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UM OLHAR CONSCIENTE
Ano 1 - Nº 7 - Fevereiro 2008 - Distribuição Gratuita
PUBLICIDADE em tempos de sustentabilidade
Transgênicos
Desertificação
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Teatro na Areia
O deserto brasileiro
Quem tem razão?
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Inclusão cultural Neo Mondo - Fevereiro 2008
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Bradesco
Seções
Editorial
PeRFIl 04 Investimento Sustentável Luiz Lara, da agência Lew’Lara, fala sobre a responsabilidade da publicidade, frente às práticas sustentáveis.
eCONOmIA & NeGÓCIOS 06 Agências de Desenvolvimento Local Organizações privadas sem fins econômicos exercem importante papel nas decisões de interesse público
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Moda Social Ong carioca lança grife na Fashion Rio.
teCNOlOGIA 10 Nanotecnologia: A ciência do futuro No futuro, novos materiais poderão ser construídos átomo a átomo. Entre o laboratório e a terra Quem tem a razão sobre os transgênicos: cientistas ou ambientalistas? meIO AmbIeNte 15 A Grande Tripulação A sustentabilidade de um planeta em constante crescimento populacional
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SOCIAl 22 Fica vivo! Programa reduz 50 % de homicídios em Minas Gerais
12 16 Deserto brasileiro A desertificação já alcança a marca de 18,7 mil km² em território nacional.
Papel reciclado Recicle e conheça a história do papel do Brasil e no mundo. 16 Artigo: Desenvolvimento sustentável Compatibilizando o crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. 24 Felizes para sempre? Violência doméstica: 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas.
eDUCAÇÃO 27 Utopia ou Escolha? É preciso resgatar a estima dos educadores e respeito aos educandos. SAÚDe Obesidade pode virar epidemia O sobrepeso já um dos mais graves problemas de saúde pública, no Brasil eSPORte O Brasil sob os pés de um atleta Do Oiapoque ao Chuí: maratonista
28 CUltURA 32 Teatro na areia Espetáculo reúne 1.300 atores do povo, num exemplo de inclusão cultural e social. COlUNA teeN 36 Gravidez na adolescência Por que isso está se tornando tão comum?
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38 Classificado Solidário Dicas de Livros Sem dúvida
A evolução pressupõe melhorias, Instituto ajustes e conhecimento. Todos os segmentos da sociedade têm, Neo hoje, uma maior preocupação Mondo ambiental e social. Isso significa Um olhar consciente que a forma como fazemos as coisas estão em cheque, e não raro, precisam sofrer adequações e porque não, inovações. Vivemos num momento de muitos questionamentos, de muitas tentativas, de erros e de acertos. É exatamente essa movimentação que provoca, que tira da zona de conforto e que gera uma nova consciência e mudanças. Os problemas ainda estão aí, latentes, mas a disposição de encontrar saídas também se fazem presentes. É nosso papel visitar e trazer a público esses exemplos, que esperamos sejam motivadores para que cada um possa buscar novas saídas para velhos problemas. Boa leitura. Liane Uechi
Expediente Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Ricardo Girotto, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina, Eduardo Sanches e Luciana Stocco de Mergulhão Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) e Livi Carolina (MTB 49.103-59) Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Diretor de Criação e Ilustração: Ricardo Girotto Diretor de Arte: Adriano Ferreira Barros Secretária Executiva: Monique Zafani Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Fotógrafo: Élcio Moreno Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SP Cep: 09190-000 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.com.br redacao@neomondo.com.br trabalheconosco@neomondo.com.br classificadosolidario@neomondo.com.br Para anunciar: comercial@neomondo.com.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.com.br
A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem Neo autorização. Mondo - Fevereiro 2008 3 prévia
Perfil
A publicidade em temp
susten
O publicitário Luiz Lara fala sobre o novo m da publicidade, que transita da valorização d a valorização das práticas sustentáveis Da Redação
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os últimos anos uma movimentação diferente ganhou força, com empresas investindo em questões sociais e ambientais. Na mídia, as campanhas publicitárias com esse enfoque se tornaram constante. Novos termos como sustentabilidade e responsabilidade social passaram a ser usados no mundo empresarial e invadem as telas e as páginas dos meios de comunicação. E como fica a publicidade nesse novo momento? É incontestável que ela sempre ocupou um papel de muita importância na sociedade de consumo, respondendo com criatividade aos anseios de vorazes consumidores, que compram bens, serviços e porque não, valores. Nesse sentido fica claro, que o setor tem um compromisso inerente, de levar uma mensagem ética e correta, capaz de contribuir para a formação de consumidores consciente e para o desenvolvimento social. Mas é isso que vem acontecendo? O publicitário Luiz Lara, sócio de uma das maiores agências de publicidade do Brasil, a Lew’Lara, reconhecida por sua participação em campanhas inovadoras e
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comprometidas com causas socioambientais, acredita que “há um abuso no apelo da sustentabilidade e da responsabilidade social, na publicidade”. Para ele, existe ainda uma grande distorção, “a primeira premissa de uma empresa não deveria ser a propaganda de sua imagem, mas sim possuir de fato um modelo de gestão sustentável de seus negócios que pudessem traduzir os verdadeiros valores de sua marca” – disse Lara. Na sua opinião, uma empresa que quiser projetar uma imagem positiva, pela publicidade, por melhor que seja a campanha, não terá credibilidade. “O consumidor irá perceber e dizer que aquilo é só propaganda” – afirmou o publicitário. Ele disse que é preciso compreender que os valores reais da empresa são aqueles que vêm de dentro pra fora, aqueles que são vivenciados pelos funcionários e que estão impregnados na postura e forma de gestão. Lara acredita que ainda há muita confusão na conceituação de responsabilidade social e sustentabilidade, que não podem
mpos de
entabilidade
vo momento ão do consumo para
“
Há um abuso no apelo da
sustentabilidade e da responsabilidade social, na publicidade
ser caracterizados por doação de dinheiro a entidades ou plantio de árvores. O publicitário diz que praticar a responsabilidade está vinculada a uma gestão sustentável de seu negócio, baseada na estratégia do ganha-ganha, que permite a viabilização do negócio e a promoção de desenvolvimento para todos os envolvidos. “Temos como clientes empresas como o Banco Real, que foi a primeira empresa nacional a adotar a coleta de lixo seletiva, que pratica o crédito socioambiental, emprestando recursos para empresas que respeitam o meio ambiente, que realiza ciclos de palestras sobre essas práticas e valores para seus fornecedores e parceiros. O banco está adotando na gestão dos seus negócios a estratégia do ganha-ganha. Ele busca ganhar dinheiro praticando um modelo sustentável. Temos a Natura, que há quarenta anos exercita alternativas de reduzir impactos nos seus processos, que incentiva a consumidora a usar refil, mostrando também seu comprometimento com um modelo sustentável de negócio” – exemplificou Lara.
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COMUNICAÇÃO Para Lara, a comunicação deve ser uma ferramenta nesse processo de construção de imagem da marca, que deve ter por base fatos concretos e começar dentro da empresa, com seu público interno, passar por todos os seus stakeholders e só depois, ser trabalhada externamente. Do contrário, pode parecer uma forma oportunista de explorar uma imagem socioambiental e sustentável. Essa prática, que ele denomina de “bate-bumbo”, pode prejudicar a credibilidade da empresa e causar no consumidor uma percepção contrária ao que se pretendia. Em sua agência, o núcleo de planejamento que trabalha com essas questões socioambientais se propõe a orientar, planejar e realizar a
consultoria de comunicação de seus clientes, com a concepção de que a noção de responsabilidade social está vinculada à pratica, que a imagem da marca só é compatível com a experiência real da empresa. Quando se obtém essa condição, o sucesso das campanhas acontece porque são verdadeiras e mostram modelos reais de gestão de negócios. O comunicador disse, no entanto, que ainda há um longo caminho a trilhar até equacionar as questões onde as empresas adotem modelos sustentáveis, que possam ser traduzidos pela publicidade aos consumidores conscientes. “Esse é hoje o grande desafio de todos” – concluiu o publicitário.
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Economia & Negócios
AGÊNCIAS DE DESENV O papel mobilizador e democrático dessa entidade do Terceiro Setor Liane Uechi
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Apesar da falta de estatísticas atuais, pesquisas realizadas por entidades de grande confiabilidade como o Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV), apontam que o Terceiro Setor representa 5% do PIB Nacional. Apesar de ter crescido muito nos últimos anos ainda está longe de modelos como o Japão, 42% do PIB; Itália, 38% e EUA, 35%. O Terceiro Setor envolve aproximadamente 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados. São Fundações, Institutos e diversas formas de associações que desempenham papel cada vez mais importante nas questões sociais. Dentre os formatos que têm despertado a atenção, por seu caráter de mobilização, estão as Agências de Desenvolvimento Local – ADL. Tema de recente lançamento do Livro Eletrônico do Sistema de Apoio Institucional - SIAI, as ADLs são organizações privadas sem fins econômicos, constituídas sob a forma de associações, cujos objetivos são: o diagnóstico, o fomento e o planejamento estratégico para o desenvolvimento econômico e social local. Marcel Antoine Haswany, secretário executivo do SIAI, entidade que ao longo dos últimos oito anos auxiliou a constituição de cerca de 300 ADLs, explicou que a intenção é alterar o formato até então adotado, onde as comunidades locais não possuem qualquer tipo de planejamento, e ficam na dependência do poder público e de seus projetos políticos. Através das ADLs, a comunidade passa a interferir e direcionar o processo de desenvolvimento. Essas inicia
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tivas já aconteceram no Estado de São Paulo – programa de estratégia competitiva e no Estado de MG – cidades diques – ambos na década de 80. Haswany disse que o primeiro questionamento a considerar na criação de uma ADL é: O que queremos para nossa cidade ou região? Para o SIAI, o desenvolvimento não está relacionado apenas à atração de investimentos para o município, mas deve resultar de um processo de compartilhamento de visão da comunidade, através de uma leitura correta da conjuntura sócio-econômica local, avaliação dos problemas e de todo o contexto que os envolvem. É nesse sentido, explicou o especialista, que o Terceiro Setor oferece as ferramentas adequadas para a viabilização dos projetos, podendo atuar sob a forma de uma Agência de Desenvolvimento. Essas organizações reúnem o poder público, entidades da sociedade civil, legalmente constituídas e da iniciativa privada, como por exemplo: associações de classe, clubes de serviço, sindicatos, entidades empresariais, empresas, universidades, faculdades, conselhos municipais, representantes de organismos públicos, etc. A força dessa reunião com todos os segmentos da sociedade resulta em planos e projetos para a comunidade, com a execução de programas de interesse público. A defesa da criação dessas agências se justifica na possibilidade mais efetiva de participação democrática de pessoas físicas e jurídicas, além de viabilizar articulações entre os setores público e privado,
NVOLVIMENTO LOCAL
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O que queremos para nossa cidade ou região?
que se traduzam em objetivos comuns alcançados. A mensuração desses resultados pode ser, na opinião de Haswany, aferida no aumento de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), crescimento econômico, melhoria na saúde, educação, etc. “Mas, o importante é que isso possibilitará: unir as forças vivas locais (reunir a comunidade); identificar e planejar o futuro da região, sem interferência política; estabelecer um planejamento estratégico; mobilizar os atores locais na execução de programas e projetos e a fiscalizar as ações executadas pelos organismos e administração local” – esclareceu. O formato jurídico das ADLs baseia-se na lei federal nº 9.790/99 e decreto federal nº 3.100/99, onde o próprio governo, por meio de isenções tributárias, que permitem captar recursos de renúncias e incentivos fiscais, incentiva essas iniciativas. Dentro de uma ADL, pode-se desenvolver atividades como: incubadora de iniciação empresarial, central de compras associativas, sistema de mão-de-obra cooperada, empresas comunitárias, condomínio industrial, comercial e residencial, centro de serviços de terceirização, centros de tecnologia, central de serviços sociais, núcleos de treinamento e qualificação, sis-
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tema de crédito solidário, consorciamento de produção, rodadas de negócio, gestão ambiental, coleta e tratamento de resíduos, projetos de turismo e lazer, projetos culturais e educacionais, sistema de integração com ação governamental, alternativa de produção agrícola, agroindústrias, hospitais e prestação de serviços em geral.
