mundiais (entre esses, por sinal, há quem até hoje não tenha aderido nem mesmo ao protocolo de Kyoto) que não ousaram sequer vir debater com seus pares as questões ambientais e se envolver para que medidas ousadas fossem tomadas para melhorar a qualidade de vida no e do planeta. Por outro lado, uma das desculpas para se chegar a fixar metas, compromissos e prazos para tornar a Rio+20 mais objetiva foi a da crise europeia, como se a Europa fosse mais importante que o planeta.
Sustentabilidade, assegurava que cabe
Não podemos concordar nem nos
aos brasileiros construir a sua utopia,
acomodar com esse estado de coisas. E
lembrando que sustentabilidade é
fazemos da nossa cobertura da Rio+20
sobrevivência. E conclamava “a sociedade
o subsídio para que nos empenhemos
civil ... a tomar as rédeas da situação,
cada vez mais para que o olhar consciente
pressionando os políticos a fazer a
de nosso slogan se traduza na cobrança
parte deles, ao criar políticas públicas
de dias melhores para todos.
ambientalmente responsáveis e fiscalizar para que a boa legislação ambiental brasileira seja cumprida”.
Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
e criaram sua carta de propostas.
se sentiu em casa ante a carência de
O sentimento de frustração não se dá,
Oscar Lopes Luiz
Tenha uma ótima leitura.
Instituto
Neo Mondo Um olhar consciente
Neo Mondo - Julho 2012 2008 Neo Mondo - Julho/Agosto
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Especial - Rio+20
Firulas ambientais;
Conferência da ONU revela-se evento em que a sociedade civil sobressai, em sua diversidade, mas pouco se avança na tomada de decisões oficiais Gabriel Arcanjo Nogueira*
D
essa vez não houve acordos ou protocolos de maior impacto – ainda que retórico. Não apareceu quem se possa apontar como a grande estrela do evento. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+20, de 13 a 22 de junho, foi sim marcada por polêmicas, encontros e desencontros sobre o texto final, debates paralelos e manifestações sociais. Estas foram da condenação do Código Florestal à Marcha Global da Cúpula dos Povos, passando pelo protesto de mulheres e pela Marcha da Maconha. Se alguma estrela brilhou, foi a marcante presença da sociedade civil. Democraticamente representada em grupos de
ambientalistas, indígenas, artistas, mulheres e outros grupos sociopolíticos, deixou claro, na carta “A Rio+20 que Nós Não Queremos”, seu contraponto ao texto final da Conferência, “O Futuro que Queremos”, apreciado pelas delegações de 193 países membros e assinado por 94 chefes de Estado ou de governo. Também chamada de Cúpula da Terra, faltou objetividade e sobraram firulas ambientais na tentativa de agradar aos signatários do documento oficial. Ao menos se percebeu, durante a Rio+20, por onde passaram 50 mil visitantes, uma ou outra iniciativa que leva em conta que “a Terra geme em dores de parto” (lema da Conferência Nacional dos Bipos do Bra-
* Com informações de Agência Brasil, jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Diário de S. Paulo e revista Veja. Fotos: Agência Brasil
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iniciativas pontuais
Cúpula da Terra começou tensa, apesar das exortações do secretário-geral da ONU, no discurso inaugural dele, logo após a fala da presidente Dilma
sil, numa de suas Campanhas da Fraternidade), como se quisesse recompor-se dos estragos causados pela civilização. Ironicamente, a três dias do término da Conferência, noticiou-se a morte da última tartaruga gigante do mundo. Perdeu-se tempo precioso até os diplomatas – Brasil à frente – chegarem ao rascunho do documento que foi levado aos mandatários. Não nos parece razoável que, após séculos de ações nocivas ao meio ambiente, ainda seja tão complicado saber o que tem de ser feito para melhorar a qualidade de vida no e do planeta.
A Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, reuniu variedade de segmentos...
... a exemplo de indígenas que deram um colorido e significado especiais ao evento
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Especial - Rio+20
Ban Ki-moon e Dilma: cumprimentos protocolares, mas discordância nas avaliações do documento final
Cúpula começa tensa A reunião dos governantes começou no dia 20, precedida de um esforço da diplomacia brasileira ao tomar a frente na elaboração do texto oficial da Conferência. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e equipe viraram a noite e foram madrugada adentro para dar forma final ao documento, que corria o risco de não ficar pronto a tempo em vista de impasses entre os representantes das delegações. O que não impediu que o secretáriogeral da ONU, Ban Ki-moon, classificasse o conteúdo do documento oficial de pouco ambicioso. Aí estaríamos diante do impasse intransponível. Ban não estava sozinho nessa crítica, mesmo relevando que “é preciso entender que as negociações foram difíceis e lentas devido a ideias conflitantes”. Para o secretário, a Conferência não seria o fim, mas o início de compromissos entre países. Diplomatas e ativistas de ONGs também criticaram o Brasil por liderar a negociação de um texto fraco demais, ao procurar conciliar posições e acelerar o processo, que levou à retirada ou redução de pontos de conflito que eram tidos como essenciais para que a Conferência resultasse mais forte. Entre os pontos criticados dois deles foram destacados pelo presidente francês, François Hollande: a não transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em agência autônoma e a ausência de novos mecanismos de financiamento. Um terceiro ponto foi a derrubada, por pressão do Vaticano e de países em desenvolvimento, do parágrafo que falava dos direitos reprodutivos femininos. 08
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Estávamos então apenas no primeiro dia da Conferência de Cúpula. Na abertura dos trabalhos, a presidente Dilma Rousseff ressaltou que “o texto aprovado consagra avanços importantes”, entre eles a inclusão dos conceitos de erradicação da pobreza e da igualdade racial. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, secretário-executivo da Comissão Nacional para a Rio+20, foi incisivo ao rebater as críticas. “Não se pode exigir ambição de ação se não existe ambição de financiamento. Quem exige ambição de ação e não põe dinheiro sobre a mesa está sendo pelo menos incoerente”, disse referindo-se à omissão de países ricos. De nada adiantou, por exemplo, o secretário-geral da ONU, que discursou em seguida à fala da presidente Dilma, ter exortado os líderes mundiais para “a hora de nos elevarmos sobre interesses nacionais estreitos, de olharmos além dos interesses estabelecidos
desse ou daquele grupo. É hora de agirmos com uma visão mais ampla e de longo prazo”. Ou mesmo ter ele próprio esclarecido que “nomeei o desenvolvimento sustentável minha prioridade número 1. Fizemos progressos significativos. Agora é o momento de um grande passo final”. Esse passo final, para o sul-coreano, significaria “compromisso e ação. Agora é a hora para a ação. Não vamos pedir a nossos filhos e netos que realizem uma Rio+40 ou Rio+60”. Países desenvolvidos, porém, não concordaram, entre outros aspectos, em pagar sozinhos a conta da conversão para uma economia verde. Eles entendem que Brasil, China e Índia, ao insistir no âmbito do G-77 para que os países ricos assumam esse compromisso, se esquecem de que eles mesmos já alcançaram certo grau de posteridade que lhes permitiria contribuir financeiramente também. É fácil concluir que a Cúpula da Terra começou tensa. Brasil pressiona, e ONU recua No discurso inaugural da Rio+20 a presidente Dilma havia comemorado o consenso obtido ao documento final (mesmo porque se não houvesse consenso entre os representantes dos 193 países, a Conferência não se viabilizaria), ressaltando que “o custo da inação será maior que outras medidas necessárias, por mais que essas provoquem resistências e se revelem politicamente trabalhosas”, sugerindo que “resultados novos exigem novas práticas” e que, por isso, “não basta manter as conquistas do passado”; e lamentando que “a promessa de financiamento do mundo desenvolvido para o mundo em desenvol-
Embaixador Figueiredo não perdoou a incoerência de quem pede avanços, mas não põe dinheiro na mesa
Ambientalmente corretos? vimento com vistas à adaptação e mitigação ainda não se materializou”. De seu discurso à prática o governo brasileiro manifestou irritação de maneira “pouco suave” , segundo apurou o Estadão junto a fontes diplomáticas, pelas críticas do secretário-geral da ONU ao documento final. O que fez Ban recuar, no segundo dia da Conferência de Cúpula, ao convocar a imprensa do País para uma entrevista coletiva. O sul-coreano reconheceu, dessa vez positivamente, como num passe de mágica, não só o desempenho da presidente e da diplomacia brasileira, mas também o texto da Conferência. “Seria justo que a população brasileira soubesse o quão importante foi a contribuição que o Brasil teve para o sucesso da Rio+20”, afrmou. Não sem agradecer “a liderança visionária da presidente Dilma Rousseff e sua equipe”. Mais que isso, elogiou o texto da Conferência, classificando-o como “documento final que contém pacotes amplos, ambiciosos e práticos para o desenvolvimento sustentável, garantindo os três pilares dos nossos objetivos: equidade social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental”. Recuo em que não foi, porém, seguido pelas ONGs e outros segmentos. A timidez do documento final é visão quase unânime, variando apenas o grau da crítica, como se verá nas duas matérias a seguir. O clima de desconforto era evidente dos dois lados. Na ONU, prevaleceu a visão de que a diplomacia brasileira conseguira um grande feito ao fechar em três dias um documento que consumira meses de debates entre países em que as discordâncias foram a tônica. Já no Itamaraty, em que pese ter visto reconhecido seu trabalho, a percepção era de que seria impossível ter resolvido um
número tão grande de questões sem reduzir a substância e a ambição do texto. Situação que talvez pudesse ter sido evitada se a Rio+20 fosse realizada em período de economia internacional em alta (2007), conforme havia sugerido o então presidente Lula, e não em meio à pior crise econômica desde a década de 1930. Além do que, acredita-se, a maneira como o Brasil conduziu a costura do documento não teria sido a mais adequada. Entre os países da União Europeia (UE), os mais insatisfeitos com o documento final foram também os mais críticos à atuação da diplomacia brasileira, por ter acelerado a negociação. “Estávamos prontos para nos engajar em negociações também em nível ministerial”, disse Janez Potocnik, comissário europeu para o meio ambiente e principal negociador da UE na Rio+20. Um outro negociador europeu, que preferiu o anonimato, foi mais direto: “Isso era para ser um documento da ONU, e não do Brasil”. O presidente da Comissão Europeia, órgão executivo da UE, José Manuel Durão Barroso, negou, porém, que a crise econômica na Europa seja a responsável pelo enfraquecimento do documento final, ao lembrar: “A Europa sempre defendeu uma ambição maior... portanto, é preciso pensar não só no caminho até o Rio, mas agora a partir do Rio”. Para o português, que defende “mais ambição no futuro”, isso significa “uma urgência ainda maior, com ação decidida, para a economia verde e o desenvolvimento sustentável na luta contra a pobreza”. Barroso lamentou pelo conceito de economia verde não ter saído mais fortalecido da Rio+20, bem como pela não transformação do Pnuma em agência especializada.
Barroso, da Comissão Europeia, negou que a crise no continente tenha sido empecilho para que o documento final fosse ambicioso
Menos mal que houve quem aproveitasse a Rio+20 para anunciar iniciativas que bem poderiam ser seguidas pelos demais participantes. A toda-poderosa Fifa, espécie de ONU do futebol, enviou à Conferência seu diretor de Responsabilidade Social, Federico Addiechi, com uma série de planos sustentáveis para a Copa de 2014. Serão US$ 40 milhões destinados à sustentabilidade, no intuito da organização de compensar as emissões de CO2 durante o Mundial no Brasil. Além disso, 10 dos 12 estádios-sede dos jogos são construídos, de acordo com a entidade máxima do futebol, dentro dos padrões internacionais de sustentabilidade. O de Brasília, por exemplo, terá a maior estrutura de captação de energia solar do país (serão 9 mil painéis solares), e em Belo Horizonte o Mineirão deve captar e armazenar 6 milhões de litros de águas pluviais. O presidente francês, François Hollande, raridade na Rio+20 entre chefes de governo do primeiro time, defendeu a criação de um imposto sobre transações financeiras para financiar o desenvolvimento sustentável e o combate à pobreza, bem como a transformação do Pnuma em agência especial da ONU. “Precisamos lutar pelo acesso à água e à energia”, destacou Hollande, que espera ver esse imposto concretizado já em 2013. O ator Edward Norton, por sua vez, surpreendeu ao revelar o seu lado ambientalmente correto de embaixador da ONU para assuntos de biodiversidade. Ele participou de painéis sobre economia verde e seus benefícios para a fauna e a flora. Com base em sua experiência no Quênia em projeto conservacionista, bem como em ONG voltada à construção de casas ecológicas nos EUA, Norton defende que cientistas se aproximem mais das pessoas comuns e que se invista na responsabilidade comunitária. “Não existe conservação sem participação nem responsabilidade das pessoas”, ponderou. Já a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em sua meteórica passagem pela Conferência, revelou que seu país participa de um programa de energia limpa para a África com uma contribuição inicial de US$ 20 mlihões. Hillary disse que conta na empreitada com instituições financeiras de porte, que permitirão sanar as dificuldades do continente, no qual apenas 1 em cada 4 domicílios dispõe de energia e 600 milhões estão excluídos desse benefício.
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Especial - Rio+20
ONGs não se limitam a promover debates e protestos ou a participar da carta assinada por personalidades, mas também ampliam o alcance de seus projetos Gabriel Arcanjo Nogueira*
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ouve de tudo um pouco na Rio+20 – e até muito, na forma de protestos –, por iniciativa da Cúpula dos Povos em momentos paralelos ao evento oficial, no Riocentro. E houve também ONGs que aproveitaram a oportunidade, rara pela afluência de tanta gente interessada em sustentabilidade, para fechar negócios, falar de seus projetos e mesmo promover a expansão nacional deles.
