Revista Neo Mondo - Edição 39

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www.neomondo.org.br

NEOMONDO UM OLHAR CONSCIENTE

Ano 4 - Nº 39 - Janeiro 2011 - Distribuição Gratuita

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4 elementos

Al Gore

Reality show de conteúdo

A Amazônia é um tesouro

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Usina de Belo Monte 26 38

Árdua empreitada

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PROGRAMA

4 ELEMENTOS TUDO DE BOM, GALERA!!!

Você precisa fazer a sua marca chegar a este público seleto. É o que oferecemos neste programa, cuja oportunidade é imperdível pelo que representa por ser um marco na tv mundial (legendas em inglês e espanhol).

PARA MAIORES INFORMAÇÕES, LIGUE: (11) 4994-1690.

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Um ousado “real life show” vivenciado no litoral norte paulista diariamente na telinha do seu computador em tempo integral, mostrando o dia- a-dia de 4 adolescentes com idades entre 13 e 17 anos. A missão deles é conquistar as pessoas e salvar o planeta, neste programa que fala a linguagem dos jovens apontando as suas principais preocupações, seus sonhos, sem fugir da realidade que os cerca. Com muita aventura (trilhas, cachoeiras, mergulhos) e esportes radicais (surf, skate, asa delta, windsurf), os 4 elementos - além de educativo - é um programa com base no tripé da sustentabilidade que é a conscientização, mobilização e atitude.

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Posicionamento do Instituto NEO MONDO

Reality Show de conteúdo NEO MONDO TV quer ser alternativa para as pessoas de vida inteligente fora da telinha

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NEO MONDO TV apresenta, a partir de fevereiro, o Reality Show 4 ELEMENTOS (em que quatro jovens personificam Terra, Fogo, Ar e Água). Nossa preocupação é oferecer a brasileiras e brasileiros que levam o País a sério mais um programa de nossa grade, na Web TV, que se contraponha à escancarada Baixaria Bem Bizarra que, na TV aberta, afronta os mais elementares princípios éticos e da decência. Certamente o Brasil enfrenta problemas relevantes - entre eles, a falta de respeito ao meio ambiente e de cuidados com a Educação -, que na escala de prioridades deixam longe a exposição escrachada de práticas trans e homossexuais como padrão de comportamento. Um jornal paulistano, em uma de suas pesquisas denominadas “A pergunta de hoje”, obteve como respostas de leitores que a imensa maioria deles (73%) não iria assistir ao BBB por detestar o programa. Vida inteligente e tragédia anunciada A atitude das pessoas pesquisadas mostra que há sinais de vida inteligente fora da telinha, que não aceita o modelo de entretenimento à custa da exposição de comportamentos pouco edificantes. Enquanto o País assiste, e procura sanar, a tragédias como a que se abateu sobre a região serrana fluminense, uma TV aberta fazer a apologia da bebedeira inconsequente, das festas de embalo e da expo-

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que entretém e educa sição sexual, em todas as suas variantes, francamente, não deve ser bandeira de um veículo de comunicação, ainda mais que se trata de concessão pública. Onde estão os Ministérios da Educação, da Cultura e da Justiça, a Casa Civil, as esferas judiciais, que não criam ao menos Conselho de alto nível, para dar um basta à sugerida pornografia, disfarçada de reality show? Impressiona - e incomoda muitas famílias que procuraram a Redação de

NEO MONDO - o cinismo que se expressa desde o famigerado bordão: “Vamos dar aquela espiadinha”, passa pelo que disse o diretor do programa: “Vai ser engraçado alguém pegar a moça que não é... rsrsrs)” e chega à filosofia barata de um dos brothers (ou seria sister?!) em conversa com uma das sisters (ou seria brother?!): “Você pode continuar na casa pela sinceridade e pela honestidade. O Brasil tem hipocrisia, mas va-

loriza a sinceridade. Tem que assumir as coisas. Fazer é fácil, mas assumir as consequências é que é difícil”. Filosofia barata, cinismo exacerbado. Honesta e sinceramente, o Brasil merece algo bem melhor. A NEO MONDO TV se coloca como alternativa nessa busca. Acesse www.neomondo.org.br e conheça o Instituto Neo Mondo como um todo.

Foto: Charles Flores

Brigite - Terra

Raul - Ar

Enrico - Fogo

Victória - Água

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Seções

Editorial

POSICIONAMENTO 04 Reality Show de conteúdo que entretém e educa NEO MONDO TV quer ser alternativa para as pessoas de vida inteligente

RETROSPECTIVA 2010 Zilda Arns Vida em Plenitude

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RETROSPECTIVA 2010 12 Denise de La Corte Bacci Saber para salvar RETROSPECTIVA 2010 16 Apagão hídrico Transposição do Rio Paraíba do sul

30 NEO MONDO Referência em Comunicação Socioambiental

RETROSPECTIVA 2010 22 Mundo, capital Manaus Fórum internacional reúne gente comprometida com a sustentabilidade 35 Thomas Lovejoy Esforço global para restaurar ecossistemas

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44 RETROSPECTIVA 2010 Usina de Belo Monte Árdua empreitada

RETROSPECTIVA 2010

50 Energia Eólica Vai de vento em popa

Articles in English 2010 Retrospective 26 World Capital Manaus International Forum Brings Together People Committed to Sustainability

55 O sol brilha para todos Energia do astro rei 58 Vem da lama, mas é limpa Lodo gera energia

30 NEO MONDO Reference in Socio-environmental Communications 42 Impacts of Belo Monte Arduos undertaking

Expediente Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Ilma de Camargos Pereira Barcellos, Humberto Mesquita e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Estagiário: Bruno Molinero Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo 6

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Pedimos encarecidamente a todos os nossos leitores que sejam solidários com a causa enviando roupas e mantimentos aos postos encarregados pelas doações. O que está acontecendo com o nosso Planeta???

37 Cousteau Programa educativo a alunos da Amazônia

46 Para economizar bilhões Desperdício de energia chega a 17 bilhões por ano

Nós do Instituto NEO MONDO estamos consternados com os acontecimentos na serra fluminense.

Estiagem no Sul, enchentes no Rio, Minas e São Paulo, uma coisa é certa, não é obra de Deus e sim a mão destruidora do homem. Mas vamos falar de coisa boa, nesta edição você vai poder conferir as principais matérias do ano de 2010, ou seja, fizemos uma retrospectiva dos assuntos mais importantes como: Homenagem especial a Zilda Arns, o que de melhor aconteceu no 1º Fórum Internacional de Sustentabilidade sediado em Manaus com a participação de estrelas de toda a grandeza nos cenários científico, cultural e político do Brasil e do exterior. Estiveram reunidos neste Fórum Al Gore (ex-vice-presidente dos estados Unidos e prêmio Nobel da Paz em 2007), James Cameron (diretor de grandes sucessos como Titanic, O Exterminador do Futuro e o mais recente AVATAR), Jean-Michel Cousteau filho do consagrado oceanógrafo Jacques Cousteau entre outros. Tudo isso e muito mais agora em NEO MONDO. TUDO POR UMA VIDA MELHOR. Tenha uma ótima leitura!

Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Publicação Publicação Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

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Retrospectiva Retrospe p ctiva 2010

Vida em Zilda Arns foi incansável nessa missão, e sua obra, abraçada por milhares de voluntários, assume dimensão transcendental Da Redação

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ão se enganem, uma gotinha no oceano faz, sim, muita diferença.” A frase, se não é uma das preferidas de Zilda Arns, serve de convite a nossos leitores para que entrem na cruzada pela infância que esta matéria apresenta. Clóvis Boufleur, gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança, esclarece: “As frases da Dra. Zilda eram formuladas e 8

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ditas conforme as circunstâncias. Mas uma das mais populares, que ela dizia quase sempre no final de discursos com a comunidade, era: ‘E agora, gente, fé em Deus e pé na tábua’. Outra frase: ‘É preciso levar a mensagem a Garcia’, que pronunciava para dizer que era preciso acompanhar as ações até o fim e saber dos seus resultados. Ela dizia também: ‘É urgente e imprescindível globalizar a solidarie-

dade. Somente assim, vamos construir uma verdadeira e sólida cultura de paz’ ”. Médica pediatra e sanitarista, Dra. Zilda Arns Neumann era a 12a. de 13 irmãos. Mãe de cinco filhos e avó de dez netos, não se acomodou ante o sucesso pessoal, profissional e familiar; antes, desdobrouse a ponto de disseminar pelo planeta as iniciativas sociais que criou. Saúde pública

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Ações simples e replicantes “Mais do que crescer e salvar vidas, a Pastoral da Criança quer mudar, para melhor, vidas de crianças, de mulheres, de homens”, com seus voluntários iluminados pela vontade de ajudar, de ver crianças crescendo e se desenvolvendo. O Brasil precisa levar mais a sério as suas crianças, e para quem pensa que só em regiões mais distantes dos grandes centros no Norte e Nordeste há necessidades prementes nesse aspecto, tomemos como exemplo municípios mais desenvolvidos no Sul e Sudeste. Aí também a Pastoral da Criança está presente em ações de saúde, nutrição, educação, cidadania e espiritualidade, de forma ecumênica, nas comunidades pobres. De sua vivência de 13 anos com a fundadora da Pastoral da Criança, Clóvis relata uma história de vida fascinante: “Dra. Zilda foi uma mulher de coragem. Enfrentou resistências na sociedade por ser mulher e por inovar no jeito de fazer pastoral na Igreja. Colocou seus conhecimentos e o seu tempo a serviço da vida e salvou da morte milhares de crianças. A primeira receita que ela levou

Partilha do saber Tornar as coisas simples é um dos aspectos do legado da médica pediatra e sanitarista notáveis. De família católica - de onde saíram três freiras e dois padres, um deles o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, símbolo da resistência à ditadura militar e defensor ferrenho dos Direitos Humanos -, os horizontes de Zilda Arns não se estreitam em visão teológica tacanha. Se as suas iniciativas se inspiram na mística cristã, todavia, para ser voluntário de alguma delas, não há necessidade de a pessoa comungar do mesmo credo ou converter-se. Clóvis explica: “A Pastoral da Criança, organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é uma organização comunitária, de atuação nacional e internacional, que tem seu trabalho baseado na solidariedade e na partilha do saber. Portanto, as pessoas não precisam ser católicas para ser voluntárias nem se converterem. A Pastoral da Criança é ecumênica e inter-religiosa”. Entre os resultados mais significativos das ações desenvolvidas pela ONG no Brasil e no exterior, o gestor de Relações Insti-

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a todos aos lares brasileiros era simples: sal, açúcar e água limpa para fazer o soro caseiro - uma revolução na década de 80. Ao longo dos 26 anos da Pastoral da Criança, foi firme na defesa de pelo menos seis princípios básicos: ter objetivos claros e definidos; promover a capacitação dos voluntários; organizar um sistema de informação; contar com a participação da comunidade; baixo custo das ações; e capacidade de as ações serem replicadas em grande escala”.

Clóvis: novos voluntários ajudarão a Pastoral a chegar a todas as crianças pobres

tucionais aponta o fato de a mortalidade infantil no Brasil ser alta, “se considerarmos a capacidade da nossa economia, do progresso que o País conquistou nos últimos anos e dos recursos da saúde que existem e que diminuem” o problema crucial. O diferencial da Pastoral da Criança, garante Clóvis, é que atua em comunidades pobres e tem resultados melhores em relação à média nacional de mortalidade infantil porque leva informação e motivação para a mãe e a família, além de contar com a colaboração da comunidade quando a família precisa de ajuda. “Nossos voluntários também participam dos conselhos de saúde e lutam para que haja melhorias nos serviços públicos prestados à população. Esta união de esforços faz com que hoje o índice de mortalidade infantil seja de 13 por mil nascidos vivos nas famílias acompanhadas por nós”, afirma.

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pode-se dizer que foi seu sonho de consumo. Sonho compartilhado por milhares de voluntários em todos os estados do Brasil e que chegou a outros países. A vida em plenitude, que ela própria buscou, fez questão de estender a dois segmentos marcantes da vida humana ao fundar, em 1983, a Pastoral da Criança e, em 2004, a Pastoral da Pessoa Idosa. Sua morte no terremoto de magnitude 7, no dia 12 de janeiro, no Haiti, a pegou em plena missão, em local-símbolo como inspirador de suas ações: a Igreja Sacre Coeur, em Porto Príncipe. No templo arrasado restou a cruz, intacta, sinal de que a obra de Zilda Arns tomou dimensão transcendental. O mesmo Cristo que disse: “Deixai as crianças virem a mim... a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus”, garante: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. NEO MONDO viajou pelas páginas do portal www.pastoraldacrianca.org.br, que abre com a chancela divina, e conversou com o gestor de Relações Institucionais da ONG, de inspiração cristã, para ajudar as pessoas a entender como a trajetória dessa instituição do Bem “é repleta de histórias de esperança, conquistas, superação das dificuldades e transformação social”. O que se dá mediante o acompanhamento das famílias e crianças em cada comunidade, como exemplo do que a sociedade organizada é capaz de fazer na busca de soluções para os seus problemas.

A Pastoral da Criança e seus dois símbolos maiores: “a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus”

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Retrospectiva 2010

Passo Fundo pioneira Na diocese de Passo Fundo (RS), uma das pioneiras na aplicação de sua metodologia, a Pastoral da Criança começou em 1984. A pequena semente de então frutificou em 20 paróquias, em que mais de 270 voluntários doam seu tempo e experiência de vida nessa missão que receberam. A coordenadora diocesana, Simone Zanetti, reconhece que o número ainda é pequeno ante a necessidade da região, especialmente nas periferias das cidades. Lá o censo da Pastoral da Criança de 2008 constatou a existência de aproximadamente 19 mil crianças em situação de pobreza e miséria, de 0 a 6 anos de idade. Destas, apenas pouco mais de 2.800 crianças são acompanhadas pelos líderes e voluntários, correspondendo a 15% do total, atingindo em torno de 2.200 famílias. De comum, independentemente de cada realidade local, a Pastoral da Criança desenvolve atividades para promover o desenvolvimento integral das crianças, desde a concepção aos seis anos de idade, e a melhoria da qualidade de vida das famílias. O que faz o recado final de Clóvis a nossos leitores ganhar significado e força especiais: “Nosso grande desafio é expandir a Pastoral da Criança e chegar a todas as crianças pobres, com a contribuição de novos voluntários”. Zilda Arns, que foi coordenadora internacional da ONG, certamente concorda e, lá do Céu, é a coordenadora emérita desse trabalho social por excelência.

