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UM OLHAR CONSCIENTE
Ano 1 - nº 5 - Dezembro 2007 - Distribuição Gratuita
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Mercado de carbono CO2 ganha espaço na bolsa
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Filhos por adoção Ongs ajudam a quebrar tabus
pantanal
Desenvolvimento e preservação
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Divirta-se Neo Mondo - Dezembro 2007
com a minha história
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Seções
Editorial
perfil 06 Responsabilidade Social pode reduzir custos operacionais Takashi Yamauchi diz que a sinergia com o Terceiro Setor gera benefícios à empresa.
Chegamos à quinta edição Instituto da Revista Neo Mondo abordando temas variados e Neo apresentando alguns modelos Mondo de atuação do Terceiro Setor Um olhar consciente que demonstram o aspecto verdadeiro desse segmento, que é interagir com os demais setores da sociedade e propiciar desenvolvimento social e econômico. Continuamos com a convicção de realizar um trabalho movido pelo esforço diário de encontrar informações que auxiliem na tomada de decisões voltadas às práticas sustentáveis. Os retornos obtidos nos encorajam a seguir em frente e a aperfeiçoar sistematicamente essa jornada. Nossa matéria de capa é o programa de educação socioambiental Somos Amigos da Terra, que será aplicado a partir do próximo ano e que acreditamos, trará resultados surpreendentes. Temas como a adoção, as conseqüências do aquecimento na economia brasileira, crédito de carbono, segurança alimentar e o nosso belíssimo Pantanal, dentre outros assuntos, recheiam as páginas da Neo Mondo. Boa Leitura!
Economia & Negócios Impactos do aquecimento global na economia Pesquisa irá revelar as principais alterações que podem ocorrer nos agronegócios com o aumento da temperatura global.
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12 Artigo: A importância da comunicação nos projetos sociais Como apresentar aos apoiadores os resultados dos projetos sociais?
10 Tecido de Pet? População desconhece, mas há anos já utiliza roupas feitas com fibras de garrafas Pet capa - Educação Educação inovadora Projeto “Somos Amigos da Terra” propõe a educação ambiental nas escolas para transformar a sociedade.
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Meio Ambiente 17 Artigo: Crédito de Carbono Mecanismo coloca o tema ambiental na pauta dos países desenvolvidos
Liane Uechi
18 Ecologia na prática Vilas ecológicas mostram formas alternativas de organização em sociedade.
20 Artigo: Como mudar culturalmente os hábitos da sociedade? O consumo inconsciente é o maior vilão da sociedade moderna. Saúde Programas contemplam a Segurança Alimentar Fome e desperdício são combatidos em programas de reaproveitamento total de alimentos.
30 Especial 32 Filhos gerados pelo coração Adotar uma criança torna-se mais fácil com o auxílio de grupos do Terceiro Setor.
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cultura 36 Arte no Dique Na “periferia” de Santos, o Instituto Arte no Dique transforma jovens em artistas e profissionais do segmento. turismo Reserva particular do patrimônio natural Sesc Pantanal concilia desenvolvimento e preservação ambiental 42 Classificado Solidário Dicionário Politicamente Correto Dicas Livro
Expediente Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Ricardo Girotto, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina, Eduardo Sanches e Luciana Stocco de Mergulhão Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) e Livi Carolina (MTB 49.103-59) Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Diretor de Criação e Ilustração: Ricardo Girotto Diretor de Arte: Adriano Ferreira Barros Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Fotógrafo: Élcio Moreno Modelo (capa): Henrique Benigno Girotto Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SP Cep: 09190-000 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.com.br redacao@neomondo.com.br trabalheconosco@neomondo.com.br classificadosolidario@neomondo.com.br Para anunciar: comercial@neomondo.com.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.com.br
Aviso 21 Neo Mondo Kids
Devido a problemas mercadológicos, excepcionalmente nesta edição não foi possível a impressão em papel reciclado. Esperamos que o empecilho seja solucionado o Neo maisMondo breve- possível. Dezembro 2007 3
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Perfil
Responsabilidade Social
Pode Reduzir Custos Operacionais A prática da responsabilidade social e ambiental não deve representar um custo a mais para as organizações, ao contrário, deve gerar desenvolvimento para todos os envolvidos. Da Redação
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professor Takashi Yamauchi é um especialista em gestão de Responsabilidade Social, com atuação em diversos estados brasileiros, tendo constituído mais de 2.800 organizações não governamentais. E também é assessor do SIAI - Sistema de Apoio Institucional. Yamauchi, cuja experiência remonta o ano de 1975, se tornou um incansável articulador das questões que envolvem o Terceiro Setor como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento social e econômico. Em suas palestras ele mostra que o setor privado brasileiro ainda realiza atividades sociais por filantropia e benemerência, o que acar-
reta uma despesa a mais. Em contrapartida, desmonstra que o Governo oferece outros caminhos legais para isso, que podem ser revertidos positivamente para o negócio, proporcionando a redução de custos de produção e de carga tributária. É o que ele denomina sistema Ganha/ Ganha. A receita está na sinergia entre os 1º, 2º e 3º setores (Governo, empresas e entidades). Porém, o modo de garantir essa harmonia de atuação demanda conhecimento, uma nova postura de gestão, interpretação das leis e resoluções que norteiam essa questão, além do entendimento do tema “Terceiro Setor“.
BALANÇO SOCIAL
Takashi Yamauchi, especialista em gestão de Responsabilidade Social.
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Assuntos como o Balanço Social ainda geram dúvidas, apesar de já estar inserido nas Normas Brasileiras de Contabilidade, desde 2004, através da Resolução CFC 1.003/04, NBC T15 e pela ABNT NBR 16.001, ou seja, tem força de lei e precisa ser realizado pelas empresas e entidades. Yamauchi defende que não se trata apenas de cumprir uma exigência ou de preencher
mais um documento. “Antes de elaborar o balanço social, a empresa deve adotar uma normalização sobre Responsabilidade Social. Nela, devem estar contidas os procedimentos internos e externos dessa conduta. É necessário alterar a conceituação da prática de todo o processo, substituindo o assistencialismo pela responsabilidade” – disse Yamauchi.
RESPONSABILIDADE NÃO É CARIDADE O tão propagado termo Responsabilidade Social não é para ele, sinônimo de ações de caridade por parte de empresários. Refere-se aos aspectos legais (Respeito às legislações); econômicos (Resultado econômico); éticos (Equilíbrio, justiça, imparcialidade), discricionários (Benemerência, doação, filantropia) e ambientais (Respeito ambiental). Esses itens são visualizados no Balanço Social, através de alguns indicadores básicos: produção, produtividade e qualidade; valor adicionado bruto; rentabilidade; indicador social externo e indicador ambiental. Essa gestão pode ser constatada nos investimentos com tecnologia, com encargos e tributos, além dos quesitos sociais e ambientais. O especialista defende que nesse processo de gestão, a utilização de entidades do Ter-
ceiro Setor traz ganhos para os investidores, pois evita comprometer a estrutura de hierarquia e do capital da empresa. A participação e a coordenação dos trabalhos por intermédio de uma instituição do Terceiro Setor, externo à empresa, garante a forma adequada, transparente e imparcial, agregando uma nova imagem para a organização e suas atividades. Ele vai além, diz que todo esse processo deve envolver e interagir com os fornecedores, clientes, comunidade e funcionários. Sua experiência comprova que essa mobilização garante resultados que propiciam ganhos para todos os envolvidos.
MOEDA MUNDIAL Em suas palestras e entrevistas Yamauchi compara a responsabilidade social e ambiental à uma nova moeda mundial, uma barreira não-tarifária no comércio exterior, imposta pelos organismos internacionais como a OMC (Organização Mundial do Comércio) e OIT (Organização Internacional do Trabalho). Essa “chancela” socioambiental pode ser entendida na análise das normas, regulamentos, ou legislações pertinentes a este tema, no Brasil e no Mundo. No exterior, existe a certificação social SA 8000 (norma baseada nos direitos humanos e na OIT para manutenção e verificação de condições dignas de trabalho) e os procedimentos AA 1000 (Account Ability 1000 ferramenta de gestão da responsabilidade social corporativa), instituindo um novo valor globalizado para o balanço social. No Brasil, a NBC T 15, dispõe sobre balanço social e ambiental, que se originou da Resolução nº 1003/04 do Conselho Federal de Contabilidade, e
normas como a ABNT NBR 16.001, sobre gestão de Responsabilidade Social, além da norma ISO 26.000, em processo de construção. Outro importante avanço está na legislação brasileira de imposto de renda, que propicia uma série de incentivos tributários para as empresas que adotam o processo de Responsabilidade Social e Ambiental. “Ocorre que estes dispositivos não têm sido utilizados adequadamente, a exemplo da Lei Federal nº 9.249/95, artigo 13, parágrafo 2º, inciso II e III” – disse o professor. Essa lei regulamenta a apuração do lucro real e a base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido e as formas de deduções. Nesse novo contexto se inserem as entidades do Terceiro Setor, que podem contribuir com as empresas na execução de seus projetos sociais e ambientais, garantindo às mesmas a redução de custos operacionais e um conseqüente ganho de competitividade nos negócios.
GANHA x GANHA O processo denominado Ganha x Ganha consiste em criar uma linha de atuação direta das empresas com a comunidade e o Terceiro Setor, em que as atividades empresariais complementares podem ser terceirizadas. Também e possível, realizar a aquisição de produtos e serviços de ins-
tituições do Terceiro Setor, com condições de menor custo e sem risco de passivo tributário. Para Yamauchi, além da redução tributária, cria-se assim, uma rede de instituições com sustentabilidade, substituindo o assistencialismo privado por responsabilidade de fato.