Marcel Antoine Haswany, do SIAI
Números no PIB em terceiro setor Japão
42%
Itália
38%
Estados Unidos
35%
Brasil
5%
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Economia &Negócios & Negócios
moda
SOCIAL
Ong carioca lança grife na Fashion Rio Da Redação
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as passarelas da Fashion Rio, badalado evento de moda que conta com a participação de grifes famosas como Colcci, Coca-Cola Clothing e a presença de modelos como a consagrada Gisele Bündchen, uma estréia chamou a atenção, o lançamento da marca AcomB, que foi apresentada ao mundo fashion e ao público consumidor. O inusitado é que se trata de uma grife surgida nas oficinas de um programa social de inclusão e geração de renda, da entidade Ação Comunitária do Brasil, uma ong carioca. Outra curiosi-
dade é que muitas da peças traziam estampas que faziam referências à história dos integrantes da ONG, moradores de Cidade Alta, em Cordovil no Rio de Janeiro - comunidade surgida após um processo de reurbanização, que removeu da Zona Sul, a Favela do Pinto, na década de 60. A idéia dessas estampas, que já vinha sendo desenvolvida há alguns anos, acertou em cheio e teve grande aceitação, principalmente do público de classe alta e classe média alta, segundo informou Viviane Martins, coordenadora da grife.
Fotos cedidas pela AcomB
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COMO TUDO COMEÇOU Ela explicou que tudo começou nas oficinas de capacitação, oferecidas à comunidade. Ali, no Núcleo de Moda & Estilo, da Ação Comunitária, os inscritos puderam aprender a costurar, a bordar e a serigrafar. Com o grupo já qualificado, iniciaram-se as oficinas de produção, que passaram a prestar serviços de terceirização para outras confecções e marcas. “Deu tão certo que resolvemos criar a nossa própria grife” – disse a coordenadora. O nome escolhido foi AcomB, uma licença poética ao próprio nome da entidade Ação Comunitária do Brasil e, que também, numa conotação, bem humorada dos integrantes, faz alusão às kombis, utilizadas no transporte da comunidade. Pois é exatamente a esperança de que esse trabalho possa transportá-los à
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uma condição melhor, que os integrantes se dedicaram nesse novo projeto e vibraram com a participação na Fashion Rio. “Eles se emocionaram quando assistiram o desfile no vídeo e reconheceram as peças produzidas por eles” – contou Viviane. Hoje, o Núcleo conta com 37 pessoas com idades que vão de 16 (aprendizes) à 82 anos. Segundo Viviane, muitos dos alunos, já capacitados nas oficinas, permanecem trabalhando no Núcleo e outros estão atuando no mercado. O sucesso desse trabalho com moda, segundo a coordenadora, se deve também ao talento natural dessa comunidade, que assimilou com facilidade o glamour e o empreendedorismo do negócio.
O trabalho desenvolvido procura não só ensinar as técnicas, mas também capacitar os participantes para atuarem no mundo da moda, com produtos originais e de qualidade
PRODUÇÃO A produção das peças é realizada em etapas, passando pelas oficinas de artes visuais, serigrafia, moda e bordado. Os alunos de artes visuais criam ilustrações a partir do cotidiano da favela e essas imagens são estampadas na serigrafia e posteriormente, o núcleo de moda cria a coleção. “O trabalho desenvolvido procura não só ensinar as técnicas, mas também capacitar os participantes para atuarem no mundo da moda, com produtos originais e de qualidade” – explicou Viviane. A iniciativa garantiu um salto importante para a sustentabilidade do Núcleo, sendo que o rendimento dos negócios já responde por 70% dos custos, incluindo a oficina para qualificação, além de gerar renda e auto-estima para os seus integrantes. A Ação Comunitária do Brasil/RJ foi fundada no Rio de Janeiro por um grupo de empresários, há mais de 40 anos. Tem como objetivo promover a cidadania e elevar a auto-estima dos moradores de comunidades de baixo desenvolvimento econômico. A instituição organiza seus projetos em quatro frentes de trabalho. Os programas de Qualificação Profissio-
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FASHION RIO Para desenvolver a coleção para a Fashion Rio, a AcomB contou com a orientação do estilista Beto Neves, que valorizou as técnicas artesanais no mercado da moda. As peças produzidas foram divididas em três fases: a executiva (moda do dia-a-dia), a jovem (urbana) e a rainha (noite). A participação nesse importante evento de moda foi fruto da união entre a Ação Comunitária, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro e a Petrobras, que criaram o projeto Moda em Ação, com o objetivo fortalecer a marca social da instituição, no setor de moda. Os artesãos da Ação Comunitária do Brasil já vinham participando das últimas quatro edições do Fashion Business - evento paralelo ao Fashion Rio, sempre apresentando coleções inspiradas em aspectos do dia-adia, cultura e história de sua comunidade. nal e Oficinas Produtivas; Arte, estética e cultura; Saúde e Qualidade de vida e Educação. Todo trabalho é focado na capacitação profissional, geração de renda e regaste da identidade cultural afro-brasileira. Também tem o intuito de democratizar o acesso à cultura, à informação e à saúde, assim como aumentar o nível de escolaridade de todos os envolvidos.
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Ciência & Tecnologia
nanotecnologia, a ciência do futuro No futuro, novos materiais poderão ser construídos átomo a átomo Da Redação
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um mundo do futuro é possível imaginar novos materiais, que se reconstituem automaticamente ao serem rasgados, remédios e exames médicos mais eficientes e menos agressivos, regeneração celular de órgãos e sistemas humanos, toda gama de equipamentos mais compactos, leves e de alta performance e interatividade.... Porém, esse futuro não é tão distante como imaginamos. Esses avanços, que já estão a caminho, passam necessariamente por uma ciência, denominada nanotecnologia ou nanociência, que apesar de estar muito concentrada ainda nas pesquisas e no mundo empírico – baseado na possibilidade com base em estudos - , promete uma revolução através da manipulação de átomos e moléculas. Um dos integrantes desse mundo fascinante da pesquisa científica, o professor do Instituto de Física de São Carlos (USP), Luiz Nunes de Oliveira, especialista em nanoestrutura, explicou que o desenvolvimento científico está se tornando cada vez mais veloz e que num período de vinte a trinta anos, estaremos num estágio evolutivo muito diferente do que entendemos hoje
Européia. No Brasil, os investimentos ainda estão muito restritos ao governo, através de incentivos à pesquisa e também o setor petroquímico, que realiza projetos e estudos na área. As pesquisas no Brasil estão voltadas aos segmentos de medicamentos, sensores, materiais magnéticos, semi-condutores e computação quântica.
INFINITO DE POSSIBILIDADE
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Entre o tamanho de um átomo e o de um fio de cabelo, está um universo imenso a ser explorado, omundo nano
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Os benefícios essa ciência pontam para um infinito de possibilidades que englobaria novos materiais, avanços em eletrônica e em biotecnologia, como no caso das células tronco, com grande implicações econômicas, sociais e ambientai. Ganhos na engenharia, com a utilização de produtos mais duráveis, limpos, seguros e inteligentes, tanto para a casa, como para as comunicações, os transportes, a agricultura e a indústria em geral. É possível imaginar dispositivos médicos capazes de trafegar livremente na corrente sanguínea e detectar e reparar células cancerígenas antes de que se alastrem.
PERIGOS E RISCOS como ciência moderna. Exagero? Talvez nem tanto, basta fazer um retrospecto para perceber como funcionam essas mudanças. Nos idos de 1870, quando a visão do mundo ainda era macroscópica, decobriu-se os micróbios. A surpresa científica, de que um ser praticamente invisível poderia causar tantos danos, abalou o mundo. Com a descoberta do átomo, e a possibilidade de trabalhar atomicamente, novos avanços foram obtidos, principalmente no século 20, com o domínio das técnicas de manipulação. Ocorre que o átomo é considerado pelos cientistas como uma estrutura rudimentar. Ele é formado por um núcleo positivo, onde reside praticamente toda sua massa, e por elétrons, negativos, que circulam em torno desse núcleo. Nessa estrutura se alojam: a vantagem da simplicidade de sua manipulação e a desvantagem da limitação de recursos. Foi então que alguns pioneiros mais ousados se perguntaram: e se construíssemos novos materiais, átomo a átomo. Nasceu aí a nanociência, que consiste em construir materiais a uma escala de 1 nanômetro, com
grupamento de átomos, o que amplia enormemente as possibilidades científicas. Um nanometro equivale a um milionésimo de milímetro. “Entre o tamanho de um átomo e o de um fio de cabelo, está um universo imenso a ser explorado, o mundo nano” – disse Oliveira. Atuar na manipulação dessas moléculas traz inúmeras possibilidades para a ciência do futuro, em diversas áreas como a medicina, eletrônica, ciência da computação, física, química, biologia e engenharia dos materiais. Ainda é uma caixa preta, mas segundo Oliveira, em questão de 10 a 15 anos já devese ter um controle melhor e mais aplicável dessa tecnologia. Ele cita alguns exemplos de utilização da nanotecnologia, dentre os quais um produto aplicado na fabricação de pará-brisas de veículos que fazem a água escoar sem necessidade de limpador ou ainda uma matéria que pode ser aplicada a tinta para torná-la branca, sem pigmentos. Os países desenvolvidos investem muito dinheiro na nanotecnologia. Mais de dois bilhões de dólares por ano, se somarmos os investimentos dos Estados Unidos, Japão e União
Mas não só vantagens podem advir dessa tecnologia. Como tudo na vida, pode-se ter um uso duplo, ou seja, com aplicações comerciais e também militares, aos quais se enquadrariam armas e aparelhos de vigilância muito mais potentes. A nanotecnologia representa, portanto, incríveis vantagens para a humanidade, mas também riscos, incluindo-se ai a nanopoluição, formada por nanopartículas residuais. Especula-se que, devido ao seu pequeno tamanho, eles poderiam entrar nas células de animais e plantas. Como a maioria destes nanopoluentes não existe na natureza, as células provavelmente não saberiam como lidar com eles, causando danos ainda desconhecidos. O fato é que trata-se de um caminho evolutivo natural e tem sido encarado como a próxima revolução industrial. A US National Science Foundation estima que, dentro de dez anos, todo o setor de semicondutores e a metade do setor farmacêutico dependerão dessa nova ciência e que, até 2015, o mercado global envolvido por ela girará em torno de um trilhão de dólares.