Dados nacionais • • • • • • • •

Presença em todos os estados do Brasil 40.853 comunidades organizadas 4.016 municípios Acompanhamento a 94.987 gestantes e 1.689.243 crianças pobres menores de seis anos * 246.215 voluntários 134.396 deles, líderes comunitários, pessoas simples destes, 92% são mulheres 111.819 pessoas formam as equipes de apoio, capacitação e coordenação

* Em 2008

Fonte: Pastoral da Criança Dados internacionais • • • • • • • • • •

Paraguai, primeiro país a aplicar a metodologia brasileira Promoção da solidariedade, valorização da vida das crianças e maior atenção do poder público Redução da mortalidade infantil, da desnutrição e de doenças que podem ser prevenidas. 862 voluntários Atendimento a 7.891crianças, 1.019 gestantes e 4.316 famílias Na Colômbia, conhecida como Pastoral de la Primera Infancia desde 2001 Sistema de Informação em implantação Apoio da Conferência Episcopal da Colômbia (CEC), do Unicef Colômbia, do Instituto de Bem-Estar Familiar da Colômbia 850 voluntários Atendimento a 13.104 crianças, 606 gestantes e 9.298 famílias

Fonte: Pastoral da Criança Como participar • • •

Pessoas que moram em comunidades pobres podem ser líderes da Pastoral da Criança. Basta procurar numa paróquia da Igreja mais próxima a coordenação. Há necessidade de voluntários com disponibilidade para capacitar os líderes. Endereços e telefones estão disponíveis na internet: www.pastoraldacrianca.org.br.

Fonte: Pastoral da Criança

“Não é hora de perder a esperança” Dom Paulo era visitado na capital paulista, com frequência, pela sua irmã Zilda. “Ela não hesitava em consultá-lo por telefone sobre diversos assuntos”, revela Clóvis. As declarações escritas pelo cardeal, registradas pela mídia logo após a morte da irmã, “demonstram um profundo conhecimento do trabalho da Dra. Zilda, a tal ponto de dizer com satisfação que ela morreu de uma maneira linda, e do jeito que viveu, no meio dos mais pobres”, acrescenta. O arcebispo emérito de São Paulo distribuiu nota à Imprensa, nos seguintes termos: “Acabo de ouvir emocionado a notícia de que minha caríssima irmã Zilda Arns Neumann sofreu com o bom povo do Haiti o efeito trágico do terremoto. 10

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Que nosso Deus, em sua misericórdia, acolha no céu aqueles que na Terra lutaram pelas crianças e os desamparados. Não é hora de perder a esperança”. Do púlpito para a tribuna legislativa, a família Arns também se faz presente. O senador Flávio Arns acompanhou de perto as providências para o traslado do corpo da irmã para as justas homenagens no Brasil. Num depoimento exclusivo a NEO MONDO, cita o governador paulista José Serra, que em artigo no jornal Folha de S. Paulo escreveu: “Zilda Arns tinha formação científica e era cristã fervorosa. Com sua crença, tornou mais humana a sua ciência; com a sua ciência, deu impressionante dimensão prática à sua crença”.

Flávio cita também o jornalista e escritor Frei Beto, para quem Zilda “realizou a multiplicação dos pães. Multiplicou gestos de solidariedade. Multiplicou amor”. (Confira os demais trechos do depoimento em “A coroação de uma vida”.) Clóvis, por sua vez, revela que, a partir da experiência brasileira, a Pastoral da Criança colabora para a melhoria da situação das crianças pobres em outros 20 países, aos quais transfere metodologia e promove o surgimento de trabalhos baseados em seu modelo. São estes: Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, Guatemala, Honduras, México, Panamá, República Dominicana, Haiti, Angola, Guiné, Guiné-Bissau, Moçambique, Guiné Conacri, Filipinas e Timor-Leste.

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Assessoria do senador Flávio Arns

“A coroação de uma vida” * Do presidente da República ao mais simples brasileiro que tenha recebido a informação da tragédia ocorrida no Haiti, percorreu o sentimento de dor, o sentimento de perda profundo como aquele quando perdemos alguém que queremos muito. As cenas trazidas até nós retratando o sofrimento daquele povo realmente tocaram profundamente a cada um de nós. No contexto da reflexão que pudemos fazer diante daquela tragédia, uma associação mexeu com o nosso íntimo, com a nossa condição de pessoa e de cidadão. A pobreza extrema acrescida de uma tragédia trazida pela natureza e a força extraordinária do ideal da solidariedade. A condição de pobreza de um povo que tem causas históricas lamentáveis e que lança pessoas humanas em um caminho de menos vida, sem dignidade, clama aos céus e pede Justiça. Esta é a primeira cena que deve nos chocar e despertar o senso de busca por um desenvolvimento harmonioso e justo de todos os povos. A presença do Brasil através dos nossos soldados deve ser expressão de acolhida e de ajuda, uma prova de sincera amizade. Foi preciso uma catástrofe natural para chamar a atenção para a tragédia cotidiana do sofrido povo do Haiti. Zilda Arns já tinha sido tocada, na razão e no coração, pelo drama daquele povo, o pensamento voltado especialmente para as crianças. Numa ação não levada por sentimentalismo de pena, queria ajudar a reverter a situação de miséria e sofrimento oferecendo a experiência do trabalho já desenvolvida em nosso país e em outras partes do mundo. Oferecer ideias e meios para que do seio do próprio povo pudesse brotar um trabalho, eficaz e de promoção humana. No início deste processo, ofereceu a sua vida em holocausto por amor ao povo e especialmente por amor às crianças, vítimas inocentes da injustiça e do desprezo pela pessoa humana. Aquele momento não pode ser definido como o final de uma vida, mas como a sua coroação. Nada na vida, notadamente as grandes e definitivas decisões, acontece por acaso. Elas precisam de um processo de amadurecimento e de um ambiente favorável à sua concretização. A vida de Zilda Arns estava predestinada a ser um marco na história das mulheres deste país. Seus vários pronunciamentos mostravam que ela tinha consciência das causas estruturais da nossa pobreza - e que martirizavam principalmente as crianças - e nunca negou que precisassem ser combatidas e vencidas. Porém pregou e executou uma ação salvadora imediata. A sua denúncia da injustiça se traduziu na ação solidária. Uma ação solidária que ela soube fazer contagiante, progressivamente contagiante, envolvendo milhares de pessoas voluntárias. Quantas pessoas sentiram que podem ser úteis, que têm potencial e assim recuperaram a sua autoestima. O sucesso do trabalho tem como centro a sua convicção de que as pessoas são capazes, têm potencial interior para serem sujeitos da própria vida, sujeitos do processo de superação de toda dificuldade. Zilda Arns

Flávio e Zilda: “lembrança gera saudades, sem tristeza, porque o amor nunca é triste, mas sempre uma luz, uma esperança, uma proposta de vida”

acreditou sempre e de verdade nas pessoas. Acreditava que o trabalho deveria levar saber, instrumentos e motivação, e as próprias pessoas desenvolveriam o processo. Os resultados comprovam a sabedoria e a verdade da ideia. Força da espiritualidade Algumas pessoas perguntam: onde está a força, a motivação para uma pessoa como ela se lançar nesta grande aventura humana de salvar vidas, no contexto de profunda e sincera gratuidade? Na trajetória de sua vida vamos encontrar uma grande força interior que vinha de uma espiritualidade que pode ser caracterizada como sadia, forte e encarnada. Era uma espiritualidade cristã ecumênica, aberta a todas as pessoas. Uma fé profunda que se traduziu em obras. Uma fé que lhe colocava diante dos olhos cada pessoa como criatura de Deus, portadora de dignidade e com desejo de vida feliz. Uma crença cristã que lhe dava a convicção de que um Deus Pai nos chamava a uma vivência de irmãos. Solidariedade e Fraternidade foram os eixos de sua vida e de sua obra. A exemplo do Cristo, como discípula-missionária, voltou-se de coração e de vontade para os excluídos da sociedade, amou os pobres e os serviu, amou as crianças e buscou salvar a sua vida, amou as mulheres muitas vezes tão sofridas e injustiçadas, chamou os homens à responsabilidade de companheiro e pai. Amou os idosos tantas vezes esquecidos e abandonados. A sua lembrança gera saudades. A sua lembrança não carrega tristeza porque o amor nunca é triste, mas sempre uma luz, uma esperança, uma proposta de vida. Ela viveu para trazer vida, dar vida e vida plena. Para falar dos santos do altar é preciso falar dos santos da vida. Daquelas pessoas capazes de acolher a todos, de estender as mãos e soerguer, de entregar um pedaço de pão, um copo de água. Também de lutar pela Justiça. Em meu próprio nome e em nome da família quero registrar um profundo agradecimento a tantas pessoas que manifestaram sentimentos de solidariedade e amizade. Tenho a certeza de que o exemplo de vida de Zilda Arns vai ser como uma semente no chão desta Nação tão rica que pôde abrigar em seu seio esta simples e extraordinária mulher e que acolhe um povo que sabe ser tão solidário, uma semente de Justiça e de solidariedade, encaminhando-nos para uma Nação de Paz.

* Senador Flávio Arns Neo Mondo - Janeiro 2011

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Saber para SALVAR Conhecer a história do planeta ajuda a compreender melhor os processos naturais e os fenômenos que enfrentamos Da Redação

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ivemos em uma época imediatista e individualista e, por isso, não conseguimos ter uma compreensão da história do planeta que habitamos. Mas esse conhecimento é imprescindível e urgente, para nos educarmos em relação aos nossos atos atuais e suas consequências no futuro. E, para tanto, os conhecimentos da Geologia são fundamentais. Segundo Denise de La Corte Bacci, docente do Instituto de Geociências da USP, “os geólogos não se relacionam apenas ao tempo de existência do homem, mas analisam os sistemas climáticos olhando um tempo muitíssimo mais longo. Isso nos dá uma vi-

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são diferenciada da que se tem na mídia e em determinados setores da sociedade”. E falando, primeiro, da constituição do clima. Segundo a geóloga, citando Oliveira et al, 2009, “o sistema climático é constituído por atmosfera, oceanos, superfície dos continentes e geleiras. O ciclo de carbono representa as transferências de carbono entre os vários reservatórios terrestres. Quando a introdução de CO2 na atmosfera é muito rápida em termos geológicos, como no caso da queima de combustíveis fósseis, o sistema não tem tempo de se adaptar, o que, aparentemente, acarreta a intensificação do efeito estufa e aumento global de temperatura”.

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Ela afirma que o clima pode ser definido como o produto da integração das condições atmosféricas ao longo do ano, correspondendo ao padrão anual das condições meteorológicas. E a Geologia fala em tempo geológico, relacionado desde a formação do planeta até os dias atuais: isso corresponde a 4,56 bilhões de anos. O clima da Terra sempre oscilou entre quente e frio. “Houve momentos, ao longo da história do planeta, em que tivemos temperaturas muito altas, outros com temperaturas baixas. É o que se denomina efeito estufa e refrigerador, e isso sempre ocorreu. Mas a história da Terra é dominada mais por períodos quentes do que frios.”

Os períodos frios são chamados de idades glaciais. No período frio, aumenta a quantidade de gelo nos polos da terra e nas altas montanhas, e capas de gelo crescem em direção ao equador. As glaciações apresentam alternâncias entre episódios glaciais, quando as geleiras avançam, e interglaciais, quando recuam. Aumento da radiação solar As flutuações climáticas devem-se ao tênue equilíbrio entre a intensidade da radiação solar incidente e o efeito estufa, proporcionado pela quantidade de CO2 na atmosfera (Oliveira et al, 2009). Denise afirma, citando os autores, que a luminosidade e, portanto, a radiação so-

lar, de intensidade menor nos primórdios da vida na Terra, aumentou cerca de 25% até os tempos atuais. “Nos primórdios de sua história, a Terra recebia menos energia e era mais fria do que atualmente. No entanto, a quantidade de CO2 na atmosfera antiga induzia à manutenção do calor pelo efeito estufa, na medida, para garantir temperaturas amenas ou até mais altas que as atuais, e a consequente estabilidade do tempo, pelo ciclo de carbono, ou seja, pela dissolução de CO2 nos oceanos e a sua precipitação, principalmente como carbonato de cálcio.” Sete grandes períodos glaciais são conhecidos na história da Terra, como descrito em Oliveira et al, 2009. O mais antigo,

A história geológica da Terra é atualmente descrita por uma espiral temporal indicando que processos atuais ocorreram no passado

Fonte: http://geologiabiologia.blogspot.com

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Retrospectiva 2010

Arquivo pessoal

em torno de 2,3 bilhões de anos, no início do Proterozoico, duas eras entre 750- 700 Ma (milhões de anos) e 630-600 Ma, de caráter global, atingindo latitudes tropicais (Terra Bola de Neve). Uma terceira glaciação ocorreu no fim da era Proterozoica (580-540 Ma). Nesse período, as variações das temperaturas médias globais foram da ordem de 10ºC. A quarta glaciação data de 440 Ma, a quinta mais importante é a glaciação Gondwanica, que cobriu grande parte do continente Pangea, especialmente todos os continentes do hemisfério sul. A última fase glacial do planeta – a glaciação moderna – começou no mínimo há 20 Ma no hemisfério sul e há 2,0 -2,5 Ma no hemisfério norte, perdurando até o presente. “Hoje estamos vivendo o mais recente dos muitos estágios da glaciação moderna, iniciado há cerca de 10 mil anos, com previsão de novo avanço glacial daqui a vários milhares de anos. A última glaciação ocorreu há 18.000 anos e cobriu uma área bastante grande.” As manifestações devastadoras da natureza resultam do descaso das pessoas com a preservação do meio ambiente? Não, responde Denise. “Esses são fenômenos naturais e não se relacionam a essa questão. O homem pode interferir nos deslizamentos, enchentes, por exemplo, de forma a acelerar esses processos naturais, e quando ocupa áreas em que os processos ocorrem, passa a correr o risco de desastres naturais. É o que temos observado nesses últimos meses, com a maior intensidade das chuvas. Em casos de variações climáticas, os fenômenos podem ser unicamente naturais, sem a interferência humana,

Denise: “questão ecológica deve ser vista como causa social; não apenas pelo lado preservacionista”

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Os efeitos das mudanças climáticas Que problemas as mudanças climáticas acarretarão? A partir da Revolução Industrial, com a introdução de novas fontes de energia à base de combustíveis fósseis (carvão) e depois o petróleo e gás natural, as emissões de CO2 começaram a aumentar e isso levou ao aumento das concentrações dos gases do efeito estufa na atmosfera. Teremos problemas com climas mais quentes? Segundo a geóloga, claro que sim. ”Na agricultura, por exemplo, podemos deixar de produzir determinados insumos em determinadas regiões. Um estudo da Embrapa mostra que, se aumentar muito a temperatura, de 2 a 4 graus Celsius, não vamos mais produzir café no Brasil, teremos de importar. Haverá mais pragas, mais doenças, agentes veiculares como a dengue aumentarão.” Sentiremos esse problema no cotidiano, o que é diferente de pensar no derretimento da calota polar, muito distante. “Quantas cidades litorâneas sofrerão com a elevação do nível do mar? Algumas desaparecerão. Temos de pensar no nosso cotidiano. É essa a qualidade de vida que eu quero, esse futuro para meus filhos, para as próximas gerações?”, indaga. Não existe, porém, a clareza sobre essa reflexão. “Nossa sociedade é imediatista e individualista. O que interessa falar sobre o que aconteceu há milhões de anos? Interessa sim, para compreender melhor os processos naturais e os fenômenos atuais. Muitas vezes, isso sensibiliza a pessoa a refletir sobre sua ação. A mídia tem uma visão muito catastrófica e pouco formativa, as informações têm muitos erros. Temos de formar as pessoas, os educadores para trabalhar em sala de aula. Pois, por incrível que pareça, as mudanças climáticas não fazem parte do currículo escolar, o professor não tem formação adequada pra discutir aprofundadamente a questão.”