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Economia & Negócios
Impactos do AQUECIMENTO G
NA ECONOMIA De que forma o aumento da temperatura global pode afetar os agronegócios? Liane uechi
O
O aquecimento global tem sido um tema exaustivamente comentado e discutido, por todos os setores da sociedade, que buscam soluções e alternativas para detectar as causas e conter o avanço desse processo. No entanto, enquanto isso não acontece de fato é preciso voltar a atenção às conseqüências desse aumento de temperatura. O Brasil é um país que depende economicamente de seus agronegócios, que representam 1/3 do PIB nacional. É indiscutível a interdependência da agricultura às condições climáticas. Dessa forma, a economia do Brasil terá algum tipo de conseqüência nesse processo de aquecimento global. Mas qual será? É exatamente em busca dessa resposta que a Unicamp está participando, por meio do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), de uma pesquisa inédita no Brasil cujo objetivo é determinar que conseqüências o processo de aquecimento global trará para a economia do país. O estudo está sendo financiado pela Embaixada Britânica e irá avaliar o cenário gradual desses impactos nas áreas da agricultura, saúde e energia no período de 100 anos. O resultado desse trabalho, iniciado em junho último e com prazo de conclusão de dez meses, será apontado em um relatório semelhante ao notório Relató-
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“
não se trata de uma previsão, mas de um estudo científico que apontará um cenário o mais próximo possível da realidade
rio Stern, que em 2006 apontou que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial poderá sofrer uma perda de 3% (algo como US$ 1,3 trilhão), caso a temperatura do planeta se eleve em três graus Celsius. No tocante aos agronegócios, os estudos estão a cargo do Cepagri em parceria com a Embrapa Informática, cuja sede está localizada no campus da Unicamp em Campinas. O diretor-associado do Cepagri, professor Hilton Silveira Pinto, explicou que serão analisados os efeitos do aquecimento global para o gado de corte – mais especificamente nas pastagens – e em nove diferentes culturas: algodão, cana-de-açúcar, milho, soja, feijão, arroz, café (arábico e robusto) e mandioca. “Não se trata de uma previsão, mas de um estudo científico que apontará um cenário o mais próximo possível da realidade”, explica. Ele disse que isso é viável porque há informações seguras e oficiais sobre cada cultura existente no Brasil e quais as condições para esses cultivos. “Desde 1996 o Brasil possui um zoneamento de risco agrícola, que diz onde, quando
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e o que plantar em cada município do país” – explicou. Com base nesses valores, que incluem temperaturas e variabilidade de chuvas é possível transportar para um clima futuro e entender as conseqüências, que podem ser negativas ou positivas, dependendo de cada espécie cultivada. O pesquisador explicou que não há intenção de provocar alardes, mas permitir que essas informações auxiliem numa eventual necessidade de reorganização econômica, dando visibilidade, nesse caso, de uma nova geografia agrícola e até mesmo de estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias (melhoramentos genéticos) que permitam adequações, como a introdução de novas espécies e controles mitigadores dos impactos decorrentes das mudanças climáticas. Apontará também quais as regiões que poderão ser mais adequadas ao cultivo de determinadas culturas. “As projeções brasileiras em torno dos impactos do aquecimento global têm sido baseadas em estimativas mundiais, principalmente as formuladas pelo Painel Intergovernamental sobre
O GLOBAL
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), mas precisamos considerar que o aumento da temperatura deverá variar conforme a região de cada país. Para o estudo da agricultura precisamos de uma estimativa mais detalhada” – disse o professor. E é exatamente em busca desse cenário brasileiro que a pesquisa caminha. Para isso, os pesquisadores do Cepagri e da Embrapa Informática contarão com a colaboração do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Cruzando informações sobre clima, relevo, solo, concentração de CO2, imagens de satélite, dentre outros dados, será possível projetar o comportamento da temperatura em quadrantes com 50 quilômetros de área. Estudos anteriores dos pesquisadores do Cepagri e da Embrapa Informática já indicam algumas possibilidades em caso de aumento de temperatura. A pesquisa concluída em 2005 refere-se às culturas de café, arroz, feijão, milho e soja. Na oportunidade, os cientistas alertaram que as áreas de cultivo desses produtos serão drasticamente reduzidas caso a temperatura média do planeta suba 5,8 graus Celsius. Considerando essa condição, o café arábico simplesmente desapareceria dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Nesse caso, as condições climáticas do Sul do país seriam mais adequadas à cultura deste café. Em relação ao arroz, o acréscimo de apenas um grau na temperatura do planeta faria com que a área cultivável caísse de 3,7 milhões para 3,4 milhões de quilômetros quadrados. No pior dos cenários considerados, com 5,8 graus Celsius a mais, a área seria reduzida para somente 1,8 milhão de quilômetros quadrados. Os prognósticos no caso do feijão, milho e soja não diferem muito e no caso de acréscimo de cerca de 5 graus, as áreas aptas para a produção dessas culturas seriam seriamente reduzidas. Algumas delas em mais de 50%, como no caso da soja, que passaria dos 2 milhões de quilômetros quadrados atuais para algo em torno de 900 mil quilômetros quadrados.
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Economia & Negócios
Tecido de A indústria têxtil é a responsável pelo uso de 43% das garrafas Pet recicladas, mas o assunto ainda parece ser novidade. Livi Carolina
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oupa de garrafa Pet? Parece de plástico? Comprá-la é uma forma de ajudar o planeta? Embora a informação de que existem tecidos produzidos a partir da embalagem Pet ainda pareça novidade aos consumidores menos avisados, há anos o Tereftalato de Etileno é usado para a fabricação da fibra de poliéster - misturada na tecelagem, junto com o algodão - basta verificar na etiqueta de sua roupa. A mistura - antes feita somente com o poliéster virgem, ou seja, sem o reapro-
veitamento de garrafas - oferece ao tecido maior resistência e faz com que ele amasse menos, ao contrário do tecido 100% algodão, que tende a formar as desagradáveis “bolinhas” e desbotar mais No entanto, o Pet, tão famoso em forma de embalagens plásticas transparentes e brilhantes de refrigerantes, volta à sua origem ao se tornar matéria-prima para a indústria têxtil, uma vez que as primeiras pesquisas sobre o Tereftalato de Etileno foram baseadas na área têxtil e aplicadas principalmente nos anos 50, quando a produção de algodão ficou
comprometida pela II Guerra Mundial. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de PET (ABIPET), em 2005 foram recicladas no Brasil 174 mil toneladas de embalagens, sendo que 43% foram encaminhadas para a área têxtil. No entanto, somente agora, quando a discussão pela sustentabilidade está em alta, comprar “roupas de PET” virou moda. Sem saber que vestuários, enchimentos de edredons e pelúcias, estofados de automóveis, couro sintético e uma infinidade de produtos têxteis utilizados no dia-a-dia já são há tempos fabricados nessa “versão ecológica”.
Ecológico pela idéia! Responsável pela produção de 2,5 mil toneladas mensais de diversificadas fibras de poliéster, a Unnafibras, desde 1996, quando a palavra sustentabilidade ainda não era tão disseminada no sentido de conservação e continuidade, já enxergava nas sobras da produção de embalagens PET uma saída eficaz para a fabricação de fibras têxteis. O sócio-proprietário, José Trevisan Júnior, conta que quando o grupo de trabalhadores da área têxtil se uniu para formar a Unnafibras acreditavam que a aquisição poderia gerar resultado, porém, era preciso se especializar para fazer a diferença no mercado. Focaram o trabalho no poliéster, mas a matéria-prima virgem estava fora do orçamento disponível, então optaram pelo material alternativo. Segundo Trevisan, este era o período auge da descoberta da Pet pela indústria de bebidas, sendo assim as empresas não tinham a preocupação em reciclar o material e algumas preferiam vender por baixo custo. Com a crescente expansão e o acúmulo após o consumo, a
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reciclagem ganhou força e junto com ela a Unnafibras também pôde ampliar. Em 2001, usando 100% de Pet para composição do produto, a empresa criou a REPET – Reciclagem de Termoplásticos, responsável por comprar, descontaminar, moer, lavar e granular a matéria-prima do poliéster. Atualmente existem duas unidades da REPET, a central em Mauá (SP) que recebe cerca de 62 milhões de embalagens prensadas, já separadas por cores, coletadas pelos 250 fornecedores de todo país, exceto do Nordeste, onde está localizada a filial em João Pessoa (PB), que recebe o material da região. Juntas, as unidades compram por volta de 3 mil toneladas de garrafas que são encaminhadas para a Unnafibras onde o processo para a fabricação da Ecofibra é finalizado, ficando com uma aparência similar a um tufo de algodão.
As unidades da REPET recebem os fardos de embalagens comprimidas já separadas por cores e materiais. Cada fardo contém cerca de 2 mil garrafas. Desfeitos os fardos, o material passa por uma nova triagem para garantir que não haja outro produto misturado. Em seguida a esteira leva à lavagem e a adição de produtos que valorizam o material. As garrafas são moídas, produzindo os flakes, porém, algumas fibras exigem mais uma etapa, em que os flakes são derretidos e transformam-se em tiras. Após secas, essas tiras são cortadas em pequenos pedaços (como é feito na culinária com o nhoque) formando os chamados granulados.
Flake e Granulado
Após secas, essas tiras são cortadas em pequenos pedaços (como é feito na culinária com o nhoque) formando os chamados granulados.
Depois de ser esticado, o produto final – nas mãos do sócio Trevisan – parece um tufo de algodão e é assim que ele é entregue às empresas de tecelagem.
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Economia & Negócios
A importância da comunicação nos
Artaet Arantes da Costa Martins
projetos sociais Sociedade e parceiros precisam conhecer o que tem sido feito pelos projetos que apoiam, mas qual a melhor maneira divulgá-los?
A
comunicação faz parte do nosso cotidiano, nas relações familiares, entre amigos, no trabalho. Afinal ninguém pode adivinhar o que se passa conosco, se não expormos isso de alguma forma. O mesmo acontece com os projetos sociais, se não expressarmos os resultados, provavelmente os outros julgarão que não existem. “Quem não se comunica, se trumbica” - É importante as organizações sociais preocuparem-se em dar visibilidade às suas ações tendo em vista primeiramente seu propósito, contribuir para a transformação social. Portanto, suas atividades são de interesse público e podem impactar diretamente na vida de sua comunidade e na sociedade. “Quem não é visto não é lembrado” - Além disso, em geral, os projetos são mantidos com recursos de outros: orçamento público, contribuição do cidadão, agências financiadoras, fundos públicos, entre outros. Para estes parceiros também 12
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é fundamental ter informações sobre os projetos, ver e participar de uma matéria na imprensa ou evento, receber relatórios, fotos, depoimentos, enfim, algum indicativo de que ele está no caminho certo, que este projeto vale a pena. Mais difícil que conquistar um parceiro é mantê-lo. “Nem tudo que reluz é ouro” - É preciso também ter bom senso, nem tudo que fazemos gera belas imagens, é destaque em relatórios ou precisa de divulgação externa. Basta atentar se os nossos objetivos com o projeto foram atingidos? Superou as expectativas? Não ia bem e mudou o rumo? Saber como esses resultados aconteceram é interessante. Mas não espere que o momento acabe para avaliar o que foi bom, planeje suas atividades, visualize-as antecipadamente e convide seu parceiro para participar, chame a imprensa ou simplesmente registre por meio de fotos e depoimentos. “Se conselho fosse bom não se dava, vendia-se”, mas aqui vão algumas dicas:
1 Mantenha o ambiente sempre pronto para receber visitas. Surpresas acontecem, e a primeira impressão é muito difícil de mudar; 2 Todos os envolvidos devem ter clareza do projeto e ser capazes de passar informações, dar entrevistas ou até escrever sobre, por que não? 3 Sente-se com sua equipe e veja que momentos do projeto seriam mais apropriados para ter visibilidade, convide a comunidade, os pais, os parceiros, imprensa. Às vezes um projeto começa e acaba sem ter deixado nada na lembrança dos que dele não participaram diretamente; 4 Valorize seu (s) parceiro (os). Lembre-se de citá-lo nas entrevistas, de expor sua marca no material do projeto (camisa, folders, cartazes, livros etc), de fazer referência em falas públicas, enviar produtos confeccionados em oficinas, encaminhar notícias publicadas nos jornais sobre o projeto etc; 5 Perceba qual é o seu diferencial e aposte nele. É a força da comunidade? A criatividade das crianças? As idéias dos facilitadores? É um bom time de voluntários? Fortaleça o que tiver de melhor; 6 Preveja recursos para peças de comunicação como banners da organização, eles são práticos e podem identificar seu projeto numa foto ou sua participação em um evento. Folders simples (1 ou 2 páginas) com informações básicas sobre os projetos e a organização também são úteis, e servem como um cartão de visitas da sua organização, por isso, não esqueça de colocar contatos fáceis e atualizados. Currículo: Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria e engenheiro com mestrado em Qualidade e Pósgraduação em Gestão Ambiental.