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Ciência & Tecnologia
Entre o labo
e a te
Há anos cientistas e am os transgênicos, mas q Livi Carolina
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companhando a polêmica entre ambientalistas e cientistas em torno dos produtos transgênicos temse a impressão de que esta tecnologia acaba de ser desenvolvida. São tantos mitos e argumentações, aparentemente tão incertos, que parece espantoso dizer que os estudos sobre os organismos geneticamente modificados começaram em 1860. Nessa época, o austríaco Gregor Mendel descobriu a funcionalidade do material genético hereditário, transferido por meio do DNA, observando a descendência do cruzamento entre ervilhas de características diferentes. Foi a partir daí que cientistas de todo o mundo despertaram para a engenharia genética e iniciaram testes principalmente nas áreas da agricultura e saúde. A ponto
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de, em meados dos anos 80, evitar a morte de milhares de diabéticos. O tratamento, antes feito a partir da retirada de insulina dos porcos, passou a ser inviável, uma vez que alguns pacientes, submetidos a este tratamento, tinham uma forte rejeição à porcina. Foi então, que uma empresa de biotecnologia clonou o gene humano da insulina e o introduziu em uma bactéria que passou a produzir insulina humana, hoje vendida, em fracos, nas farmácias. Mas, foi em 1962 que ambientalistas e cientistas se confrontaram. Após a II Guerra Mundial a agricultura passou por um período de expansão na produtividade devido à utilização de fertilizantes químicos. Contudo, para combater os insetos, desenvolveuse o agrotóxico DDT que passou a ser usado
com freqüência, contaminando o meio ambiente. Em forma de denúncia, a escritora e ecologista norte-americana Rachel Carson publicou o livro Primavera Silenciosa, mostrando a preocupação com o ambiente, que até então, era despercebida. Depois disso, a ciência passou a dedicar-se ao desenvolvimento de um produto que garantisse o plantio e o crescimento, sem o uso exagerado de compostos químicos. Iniciaram-se, então, as primeiras experiências com DNA recombinante na agricultura – inserção de genes de uma espécie em outra. Talvez o homem não imaginasse chegar tão longe. Por isso, paralelo aos estudos, aumentavam os debates calorosos entre a ciência e o meio ambiente, vistos até hoje.
boratório
terra
e ambientalista discordam sobre as quem tem a razão?
Fim da guerra? Um dos debates mais recentes tratava sobre a liberação do plantio de dois tipos de milhos transgênicos: resistente ao ataque de pragas (Bt) e a herbicidas (glifonato e glufosinato de amônio). Há meses o Conselho Nacional de Biossegurança - CTNBio mostrava-se favorável à liberação, argumentando que o mesmo oferecia vantagens na competitividade, rendimento e diminuição de agroquímicos, mas os ministérios do Meio Ambiente e da Saúde eram contra, alegando que não há estudos conclusivos sobre os efeitos do transgênico
para o meio ambiente e a saúde. Somente após meses de discussões, no dia 12 de fevereiro, o plantio e a venda das duas espécies foi liberada. Contudo, a guerra não acabou! Ongs, como a internacional Greenpeace, já iniciaram campanhas para alertar a população sobre supostos riscos dessas culturas, além de cobrar das autoridades e empresas o uso dos rótulos que identifiquem os produtos fabricados no país, com 1% ou mais de matéria-prima transgênica (Lei 8.079/90).
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Economia & Negócios
De um lado os ambientalistas...
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Segundo a coordenadora da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil, Gabriela Vuolo, os ministros do Conselho cometeram um erro ao ignorarem documentos importantes que apontam dados sobre estudos de contaminação genética, evidências científicas sobre o risco à saúde e ao meio ambiente e relatórios de governos europeus, justificando o motivo da proibição dessas variedades nos respectivos países, que colocam em dúvida a segurança desses milhos. “Alguns países europeus, como o Reino Unido, proibiram nos últimos meses a comercialização desses produtos justamente por conta dos problemas apontados por essa documentação” – destaca. Para ela, o grande problema é que nada é conclusivo. Mesmo que a técnica seja testada em laboratórios, ainda não houve tempo para perceber reações no ser humano, uma vez que, alguns sintomas de doenças, por exemplo, ficam encubados no organismo e demoram anos para se manifestar. Além da saúde, outro entrave apresentado é o fato do transgênico poder crescer, multiplicar-se, sofrer modificações e interagir com toda a biodiversidade. “Na plantação, fora dos laboratórios, os cientistas não sabem onde vai dar. Uma plantação geneticamente modificada pode transferir suas propriedades híbridas para outras espécies e plantações orgânicas vizinhas, no período de polinização das plantas. Isso pode resultar na criação natural de uma planta desconhecida e imprevisível” – diz a coordenadora. O Greenpeace ainda aponta outro problema, a utilização desses vegetais com resistência a herbicidas pode causar o aparecimento de “super pragas”, causando o desequilíbrio ecológico e a contaminação do solo e do lençol freático, devido ao uso intensificado de agrotóxicos. “Enquanto não houver respostas a todas as perguntas não se deveria plantar” – afirma Gabriela Vuolo.
O brasil O fato é que, atualmente, o Brasil é o terceiro país do mundo em área de lavouras geneticamente modificadas. Segundo dados do relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrotecnologia – ISAAA, o plantio de soja e algodão transgênico ocupa cerca de 15 milhões de hectares e só fica atrás da Argentina, com 19,1 milhões, e dos Estados Unidos, com 57,7 milhões. Agora só o tempo para dizer quem estava com a razão: cientistas ou ambientalistas?
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Do outro, os cientistas. Para a engenheira agrônoma e diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Alda Lerayer, a forma com que o transgênico é apresentado à sociedade é equivocada. “A tecnologia trabalha em prol da sociedade e do meio ambiente, ao passo que houve redução no uso de agrotóxicos. Agricultores que antes faziam vinte aplicações, hoje fazem nove e ainda economizam água, utilizada para diluir o produto, reduzem o uso de máquinas e combustíveis e aumentam a sua produtividade” – ressalta. De acordo com a engenheira, muitos agricultores de pequeno porte puderam ter maior lucro após optarem pelo transgênico, uma vez que, mesmo pagando royalties, (compensação financeira de determinada tecnologia, prevista pela Lei 9.279/96) o custo para eles é menor. “Exemplo disso é o que tem acontecido em Catuti – MG, produtora de algodão transgênico, onde colhia-se cerca de 30 arrobas por hectare - o restante se perdia por causa das pragas ou má aplicação de herbicidas - hoje são aproximadamente 180 arrobas por hectare” – destaca. Contudo, Alda enfatiza que é preciso ter cuidados com o plantio para que a plantação de transgênicos não se espalhe. “Nossos antepassados já sabiam que para manter uma área é só isolá-la. Para que os ventos não levem o pólen, o agricultor só precisa deixar o plantio com pelo menos 50 metros de distância da outra cultura. Se mesmo assim tiver receio, basta alternar o período de plantio das espécies, dando um espaço de tempo de trinta dias entre as semeaduras” – alerta.
Função do transgênico mais comuns Resistência a inseto - plantas que recebem genes resistentes ao ataque de insetos específicos. Como é o caso das chamadas Bt que, ao ser ingerida por uma lagarta, provoca sua morte; Tolerância (resistência) a herbicidas – plantas com gene chamado EPSPS que resiste às substâncias químicas usadas para matar ervas daninhas, sendo possível fazer uma aplicação mais eficaz do herbicida, sem a necessidade de aplicar grande quantidade;
Melhoramento nutricional – plantas que têm valor nutricional expandido; Fontes: Conselho de Informações sobre Biotecnologia e Greenpeace Brasil.
Meio Ambiente
Artaet Arantes da Costa Martins
a grande tripulação Os desafios ambientais de um planeta superpovoado
S
egundo a ONU, a cada segundo que você demora lendo este texto, 8,6 bebês estarão nascendo em algum lugar do planeta. Serão 516 nascimentos por minuto, 30.960 por hora, 743.040 por dia. Em um ano, mais de 260 milhões de pessoas estarão se somando aos atuais 6,5 bilhões, todas competindo por espaço, comida e água, produzindo lixo, respirando oxigênio e eliminando gás carbônico. Se você acha que isso já é motivo de preocupação, acertou! Até pouco tempo atrás, vários cientistas atestavam que o planeta Terra poderia suportar sem problema o dobro da população existente, baseando-se apenas nas novas tecnologias que garantiriam um aumento na produção de alimentos. Mas ninguém havia chegado a uma conclusão de qual seria a capacidade do planeta em sustentar a progressão humana, devido à infinidade de fatores a serem analisados. O que é fácil notar é que a Terra tem o seu limite. E quando mais povoada, maior será a quantidade de recursos naturais utilizados. Quanto maior for o crescimento populacional desordenado, mais difícil será atingir o desenvolvimento sustentável. Conforme a população cresce, ela necessita de uma área maior para viver e para pro-
duzir seu sustento, e com isso, as florestas que cobriam aproximadamente 60%da área terrestre, hoje cobrem apenas 22%. As florestas regulam a quantidade de carbono na atmosfera e ajudam a estabilizar o clima. Com o passar dos tempos, os impactos causados pelo homem no mundo ficaram evidentes. As florestas tropicais foram destruídas, as reservas de água estão sendo contaminadas, a camada de ozônio vem sendo constantemente danificada. A emissão excessiva de carbono está causando o aquecimento global, que por sua vez, está provocando mudanças abruptas no clima em todo o mundo. As instabilidades que todos nós observamos no clima, como calor e frio extremos, secas e inundações, já estão afetando a produção mundial de alimentos, demonstrando que o planeta já ultrapassou o seu limite de sustentabilidade há algumas décadas, sem que pudéssemos perceber. A sociedade brasileira não pode mais admitir que a discussão pública dos desastres ambientais se dê apenas no calor dos acontecimentos e que a atuação dos órgãos públicos seja restrita ao âmbito da mitigação e da compensação ambiental. Não é nada sensato trabalhar sempre na remediação das conseqüências em detrimento à prevenção.