Em 21 de junho estava pronta a carta “A Rio+20 que Não Queremos”, entregue ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no dia seguinte, o do encerramento da Conferência. Um dia antes, a avenida Rio Branco, no centro da Cidade Maravilhosa, havia sido ocupada pela maior das manifestações realizadas: a Marcha Global. Estimada pela polícia de 15 mil a 20 mil pessoas e pelos organizadores em 50
* Com informações da Agência Brasil, jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
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mil, a multidão composta por ecologistas, quilombolas, sem-teto, sem-terra, feministas, homossexuais, professores em greve, hare-krishnas, evangélicos, entre outros, era um viva à diversidade e um não à “economia verde” e “em defesa dos bens comuns e dos direitos dos povos”. O Código Florestal, como aprovado recentemente e com veto apenas parcial da presidente Dilma, foi um do alvos dos pro-
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consultorias, captação de recursos e apoio financeiro estão entre as especialidades contempladas em parcerias firmadas. Críticas sem recuo As ONGs não economizaram em críticas ao documento final da Conferência e, ao contrário do dirigente da ONU, não recuaram um milímetro em sua avaliação. Seus representantes classificaram o texto de “aguado”, sem apresentar metas claras, bem como formas de financiamento de ações, e ter ficado aquém do texto elaborado na ECO 92, conferência que vinculou o desenvolvimento ao meio ambiente. Eles acompanharam as discussões do texto final por meio do Major Group ONGs e por especialistas da área ambiental. Em sua apresentação na noite de 19 de junho, no Aterro do Flamengo, durante
Greenpeace
Greenpeace
testos, e performances nudistas serviram de alternativa à “gritaria das passeatas”, segundo um dos integrantes do grupo. O alarido típico em cenários dessa natureza não impediu que ONGs praticassem a objetividade alternativa, que faltou na dose certa aos trâmites oficiais da Conferência. NEO MONDO traz com exclusividade um desses momentos (ler “Projeto Oásis...”), notável por nos permitir ver que é possível fazer a agenda ambiental avançar naquele tipo de trabalho que podemos classificar como o “das formiguinhas”. Segundo o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, foram firmados cerca de 700 compromissos voluntários entre ONGs, empresas, governos e universidades num montante de investimentos de US$ 513 bilhões nos próximos 10 anos. Projetos de restauração de áreas,
a Cúpula dos Povos, ao lado de representantes de organizações como Greenpeace, WWF e Oxfam, o coordenador do Vitae Civilis, Aron Belinky, disse que para conseguir o consenso uma série de questões polêmicas foi varrida “para debaixo do tapete”, sem resolvê-las. “Achamos que essa é uma estratégia arriscada, que coloca o resultado à frente do que deveria ser encarado.” Para Belinky, o melhor era ter deixado claro que certos pontos não tinham o apoio dos negociadores. “Se não tem consenso, que fique claro que não tem consenso. Que não se faça um documento aguado, que todo mundo concorda porque não faz diferença nenhuma”, criticou o diretor, sem pontuar os itens que poderiam ter obtido maior avanço. O professor da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Costa Ribeiro, que teve acesso à versão do texto final e participou da
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Especial - Rio+20 teve o mesmo nível de ousadia”, avaliou. Os especialistas também criticaram a ONU pela pequena abertura à participação da sociedade na Conferência. “É um espaço limitado, de dois ou três minutos de fala, nos Major Groups. Ou seja, pequenas intervenções em meio a uma burocracia que não permite o avanço de uma proposta democrática”, destacou o representante do Vitae Civilis. “Colapso de governança” As ONGs e outros segmentos sociais não se ativeram, porém, à simples crítica. Elaboraram a carta “A Rio+20 que Não Queremos”, assinada por personalidades e entregue ao secretário-geral da ONU no encerramento da Conferência. Severn Suzuki foi uma das que somaram suas críticas às já mencionadas, para não deixar dúvidas de que a menina que impressionou o mundo em 1992, agora mãe aos 32 anos, mantém a coerência.
Ao se referir ao texto final da Cúpula, bateu forte, quando falou no Riocentro: “Essa declaração, a menos que tenhamos nela uma reintegração da democracia, será prova de um colpaso na governança mundial”, discursou na apresentação da carta. Ex-chefes de Estado também pressionaram – em vão – para que os atuais líderes mundiais fizessem alguma mudança, para melhor, no texto oficial. Entres os exgovernantes, Fernando Henrique Cardoso, Gro Brundtland, da Noruega, e Mary Robinson, da Irlanda, integrantes do grupo ‘The Elders”. Para Robinson, há “uma falha de liderança”. Brundtland alertou que “... limiares ambientais são rompidos, trazendo o risco de danos irreversíveis tanto a ecossistemas quanto a comunidades humanas”. E FHC se queixou do peso menor dado à proteção ambiental em relação a inclusão social e crescimento. Divulgação
avaliação apresentada pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Fboms) na cúpula, disse que a consolidação do documento, acordado por 193 delegações, foi forçada e reflete a insatisfação de várias partes. “É uma festa onde todo mundo sai descontente”, comentou Ribeiro. Elaborar o consenso a partir da insatisfação não me parece algo importante. O que vi realmente não é estimulante porque não cria metas ou vínculos ou quem vai pagar a conta”, acrescentou. Ao comparar o documento da ECO 92 com o texto da Rio+20, o professor culpou o cenário internacional, de crise financeira, pela falta de grandes avanços. Ele também citou a reunião do G20 (que se realizou no México, paralelamente à Rio+20), as eleições na Grécia e até a Eurocopa (campeonato de seleções europeias de futebol). “Não diria que foi pior, mas que não
Divulgação/CNO (Comitê Nacional de Organização)
FHC, com Mary Robinson, da Irlanda, e Gro Brundtland, da Noruega: críticas à falha de liderança e danos irreversíveis
Severn Suzuki mantém a coerência e a veemência, passados 20 anos
Projeto Oásis tem alcance nacional e chega ao Vale do Paraíba A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza lançou no dia 19 de junho a expansão nacional do Projeto Oásis, iniciativa de pagamento por serviços ambientais (PSA) que a partir daí é configurável a qualquer município do Brasil. Tudo muito bem planejado, a começar do evento paralelo promovido pela Fundação com o tema “Arranjos institucionais para projetos de Pagamento por Serviços Ambientais na América Latina e no Brasil”. De resultados já comprovados desde 2006, ao premiar financeiramente proprietários particulares de terra que conservam
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suas áreas naturais e de mananciais, e que adotam práticas conservacionistas de uso do solo, a Fundação Grupo Boticário desenvolveu em 2011 um novo modelo de PSA, lançado agora na Rio+20. “Nosso objetivo é que o Projeto Oásis ganhe escala nacional e, por isso, foi criado esse novo modelo que tem como diferencial a possibilidade de ser configurável a qualquer município do Brasil”, explica a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes. Menos de um mês após a Rio+20, ocorreu a primeira replicação da expansão
nacional do Projeto Oásis com a assinatura do termo de cooperação com a Prefeitura de São José dos Campos (SP) para apoio à sua implementação nesse município do Vale do Paraíba. O Oásis está implantado em São Paulo (SP), Apucarana (PR), São Bento do Sul (SC) e Brumadinho (MG), totalizando mais de 200 proprietários contratados e 2 mil hectares de áreas naturais protegidas. Em São José dos Campos estão previstas ações em preservação e conservação de serviços ecossistêmicos, como produção de água, proteção e manutenção
Nova metodologia O coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação, André Ferretti, explica que todo projeto de PSA, para poder ser colocado em prática, tem que ter minimamente um arranjo institucional (conjunto de instituições que atuem diretamente na gestão do projeto) e as fontes de financiamento. Contudo, ao longo dos anos em que desenvolveu o Projeto Oásis e participou de discussões sobre PSA, a Fundação Grupo Boticário percebeu que também havia outros dois gargalos que inviabilizavam a implantação efetiva dessas iniciativas: um deles era a definição do valor dos serviços ambientais e quanto seria pago aos participantes do projeto; outra dificuldade era a gestão em si do projeto (como definir áreas prioritárias e critérios de seleção de propriedades, modelo de contrato, monitoramento dos resultados, entre outros).
José DAmbrosio
Malu: “projeto configurável a qualquer município” José DAmbrosio
vel e com diretrizes bem constituídas é um ponto fundamental para levarmos o projeto para empresas parceiras, garantindo transparência e legitimidade nesse processo”, afirma. Ao estimular a conservação de áreas de vegetação nativa e sua biodiversidade, a produção de água, a adoção de boas práticas de conservação e uso do solo, bem como o incremento de renda aos proprietários de terra envolvidos, em diferentes regiões do país, “a Fundação Grupo Boticário espera contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das regiões beneficiadas por meio de uma alternativa de conservação que coloca o próprio produtor rural à frente do processo”, destaca sua diretora-executiva, Malu Nunes.
Ferretti: “proprietários incentivados a práticas conservacionistas”
Divulgação PMSJC
da biodiversidade, estabilidade do solo contra erosões, purificação do ar, conforto térmico da área urbana, beleza cênica, controle de enchentes, controle natural de pragas e produção de alimentos. De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, André Miragaia, a implementação do Projeto Oásis na cidade é muito importante. “Estamos muito honrados e confiantes com a celebração desta parceria. É uma soma de forças. A expertise de instituições como a Fundação Grupo Boticário, que tem casos de sucesso na implantação do PSA em diversas regiões do país, será fundamental para nos ajudar a estruturar e gerir o programa em São José dos Campos, beneficiando o proprietário rural que preservar os serviços ecossistêmicos, e como consequência, toda a sociedade”, ressalta. A implantação do programa de PSA em São José dos Campos depende de um arranjo institucional que envolverá outros parceiros. Eles poderão oferecer recursos técnicos e operacionais para viabilizar a recuperação de áreas, a exemplo da Fundação Grupo Boticário por meio do Projeto Oásis. Além disso, há o objetivo de formar um fundo, no qual empresas, poder público e outras instituições possam destinar recursos financeiros que serão utilizados para remunerar proprietários rurais pelos serviços ambientais promovidos por suas propriedades. Segundo Paulo Valadares, secretárioexecutivo da Associação Corredor Ecológico, que também é parceira do programa de PSA em São José dos Campos, a implantação do pagamento por serviços ambientais vem agregar valor para um bem natural que até então é ignorado pela sociedade. “A criação de um fundo auditá-
Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), a beleza cênica está entre os componentes das ações de preservação e conservação do Projeto Oásis
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Especial - Rio+20
Conceitos da Cúpula da Terra • Economia Verde - no contexto de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza, definida apenas como ferramenta possível, sem fixar regras • Oceanos - fica para 2014 a discussão sobre o desenvolvimento de um plano de resgate das águas em alto-mar
Fundação Grupo Boticário foi uma das ONGs que debateu a sério práticas socioambientais com seleto grupo de especialistas
“Ciente dessas dificuldades existentes no Brasil e em função da crescente demanda pelo Projeto Oásis, a Fundação Grupo Boticário identificou a oportunidade de criar um novo modelo do Projeto Oásis que contribuísse para suprir essas necessidades”, afirma Ferretti. Por isso, em 2011, a instituição desenvolveu um modelo inédito de cálculo de pagamento por serviços ambientais (PSA) e que foi lançado em junho. A nova metodologia contempla uma fórmula de cálculo padrão para a valoração ambiental das propriedades. “A valoração é o processo em que se estabelece o preço dos serviços ambientais prestados. A metodologia do Projeto Oásis não tem como objetivo, puramente, a valoração do serviço ambiental, mas sim incentivar os proprietários rurais a modificarem a maneira de uso da terra quando essas não estiverem em consonância com as práticas conservacionistas”, destaca Ferretti. A fórmula-padrão do novo cálculo considera o tamanho da área a ser contratada (que inclui a área natural e a área em restauração) e o custo de oportunidade (a renda que a área a ser contratada poderia gerar caso fosse utilizada para produção agropecuária). Também integra o cálculo a soma de notas de avaliação da propriedade em relação à conservação das áreas naturais (como conectividade entre as áreas naturais dentro e fora da propriedade), aos recursos hídricos (como presença
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de nascentes preservadas), à produção agropecuária (como existência de agricultura orgânica certificada) e à proteção (como ter alguma ação de fiscalização para proteção da área natural). “Essa fórmula pode ser configurada a diferentes realidades, pois leva em consideração a área de implantação, ecossistemas abrangidos, características social e econômica dos atores envolvidos, expectativas dos compradores do serviço ambiental e/ou financiadores do projeto, além das questões pertinentes ao executor do projeto”, diz Ferretti. Além de uma nova fórmula de cálculo, foi desenvolvido um sistema informatizado de gerenciamento online que auxilia as instituições parceiras a planejar e estruturar seus projetos locais, definir o cálculo de valoração ambiental, selecionar proprietários, monitorar e avaliar os resultados. A Fundação Grupo Boticário repassa gratuitamente a metodologia do Projeto Oásis e o sistema de gerenciamento para as entidades – prefeituras, comitês de bacias hidrográficas, consórcios, empresas, ONGs, entre outras – que se comprometam a implantar o projeto em parceria com a instituição. A Fundação atua como parceira técnica, orientando e acompanhando o processo de implementação. Cabe aos executores buscar fontes financiadoras para viabilizar o projeto e fazer o pagamento das premiações financeiras aos proprietários de terras.
• Pobreza - considerada o maior desafio do mundo, mas sem definição de novas formas de financiamento para erradicá-la • Biodiversidade - colocada nas áreas temáticas, apenas reafirmando compromissos de conferências anteriores e no âmbito da Convenção da Biodiversidade Biológica Fonte: O Estado de S. Paulo
Lacunas apontadas pelas ONGs • Economia Verde - não há um “mapa do caminho” claro indicando como será feita a transição para uma economia sustentável; caiu do texto sob pressão do G 77 • Oceanos - não saiu a decisão de lançar um acordo para proteger o alto-mar, como esperado; decisão foi adiada sob pressão de EUA e Venezuela • Dinheiro - não há compromisso financeiro para financiar as ações de desenvolvimento sustentável. O documento não pede claramente o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis • Mulheres - a menção aos direitos reprodutivos femininos foi cortada do texto por pressão do Vaticano, do Chile e de países árabes
Fonte: Folha de S. Paulo
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Especial - Rio+20
PREFEITOS
fixam compromissos
Eduardo Paes (terceiro à esquerda): “A cidade se sente obrigada a cumprir os desafios assumidos aqui. O Rio será guardião desse compromisso”
Meta é evitar a emissão de 1,3 bilhão de toneladas de gases causadores do efeito estufa até 2030; 248 milhões das quais já em 2020 Gabriel Arcanjo Nogueira*
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Cúpula dos Prefeitos saiu-se melhor que suas similares, ao ser palco do anúncio, já no dia 19 de junho, da meta acertada pelo grupo C-40, com 59 integrantes, de evitar a
emissão de 1,3 bilhão de toneladas de poluentes até 2030. Trata-se de potencial, segundo os mandatários, que supera o que México e Canadá poluíram juntos em 2008.