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como os registros observados ao longo do tempo geológico, onde o homem ainda não existia. Em casos de deslizamento, por exemplo, um cano de água da casa da pessoa pode estar fornecendo material para desagregar o solo no futuro. Desequilibra o processo natural. Lógico que se eu tiver preservação de áreas com cobertura vegetal, preservação de mananciais, das várzeas dos rios, que não devem ser ocupadas, esses problemas não vão acontecer”, acentua. Visão antropocêntrica Em geral, costuma-se dizer que a natureza responde às agressões de que é vítima. Mas, diz Denise, “esta é uma visão antropocêntrica da questão, que coloca o homem no centro de tudo o que acontece. O homem é apenas mais uma espécie dentre tantas outras, mas acredita ter o domínio sobre a natureza, colocando-se à parte dela, como um ser não natural, destacado e com poder para dominá-la. O que observamos são processos naturais que ocorrem no sentido de equilibrar as esferas terrestres. O homem, nesse caso, pode acelerar estes processos quando interfere no meio físico e altera as condições naturais. Estamos falando da Teoria de Gaia (leia boxe), dos sistemas naturais que existem e buscam manter-se em equilíbrio”. E o que as pessoas podem fazer frente a esta situação? “Podemos usar as catástrofes para educar as pessoas e prevenir novos desastres. Eles só acontecem quando o homem, seja por desconhecimento dos processos, seja por interesses econômicos, políticos ou mesmo por questões sociais, acaba ocupando áreas de risco geológico, como encostas, várzeas dos rios ou mesmo áreas instáveis, sujeitas a terremotos e vulcanismo.” Acima de tudo, é necessário prevenir danos maiores que podem levar à nossa própria extinção, alerta a geóloga. “As mudanças climáticas de origem humana, vamos assim dizer, têm um efeito global sobre toda a humanidade, independentemente de raça, cor, nível econômico. Em relação aos países mais desenvolvidos, com mais recursos e mais tecnologia, a mitigação e prevenção devem ser maiores, ou espera-se que sejam. Em países ainda carentes de recursos e em comunidades em áreas mais suscetíveis aos riscos, o impacto das mudanças será maior.” Por isso, é urgente que todos os segmentos da sociedade tenham conhecimento dos processos e das causas, para

que assim encontrem juntos uma solução para a questão das mudanças climáticas. Entretanto, afirma Denise, “isso ainda não ocorre, pois os interesses econômicos das nações ainda predominam sobre a preocupação ambiental e bem-estar da população como um todo. A redução dos níveis atuais de emissão dos gases do efeito estufa, a transferência para uma matriz energética mais limpa, o uso de novas tecnologias de produção mais limpas são algumas medidas que devem ser tomadas pelos governos. Mas, acima de tudo, é preciso rever o modelo de desenvolvimento econômico e passar para um modelo que vise à sustentabilidade, é preciso

educar a população de modo a criar uma consciência crítica nas suas escolhas, em seus valores, na busca de uma qualidade de vida melhor para todos, e isso começa com a participação social, numa luta por políticas públicas melhores, que diminuam as desigualdades sociais e econômicas, luta por uma educação de qualidade, que melhor permita a formação de cidadãos participativos e que assumam seu papel social em todos os níveis. A questão ecológica não deve ser vista apenas pela visão da conservação, da preservação, mas como uma causa social, de engajamento da sociedade para resolver problemas comuns à humanidade”.

A Teoria de Gaia Desenvolvida no final da década de 1960, tem como precursor o ambientalista inglês James Lovelock. Na sua visão, o ambiente se autorregula, se for alterada uma das variáveis do processo ela responderá, tentando voltar a esse equilíbrio. Uma interferência muito grande pode chegar a romper esse sistema. A resposta dentro dessa teoria é: voltar ao equilíbrio natural dos processos. Para que isso ocorra, é preciso aprender com o que está acontecendo com o planeta. Segundo Denise, “olhar para essas catástrofes e desastres naturais para educar as pessoas, no sentido de prevenir que novos desastres aconteçam. Isso acontece não só no Brasil, com as questões de deslizamentos e alagamentos, mas por exemplo há terremotos, tsunamis que não estão absolutamente relacionados à intervenção humana. O homem ocupa áreas de risco e está sujeito a sofrer as consequências dessa ocupação”. Evolução da atmosfera terrestre no tempo

Tempo passado, medido em bilhões de anos Fonte: Teixeira, W.; Fairchild, T.R.; Toledo, M.C.M; Taioli, F. Decifrando a Terra. 2a. edição. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2009

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Retrospectiva 2010

Prefeitura Municipal de Paraibuna

APAGÃO HÍDRICO Trecho do Rio Paraíba do Sul em Paraibuna

Cenário de racionamento após 2015 em São Paulo já provoca encrenca federal com embates judiciais pela disputa de água entre Estados Da Redação

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esmo encharcada por 720 bilhões de litros de água, despejados sobre os paulistanos só com as chuvas de janeiro, São Paulo sente-se ameaçada pela possibilidade de escassez do líquido em curto prazo, já a partir de 2015. Estudos em fase conclusiva espicaçam o governo paulista a adotar a saída mais à mão, vale dizer, menos onerosa, ainda que isso implique em comprar briga federal com vizinhos também ciosos de suas reservas hídricas. A preocupação com o esgotamento de reservas para abastecimentos futuros levou a secretária de Saneamento e Energia, Dilma Pena, em nome do governo do Estado, a pedir através do Decreto 52.748, estudos de mananciais alternativos que

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possam socorrer a macrometrópole paulistana num cenário de 30 anos. Chamado de “Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macro-metrópole”, o trabalho busca analisar viabilidade técnica, institucional e ambiental das fontes de água disponíveis na região e traçar um modelo de desenvolvimento. O grupo de estudo, instalado em fevereiro de 2008 pelo decreto assinado pelo governador José Serra, avalia as bacias num raio de 200 quilômetros no entorno da capital. Num quadro de oito possibilidades e em função da distância com a região metropolitana, uma opção está sendo embalada com mais carinho e com “claros sinais de que venha a ser implementada por oferecer custos

mais convidativos e menores entraves técnicos”, segundo observadores. Ainda que as avaliações financeiras não tenham sido concluídas, as autoridades estaduais se veem tentadas a optar pela possibilidade de transposição de águas do rio Paraíba do Sul, vizinho de muro da Grande São Paulo. As outras bacias em análise são Alto Tietê, o conjunto PCJ ou Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Baixada Santista, Sorocaba e Médio Tietê. Um check-up A execução dos estudos exploratórios de alternativas está a cargo da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape), que recebeu prazo de um ano para realizá-lo, prazo que, em tese, terminaria agora em março.

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Estima-se um investimento em planejamento da ordem de R$ 2,98 milhões aos cofres do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE). A Cobrape, a serviço do governo paulista nessa empreitada, é uma empresa multi-uso: cobre desde abastecimento de água até logística, edificações e drenagem, saneamento, urbanização de favelas e capacitação de mão de obras, lixo, energia e telecomunicações. Mas o check-up, segundo garante Rui Brasil, assessor de gabinete de Dilma Pena, vai permitir fazer uma “avaliação segura da situação atual e futura, da disponibilidade e demanda dos múltiplos usos dos recursos hídricos, dos conflitos existentes e potenciais e das alternativas para resolvê-los à luz do aproveitamento integrado das bacias envolvidas, nos próximos anos”. Vale citar que, a exemplo de sua xará na área energética, Dilma Pena também já foi diretora da Agência Nacional de Águas (ANA) com Fernando Henrique

Cardoso e diretora de Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento com José Serra. Apagão hídrico Com 28 milhões de habitantes, dos quais 20 milhões só na Região Metropolitana, a macrometrópole paulista, que agrega São Paulo, Campinas e Baixada Santista, tem atualmente capacidade para produzir 67 metros cúbicos de água por segundo e distribui cerca de 65 m³/s, pelos dados da Secretaria de Saneamento e Energia. Ou seja, já consome perto de 97% do que produz. Desta produção, 68 m³/s vão para uso público e 12 m³/s para uso industrial e agrícola. A Sabesp encomendou estudo de projeção do crescimento da população da região metropolitana de São Paulo à Fundação Estadual de Análise de Dados (Seade). A conclusão é a de que seria necessário um aporte de vazão anual adicional de cerca de 500 litros por segundo no horizonte de 2025.

Um ano tem 31.536.000 segundos. Façam os cálculos multiplicando por 500 litros cada segundo. São 15,7 bilhões a mais de litros ao ano. Nada assustador. É bem menos do que caiu só com as chuvas de janeiro. Mas as obras em andamento ou projetadas para iniciar já a partir deste ano garantiriam uma sobrevida para o sistema até 2015, segundo técnicos do setor. Daí em diante espera-se racionamento ou oferta de “péssima qualidade”, segundo os mesmos técnicos. A intenção do governo é aumentar em 10 m³/s ou 10 mil litros por segundo a produção de água mediante injeção de recursos a partir de 2010. Entre as obras previstas está a ampliação da estação de tratamento de água de Taiaçupeba, do Alto Tietê, que acrescentaria 5 m³/s ao sistema e uma reversão no rio Juquiá, que jogará mais 4 m³/s de água no Sistema São Lourenço, ao sul da Grande São Paulo. Finalizadas estas duas obras e integradas as novas fontes de água à rede de abastecimento existente, as alternativas imediatas para a região estão esgotadas.

NO FIO D’ÁGUA Nas oito opções em estudo sobram entraves de ordem técnica, menos em uma que é a transposição das águas do Paraíba do Sul Luiz Roberto Barretti, que responde pela vice-presidência do CBH-PS - Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, detalha: “a maioria das opções em estudo apresenta problemas técnicos de grande monta ou entraves institucionais. Por exemplo, o aproveitamento de dois rios de vertente marítima - o Itatinga e o Itapanhaú -, com reversão para o Alto Tietê, enfrenta impasse ambiental: estão localizados na Serra do Mar. O sistema PCJ -Piracicaba, Capivari e Jaguari- é um dos principais fornecedores mas ele tem que manter uma vazão mínima para que sobreviva, isto é, não vão poder usar mais do que já usam. Os rios não estão ainda secos mas estão no limite. A captação já é feita como se diz, no fio d´água - e assim está previsto até 2020”. Também a disponibilidade hídrica da bacia do rio Ribeira do Iguape está limitada por problemas técnicos. “A transposição do Rio Ribeira de Iguape explica Barreti, esbarra num obstáculo de 700 metros de altura a serem superados e num canal de 150 km de distância. O sistema de Barra Bonita, hoje gerando energia para a AES Tietê, tem

água de sobra até 2.100 mas está também 200 km longe da Grande São Paulo”. Vizinho de muro Já o rio Paraíba é “vizinho de muro e disponibiliza três locais para a transposição: na região de Igaratá, o rio está a apenas 5 km de Atibaia, com um pequeno morro a ser transposto, descendo a água por gravidade. Em Guararema são apenas 20 km, chegando as águas do Paraíba à região metropolitana via Mogi das Cruzes. Por último, de Paraibuna para Salesópolis são só 35 km de canal. Outras quatro alternativas menos interessantes, citadas em um trabalho da jornalista Marleine Cohen, foram identificadas pelos técnicos que se debruçaram sobre o mapa hídrico paulista. Uma delas é a represa de Jurumirim, no rio Paranapanema, com vazão suficiente e águas de qualidade. Também foram identificadas dificuldades para a utilização do reservatório de Barra Bonita, que se presta atualmente à geração de energia da AES Tietê. Não está descartada a captação de água do aquífero Guarani.

TextoArte Comunicação

Para Luiz Barretti, há problemas técnicos degrande monta ou entraves institucionais na maioria das opções A secretaria de Saneamento acredita que até julho próximo todas as alternativas estarão esboçadas e prevê, então, uma bateria de seis seminários públicos com comitês de bacias, ambientalistas, políticos e técnicos para abrir o debate.

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Retrospectiva 2010 Os oito reservatórios Hoje o abastecimento provido pela Sabesp vem de oito sistemas produtores: o Cantareira, com cinco reservatórios que fornecem até 35 m³/s ou 46,8% da produção global; •

o Guarapiranga/Taquacetuba, com vazão de 13,8 m³/s ou o correspondente a 21,1% da oferta total;

o Alto-Tietê, composto de cinco reservatórios, cuja produção, de 10,4 m³/s, equivale a 16% do abastecimento de água;

o Rio Grande, situado num braço da represa Billings e responsável pelo suprimento da região do ABC, com 4,8 m³/s ou 7,3% do total;

o Rio Claro, com vazão de 3.8 m³/s ou 5,8% da produção integral;

o Alto e Baixo Cotia, localizado a oeste de São Paulo, que produz 1 m³/s (3%).