O binômio “Tolerância Zero”, ou seja, fazer cumprir a legislação vigente, e “Educação Ambiental”, entendida como um processo de construção de um novo olhar sobre o ambiente e as suas relações, pode significar o caminho para a mudança cultural que os órgãos públicos brasileiros precisam efetivar. Trata-se de um processo de alta complexidade que não pode ser instaurado por decreto e não depende apenas da vontade dos governantes. A sociedade civil organizada, especialmente o movimento ambientalista, maduro e eficaz, tem uma importante contribuição a dar neste processo, seja para sensibilizar e mobilizar os diversos setores da população seja para disponibilizar conhecimento e tecnologias socioambientais desenvolvidas ao longo de décadas de atuação. E, também, na implementação de programas e projetos que dêem conta de avançar rumo à construção de um paradigma de sustentabilidade para o Brasil. Currículo: Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria e engenheiro com mestrado em Qualidade e Pósgraduação em Gestão Ambiental. Neo Mondo - Fevereiro 2008
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Meio Ambiente
Deserto
brasilei
A desertificação já alcança a marca 18,7 m em território nacional Livi Carolina
P
ercorrendo a BR 230, passando pelo Ceará e Piauí, é possível ver um espetáculo da natureza. Os pastos, os gados, a paisagem tão sofrida da seca que dão nova forma a terra, algo tão bonito, mas de beleza somente vista pelos olhos daqueles que não conhecem a realidade da região. Quem vive lá, e convive com os problemas da terra, sabe que aquelas deformações, muito além de manifestações do meio ambiente, são a marca da presença do homem. Áreas que sofreram com o uso inadequado do solo e da água nas atividades agropecuárias ou com a irrigação mal planejada, a mineração e o desmatamento indiscriminado, causando ou acelerando – em função das variações climáticas - a desertificação do solo. Processo que reduz ou elimina a camada superficial, e mais fértil, do solo, dificultando a penetração das raízes, aumentando as perdas de nutrientes das plantas, provocando a salinização e a solidificação do solo, reduzindo as atividades biológicas e transformando uma região fértil em deserto. Segundo dados da Worldwatch Institute, organização norte-americana que acompanha o estado atual dos recursos naturais do planeta, 15% da superfície terrestre correm o risco de desertificação em algum grau. Mas, somente no Brasil é possível verificar este fenômeno em uma área total de 18,7 16
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mil km², que já avança para 1,3 milhões 15,7% do território nacional. Regiões de clima árido, semi-árido e subúmido seco são os mais vulneráveis, e no caso brasileiro, onde se concentram cerca de 30 milhões de pessoas que, em sua maioria, dependem da terra para a sobrevivência. Os maiores índices de desertificação podem ser vistos em: Gilbués - no Piauí, Seridó - no Rio Grande do Norte, Irauçuba - no Ceará e Cabrobó - em Pernambuco. Segundo o IBGE, o Estado mais atingido é o Piauí, com sete municípios, sendo que em três deles atinge uma área de 769.400 hectares. De acordo com o professor de Ciência do Solo da Universidade Federal do Piauí, Adeodato Ari Cavalcante Salviano, a degradação ambiental em Gilbués impressiona não apenas pela sua extensão, mas principalmente pela rapidez do processo, trazendo consigo sérios efeitos negativos tanto na zona urbana, como na zona rural. “Quem passa pela região de Gilbués tem o desprazer de encontrar enormes crateras ao longo das estradas; extensas áreas com pouca ou nenhuma cobertura vegetal e com grandes sulcos de erosão ou mesmo voçorocas (erosão subterrânea), culminando com o assoreamento de baixões (geralmente de terras mais férteis), de grotas, riachos, rios, açudes, barragens e lagoas” – destaca o professor.
Reavivamento de Gilbués Em uma tentativa de reduzir esses efeitos em Gilbués, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Semar criou o Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas em Gilbués – Nuperade, cuja proposta é desenvolver pesquisas de controle de erosão e recuperação dessas áreas. Para tanto, a proposta do núcleo é estabelecer compromissos entre as autoridades municipais, proprietários de terras e comunidades impactadas, para que sejam adotadas tecnologias apropriadas para barrar a expansão do problema. Segundo o coordenador do Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca na América do Sul, Gertjan Beekman, este trabalho tem um importante papel na economia do Piauí, devido a fertilidade do solo. “São cerca de oito mil quilômetros de terra fértil inutilizada por causa do passado de mineração e agropecuária inapropriada, mas naquela terra tudo o que se planta, nasce” – diz o coordenador. As experiências avançam com o cultivo de leguminosas de rápido crescimento, capazes de formar uma eficiente cobertura vegetal, que incrementa carbono e nutrientes ao solo e no controle da erosão, por processo
eiro
,7 mil km²
mecânico, para recomposição topográfica, preparo do solo e plantio. Embora as experiências estejam sendo positivas é necessária à intervenção contínua de toda a sociedade. “A principal ação para a melhoria do processo de gestão dos recursos naturais se relaciona à valorização e ao desenvolvimento do fator humano, através da conscientização, participação, comprometimento e educação” – alerta Salviano.
Processo para a recuperação do solo • Educar e disseminar entre a população local técnicas de convivência com o semi-árido, como armazenar e guardar água para consumo humano e produção (barragens sucessivas, subterrâneas e cisternas); • Avançar nos estudos de recuperação do solo; • Plantar culturas que tenham o poder de recuperar o solo, como é o caso do feijão guandu, com adubação orgânica; • Fazer uso adequado de tratores para a preparação do solo; • Combater a pobreza; • Acabar com o desmatamento da caatinga e o uso irregular do solo para agricultura.
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Meio Ambiente
Papel
reciclado Recicle e conheça a história do papel no Brasil e no mundo. Da Redação
J
á imaginou como seria viver sem papel? Hoje em dia seria quase impossível, afinal aprendemos a usá-lo pra tudo: anotações, cartões, cadernos, jornais, livros, impressões, documentos, cartazes, panfletos, rótulos... Mas não foi sempre assim. Oficialmente, o papel foi desenvolvido na China no ano de 105, por Tsai Lun, que misturou à água, cascas de amoreira, pedaços de bambu, rami (planta têxtil), redes de pescar, roupas usadas e cal para ajudar na separação das fibras. De qualidade ainda precária, este foi o ponto inicial para o desenvolvimento das pesquisas para o aperfeiçoamento da técnica, que, em sua maioria, se baseava no uso de tecidos como matéria-prima principal. Com o crescente consumo do papel, o uso de panos passou a ser inviável. Até que, por volta de 1880, o homem percebeu que a pasta usada nessa fabricação era formada por fibras de celulose impregnadas por outras substâncias da madeira (lignina) e definitivamente o tecido deixou de ser usado. 1
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Papel brasileiro Quando o papel chegou ao Brasil, ainda não existia preocupação com o meio ambiente, mas os produtores de papel já sabiam muito bem reciclar. As primeiras fábricas brasileiras utilizavam papéis usados – grande maioria importada - para a produção de novos.
Depois, a fabricação era feita aqui, mas com matérias-primas virgens estrangeiras, em especial a celulose de fibras longas. Somente a partir dos anos 70, os fabricantes passaram a utilizar, em parte da fabricação, os produtos de origem nacional.
Reciclagem Embora a história do papel brasileiro confunda-se com sua reciclagem, foi somente a partir do século XXI que o processo adquiriu popularidade, em função do valor ecológico agregado. Anualmente, o país reaproveita três milhões de toneladas, o
que corresponde a 44,7% do consumo aparente nacional. Contudo, essa produção ainda não atingiu um patamar maior, pois a coleta ainda é pequena. Uma pena, porque, para cada 1000 kg de papel reciclado evitase a derrubada de 20 a 30 árvores adultas.
Como contribuir? Separando o lixo e entregando para a coleta seletiva, principalmente se for empresa, onde a demanda é maior. Mas, você
também pode se livrar daqueles papéis que rasgou enquanto arrumava o armário, por exemplo, para fazer arte.
Faça você mesmo!
PAPEL ARTESANAL
Materiais Papéis usados Copo americano Liquidificador Bacia grande, que caiba na tela Tela de nylon (a mesma usada para silk-screen) ou de arame bem fininho - Deixe de molho uma quantidade grande de papel, de um dia para o outro. Quanto mais mole ele ficar, melhor para bater; - Para cada copo americano de água, a mesma medida de papel; - Bata por alguns segundos a mistura no liquidificador. Lembre-se. Cuidado para não queimar o aparelho; - Veja como fica a polpa. Se quiser um papel mais grosso, coloque mais papel. Se quiser um papel mais fino, ponha mais água; - Encha a bacia (banheira ou tanque) de água para cobrir a tela posteriormente. Jogue a mistura que você bateu no liquidificador nesta bacia; - Pegue a tela e mergulhe-a na vertical até o fundo; - Faça um movimento com a tela como se fosse juntar sujeira com uma pá; - Deixe a tela na horizontal, leve até o fundo e comece a levantá-la; - Retire a tela totalmente da água; - Coloque um jornal sobre uma pia, por exemplo; - Vire a tela sobre o jornal; - Pressione a tela com o pano ou esponja (não esfregue!) até retirar o máximo de água da tela; - Dê umas leves batidas para desgrudar o jornal e o papel reciclado da tela; - Como o papel reciclado grudou no jornal, pendure-o no varal para secar. Assim, você aproveita a tela para fazer vários papéis ao mesmo tempo. - Assim que secar, desgrude o papel reciclado do jornal e dê o formato que quiser, como envelopes, sacolas... - Outras cores são possíveis se você usar tinta para tingir roupa. Técnica desenvolvida pela estilista Érika Senra. Neo Mondo - Fevereiro 2008
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Meio Ambiente
Eduardo Sanches
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL Compatibilizando o crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico
O
s problemas ambientais que a humanidade têm enfrentado ressaltam a conclusão de que a utilização dos recursos naturais, pelo homem, não tem sido feita de forma adequada, e, mostram a necessidade de compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a conservação do meio. Essa questão deve ser encarada como uma reavaliação das práticas adotadas, redirecionando-as de forma a manter o desenvolvimento econômico-social. Quando falamos em desenvolvimento, estamos considerando o avanço tecnológico capaz de aumentar a expectativa de vida humana, redução de mortalidade infantil, prevenção de doenças, conhecimento, conforto, diversão etc. Para obtê-lo, precisamos de um processo equilibrado entre a produção, o meio ambiente e a sociedade. Esse princípio é muito conhecido como “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”. É preciso entender bem este conceito, que preconiza:
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- Crescimento Econômico; - Equidade Social; - Equilíbrio Ecológico. Atuar somente no equilíbrio ecológico em detrimento aos outros dois itens, irá promover desbalanceamento, através de uma visão unilateral que defende interesses de parte da sociedade. O Crescimento Econômico deve se tornar possível através da alocação e do gerenciamento eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados. A Equidade Social é a construção de uma civilização com maior igualdade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres.