* Com informações da Agência Brasil, do jornal O Estado de S. Paulo e Assessorias de Imprensa. Fotos Agência Brasil
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Até 2020 as maiores cidades do mundo terão reduzido em até 248 milhões de toneladas as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com os prefeitos de Nova York, Michael Bloomberg, e do Rio de Janeiro,
Eduardo Paes, durante o encontro anual desses governantes. Paes afirmou que o compromisso do C-40 não é apenas uma carta de intenções, mas sim um desafio assumido pelos municípios. “A cidade se sente obrigada a cumprir os desafios assumidos aqui. O Rio será guardião desse desafio.” “As megacidades já estão implementando estratégias de redução de gases de efeito estufa. Todas as cidades do C-40 têm programas. Não esperamos os governos nacionais tomarem a dianteira e aprovarem recursos”, disse Bloomberg, que é também o presidente do grupo. Ele citou Nova York como exemplo e disse que a cidade reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 13% nos últimos cinco anos. Parcerias sustentáveis Bloomberg também anunciou o lançamento de uma parceria com o Banco Mundial, de criar um site com as melhores práticas entre as cidades do C-40, além de identificar similaridades entre políticas, estratégias de financiamento e parcerias sustentáveis. A reunião dos prefeitos começou no dia 18 de junho no Forte de Copacabana, na zona sul do Rio, e durou todo o dia seguinte, paralelamente aos demais trabalhos na Rio+20. Em 2011 esse grupo de cidades respondeu por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) global ou US$ 13 trilhões. Essas cidades também são as que mais poluem no planeta e detêm 14% das emissões globais de gases de efeito estufa. A previsão é de que, se nada for feito, em 2030 essas cidades produzirão 2,3 bilhões de toneladas de emissões de poluentes. O C-40 foi criado em 2005 e reúne as maiores cidades do mundo com o objetivo de criar ações locais sustentáveis por meio de troca de experiências, assistência técnica e parcerias. Pioneirismo carioca Em sintonia com esse compromisso assumido em fórum tão categorizado o Rio de Janeiro, no início de 2013, será a primeira cidade do hemisfério sul a ter um sistema de monitoramento da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e já agora, em 2012, deve superar a sua meta de reduzir a emissão de poluentes em 8%, aproximando-se de 9% no ano. Quem garante é a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), órgão central do Sistema Municipal de Gestão Ambiental. Ao lembrar que a
Prefeitura carioca participa desde a fundação desse notável conselho de governantes, que é o C-40, a SMAC adianta que até 2020 as cidades que integram o grupo já estarão com suas emissões de GEE em torno de 45% do previsto para aquela data. “Cidade de ponta” Definindo-se como “a grande articuladora deste processo”, por ser “hoje uma cidade de ponta na tecnologia de combate ao aquecimento global, com sua Política de Mudanças Climáticas que estabeleceu metas de reduções, o Rio foi a primeira cidade da América Latina a atualizar o Inventário de GEE”. A Secretaria vê como seu maior legado a mobilização e conscientização da sociedade civil, para atingir seus objetivos. Para isso conta com 45 mil pessoas comprometidas com a sustentabilidade. Em termos práticos, dos bairros monitorados na cidade, o Centro, São Cristóvão e Copacabana apresentam os melhores níveis de qualidade do ar. E, de forma regular, os bairros de Irajá e Campo Grande são constantemente monitorados. O que é feito pela Prefeitura no seu Centro de Operações, que permite o acompanhamento permanente da qualidade do ar em tempo real. São diversos pontos fixos de monitoramento e um móvel, espalhados pela cidade, que possibilitam chegar a esses índices e acompanhá-los, levando-se em conta que servem tanto para medir a qualidade do ar quanto para subsidiar políticas públicas socioambientais.
Bloomberg, de Nova York e presidente do grupo, à frente dos governos nacionais
Prefeitos de megacidades buscam implementar estratégias antipoluidoras e firmam parceria com o BID para identificar similaridades
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Especial - Rio+20
Decisão determina agenda pelo mundo A decisão dessas metrópoles, tomada na Rio+20, vai ser determinante na adoção de práticas sustentáveis no mundo. A avaliação é de Iêda Novais, diretora da KPMG no Brasil, empresa de consultoria internacional. “Esse tipo de acordo é que vai fazer com que a questão da sustentabilidade nas grandes cidades venha a tomar forma, a partir de agora, para atender às exigências futuras das populações”, disse em meados de julho ao falar de projeto brasileiro da área de energia, classificado entre os 10 mais inovadores de infraestrutura urbana. Para ela, tais práticas determinarão o surgimento de novas “fronteiras” entre cidades, regiões e países, que ultrapassarão a questão geográfica. “As cidades vão competir entre si economicamente e na geração de empregos. As cidades sustentáveis têm melhor clima para atrair investimentos e oferecer mais qualidade de vida às pessoas.” A lista dos 10 melhores consta do relatório global Infraestrutura 100: Cidades Mundiais, apresentado pela KPMG na Cúpula das Cidades do Mundo, em Cingapura, no início de julho.
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Cidades do futuro O relatório mostra como projetos pioneiros na área da infraestrutura podem fazer diferença, contribuindo para o surgimento das chamadas cidades do
Iêda, da KPMG: investimentos garantidos e qualidade de vida
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futuro, locais onde as pessoas querem morar e trabalhar. O Brasil aparece com 10 entre os 100 projetos selecionados, metade das iniciativas apresentadas pela América do Sul. Considerado um dos 10 mais relevantes do mundo, o projeto Cidade Inteligente Búzios foi incluído na categoria infraestrutura de energia urbana e, de acordo com a publicação, responde a um dos maiores desafios do século 21, que é o desenvolvimento da infraestrutura urbana sustentável. Os outros projetos inspiradores listados no relatório são os de Acesso pelo Lado Leste, da cidade de Nova York, na categoria mobilidade urbana; Corredor Industrial Delhi-Mumbai, na Índia, em conectividade global; Desenvolvimento Regional de Oresund, Dinamarca e Suécia, sobre recuperação urbana; Universidade Princess Nora Bint AbdulRahman para Mulheres, de Riad, capital da Arábia Saudita, que trata de educação; Royal London Hospital, de Londres, sobre saúde; Planta de Dessalinização Tuas II, de Cingapura, relativo à água; Cidade Ecológica de Tianjin, Tianjin, da China, sobre cidades novas e ampliadas; Sistema de Esgoto em Túneis Profundos, de Kranji para Changi, de Cingapura, que trata de reciclagem e gerenciamento de resíduos; e Projeto de Cabo do Briocs, da África do Sul e Ilhas Maurício, sobre infraestrutura de comunicações. Nova fronteira Segundo a diretora da KPMG no Brasil, a questão da sustentabilidade foi determinante na escolha dos melhores projetos mundiais de infraestrutura urbana, que são modelos para serem copiados em outras cidades e regiões. “O fundamental é trazer projetos que ajudem os países a ter boas práticas. Ter um modelo.” Para ela, muitas vezes, o que falta às cidades é uma metodologia que possa ser adotada localmente, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), com financiamentos diversos. “Esses projetos podem criar uma nova fronteira, em termos de gestão das cidades”, disse. Esta foi a segunda edição do relatório sobre infraestrutura nas cidades mundiais. Na primeira, divulgada no ano passado, o Brasil entrou com 6 projetos – um deles, o
do trem de alta velocidade, que ligará Rio de Janeiro e São Paulo, apareceu também entre as 10 principais iniciativas globais. De acordo com Iêda, a edição deste ano incluiu projetos “mais encorpados” do Brasil, alguns vinculados a megaeventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Para a diretora da KPMG no Brasil, o objetivo de todos os projetos selecionados é gerar benefícios para as populações. Os países que têm práticas de infraestrutura mais desenvolvidas foram selecionados em todas as regiões do mundo. Os demais projetos brasileiros selecionados na publicação deste ano foram a modernização do Hospital do Subúrbio e o Projeto Integrado de Gestão de Água e Saúde, na Bahia; o Centro de Operações Rio da IBM, o corredor de transporte coletivo Transolímpica, o Porto Maravilha, e o Parque Olímpico, todos no Rio de Janeiro; a primeira parceria público-privada (PPP) do país para a construção e operação de escolas, em Belo Horizonte; a Linha 4 do Metrô de São Paulo; e o Embraport, maior terminal privado multiuso do Brasil, no Porto de Santos, em São Paulo. Mais que competir entre si, porém, as cidades precisam é aprender umas com as outras quando se trata de melhorar a qualidade de vida das pessoas com as boas práticas ambientais. Que o diga o exemplo londrino.
A edição 2012 do relatório traz projetos “mais encorpados”
London 2012
Medidas contemplam fauna, flora e água O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres destacou, em relatório, as medidas tomadas que fizeram, no seu entender, a capital inglesa oferecer ao mundo os jogos mais sustentáveisda história. Entre elas:
Parque Olímpico de Londres, exemplo de sustentabilidade Área e rio recuperados “A limpeza de uma antiga área industrial em Londres, a restauração das águas e do habitat no rio Lea, o tratamento ecológico das cadeias de abastecimento, o baixo consumo de energia desde a concepção até a construção do estádio e a utilização de estruturas temporárias para reduzir as emissões, estão entre as ações que podem ajudar a inspirar os organizadores das Olimpíadas do Rio de 2016 e além”, disse Steiner. Já Spelman garantiu que a sustentabilidade sempre esteve no centro da disputa para sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2012. Tanto que, afirmou, Londres 2012 representa “os jogos mais verdes da história”. “Estamos empenhados em construir um futuro para todos, onde o ambiente natural não é apenas protegido, mas também valorizado como um patrimônio nacional”, disse. “Estamos muito satisfeitos por ter estabelecido novos padrões de desenvolvimento sustentável e por mostrar a experiência e criatividade de empresas britânicas no fornecimento de uma Olimpíada verde, tão bem recebida pelo Achim Steiner.”
• O estádio Olímpico e Paraolímpico mais sustentável da história foi concluído a tempo, com a reutilização de tubos de gás em grande parte da sua construção; • As Olimpíadas e Paraolimpídas de Londres 2012 são as primeiras a medir a pegada de carbono ao longo de todo o projeto; • As Olimpíadas e Paraolimpídas de Londres 2012 são as primeiras a se comprometer a não destinar lixo a aterros, tendo reutilizado ou reciclado 98% do lixo na fase de demolições e 99% na construção do Parque Olímpico; • Londres 2012 se comprometeu a promover viagens a pé e de bicicleta, bem como o uso de transportes públicos, entre habitantes de Londres e turistas; • Londres 2012 também está utilizando um novo guia de avaliação de sustentabilidade desenvolvido pela Global Reporting Initiative, que foi co-fundada pelo Pnuma. Fonte: Pnuma Reprodução Pnuma
A mais cosmopolita das capitais, Londres merece ouro, prata e bronze na modalidade meio ambiente por se apresentar ao mundo como modelo e guia do que é possível ser feito em medidas sustentáveis que servem de inspiração para quem se candidate a promover futuros megaeventos esportivos. A avaliação é do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), às vésperas da abertura dos 30º. Jogos Olímpicos da Era Moderna, que no fechamento desta edição estavam em sua segunda semana de competições. Coube a Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, aprovar as medidas de sustentabilidade ao conferir in loco os preparativos finais para os jogos olímpicos e paraolímpicos de verão de 2012. O OK de Steiner ultrapassa os limites da excelência do estádio olímpico, dos ginásios poliesportivos e das raias olímpicas, supera o desempenho e os recordes dos atletas e contempla a restauração de um rio e a limpeza de zona portuária histórica, constituindo-se num dos principais legados às futuras cidades-sede, Rio de Janeiro à frente na expectativa das próximas Olimpíadas em 2016. “Jogos Olímpicos representam desafios e oportunidades únicas em termos de elevar o nível do terceiro pilar das Olimpíadas — o meio ambiente, que se soma ao esporte e à cultura —, e Londres não é exceção”, disse Steiner em visita ao Parque Olímpico londrino. “Esse conjunto de lições aprendidas, que remete à cooperação do Pnuma com o Comitê Olímpico Internacional desde meados da década de 1990, serve como modelo e guia para cada cidade-sede sucessora e, ainda, para outros megaeventos como a Copa do Mundo da Fifa”, avaliou Steiner ao se unir com Caroline Spelman, secretária de Estado para Assuntos Rurais, de Meio Ambiente e Alimentação do Reino Unido, durante uma caminhada em torno do local.
• O Parque Olímpico foi criado em uma área antes contaminada por atividade industrial e fornece novos habitats para a vida selvagem, bem como a diminuição significativa de inundação;
Steiner, do Pnuma (C), em visita ao Parque Olímpico, destaca a harmonia dos 3 pilares dos Jogos: meio ambiente, esporte e cultura
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Educomunicação
foi destaque na Rio+20 por levar uma nova proposta de abordagem da educação ambiental Divulgação
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evar à sociedade a discussão sobre o ambiente, a sustentabilidade e o futuro do planeta foi, certamente, um grande feito da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em junho, no Rio de Janeiro. Muito se questionou quanto aos resultados obtidos com a conferência e a timidez propositiva da participação dos chefes de estado reunidos em torno da questão da sustentabilidade – uma cobrança, sem sombra de dúvidas, pertinente. No campo das ideias, a conferência propriamente dita contribuiu pouco. Mas a sociedade civil deu uma grande lição de cidadania e 20
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participação, através dos eventos paralelos como a Cúpula dos Povos, fóruns, exposições e protestos. Entre os eventos paralelos, o Pier Mauá concentrou a participação de empresas, ONGs e instituições de ensino, com o intuito de divulgar suas ações no âmbito da sustentabilidade. Entre os estandes – e o alarde das empresas em querer mostrar o quanto estão preocupadas com o futuro do planeta – viram-se ações e discussões extremamente inovadoras e propositivas. O navio do Greenpeace com o “Barco Escola”, as oficinas e apresentações artísticas chamavam atenção para o local, especial-
mente das crianças. Apresentações de trabalhos, fóruns e debates ocorriam nos estandes, e a Educomunicação foi uma das propostas que se destacou entre ideias ali discutidas. A prática educomunicativa e sua estreita relação com a educação ambiental, este foi o tema levantado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em sua participação no “Stand da USP na Rio+20”, divulgando a Educomunicação como uma nova proposta de abordagem da educação ambiental. O destaque dado ao tema propiciou à ECA, que inicialmente apresentava a proposta
O navio do Greenpeace esteve entre as atrações no megaevento...
... que contou com o estande da USP e suas propostas inovadoras...