E, por último, o ribeirão Estiva, com participação inferior a 0,1%.

A ENCRENCA FEDERALIZADA A igreja, o sindicato dos engenheiros e comunidade cariocas já apelaram ao Ministério Público contestando estudo do Governo paulista Se o estudo queria prever “conflitos existentes e potenciais” já deveria saber que só a menção à possibilidade de inclusão do rio Paraíba do Sul entre as opções em análise pelo Governo paulista, acabaria criando, como já está criada, claro, uma encrenca federal. O rio Paraíba já atende 14 milhões de pessoas, um parque industrial que responde por um naco respeitável do PIB nacional mais alguns hectares irrigados, divididas entre 180 cidades de três estados: São Paulo, Minas Gerais e a região metropolitana do Rio de Janeiro. Só no trecho paulista da bacia existem mais de 2.500 indústrias registradas na CETESB. No total da bacia chegam a 8.000. A bacia do rio Paraíba do Sul tem uma área de 56.500 km², abrangendo não só as regiões do Vale do Paraíba Paulista e Fluminense, mas também o Noroeste Fluminense e grande parte da Zona da Mata Mineira. O rio tem seu curso marcado por sucessivas represas, destinadas à provisão de água e eletricidade para as populações da bacia e também da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em razão disso, o rio encontra-se hoje em estado crítico, com margens assoreadas, águas não tão potáveis em razão de despejo de esgotos domésticos e industriais e 40% da sua vazão desviada para o Rio Guandu, próximo a Volta Redonda.. A aguerrida Volta Redonda Assim é que, a par com as mobilizações esperadas em São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, envolvendo mesas redondas e

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fóruns de militantes ambientalistas, Ongs, historiadores regionais como Tereza Maia, de Guaratinguetá, que já coletou 10 mil assinaturas em abaixo-assinados, vieram ações mais concretas como a da aguerrida Volta Redonda, tradicional reduto de resistência trabalhista e religiosa, antes sob a liderança de Dom Waldir Calheiros, hoje substituído pelo bispo servita, Dom João Maria Messi. Eis aí a briga federalizada. Dom João, ao lado do presidente do Sindicato dos Engenheiros local, João Thomaz, levou o Ministério Público Federal (MPF) em Volta Redonda a instaurar inquérito civil público para apurar o citado estudo do governo de São Paulo, que inclui a transposição no Rio Paraíba do Sul entre as alternativas para abastecer a macro-metrópole paulista. A medida foi tomada pelo procurador Antônio do Passo Cabral a partir de uma representação da Comissão Ambiental da Cúria Diocesana, entregue ao MPF em meados de fevereiro último. Na representação encaminhada ao MPF, assinada pelo bispo e pelo presidente do Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda, a comissão alerta que “não está havendo transparência nos estudos do governo paulista, o que fere os princípios legais da democracia, pois não estão sendo ouvidos todos os que podem ser afetados pela iniciativa”. O procurador determinou que sejam encaminhadas cópias do inquérito às procuradorias dos estados do Rio de Janeiro, São

Paulo e Minas Gerais, solicitando ainda que sejam informadas todas as procuradorias da República cujas áreas de abrangência compreendam regiões banhadas pelo Paraíba. Um rio picotado Em conversa com Dom João Messi, por telefone, ele se diz “em estado de alerta com a comunidade, o que inclui peritos, políticos e pessoas a quem essa situação preocupa e não agrada”. Mas o bispo acredita que, por ser ano eleitoral, o debate vai arrefecer-se, já que José Serra pleiteia o cargo máximo e vai respeitar o pleito de outros Estados. Dom Messi lembra que “o Paraíba já é um rio muito picotado. É aqui próximo a Volta Redonda, a 40 km daqui em Barra do Piraí que o rio Paraíba sofre uma sangria, com uma primeira transposição, depois tem outra no rio Guandu para abastecer a região metropolitana do Rio. Sem contarmos as barragens. No Vale do Paraíba todo somam-se 180 cidades com 8 mil indústrias que já se servem dessa água. Não é só rivalidade inter-estados”. E conclui: “já é sangria muito forte, preocupante. Por quê a bacia teria, ainda, que comprar problemas da macro-metrópole paulistana, aí incluindo Campinas e Baixada Santista?”. O presidente do sindicato dos engenheiros, João Thomaz, ironiza lembrando que “o Paraíba do Sul é a caixa d’água da Baixada Fluminense e São Paulo quer furar a caixa d’água do vizinho”, classificando de “crueldade” uma nova transposição no rio.

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OS VÁRIOS PARAÍBAS Assim como Minas, o Paraíba não é um só, são vários e essa variedade não foi levada em conta pelo estudo do Cobrape No lado paulista os debates mais institucionalizados estão centrados no CBH-PS Comitê de Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul, o órgão tripartite que reúne representantes dos prefeitos municipais, da sociedade civil e também do Estado. Atualmente a gestão da bacia é feita por este comitê dentro de uma política de participação instituída pela Lei Federal n.° 9.433/97. Quem fala à NEOMONDO pelo comitê é Luiz Roberto Barretti, seu vice-presidente. Ele alerta que o estudo inicial da Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo ignorou dois fatores que inviabilizam uma possível transposição das águas do rio Paraíba: 1) o relatório preliminar continha dados defasados sobre a qualidade das águas do rio e 2) também ignorou o comprometimento que a bacia já tem com a metrópole do Rio de Janeiro. O técnico explica que “no que se refere à qualidade das águas do Paraíba, o trecho entre São José dos Campos e Guaratinguetá já caminha para um reenquadramento negativo, caindo da classe dois para classe três. Em determinados trechos já há restrição para consumo humano. Duas cabeceiras Como confirmando a imagem de Dom João sobre o rio picotado, Barretti lembra que o estudo da Cobrape “peca também por supor que a bacia é uma coisa só, uniforme. Não é. Há as cabeceiras, há as barragens, há depois o médio Paraíba, correndo em áreas densamente povoadas e industrializadas, o baixo Paraíba, etc... (Nota da redação: o Paraíba é formado pela junção de dois rios, o Paraitinga e o Paraibuna, cada um nascendo em dois lugares diferentes, um em Areias e outro em Cunha. Assim, o Paraíba teria, na verdade, duas cabeceiras), Barretti exemplifica dizendo que “se o estudo concluísse por colocar a torneirinha, digamos, em Queluz, já na divisa com o Rio, se a transposição se desse ali, não estaríamos discutindo. O problema é que eles (entenda-se, a macro-metrópole) estão querendo pegar a água antes da gente usar, lá em cima. Eles tiram lá e depois vem Jacareí, São José dos Campos, Taubaté...outra conurbação. O que teremos de reserva?

Santa Branca produz 40 metros cúbicos por segundo, se tirar 10 m3/s ou 10 mil liros por segundo dela, fica com 30 mil litros/segundo ou 30 m3/s, insiste o técnico. E não será realimentada, não haverá reposição se não fizer as cabeceiras produzir mais água. Em fio de navalha Barretti diz ainda que, da forma como os dados foram apresentados colocam a bacia do Paraíba como uma das potenciais doadoras de água da macro-metrópole em razão da proximidade, do potencial de abastecimento e do baixo custo da obra de transposição, mas não considerou a disponibilidade de nossas demandas e obrigações. Os analistas nem levam em conta o fator econômico, quantos empregos deixarão de ser gerados no Vale. Ele explica que “o Vale do Paraíba vislumbra para os próximos anos um período de bons ventos desenvolvimentistas. Vem aí todo o investimento em torno do Pré-Sal com obras já em andamento na modernização da Revap -a refinaria situada em São José dos Campos, tem a implantação do Trem de Alta Velocidade que cortará toda a região, a modernização da FAB que vai exigir muito da Embraer, tudo isso atraindo, sem dúvida, mais moradores. E desenvolvimento sem água não existe. Os bons ventos da economia demandam mais recursos hídricos”, diz ele. Para o diretor do CBH-PS “o rio Paraíba ainda não está na situação em que se encontra o sistema Piracicaba, Capivari, Jaguari mas com o desenvolvimento que se vislumbra ele estará numa situação crítica ou de fio de navalha, tanto do ponto de vista de vazão -se pode secar ou não- quanto da qualidade da água, mesmo com novas estações de tratamento de esgoto”. E mais: nossas bacias todas nesse entorno de 200 km, são interdependentes. Quem mora em São José dos Campos, a 90 km de São Paulo, sabe que se choveu na Capital, uma hora depois chove aqui e, vice-versa, se não chove lá também ficamos sem chuva aqui. Na hora da escassez, aqui também vai faltar e a falta vai ser pra mim e para eles. No fim, acabamos ficando com as sobras”, conclui. Um rio que seca O diretor de Operações da empresa de água e esgoto (SAAE) de Jacareí, Stelio Ma-

Rio Paraíba do Sul Trecho de Caçapava - São José dos Campos chado Loureiro Filho, entrevistado pela TV Vanguarda, afiliada regional da Rede Globo, chamou a atenção para a marcação de uma régua fincada na beira do rio, visível de sua sala de trabalho. Ele explica que o nível do rio não segura mais os níveis que tinha há vinte anos. Segundo ele, o nível ficava em torno de 70 centímetros na parte mais baixa. Já chegamos a ficar com 5, 4 centímetros”, diz. “Então houve uma perda muito grande no nível do rio”, completa. No registro do SAAE de dez anos atrás, a régua marcava 68 centímetros. Em dezembro último marcava 17 centímetros. Há épocas em que ela quase seca, o que já aconteceu pelo menos três vezes desde dois mil e três. Vem daí a falta d’água. Foi o que ocorreu em março de 2009. O nível do Rio Paraíba depende de dois fatores: chuva e vazão na represa de Santa Branca. De lá saem, normalmente, 40 metros cúbicos de água por segundo. De acordo com o primeiro estudo, se forem retirados 5 metros cúbicos por segundo, a queda seria de 35 metros cúbicos por segundo. Nessa circunstância, Jacareí não consegue manter funcionando as duas bombas de captação. “Isso é muito preocupante”, diz Loureiro Filho. Neo Mondo - Janeiro 2011

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“QUEREMOS COMPENSAÇÕES” Técnico propõe negociações compensatórias contra abordagens alarmistas mas custos chegariam a bilhões O zootecnista Nathan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva, membro atuante de organizações em defesa da região e consultor da NEOMONDO surpreende ao nadar contra a correnteza dos protestos contra a transposição. Ele diz que “na verdade não tenho tanta contribuição a respeito da tranposição em si. Mas avalio que alguns movimentos em defesa do Paraíba do Sul muitas vezes trazem tons alarmistas”. E passa a defender cobranças bem negociadas por compensações pelo desvio da água. Ele lembra que “numa série de reportagens do Globo Rural, a sociedade em geral passou a louvar o programa “produtor de águas”, do Governo federal e mostrado na prática em Extrema - MG. Pois ele é executado com recursos oriundos da metrópole, devido à tranposição de um dos dois rios Jaguari que corta a região. Não seria essa, então, a oportunidade de prover o financiamento para ações eficazes de conservação da bacia do Paraíba do Sul nas cabeceiras e Vale afora, pergunta Nathan. “A água tem valor” Em apoio ao zootecnista e também produtor rural do Vale do Paraíba paulista, vem o professor Paulo Canedo, já citado no caso do São Francisco. O especialista do laboratório de Hidrologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro considera pertinente a oposição feita pelos representantes de Minas Gerais, Bahia e Sergipe ou mesmo de quem se opõe à transposição do Paraíba. Segundo ele “antes de mais nada, é preciso deixar claro que a água tem valor e que esses Estados precisam receber uma contrapartida pela água que será transportada”, Nathan entende que “mais importante que discutir a transposição em si - é a im-

plementação do Plano de Bacia pois envolve questões mais abrangentes em diversos segmentos da sociedade e até mesmo do Estado, uma vez que os Comitês de Bacia tornar-se-ão, num futuro próximo, o mais estratégico instrumento de gestão social de um determinado território ou região. Creio que essa tese dispensa justificativas”, disse ele em conversa pelo MSN. Nota da redação: o Programa do Produtor de Água foi concebido em âmbito federal visando à melhoria da qualidade e quantidade de água em áreas rurais com afluentes e ribeirões, onde há mananciais de abastecimento. Ele incentiva produtores rurais a adotarem boas práticas de conservação de água e solo. Em contrapartida, o produtor recebe uma quantia pelos trabalhos realizados, compensando-o por eventuais perdas de pastos onde houve plantio de árvores ou benfeitorias protecionistas. Já o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Paraíba do Sul é um alentado trabalho do Laboratório de Hidrologia e Estudos Ambientais da Fundação para Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos -Coppetec-, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Só o resumo do trabalho conta com 138 páginas. O resumo é, na verdade, um “caderno de ações” concretas, com sugestões e custos envolvendo desde processos erosivos ou de assoreamento a disponibilidade, usos e demandas hídricas, saúde e saneamento, redução de cargas poluidoras, drenagem urbana e controle de cheias, proteção de mananciais e sustentabilidade de solo, ampliação de base de dados sobre o rio e prioridades para a região.

O debate proposto por Nathan é a negociação: a transposição em troca da implementação do plano. É uma provocação bem feita, um desafio ao governo paulista. Bilhões para recuperar Luís Roberto Barretti, vice-presidente e representante do pedaço que cabe à sociedade civil no Comitê da Bacia -CBH-PS- até concorda com tais argumentos, mas não parece tão otimista quanto à benevolência do Governo estadual. Ele diz que o Plano da Bacia já está em andamento e calcula em “alguns bilhões de reais as necessidades para que o rio possa recuperar-se,. o que gera necessidades de infra-estrutura. São investimentos maciços nas recuperações de cabeceiras e do próprio rio. As cabeceiras teriam que ter reais condições de produzir mais água e não será apenas plantando meia dúzia de árvores”. Barretti cobra, que “se cumpram também regras de operação em função da geração de energia, nem sempre cumpridas. Veja, diz ele, as represas já estavam lotadas antes mesmo desta temporada de chuva. No ano passado, em tempo de estiagem, o Paraíba já estava cheio. As normas básicas de operação deveriam prever o controle de vazão mas não foi feito. Vieram as chuvas e deu no que deu: cidades alagadas”. E, pior: segundo ele, já não há muito espaço para compensações de peso. O governo, por exemplo, acena com possíveis novas barragens mas as possibilidades são mínimas. “Temos, se tanto, o rio Buquira, entre São José e Monteiro Lobato, e o rio Una, em Taubaté mas ambos estão em áreas já densamente povoadas, urbanizadas. Há outros ribeirões roceiros. Como alagar aí?