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Educação
Educação
inovadora E
nquanto a mãe está sendo atendida, a funcionária da loja oferece uma bala para seu filho. Sem hesitar, ele aceita! Tira a embalagem e a atira no chão. A mãe vê, mas não tem reação. A funcionária, por sua vez, explica à criança que o lixo deve ser depositado no local certo, e o conduz até a lixeira. Ao sair da loja, a mãe decide comprar sorvetes. Ao retirar a embalagem o filho se lembra do que aprendeu e procura a lixeira mais próxima. Apesar de não verídica, a história ilustra a facilidade que a criança tem de colocar em prática aquilo que realmente aprendeu, ao contrário do adulto que tem dificuldade em assimilar novos hábitos, ainda que exista o entendimento de qual é a forma certa de agir. Esta é uma das constatações da pesquisa apresentada pelo Ibope, em que 92% da população adulta concorda com a coleta seletiva, mas somente 30% a faz. Já a criança, além de assimilar, também influencia os adultos que estão a sua volta. E uma vez absorvido por meio de informações e práticas, a chance de não seguir o aprendizado é muito pequena. Quem afirma isso é a mestre em educação e especialista em psicopedagogia, Luciana Stocco de Mergulhão, diretora do núcleo de educação do Instituto Neo Mondo e responsável pela coordenação e metodologia do Programa de Educação Socioambiental “Somos Amigos da Terra”. 1
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Programa “somos Amigos da terra” desenvolve educação socioambiental nas escolas, mudando o ser aluno para atingir a sociedade. Da Redação
Somos Amigos da terra Escrever, ler, pintar, brincar, raciocinar e compartilhar geram um ambiente que não apenas alfabetiza, mas principalmente, forma cidadãos. Instruindo-os aos seus direitos e deveres, ensinando-os como se posicionar diante de um problema, respeitando os próprios limites, os da sociedade e os do meio ambiente. Esta é a proposta do “Somos Amigos da Terra”. Com base na Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9.795/99, que determina a educação ambiental como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, o programa piloto será implantado em fevereiro em uma cidade paulista. Segundo o presidente do Instituto Neo Mondo e mentor do programa, Oscar
Lopes Luiz, o “Somos Amigos da Terra” mobilizará nesta cidade 190 escolas da rede municipal, 4.500 professores, 90 mil alunos do ensino fundamental e 400 mil pessoas do entorno, entre funcionários da rede, famílias e comunidade. “Nosso projeto atende as premissas do MEC - Ministério da Educação, em promover atividades, na escola, que tragam mudanças locais de atitude. Pois, os adultos aprenderam o discurso, mas a prática não amadureceu junto com eles. E a nossa missão é fazer com que os alunos cresçam com essa consciência socioambiental” – destaca a coordenadora. Para tanto, o “Somos Amigos da Terra” mobiliza os estudantes, diretores, professores, pais, representantes da comunidade e empresários.
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nossa missão é fazer com que os alunos cresçam com essa consciência socioambiental
Ao buscar soluções para os problemas diagnosticados, o aluno irá compreender a sinergia entre os diversos segmentos da sociedade, entender as responsabilidades e para isso, o programa terá uma abrangência multidisciplinar, incentivando a produção de pesquisa, de leitura, escrita e outras formas de expressões. “Hoje em dia as pessoas fazem leitura por imagem, ou seja, não têm paciência para ler. Deduzem o que está escrito pelas ilustrações. Por receberem tudo pronto, pula-se uma etapa muito importante do aprendizado, o raciocínio. Por isso, o método utilizado induzirá o aluno a encontrar conflitos, so-
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lucioná-los e aplicá-los com base em suas próprias pesquisas” – diz Luciana. O Programa Somos Amigos da Terra será aplicado junto aos educadores, para que esses, de uso de suas competências, possam repassar aos alunos um novo formato de vivência das questões ambientais. A parte lúdica contará com personagens da Neo Mondo Kids, criados pelo artista Ricardo Girotto, diretor de criação e ilustração do Instituto e ilustrador de toda a coleção do Castelo Rá-Tim-Bum. Esses personagens, principalmente o Neotom, (mascote da turma) farão visitas periódicas às escolas, criando vínculos e
motivando as crianças a alcançarem seus objetivos. A jornalista Liane Uechi, que também participa do núcleo de educação, no segmento de comunicação, disse que o projeto irá oportunizar aos alunos não apenas conceitos teóricos, mas a vivência dos temas discutidos, seja na identificação dos problemas locais e específicos de sua realidade, seja na procura de soluções e alternativas que possam efetivamente trazer melhorias. “Não será uma mera transmissão de informações, mas um exercício diário de buscas e descobertas, resultando no aprendizado prático. Ao participar desse processo integral, que envolve inclusive a análise crítica de sua realidade, o aluno estará construindo valores que o acompanharão por toda a vida” – disse a jornalista. Neo Mondo - Dezembro 2007
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Educação
Etapas de implantação Sua implantação nas escolas está dividida em quatro etapas bimestrais: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. A primeira, Repensar, é marcada por uma assembléia democrática com os gestores educacionais: diretores, professores e patrocinadores, onde serão apresentados os quatro ‘R’s da proposta e a metodologia para que, junto com o aluno, possam ser levantados os problemas de cada escola e de seu entorno. Por exemplo: desperdício da merenda, coleta não seletiva de lixo, vandalismo, uso de drogas e etc. Na etapa Reduzir, os multiplicadores, de posse dos principais projetos sugeridos pelos alunos, irão junto com a equipe do “Somos Amigos da Terra” e especialistas do setor socioambiental, discutir possíveis caminhos e soluções, permitindo que cada caso seja solucionado individualmente pela parceria escola x comunidade. Na terceira fase, Reutilizar, os alunos concretizarão ações: seja na questão da conscientização, onde poderão produzir texto, arte, música, teatro e também efetivar outras medidas que permitam a solução ou redução do problema identificado. Será hasteada em cada escola a bandeira “Escola Amiga da Terra”, mostrando o compromisso firmado com a questão socioambiental e, em todo o material impresso em papel reciclado, haverá o selo do programa. Como estímulo, o projeto também criará concursos como: “jovem jornalista”, “arte ambiental”, “solução de impacto”. A quarta fase, Reciclar, é marcada por um evento em que todas as escolas poderão apresentar os métodos e resultados da ação do “Somos Amigos da Terra”, relatando suas descobertas e formas de atuação, que resultarão na melhoria do seu ambiente. O Neotom e seus amigos, apresentados a cada etapa, fecharão este ciclo com a apresentação de uma peça, com a participação dos alunos, abordando o tema socioambiental. Os vencedores dos concursos receberão suas premiações. O material das reuniões será entregue em forma de tablóide para três públicos: professores, alunos e pais ou responsáveis. Segundo Lopes Luiz, ao final de cada módulo, o conteúdo das reuniões da fase anterior, será divulgado na revista Neo Mondo e no portal do Instituto (www.neomondo.com. br) em um espaço exclusivo para programa, que atingirá sua fase multimídia.
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Personagens Cada personagem da turma “Somos Amigos da Terra” tem uma personalidade que ajudará as crianças no processo:
Neosabido
Neomujo
Neoton
Neotom nasceu a partir de um monte de lixo: isopor, caixinhas, latinhas, papelão e uma composição química ainda desconhecida. Por sua origem, ele defende, com todas as forças, o meio ambiente, a coleta seletiva do lixo e o uso correto dos recursos naturais.
Esse nosso amigo é muito inteligente e sabe de tudo. Por isso é sempre consultado pela turminha.
Muito observador e caseiro, sentimental e preocupado com as questões ambientais. É o melhor amigo do Neosabido.
Esse curioso gatinho é nosso investigador, entra em todos os lugares e traz as novidades mais fresquinhas.
Neomiau
Neoflora
Neominho
Neoquivo
Neoau
Neotoco
Neolapis
Calmo, tranqüilo, nunca se atrasa para nada. É o melhor amigo da Neoflora, adora todas as plantas.
É um velhinho simpático, sempre disposto a ajudar a turma a pesquisar o passado. A idade às vezes compromete sua memória.
Bagunceiro por natureza, adora provocar e criar confusões com suas brincadeiras, sempre acompanha e defende nosso mascote.
Emburrado por natureza, vive criticando toda a turma. Acha que nada vai dar certo.
Sempre contente, adora desenhar, é o mais otimista da turma. Suas anotações são cheias de idéias produtivas.
Centenária já viu muita coisa, por isso é rigorosa com nossos amigos e quando necessário sabe ser brava e reclamona.
Neoclica
Sempre ligada, é a melhor amiga do Neoquivo. Registra tudo o que acontece em sua volta.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
A mudança começa de dentro pra fora 1 - O primeiro meio ambiente a ser trabalho é a própria criança 2 - Bem sucedido, reflete no que está seu ao redor: família e escola 3 - Transmitindo para a sociedade (cidade/país) 4 - E por fim, ao planeta
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. Aplicação dos quatro ‘R’s 1 - Repensar:Levantamento de problemas na escola, e no seu entorno, referentes à questão socioambiental 2 - Reduzir: Criação, por parte dos alunos com apoio dos professores, de projetos para reduzir os problemas encontrados em cada localidades 3 - Reutilizar: Encontrados os problemas e as soluções, é hora de colocá-las em prática! 4 - Reciclar: Encerramento marcado pela troca de experiências entre as escolas.