... além da criatividade da sociedade civil com a mais legítima lição de cidadania
juntamente com demais trabalhos da Universidade, um estande próprio com uma finalidade: apresentar e discutir a Educomunicação e como ela pode construir uma mobilização dos diferentes segmentos populacionais em torno de propostas como a construção de uma sociedade sustentável. A Educomunicação é uma nova área de trabalho, que utiliza a comunicação e seus instrumentos para desenvolver práticas educativas e cidadãs criando um novo campo de conhecimento que envolve as tecnologias da informação e a gestão compartilhada dos processos e relações. No ensino, a educomunicação é uma ferra-
menta para tornar a informação e o conhecimento socioambiental acessível, adotando princípios e valores como do consumo consciente, desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente. Tornar a produção e difusão do conhecimento socioambiental acessível às comunidades em áreas de preservação já é uma das ações previstas pelo Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que promove Educomunicação como política pública. Além das pesquisas em nível de pósgraduação e dos projetos realizados, a Universidade oferece à sociedade uma grande contribuição através da Licenciatura em Educomunicação, que tem como meta formar profissionais capacitados a agir no âmbito da interface comunicação e educação. A educomunicação não é, todavia, uma criação da Universidade. Ela é antes de mais nada a sistematização de uma prática, que foi fruto do movimento latino-americano de resistência dos anos 50, 60, 70 para o direito à informação e que hoje pode ser implementada em diferentes ambientes (escolas, centros de cultura, setores governamentais, ONGs, veículos de comunicação, entre outros). Segundo o professor Ismar Soares, coordenador da Licenciatura em Educomunicação da ECA-USP: “Ao sistematizar essas práticas, o objetivo é garantir que essas iniciativas ocupem um espaço efetivo na sociedade, beneficiando o maior número possível de pessoas. O momento atual é de garantir que essas experiências, que tiveram as ONGs como pioneiras e que vem conquistando muitos resultados, se transformem em políticas públicas, como ocorreu com ProNEA”. O Programa Nacional de Educação Ambiental e Agricultura Familiar objetiva algumas ações, como o mapeamento das boas práticas e disseminação por meio de vídeos, assim como o apoio a editais para registro de experiências em diversas linguagens. O Ministério do Meio Ambiente também prevê a qualificação e ampliação da abordagem da mídia com relação às Unidades de Conservação, estimulando a ampliação de processos educomunicativos relacionados com a temática. Há também no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a proposta da implementação de uma Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em Resíduos Sólidos, com mapeamento de experiências e definição de estratégias de educação ambiental e comunicação social. Ou seja, há muito trabalho e um grande desafio pela frente.
Thiago Garcia
Gabriela Nakano
Para além das críticas, que não foram poucas, há um mérito inquestionável da Rio+20 que foi o de colocar o Brasil e o mundo em torno de uma reflexão: o futuro que queremos e o que podemos fazer para mudar a situação atual. Com os olhos do mundo voltados para o Brasil, que será sede da próxima Copa do Mundo, da próxima Olimpíada e que, naquele momento, discutia este futuro que queremos para o planeta, a repercussão das atividades propositivas e das discussões em torno de novas ideias – como a educomunicação – mostrou que a sociedade exige ações inovadoras e mais claras no âmbito da preservação ambiental.
Thiago Muniz Garcia e Gabriela Caroline Nakano foram os representantes da Escola de Comunicações e Artes e do Núcleo de Comunicação e Educação da USP na Rio+20, sob coordenação do Professor Ismar de Oliveira Soares, coordenador da Licenciatura em Educomunicação da ECA-USP. Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
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Especial - Rio+20
CRISE vista como Especialistas europeus avaliam as possibilidades de recuperação econômica a partir de propostas sustentáveis elaboradas na Rio+20 Camila Turriani Bertoldo, de Viareggio (Itália), Especial para NEO MONDO
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omo conciliar o desenvolvimento econômico-social à preservação ambiental? A questão foi proposta pela primeira vez na conferência organizada pelas 22
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Nações Unidas em 1972 em Estocolmo, iniciativa pioneira para tentar organizar as relações entre o homem e o meio ambiente. Quarenta anos depois, a interrogação ainda é a mesma.
No contexto atual de crise mundial, em particular de elevada recessão em grande parte da Europa, questiona-se sobre as possibilidades de pensar em um crescimento
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com equilíbrio. A crise seria um freio à sustentabilidade para uns, mas para outros um novo modelo baseado na economia verde constituiria a solução para a recuperação econômica. Christian de Perthuis, professor de economia da Universidade de Paris-Dauphine, que dedica sua investigação científica à economia do clima e ao crescimento verde, entende que os objetivos da Rio+20 não poderão ser alcançados seguindo as regras atuais. “Temos de encontrar novas alavancas de gestão de riscos e financiamento. Uma das melhores maneiras seria introduzir um preço do carbono em nível internacional que permita encontrar novas fontes de financiamento.” Esta é a tese que defende em seu mais recente livro Et si le changement climatique nous aidait à sortir de la crise?, escrito em parceria com Anaïs Delbosc (Le Cavalier Bleu éditions, 2012), ainda sem tradução no Brasil.
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sustentável, com as questões ecológicas no centro das atenções, e ao mesmo tempo recuperar o sistema econômico. A conferência organizada pela ONU no Rio de Janeiro, em junho, a Rio+20, tentou dar algumas respostas ao mobilizar governos, sociedade civil, bancos e setores privados, entre outros segmentos. Ao final do evento, quase 700 compromissos foram voluntariamente assumidos representando centenas de bilhões de dólares. A questão econômico-financeira, entretanto, é que está no centro do debate na Europa. O desenvolvimento sustentável requer fundos de investimento que, no momento, são difíceis de encontrar. NEO MONDO ouviu especialistas na França e na Itália, empenhados em entender as implicações que a conjuntura internacional proporciona a ponto de, quem sabe, fazer da crise oportunidades de crescer
Perthuis defende preço global do carbono que proporcione novas fontes de financiamento, estimadas em mais de 100 bilhões de euros
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Importância dos leilões Perthuis entende que tais ambições poderiam ser conciliadas a um sistema fiscal ambiental ou um mercado de licenças com um sistema de leilões. Na Europa, explica, o leilão de licenças de CO2 poderá representar uma soma na ordem de 30 bilhões a 40 bilhões de euros que permitiriam recuperar os estados. “Estes mecanismos, se introduzidos numa esfera internacional, poderão atingir valores superiores a 100 bilhões de euros. Os chineses parecem ter entendido isso: no quadro do 12o. plano quinquenal eles testarão diversos sistemas de mercado de carbono doméstico”, conta. Na visão de Francesco Morace, sociólogo, professor na Universidade Bocconi de Milão e presidente da Future Concept Lab (empresa de pesquisa de mercado com filial no Brasil), a crise é sem dúvida um fator de estímulo ao desenvolvimento sustentável. “Um empresa que não pensa em termos de sustentabilidade no futuro próximo não terá nenhuma possibilidade de sobreviver”, diz.
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Acelerador x contenção Para Morace, a crise coloca em evidência a contradição do sistema – empresarial, industrial e financeiro – devido justamente à falta de sustentabilidade dos modelos atuais de mercado. “Vejo a crise como um acelerador dos valores da sustentabilidade”, comenta. Já o presidente da organização italiana Fundação para o Desenvolvimento Sustentável, Edo Ronchi, acredita que a recessão, seja da finança pública seja dos investimentos privados, incidirá negativamente sobre as perspectivas da economia verde na Europa. A empresa pública europeia vive sob o impacto de um grande corte, procurando-se
Financiamentos inovadores Alain Trannoy, economista, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), em Marselha, e membro do Conselho Econômico para o Desenvolvimento Sustentável (CEDD) francês, diz que a realização dos objetivos da Rio+20 seria possível, apesar da crise, se se considerassem financiamentos inovadores, tais como um imposto sobre operações financeiras em escala mundial, uma taxa sobre passagens aéreas, ou seja, a emissão de rendimentos constantes para financiar investimentos em energia renovável e economia energética. Ele acredita que estamos ante “uma das deficiências do acordo do Rio de Janeiro”, visto que “este aspecto não foi abordado. A crise financeira pesou sobre o acordo do Rio, na medida em que a Europa, que sempre esteve na vanguarda da questão do aquecimento global, recuou por estar muito preocupada com seus problemas internos”. Segundo Trannoy, a ambição de uma ação ambiental e a exigência de uma res-
Trannoy propõe fim de subsídios a atividades agrícolas poluidoras e criação de imposto sobre emissão de CO² e demais poluentes
tauração das contas públicas e da competitividade são objetivos que estão longe de ser contraditórios. Ele argumenta: “Os dois objetivos podem ser parcialmente compatíveis e vou citar dois exemplos de como isso é possível. Em muitos países, certo número de subsídios pagos pelos estados financia atividades poluentes, por exemplo, na agricultura. Dando um fim a esta prática, contribuir-seia para restaurar as contas públicas e a retomar práticas mais respeitosas à natureza. A questão do financiamento da Previdência Social é um dos principais problemas que dificultam a recuperação das contas públicas. Em vez de obter o financiamento para a seguridade social, principalmente por meio de um imposto sobre os rendimentos do trabalho e, em menor medida, por um imposto sobre rendimentos de capital em alguns países, seria mais justo que parte do financiamento viesse de um imposto sobre as emissões de CO2 e sobre as atividades poluentes em geral”.
‘Nossa pátria’ a perigo
Ronchi: com alto custo do dinheiro e recessão da finança pública e de investimentos privados condicionando a evolução da economia verde, prevalece a incerteza
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reduzir os gastos públicos em todas as direções para conter o débito. Portanto, para Ronchi, esta contenção reduz a capacidade de os estados europeus investirem em pesquisas e melhorar suas políticas verdes. “O custo do dinheiro é alto, os bancos têm maior dificuldade em conceder créditos, e o viés da green economy requer inovação e investimentos. Algumas atividades como a energia renovável, que neste ano ainda teve um forte crescimento, poderão seguir adiante da mesma forma; mas, em geral, será a recessão a condicionar as possíveis evoluções em matéria green na Europa. Por ora, é tudo muito incerto”, avalia.
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Especial - Rio+20
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Estima-se que até 2050 a população mundial passe de sete a nove bilhões de pessoas, o que implicará uma crescente demanda de energia e recursos naturais. As questões da Rio+20 constituem um desafio importante para o bem-estar das gerações futuras. Como diz o etólogo italiano Danilo Mainardi, a ecologia ensina que o mundo é a nossa pátria. Pena que esteja a perigo, segundo números alarmantes da ONU: • o mundo tem hoje 7 bilhões de pessoas – em 2050, seremos 9 bilhões; • uma em cada cinco pessoas – 1,4 bilhão – vive atualmente com 1,25 dólar ou menos por dia; • 1,5 bilhão de pessoas no mundo todo não têm acesso a eletricidade; • 2,5 bilhões não dispõem de vaso sanitário; • cerca de 1 bilhão passam fome todo dia; • a emissão de gases de efeito estufa está em alta, e mais de 1/3 de todas as espécies conhecidas poderá desaparecer se as mudanças climáticas continuarem sendo ignoradas.
Boa Notícia para o Leitor e o ANUNCIANTE NEO MONDO acaba de receber a chancela da Lei Rouanet Lei Federal de Incentivo à Cultura (Nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), conforme número Pronac 111052. A revista atinge um patamar de excelência sociocultural e quem ganha com isso é, principalmente, o leitor e o ANUNCIANTE. Este, na qualidade de patrocinador, poderá abater 4% de seu Imposto de Renda e deduzir até 70%. Você é um dos nossos convidados a participar de Reunião, na qual vamos detalhar o quão importante é usufurir desse instrumento legal que, ao instituir politicas públicas para a cultura nacional, permite a sua viabilização pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Seja um de nossos parceiros na promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais. Além de se beneficiar dos incentivos fiscais, você fará parte do seleto grupo de empresas e cidadãos que investem em cultura, fomentando a cultura nacional e valorizando a sua marca junto ao público. Para confirmar presença, contate-nos: (11) 2679-1690 - Instituto Neo Mondo O INSTITUTO NEO MONDO É O 1º GRUPO MULTIMÍDIA SOCIOAMBIENTAL DO BRASIL! Produtos: Revista impressa (70 mil exemplares/mês), Revista eletrônica, Portal NEO MONDO (aprox. 400 mil acessos/mês), News Letter (100 mil e-mail mkt/mês), WEB TV (JORNALISMO) e Site NEO MONDO TV.