E por fim, o Equilíbrio Ecológico deve ser conseguido através do uso racional dos recursos naturais, observando-se o respeito aos ecossistemas, a preservação de recursos não-renováveis e da biodiversidade Desdobrando esses três importantes elementos do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, concluiremos que para um Planejamento Ambiental adequado devemos considerar a sustentabilidade espacial com uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas, e a sustentabilidade cultural, considerando as raízes endógenas nos processos de modernização. É preciso que entender a profundidade e magnitude do tema para que o Planejamento Ambiental, seja ele de uma empresa, cidade, estado ou país, tenha o compromisso de atender o seu propósito e alcançar a eficiência no seu resultado.
Eduardo Sanches Gerente de Meio Ambiente, Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo Petroquímico. Professor universitário de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).
Social
Fica
vivo! Programa reduz 50 % de homicídios em Minas Gerais Da Redação
C
om a mesma freqüência em que o tema criminalidade é diariamente discutido em todos os setores da sociedade, novos jovens são recebidos pelos grupos criminosos nas favelas, iludidos com a falsa sensação de independência, superioridade, poder aquisitivo, segurança e com a oportunidade de adquirir tudo o que seu desejo permitir: roupas, tênis, carros e notoriedade - mesmo que reconhecida somente pela comunidade do crime. O fato é que, enquanto as possíveis soluções levantadas não forem suficientes para oferecer este mesmo status de forma digna ou valores e princípios que se sobreponham a esses atrativos, milhares de jovens continuarão morrendo pelo envolvimento no crime. De acordo com dados levantados pela Unesco em 2002, o Brasil foi apontado como o segundo país com mais mortes violentas de jovens entre 15 e 24 anos, atrás somente da Colômbia, Ilhas Virgens, El Salvador e Venezuela, e teve um aumento de 77% no número de homicídios de jovens brasileiros em 10 anos. Um terço, provocadas por arma de fogo. 22
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Substituição Oportunidade
Sai
Homicídios
Entra Solução estratégica Em meio a todos estes números alarmantes, Minas Gerais adotou o Programa Controle de Homicídios Fica Vivo!, um programa cujo objetivo é atingir jovens de 12 a 24 anos em situação de risco social e residentes nas áreas com maior índice de criminalidade, reduzindo as taxas de homicídios. E tem obtido sucesso! Ainda em formato piloto, há seis anos o Fica Vivo foi implantado na região do Morro das Pedras, na época, uma das áreas mais violentas de Belo Horizonte e somente nos primeiros cinco meses de atuação, já apresentou uma redução de 50% na taxa de homicídios, tentativas de homicídios, roubos e assaltos a padarias e supermercados. Hoje, ele atende 22 comunidades, 11.846 jovens e, em 2006, cerca de 300 participantes do programa foram capacitados para o mercado de trabalho.
“
Segundo a coordenadora do programa, Kátia Simões, este resultado só está sendo possível, pois a ação partiu de uma estratégia que envolveu as Polícias Militar, Civil e Federal, o Ministério Público, a Prefeitura de Belo Horizonte, o Sebrae, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), ONGs, movimentos sociais e a comunidade. O programa foi desenvolvido pelo Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG – Crisp, tendo como base o resultado de uma pesquisa que apontou um crescimento de 100% no número de homicídios, em Belo Horizonte, entre 1997 e 2001. Com foco na diminuição dos índices de mortes entre jovens em risco social, o Fica Vivo estruturou-se em dois pilares fundamentais: a Intervenção Estratégica, grupo formado por órgãos judiciários e públicos para a implantação e avaliação das ações,
e a Proteção Social, grupo representante da comunidade que apresenta seus problemas e possíveis soluções. “Estas parcerias permitiram aproximar o público-alvo do programa e capacitar as comunidades, junto com os órgãos públicos e judiciários, na criação e implementação de soluções conforme as necessidades” – disse a coordenadora. Kátia ainda destaca o fato do apoio da polícia mudar a imagem distorcida que a população tem dos policiais. Eles mapeiam e identificam os principais alvos que ameaçam a paz da comunidade e fazem o trabalho de monitoramento por meio do policiamento comunitário. Para isso, foi criado um departamento exclusivo para o Fica Vivo, o Grupamento Especial de Policiamento para Áreas de Risco – GEPAR.
Nosso trabalho é mostrar para estes jovens que existe outra realidade
Implantação Desde 2003, o Programa Controle de Homicídios Fica Vivo! foi aprovado pelo Estado como política pública estadual, portanto hoje, ele está instalado nos locais apontados, também pelo Governo, como áreas de risco. A primeira providência é levantar informações sobre o local: número de jovens, dados da criminalidade, projetos que já estão em andamento e quais os principais problemas. A partir de então, convoca-se a sociedade para participar ativamente de sua solução. “Durante a avaliação do local, procuramos conhecer o que já estava sendo feito na região. Se já existia uma oficina bem sucedida de futebol, por exemplo, damos continuidade a este trabalho, mas com o novo foco de público, capacitando o oficineiro” – explica Kátia. Este foi o caso de Sérgio Soares Magalhães, responsável pelas oficinas de futebol e percussão. Ele conta que no começo a mudança de foco o preocupou, afinal agora ele iria lidar também com jovens já envolvidos no crime.
“No começo foi difícil, por mais que tivesse recebido a capacitação, teria que enfrentar a realidade, lidar diretamente com jovens que andavam armados o tempo todo. Mas agora o medo passou. Aprendi a conquistar a confiança desses meninos” – conta o oficineiro. Para ele, o mais importante nesta relação é deixar o jovem livre, sem fazer muitas perguntas, falar a língua dele e aos poucos conhecê-lo. “Quando ele se sente à vontade, ele mesmo fala de si” – destaca. Em dois anos no programa, Magalhães teve contato com muitos jovens, alguns não conseguiram se libertar das garras da crimiNúcleos
Jovens no Fica Vivo
Ribeiro de Abreu 953 Morro das Pedras 1.132 Uberlândia 835 Contagem 759 Montes Claros 589
Nº de oficinas
40 36 27 28 20
”
nalidade, mas outros são seus ajudantes. Conquistaram um lugar na sociedade, trabalham, têm identidade, carteira de trabalho, vão ao shopping, porque aprenderam a enxergar as diferenças. “Nosso trabalho é mostrar para estes jovens que existe outra realidade, apresentando um mundo diferente daquele que ele está acostumado, através das oficinas e das visitas promovidas a museus, cinemas, eventos culturais...” – diz a coordenadora. Saindo daquele ambiente, até então seu refúgio, e, conhecendo outros lugares e referências positivas ele compreende que há outras alternativas de vida. % de Média de Jovens 15-24 nos jovens no jovens/oficina bairros atendidos programa
23,83 31,44 30,93 27,11 29,45
64,917 14.538 7.463 3.347 11.538
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1,47% 7,79% 7,89% 23,45% 4,79% 23
Social
Felizes para Em pleno século XXI 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas pelo menos uma vez. Da Redação
O
sonho de toda menina é encontrar o príncipe encantado. Viver um conto de fadas, como aqueles da literatura infantil, em que a mocinha é liberta das garras da bruxa má por seu protetor, um forte e corajoso cavalheiro. E, em devoção a este ato heróico - prova maior de amor -, ela, tão doce
e dedicada, se rende em seus braços, submetendo seu futuro a ele. Mas, será que o narrador acompanhou a relação do casal apaixonado após o casamento, antes de pronunciar a célebre frase: e viveram felizes para sempre? Segundo dados divulgados em 2002 pela Organização Mundial de Saúde
se
– OMS, 7% de todas as mortes de mulheres, entre 15 a 44 anos, em todo o mundo, foram resultados da violência de seus maridos ou namorados, atual ou ex. No Brasil, outra pesquisa, realizada pela Fundação Perseu Abramo, em 2001, registrou que 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas pelo menos uma vez.