Meio Ambiente
Créditos
Eduardo Sanches
de Carbono
As iniciativas para redução de emissões de CO2 viraram ações na Bolsa.
E
m 1997, a preocupação com o aquecimento global, levou os países da Organização das Nações Unidas (ONU) a assinarem um acordo para estabelecimento de dispositivos para controlar as intervenções humanas no clima. Em decorrência disso, surgiu o “Protocolo de Quioto”, que determina aos países desenvolvidos, signatários do programa, a redução de suas emissões dos gases efeito estufa (GEE) em 5,2%, relativas ao ano de 1990. O prazo para esta redução é entre 2008 e 2012. O investimento para redução dessas emissões varia de acordo com o nível tecnológico de seus controles, isto porque é muito mais fácil reduzir as emissões de um automóvel antigo, que não possui dispositivos modernos (injeção eletrônica, catalisador e etc) do que um automóvel moderno com alta tecnologia. Os novos equipamentos de produção já são adquiridos com dispositivos de controle que mantém suas emissões bem abaixo dos limites legais estabelecidos. Com este mesmo cenário, alguns parques industriais, de países desenvolvidos, encontram dificuldades em atender metas de redução de emissões atmosféricas. Uma alternativa para essas empresas é cumprir suas metas fora de sua região ou país, comprando essa redução em outro parque industrial que possibilite essa redução. Aqui no Brasil, algumas empresas conseguiram reduzir algumas toneladas de GEE, com isso cada tonelada reduzida é transformada em tonelada de CO2 e vendida como uma ação na bolsa de valores, denominada de crédito de carbono.
“
...o problema é
global e os mais desenvolvidos
estão pagando o desenvolvimento tecnológico dos países em desenvolvimento
”
E as empresas que não vendem créditos, são empresas com performance ambiental baixa? A resposta é negativa, pois várias empresas realizaram investimentos significativos nos seus processos produtivos, reduzindo suas emissões ao longo dos últimos 20 anos e hoje encontram-se em nível de tecnologia bastante avançado, dificultando com isso reduções maiores. Hoje, o Pólo Petroquímico do ABC, emite 90% menos de emissões atmosféricas do que há dez anos, através da substituição
das matrizes energéticas de suas empresas de óleo para gás natural. Alguns podem interpretar que os países desenvolvidos estão pagando para poluir, mas podemos pensar de outra forma, que o problema é global e os mais desenvolvidos estão pagando o desenvolvimento tecnológico dos países em desenvolvimento. Para evoluirmos nas questões ambientais é preciso ponderar e escolher o caminho que pode propiciar algum resultado positivo para todas as partes ou apenas julgar, reclamar e condenar. Currículo: Gerente de Meio Ambiente, Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo Petroquímico. Professor universitário de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA). Neo Mondo - Dezembro 2007
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Meio Ambiente
Ecologia na Vilas ecológicas mostram formas alternativas de vivência, aplicando e mesclando novas tecnológicas com antigas práticas.
prátic
Da Redação
A
pós despertar em meio à mata, entre lagos e pássaros, em uma casa de pau-a-pique, é hora de escovar os dentes. Enquanto faz a higiene, mesmo com a rotineira sonolência matinal, é possível ouvir a água descendo pelo encanamento e caindo em um filtro biológico – uma espécie de pequeno rio - responsável por tratar a água que será utilizada para, por exemplo, regar as plantas. Ainda no banheiro, ao invés de puxar ou apertar a descarga, é jogado serragem, já disponível em um recipiente, produzindo o que será um composto orgânico, usado como adubo para a horta. Mais tarde é preciso ir às compras! Mas, nem tudo vai para o carrinho, somente embalagens biodegradáveis ou que
poderão ser reutilizadas. No retorno para o lar, não há problemas em assistir a televisão, ligar o computador, escutar uma música, mas é preciso administrar bem a eletricidade gasta, pois a energia do sol, captada pelas células fotovoltaicas, pode acabar durante a noite. É esse um relato utópico ou o cotidiano de uma civilização indígena avançada? Nenhum dos dois! É a rotina dos moradores de vilas ecológicas de permacultura, técnicas ecológicas em que o homem, sua morada e o meio ambiente onde estão inseridos fazem parte de um mesmo organismo vivo. Na permacultura prega-se a harmonia entre estes elementos, aproveitando os recursos que cada um dispõe, dispensando ao máximo, a intervenção de materiais que
Voluntários aprendendo a construir casas de pau-a-pique.
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não sejam deste meio. Um exemplo disso são os materiais utilizados para a construção de residências nestes locais: uma mistura de barro e argila sobre a estrutura de bambus que reduzem, e em muitos casos, eliminam o uso de cimento nas obras. Entre outros, há também os galinheiros chamados rotativos, que dispensam a utilização de máquinas para o preparo da terra para plantação. Para tanto, as galinhas são conduzidas a uma área para estercarem e adubarem parte da terra, enquanto outra está sendo utilizada para o plantio. Para integrar a vida humana ao ecossistema, foram desenvolvidas técnicas alternativas sustentáveis que oferecem ao homem os mesmos benefícios de avanços tecnológicos trazidos pela evolução da civilização, porém, geram menor impacto ambiental. Como agriculturas e construções ecológicas, sistema hidráulico, aquecedor, forno solar, dentre outros. Estes métodos da permacultura, que mesclam inovação com práticas ancestrais, aliados ao período de maior discussão sobre atitudes ecologicamente corretas, têm chamado a atenção da população. Muitos buscam organizações que implantaram estes métodos para aprender como aplicá-los na rotina. Porém, há aqueles que foram além, que abriram mão de uma vida industrializada na cidade de concreto para sentirem-se parte de um bioma, vivendo em ecovilas.
ica Administração da ecovila IPEMA
“
Então comecei a aplicar tudo
o que havia aprendido na minha casa. E a força do exemplo é poderosa
A força do exemplo
”
O Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica – IPEMA, em Ubatuba, litoral Norte de São Paulo, é um destes locais onde é possível aprender na prática como aplicar os métodos da permacultura. Segundo o proprietário e arquiteto, Marcelo Bueno, o IPEMA é um centro de treinamento, capacitação e fomento destes métodos sustentáveis de habitação e rotina. “Após ficar por um período alojado em uma casa de pau-a-pique, sendo responsável até pela quantidade de água que cai do chuveiro, plantando e construindo o seu próprio sustento, a pessoa percebe que é possível ter práticas ecologicamente corretas. E, mesmo quando voltam às suas casas na cidade enxergam que podem fazer diferente” – diz Bueno. Ele conta que, frustrado com sua atuação como arquiteto pelo fato de contribuir com o crescimento desordenado das construções na cidade, decidiu viajar e conhecer outras culturas que contribuíssem para uma nova visão da arquitetura responsável. “Neste período fiz cursos e me aperfeiçoei. Quando voltei queria chamar atenção das pessoas para mostrar que era possível ter uma rotina sustentável, mas é difícil abrir mentes. Então comecei a aplicar tudo o que havia aprendido na minha casa. E a força do exemplo é poderosa” – relata o proprietário.
Construção usando a técnica de superadobe: tubos de polipropileno preenchidos com barro.
Foi instalado em sua residência um sistema de captação da chuva, reutilização da água usada da cozinha e do lixo, que começou a ser vendido ou reciclado, produzindo almofadas, tapetes, dentre outros materiais. “Todo material que entra não sai de casa, pois acredito que ele seja minha responsabilidade, uma vez que eu o consumi. As poucas coisas que não são recicláveis armazeno em tonéis” – destaca Bueno. Pode parecer uma atitude radical, mas o exemplo fez adeptos, Marcelo começou a ministrar palestras em escolas da região até sua casa ficar pequena para as visitações e aplicação das técnicas da permacultura. Então, decidiu comprar o sítio que hoje abriga o IPEMA. Ele explica que os voluntários, pessoas que se hospedam por um período de no mínimo 10 dias, para aprender na prática as possibilidades de construções ecológicas, retribuem com trabalho. Além dos voluntários, há também aqueles que querem adquirir conhecimento para criar novas vilas ecológicas, e estes custeiam os cursos e palestras. Segundo Bueno, o IPEMA já formou mais de 1000 alunos e está preparando o Instituto para no próximo ano receber turistas interessados em conhecer mais sobre uma rotina ecológica.
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Meio Ambiente
Backer Ribeiro Fernandes
Uma questão de comportamento Como mudar culturalmente os hábitos da sociedade?
S
egundo Jean Baudrillard, somos uma sociedade de consumo, conseqüência da automatização do sistema de produção que reduziu o indivíduo à condição de consumidor. A sociedade foi estimulada a consumir um produto com uma gama de associações simbólicas, consumimos um símbolo, uma “imagem mercadoria”, suplantando a substância pela aparência. Essa idéia foi muito bem aplicada e explorada pela publicidade e pelo marketing, quando fixaram nos produtos imagens de beleza, sedução, auto-realização, romance e até mesmo de qualidade de vida, deixando de lado a noção original e tornando as mercadorias verdadeiras ilusões culturais, que fascinaram o consumidor pós-moderno pela sua estética, pelas associações mirabolantes e pelo significado do produto. O consumo desenfreado por produtos e serviços que proporcionam conforto e comodidade levou o setor produtivo a se desenvolver num ritmo frenético. Esse ritmo não previu nenhuma preocupação com os recursos naturais e a capacidade de suporte dos ecossistemas, estabelecendo uma incompatibilidade entre consumo, produção e desenvolvimento. Hoje, não há espaço para o desenvolvimento a qualquer preço e as empresas têm que se preocupar com a sua sustentabilidade e com a sua própria existência daqui a alguns anos.