Atenciosamente,
Instituto
OSCAR LOPES LUIZ Presidente do Instituto Publisher da Revista
Neo Mondo A
25 Um olhar consciente
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Coisas que eu vi
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RIO+20:
uma grande farsa
Pessoas envolvidas pela aura da esperança foram enganadas pela grande comédia em que se transformou o evento
T
erminado o evento Rio+20, os brasileiros que se interessam, agora com muito vigor, já que a grande maioria se diz preocupada com questões ambientais, fazem a pergunta. O que serviu e para quem serviu esse encontro internacional que pretendia discutir os problemas do planeta? O governo e a ONU afirmam que o conclave foi muito proveitoso e trouxe resultados proveitosos. Para nós que estamos acostumados a cobrir acontecimentos importantes, a Rio+20 não passou de uma grande farsa, toda montada para enganar pessoas envolvidas por essa aura de esperança por melhores dias para o mundo em que vivemos. Então, vamos aos fatos. A começar pela Cúpula dos Povos montada num aterro, que outrora foi praia e que o homem criminosamente roubou da natureza. Ali, os promotores da Rio+20 resolveram agrupar todos os movimentos voltados para questões ambientais. Venderam stands e agruparam empresas muitas delas que participam da ideia ambiental apenas como pano de fundo, e que fazem parte daquele grupo da “mentira ecológica”. Havia também movimentos engajados nos verdadeiros projetos ambientais, alguns deles fora do “perímetro pago” e que montaram suas tendas ou barracas improvisadas para divulgar seus projetos. Os índios se espalharam pela cidade e foram agrupados em compartimentos diferenciados tais como parques, praças ou colônias e até pátios de instituições. O importante
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Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
para os organizadores da Rio+20 era afastar qualquer possibilidade de contato dos movimentos contrários àqueles que estavam no palco principal do encontro. Mas voltemos à Cúpula dos Povos, nome pomposo e que não correspondia à verdade dos fatos. Uma desorganização total. Dois dias antes da inauguração do evento, os coordenadores da Cúpula não tinham mapa, nem localização dos stands, e alegavam a doença de uma arquiteta como desculpa para a imensa falha. E no dia do seu início o barro se espalhava pelo espaço devido às chuvas, e quem quisesse participar teria de arrumar um jeito, misturando-se com vendedores ambulantes e também com aquelas figuras grotescas que se utilizam desses momentos para aparecer em cena, banheiros montados em banheiros químicos mal cuidados e sempre muito sujos. O objetivo estava sendo alcançado: dificultar aqui, pra não atrapalhar lá no palco oficial. E os movimentos que se resolvessem sozinhos. Nessa hora, pensamos como vai ser a organização da Copa do Mundo daqui a dois anos e os Jogos Olímpicos daqui a quatro anos, porque muitos dos jogos do mundial serão realizados fora do eixo Rio-São Paulo onde naturalmente a estrutura hoteleira, hospitalar e de transportes é menos ruim. A Rio+20 é um espelho para nos projetar esse futuro. Pois bem. O palco estava montado. A cidade com um policiamento que chegava a assustar, o trânsito infernal, até porque os movimentos marginalizados começaram a conversar entre si e resolveram montar protestos no centro
da cidade como forma de se fazer ouvir. Aí, a confusão foi total. Ninguém se entendia, e os soldados da segurança resolveram dar uma mão aos homens do trânsito e a confusão ficou mais aguda. A cidade viveu momentos de verdadeira balbúrdia provocando reações de revolta da população. Era feriado, ou ponto facultativo, e as pessoas que ficaram no Rio resolveram curtir a cidade e a festa ecológica, mas elas só tinham acesso aos eventos paralelos. Lá, no palanque oficial do Rio Centro, somente as autoridades oficiais e a mídia oficial, digase Rede Globo. Até mesmo os moradores da vizinhança para entrar nas imediações teriam de mostrar as provas de residência. A pequena imprensa e a mídia que tem como foco, as questões ambientais ficaram de fora, sem espaço, sem poder transmitir qualquer informação. Percebe-se que a cidade ficou dividida em dois polos. De um lado aqueles que queriam participar, e que tinham certamente muito a dizer, e que ficaram espalhados e dispersos nos cantos do Rio, e o outro no palco oficial da Rio Centro onde dirigentes não muito preocupados com decisões sobre questões ambientais se agruparam para dizer ao mundo que estavam preocupados com a pobreza, com o analfabetismo e com as condições sub-humanas em que vivem determinadas populações, e para dizer também que a defesa do meio ambiente era muito importante, mas em nenhum momento disseram o que fazer, nem como fazer. O documento final da Rio+20 fala de maneira tênue e abstrata sobre a necessi-
Stephan Hale. “Faltou visão e capacidade para encontrar caminhos e o texto final sobre oceanos foi piorado em relação à versão anterior. Não se decidiu nada sobre a biodiversidade marinha, em áreas além da jurisdição nacional e o texto só diz que vamos esperar até 2015 para tomar uma decisão”. A Rio+20 foi um fracasso épico segundo esses representantes de entidades defensoras dos mares. Miko Schwartzman lembrou que os mares são o ecossistema menos protegido do mundo e que os Estados Unidos, Japão, Rússia, Canadá e Venezuela, países que têm na pesca uma atividade econômica, recusaram-se a assinar qualquer documento que implicasse na mudança de comportamento em relação às questões marinhas “A Venezuela teve uma conversão repentina ao capitalismo” – ironizou Matthew Gianni, consultor de políticas da Coalisão pela Conservação do Alto Mar. “ É como trocar as cadeiras de lugar no deck do Titanic” – disse Kumi Naidoo, diretor-executivo da Greenpeace sobre a Rio+20. O que encontramos nesse encontro foi a constatação de que as corporações poluidoras e aquelas que destroem o meio ambiente ainda mandam no mundo e decidem o caminho a ser seguido, um caminho onde a ambição está acima de qualquer preço. “A ONU não está representando os interesses dos povos na medida em que os atores que causaram a crise são os mesmos que propõem as soluções” – disse Darci Frigo, ativista brasileiro dos Direitos Humanos. Até mesmo a chanceler Angela Merkel não veio, não viu, mas não gostou e manifestou sua decepção com os resultados da Rio+20, expressando que os resultados não estão à altura do que teria sido necessário. E o presidente do Equador Rafael Correa disse que a Rio+20 foi um fracasso e classificou a declaração final como lírica. Tudo continua igual e os países que mais poluem continuam mantendo posições esdrúxulas e subjugando o resto da humani-
Humberto Mesquita
dade aos seus padrões de comportamento. As multinacionais falam uma coisa e atuam diferentemente, continuando a envenenar o planeta. Até a Igreja se decepcionou com a Rio+20 porque o Vaticano, de forma confusa, projetou discussões sobre a adoção de políticas para a reprodução humana, que não entrou na pauta dos trabalhos ou se entrou ninguém tomou conhecimento. A grande verdade é que o mundo continua brincando do “faz de conta”. Não bastam as grandes catástrofes, os tsunamis, as inundações, maremotos e terremotos, nem as inconstâncias climáticas, as respostas constantes e os alertas que a natureza tem dado ao homem. A ambição desenfreada do ser humano ainda está presente até o dia em que ele se aperceber que certo são os pensamentos indígenas: “Um dia a terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar o homem branco a reverenciar a sagrada terra. Aí então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição”. Quando a última árvore tiver caído. Quando o último rio tiver secado Quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.
Jornalista, Escritor e Editorialista. Apresentador de TV e Rádio. ABr
dade de preservar o meio ambiente e combater a pobreza. Num planeta vitimado pelos crimes ambientais e em meio a uma crise econômica sem precedentes, os 191 lideres reunidos no Rio de Janeiro apenas repetiram promessas feitas há 20 anos, adiando decisões que o mundo apontava como urgentes, e o documento de 53 páginas fixou 2015 como a nova meta em favor da sustentabilidade global. Enquanto isso, a Cúpula dos Povos organizada pela sociedade civil com a coordenação incompetente da ONU e que teve a participação de 50 mil ativistas, indígenas, estudantes e religiosos fervia desordenadamente e protestava contra o “cenário de mentira e desilusões”, e no seu texto final disse que a Rio+20 repetiu o livro falho de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocam a crise global. Para não dizer que a Rio+20 foi um fiasco total poderíamos enumerar um lado positivo que foi o encontro dos movimentos na Cúpula dos Povos e que podem agregá-los em futuras manifestações em favor do planeta. A grande maioria dos participantes só teve palavras de críticas ao malogrado encontro. Foi tudo uma grande comédia da qual participaram representantes de 191 países do mundo inteiro. A imprensa internacional deu destaque ao fracasso e deu mais ênfase aos movimentos paralelos nascidos na Cúpula dos Povos. A mídia nacional só falou quando cinquenta mil pessoas resolveram protestar no centro do Rio de Janeiro. Os ativistas, de um modo geral, falam em “decepcionante e vergonhoso encontro de gente sem vontade de mudar”. “Não há prazos, não há medidas, não temos nenhuma garantia de nada”, – disse Shoron Burrow, que representa milhões de membros da chamada Confederação Sindical Internacional. “A Rio+20 deveria ser um ponto de virada não houve sinais disso” – disse
Manifestações de toda ordem chegaram a reunir 50 mil ativistas que tomaram ruas centrais do Rio de Janeiro Neo Mondo - Juljo/Agosto 2012
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Mercado de carbono: Rumo à fragmentação
Participantes tiveram a oportunidade de discutir projetos e tendências do mercado
A
maior feira internacional de mercado de carbono aconteceu entre os dias 30 de maio e 01 de junho na cidade de Colônia, Alemanha. Diversos temas foram abordados durante o evento, mas os que receberam maior destaque foram as discussões em torno do valor atual dos créditos de carbono e os mercados paralelos que estão se desenvolvendo em outros países. O valor dos créditos de carbono é influenciado por diversos fatores e atualmente está abaixo das expectativas. Além de um excedente de permissões existente no mercado europeu, causado em parte pela crise econômica e pela diminuição na produção, a
Mesa-redonda com Christiana Figueres, secretária-executiva da UNFCCC
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Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
falta de ambição em termos de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) também contribui para um mercado com mais oferta do que demanda. Essa situação desestimula o investimento em novas tecnologias, pois acaba sendo muito mais barato comprar créditos do que investir internamente em redução de emissões. O mercado de carbono europeu continua ligado às negociações internacionais no âmbito das Nações Unidas, não apenas por ter sua origem no Protocolo de Quioto, mas também em razão das correntes discussões sobre o segundo período do Protocolo, reformas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e criação de novos mecanismos de mercado. No entanto, além das ações em âmbito internacional, iniciativas nacionais ganham cada vez mais força. Nesse contexto, é importante o diálogo entre diferentes atores, tanto do governo quanto da iniciativa privada. A secretária executiva da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, esteve presente na Carbon Expo e enfatizou que a adoção de medidas de combate às mudanças climáticas é uma corrida para ser executada em conjunto entre iniciativas nacionais e internacionais. Figueres ressaltou que os países tem sido perseverantes e ainda acrescentou que “o impossível não existe - é só uma questão de atitude”.
De fato, apesar das negociações internacionais para um novo acordo climático estarem evoluindo a passos lentos, diversos países, entre eles o Brasil, já assumiram compromissos nacionais voluntários para reduzirem suas emissões de GEE. Alguns países, inclusive, já adotaram legislações específicas para lidarem com os desafios das mudanças climáticas, como é o caso do Brasil e do México. Outros países, por sua vez, já estabeleceram regulações internas para o desenvolvimento de seus próprios mercados de carbono, como é o caso da Austrália, da Nova Zelândia, dos Estados Unidos (no Estado da Califórnia) e do Canadá (na província de Québec). Esses novos mercados devem entrar em funcionamento entre 2013 e 2015. Além desses países, Brasil e China também foram destaques na feira com a apresentação de planos de implementação de novos mercados em seus territórios. O Rio de Janeiro, por exemplo, foi representado por Suzana Kahn, subsecretaria estadual de Economia Verde, em uma sessão para discutir desafios e oportunidades no design e na implementação desses novos mercados. Kahn mencionou as características do mercado de emissões a ser criado pelo governo do Rio, cujas regras seriam divulgadas durante a Rio+20, bem como estudos sendo realizados pelo governo federal para a implementação de um mercado nacional até 2018. Ao se ter
o Rio de Janeiro como projeto piloto, a ideia central é que a experiência adquirida com esse sistema possa ser usada no futuro por outros Estados brasileiros e possa, inclusive, auxiliar o desenvolvimento de um mercado nacional. Vale lembrar que a própria lei instituidora da Política Nacional sobre Mudança do Clima faz referência direta ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. Outra iniciativa brasileira que foi mencionada durante a Carbon Expo 2012 foi a criação da Bolsa Verde do Rio de Janeiro. A BV Rio é uma bolsa para a negociação de ativos ambientais que vai transacionar créditos florestais e de carbono. Em razão dessa fragmentação do mercado de carbono com diversos sistemas emergindo e cada qual com suas próprias regras, nesta edição da Carbon Expo muitos debates e eventos paralelos discutiram
os desafios relacionados com a ligação de futuros mercados e a viabilidade de se ter a longo prazo um mercado de carbono global. Caso a ligação entre os mercados aconteça, é certo que a harmonização de regras depois que instrumentos tão complexos como mercados de carbono já estão implementados pode ser bem mais complicada e demorada. As discussões atuais deixam bem claro que a estrutura do mercado de carbono mudou bastante e é muito mais fragmentada. A própria regulação do mercado europeu já sofreu significativas alterações desde a sua criação em 2005 e muitas mudanças ainda devem acontecer. De fato, o uso de mecanismos de mercado como instrumentos de política ambiental vem crescendo e se diversificando, requerendo dos profissionais um conhecimento cada vez maior dos diferentes sistemas para poderem identificar as oportunidades.
Mercado de Carbono: visão geral, volumes e valores, calendário 2010-2011 Mantendo a tradição dos últimos anos, o Banco Mundial lançou durante a Carbon Expo a nova edição 2012 do relatório “Estado e Tendências do Mercado de Carbono”. De acordo com o relatório, o valor total do mercado de carbono cresceu 11% no ano passado, tendo sido negociados 176 bilhões de dólares e mais de 10 bilhões de toneladas de CO2e. Confira os valores transacionados em 2010 e 2011 na tabela: 2010 Volume (MteqCO2)
2011
Valor (M$US)
Volume (MteqCO2)
Valor (M$US)
Natascha Trennepohl
Correspondente especial de Berlim – Alemanha
Apesar da crise econômica e das incertezas em torno do futuro do mercado de carbono, a Carbon Expo teve aproximadamente 2.500 participantes de diferentes partes do mundo. Além de ser uma plataforma de negócios para pessoas e empresas que estão diretamente envolvidas com o mercado de carbono, a feira também promove seminários, workshops e sessões paralelas nas quais os participantes recebem informações atualizadas sobre o mercado e as tendências. A feira possui uma área ampla para expositores e a edição deste ano contou com 199 expositores de 67 países. A próxima edição da feira acontecerá em 2013 na cidade de Barcelona, Espanha. Em 2014 a feira volta a ser realizada na Alemanha.
Transação de cotas EUA
6,789
133,598
7,853
147,848
AAU
62
628
47
318
RMU
-
-
4
12
NZU
7
101
27
351
RGGI
210
458
120
249
CCA
-
-
4
63
Outros Subtotal
94
151
26
40
7,162
134,935
8,081
148,881
Mercados spot e secundário de compensações de Quioto CERs secundários
1,260
20,453
1,734
22,333
ERUs secundários
6
94
76
780
Outros
10
90
12
137
1,275
20,637
1,822
23,250
Subtotal
Profissionais de diferentes setores se encontraram na nona edição da feira na Alemanha
Transação de projetos (mercados primários) CREs primários pré-2013
124
1,458
91
990
ERUs primários pós-2012
100
1,217
173
1,990
ERU primário
41
530
28
339
Mercado voluntário
69
414
87
569
Subtotal
334
3,620
378
3,889
8,772
159,191
10,281
176,020
TOTAL
Fontes: Banco Mundial, Forest Trends-Ecosystem Marketplace para base de dados sobre o mercado voluntário e Thomson Reuters Point Carbon para os dados sobre as cotas da Califórnia. Subtotais e Totais podem não corresponder devido a arredondamentos.