Daniel Rezende

Reservatório de Paraitinga-Paraibuna

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APROVEITAR AS CHUVAS É FICÇÃO? Governo diz que tudo ainda são estudos e promete investir em redução de perdas, maior racionalidade e reuso da água No primeiro contato com a assessoria de imprensa de Dilma Pena, Hugo Almeida reagiu de bate-pronto assim que falamos em transposição do Paraíba: “não há nenhum projeto sobre isso”. Claro, o que há são só estudos abrangentes onde a transposição mostra-se como a hipótese mais palatável. Isso foi dito acima. Já o secretário-adjunto de Saneamento e Energia, Ricardo Toledo, diz em entrevistas já publicadas que considera positiva a iniciativa do comitê da bacia de encaminhar questionamentos técnicos e diz que as especulações sobre os modelos possíveis de transposição são precipitadas. Segundo ele, as alternativas só serão discutidas após a conclusão dos estudos, prevista para este mês de março. Em outras entrevistas também já divulgadas, Rui Brasil, assessor de gabinete, é prudente ao explicar que “não queremos apenas prover a demanda projetada. Hoje, para gerir a demanda, fazemos uma segunda conta: quanto consigo reduzir em perdas de abastecimento, quanto ganho com o uso racional e o reúso da água e, principalmente, quanto gasto para trazer água de longe, uma

vez que o sistema adutor atual não tem a abrangência geográfica necessária?” Dados da secretaria, citados pela colega jornalista Marleine Cohen , mostram que entre 2000 e 2008 foram investidos R$ 120 milhões por ano no combate a vazamentos. O programa de redução de perdas na distribuição conseguiu diminuir a quantidade de água distribuída em 4,3 m³/s, volume suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas por dia. Atualmente, estima-se que 28% da produção da Sabesp seja desperdiçada. Para o ano, a meta é limitar as perdas a 25% e, em 2019, a 14%. Nas questões encaminhadas por mail à assessoria de Dilma Pena, lembramos que só as chuvas de janeiro despejaram sobre a Grande São Paulo 720 bilhões de litros de água. O cálculo é da revista Veja, em reportagem de capa da edição de 10 de fevereiro último sobre o dilúvio que castigou a capital durante 45 dias seguidos. Perguntamos se nas projeções futuristas dos estudos encomendados à Cebrape -e 30 anos são futuro- o aproveitamento desse volume de água continuaria sendo apenas ficção científica. Ainda não veio a resposta.

Trecho do rio Paraíba em Resende no Rio de Janeiro

São Francisco, o rio da integração Toda esta animosidade faz lembrar outra celeuma que levou também um membro da Igreja católica, o bispo Dom Luiz Flávio Coppio, da diocese de Barra (Ba), a manter uma prolongada greve de fome contra o projeto federal de transposição do rio São Francisco. Mas este projeto previa atender não uma única cidade ou macrometrópole mas integraria o São Francisco às bacias do semi-árido do Nordeste Setentrional. Ali, os estados de Minas e Bahia vão ceder 2 % do volume de água do rio. Para os defensores da idéia, uma quantia desprezível se comparada aos enormes ganhos para o Polígono da Seca. A escassez de recursos hídricos em algumas regiões do nordeste está muito abaixo do limite mínimo estabelecido pela ONU, que é de 1.000 metros cúbicos de água por habitante/ano. Dom Coppio alegava que o projeto, além de também sangrar o já combalido São Francisco atenderia apenas interesses de grandes projetos ou proprietários de terras irrigáveis, deixando de lado ribeirinhos e pequenos proprietários.

Segundo o professor Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ, o mesmo que estudou a bacia do rio Paraiba, o principal ponto da discussão no São Francisco não está no percentual de água a ser transferido. Ele lembra justamente que a transposição do Rio Paraíba do Sul para o Rio Guandu, no estado do Rio de Janeiro, é de 70% do volume da água. Mas ele concorda que 2% ou 70% sempre é uma renúncia hídrica, que deve significar um futuro sacrifício em termos de desenvolvimento”. O aproveitamento hídrico do projeto de transposição do Rio São Francisco foi aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, em janeiro de 2005. De acordo com o Plano Decenal, a transposição propiciará aos estados do Nordeste Setentrional um consumo adicional imediato de 25 m3/s (25.000 litros por segundo), podendo chegar a 65m3/s de água em 2025.

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Retrospectiva 2010

Frederico Uehara

Mundo, capital MA

Fórum Internacional da Seminars e do LIDE reúne gente comprometida com a sustentabilidade Da Redação*

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urante dois dias, em especial, Manaus (Amazonas) foi Manaus (Brasil) e, mesmo, Manaus (Mundo). Tal o alcance do Fórum Internacional de Sustentabilidade, que a capital amazonense sediou entre 26 e 27 de março no Hotel Tropical, com encerramento em grande estilo no Teatro Amazonas, considerado obra de arte do século XIX. Estrelas de toda grandeza nos cenários político, científico e cultural do Brasil e do

exterior falaram no evento, com a participação de 560 empresários. O Fórum, da Seminars e do LIDE, foi viabilizado por empresas que, no País, estão à frente de setores que levam a sério a sustentabilidade (ver quadro “Talento reconhecido e mentes inovadoras). NEO MONDO foi o único veículo da mídia especializada convidado para o evento. Numa espécie de ação entre amigos do planeta, uma das ideias que ganha for-

ça crescente e pode chegar à consistência desejada é a de se criar e viabilizar fundos que financiem projetos de preservação de florestas. Do Fórum saíram também propostas e até acordos, voltados a promover ações efetivas em educação, desenvolvimento de projetos e venda de produtos. João Doria Jr., presidente do LIDE, lembra que as empresas que compõem o grupo representam 46% do Produto Inter-

* Com informações de CDN Comunicação Corporativa, Anna Gabriela Araujo, Agência Brasil de Notícias e jornais A Crítica, de Manaus, e Meio&Mensagem.

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NAUS “

Evento contribui para tornar o Brasil economicamente competitivo e socialmente justo e solidário

Al Gore reconhece liderança brasileira e defende fundo mundial

no Bruto (PIB) brasileiro. O que, somado às “presenças de Al Gore, James Cameron, Thomas Lovejoy, do governador Eduardo Braga e dos mais importantes empresários do Brasil, na área de sustentabilidade, evidencia a importância deste evento”. Todo o potencial econômico da Amazônia esteve na mesa de discussões do Fórum, envolvendo uma seleta plateia, atenta às diversas possibilidades que a região oferece em biodiversidade, recursos hídricos, produtos da floresta, créditos de carbono, entre outras. A visão do LIDE, explica João Doria, é “contribuir para tornar o Brasil um país economicamente competitivo e uma nação socialmente justa e solidária”. O que, por si, já é garantia do sucesso dessa iniciativa.

Muito além da madeira O ex-vice-presidente dos Estados Unidos foi incisivo: “A Amazônia é um tesouro imenso que pertence ao Brasil, guardado e protegido. O valor dos recursos genéticos e da biodiversidade contida na floresta é ímpar, e só agora está sendo reconhecido

pelas companhias de biotecnologia, pelos cientistas e por indústrias de toda a natureza”, afirmou, para ressaltar: “Vender uma floresta pelo valor da madeira é como vender um computador pelo preço do silício. O valor real da Amazônia está em toda a informação que ela contém. A cura de diversas doenças está na floresta”. O líder americano destacou que a questão da Amazônia e das mudanças climáticas envolve necessariamente uma “civilização global com propósito único”, ou seja, uma agenda comum sem que haja separação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Al Gore elogiou os trabalhos de preservação feitos em parceria com as comunidades locais. “O Brasil descobriu uma fórmula bem-sucedida que deve servir de exemplo nos debates sobre como combinar desenvolvimento com sustentabilidade.” Mesmo assim, para Al Gore a resposta mais completa para deter o aquecimento global está na assinatura do Acordo de Copenhague, quando diversos países devem comprometer-se a reduzir a emissão de gases tóxicos na atmosfera. Frederico Uehara

Plateia, sintonizada com palestrantes e debatedores: sustentabilidade levada a sério

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e prêmio Nobel da Paz em 2007, Al Gore, em sua apresentação, reconheceu no Brasil a liderança nas questões relacionadas à sustentabilidade em todo o mundo, ao dizer: “Estive em Copenhague em dezembro e fiquei impressionado com a liderança do Brasil. O País tem uma voz de grande poder, não apenas pela Amazônia, mas porque ofereceu liderança em tantas outras questões relacionadas à sustentabilidade”. Era uma referência à participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Conferência do Clima (COP 15), quando o Brasil apresentou suas metas de redução da emissão de gases do efeito estufa. Autor de Uma Verdade Inconveniente, best-seller que virou filme (ganhador do Oscar) com o mesmo nome, Al Gore é uma das principais lideranças mundiais no que se refere a mudanças climáticas. Ao desenvolver o tema “A importância da Amazônia no contexto das alterações climáticas globais”, o nobel da Paz lembrou que os resultados da COP 15 ficaram aquém do esperado. Um acordo mundial sobre a redução da emissão de gases de efeito estufa ficou para um próximo encontro de líderes, que deverá ser realizado este ano no México. Para Al Gore, a criação de um fundo mundial que financie projetos de preservação em países que têm florestas sob custódia é ponto central da questão. “Não há mais controvérsias sobre este assunto, trata-se de um ponto-chave para tentar minimizar os impactos das alterações climáticas”, afirmou.

Al Gore: “A Amazônia é um tesouro imenso que pertence ao Brasil com biodiversidade ímpar”

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Retrospectiva 2010 Especial - Amazônia

Exemplo das águas Al Gore usou a imagem do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, para ajudar a entender o que é possível ser feito pelo conjunto das nações para combater o aquecimento global. “Negro e Solimões caminham lado a lado, com as diferenças deles, por 10 quilômetros, mas depois as águas se misturam, e juntos eles correm para o mar”, disse, para receitar: “As nações, com suas histórias e tradições diferentes, precisam agora colocar isso de lado, se unir e construir uma civilização global”. O ilustre palestrante reconhece: “O Brasil está agindo. Empresas de todo o mundo estão se adiantando ao tema. Mas ainda assim está longe de ser o suficiente. A cada 24 horas ainda estamos colocando 90 milhões de toneladas de gases tóxicos na atmosfera, responsáveis pelo aquecimento global. Desse total, 30 milhões de toneladas vão para os oceanos, que por causa disso estão se tornando mais ácidos. Essa descarga tóxica já está interrompendo o processo das criaturas marítimas de retirar o carbonato de cálcio da água e para fazer conchas”, explicou.

Desafio gigantesco A situação chegou a um ponto que Al Gore considera comprometedora, como nunca, para a atual geração. No entender do conferencista, o julgamento das gerações futuras é certo. “Vão perguntar: ´o que vocês estavam fazendo? Por que não fizeram nada com todos os avisos que foram dados?´.” Para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, trata-se do maior desafio já colocado para os seres humanos. Para quem já teve o status de segunda pessoa mais poderosa do mundo, fica fácil e digno de credibilidade discorrer quando questionado sobre a resistência dos Estados Unidos em assinar o acordo. Al Gore disse acreditar que isso aconteça ainda este ano. A proposta já foi aprovada no Congresso dos Estados Unidos, afirmou, mas a grande dificuldade está na aprovação pelo Senado. “Há organizações muito grandes que lutam contra isso e elas têm sido muito poderosas até agora”, explicou o líder, citando também os efeitos da crise financeira mundial.

Conhecimentos compartilhados No caso da Amazônia, Al Gore defendeu parcerias que tragam maior benefício para o povo que vive na região. “Não acredito que haja mais o temor de que o interesse mundial na Amazônia seja uma ameaça de invasão ou de posse. É claro que temos que respeitar a história de insultos, abusos e temores herdada do passado. Mas hoje a preservação requer debates e conhecimentos compartilhados. É preciso um acordo global não só para preservar a Amazônia, mas as outras florestas do planeta.” Para que as empresas consigam de fato entrar no processo de produção com menos impacto ambiental, Al Gore destacou que é preciso deixar de lado os pensamentos de curto prazo, que exigem resultados imediatos. “A forma como projetamos um investimento tem que mudar. É preciso formular políticas para o longo prazo e considerar em todas as decisões a questão da emissão de gás carbônico e outros poluentes na atmosfera. Não é possível mais decidir sem considerar isso”, avaliou o líder.

Talento reconhecido e mentes inovadoras A Seminars é uma empresa resultante da associação do Grupo Doria Associados, comandado por João Doria Jr., e a Maior Entretenimento, presidida por Sergio Waib, que faz parte do Grupo ABC. Tem como objetivo desenvolver o mercado de palestras, seminários e workshops nas áreas de negócios, política, economia e tecnologia. A Seminars organiza eventos – proprietários ou sob demanda – sempre com personalidades relevantes, nacionais e internacionais, que sejam autoridades em suas áreas de atuação. O primeiro realizado pela Seminars, em novembro de 2009, contou com o ex-secretáriogeral da ONU e prêmio Nobel da Paz, Kofi Annan. Grandes cabeças, com talento reconhecido e mentes inovadoras, são os principais indutores dos debates. Essa é a importância dos eventos que a Seminars começa a desenvolver.

Elias Kitosato

Al Gore e João Doria: o alto nível do Fórum estava apenas no começo, logo no primeiro dia do evento

As palestras reúnem pessoas que disseminam conhecimento, fortalecem o pensamento e alimentam a troca de experiências vencedoras. As soluções estimuladas pelos debates da Semi-

nars estarão sempre alinhadas com os mais elevados princípios éticos de governança corporativa e pautadas por políticas de sustentabilidade e responsabilidade social.