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a perpetuação das organizações depende da preservação do meio ambiente e da valorização social
Segundo Gilles Lipovetsky, as preocupações do porvir planetário e os riscos ambientais assumiram posição primordial no debate coletivo. O termo responsabilidade social começou a ser substituído por desenvolvimento sustentável. No último ano, quando finalmente todos despertaram para as revelações alarmantes a respeito do aquecimento global, o assunto ganhou a importância merecida na mídia, nas empresas e fora delas. O aquecimento global virou uma febre, a sustentabilidade virou uma febre, as empresas são sustentáveis, o negócio é sustentável, tudo é sustentável. Mas qual seria o antídoto, ou a antítese sem cair no efêmero? Segundo James Lovelock, o único jeito de melhorar a situação é diminuir drasticamente o consumo e o crescimento da população e encontrar formas de energia limpa. No Blog do jornalista Luis Nassif, o economista-ecologista chileno Manfred Max-Neef questiona o modelo econômico atual baseado na exacerbação do consumo, na explosão das cadeias produtivas, e no livre comércio. “É uma maravilha que o leite saia da Áustria e vá para a Itália onde será convertido em yogurte, com
”
embalagem produzida na Alemanha e a fita em outro país. Mas quando se calcula o consumo de combustíveis e a geração de carbono, o modelo torna-se totalmente anacrônico e perdulário”, afirmou. O antídoto para a sustentabilidade e para o consumo consciente deve passar necessariamente por uma mudança cultural nos hábitos de cada sociedade e do interesse dos empresários, até porque a perpetuação das organizações depende da preservação do meio ambiente e da valorização social. O consumo consciente deve ganhar atributos simbólicos, deve se tornar uma atitude “hipermoderna”, de pais que pensam nos filhos, no bem comum e no crescimento espiritual, em detrimento do egoísmo e do “status” material. Currículo: Mestre em comunicação pela UMESP, professor em Gestão Ambiental do IPT/ USP, do Instituto Mauá de Engenharia e da FMU. Membro do GT de comunicação da Mesa Redonda Paulista de Produção Mais Limpa (P+L) e membro do COMUNI – Grupo de estudos em Comunicação Comunitária. Diretor da Communità.
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n
eotom não nasceu como nós. Também não brotou, pois brotar é com as plantas. Neotom apareceu em nosso planeta por causa da poluição. Lixo, sucata, água suja... Essas coisas que só fazem mal, mas que parecem só aumentar. Algumas pessoas ficaram assustadas, mas depois tudo ficou calmo e elas voltaram a fazer o que estavam fazendo. Esqueceram o laguinho sujo assim como já nem se lembravam que um dia ele foi limpo e belo, e que suas águas abrigavam peixes, e que nas suas margens existiam árvores cheias de vida e habitadas por pássaros, sapos, insetos, macacos e esquilos.
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Um dia, no meio de um laguinho poluído, um monte dessa sujeira toda foi mexida e remexida pelo vento. E assim, sem querer, um tanto de lixo, de sucata e de água suja se misturou durante um bom tempo. Uns barulhos estranhos foram ouvidos e umas bolhas esquisitas se formaram e estouraram. Mais tarde, quando anoiteceu – uma noite sem Lua –, uma luzinha brilhou bem no lugar dos barulhos estranhos e das bolhas esquisitas. Era bem fraquinha essa luz e, como ninguém se importava mesmo com o laguinho sujo, ela não foi vista. Mas que dava pra ver, dava.
teen palavra
por Marina Mergulhão Luiz
GloBaliZaÇÃo A globalização afeta diretamente ou indiretamente a população mundial, aproximando as culturas e os costumes de cada país. Dentre os aspectos positivos está a evolução dos meios de comunicação e de transportes, que encurtam as distâncias
E não é que ela parecia se mover: de lá para cá e de cá para lá. Ia e voltava. Rodava e saracoteava. E foi ficando mais forte. Por fim, chegou perto da margem e... SAIU ANDANDO! Só então deu para ver que não era só uma luzinha. Ela estava presa a um chapéu que cobria a cabeça de uma pessoinha verde!
e aumentam os fluxos de informação, capital e mercadoria. Mas não são todos os países que estão inclusos nessa grande rede global, porque esse fenômeno só alcança os locais com grande infra-estrutura, ou seja, os países desenvolvidos e alguns subdesenvolvidos ou emergentes. O que me levou a refletir sobre esse tema foi o estudo sobre globalização, para minha prova de geografia. Comecei a pensar o quanto deve ser difícil para as pessoas mais velhas acompanharem o ritmo acelerado das mudanças. Muitos não estão preparados. O que podemos perceber é que cada vez fica maior e mais clara essa nova forma de desigualdade. Ao mesmo tempo, essas diferenças abrem caminhos, pois forçam as pessoas a se atualizarem e buscarem novas formas de realizar as coisas. Para elas, que vencem essas dificuldades, a tecnologia passa a ser um benefício.
Marina Mergulhão Luiz Tem 14 anos, está cursando 9º ano do ensino fundamental
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Pessoinha verde? Isso mesmo: uma pessoinha verde e, parece, muito simpática. Com cara de muitos amigos. Além do chapéu, usava roupas, botas e luvas. E tudo nela era como aqueles barulhos e bolhas do laguinho: estranho e esquisito. Pois bem! Neotom, o nome da tal pessoinha verde, pisou na terra, olhou em volta era noite, mas ele enxergava por causa da luzinha no chapéu – e disse: “Quem sou eu, de onde vim e para onde vou?”
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Andou um pouco e encontrou um cachorro tão simpático como ele próprio. Era um viralata chamado Neoau. Uns passos a mais e apareceu Neomiau, um gato. Desses de rua também, sempre prontos para umas boas aventuras. Logo ficaram amigos e já formavam uma turma.
Neotom, que tinha acabado de surgir em nosso planeta, estava cansado. Viu uma árvore que teimava em se manter bela e verde. Apagou a luzinha do chapéu e se ajeitou ao lado do tronco. Neoau e Neomiau fizeram o mesmo. Deitaram juntos e assim se mantiveram aquecidos durante a madrugada. Neo Mondo - Dezembro 2007
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Quando o sol brilhou no dia seguinte, Neotom abriu os olhos, ajeitou sua roupa estranha e esquisita e brincou com seus novos e primeiros amigos. Corriam de um lado para o outro e riam sem parar. De repente, cansados, pararam e se deitaram ao lado do laguinho. “Nossa, como cheira ruim!”, disse Neotom. Neoau concordou, latindo e rosnando, e Neomiau também, miando e franzindo o focinho. E Neotom continuou: “Precisamos fazer alguma coisa para salvar o laguinho. Deixá-lo limpo, fresco e cheio de peixes”. E então, sem demora, Neotom deu muitas ordens para seus companheiros. Eles não entenderam muita coisa, pois sabiam mais as coisas dos bichos – coçar, farejar, espantar as pulgas dos pêlos, enterrar ossos, correr atrás do rabo, caçar ratos e passarinhos... –, mas pelo menos tinham boa vontade. Pularam nas águas sujas e fedidas do laguinho e agarraram, com os dentes, uns bons bocados de lixo.
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Nadavam para lá e para cá sem parar. Iam de boca bem fechadinha e voltavam mordendo latas, garrafas de refrigerantes, pedaços de vidro, torneiras enferrujadas, brinquedos velhos, ferramentas quebradas, pedaços de móveis, antenas desconjuntadas, baldes furados, saquinhos de plástico, pneus estragados... Neotom usava uma das mãos para carregar sucata e por isso trabalhava mais. Tiraram do laguinho um pouco das muitas coisas que as pessoas jogam por aí, sem perceberem que o mundo é parte de nossas casas. Nele, existe espaço para lagos, mares, rios, florestas, insetos, cidades, animais e gente. Mas tudo isso precisa conviver em harmonia. Se uma dessas coisas começa a atrapalhar as outras, o resultado não vai ser nada bom. Neotom pensava em tudo isso enquanto ajudava Neoau e Neomiau. E então ele decidiu: iria procurar mais companheiros interessados em ajudar a salvar o planeta do lixo. Formariam uma turma, bem grande e animada. E também construiriam uma nave para sair voando por aí ajudando coisas, lugares ou pessoas que precisassem. Assim, já tarde da noite, quando conseguiram por fim tirar toda a sucata do laguinho, Neotom contou seus planos para Neoau e Neomiau. Felizes, todos começaram a dançar. Quando dormiram, cansados, os três sonharam com o futuro. E ele era mais alegre e colorido, com as ruas limpas, as pessoas sorrindo, os pássaros cantando e os laguinhos limpos e cheios de peixes.
Fim
participe e concorra As cinco melhores idéias de como reutilizar o lixo e as cinco melhores de como preservar a natureza, além da assinatura da revista Neo Mondo (seis meses), ganharão um exemplar de um dos livros: “Seis razões para diminuir o lixo no mundo” e “Seis razões para amar a natureza”. Envie suas idéias para: concurso@neomondo.com.br. Concurso válido até o dia 10 de fevereiro de 2008. E na edição de março de 2008, as melhores idéias serão publicadas na Neo Mondo Kids. Texto: Nílson José Machado e Silmara Rascalha Casadei - Coleção: Escritinha - Ilustrações: Vera Andrade. Neo Mondo - Dezembro 2007
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Vaivém Material:
1 Peça a um adulto que corte ao meio as duas garrafas de refrigerante e encaixe uma na outra.
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Recorte faixas e estrelas de papel colorido e cole-as no corpo do brinquedo para decorá-lo.
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• 2 garrafas de refrigerante do tipo PET • 2 rolos de papelão (os que vêm no papel higiênico servem) • Dois barbantes de varal de 3 metros de comprimento cada um • 4 pedaços de madeira de 22 centímetros de comprimento cada um • Papel camurça colorido • Cola branca e colorida • Tesoura
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Passe os cordões de náilon pelo corpo do vaivém, como indica a foto. Não deixe que se cruzem.
Encape as madeirinhas com papel camurça e enfeite-as com faixas de papel camurça e cola colorida.
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Peça a um adulto que corte os rolos de papelão ao meio. Eles impedem que o vaivém bata na sua mão.
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Encape e decore os rolos com papel camurça e cola colorida.