Fotos: Koelnmesse
Natascha Trennepohl Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim. E-mail: natdt@hotmail.com *foi membro da delegação brasileira que esteve na COP 15. Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
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Carbon Market:
Towards Fragmentation
Participants had the opportunity to discuss projects and market trends
T
he largest international trade fair for the carbon market took place between 30 May and 1 June in Cologne, Germany. Several issues were raised during the event, but those who received greater emphasis were the discussions around the current value of carbon credits and the parallel markets are developing in other countries. The value of carbon credits is influenced by several factors and is currently below expectations. In addition to an existing surplus of allowances in the European market, caused in part by the economic crisis and the decrease in production, the lack of ambition in terms of targets, for
Roundtable with Christiana Figueres, executive secretary of the UNFCCC
30
Neo Mondo - July/August 2012
reducing emissions of greenhouse gases (GHGs), also contributes to a market with more supply than demand. This situation discourages investment in new technologies, it becomes much cheaper to buy credits than to invest in reducing emissions domestically. The EU carbon market is still connected to the international negotiations under the United Nations, not only because it have its origins in the Kyoto Protocol, but also because of the current discussions on the second period of the Protocol, the reforms in the Clean Development Mechanism and the creation of new market mechanisms. However, in addition to international actions, national initiatives are getting stronger. In this context, there is a important dialogue between different actors, both government and from private enterprise. The executive secretary of the United Nations Framework Convention on Climate Change, Christiana Figueres, was present at the Carbon Expo and emphasized that the adoption of measures to combat climate change is a race to be performed jointly by national and international initiatives. Figueres stressed that countries have been persevering and added that „there is no such thing to the impossible - it‘s just a matter of attitude“.
In fact, while negotiations for a new international climate agreement are progressing at a slow pace, several countries, including Brazil, have already made voluntary commitments to reduce national GHG emissions. Some countries even have adopted specific legislation to deal with the challenges of climate change, such as Brazil and Mexico. Other countries, in turn, have established internal regulations for the development of their own carbon markets, such as Australia, New Zealand, the United States (in the State of California) and Canada (the province of Quebec). These new markets should become operational between 2013 and 2015. Besides those countries, Brazil and China were also featured at the fair with a presentation of implementation plans for new markets in their territories. Rio de Janeiro, for example, was represented by Suzana Kahn, state assistant secretary of “Green Economy”, in a session to discuss challenges and opportunities in the design and implementation of these new markets. Kahn noted the characteristics of the market to be created by Rio’s government, whose rules would be published during the Rio +20, as the studies being conducted by the federal government to make possible the implementation of the national market by 2018. By having Rio de Janeiro
as a pilot project, the key idea is that the experience gained with this system can be used in future by other Brazilian states and can even assist in the development of a national market. Remember that the very law that created the National Policy on Climate Change makes direct reference to the development of the Brazilian Emissions Reduction Market. Another Brazilian initiative mentioned during the Carbon Expo 2012 was the creation of the Green Stock of Rio de Janeiro. The Rio GS (Green Stock) is a exchange stock for the negotiation of environmental assets that will transact forestry and carbon credits. Because of this fragmentation of the carbon market, with several emerging systems, and each one of them with their own rules, in this issue of Carbon Expo many debates and side events discussed the chal-
lenges associated with the connection of future markets and the viability of having a long-term global carbon market. If the connection between the markets happen, it is certain that the harmonization of rules after instruments as complex as carbon markets are already in place can be more complicated and time consuming. The current discussions make it clear that the structure of the carbon market has changed considerably and are much more fragmented. The regulation itself of the European market has chance significant since its inception in 2005 and many changes will happen. In fact, the use of market mechanisms as instruments of environmental policy has been growing and diversifying, requiring professional knowledge of the growing of different systems in order to identify opportunities.
Carbon Market: An Overview, volumes and values, calendar 2010-2011 Keeping the tradition of recent years, the World Bank launched during the Carbon Expo 2012 the new edition of the report „ State and Trends of the Carbon Market 2012”. According to the report, the total carbon market grew 11% last year, having been traded 176 billion and more than 10 billion tons of CO2e. Check the values traded between 2010 and 2011 in the table: 2010 Volume (MteqCO2)
2011
Valor (M$US)
Volume (MteqCO2)
Valor (M$US)
Natascha Trennepohl
Special Correspondent Berlin - Germany
Despite the economic crisis and the uncertainties surrounding the future of carbon markets, Carbon Expo had approximately 2,500 participants from different parts of the world. Besides being a platform for business people and companies who are directly involved in the carbon market. The fair also organizes seminars, workshops and parallel sessions in which participants receive updated information about the market and trends. The fair has a wide area for exhibitors and this year featured 199 exhibitors from 67 countries. The next edition of the fair held in 2013 in Barcelona, Spain. In 2014 the fair should be held back in Germany.
Transação de cotas EUA
6,789
133,598
7,853
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AAU
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628
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RMU
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Outros Subtotal
Mercados spot e secundário de compensações de Quioto CERs secundários
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20,453
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ERUs secundários
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Transação de projetos (mercados primários) CREs primários pré-2013
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ERUs primários pós-2012
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Mercado voluntário
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159,191
10,281
176,020
TOTAL
Fontes: Banco Mundial, Forest Trends-Ecosystem Marketplace para base de dados sobre o mercado voluntário e Thomson Reuters Point Carbon para os dados sobre as cotas da Califórnia. Subtotais e Totais podem não corresponder devido a arredondamentos.
Profissionais de diferentes setores se encontraram na nona edição da feira na Alemanha Photograph: Koelnmesse
Natascha Trennepohl Attorney and environmental consultant Master of Environmental Law (UFSC) PhD student at Humboldt University in Berlin E-mail: natdt@hotmail.com Neo Mondo - July/August 2012
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IAF Press/Cannes Lions
Os leões da criatividade: lições do maior Festival de Ideias do planeta
Palais des Festivals em Cannes na França
P
ara muita gente, o símbolo para uma grande ideia já não é mais a lâmpada acesa. É um leão. Mais especificamente um leão de Cannes, na França, onde acontece todos os anos o maior Festival Internacional de Criatividade do mundo, premiando as melhores ideias com estatuetas do rei da floresta. Se o mercado é uma selva, nada melhor do que leões para representarem as grandes ideias. Com a concorrência feroz que existe em praticamente todos os ramos de atividade, ter ideias fortes e corajosas é questão de sobrevivência. A edição de 2012 do Festival de Cannes comprovou isso mais uma vez. Uma das primeiras grandes lições do Festival é a de que grandes ideias podem vir de qualquer parte do planeta, independentemente de qualquer indicador do país de origem. Em um mundo conectado e com rápido acesso a uma incrível quantidade de informações e referências, há uma crescen-
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Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
te democratização do processo criativo. Hoje o lugar de origem de uma ideia é um simples detalhe. Empresas e marcas são cada dia mais cosmopolitas, fazendo com que o país de origem de um produto seja menos relevante para o consumidor. A empresa criadora do jogo Angry Birds não se apresenta como uma empresa finlandesa de entretenimento, mas simplesmente como uma empresa de entretenimento. É o que observa um dos palestrantes em Cannes, Fredrik Härén, autor do livro Um mundo. Uma empresa. Mais importante do que a origem da ideia, é a velocidade com que ela se espalha e o nível de engajamento que ela gera. Com o fenômeno das redes sociais é possível medir o impacto de uma ideia em tempo real. O que antes precisaria de dias ou semanas para ser avaliado, agora precisa de horas ou minutos. O jornal inglês The Guardian, bastante premiado no festival de Cannes neste ano, ilustra essa
realidade de forma brilhante com um comercial que mostra como seria a história dos “três porquinhos“ nos dias de hoje. No filme, a conhecida história ganha ares dramáticos e um roteiro frenético, onde os três porquinhos geram participação ativa da população no desenrolar dos fatos e dividem a opinião pública, sendo considerados vilões por alguns e vítimas por outros. O poder da conectividade em tempo real foi o tema central da apresentação sobre o Twitter no Festival. Para o Twitter, a missão principal da plataforma é trazer o usuário para mais perto dos fatos, oferecendo uma “cadeira na fileira da frente“ diante dos eventos. Através de tweets, todo mundo passa a ser uma fonte de informação em potencial, valorizando os mais diversos pontos de vista e aumentando a velocidade e a transparência no relato dos fatos. O impacto do Twitter na indústria das comunicações foi reconhecido com um dos grandes prêmios do Festival, o de Homem
O Festival de Cannes também mostrou que uma grande ideia transcende gerações. Mesmo com a chegada de novas tecnologias, um conceito baseado em uma verdade humana universal mantém a sua força. Para comprovar isso, o Google Lab criou o Projeto Rebrief, onde o desafio foi adaptar clássicos da propaganda para o mundo digital. De autoria do cineasta Doug Pray, o documentário do Projeto Rebrief é inspirador. O Google Lab convidou criadores de campanhas bem-sucedidas nos anos 60, já aposentados, para sentarem com criativos da nova geração e traduzirem a mensagem da campanha clássica para as ferramentas de comunicação de hoje. O resultado surpreendeu a todos. Uma das campanhas recriadas foi a da CocaCola, sendo inclusive premiada com leão no Festival de Cannes em 2012. A campanha original, veiculada nos anos 60, mostra um belo coral no topo da montanha, composto por pessoas das mais diferentes origens e raças. A letra do Coral resume a ideia, dizendo: “Eu quero dar uma CocaCola para o mundo.“ A versão digital desse conceito usou a tecnologia atual para realizar o desejo daqueles que cantavam no coral: dar um Coca-Cola para o mundo. A Coca-Cola disponibilizou máquinas especiais para o refrigerante em vários países. Ao invés de comprar apenas para si, a máquina passou a dar ao consumidor a possibilidade de comprar uma lata para outra pessoa retirar
Rafael Pimentel Lopes
Correspondente especial na Alemanha
em outra parte do mundo. E mais: além de dar uma Coca-Cola para o mundo, o consumidor ainda pode gravar uma mensagem que será exibida quando a outra pessoa ganhar a lata de refrigerante da máquina. Casos como o Projeto Rebrief do Google Lab sugerem que a criatividade deve ser prioridade em toda e qualquer empresa, e não apenas em agências de publicidade ou outras indústrias tradicionalmente criativas. A gigante Kraft Foods, por exemplo, não mede esforços para manter o seu próprio laboratório de inovação. Mesmo sendo uma grande multinacional, a empresa ressalta a importância de se manter um espírito de startup, reunindo talentos de diversas áreas para solucionarem problemas e colaborarem em projetos experimentais. Colaboração foi uma palavra-chave em Cannes. Com o domínio das redes sociais, fica evidente o potencial para a co-criação de produtos e serviços, bem como para a mobilização de todos no sentido de ajudar entidades que visam promover desenvolvimento social em diferentes partes do globo.
IAF Press/Cannes Lions
de Mídia do Ano, conferido a Jack Dorsey, criador e co-fundador da rede social. As discussões sobre as redes sociais destacaram o impacto daqueles que são frequentemente temas de conversa e campeões de seguidores na Internet: as celebridades. Com os canais online, os fãs se aproximaram ainda mais de seus ídolos, aumentando a influência e o efeito multiplicador das personalidades. O Festival contou com a presença de alguns desses grandes fenômenos, entre eles a cantora Selena Gomez, o lutador George Saint-Pierre, o grupo pop coreano 2NE1 e o ex-jogador Ronaldo – que falou como o Brasil está se preparando para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas. Apesar do surgimento contínuo de novas tecnologias que impulsionam ainda mais a velocidade das mudanças, muitas vezes o progresso está exatamente em resgatar o que ficou perdido no passado. É o que mostra o grande vencedor do Festival de Cannes na categoria filme: a animação para a rede de restaurantes Chipotle. O comercial campeão, chamado de De volta para o começo, mostra um fazendeiro e o aumento desenfreado da sua produção de carne suína, levando ao extremo confinamento dos animais e a processos pouco sustentáveis. No final do filme, ao observar seu impacto ambiental, o fazendeiro toma a decisão de voltar atrás e restabelecer as práticas sustentáveis de quando era apenas um pequeno produtor.
Ronaldo, um dos Fenômenos presentes no Festival que premia os melhores
Jack Dorsey recebe o prêmio “Media Person of the Year”
Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
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Rafael Pimentel Lopes Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School 34
Neo Mondo - Julho/Agosto 2012
IAF Press/Cannes Lions IAF Press/Cannes Lions
Bill Clinton, à frente da Fundação que leva o seu nome, desejaria ter 20 anos a menos
Grandes ideias fazem toda a diferença e merecem a estatueta do leão, num mercado que é uma selva
IAF Press/Cannes Lions
A fundação Bill & Melinda Gates aproveitou os criativos presentes no Festival e ofereceu U$ 100.000 para quem tivesse uma ideia que realmente ajudasse a vencer seu grande desafio: mobilizar as pessoas que não doam para instituições beneficentes por acreditarem que o dinheiro não é bem empregado, ou pior, que é desviado. A história de sucesso da fundação Gates comprova que é possível conseguir grandes resultados através de doações, desenvolvendo programas contra a fome, tratamento contra AIDS e vacinas para crianças em áreas remotas. Outra fundação que marcou presença em Cannes foi a de Bill Clinton, representada pelo próprio ex-presidente, que foi ao Festival a convite do grupo ABC, a maior holding de agências de comunicação do Brasil e da America Latina. Clinton destacou que vivemos um momento de muitas possibilidades e que gostaria de ter vinte anos novamente para ver o que vai acontecer. Para o ex-presidente americano, é bom saber que hoje com as novas ferramentas de comunicação, as pessoas comuns têm muito mais condições de provocar mudanças do que antes. No entanto, para ser um agente catalisador das mudanças que o nosso planeta precisa, não basta ter acessos às novas tecnologias e ferramentas de comunicação. Ter uma ideia ainda é fundamental. Você pode até imaginar que com o volume de informações disponíveis em questão de segundos, ter ideias hoje em dia seja tarefa mais fácil. Mas se por um lado existe mais input, por outro se exige muito mais capacidade de digerir as informações, o que não necessariamente facilita o processo criativo. Daí a importância de celebrar as grandes ideias com os leões do Festival Internacional da Criatividade em Cannes. O esforço de criar e implementar uma ideia merece ser reconhecido e aplaudido. Afinal, grandes ideias fazem toda a diferença. E com os grandes desafios que o planeta enfrenta e vai enfrentar, vamos precisar cada vez mais delas. Que venham novos leões.
Aproximadamente 11 mil participantes de mais de 90 países
IAF Press/Cannes Lions
The lions of creativity:
lessons of the largest Festival of Ideas on the planet
Palais des Festivals in Cannes in France
F
or many, the symbol for a great idea is no longer the light lamp. It’s a lion. More specifically the lion from Cannes, France, where it happens every year the biggest International Festival of Creativity in the world, rewarding the best ideas with statues of the king of the forest. If the market is a jungle, nothing better than lions to represent the great ideas. With fierce competition that exists in practically all branches of activity, be strong and courageous ideas is a matter of survival. The 2012 edition of the Cannes Film Festival proved it once again. One of the first great lessons of the Festival is that great ideas can come from anywhere in the world, regardless of any indication of country of origin. In a connected world and with quick access to an incredible amount of information and references, there is an increasing democratization of the creative process. Neo Mondo - July/August 2012
Today the place of origin of an idea is a simple detail. Companies and brands are increasingly cosmopolitan, making the country of origin of a product less important to the customer. The creator of Angry Birds game is not presented as a Finnish entertainment, but simply as an entertainment company. It notes that one of the speakers in Cannes, Fredrik Haren, author of “One World. A company “. More important than the origin of the idea, is the speed with which it spreads and the level of engagement it generates. With the social networking phenomenon is possible to measure the impact of an idea in real time. Rather, it would need days or weeks to be assessed now requires hours or minutes. The English newspaper The Guardian, much prized at Cannes this year, illustrates this reality brilliantly with a commercial that shows what the story of “three little pigs” today.