Fonte: CDN Comunicação Corporativa

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2010 Retrospective

Frederico Uehara

World, capital MA

Forum International Seminars and LIDE brings together people committed to sustainability From the Editor*

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or two days in particular, Manaus (Amazonia) was Manaus (Brazil) and even Manaus (World). Such was the reach of the International Forum for Sustainability that, the capital of Amazonia hosted between 26th and March 27 at the Hotel Tropical, closing in great style at the Amazonas Theatre, is considered a work of art from the nineteenth century. Stars of all greatness contributed to the scenario, political, scientific and cul-

tural development from Brazil and abroad, spoke at the event, attended by some 560 businessmen. The Forum, the Seminars and LIDE, was made possible by companies in the country, which are ahead of the sectors that are serious about sustainability (see table “recognized talent and innovative minds). MONDO NEO a guest at the event was the only vehicle for the media. In a kind action of friends of the planet, one of the ideas gaining momentum, grow-

ing and can reach the desired consistency is to create and enable funds to finance projects for the preservation of forests. The Forum also came up with proposals and agreements aimed at promoting effective action in education, project development and product sales. João Doria Jr., chairman of the LIDE, reminded that companies that make up the group represent 46% of Gross Domestic Product (GDP). His added to the “pres-

* With information from CDN Corporate Communications, Anna Gabriela Araújo, Brazil News Agency and newspapers ‘A Crítica, de Manaus’, and ‘Meio & Mensagem’

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NAUS “

The event contributes to make Brazil an economically competitive and socially just and compassionate

Al Gore recognizes Brazilian Leadership and maintains global fund.

ence of Al Gore, James Cameron, Thomas Lovejoy, the Governor Eduardo Braga and the most important businessmen of Brazil, in the area of sustainability, highlighted the importance of this event.” All the economic potential of the Amazon was on the table for discussions at the forum, involving a select audience, given the various possibilities offered by the region in biodiversity, water resources, forest products and carbon credits, among others. The vision of the LIDE, John Doria explains, is “to contribute to make Brazil a country economically competitive and socially just and compassionate nation.” That in itself has already guaranteed the success of this initiative.

Beyond the wood The former vice president of the United States was blunt: “The Amazon is an immense treasure that belongs to Brazil, guarded and protected. The value of genetic resources and biodiversity contained in the forests is unique and is only now being recognized by biotechnology com-

panies, scientists and industries of all kinds, “he said, to emphasize:” Selling a forest by the value of wood is like selling a computer for the price of silicon. The real value of the Amazon is all the information it contains. The cure of several diseases is in the forest. “ The U.S. leader stressed that the question of the Amazon and climate change necessarily involves a “global civilization with one purpose,” i.e., a common agenda with no separation between developed and developing countries. Al Gore praised the preservation work done in partnership with local communities. “Brazil has found a successful formula that should serve as an example in discussions about how to combine development with sustainability.” Still, for Al Gore a more complete answer to stop global warming is the signing in Copenhagen, where several countries should commit themselves to reducing the emission of toxic gases into the atmosphere. Frederico Uehara

Audience attuned with lecturers and debaters: sustainability taken seriously

The former vice president of the United States and winner of the Nobel Peace Prize in 2007, Al Gore, in his presentation, acknowledged Brazil’s leadership on issues relating to sustainability in the world, saying: “I was in Copenhagen in December and was impressed with the leadership of Brazil. The country has a voice of great power, not only by the Amazon, but because it provides leadership in so many other issues related to sustainability. “It was a reference to the participation of President Luiz Inácio Lula da Silva at the Climate Conference (COP 15), when Brazil introduced its goals of reducing the emission of greenhouse gases. Author of An Inconvenient Truth a best-seller that became a movie with the same name, Al Gore is a major world leader when it comes to climate change. In developing the theme “The importance of the Amazon in the context of global climate change,” the Nobel Peace noted that the outcome of COP 15 was below expectations. A global agreement on reducing emissions of greenhouse gases was for an upcoming meeting of leaders, to be held later this year in Mexico. For Al Gore, the establishment of a global fund to finance conservation projects in countries that have forests in safekeeping is a critical issue. “There is more controversy on this subject, it is a key point to try to minimize the impacts of climate change,” he said.

Al Gore: “The Amazon is an immense treasure that belongs to Brazil with unique biodiversity”

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2010 Retrospective

Example of the waters Al Gore used the image of the meeting of the rivers Negro and Solimões, to help understand what can be done by all the nations to fight global warming. “Negro and Solimões flow side by side with their differences, for 10 kilometers, but then the water mixes, and together they flow into the sea,” he said, to prescribe: “The nations, with their histories and different traditions, now need to put them aside, come together and build a global civilization.” The distinguished speaker admits: “Brazil is taking action. Companies around the world are advancing the subject. But still it is far from enough. Every twentyfour hours we are still putting ninety million tons of toxic gases into the atmosphere that is responsible for global warming. Of this total, 30 million tons go into the oceans, which because of this are becoming more acidic. This toxic discharge is now disturbing the process of sea creatures to remove calcium carbonate and water to make shells, “he explained.

Gigantic Challenge The situation has reached a point that Al Gore believes committal as ever, for the current generation. According to the speaker, the prosecution’s right of future generations. “They ask, ‘What were you doing? Why do nothing with all the warnings that were given’.” For the former vice president of the United States, it is the greatest challenge ever put to humans. For those who have already had the status of second most powerful person in the world, it’s easy and worthy of credibility talk when asked about the strength of the United States to sign the agreement. Al Gore said he believed that would happen this year. The proposal was approved in the U.S. Congress, he said, but the great difficulty lies in the adoption by the Senate. “There are very big organizations that fight against it, they have been very powerful so far,” said the leader, also citing the effects of global financial crisis.

Shared knowledge In the case of the Amazon, Al Gore championed partnerships that bring greater benefit to the people who live in the region. “I do not think there are more fears that the global interest in Amazonia is a threat of invasion or possession. Of course we have to respect the history of insults, abuses and fears from the past. But today the preservation requires discussion and shared knowledge. We need a global agreement not only to preserve the Amazon, but the other world’s forests. “ For companies to succeed in actually entering the production process with less environmental impact, Al Gore said that we must put aside thoughts of short-term periods demanding immediate results.”The way we design an investment has to change. We need to formulate policies for the long term and consider all of the decisions on the issue of carbon emissions and other pollutants in the atmosphere. It is not possible to decide without further consideration of that” said the leader.

Renowned talents and innovative minds Elias Kitosato

Seminars is a company involving Doria Associates Group, led by John Doria Jr., and Major Entertainment, headed by Sergio Waib, part of the ABC Group. It aims to develop the market for lectures, seminars and workshops in business, politics, economics and technology. The Seminars organized events - owners or demand - always with relevant personalities, national and international, who are authorities in their fields. The first event conducted by Seminars in November 2009, included the former UN Secretary General and Nobel Peace Prize winner, Kofi Annan. Great heads, with recognized talent and innovative minds, are the main inductors of the debates. That is the importance of events developed by Seminars.

Al Gore and João Doria: The forefront of the Forum at the beginning of the first day of the event

The talks bring together people who disseminate knowledge, strengthen the mind and nurture the exchange of the experience of winning. Solutions stimulated by

discussions of Seminars will always be aligned with the highest ethical principles of corporate control and guided by policies of sustainability and social responsibility.

Source: Corporate Communications CDN

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Mídia questionada: notícia ou bandeira?

Cameron, no centro dos debates: especialistas do país e do exterior têm a visão de mundo que nossa revista procura disseminar

Há quem diga que a imprensa faz pouco; não é o caso de NEO MONDO, há 3 anos em circulação Da Redação

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diretor-geral do jornal O Estado de S. Paulo, Rubens Prata, um dos debatedores, chegou a criticar as empresas de comunicação do País, ao afirmar que a imprensa ainda olha a sustentabilidade como notícia, e não como bandeira a ser levantada. Para ele, “a mídia está fazendo pouco”. O que não é o caso de NEO MONDO. Único veículo da mídia especializada convidado pelos organizadores do Fórum, a revista circula há 3 anos e está na sua 33a. edição, totalmente voltada a temas socioambientais, no que isso implica estar atenta a aspectos educacionais, de pesquisa, inovações acadêmico-científicas e práticas empresariais, entre outros. Quem observa é Oscar Lopes Luiz, presidente do Instituto Neo Mondo, que edita a revista com todos os cuidados ecológicos

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que uma publicação impressa requer, além de manter o conteúdo de cada edição no portal neomondo.org.br. Este, ressalta o presidente do Instituto, registra mais de 400 mil acessos. “Sem falar da qualificação de nossos colaboradores, tanto jornalistas quanto articulistas”, lembra. “A idoneidade com que fazemos a revista nos credencia no contexto nacional e agora reforçamos nossa presença no exterior, onde já contamos com correspondentes. A edição deste caderno especial, bilíngue, inaugura nova fase da revista, que vai também para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e para a Humboldt Universität, em Berlim”, afirma o presidente. Para Oscar, participar do Fórum foi uma experiência rica e fascinante porque trata-se de uma oportunidade imperdível de estar junto a lideranças empresariais, especialistas

do país e do exterior que têm a visão de mundo que nossa revista procura disseminar. Natascha Trennepohl foi outra representante de NEO MONDO no Fórum. Para ela, a importância do evento se dá pelo próprio fato de ser uma reunião de diferentes setores da sociedade em torno da discussão de um interesse comum: a busca pela sustentabilidade econômica, ambiental e social da Amazônia. Práticas sustentáveis Especialista em meio ambiente - assunto em que é consultora e doutoranda em Berlim, Alemanha - e articulista desta revista, Natascha avalia: “A importância do Fórum está justamente em unir empresários, lideranças políticas e ambientais para discutir práticas de desenvolvimento sustentável na Amazônia, abordando não

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Lições O pioneirismo do Fórum, ao reunir lideranças empresariais, políticas e sociais de todo o Brasil para discutir práticas sustentáveis na Amazônia, por si já é uma lição, acredita Natascha. E aponta outras: “É certo que uma das grandes justificativas para a extensa cobertura florestal ainda presente no Amazonas, diferentemente dos estados vizinhos, é a existência de um polo industrial que viabiliza outras formas de desenvolvimento econômico para a população. “Por isso, pôde-se perceber durante o Fórum que os grandes desafios para a conservação da floresta contam com a participação de diferentes atores sociais e precisam ser superados em conjunto, tendo-se em mente a importância da floresta no contexto mundial e o valor de mantê-la em pé, oferecendose outras opções de desenvolvimento para a população da região que não signifiquem destruir um dos nossos maiores patrimônios naturais”. Resultados A articulista de NEO MONDO reitera o objetivo do Fórum - de reunir representantes do setor empresarial brasileiro, lideranças políticas e ambientais da região para apresentar práticas bemsucedidas de desenvolvimento sustentável na Amazônia e ainda firmar um compromisso político e empresarial com o fomento ao desenvolvimento social, ambiental e econômico na re-

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Natascha e Oscar, de NEO MONDO: experiência rica e fascinante compartilhada com a estrela maior do Fórum

gião -, para elencar o que considera seus resultados palpáveis: “Ao final, foi assinada a Carta do Amazonas (ver páginas 6 e 7), documento que ressalta a importância da conservação das florestas tropicais para o bem-estar da população não apenas brasileira, mas mundial. A floresta desempenha importante papel na regulação do ciclo climático do planeta, bem como na manutenção da diversidade biológica e cultural do nosso país. “Além da assinatura da Carta do Amazonas, um resultado muito promissor do Fórum foi a parceria firmada entre uma grande rede varejista no Brasil e o governo do Amazonas, durante a série de apresentações e perguntas sobre ‘A responsabilidade das empresas na criação de uma economia sustentável na Amazônia’ (ver matéria na página 31). “Outro ponto que pode ser lembrado foi a menção feita ao pouco destaque que as questões de sustentabilidade recebem na mídia nacional. O presidente da Rede Record, Alexandre Raposo, ressaltou ser muito importante a ampliação do espaço na mídia para discutir temas como sustentabilidade, mostrando-se disposto a aumentar esse espaço no seu veículo de comunicação”.

Bandeira ambiental, abraçada por NEO MONDO em suas 33 edições, começa a se estender a outras mídias

Oscar, do Instituto Neo Mondo, vê com satisfação que “a bandeira ambiental, que o trabalho midiático de NEO MONDO desenvolve, ao entrar no seu 4º. ano de circulação, começa a ser abraçada por outros meios de comunicação”. A presidente do jornal A Crítica, de Manaus, Cristina Calderaro, por sua vez, ressaltou no Fórum a importância dessa mídia como ferramenta de divulgação do tema. “Pautamos o mundo inteiro”, disse. Neomondo

Neomondo

apenas o papel da sociedade civil e das comunidades tradicionais, mas também o papel desempenhado pelo empresariado brasileiro no fomento a práticas sustentáveis e de conservação da floresta, enfatizando-se o valor da floresta em pé e o seu lugar no contexto mundial”. Para ela, é valioso o destaque que o evento alcançou na mídia, bem como o alto nível de palestrantes e debatedores. Soma de fatores que permite tirar algumas lições e apontar resultados relevantes ou promissores:

Oscar, com a apresentadora do evento: trabalho midiático de NEO MONDO reconhecido

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2010 Retrospective

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Media is questioned: News or Flag?