Passe fio pelos rolinhos e amarre cada uma das pontas numa madeirinha. Está pronto pra brincar!
aprenda a construir este e outros brinquedos no site: www.fabricadebrinquedos.com.br Expediente: Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz - Diretor de Criação e Ilustração: Ricardo Girotto - Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Diretora do Núcleo de Educação: Luciana Stocco de Mergulhão (Mestre em Educação) - Diretor de Arte: Adriano Ferreira Barros - Textos: Ricardo Ditchun NeoInstituto Mondo Neo - Dezembro Projeto Gráfico: Mondo 2007 28
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Saúde
Programas contemplam a
SEGURANÇA
alimentar
o Brasil convive com duas contradições, a existência da fome e desnutrição e o desperdício de alimentos. Da Redação
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alimentação adequada é um dos direitos fundamentais da humanidade, que foram definidos em um pacto mundial, do qual o Brasil é signatário. Vivemos num país de dimensões continentais, marcado por fortes contrastes e desigualdades sociais. Por outro lado, quem nunca ouviu falar na célebre frase de Pero Vaz de Caminha: “esta terra, em se plantando tudo dá’ - na carta enviada em 1500 ao rei de Portugal, sobre o Brasil recém descoberto”. Porém, passados 507 anos, a fome e a desnutrição ainda fazem parte de uma triste realidade nacional. Conforme dados de uma pesquisa sobre segurança alimentar (2004), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , mais de 72 milhões de brasileiros (40% da população do país) vivem em situação de insegurança alimentar, ou seja, não têm garantia de acesso à comida em quantidade, qualidade e regularidade suficiente. Cerca de 14 milhões passam fome. A segurança alimentar e nutricional é uma questão política na medida em que é um direito social a ser assegurado pelo Estado e um dos pilares centrais de qualquer projeto de desenvolvimento. Um outro
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dado, da FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – mostra que a produção no país é mais do que suficiente para alimentar a todos os brasileiros (IPEA, supra, n. 4). Isso significa, que o problema da fome no Brasil não decorre da insuficiência de alimentos, como bem vislumbrara Caminha, mas sim, da falta de acesso aos mesmos. Tanto o governo federal, através da implementação de políticas públicas, como o Terceiro Setor vêm abrindo frentes de combate a essa triste e inconcebível mazela brasileira. A SESAN desenvolve ações estruturantes e emergenciais de combate à fome por meio de programas e projetos de produção e distribuição de alimentos, de apoio e incentivo à agricultura familiar dentre outros que compõem o conjunto de estratégias do Fome Zero. Mantendo as contradições, o Brasil tem números assustadores de desperdício de alimentos. Segundo dados disponibilizados no site da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE, das 43,8 milhões de toneladas de lixo geradas anualmente no Brasil, mais da metade, o equivalente a 26,3 milhões, é composta por restos de alimentos.
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL Duas reconhecidas entidades do Terceiro Setor, Fundação Nestlé e Sesi (Serviço Social da Indústria), desenvolvem há anos, projetos voltados à educação alimentar e combate ao desperdício. Esse esforço vai de encontro a um novo perfil da situação nutricional do brasileiro. Conforme resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar, do IBGE, a desnutrição calórico-protéica do brasileiro reduz-se ao mesmo tempo em que se acentua o crescimento da obesidade em todas as categorias de renda. O grande vilão está escondido nas mudanças de hábitos alimentares, que substituíram os alimentos in natura pelos produtos industrializados. Ganha-se peso, mas não se garante a nutrição adequada, fazendo permanecer ou agravando problemas como a carência de vitamina A e de cálcio. A única receita nesse caso, está em fornecer informações que assegurem refeições com qualidade e de quebra ainda evitando o gigantesco desperdício que cometemos ao preparar os alimentos, por vezes, descartando as partes que contém o maior valor nutricional. Através de receitas e metodologias próprias, os programas ensinam e estimulam o total aproveitamento do alimento, resultando em verdadeiras surpresas, como o bolo de casca de banana, esfiha de folhas de couve-flor, quiche de casca de abóbora, suflê de talos de agrião, geléia de casca de frutas, casca de maracujá recheada, bobó de frango com talos, refresco de casca de mamão com laranja e semente de jaca ao vinagrete, dentre outras que fazem parte das receitas saborosas criadas pela equipe do SESI-SP e cujos resultados nutricionais são afiançados pela Unesp, que analisou quimicamente os alimentos.
aliMente-se BeM O programa Alimente-se Bem, do SESI-SP, surgiu em 1999 para disseminar o conceito do aproveitamento integral dos alimentos, com ênfase na orientação nutricional. Sua proposta é mudar hábitos alimentares, por meio de cursos gratuitos oferecidos em 40 endereços – 39 unidades da instituição e uma por meio de parceria, em Birigui -, somando 36 municípios do Estado atendidos. Segundo Tereza Watanabe, diretora da área de alimentação do SESISP, o objetivo do Alimente-se Bem é incentivar o consumo de itens com alto teor nutritivo, principalmente in natura, e conscientizar a
população sobre o desperdício desses produtos. “Infelizmente, nem todas as pessoas realizam suas refeições com equilíbrio, conciliando os prazeres da mesa com as reais necessidades do organismo, seja por desconhecimento da função dos alimentos ou limitações no orçamento doméstico. Nosso programa provou que essas barreiras são superadas com o acesso à informação”, destaca Tereza. Atualmente, o programa contabiliza a criação de 452 preparações, publicadas em livros, há inclusive, uma versão compacta em braile, com 30 receitas.
proGraMa nUtrir – Fundação nestlé Brasil O Programa foi desenvolvido a partir da constatação de que grande parte da desnutrição que aflige milhões de brasileiros deve-se à falta de informação e a hábitos alimentares inadequados. Os resultados positivos do Nutrir no Brasil chamaram a atenção da Nestlé de outros países. Atualmente, o programa já foi exportado para o México e está em fase de implantação em países como Equador, Colômbia e Venezuela. Surgiu em 1999 com o objetivo de contribuir para a educação alimentar de crianças e jovens de 5 a 14 anos em situação socioeconômica desfavorável. O programa é
pautado por três estratégias: compartilhar com a comunidade os conhecimentos sobre nutrição, oferecer ferramentas para amparar as decisões alimentares e contribuir para a obtenção de uma alimentação mais saudável e de baixo custo. Por meio de metodologia lúdica, o Nutrir transmite também às famílias conceitos de saúde, higiene e aproveitamento máximo dos alimentos, de forma que todos criem hábitos saudáveis e obtenham a melhor nutrição a partir dos recursos disponíveis. Em 2005, foram realizados 200 treinamentos.
Receita: Aperitivos De Casca De Abóbora Ingredientes
Quantidade
Modo de Fazer:
Batata
3 ½ xícaras (chá)
Cozinhe a batata, descasque, esprema e reserve. Corte o pimentão em
Pimentão verde
1/3 xícaras (chá)
tiras finas e rale a casca de abóbora. Leve ao fogo uma panela com 2
Casca de abóbora
2 xícaras (chá)
colheres de sopa de óleo, doure o alho e a cebola. Acrescente o pimen-
Alho
1 dente
tão, a casca de abóbora e refogue. Se necessário, coloque um pouco de
Cebola ralada
½ xícara (chá)
água para cozinhar bem até secar. Acrescente a batata, verifique o sal e
Farinha de rosca
½ xícaras (chá)
cozinhe bem até desgrudar do fundo da panela. Deixe esfriar. Modele a
Ovo
1 unidade
massa em formato de bolinhas, passe no ovo e na farinha de rosca e frite
Óleo para fritar
1 xícara (chá)
em óleo quente.
Custo total da receita= R$ 1,00 - Rendimento = 5 porções - Valor Calórico da porção = 207,77 Kcal - Tempo de preparo: 40 minutos Fonte: Programa Alimente-se Bem , do Sesi-SP
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Especial
Gerados Pelo A adoção brasileira tem se tornado mais fácil com o auxílio de grupos do Terceiro Setor.
coraç
Livi Carolina
O
desejo verdadeiro de ter alguém a quem amar, cuidar, educar, de poder acompanhar os primeiros gestos e passos foi mais forte e intenso que a impossibilidade de ter um filho para Mônica Natale de Camargo, hoje presidente do GAASP – Grupo de Apoio à Adoção no Estado de São Paulo, que tem o objetivo de transmitir informações sobre o processo adotivo e discutir temas relacionados à espera, à adoção e ao período pós-adotivo. Depois de algumas tentativas para engravidar, Mônica e o marido renderam-se somente ao desejo de formar uma família e optaram pela adoção. Procuraram a Vara da Infância e Juventude, se cadastraram, buscaram um grupo de apoio, onde se prepararam para a chegada do filho com o auxílio de profissionais especializados, e passaram por uma gestação de um ano e quatro meses, até a chegada de Betinho, uma criança com seis meses de idade. Como quaisquer pais de primeira viagem sofreram com satisfação, para se adaptar à nova rotina: banho, troca de fralda, amamentação e noites mal dormidas. Porém, a experiência de ser mãe foi tão emocionante que, passados três anos, Mônica voltou à lista de espera por um novo filho. Ela e o marido desejam aumentar a família, mas, dessa vez com uma única exigência: de que a criança tenha idade acima de cinco anos. Escolha que os diferem das estatísticas. 32
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AçãO Características da adoção De acordo com o juiz auxiliar da corregedoria do Estado de São Paulo, Reinaldo Cintra, no Estado há um cadastro com 7 mil pessoas na lista de espera para adoção, no entanto, cerca de 90% deseja uma criança do sexo feminino, branca e recém-nascida. Ao contrário do perfil encontrado nos 190 abrigos de São Paulo: 57% meninos, 52% afro-descendentes e apenas 4,6% com menos de um ano. Para o juiz, esta discrepância entre o perfil desejado e o existente, é o maior entrave para efetivar a adoção. “Um processo em que não há tantas restrições é finalizado em torno de três a nove meses, variando de acordo com a Vara onde o casal se cadastrou. Agora, as pessoas sonham com crianças que não existem, e quanto mais exigências, maior o tempo da espera” – ressalta Cintra. Ele aponta como causa deste problema o fato dos interessados procurarem crianças que se adeqüem às suas famílias e não famílias para crianças, como deveria ser. Outro fator relevante é que nem todas as crianças que se encontram na situação de abrigo, estão liberadas para adoção. Segundo o juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude, Fermino Magnani Filho, a adoção é o estágio final das tentativas de
reintegração da criança à família que se encontra em estado de risco social. “Nem todas as crianças que estão em abrigos estão disponíveis para adoção. Grande parte tem família, e enquanto houver o vínculo familiar nosso papel é dar suporte para que haja a reintegração” – acrescenta Magnani Filho. Em 2004, somente no Estado de São Paulo, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Orsa, existiam cerca de 5 mil crianças e adolescentes abrigadas, dentre as quais 90% encontravam-se em processo de reintegração e somente os 10% restantes estavam judicialmente legalizados à adoção - quando há a perda do pátrio poder em virtude do descumprimento do dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores (Lei 8.069/1990 – Art. 22). Diante desta realidade, milhares de crianças ficam cada vez mais tempo dentro dos abrigos, distanciando-se da possibilidade de ter uma família, tendo suas expectativas frustradas justamente no período da adolescência. Fase de descobertas, transformações e escolhas e por isso mesmo, quando os filhos mais precisam do suporte familiar, embasado na relação de cuidado e amor.