In the film, the familiar story gets air and a dramatic script frenzy, where three little pigs generate active participation of the population in the course of events and divide public opinion, being considered by some villains, and victims by others. The power of real-time connectivity was the central theme of the presentation on the Twitter Festival. For Twitter, the primary mission of the platform is to bring the user closer to the facts, offering a “chair in the front row” before the event even begins. Through tweets, everyone becomes a potential source of information, highlighting the most diverse points of view and increasing the speed and transparency in reporting the facts. The impact of Twitter in the communications industry was recognized as one of the great prizes of the Festival, the Media Man of the Year, awarded to Jack Dorsey, creator and co-founder of social networking.
nologies, a concept based on a universal human truth maintains its strength. To prove this, Google has created the Design Lab Rebrief, where the challenge was to adapt traditional advertising to the digital world. Authored by filmmaker Doug Pray, the documentary Project Rebrief is inspiring. Google Lab invited creators of successful campaigns in 60 years, now retired, to sit with the new creative generation and translate the message of classic communication tools of today. The result surprised everyone. A campaign has been recreated from Coca-cola, including being awarded with the Lion at Cannes in 2012. The original campaign, broadcast in 60 years, shows a beautiful coral at the top of the mountain, composed of people from different backgrounds and races. The letter of Coral summarizes the idea, saying: “I want to give a Coca-Cola to the world.” The digital version of this concept used current technology to fulfill the desire of those who sang in the choir: take a Coca-Cola to the world. The Coca-Cola has released special machines for the refrigerant in several countries. Instead of buying just for you, the machine started to give the consumer the ability to buy a can for another retreat in another part of the world. Plus, besides giving a Coca-Cola
Rafael Pimentel Lopes
Special German Correspondent
to the world, consumers can even record a message that appears when the other person that win the can of soda from the machine. Cases like Google Lab Project Rebrief suggest that creativity should be a priority in any company, not just in advertising agencies or other traditional creative industries. The giant Kraft Foods, for example, strives to maintain its own laboratory for innovation. Although a large multinational, the company emphasizes the importance of maintaining a spirit of startup, talents from different areas to solve problems and collaborate on experimental projects. Collaboration was a key word in Cannes. With the field of social networks, it is clear the potential for cocreating products and services, as well as the mobilization of all entities in helping to promote social development in different parts of the globe.
IAF Press/Cannes Lions
Discussions about social networks highlights the impact of those who are often topics of conversation and champions of followers on the Internet: the celebrities. With online channels, fans even closer to their idols, increasing the influence and leverage personalities. The Festival was attended by some of these great phenomena, among them the singer Selena Gomez, the fighter George St. Pierre, the Korean pop group 2NE1 and former player Ronaldo - who spoke as Brazil is preparing for the World Cup and for the Olympics. Despite the continuous emergence of new technologies that drive even more the speed of change, progress is often exactly rescue what was lost in the past. This is shown by the big winner at the Cannes Film Festival in the category movie: the animation for the restaurant chain Chipotle. The commercial champion, called “Back to the beginning,” shows a farmer and uncontrolled increase of its pork production, leading to extreme confinement of animals and unsustainable processes. At the end of the film, noting its environmental impact, the farmer decides to go back and re-establish sustainable practices when it was just a small producer. The Cannes Film Festival also showed that a great idea transcends generations. Even with the arrival of new tech-
Ronaldo, one of the phenomena present in the festival that awards the best
Jack Dorsey receives award “Media Person of the Year”
Neo Mondo - July/August 2012
Rafael Pimentel Lopes Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School Neo Mondo - July/August 2012
IAF Press/Cannes Lions IAF Press/Cannes Lions
Bill Clinton, ahead of the Foundation that bears his name, would have 20 years less
Great ideas make all the difference and deserve the lion figurine, a market is a jungle
IAF Press/Cannes Lions
The Bill & Melinda Gates took the creative gifts in the Festival and offered $ 100,000 to anyone who had an idea that really help to overcome his greatest challenge: to mobilize people who do not donate to charities because they believe that money it’s not well spent, or worse, that is diverted. The success story of Gates Foundation shows that you can achieve great results through grants, developing programs against hunger, and treatment for AIDS vaccines to children in remote areas. Another foundation that was present in Cannes was to Bill Clinton, represented by the former president, who was the Festival at the invitation of the ABC group, the largest holding of communications agencies in Brazil and Latin America. Clinton said that we live in a time of many possibilities and would like to have twenty years again to see what will happen. For the former American president, it is good to know that today with the new communication tools, ordinary people are much more able make a difference than before. However, to be a catalyst of change that our planet needs, not just have access to new technologies and communication tools. Having an idea is still crucial. You can even imagine that with the volume of information available in seconds, get ideas today is easier. But on the one hand there is more input on the other it requires much more ability to digest the information, which does not necessarily facilitate the creative process. Hence the importance of celebrating the great ideas with Lions International Festival of Creativity in Cannes. The effort to create and implement an idea should be recognized and applauded. After all, great ideas make all the difference. And with the great challenges facing the planet and will face, we need more of them. Bring new lions.
Approximately 11 thousand participants from over 90 countries
COLEÇÃO
A coleção “Bullying Bullying Não É Brincadeira Brincadeira” conta com seis livros que abordam questões sobre o preconceito, a diversidade e a inclusão com uma linguagem simples, sensível e divertida. As personagens são cachorrinhos que passam por situações semelhantes àquelas que as crianças vivenciam nas escolas. Traz ilustrações adequadas à faixa etária de 5 a 8 anos, ensinando os pequenos a aceitarem as diferenças para que possam agir com respeito desde a infância. Os textos são da escritora e pedagoga Silmara Rascalha Casadei, com ilustrações de Ricardo Girotto.
VENDAS Oscar Lopes Luiz
(11) 2679-1690 / 8234-4344 oscar@neomondo.org.br Neo Mondo - Outubro 2008
A
Cultura
Uma década de debates literários Com homenagem a Carlos Drummond de Andrade, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) completou dez anos Rosane Araujo
O
público recorde – cerca de 25 mil pessoas – e a ausência de polêmicas, presentes nas edições anteriores, marcaram a décima edição da Flip, que aconteceu de 4 a 8 de julho. O homenageado deste ano foi Carlos Drummond de Andrade, poeta morto em 1987 e que completaria 110 anos em outubro. A exposição “Faces de Drummond” trouxe as diferentes nuances de seu trabalho, expressadas em textos divididos em módulos cronológicotemáticos, como “O Provinciano Cosmopolita” ou “O Funcionário Gauche”. Drummond também foi tema de diversas mesas realizadas durante a festa de eventos especiais como a Cavalgada Cultural, que reuniu 16 cavaleiros vindos de Itabira, a cidade de origem do autor. A Cavalgada percorreu grande parte de Estrada Real, antigo caminho por onde o ouro das Minas Gerais era trazido para ser levado à Europa, partindo do porto de Paraty. Após a chegada dos cavaleiros, houve declamação de poemas por crianças itabiranas que estudam a obra do escritor. Um grupo de lavadeiras ainda apresentou músicas folclóricas tradicionalmente entoadas durante a lavagem das roupas nos rios de Minas Gerais. A delegação da cidade somou mais de 100 pessoas, incluindo o prefeito João Izael Querino Coelho que, 36
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juntamente com o prefeito de Paraty, José Carlos Porto Neto, e com Pedro Drummond, neto do poeta, descerrou uma placa com o poema Confidência do Itabirano. Mas, é claro, o foco da Flip não foi só Drummond. A festa contou, como sempre, com muitas presenças ilustres. Um dos autores mais esperados foi o inglês Ian McIwan, ganhador de inúmeros prêmios literários, incluindo o prestigiado Booker Prize e o Whitbread Award. Seu romance Serena foi lançado mundialmente durante a Flip e só depois sairá nos países de língua inglesa. Trata-se de uma história de espionagem com reviravoltas que prometem surpreender. Na festa, Ian dividiu a mesa literária com outro nome de peso da programação: a escritora norte-americana Jennifer Egan, ganhadora do Pulitzer em 2011, com A Visita Cruel do Tempo. Sua obra O Torreão, lançada nos Estados Unidos em 2006, chegou ao público brasileiro recentemente e conta a história de um nova-iorquino viciado em internet que vai à República Tcheca ajudar um primo a transformar em hotel um castelo que comprou. Com diversos pontos de vista semelhantes, entre eles a defesa da manipulação do leitor por parte dos romancistas, a conversa entre os dois autores durante a mesa literária fluiu sem divergências ou polêmicas e até com tro-
cas de elogios, o que para muitos tornou a atração morna. Outro nome muito aguardado, o norteamericano Jonathan Franzen, autor da coletânea de artigos e ensaios Como ficar sozinho e do romance Tremor, protagonizou uma apresentação sem muito brilho. Seu comportamento, considerado por muitos como excêntrico, acabou recebendo mais destaque do que as ideias apresentadas durante a mesa. A política foi um dos temas centrais da mesa comandada pelos poetas árabes Adonis, autor de Poemas, recém-lançado no Brasil, e Amin Maalouf , criador de O Mundo em Desajuste. A Primavera Árabe e o relacionamento do governo de Barack Obama com os países da região foram alguns dos assuntos abordados pela dupla. Questões políticas também foram o centro da conversa entre o ex-deputado Fernando Gabeira e o ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro Luiz Eduardo Soares. Eles falaram sobre as diversas formas de autoritarismo possíveis. Sobrou até para a presidente Dilma Rousseff. Outros participantes brasileiros que deram o que falar foram os cartunistas Laerte e Angeli. Eles divertiram a plateia falando sobre os limites do humor no Brasil, como lidam com a opinião dos leitores, o futuro da arte de desenhar, entre outros temas.
Walter Carneiro
Walter Carneiro
Dois dos pontos mais comentados do evento, porém, aconteceram somente no último dia da festa. A mesa “Entre Fronteiras”, que contou com o russo Gary Shteyngart e o inglês Hanif Kureishi, teve como temas centrais o humor e o sexo na literatura. A leitura feita pelo poeta Carlito Azevedo de um poema inédito que fez para Carlos Drummond de Andrade, o homenageado da festa, deixou o público emocionado. E a Flip 2012 encerrou com a mesa “Livro de Cabeceira”, quando alguns autores leram trechos de suas obras preferidas. Para a edição de 2013, a curadoria do jornalista Miguel Conde será mantida e o provável homenageado será o alagoano Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas e morto em 1953. Apesar de alguns críticos levantarem a necessidade de reformulação da festa, que estaria ficando desgastada, mudanças radicais no formato foram descartadas pela idealizadora do evento, Liz Calder: “É hora de repensar a Festa, estamos abertos a novas ideias, mas ainda não existe nada de concreto. O formato das mesas deverá continuar o mesmo”. Os fãs de literatura certamente aguardarão ansiosos pela nova Flip. A expectativa é que ela continue dando o que falar e, é claro, muito o que ler.
Na mesa “Los Amigos” os cartunistas Laerte e Angeli falam da profissão de maneira divertida
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Meio Ambiente
Selva de Pedra?
Empresas espanholas investem em tecnologia que faz ruas, prédios e calçadas absorverem poluentes do ar Bruno Molinero, de Palma de Mallorca (Espanha), Especial para NEO MONDO
O
conceito de selva de pedra está prestes a ganhar um novo significado. Se depender de uma série de empresas espanholas do ramo da construção civil, em vez de remeter a um horizonte cinzento onde prédios oprimem pessoas, a selva de pedra vai se aproximar cada vez mais das verdadeiras florestas. Desde o ano passado, essas empresas investem em tecnologias que fazem ruas, prédios e calçadas trabalharem de forma semelhante a uma árvore: absorvendo poluentes do ar. O processo tem um nome científico sério: fotocatálise. Porém, é bem fácil de ser
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compreendido. Assim como a fotossíntese das plantas, que, por meio da luz solar, absorve CO2 do ar, a fotocatálise também utiliza o Sol para absorver outros tipos de poluentes, como por exemplo os compostos à base de nitrogênio e enxofre, responsáveis pela chuva ácida. A tecnologia é aplicada a cimentos e a tintas, que, uma vez nas cidades, ajudam a combater a poluição atmosférica. A partir de uma reação química que transforma a energia solar em energia química, os produtos com fotocatálise conseguem transformar uma grande quantidade de poluentes em substâncias
inertes, ou seja, que não agridem o meio ambiente. Ideal para grandes cidades, os materiais que fazem a fotocatálise absorvem principalmente os compostos à base de nitrogênio, que são produzidos pelos veículos e pela indústria. “Já é possível pensar em prédios inteiros e até avenidas com a tecnologia da fotocatálise. Uma vez que essas construções absorvam os poluentes das grandes cidades, elas terão praticamente a mesma função ambiental de um parque”, diz Fabian Remautt, presidente da Associação Ibérica de Fotocatálise.
ILHAS POSSÍVEIS
A Associação tem como objetivo criar o que eles chamam de “ilha fotocatalítica”. A ideia é criar no meio de uma grande metrópole um lugar onde se possa respirar um ar puro, sem qualquer rastro de poluentes. Isso pode ser feito a partir da aplicação da tecnologia em painéis na frente dos prédios, com materiais especiais no topo dos edifícios e até no asfalto de ruas e calçadas (veja todas as possibilidades no quadro). “Uma das principais missões da Associação é criar as ilhas fotocatalíticas nas grandes cidades espanholas e baixar os níveis de contaminação urbana. Queremos limpar o ar que todos respiramos para melhorar a qualidade de nossas vidas e proteger o meio ambiente”, conta. Além de absorver os poluentes, as ilhas fotocatalíticas buscam pagar uma dívida do setor da construção civil com o meio ambiente. Só as usinas de cimento, por exem-
plo, são responsáveis por 5% de todas as emissões globais de gás carbônico, um dos agentes do aquecimento global. Uma das maiores produtoras de cimento do mundo, a italiana Italcementi, já empregou a tecnologia em seu laboratório, na cidade de Bérgamo. Idealizado pelo famoso arquiteto norte-americano Richard Meier, o novo laboratório não usa apenas o cimento fotocatalítico. Há também 420 painéis fotovoltaicos, vidros que preservam o calor e poços geotérmicos, por exemplo. Isso fez a empresa italiana levar os prêmios “Leed Platinum” e “European Green Building Award”, que contemplam iniciativas sustentáveis dentro da construção civil. Quanto às grandes cidades, a tecnologia ainda pode demorar um pouco a ser implantada. “Mas não é o que esperamos. Queremos ver isso em prática o quanto antes”, conta Fabian.