Cameron in the middle of the debates: national and international experts have the vision of the world that our magazine is committed to disseminate

Some may say that the media does very little; that’s not NEO MUNDO case, which has been circulating for the past 3 years From the Editor

T

he Executive Director of the newspaper “Estado de São Paulo” Rubens Plate, and one of the key speakers, criticized national media companies by asserting that in general, the media still sees sustainability as news, and not as a flag to be raised. For him, “the media is not doing enough”. This is not the case for NEO MONDO, which was the only specialized media venue that was invited by the organizers of the Forum. The magazine circulates for 3 years and is in its 33rd issue, totally focused on social and environmental issues, and attentive to related topics such as education, research, academic and scientific innovations and business practices, among others. Oscar Luiz Lopes, President and Editor of NEO MONDO observes that a lot of attention is given to ecological printing required

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of such publication, besides uploading the contents of each issue to the neomondo. org.br portal. The president states that the Institute’s portal registers more than 400 thousand hits. “Not to mention the qualifications of our employees, both journalists and columnists,” he recalls. “The seriousness of our magazine gives us credit and entitles us in the national context. Recently we began to strengthen our presence abroad, where we already have correspondents. This special issue is bilingual, and as such, inaugurates a new phase of the magazine, which is sent to Harvard University (USA), and Humboldt Universität in Berlin”, reaffirms the president. To Oscar, the participation in the Forum was a rich and fascinating experience because it represented a unique opportunity to be together with business leaders,

national and international experts that share the magazine’s view of the world and its intent to disseminate it. Natascha Trennepohl was another representative of NEO MONDO at the Forum. For her, the event’s importance lies in the ability to meet with different sectors of society that come together to discuss an issue of common interest: the quest for sustainable economic, environmental and social development in the Amazon region. Sustainable Practices Natascha, an environmentalist expert, consultant and a doctoral student in Berlin, Germany, and this magazine’s columnist, states that: “The importance of the Forum is precisely in the ability to unite entrepreneurs, political and environmental leaders

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Results NEO MONDO’s columnist reiterates the objective of the Forum - to bring together representatives of the Brazilian business sector, political and environmental leaders in the region to present successful practices of sustainable development in the Amazon and to sign a political commitment to fostering entrepreneurial, social, environ-

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Neomondo

Natascha and Oscar from NEO MONDO: a rich and fascinating experience shared with the event’s biggest star

mental and economic development in the region - to list what he considers its tangible results: “At the end of the event, the key representatives signed the Charter of the Amazon (see pages 12 and 13) – a document which highlights the importance of tropical rainforest conservation for the welfare of the population both nationally and globally speaking. The forest plays an important role in regulating the climate cycle of the planet, as well as the maintenance of biological and cultural diversity of our country. “In addition to the signing of the Charter of the Amazon, a very promising outcome of the Forum was the creation of a partnership between a major retailer in Brazil and the State Government of Amazonas, which occurred during a series of presentations and questions on “Corporate responsibility in creating a sustainable economy in the Amazon region” (see story on page 37). “Another memorable moment was the mention of the little attention given by the media to sustainability issues. The president of Rede Record, Alexandre Raposo, stated how important it is to expand media space to discuss issues such as sustainability, and he reiterated his willing to increase the space in his vehicle of communication. “

The environmental flag embraced by NEO MONDO in its 33 issues, is beginning to extend to other media

Oscar, from the NEO MONDO Institute sees with satisfaction that “the environmental flag, that is so central to the NEO MONDO media strategy, which is entering its 4th year of circulation, is beginning to be embraced by other media”. Cristina Calderaro, the president of Manaus’ newspaper “A Crítica”, in turn, stressed during the Forum the importance of this media as an awareness-building tool on the subject. “We can access the entire world,” she said. Neomondo

to discuss sustainable development practices in the Amazon, covering not only the role of civil society and traditional communities, but also the role played by the Brazilian business community in promoting sustainable and forest conservation practices, emphasizing the value of a standing forest and its place in the global context. “ For her, it is worthwhile highlighting that the event reached the mainstream media, as well as high level speakers and panellists. From this sum of factors one can draw lessons and point out relevant and/or promising results: • Lessons Natascha believes that the pioneering spirit of the Forum, which brought together business, political and social leaders from across Brazil to discuss sustainable practices in the Amazon, is in itself, a lesson learned. She also points out another finding “which was the implementation of an industrial cluster as a key strategy in preserving the forest coverage in the State of Amazonas (unlike the situation in neighbouring states), thus giving alternative economic development opportunities to the population. “Therefore, the Forum demonstrated that major challenges in forest conservation can be overcome with the participation of different social actors, keeping in mind the importance of forests in the global context and the intrinsic value of keeping them alive, by offering other development options for the region’s population, and thus avoiding the destruction of one of our greatest natural assets”.

Oscar with the event presenter: NEO MONDO’s media work acknowledged.

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55 11 8346-9437 efex@efexidiomas.com.br • www.efexidiomas.com.br Neo Mondo - Julho 2008 EFEX IDIOMAS – ENGLISH FOR EXECUTIVES ® Todos os direitos reservados.

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Retrospectiva 2010

Lovejoy propõe esforço global para restaurar ecossistemas Perder a floresta tropical seria uma catástrofe para o mundo todo; não há como aceitar nem mesmo o desmatamento parcial Da Redação

Elias Kitosato

Para London, a solução tem de vir do Brasil, e os demais países devem apoiar

“Rodovias causam um impacto pesadíssimo e muito sério. Estradas induzem ao desmatamento. Elas precisam ser substituídas por trilhos ou por hidrovias. Isso porque a floresta é responsável pelo equilíbrio do clima”, explicou. O cientista citou como exemplo ações de desmatamento ocorridas em Rondônia, com a utilização de fogo, responsáveis por um longo período de seca na região. 1 km2 = 50% a menos de aves O palestrante não aceita sequer o chamado desmatamento parcial, ou seja, derrubada de fragmentos relativamente isolados da floresta. Segundo Lovejoy, mesmo assim, há impacto na biodiversidade. “Uma área de um quilômetro quadrado perde metade das espécies de pássaros, em 15 anos”, o que não aconteceria se estivessem ao abrigo da floresta. O escritor e consultor Mark London, ao participar dos debates, apoiou a ideia de ter a floresta amazônica como uma “reserva mundial”. “Trata-se de uma oportunidade para o mundo participar desse processo. Se perdermos a floresta tropical, isso será uma catástrofe para o mundo todo. Logo, por que não conseguiríamos apoio mundial para preservá-la?”, questionou. London elogiou, porém, ao discutir estratégias de conservação na Amazônia, as iniciativas de preservação da floresta realizadas hoje, em conjunto com as comunidades locais, reconhecendo-as como “puramente brasileiras”. “A solução tem que vir do Brasil. E a obrigação dos demais países é dar apoio como cidadãos do mundo”, acrescentou. Autor do livro A Última Floresta - A Amazônia na Era da Globalização, London destacou, em sua exposição, que os projetos de preservação da Amazônia devem necessariamente incluir o povo que vive por lá. “Esta é a casa deles”, disse, arrancando aplausos do

Frederico Uehara

O

cientista Thomas Lovejoy, um dos mais respeitados es pecialistas em biodiversidade e presidente do Centro Heinz de Ciências, Economia e Meio Ambiente, defendeu, na palestra de abertura do Fórum, um “esforço planetário” para restaurar os ecossistemas do mundo, em particular os da floresta amazônica. Ao discorrer sobre o tema “A importância da Amazônia no contexto das mudanças climáticas globais”, Lovejoy, que já foi vice-presidente do WWF nos Estados Unidos, alertou para a possibilidade de algumas regiões da floresta amazônica, dentro e fora do Brasil, desaparecerem em alguns anos por causa das intervenções humanas. Em especial as do leste e sul da floresta, que atualmente são as mais afetadas, segundo o especialista. Neste aspecto, o cientista criticou projetos de desenvolvimento que acabam interferindo no equilíbrio do ecossistema, como a construção de rodovias e de hidrelétricas.

Lovejoy: crença no setor privado como disseminador da sustentabilidade

público. Ele também reconheceu a dificuldade de se encontrar uma solução equilibrada para a questão da cultura de soja e da criação de gado e a preservação da floresta. Entre os projetos que consideram dignos de nota, os dois citaram Juma, Mamirauá e Redd - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação. Na avaliação de Lovejoy, projetos como estes, com participações de grandes empresas realmente empenhadas com questões ligadas à sustentabilidade – e não apenas com a venda de créditos de carbono –, irão atrair outras. “A importância da sustentabilidade vai aumentar exponencialmente ano após ano. É inevitável. Isso vai aumentar o interesse das empresas”, afirmou o cientista. Para ele, a criatividade dessas empresas seria a saída para diminuir a necessidade de projetos desenvolvimentistas que prejudiquem o meio ambiente: “Empresas bem-sucedidas vão enxergar e buscar as oportunidades. Tenho a confiança de que o setor privado vai envolver-se mais intensamente”. Neo Mondo - Janeiro 2011

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Retrospectiva 2010

Questão ambiental vista como negócio, não apenas para salvar árvores, mas preservar a humanidade Da Redação

Litoral a perigo Incansável em seu interesse por assuntos socioambientais, Jean-Michel foi um dos debatedores durante a apresentação do cineasta James Cameron, ao observar que 20% dos recifes de coral já foram perdidos, o que acarreta em perda

da barreira natural que protegeria o litoral de muitos países do mundo. “A intensidade do clima que se observa pelo aumento da temperatura na água é de tal ordem que um furacão força 3 torna-se força 4 e, se a barreira de coral se extinguir, centenas de milhares de pessoas irão morrer.” Entender, para preservar A família Cousteau, que se notabilizou pelas pesquisas desenvolvidas nos oceanos ao redor do mundo, durante décadas, aportou seu Calypso no mar de águas doces lá pelos anos 1980. Parte das pesquisas realizadas no rio Amazonas - desde a nascente, no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, à foz no Atlântico, na costa bra-

sileira - resultou no livro A expedição de Jacques Cousteau na Amazônia, publicado no Brasil pela Editora Record. Jean-Michel foi um dos integrantes da equipe de pesquisadores e, no livro, teve participação destacada com comentários e autoria de fotos. Ele esteve à frente do grupo terrestre, formado por 8 homens, que percorreu o Amazonas correnteza abaixo. O objetivo, já naquela época, era entender, para preservar, “a grande reserva terrestre de uma vida tão selvagem quanto era na origem”. Para a equipe, a palavra Amazonas “desperta possibilidades maravilhosas e incertezas profundas”. Passadas quase 3 décadas da publicação do livro, temos de valorizar as primeiras e resolver as segundas. Frederico Uehara

O

ambientalista francês Jean-Michel Cousteau anunciou, durante os debates no segundo dia do Fórum, que planeja implantar um programa educacional para alunos da Amazônia que os ensine a preservar os ecossistemas da floresta. Com ele fez coro Anthony Anderson, especialista do Programa de Conservação da organização não-governamental WWF Brasil, ao propor aos empresários que invistam em bolsas de estudos que promovam pesquisa e desenvolvimento de serviços ambientais na Amazônia. Filho do consagrado oceanógrafo Jacques Cousteau, Jean-Michel acredita que o caminho seria a capacitação de professores. “Os americanos gostam de dizer ao resto do mundo o que eles devem fazer. Eu prefiro o diálogo e a busca de soluções conjuntas”, afirmou. Para ele, a questão ambiental deve ser tratada como um negócio. “Tudo se resume em entender melhor como trabalha a natureza. É importante ver como hoje muitos dos tomadores de decisão em todo o mundo discutem os impactos ambientais de seus projetos. Não é apenas questão de salvar árvores, mas de preservar a humanidade”, argumentou.

Cameron ouve Jean-Michel: 20% dos recifes de coral estão perdidos, e furacões ganham força

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Retrospectiva 2010

Impactos de Grito de guerra (Kararaô), na origem, usina ainda dá o que falar entre estudiosos e ambientalistas, mas parece irreversível Da Redação

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araraô - grito de guerra na língua dos Kaiapós - se tornou Belo Monte. Mudança brusca no nome, mas quase nenhuma no projeto. Nem nos personagens. Entre eles, indígenas, estudiosos, ambientalistas, autoridades técnicas e do governo. Para o general Eduardo Dias da Costa Villas Boas, chefe da Assessoria Espe-

cial de Gestão de Projetos do Estado Maior do Exército, é preciso tratar a questão de Belo Monte com pragmatismo. Indígenas e ambientalistas têm pela frente uma empreitada árdua. Maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e já licenciada, com investimento total de cerca de R$ 19 bilhões,

o governo brasileiro dificilmente deixará que Belo Monte seja barrada por ser a sua maior plataforma político-administrativa. De acordo com dados da Eletrobrás, a hidrelétrica terá capacidade de gerar mais de 11 mil megawatts (MW), tornando-se a segunda maior usina brasileira – atrás somente de Itaipu e sua capacidade máxima de 14 mil MW.

Rio Xingu, Altamira - PA

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Risco à biodiversidade Estudiosos e ambientalistas alertam que a usina atingirá, direta ou indiretamente, mais de 300 mil pessoas e 11 terras indígenas. Além disso, é previsto um alagamento de 516 km², que pode colocar em risco a biodiversidade local e trazer impactos sociais gravíssimos. Embora os holofotes estejam voltados para a cidade de Altamira – principal município atingido pelo represamento do Xingu –, Belo Monte chegará também aos municípios de Senador José Porfírio, Porto de Moz, Anapu, Vitória do Xingu, Medicilância, Gurupá, Brasil Novo, Placas, Uruará e Pacajá. O general Villas Boas entende que a degradação do rio Xingu já é agressiva na atualidade. Para ele, a usina traria benefícios estruturais para as cidades, melhorando seus quadros de saneamento. Com isso, os impactos ambientais do empreendimento seriam relativizados. “No caso de Belo Monte, as pessoas estão se esquecendo de que na cidade de Altamira há mais de 100 mil pessoas sem água encanada, jogando todos os seus dejetos no rio Xingu.” O raciocínio do general é o de que se, por um lado, a usina impactará o meio ambiente, por outro, trará benefícios econômicos e sociais incontestáveis. Belo Monte significaria, nesse sentido, uma chance de desenvolvimento socioeconômico para a região do rio Xingu. Assim, desenvolvimento estaria intrinsecamente ligado à solução da causa ambiental. “Pobreza é sinônimo de degradação

ambiental”, decreta o militar. Portanto, pragmaticamente, é necessário um pensamento que leve em consideração a relação custobenefício. Para Villas Boas, “toda vez que se impede de asfaltar uma rodovia, que se impede de construir uma linha de transmissão, que se impede de construir uma hidrelétrica, se está inviabilizando o desenvolvimento econômico”. E, consequentemente, postergando a degradação do bioma. Alternativas energéticas Embora a usina hidrelétrica seja considerada um modelo de geração de energia limpa, se construída no meio do bioma amazônico, ela pode representar enorme ameaça à biodiversidade e à vida de todas as populações da floresta. Belo Monte seria mesmo a melhor solução energética, se considerarmos outras fontes, como a eólica e a biomassa, por exemplo? De acordo com a grande maioria dos pesquisadores, sim. Mesmo no caso da biomassa, maior bandeira energética brasileira a partir do etanol da cana. Embora a cana não possa ser cultivada na Amazônia, por conta da alta umidade, outros exemplos de bioenergia podem ser utilizados – mas com eficiência discutível. As palmáceas, já comuns no Sudeste Asiático e no Pacífico com eficiência equivalente à do etanol brasileiro, são capazes de gerar fontes sustentáveis de energia alternativa a partir de biomassa naquele tipo de clima. Outra solução possível, segundo o pesquisador Marcos Buckeridge, do Instituto de Biocências da USP, é o mata-pasto, típica planta brasileira.