O que determina a adoção? Não há mistérios para a adoção, basta somente ter o desejo de oferecer amor! Segundo o juiz Magnani Filho, o mais importante é a motivação adotiva. “Precisamos conhecer e avaliar o porquê do desejo de adotar. Os que enxergam nesse ato uma forma de substituir o filho que faleceu, por caridade, promessa religiosa ou como forma de resolver uma crise conjugal, não terão o aval para a adoção” – afirma o juiz. Em muitos casos, aceito ou não o perfil do candidato à adotante, o juiz encaminha o interessado aos grupos de apoio, cujo objetivo é conscientizar e oferecer orientação sobre todo o processo, facilitando a futura adaptação entre filhos e pais. Quebrando medos Paulo Roberto Flores Castello Branco de Freitas, consultor comercial, membro do GEEAF – Grupo de Estudo e Apoio à Adoção de Florianópolis, sabe muito bem a importância de preparar a família para a recepção do novo membro. Ainda bebê, Freitas foi deixado por sua mãe biológica no Lar Fabiano de Cristo, no Rio de Janeiro, onde ficou até ser adotado por um casal jovem e fértil, que mais tarde adotou mais duas crianças. Ele conta que os pais tiveram muita habilidade para lidar com a situação, de forma que ele e os irmãos cresceram saudáveis, sem traumas e com muito orgulho. Neo Mondo - Dezembro 2007
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Especial
Luana Grabher, se divertindo no sítio da família durante as férias.
Hoje, aos 30 anos, Freitas tem se dedicado a quebrar paradigmas da adoção. Tendo como base experiências como a dele, o GEEAF se reúne mensal ou semanalmente para estudar, discutir e orientar aqueles casais que pretendem adotar, deixando-os cientes do processo a ser vivido, sobre como revelar à criança sua história e como lidar com o seu medo e insegurança inicial. A presidente do GAASP, Mônica Camargo, diz que um dos maiores receios, tanto da sociedade quanto das crianças, é a fase de adaptação e a revelação. “Tem-se a crença de que adotar um bebê é mais fácil, porém é preciso saber que, mesmo muito novinho, ele já tem memória. Mesmo que
não lembre com detalhes, carrega consigo alguns fatos, que exigirão dos pais adotivos habilidades para lidar com o caso”. Luana foi adotada ainda bebê pela família de Sofia Grabher da Silva, no entanto, aos 10 anos ainda apresenta sentimentos de rejeição. “No shopping ela me perdeu de vista, embora eu estivesse por perto a observando, vi que ela começou a ficar agitada. Quando me aproximei ela disse que achou que eu a tinha abandonado” – conta Sofia, que quando percebe essas reações, conversa com a filha deixando claro o amor de mãe e de toda família por ela. Outro momento crucial é a revelação. Mônica diz que atualmente já existem literaturas e filmes que auxiliam os pais nes-
Mônica, o filho e o marido: família reunida no aniversário de 3 anos de Batinho.
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sa questão, no entanto, ela ressalta que a melhor maneira é conversar com a criança desde pequena, reforçando que os laços de amor independem do vínculo de sangue. Já os cuidados posteriores se referem, principalmente, ao período de adaptação. No geral, logo que a criança chega à família ela é ‘um anjinho’. Acostumada com a rotina do abrigo, é extremamente educada e obediente. Mas, os pais têm que estar atentos para a fase seguinte, em que os filhos os testam. Geralmente, voltam a fazer xixi na cama, querem chamar a atenção e choram por tudo. “É compreensível, uma vez que eles têm medo de uma nova rejeição. Fazem isso porque querem saber se a família realmente os quer. É uma fase difícil, mas que passa rápido se os pais souberem como agir” – diz Mônica. Preconceito Contudo, o maior desafio da família e da criança é trabalhar com o preconceito da sociedade. Segundo Freitas, ela parece estar isolada a respeito do tema e olha a adoção como um ato de caridade, enxergando a criança como alguém que tem tudo para apresentar problemas, por não conhecer seu passado. No entanto, eles apresentam os mesmos problemas relativos à idade (adolescência) que qualquer filho biológico. Acontece que, ao menor sinal de conflito, atribui-se à adoção, o motivo da rebeldia. Por isso, ele dá a receita daquilo que viveu: “Os pais devem dar uma boa educação e cultivar o amor de seus filhos. Tratando-os dessa forma terão de volta muito amor. Filhos por adoção: nem melhores, nem piores. Apenas filhos!” – acrescenta Freitas.
Dúvidas
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A adoção internacional não tira a chance de uma criança ser adotada no Brasil? Não. Isso porque ela só é liberada para este tipo de adoção se seu perfil não se enquadrar no cadastro dos adotantes brasileiros.
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O que acontece com uma criança que não foi adotada? Nos abrigos estes jovens devem ser preparados para buscarem sua independência ao completarem 18 anos.
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Quem pode adotar? - Aquele que tem carinho e amor para oferecer e que deseja ser a família de uma criança; - Quem tem condições financeiras mínimas para suprir as necessidades básicas do adotado; - De acordo com o novo código, pessoa maior de 18 anos, independente do estado civil; - Necessário ser 16 anos mais velho/a do que o adotado, com exceção dos avós e irmãos, que podem requerer a guarda da criança.
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Qual é o procedimento correto para a adoção? Dirija-se até o Fórum de sua região, com R.G. e um comprovante de residência. A Vara agendará uma entrevis-
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Cultura
arte
No Dique o papel transformador da arte e da cultura alavanca o instituto Arte no Dique. Da Redação
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arte tem mudado a realidade de crianças e jovens, moradores de bairros pobres da cidade de Santos, principalmente do Dique da Vila Gilda, localizado na Zona Noroeste. Um projeto iniciado há cinco anos nessa comunidade, em parceria com o Grupo Cultural Olodum da Bahia, Comissão de Moradores do Dique da Vila Gilda, Ministério da Cultura e Instituto Elos já
mostra resultados efetivos. O que começou como projeto se transformou no Instituto Arte no Dique e em dezembro, um de seus núcleos, a Banda Querô, lançará seu primeiro cd. O diferencial dessa proposta de inclusão social e cultural está na experiência e gestão profissional de seus executores, que primam pela qualidade das ações exercidas e mobilizam grandes empresas,
órgãos públicos, universidades, artistas e profissionais de renome. José Virgílio Leal de Figueiredo, coordenador cultural da entidade, explicou que o Instituto hoje mantém a Escola Popular de Arte e Cultura “Plínio Marcos”. Por lá já passaram mais de 500 pessoas em cursos gratuitos de percussão, canto, violão, teatro, dança, desenho gráfico e artesanato, em turmas infantil, jovem e adulto.
DIQUE DA VILA GILDA O Dique da Vila Gilda é uma das regiões mais carentes da cidade de Santos, com uma população de aproximadamente 22 mil habitantes. No entanto, as condições precárias, como moradias em palafitas à beira do mangue, sobre o Rio Bugre, não são
impedimento ao talento, à criatividade e ao vigor artístico. Eles comprovam isso nos espetáculos, shows, exposições e demais atividades que impressionam e emocionam o público, pelo alto nível de produção.
EDUcAÇÃO O coordenador explicou que a educação é uma das premissas do trabalho desenvolvido. A entidade obteve inclusive, a parceria de uma universidade da região, que fornece algumas bolsas de estudos, que são distribuídas aos integrantes que obtém os melhores resultados nos vestibulares. Mas além da oportunidade de graduação, o Instituto vislumbra outras propostas educativas. “Sabemos que atualmente há muitas pessoas com curso superior e poucas vagas no mercado de trabalho” – disse
Figueiredo. Por isso, a entidade aposta na formação técnica em áreas artísticas. Como uma conseqüência natural obtida com o amadurecimento do projeto, o próximo passo será implementar os cursos técnicos para formação de cenógrafos, figurinistas, maquiadores, contra-regras, roadies (técnicos que afinam instrumentos musicais no palco). “Oferecer formação técnica no segmento artístico pode permitir que tenham bons empregos e sejam de fato, incluídos” – destaca.
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NOVOS pROJEtOS Entre os novos projetos, que devem emplacar em 2008, está o espetáculo teatral “Refavela, refazendo o sentido”, que trata da obra e vida de Gilberto Gil. O projeto tem apoio do homenageado e de uma grande siderúrgica da região, através da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Outra ação prevista é o Núcleo de Rádio e TV. O estúdio já está pronto, assim como a parceria com uma Universidade santista, nas áreas de comunicação e biologia, para a realização de um documentário ambiental sobre o Dique, que está em área de manguezal. A água deve ser um dos principais temas abordados nesse trabalho.
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Oferecer formação técnica
no segmento artístico pode permitir
que tenham bons empregos e sejam
FAtOR DEMOcRáticO O projeto nasceu por acreditar que a arte, assim como o esporte, é fundamental para a construção de uma sociedade, por sua capacidade inclusiva. Ela é uma evidência incontestável de que raça, cor, religião, condição social ou quaisquer outras características não são impedimentos para o talento, saberes e habilidades pessoais. Figueiredo relata que quando essas aptidões são bem direcionadas permitem vislumbrar um futuro promissor e se contrapõem às situações hostis como a
violência, a marginalidade e o desemprego, tão presentes nas vidas das comunidades carentes. “Todo jovem quer um tênis de marca, um celular moderno, quer usar uma roupa boa, sair, se divertir” – defende ele. Por isso, garantir a eles uma formação profissional de qualidade é assegurar opções dignas de trabalho e abrir perspectivas de transformar esses sonhos em projetos de vida. Os integrantes da Banda Querô já sabem disso, atualmente, são todos músicos profissionais.