1. Fachada de prédios a. Adapta Colors: empresa espanhola que fabrica tintas fotocatalíticas b. Ceracasa: fabrica painéis de cerâmica que, aplicados a edifícios, absorvem os poluentes do ar 2. Calçada a. Breinco Bluefuture: empresa especializada em pavimentos, que possibilita a construção de calçadas fotocatalíticas 3. Teto a. Icopal: especializada em impermeabilizações, produz lâminas com capacidade de absorver poluentes 4. Qualquer parte a. FMC Silicates: produz o OFFNOx, produto que pode fazer parte da fórmula de qualquer produto da construção civil, transformando-o em fotocatalítico b. Zeus Química: fabrica pigmentos fotocatalíticos que podem ser aplicados em qualquer parte
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Divulgação
Desenvolvimento sustentável promove competitividade
Coordenador de relações com a comunidade, Liomar Vidal, na Escola Municipal Professora Maria Siqueira Pinto, que foi construída em Bairro Alto com o apoio da Anglo American
E
m um ano em que o tema Sustentabilidade ganhou destaque em praticamente todos os meios de comunicação, faz-se necessária uma reflexão no âmbito empresarial sobre uma questão fundamental das ações ligadas a esta área: como fica a competitividade de uma empresa que realmente adota a prática sustentável em toda a sua plenitude? O primeiro instinto de algumas companhias pode ser desenvolver e adotar alguns princípios sustentáveis apenas para colher as vantagens da comunicação sobre o assunto, agregando valor para sua imagem corporativa. O que começa a ser percebido (e ganha cada vez mais relevância dentro das organizações), entretanto, são os ganhos que as companhias alcançam em termos de produção e, principalmente, competitividade em relação ao mercado. Resumindo: quem utiliza e implementa os conceitos de sustentabilidade desde o 40
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início do planejamento até a negociação final com o consumidor sai na frente na comparação com concorrentes que não adotam estas práticas. Belo exemplo disso foi a participação maciça de empresas na Rio+20. Se na Eco92 a presença corporativa era relativamente tímida, este ano pode-se dizer sem receios que os protagonistas do evento foram as corporações. Nos fóruns destinados às empresas, todas elas provaram que têm as condições financeiras e, sobretudo, o engajamento necessário para fazer a diferença. São elas as responsáveis atualmente por construir os pilares da sustentabilidade no Brasil e no mundo. Estamos falando, claro, daquelas que se empenham em ter uma visão completa, tanto do negócio em que atuam quanto do contexto em que estão inseridas. Para fazer o trabalho de maneira correta, é preciso que as companhias envolvam os diversos públicos que de alguma forma têm
suas rotinas influenciadas pela ação das empresas e entendam, além das suas necessidades, a sua realidade específica. Como exemplo de um trabalho com esta premissa, podemos citar uma ferramenta para as ações sociais adotadas pela Anglo American chamada SEAT (Caixa de Ferramentas de Avaliação Socioeconômica). Trata-se de um sistema de consultas junto a um universo de partes interessadas: vizinhos, comunidades, fornecedores, empregados, prestadores de serviços, segmentos organizados da sociedade, gestores públicos e formadores de opinião, entre outros. A SEAT é aplicada a cada três anos e complementada com a realização de fóruns de debate e de prestação de contas, amplamente divulgados e de participação aberta a todos os interessados. Atualmente, na Unidade de Negócio Níquel da Anglo American, a SEAT está em sua terceira aplicação. A ferramenta está
disponível para download no website da empresa a todos que se interessarem. Ela é reconhecida pelo Banco Mundial como uma das melhores práticas e já recebeu prêmios globais de Iniciativa Corporativa, servindo de benchmarking para outras empresas engajadas com o desenvolvimento sustentável. Com base nos resultados detectados na SEAT, elaboramos o PEC (Plano de Engajamento com a Comunidade), que identifica necessidades e interesses da comunidade local para dar origem a projetos concretos. Um dos pontos essenciais da aplicação da ferramenta é, justamente, esse engajamento de parceiros. O estabelecimento de parcerias, seja com ONGs, governo ou a comunidade, rende os melhores frutos para todos, por vários motivos. Um dos principais deles é delegar as atividades a quem possui o know-how específico e as capacidades necessárias à realização de cada grupo de ações planejadas. Além de mais organizado, o plano elaborado ganha força ao engajar todos em um único trabalho, com objetivos em comum, respeitando limites e agregando valor a todos. Para ilustrar, podemos apontar a atuação da Anglo American nos municípios de Niquelândia e Barro Alto, no estado de Goiás, onde a empresa opera minas e pos-
sui plantas de beneficiamento de níquel. Além do investimento em infraestrutura básica, com a construção de hospital, escolas e centros de aprendizagem industrial, a Anglo American possui parcerias com ONGs como CARE Brasil, Reprolatina, Barong e Agenda Pública. Entre os projetos fomentados estão o desenvolvimento dos empreendedores e fornecedores locais, o fortalecimento institucional, iniciativas culturais e educacionais sobre biodiversidade, a inclusão de jovens pela música e pelo esporte, além da promoção da saúde sexual e reprodutiva. As conquistas são creditadas a todos que atuam em conjunto para alcançá-las. Vale ressaltar que esse conceito de sustentabilidade pode e deve permear qualquer empreendimento, seja um pequeno comércio ou as maiores corporações transnacionais, levando em conta os aspectos ambientais, sociais e, como não poderia deixar de ser, a viabilidade econômica. As empresas podem motivar um impacto positivo nas comunidades em que atuam, gerando emprego, renda e melhorias na infraestrutura, apenas para citar alguns pontos. Mas é a boa gestão pública e privada e o engajamento da sociedade que permitirão que esse impacto positivo se multiplique e seja fixado em base permanente.
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Ricardo Ribeiro
Ricardo Ribeiro Diretor da área de S&SD (Segurança e Desenvolvimento Sustentável) da Unidade de Negócio Níquel da Anglo American.
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Marcio Thamos
Mitologia Clássica: a ninfa Io transformada em novilha
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todo-poderoso Júpiter não se emendava nunca. Era o zeloso pai dos deuses e dos homens, mas em matéria de fidelidade conjugal não poderia ser tido como modelo. Bastava ver um rabo de saia para ficar logo embasbacado. E não se aguentava em si enquanto não tivesse seu desejo satisfeito. Para tanto, inventava os mais variados truques de sedução. Por isso, Juno, a rainha dos deuses, severa esposa, andava sempre desconfiada. Já não estava disposta a tolerar as escapadelas do marido. Um dia, procurando por ele no céu e vendo que em nenhuma parte se encontrava, não teve dúvida: — Ou muito me engano ou esse farrista vai de novo pulando a cerca! E a deusa, esquadrinhando as terras lá embaixo, reparou que em certo ponto uma névoa escura cobria estranhamente a luz do dia. Ora, ora, aquilo era no mínimo suspeito, e Juno resolveu tirar a prova. Sem perder tempo, atravessou os ares e, dissipando as sombras, pousou num bosque da Argólida, na Grécia, onde encontrou ninguém menos do que o marido ao lado de uma linda vaquinha branca. Essa vitela era a ninfa Io, que Júpiter, há pouco perseguira entre o arvoredo. O deus tomara o cuidado de ocultar sua paixão da vista de todos, mas não contava com a astúcia da esposa. Ao pressentir a chegada de Juno, transformou de supetão a amante numa bezerra e ficou disfarçando a cara de tacho. A deusa, como se não desconfiasse de nada, elogiou a beleza da vaquinha, per-
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guntando de quem era e de onde vinha. E Júpiter, para encurtar o assunto e não se comprometer, diz que a novilha tinha acabado de nascer ali mesmo, espontaneamente gerada pela terra... Juno percebeu que essa conversa era só pra boi dormir e, como quem não quer nada, pediu: — Você bem que podia me dar essa vaquinha! É tão bonita... Que fazer? Recusar um presente tão simples à própria mulher causaria desconfianças... O esposo, a contragosto, oferece a bezerra a Juno. Mas a deusa mesmo assim continua com a pulga atrás da orelha. E a pobre Io, sem culpa de nada, passa então a ser vigiada noite e dia pelo pastor Argos, a quem Juno a confiou. Isso significava que a moça não teria nunca a chance de escapar, porque esse guarda tinha cem olhos em volta da cabeça, e enquanto cada par de olhos dormia, os restantes estavam sempre acordados e atentos. Júpiter não pôde mais manter-se à parte. Chamando o deus mensageiro, seu filho Mercúrio, o encarrega de livrar-se do vigia e libertar a atormentada Io. Não há entre os deuses nenhum mais ligeiro e desembaraçado do que este para se desincumbir de uma tarefa. Tão logo recebe o encargo, calça as sandálias aladas e, no instante seguinte, vencidas as distâncias celestes, caminha sobre a Terra. Assumindo a figura de um pastor, vem tocando a flauta de Pã (que acabara de ser inventada). Encantado com o som do instrumento, Argos o convida para sentar-se junto à sombra. Era tudo o que o deus queria. Mercúrio foi sopran-
do melodias numa cadência cada vez mais suave e arrastada, esperando que o olhudo pastor adormecesse. Os cem olhos foram de fato se fechando, mas algum sempre resistia. Então, o deus passou a entreter a sentinela com histórias e mais histórias até que de repente... o último olho do pastor se fecha. Mercúrio ainda lhe toca as pálpebras com a vara mágica para certificar-se de que nenhum olho restava alerta, e de um único golpe corta a cabeça de Argos (Juno, recolhendo depois os cem olhos do pastor, os colocou na cauda do pavão, sua ave preferida). Corre agora a vaquinha pelo mundo. E se abala numa carreira desesperada, porque a deusa atiça atrás dela o moscardo, que lhe vai sapecando o lombo de picadas dolorosas sem parar. Até que, chegando às margens do Nilo, enfim Io encontra a paz, depois que Juno abranda o rancoroso ciúme. Ali então, retomando a figura própria, a ninfa passou a ser cultuada como Ísis, grande deusa do Egito..
Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br
Espaço Gourmet Villa Natural
Alexandra Midori Morita Zanoli
Almondega Vegetariana de chia e proteína de soja texturizada
Ingredientes • 150 gramas de Proteína de soja texturizada granulada • 350 ml de Água • 1 colher de sopa de Pasta de missô • 1colher de sopa de Shoyu • Gengibre em pó a gosto • Chilli em pó a gosto • 1 colher de chá de Sal marinho • 2 colheres de sopa de Azeitona verde picadinha • 1 unidade Alho poró picadinho • 100 gramas de Semente de chia • 3 colheres de sopa Farinha branca • 3 colheres de sopa de Farinha integral • 3 colheres de sopa Margarina • 40 ml de Azeite extra-virgem • 1 dente de Alho picadinho
Modo de fazer: Hidrate a soja com a água, pasta de missô, shoyu, gengibre em pó, chilli em pó, e o sal marinho, reserve. Refogue o alho poró com um pouco de óleo e reserve. Misture todos os ingredientes com a soja hidratada e o alho poró. Modele as almondegas e leve para assar em forno pré-aquecido a 180°c por aproximadamente 30 minutos. Sugestão de consumo: Sirva com molho de sua preferência, por exemplo, ao sugo fica excelente.
SEMENTE DE CHIA
A chia (Salvia Hispanica) é uma semente de propriedades de dar inveja a muitos outros grãos, cultivada em terras mexicanas e colombianas. É inacreditável como tão pequena e de formato oval pode trazer tantos benefícios a saúde, como prevenção de tumores, auxilio nas doenças do coração e redução de peso entre muitos outros. Na antiguidade os maias e astecas já reconheciam seus valores nutritivos, mas foi mal vista pelos espanhóis católicos que proibiram seu plantio, retomando só em 1990. No Brasil é novidade e poucos a conhecem, mas os adeptos a uma culinária mais saudável vem incluindo essa sementinha em suas dietas. Riquíssima em ômega-3, um nutriente que não é produzido pelo organismo e que é encontrado em quantidades notáveis em peixes, ela torna-se essencial na dieta dos vegetarianos. Além disso também é rica em proteínas. Sem contar que o consumo regular de omega-3 auxilia no aumento do bom colesterol o HDL e diminui o ruim o LDL. Quando a chia entra em contato com a água forma um tipo de gel, pois absorve 12 vezes seu peso em água. Isso no estômago provoca sensação de saciedade auxiliando na redução de peso. Para esta finalidade orienta-se consumi-la meia hora antes das refeições, misturando duas colheres de sopa em um copo de água e consumir imediatamente. Quando o objetivo é a nutrição ela pode ser acrescentada em vitaminas de frutas, saladas, preparações de arroz, feijão, bolinhos e sopas.
Villa Natural Restaurante Rua Cel. Ortiz, 726 - V. Assunção - Santo André
(11) 2896-0065 - www.villanatural.com.br 43
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Formada em Educação Física Pós-graduada em Nutrição Desportiva Pós-graduada em Ginástica Postural Corretiva Professora de Yoga Chef do Villa Natural e Sócia do Villa Natural
A ANGLO AMERICAN CRESCEU JUNTO COM NIQUELÂNDIA, EM GOIÁS. PESSOAS COMO O RUY, QUE ESTÁ CONOSCO DESDE O INÍCIO E QUE TEM UM FILHO QUE TAMBÉM TRABALHA NA ANGLO AMERICAN, SABEM QUE UMA EMPRESA DE MINERAÇÃO PODE LEVAR BENEFÍCIOS A TODA UMA COMUNIDADE. TEMOS ORGULHO DO QUE CONQUISTAMOS JUNTOS E GOSTARÍAMOS DE AGRADECER A TODOS OS QUE NOS AJUDARAM NESSA TRAJETÓRIA. ESTAMOS PRONTOS PARA RUY DE ARAUJO FERREIRA Anglo American, Brasil
CONSTRUIR EM PARCERIA UM FUTURO AINDA MELHOR.
ORGULHO ONTEM, HOJE E SEMPRE. É ASSIM QUE COMEMORAMOS OS 30 ANOS DA CODEMIN. 44
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