E o conto De FADAS? De acordo com a psicóloga da Casa Eliane de Grammont, Lenira Silveira, a violência contra a mulher está associada às desigualdades nas relações entre homens e mulheres, que foram construídas historicamente e persistem até os dias atuais. “Embora o movimento feminista tenha obtido muitas conquistas em relação aos direitos das mulheres, ainda é preciso uma mudança de mentalidade mais ampla, que não reproduza os papéis de gênero tradicionais” – destaque a psicóloga. De modo geral, características como coragem, força, dominação e agressividade ainda estão associadas ao sexo masculino, enquanto fragilidade, sensibilidade e submissão ao sexo feminino. Por isso, espera-se uma atitude mais agressiva dos homens, até em favor às mulheres. É só pensar quantas delas já ficaram lisonjea2
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das em ver seus companheiros enfrentando outro homem para defendê-las? Desta maneira, segundo Lenira, ainda é considerado normal, socialmente, uma relação em que, por exemplo, o homem grite com a companheira e ela se cale. Por esta mesma razão, muitas mulheres que vivem relações violentas, demoram anos para reconhecer as atitudes do companheiro como tal. Carla Sato*, foi uma das milhares de mulheres que, iludidas pela valentia do príncipe, casou-se com o sapo. Enquanto namorava nunca imaginou que o ‘cuidado’ que namorado tinha com ela pudesse lhe causar algum problema. “Ele era uma graça de pessoa, simpático com todos, mas com o tempo, já morando juntos, mostrou que vivia de aparências. Começou a implicar com tudo, amigos, roupas, dizia
a
sempre? “
Se a primeira
vez que ele falou alto
comigo, eu tivesse me defendido, colocado para ele que isso eu não iria aceitar, a história já teria sido outra
”
que eu estava gorda, que não era mais a mesma. Foi quando entrei em depressão, e aí sim, engordei 15 kg. Mesmo assim, só percebi o que ele estava fazendo comigo no dia que partiu para a violência física” – conta. Hoje, Carla se libertou dessa relação e refez sua vida fora do país, perdendo totalmente o contato com o passado violento que a prendia. Contudo não são todas que conseguem se desligar dos agressores, umas ficam presas pela esperança que um dia as promessas se cumprirão, pela estabilidade financeira, pelos filhos ou por acreditarem no amor que um dia já foi puro. Ana Clara* casou-se aos 17 anos, grávida de sua primeira filha, com um rapaz dois anos mais velho que, para ela, ‘só usava drogas de vez em quando’. Além dos pro-
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blemas causados pela imaturidade, o ciúme era uma marca da relação. “Às vezes falava mais áspero comigo, segurava forte nos meus braços, mas achava isso normal. E até me achava importante com aquele excesso de ciúmes. Eu não podia sair com ele em lugares mais movimentados, pois ele sempre dizia que eu estava olhando para algum rapaz” – relembra. Ao longo do tempo, a dependência química tornouse mais visível. “Ele começou a ser doente mesmo, viciado em coisas mais pesadas. Ele queria sair de casa pra usar, mas eu não deixava, e isso motivou as agressões. Dai por diante, depois do primeiro perdão, qualquer coisa era motivo” – conta. Ela acredita que um dos motivos que a ligou a esta relação conturbada, foi não ter tratado o trauma de infância causado pelo abuso sexual que sofreu do tio. Trama que, segundo a psicóloga, é freqüente em mulheres vítimas de violência. “É comum nestas relações agressivas que as mulheres e/ou parceiros tenham crescido em famílias onde ocorria violência doméstica. Hoje, Ana é mãe de três meninas, que sofrem paralelamente com a mãe. “Ele nunca bateu nelas, mas me batia e ofendia na
frente delas. Era horrível, porque elas choravam e gritavam e virava aquele inferno” – destaca. Contudo, ela diz que aprendeu, a duras penas, que é ela quem deve estabelecer os limites. “Se na primeira vez que ele falou alto comigo, eu não tivesse aceitado, a história já teria sido outra” - alerta. Por isso, ela adotou outra postura, deixou de acreditar que poderia mudá-lo e começou a cuidar de si. Recuperou a auto-estima, voltou a trabalhar e a sorrir. No entanto, Ana, que já o denunciou, crê na recuperação do marido, que há 40 dias está longe das drogas. “No momento não penso em deixá-lo porque aprendi a estabelecer limites. Mas só tomei esta decisão porque ele quer mudar e está mostrando isso” – diz. No entanto, nesta situação, a psicóloga faz um alerta: “quando a relação violenta já está instalada, o homem dificilmente será capaz de superar esse padrão sozinho. Ele precisa de ajuda profissional. Se ele reconhecer suas dificuldades e decidire procurar ajuda, então pode dar certo. Caso contrário, é apenas uma questão de tempo para as agressões se repetirem”.
E agora
QUE O SONHO
VIROU PESADELO? O maior medo das mulheres vítimas da violência é não saber o que vai acontecer com o cônjuge, porém, não denunciar é expor a sua própria vida, e a de seus filhos, ao risco de morte. A legislação em favor da mulher, conhecida como Lei Maria da Penha (Lei 11.340), reconhece além da violência física, outras formas, como a violência psicológica, moral, patrimonial. Por isso, na dúvida, quando a mulher perceber que naquela relação ela se sente desqualificada, humilhada e com medo, ela deve procurar ajuda. Hoje, já existe uma ampla rede de serviços que podem orientá-la e apoiá-la, como é o
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caso da Casa Eliane de Grammont, em São Paulo, que é centro de referência e atendimento integral às mulheres, nos casos de violência doméstica e sexual, oferecendo atendimento psicológico e de assistência social. Sair do isolamento, da solidão, é o passo mais importante para romper uma relação violenta. Serviços DISQUE
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Central de Atendimento à Mulher
* Foram usados nomes fictícios para preservar a integridade das personagens.
Educação
UTOPIA ou
Luciana Stocco de Mergulhão
ESCOLHA? É preciso resgatar a estima dos educadores e o respeito aos educandos.
D
urante estes primeiros dias de aula na universidade, no curso de Pedagogia, conversei com meus alunos e alunas sobre a importância das escolhas em nossa vida profissional e disse algo, que realmente acredito: o importante é ser feliz, frase que foi ovacionada. Na área da educação, principalmente, é fundamental exercermos nossa docência com satisfação, mesmo diante de tantas incertezas e contradições que vivemos no sistema educacional. Salas numerosas, e muitas vezes barulhentas, exigências burocráticas, um forte controle da instituição e por outro lado, crianças, adolescentes, jovens e adultos buscando compreensão e aceitação, exatamente como eles são e como nossa sociedade os vêm produzindo. Algumas pessoas ao lerem poderão pensar: é utopia, mas vejo a necessidade de resgatarmos a estima dos educadores, por meio da valorização da profissão e do respeito ao educando. A insatisfação com a profissão contagia de maneira negativa o
“
Precisamos exercitar de maneira persistente a passagem do discurso pedagógico para a ação em nossas salas de aula, essencialmente, nas turmas de formação de educadores.
”
processo, frustrando professores e alunos. Precisamos exercitar de maneira persistente a passagem do discurso pedagógico para a ação em nossas salas de aula, essencialmente, nas turmas de formação de educadores. Acreditando que é possível despertarmos nas novas gerações a generosidade do ato de ensinar e aprender, preocupando-nos com os vínculos que estabelecemos em nossas salas, res-
peitando e atribuindo responsabilidades aos nossos alunos e alunas. O tratamento, a escuta e o cuidado em nossas aulas, muitas vezes estão deteriorados, mais do que o conteúdo escolar, é necessário, realmente, estabelecermos um encontro com o outro, um encontro em que professores e alunos saiam renovados, revigorados, munidos de esperança. Assim, estaremos possibilitando a construção de uma sociedade organizada por pessoas menos alienadas e mais sensíveis às questões sociais e individuais.
Luciana Stocco de Mergulhão Mestre em Educação, Especialista em Psicopedagogia pela UMESP, Licenciada em Pedagogia: Administração Escolar para Exercício nas Escolas de I e II Graus e Orientação Educacional pela UMESP. Professora em cursos de Pedagogia e Psicopedagogia
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Cultura
Obesidade
pode virar epide
A obesidade e o sobrepeso já são considerados graves problemas de Liane Uechi
N
o Brasil 41% da população está com sobrepeso, ou seja, acima do seu peso ideal. A informação é do Ministério da Saúde, com base em três inquéritos nacionais de antropometria, realizados pelo IBGE. Isso é um dado alarmante na medida que a obesidade já se tornou um dos mais graves problemas de saúde pública da sociedade moderna. Conforme o presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica - ABESO, Marcio Mancini, a obesidade vem adquirindo proporções epidêmicas. Segundo Mancini há algumas formas de se medir o grau de sobrepeso e de obesidade, sendo que o IMC (Índice de Massa Corporal) se tornou o método padrão entre médicos. O cálculo considera o peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura (em metro). “O IMC tem cálculo simples e rápido, apresentando boa correlação com a adiposidade corporal” – disse. Conforme a Organização Mundial da Saúde, as pessoas com IMC acima de 30Kg/m² apresentam obesidade (ver tabela). Segundo a médica e professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC, Maria Angela Zaccarelli Marino, a obesidade já se tornou uma epidemia. Ela explicou que a doença é caracterizada pelo acúmulo de gordura sob a pele e ao redor de certos órgãos internos. O mal traz sérios riscos à saúde e ocasiona doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes melito tipo 2, moléstias osteoarticulares, doenças respiratórias
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(Síndrome de Pickwick e apnéia noturna) e dermatológicas, cálculos biliares, esteatose hepática e problemas psicológicos. Ao contrário da crença popular de que todo “gordinho” é feliz e bem humorado, a pessoa obesa está mais sujeita a baixa estima, distorção da imagem corporal, solidão, dificuldade de relacionamento, de arrumar emprego, dentre outros. Para a coordenadora da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Ana Beatriz Vasconcellos, esse grave problemas de saúde pública tem sido alvo de preocupação por parte do governo federal, que através de políticas públicas tem buscado dar uma resposta à sociedade, mobilizando os serviços de saúde e de educação sobre as questões de alimentação saudável. Para ela, as soluções passam pela conscientização e por ações que permitam uma mudança comportamental no que tange a nutrição. “Além das campanhas e ações adotadas junto às redes de saúde e educação, há propostas e estudos que pretendem uma normatização mais ética das propagandas e publicidades de alimentos” disse ela, que entende que a forma como vêm sendo realizada hoje estimula um consumo inadequado de sal, açúcar e gordura. A coordenadora disse que ainda este ano, o IBGE deve realizar novas pesquisas para verificar as mudanças de perfil nutricional da população brasileira. A região sul do país, segundo dados dos inquéritos realizados até agora apontam a região sul, como uma das mais afetadas. Também a camada
“
Precisamos
eliminar o conceito de que obesidade é sinal de saúde e prosperidade
”
demia
as de saúde pública populacional que tem renda de dois a cinco salários mostra-se bastante vulnerável ao problema. Mas de um modo geral, conforme explicou a professora Maria Ângela, o mal atinge indiscriminadamente todas as camadas sociais e etárias, incluindo-se as crianças. “Os principais motivos, na sua opinião médica, são: o sedentarismo e a má alimentação (frituras, gorduras, embutidos, condimentos e excesso de carboidratos). É unânime a percepção de que para evitar um quadro epidêmico, torna-se necessário criar um ambiente propicio à mudança de hábitos, inclusive culturais. “Precisamos eliminar o conceito de que obesidade é sinal de saúde e prosperidade” – enfatizou a professora Ela defende ainda que em relação às crianças é preciso investir na educação, pois se educadas com bons hábitos alimentares, provavelmente, levarão essa influência para a vida adulta. É nesse ponto que, segundo Ana Beatriz, o governo está reforçando sua atuação, através de portarias para inserir a educação alimentar de forma transversal no currículo escolar, bem como o monitoramento do perfil nutricional dos alunos. Outras medidas visam desestimular os maus hábitos alimentares, através da restrição ao comércio de alimentos ricos em açúcar, gordura e sódio nas cantinas (ainda aguardando regulamentação nacional) e o incentivo através da oferta de frutas, legumes e verduras na merenda escolar.