BANDA QUERÔ O grupo nasceu da primeira oficina criada: de percussão. Hoje, já ganhou a inclusão de novos instrumentos e agora é composta por baixo, guitarra e teclados. O vocalista Ubiratan Santos, é também o mestre de percussão do grupo. Esse primeiro álbum é composto de 14 músicas, dentre elas Refavela, de Gilberto Gil, Primavera e Gostava Tanto de Você, de Tim Maia. As demais faixas são canções cedidas por compositores como Gigi e Fabinho O’Brien (autores de Flor do reggae e Quando a Chuva Passar, sucessos de Ivete Sangalo), Elpídio Bastos e Rui Braga (diretor musical e tecladista do Olodum), além de Marquinhos Marques, Peu
Meuray, Márcio Brasil, Leo Pit Bit, Índio, Dória, Duler, Serginho e Tonho Matéria. Os arranjos serão de Alex Oliver, Tubinaga e Elpídio Bastos. A foto da capa do disco é do fotografo Araquém Alcantara, considerado um dos maiores fotógrafos brasileiros. O Cd apesar da influência do samba-reggae, tem a mistura de vários estilos, mas com preservando um estilo bem dançante. O grupo já está profissionalizado e realizando shows, inclusive para empresas e eventos. O nome Querô é uma homenagem ao personagem principal de “Querô, uma reportagem maldita”, obra do dramaturgo santista Plínio Marcos.
de fato, incluídos
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Turismo
Sesc Pantanal
conciliando preservação e desenvolvimento Responsabilidade socioambiental promove desenvolvimento de região. Liane Uechi
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atuação do Terceiro Setor, no Brasil, tem exemplos bem sucedidos e que mostram como é possível atuar com ênfase na responsabilidade social e ambiental, viabilizando negócios e promovendo o desenvolvimento de regiões e de sua população. O Turismo ecológico tem sido defendido como um viés positivo para a preservação de áreas, sem comprometer o crescimento econômico de localidades ainda pouco urbanizadas. Nessas regiões, existem alguns biomas e ecossistemas, cujo consenso mundial aponta para a necessidade de preservação. Um deles é o Pantanal Mato-grossense. Pois é exatamente lá que o Sesc (Serviço Social do Comércio) mantém a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do País – RPPN, SESC Pantanal, com 106.000 ha. O empreendimento surgiu em 1996, com a
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aquisição de cerca de 20 fazendas, que estavam economicamente decadentes e que foram transformadas numa estância, que tem por objetivos a educação ambiental, a preservação da biodiversidade, a pesquisa científica e o ecoturismo. Está situada nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço, na parte norte do Pantanal Mato-grossense, entre os Rios Cuiabá e São Lourenço. O supervisor do Sesc Pantanal, Nivaldo Pereira relata que essa instalação exigiu uma mobilização singular e interação com nativos, com a comunidade indígena, com pesquisadores, universidades, institutos de pesquisas e organizações não governamentais. Pois parece ser exatamente essa atuação conjunta com os demais segmentos da sociedade organizada que tem garantido a tônica da sustentabilidade ambiental. Pereira, disse que todo o trabalho desenvolvido
tem o comprometimento com a melhoria da qualidade de vida dos que habitam ou trabalham no entorno. Para ele, a presença do Sesc ali mudou a realidade dessa comunidade, a começar pelos empregos. Oitenta e cinco por cento do quadro de funcionários mantidos na Reserva são de moradores da região, cerca de 200 vagas. “Para isso, foi necessário um esforço e ações de qualificação e capacitação dessa mão-de-obra. A Reserva e o Hotel também geram cerca de 1000 empregos indiretos, incluindo-se ai os fornecedores” - disse. Com a chegada do Sesc, a comunidade ganhou também uma escola, um cinema, quadras de esportes, odontologia e internet social, além de cursos de informática e outros de geração de renda. Tudo aberto à comunidade dos municípios de Barão de Melgado e Poconé.
Todo o trabalho desenvolvido tem o comprometimento com a melhoria da qualidade de vida dos que habitam ou trabalham no entorno
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Turismo
pESQUiSA A pesquisa foi o primeiro passo da implantação desse grande projeto ambiental. É através dela que ainda hoje se obtém os conhecimentos técnico-científicos necessários a uma gestão ecológica e sustentável. Para isto, foram estabelecidas parcerias com universidades federais, com a Embrapa e com ONGs em diversos estudos e pesquisas avançados sobre a fauna, flora, recursos hídricos, solos, clima, turismo, organização social, meio ambiente e educação ambiental. EcOtURiSMO A Estância dispõe de um Hotel diferenciado, concebido pelo desejo de realizar e demonstrar a viabilidade de empreendimentos ambientalmente corretos. Recebe majoritariamente os trabalhadores do comércio (associados do Sesc), e também escolas, pesquisadores e visitantes. Um variado cardápio de atividades ecológicas que incluem passeios diurnos e noturnos de barco, caminhadas em trilhas, cavalgadas, visitas ao borboletário e ao formigueiro de saúvas em atividade, preenchem os olhos e os dias dos hóspedes. Os passeios variam conforme a época de vazantes ou cheias, quando muitas áreas sofrem transformações e proporcionam roteiros alternativos. As atividades asseguram experiências de contemplação e observação da natureza em toda sua exuberância. Aves como araras, tuiuiú, pelicanos, garças brancas, cabeça-secas e colhereiros, além dos barulhentos bugios (macacos, que apresentam uma curiosidade, os machos têm pelagem escura e as fêmeas pêlos claros, são loiras como brincam os guias), jacarés, capivaras, sapos podem ser vistos em seus habitats. Uma dica de programação é o Alvorecer: o passeio começa antes do nascer do sol, com saída do hotel às 04h30min da manhã, ainda escuro. Os visitantes se-
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guem por quase uma hora de barco pelo rio Cuiabá, ouvindo apenas os sons que vêm da mata com o despertar de seus habitantes, enquanto aguardam a deslumbrante aurora pantaneira, um verdadeiro espetáculo. Imperdível e inesquecível. Já no passeio noturno é possível observar os olhos dos jacarés brilhando no escuro e por vezes, passando bem próximo aos barcos. Famílias inteiras de capivaras nas praias ou nadando. Cardeais, maguaris, biguatingas, urupapás (aves mais avistadas). O passeio possibilita ainda conhecer as flores que só abrem e exalam perfume à noite, como a Viuviu e a Ninféia. pROJEtO BORBOLEtáRiO Criado com o intuito de sensibilização ambiental, o Borboletário é composto de um viveiro de visitação, um laboratório para criação de larvas, um criadouro (ou berçário), um horto para a criação de plantas e um viveiro de visitação. Este último é a grande atração do complexo, uma estrutura em forma circular e hemisférica, com 300 metros quadrados e nove metros de altura, protegida por uma tela especial. Lá dentro, num jardim com cascata e bancos de praça, o visitante pode apreciar até 1500 borboletas de várias espécies. Esse projeto apresenta ainda uma dimensão social importante. O Sesc disseminou a técnica de criação de borboletas entre a população local, que se organizou em uma associação, a ACBP – Associação de Criadores de Borboletas de Poconé, formada por 27 famílias. O Sesc hoje compra dessa entidade as borboletas, que se transformaram em fonte adicional de renda para os moradores envolvidos. O fornecimento está se expandindo para outras instituições, inclusive fora do estado. Os ovos das borboletas continuam a ser fornecidos pelo próprio Sesc que os coleta nas folhas das plantas existentes no Borboletário.
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Classificado Solidário
precisa-se São Paulos Instituto Gabriele Barreto Sogari Voluntários: auxiliar no atendimento das crianças e adolescentes com deficiência e para os eventos de finais de semana. Doações: roupas, calçados e brinquedos para o bazar social. Rua Gustavo da Silveira, 128 - São Paulo - SP Cep: 04376-000 Telefone: (11) 5564-7709 E-mail: sogari@terra.com.br Em caso de dúvida, falar com: Francisco Sogari.
A seção “Classificado Solidário” é um espaço gratuito, destinado a divulgar as necessidades de doações ou serviços voluntários de instituições sociais. Não é permitida a solicitação de valor em espécie e a veracidade das informações aqui prestadas são de total responsabilidade da entidade solicitante. Mande seu anúncio para classificadosolidario@neomondo.com.br, até o dia 15 de cada mês, com nome da instituição, responsável, endereço, telefone ou e-mail. Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar Voluntários: área da saúde. Doações: alimentos não-perecíveis, leite em pó, adoçantes, produtos de higiene e limpeza. Hidratantes, fraldas descartáveis infantis e geriátricas, toalha de banho infantil, brinquedos pedagógicos e recreativos. Rua Jalisco, 12 - Água Rasa São Paulo - SP Cep: 03343-030 Telefone: (11) 6965-8888 E-mail: vana@capsnossolar.org.br Em caso de dúvida, falar com: Vana.
São Caetano do Sul Abrigo Irmã Tereza para idosos Voluntários: Psicologia, terapia, nutrição e enfermagem. Doações: leite, pó de café e suco em pó normal ou light. Rua Lourdes, 640 - Nova Gerti São Caetano do Sul. Cep: 09571-470 Telefone: (11) 4238-3231 E-mail: abrigoirmaterza@terra.com.br Em caso de dúvida, falar com: Iranildes.
Glossário A genda 21: Documento aprovado pela comunidade internacional, durante a Rio-92, que contém compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento no século XXI. O rganização Não Governamental: Organização de caráter privado, mas sem fins lucrativos. Volta-se para interesses coletivos, muitas vezes exercendo funções que caberiam às instituições estatais. As ONGs podem se constituir sob formas de sociedade civil ou de fundação e existe uma legislação específica a respeito.
p olíticas públicas: Ações voltadas para o atendimento de interesses, necessidades e aspirações do cidadão e da coletividade pelo Estado. São classificadas em sociais e econômicas; básicas e compensatórias. Refere-se à saúde, à educação, à segurança, ao emprego, à renda, à assistência social, etc. As políticas públicas devem ser formuladas e executadas de acordo com as necessidades e aspirações da maioria, admitindo-se que a sociedade organizada deva participar de sua formulação e execução.
R io 92: Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. S egurança Humana: Termo da ONU/UNESCO que substitui o conceito de Segurança Pública e está inserido num contexto onde entram termos como IDH, Renda Mínima, Segurança Alimentar, etc. Fonte: www.dhnet.org.br
Dicas de livros Gestão de instituições de pesquisa Autor: Deborah Moraes Zouain FGV Editora
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Este livro analisa a situação do Instituto Nacional de Tecnologia e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas e recomenda uma extensão da análise a outros órgãos de pesquisa, com o objetivo maior de permitir uma reflexão mais sistemática sobre o papel desempenhado por institutos de pesquisa, seu impacto sobre o processo de desenvolvimento sócio-econômico do país e até que ponto o tratamento conferido pelo Estado tem ajudado ou prejudicado seu desempenho. Assim, seria possível sugerir linhas básicas de um modelo de política institucional a ser adotado por órgãos públicos de pesquisa no Brasil.
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Almanaque Brasil Socioambiental 2008 ISA Editora
Com o intuito de reunir informações, ações referentes ao assunto e contribuir para a reflexão e o debate sobre o futuro da vida no Brasil e no planeta, o ISA – Instituto Socioambiental, com o apoio da AES - Eletropaulo Tietê e o Ministério da Cultura, lançou a segunda edição revisada do “Almanaque Brasil Socioambiental 2008 – Uma nova perspectiva para entender a situação do Brasil e a nossa contribuição para a crise planetária”. Dividido em capítulos específicos sobre Diversidade Socioambiental, Florestas, Cidades, entre outros, relaciona oito cartõespostais brasileiros ameaçados como o Parque da Serra da Capivara (PI), o Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas e a Baía de Guanabara. Além de oferecer um mapa-pôster que destaca os efeitos da ação humana sobre o território brasileiro
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