Classificação da obesidade segundo o índice de massa corpórea (IMC) e risco de doença (Organização Mundial da Saúde). IMC (kg/m2) Classificação <18,5 18,5-24,9 25-29,9 30-39,9 >40,0
Magreza Normal Sobrepeso Obesidade Obesidade grave
Obesidade grau Risco de doença 0 0 I II III
Elevado Normal Elevado Muito elevado Muitíssimo elevado
Mancini explica que o tratamento para a obesidade deve ser sempre acompanhado por um médico, que indicará os métodos mais adequados, sejam eles farmacológicos, alternativos ou cirúrgicos. Somente a análise médica especializada poderá indicar os melhores caminhos para cada caso. Dicas que podem ser auxiliar durante o tratamento. (Fonte: Dr. Macini) Mantenha um diário alimentar, para anotar todos os alimentos consumidos; Tente sentir as qualidades do alimento (olfato, aspecto, etc.) Evite a alimentação automática; Não faça nada diferente enquanto come (ver televisão, ler, etc.); Alimente-se em local adequado; Faça a refeição pausadamente, sem pressa; Mastigue lentamente os alimentos; Pouse talheres entre os bocados; Sirva-se de porções menores, sirva uma porção de cada vez; Remova as travessas da mesa; Saia da mesa após alimentar-se; Não compre alimentos em jejum; Utilize listas durante as compras; Concentre-se no comportamento e não no peso; Não tenha pressa em perder peso; Policie-se contra os impulsos, distinga fome de desejo; Programe suas refeições com antecedência; Aumente as caminhadas, use escadas sempre que possível; Tenha em mente que medicações são adjuvantes e não a base do tratamento; Não interrompa o tratamento ao atingir o peso desejado; Lembre-se que se retomar hábitos alimentares anteriores, engordará novamente. Como calcular o IMC: Por exemplo, se você pesa 60Kg e mede 1,67m, você deve utilizar a seguinte fórmula para calcular o IMC: IMC = 60 ÷ 1,67² IMC = 60 ÷ 2,78 IMC = 21,5 Neo Mondo - Fevereiro 2008
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Esportes
O
sol forte do Sertão e o vento gelado que corta o rosto no Sul, o cheiro suave da mata verde e o arder nos olhos com a fumaça das queimadas ou ainda a generosidade do sertanejo que sofre com a seca e a fome, são contrastes revelados ao longo de todo território brasileiro. Terra farta que oculta suas tristezas em lugares esquecidos pela visibilidade. Paradoxos que o ultramaratonista Carlos Dias viu a cada passada enquanto percorria 9 mil quilômetros que separam o Oiapoque, no Amapá, ao Chuí, no Rio Grande do Sul, distância alcançada entre os dias 27 de maio e 3 de setembro, do ano passado. Formado em administração e especializado na área de treinamento de pessoas, o atleta que começou a correr para competições aos 15 anos de idade, encarou cem dias de ‘pé na estrada’ com determinação, enfrentando o cansaço, as dores, os medos e a saudade. Tudo isso por um sonho: conhecer o Brasil sem máscaras ou edições. “Meu desafio era sentir na pele a problemática do povo brasileiro e fazer isso da maneira que todos achavam impossível: correndo” – declara Dias. Para isso, sua trajetória foi minuciosamente traçada pelos locais mais afastados, correndo pelo interior dos Estados de Amapá, Pará, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e, por fim, Rio Grande do Sul. Por três anos se preparou e planejou cada detalhe desta aventura, pesquisando a história das principais cidades que iria percorrer, levantando possíveis patrocinadores e apoiadores. “Entrei em contato com empresas, lojas, prefeituras, departamentos de polícia, mas muitos me chamaram de louco e não me deram crédito. Quando consegui o primeiro patrocínio foi uma vitória” – disse Dias. Contudo, boa parte da viagem, Dias fez sem escolta, dependendo do auxílio de moradores. “Por vezes, dormi sozinho em uma rede na beira da estrada ou mesmo nas casas dos nativos. Isso não somente por falta de apoio institucional local, mas por deficiência na infra-estrutura de algumas cidades que sofrem com a falta de saneamento básico, transporte, alimentação, moradia e segurança” - revela. 30
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O Brasil sob os
PÉS DE UM AT
Cem dias percorrendo o desconhecido brasileiro do Oiapoque ao Chuí, o ultramaratonista Carlos Dias, revela o estado de alerta em que se encontra o país Da Redação
brasil sem cores Foram cerca de 500 cidades com histórias e realidades diversas mostrando um Brasil de paisagens muitas vezes sem cores. Entre um acidente e outro que presenciava durante as corridas, ele lembra que na região do Pará viu muitas pessoas doentes à espera do barco de uma ONG estrangeira, que faz atendimento médico em algumas regiões ribeirinhas. “Não fosse o barco, muitos morreriam sem atendimento, pois falta transporte para deslocá-los aos centros das cidades” – ressalta. Nessa região, Dias também se chocou com a exploração das famílias que dependem do trabalho com a castanha. “Quando alguém compra castanha-do-pará não imagina o quanto aquele saquinho cheio custou. Famílias inteiras se sacrificam para colher e preparar a semente e, enquanto recebem o mínimo, aqueles que as vendem para exportação, recebem o triplo” – alerta. Segundo ele, a população desses locais, onde impera a exploração, também sofre com a forte marca da violência. Em seu diário de bordo, Dias revelou essa preocupação ao escrever: “Estou enfrentando uma região que tem muitos assaltos e mortes. Pistoleiros agem durante o dia roubando e matando as pessoas”. Apreensão justificada após ser assaltado ao fazer uma refeição em
os
ATLETA
“
Meu desafio era sentir na pele a problemática do povo brasileiro e fazer isso da maneira que todos achavam impossível: correndo
”
um bar à beira da estrada. “A sorte foi que deixei a mochila embaixo da mesa e eles não perceberam”. Dias ainda desabafa ao relatar uma cena assustadora. “Vi vários fornos na beira da estrada queimando madeira e crianças de cinco ou seis anos trabalhando nesse verdadeiro inferno. A cada dia tentava me controlar para não chorar, mas isso era impossível diante de tanta injustiça”. Mas não foi somente em áreas isoladas onde ele se impressionou. Não muito longe dos grandes centros, constatou que existem pessoas em situações precárias sem nenhum tipo de auxílio. Ele conta que, a alguns quilômetros de Florianópolis, passou por um rio cheirando esgoto onde pescava um casal com uma criança. Ao perguntar o porquê pescavam ali ouviu que aquela era a única forma de alimentação possível pra eles. A esperança Mas cenas felizes também marcaram sua aventura. Para o administrador que ousou correr pelo Brasil, nada supera a imagem do sorriso das crianças indígenas, o som dos pássaros, que sobrevoam a mata fechada, rasgada somente pelos rios cristalinos ou as dunas de areia branca que desembocam em piscinas transparentes. “As
belezas desta terra e deste povo ofuscaram as coisas negativas que vi” – revela. Além disso, a alegria do povo, mesmo diante de tantas dificuldades, também marcou muito essa aventura e o motivava a cada cidade. “Fui muito bem recebido na maioria dos locais que passei, mesmo a discriminação racial que sofri, não foi superada pela recepção dos brasileiros” – diz Dias. Em contrapartida, o atleta contribuiu ministrando palestras motivacionais em escolas, associações comunitárias e ONGs. “O cérebro é treinado nas dificuldades, pois é quando precisa desenvolver e criar soluções. Por isso é importante que o indivíduo esteja sempre em busca de novos conhecimentos para não se deixar cair na zona de conforto. Ele tem que se indignar! E a falta dessa inquietação que faz com que muitos permaneçam na situação de miséria, não só física, mas da alma” – destaca. Seguindo aquilo que ele mesmo prega em suas palestras, o ultramatonista já faz planos para uma próxima aventura pelo país. Dessa vez seu percurso terá um cunho ambiental. Por enquanto, ele vai reunindo suas lembranças em um livro para que tudo o que presenciou sirva como alerta às autoridades e principalmente, àqueles que estão inertes. Neo Mondo - Fevereiro 2008
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InclusĂŁo Cultura
TEATRO 32
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NA AREIA
Espetáculo grandioso reúne 1.300 atores do povo, num exemplo de inclusão cultural e social Liane Uechi
T
endo por palco 15 mil metros quadrados de areia branca e macia e no plano de fundo, um mar sem fim, a cidade de São Vicente, litoral paulista, surpreende há 26 anos com um espetáculo da Encenação da Fundação da primeira vila do Brasil. A história da cidade foi contada, diariamente, entre os dias 16 a 22 de janeiro, por meio de um espetáculo teatral com grande produção, iluminação, som, áudio, cenografia, coreografia e todos os principais elementos que compõem as grandes obras, nas areias da Praia do Gonzaguinha. Seria apenas mais uma grande produção artística, vista por cerca de 56 mil pessoas, não fosse por um detalhe: o elenco foi formado por 1.300 pessoas da comunidade, gente simples, muitas das quais encontraram nessa participação o primeiro contato real com a expressão tetral. São crianças, jovens, idosos, de ambos os sexos e que têm ali, em comum, a experiência única de brilhar e dividir o palco com artistas consagrados, que também compõem o elenco. Tudo é superlativo nessa produção: figurinos, adereços, maquiagem, lâmpadas e refletores robotizados, assim como a estrutura construída para abrigar sanitários, camarins, depósitos e arquibancas para 8 mil pessoas, sempre lotadas. No entanto, diante de tanta grandeza, são alguns pequenos detalhes que chamam a atenção. O público, que tem ingressos a preços populares, R$ 3,00, lota as arquibancadas independente do clima, mesmo sob chuva. A entoação do hino da cidade é outro momento surpreendente, pois é acompanhado e cantado pela platéia, sobretudo pelas crianças e adolescentes, que o trazem decorado “na ponta da língua”. O secretário de Turismo e Cultura, Pedro Gouveia, explicou que mais do que uma apresentação artística, o trabalho desenvolvido ao longo dos anos é de cidadania e de inclusão social e cultural. Ele afirma que ao envolver a população da cidade, que se prepara durante todo o ano, nas oficinas, nas escolas e nos ensaios escalonados no Centro de Convenções da
cidade, foi possível resgatar a auto-estima do vicentino. “Os alunos cantam com orgulho o hino da cidade e hoje, Martim Afonso (fundador da vila de São Vicente) é um herói para as nossas crianças” – disse ele. Essa grande aula de história ao ar livre, segundo o secretário, só valorizou as raízes dos vicentinos. Os parentes dos atores populares foram convidados a assistir a apresentação logo no primeiro dia, prestigiando e apoiando a estréia. O trabalho também é grandioso, afinal são mais de mil pessoas voluntárias, para ensaiar, coreografar, maquiar, iluminar... Os bastidores, improvisados em tendas ao lado do “palco”, compõem um verdadeiro mosaico de personagens, cores, vozes, ansiedade e alegria. Na hora de entrar em cena, cada um assume a postura que se espera de um profissional. Caras, bocas, expressões, gritos, danças... Tudo é executado com perfeição e seriedade. Anna da Silva Oliveira, 90 anos, é uma das mais antigas componentes da Encenação, há 11 anos participa da peça e no domingo, dia 20, faltando dois dias para o encerramento do evento, já dizia estar com saudade e com um aperto no peito, porque estava acabando. “Mas no ano que vem, se eu ainda estiver viva, estarei aqui
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Cultura
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Participar da Encenação é a melhor coisa do mundo
de novo” – afirmou. Ela, que este ano veio acompanhada da neta, também componente, diz que nunca imaginou na sua vida que seria uma artista. “Participar da encenação é a melhor coisa do mundo” – disse Anna, que integra o núcleo da Corte. O diretor da Encenação, Tanah Correa, disse que a inclusão cultural e social sempre foi um dos objetivos principais dessa iniciativa e que isso vem sendo ao longo dos anos aprimorado. O segredo do sucesso desse espetáculo está, segundo ele, em tratar e exigir de cada um dos participantes uma atuação profissional. “Aqui todos são considerados atores e atrizes” - disse Correa. Para ele, trabalhar com um grupo tão grande exige a compreensão das diferenças, porém, com foco em um objetivo comum. “Não há dificuldades quando existe amor no que se faz” – afirmou. O diretor, que está de volta à direção depois de 10 anos, pôde realizar dessa vez, um projeto engavetado desde 1998: inserir como desfecho do espetáculo, a bateria de uma escola de samba, no caso, a X9 Santista. Ele explicou que desta forma demonstrou ao público, a beleza e a possibilidade de mesclar diversas modalidades musicais, indo da melodia erudita e clássica ao samba, que é a grande expressão popular brasileira. A poesia, narrada nos versos clássicos de Fernando Pessoa: “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal” ou ainda, “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena” também é uma constante na apresentação e tira suspiros da platéia, que começa agitada e silencia, atenta, com a evolução da Encenação, para voltar ao
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êxtase novamente no final, com a apresentação dos artistas famosos e televisivos, como Luigi Baricelli (Martim Afonso), Luciele Di Camargo (Índia Bartira), Isadora Ribeiro (Ana Pimentel); Werner Schunemann (João Ramalho), Cecil Thiré (Padre Gonçalo Monteiro), Mariana Felício (Rainha Catarina), Daniel Saulo (Rei Dom João III), Elke Maravilha (Personagem Mítica), Bete Mendes (Mãe de Martim Afonso) e Antônio Abujamra (Pai de Martim Afonso). Outro elemento que somou muito ao espetáculo desse ano foi a música. O diretor musical, Gil Nuno Vaz, disse que foram compostas mais de trinta músicas para a peça, com a proposta de utilizar o som não como mero fundo musical, mas com o objetivo de emocionar e tocar o público. Uma verdadeira mistura de gêneros e estilos, que vão do fado e da ópera, ao canto indígena, passando por melodias da idade média e terminando no samba. Inserido nesse repertório estão os efeitos sonoros, que junto à iluminação acompanharam as narrativas e produziram os ventos, raios, suspense, guerra e paz. Quando o espetáculo chega ao seu estágio final, nova surpresa, surge do mar, iluminada, uma réplica da caravela do Descobrimento do Brasil. A nau, com 21 metros de comprimento, 18 de altura e 2,20 de calado, arranca aplausos. O teatro é encerrado de forma apoteótica, com a declaração da fundação da vila de São Vicente, uma saraivada de fogos de artifício, a apresentação da bateria da escola de samba e a certeza de que no ano que vem tem mais.
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Instituto Neo Mondo Soluções para o Terceiro Setor Núcleos - Revistas
Neo Mondo e Neo Mondo Kids - Educação
Programa Somos Amigos da Terra Cartilhas Educativas Socioambientais (empresas e escolas) Criação de Personagens e Histórias - Marketing
Corporativo
Posicionamento da marca no mercado com foco em Responsabilidade Socioambiental - Assessoria
e Projetos
Terceiro Setor Como Ferramenta de Gestão Estratégica - Assessoria
de Imprensa
Jornalismo Especializado em Terceiro Setor e Empresas Elaboração de Jornais Empresariais - Web
Especializado em Terceiro Setor e Empresas
Instituto
Neo Mondo Um olhar consciente
www.neomondo.com.br 3 Neo Mondo - Fevereiro 2008- Tel. 11 4994-1690
Palavra Teen
GRAVIDEZ, Um Assunto Sério
teen palavra
por Marina Mergulhão Luiz
A
gravidez na adolescência vem se tornando muito comum, antes as pessoas falavam que
esse problema só atingia as meninas de classe baixa, mas isso não é verdade, muitas meninas de classe média e alta estão engravidando. E afinal, por que vem acontecendo isso com tanta freqüência? É muito fácil colocar a culpa nos pais dizendo que eles não instruíram seus filhos, ou então culpar a sociedade, dizendo que ela está corrompida. Na verdade é uma série de fatores,
vida, para ver se têm controle sobre
Minha sugestão:
a sociedade está mesmo corrompi-
ela e sempre com o mesmo pensamento
Acesse o site www.neomondo.com.
da, os pais não têm o costume de
de que: isso não vai acontecer comigo,
br e veja na 6ª edição a matéria “MÃE
falar com seus filhos sobre isso, na
mas na realidade depende da cabeça
ESTOU GRÁVIDA”, páginas 10 à 12
televisão, muitas novelas mostram
de cada um, pois muitos enxergam o
e você verá o verdadeiro quadro
adolescentes transando, revistas fa-
sexo como uma besteirinha e tomam
brasileiro.
lam abertamente sobre sexo, o que
atitudes, muitas vezes sem pensar no
Não entre nessa!!!
estimula a curiosidade e a vontade,
depois. O problema é que esse depois
mas por outro lado, também pode
é irreversível, podendo transformar seu
fazê-lo refletir antes de tomar deci-
futuro completamente. Mas há também
sões sobre sua vida e seu futuro.
adolescentes responsáveis, que pensam
Tem 14 anos, está cursando
Muitas pessoas acham que todos os
no seu futuro, que tratam o sexo como
o 1º Ano Do Ensino Médio do
adolescentes agem para desafiar a
uma coisa séria.
Marina Mergulhão Luiz
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Classificado Solidário
Precisa-se São Paulo Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar Voluntários para: Àrea da saúde. Doações: alimentos não-perecíveis, leite em pó, adoçantes, produtos de higiene e limpeza. Hidratantes, fraldas descartáveis infantis e geriátricas, toalha de banho infantil, brinquedos pedagógicos e recreativos. Rua: Jalisco, 12 - Água Rasa - São Paulo - SP Cep:03343-030 Telefone: (11) 6965-8888 E-mail: vana@capsnossolar.org.br Em caso de dúvida, falar com: Vana Instituto Gabriele Barreto Sogari Voluntários: para auxiliar no atendimento das crianças e adolescentes com deficiência e para os eventos de finais de semana. Doações: roupas, calçados e brinquedos para o bazar social. Rua: Gustavo da Silveira, 128 - São Paulo - SP Cep :04376-000 Telefone: (11) 5564-7709 E-mail: sogari@terra.com.br
A seção “Classificado Solidário” é um espaço gratuito, destinado a divulgar as necessidades de doações ou serviços voluntários de instituições sociais. Não é permitida a solicitação de valor em espécie e a veracidade das informações aqui prestadas são de total responsabilidade da entidade solicitante. Mande seu anúncio para classificadosolidario@neomondo.com.br, até o dia 15 de cada mês, com nome da instituição, responsável, endereço, telefone ou e-mail. Em caso de dúvida, falar com: Francisco Sogari Associação Cruz Verde Voluntários: para produzir artesanatos e brindes. Doações: leite em pó integral. Rua Dr. Diogo de Faria, 695 - Vila Clementino – São Paulo – SP Cep: 04037-002 Telefone: (11) 5579-7335 Email: cruzverde@cruzverde.org.br Em caso de dúvida, falar com: Fernanda Okamoto
Associação Metodista de Ação Social Creche “Mamãe Albininha” Voluntários para: Cozinha, auxílio em sala de aula e serviços gerais. Doações: Alimentos em geral, principalmente leite, arroz e feijão. Rua Sétimo Guazelli, 99 – Jd.Trieste Cep: 09760-600 Telefone: 4330-1712 E-mail: crechemamaealbininha@terra.com.br Em caso de dúvida, falar com: Andresa
São Bernardo do Campo
Mauá
Aldeias Infantis SOS Brasil Voluntários para: Limpeza de terreno, recreação infantil aos finais de semana e limpeza interna. Doações: Calçados e roupas para o inverno (criança e adolescente). Leite, carnes, produtos de higiene pessoal e produtos de limpeza. Estrada Ernesto Zabeu, 200 - Bairro Tatetos - Riacho Grande Cep: 09835-000 Telefone: 4354-0340 / 4354-0272 / Fax: 4354-8640
Centro de Libertação de Vidas Rejeitadas Doações: Arroz, feijão, óleo, açúcar e leite. Rua Antonio Alves, 83 – Jd. Zaíra Cep: 09321-370 Telefone: 4547-2366 / Fax: 4546-0507 E-mail: avelino-joana@ig.com.br Em caso de dúvida, falar com: Joana Telefone: 4343-8632 / 4392-7492 E-mail: assisbrac@assisbrac.org.br Em caso de dúvida, falar com: Sérgio Gutierrez
Á gua de reuso: Processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim.
S ustentabilidade: Garantia de continuidade de um processo nos mesmos patamares de seu início.
Glossário Dicas de Livros
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: CONSERTOS E REMENDOS Claudio de Moura Castro
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E-mail: sbcampo.sp@aldeiasinfantis. org.com Em caso de dúvida, falar com: Enéas
Do ensino básico à política científica, passando pelo médio, superior e até pelos cursos profissionalizantes, nada escapa da análise de Claudio de Moura Castro, que assina como economista, mas poderia ser mais bem identificado como especialista em educação. O resultado de tantas observações sobre ensino, aprendizado e a falta de jeito que impede que o país evolua mais nessa área está reunido em Educação Brasileira: consertos e remendos, que volta às livrarias, em sua segunda edição; Neo Mondo - Fevereiro 2008 Editora Rocco.
EDUCAÇÃO PELO ARGUMENTO Gustavo Bernardo Gustavo Bernardo acredita que a escola, como ela é hoje no Brasil, ensina tanto quanto a penitenciária recupera delinqüentes. O aluno é considerado incapaz até que suas provas demonstrem o contrário. Nesse processo, sua nota final importa mais que sua capacidade de argumentação. Em vez de se incentivar os estudantes a debater, refletir e raciocinar, eles são obrigados a decorar os nomes de todos os afluentes do rio Amazonas. No caso das redações, os professores se preocupam apenas com a aplicação correta das regras gramaticais, sem formar alunos que tenham o que dizer e que saibam ordenar suas idéias. Editora Rocco
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Instituto Turismo
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