Foto: Adalton Ramos

Brasil no limite Guilherme Leite Dias, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), avalia que o Brasil se encontra no limite da questão energética. Belo Monte seria, portanto, inevitável. Há outros aspectos ligados a Belo Monte, e o da urbanização desenfreada, com todos os problemas que acarreta, é um deles. Para o professor e economista Guilherme Dias, a intensa urbanização e consequente inchaço demográfico amazônico geraram uma explosão na demanda de energia na região, forçando a construção de novas alternativas energéticas. “Se colocarmos 10 ou 15 milhões de pessoas em cidades de porte médio na Amazônia, explode a demanda de energia”, diz. Na esteira desse mal maior, vêm também os típicos das cidades que cresceram sem planejamento, como alto índice de mortalidade, alta taxa de analfabetismo e saneamento básico precário. Este último está intensamente relacionado a Belo Monte. Dados da Prefeitura, colhidos no último censo, no município de Altamira, dão conta de que apenas 1.358 moradores tinham acesso à rede de esgoto, ou seja, cerca de 1,8% da população. Nos demais casos, os moradores utilizavam fossas ou mesmo o rio Xingu como esgotamento sanitário. Cerca de 6 mil munícipes não tinham sequer banheiro em suas casas. Em síntese, Belo Monte cheira a degradação ambiental.

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Retrospectiva 2010

Villas Boas: cirurgia à luz de velas De acordo com Buckeridge, a Eletronorte já desenvolveu um pirolisador (instrumento que promove a decomposição da biomassa) que, com cerca de 2 kg de mata-pasto por dia, consegue alimentar energeticamente uma família de 4 pessoas. Funciona, mas a eficiência é baixa. Essa alternativa acontece apenas nos lugares em que a energia elétrica não chega. “Aonde o ‘linhão’ chega, fica mais barato e eficiente utilizar a eletricidade de hidrelétrica”, afirma o pesquisador. A biomassa, portanto, não é tão eficiente para a produção de eletricidade. Além disso, pode causar impacto ambiental ainda maior que a hidrelétrica. “O impacto [da hidrelétrica], mesmo com a questão dos alagamentos, seria menor do que se eu usasse a bioeletricidade. Porque se for usar biomassa para produzir eletricidade, o pessoal vai começar a cortar árvore”, alerta. É claro que, com os alagamentos, perde-se biodiversidade. Mas, para Buckeridge, energia é uma necessidade imediata, tendo-se de trabalhar com a noção de im-

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História a perigo É evidente que a construção de Belo Monte impactará ambiental e socialmente a região do Xingu. Uma parcela do bioma amazônico será simplesmente submerso com 2/3 da cidade de Altamira. Contudo, algo muito mais frágil, e menos comentado, está em risco: a história. A Amazônia não é formada exclusivamente por floresta. Sob a proteção da copa das árvores, timidamente repousam enormes sítios arqueológicos. Cerâmicas ou até aldeias inteiras se escondem debaixo da infértil terra úmida da região. Como a pesquisa nessa área é muito recente, não se sabe ainda a quantidade exata de sítios arqueológicos amazônicos. Estima-se que, apenas na Amazônia Central, existam mais de 200. Segundo o arqueólogo e pesquisador do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), Eduardo Góes Neves, os grandes projetos da Amazônia, como barragens e linhas de transmissão, estão gerando grandes impactos sobre os sítios arqueológicos e, sobretudo, sobre a história brasileira. A grande agravante é que o Brasil não conta com número de arqueólogos suficiente para avaliar todos os sítios atingidos. Com isso muita informação pode estar sendo jogada no lixo. A área atingida pelos impactos de Belo Monte não é diferente. Como a discussão sobre a hidrelétrica persiste há cerca de 30 anos, alguns estudos preliminares já foram realizados, reunindo um acervo de conhecimento arqueológico sobre a região do Xingu. Contudo, com a recente licitação, novos estudos serão necessários, a fim de se avaliar aprofundadamente a presença de patrimônio histórico na área alagada. Belo Monte não é, porém, a única usina planejada para a Amazônia. No total, cerca de oito hidrelétricas estão nos pla-

Exemplo chinês Nesse aspecto, segundo o general Villas Boas, é necessário aprender com a China. A construção da represa da usina de Três Gargantas, que tem uma vez e meia a capacidade de Itaipu, deslocou 2 milhões de pessoas e mais de 100 sítios arqueológicos milenares. Contudo, para o militar, trata-se de “uma obra fundamental para o desenvolvimento daquele país”. Mesmo com o deslocamento de cerca de 2 mil indígenas, que têm seus cemitérios e histórias fixados nas terras do Xingu, Belo Monte deve ser tratada da mesma maneira que Três Gargantas. Tuíra discorda. Bruno Molinero

Bruno Molinero

Guilherme Dias: usina é inevitável

nos do governo brasileiro. De acordo com Eduardo Neves, não há profissionais suficientes para atender tamanha demanda. Uma parcela importantíssima da história do Brasil – a história antiga da Amazônia e sua relação com os povos andinos – pode simplesmente desaparecer, caso os estudos não possam ser realizados da maneira adequada

Buckeridge: mata-pasto competindo com “linhão”

Bruno Molinero

Bruno Molinero

pacto mínimo. Segundo o professor Guilherme Dias, esse impacto mínimo ocorre justamente com a hidrelétrica. Além da eficiência indiscutível, as usinas, se pensadas com cuidado, não representam tantos riscos. “Não me parece que os danos das hidrelétricas sejam motivo para ficarmos tão horrorizados, se comparados com as outras alternativas que temos.” Para ele, a exploração do pré-sal representa muito mais riscos ao ecossistema do que as hidrelétricas amazônicas.

Eduardo Neves: informação jogada no lixo

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Bruno Molinero

GEÓGRAFO PÕE EM XEQUE CUSTO-BENEFÍCIO

Ariovaldo: minério a preço de pizza Embora os dados da Eletrobrás prevejam a produção de mais de 11 mil MW, a usina de Belo Monte certamente não alcançará tamanha geração. Isso porque o rio Xingu sofre drástica diminuição em sua vazão na época de estiagem. Estudos mostram que a hidrelétrica terá capacidade de gerar, em média, 4.428 MW – dado muito aquém do posto de segunda maior usina brasileira. De acordo com o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/ USP), “o grande problema da construção de barragens de hidrelétricas na Amazônia é o tamanho dos lagos, se comparado à capacidade de geração de energia”. Para o geógrafo, a Amazônia apresenta inúmeros exemplos de usinas hidrelétricas que alagaram grandes áreas, gerando um grande impacto ambiental, porém sem produzir quantidade significativa de energia elétrica.

Um desses casos é a usina de Balbina, próxima à cidade de Presidente Figueiredo, que alagou grande parte de uma terra indígena em sua construção. A hidrelétrica, construída para abastecer a cidade de Manaus, atualmente só gera todo seu potencial durante três meses do ano – e com um custo altíssimo. O que era para ser um grande investimento tornou-se assim um dos maiores erros estratégicos do Brasil. Balbina é insuficiente para suprir a demanda de energia da capital amazonense. “A mesma coisa vai acontecer em Belo Monte, se construída. Vai-se investir uma fortuna, e essa usina não terá a capacidade de geração de energia que os estudos dizem que ela vai ter”, acredita Ariovaldo. O geógrafo explica que o rio Xingu, assim como o rio Uatumã, onde se localiza Balbina, apresenta grande oscilação no seu nível entre o período seco e o chuvoso. Iminência de outro apagão Por outro lado, o déficit energético amazônico é fato – e algo precisa ser feito. “Nós já tivemos um apagão elétrico e estamos na iminência de ter outro”, alerta o general Villas Boas. Em Humaitá, cidade amazonense, há casos de médicos que chegaram a fazer cirurgias à luz de velas, por falta de energia elétrica. Nesse sentido, as hidrelétricas seriam a solução mais imediata para a crise energética do Norte brasileiro. Entretanto, usina hidrelétrica não significa necessariamente desenvolvimento econômico e social para a área em que for construída. Muito menos garantia de

energia. Grande exemplo disso é a usina de Tucuruí, no Pará – a atual maior usina 100% brasileira. Pouquíssimas pessoas da cidade de Tucuruí trabalham efetivamente nela. A geração de emprego, sempre inerente a uma nova construção, não aconteceu de forma massiva. Mais grave ainda é o fato de que a energia elétrica gerada tampouco é destinada à cidade. De acordo com Pedro Ortiz, coordenador do módulo sobre a Amazônia do projeto Repórter do Futuro, destinado a estudantes de jornalismo, há bairros de Tucuruí que simplesmente não têm luz. Então, para onde ela vai, se não à população? Para Ariovaldo, a eletricidade não está voltada para atender a população brasileira, mas sim as empresas de processamento de minérios instaladas na Amazônia. Até mesmo porque a geração de energia não seria necessária para a população. “A energia de Tucuruí é consumida pela Vale do Rio Doce para extrair minério de ferro e exportá-lo a preço de uma pizza na quinta avenida de Nova York, por tonelada.” Isso explicaria o desabastecimento de alguns bairros daquela cidade. Villas Boas discorda. A solução dos problemas amazônicos, segundo o general, só acontecerá com o desenvolvimento da região. E as hidrelétricas, Belo Monte entre elas, são veículo fundamental para isso. Elas são ferramentas sociais. De forma pragmática, o militar afirma que o pensamento politicamente correto, que não permite que se acolham soluções concretas, impede a resolução das questões amazônicas.

Fibra de jupati em cestaria Tuíra é símbolo da resistência à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, e as cinco letras de seu nome condensam uma das maiores e mais complexas questões brasileiras. De origem Kaiapó e facão na mão, a vida da índia Tuíra se entrelaça com a história da usina tal qual fibra de jupati em cestaria. A origem da hidrelétrica, por sua vez, remonta ao início dos anos 1980, quando estudos demonstraram que a região Norte representava cerca de 60% do potencial energético nacional. Foi nessa época que os primeiro esboços

da ainda chamada usina de Kararaô começaram a ser traçados. Embora a construção no rio Xingu afetasse diretamente o cotidiano dos povos indígenas, por conta dos alagamentos e interferências no ecossistema, nem por isso eles foram consultados de início. Em consequência, 1989 foi marcado pelo I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, que pretendia discutir a questão das hidrelétricas e acabou culminando com a famosa fotografia de Tuíra ameaçando de facão em punho Muniz Lopes, àquela época diretor da Eletro-

norte. A advertência e a oposição à construção de Kararaô davam os primeiros passos. O tempo passou, e Kararaô, o grito de guerra, ecoa ainda hoje. Em 2008, Tuíra mais uma vez ameaçou com seu facão. Dessa vez, contudo, a lâmina teve endereço certo: o braço do funcionário da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende. A situação agravou-se ainda mais em 2009, quando Tuíra e os Kaiapós entoaram o verdadeiro kararaô, ameaçando com guerra a construção da hidrelétrica. O clima de tensão e a repercussão na mídia são inegáveis.

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2010 Retrospective

Impacts of War cry (Kararaô), of the local Indians, the dam still causes discussions between scholars and environmentalists, but it seems irreversible From the Editor

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araraô - war cry in the Kaiapó language - became Belo Mon-e. A sudden change in name, but almost none in the project. Nor with the characters involved. Among them, indigenous people, scholars, environmentalists, technical authorities and government. For General Eduardo Dias da Costa Villas Boas, head

of the Special Advisory of Project Management of the Army, we must address the issue of Belo Monte with pragmatism. Indians and environmentalists are faced with an arduous undertaking. The largest project of the Growth Acceleration Program (PAC) and already licensed, with total investment of about R$19 billion,

it is unlikely the Brazilian government will let Belo Monte be barred because it is its greatest political and administrative platform. According to data from Eletrobrás, the dam will be capable of generating over 11,000 megawatts (MW), making it the second largest Brazilian plant - second only to Itaipú and its maximum capacity of 14, 000 MW.

Xingú River, Altamira, PA

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Risk to biodiversity Scholars and environmentalists warn that the plant will affect, directly or indirectly, more than 300,000 people and 11 indigenous territories. Moreover, it is predicted that it will flood 516 square kilometers, which could endanger the local biodiversity and cause very serious social impacts. While the spotlights are on the town of Altamira – the main municipality affected by the damming of the Xingu - Belo Monte will also affect the municipalities of Senator José Porfirio, Porto de Moz, Ana-pu, Vitória do Xingu, Medicilância, Gurupá, Brasil Novo, Placas, Uruará and Pacajá. General Villas Boas believes that the degradation of the Xingu River is already aggressive today. For him, the plant would bring structural benefits to the towns, improving their sanitation. Thus, the environmental impacts of the project would be put in context. “In the case of Belo Monte, people are forgetting that in the town of Altamira there are more than 100,000 people without running water, throwing all their waste into the Xingu.” The general’s reasoning is that if, on the one hand, the plant will impact the environment, on the other, and it will bring indisputable economic and social benefits. Belo Monte will signify, in this sense, a chance of socioeconomic development for the Xingu River region.

Thus, development shall be intrinsically linked to the solution of the environmental cause. “Poverty is synonymous with environmental degradation,” declares the General. Therefore, pragmatically, we need a kind of thinking that takes into account the cost benefit relationship. For Villas Boas, “every time that you prevents an asphalt highway, which prevents them from building a transmission line, which prevents them from building a hydroelectric plant, you are impeding economic development.” And, consequently delaying the degradation of the biome. Energy alternatives Although the hydroelectric power plant is considered a model of clean energy generation, if it is built in the middle of the Amazon biome, it could pose huge threat to biodiversity and the life of all forest peoples. Would Belo Monte be the best energy solution, considering other sources such as wind and biomass, for example? According to the majority of the researchers, yes. Even in the case of biomass, the biggest Brazilian flag waving energy project, producing ethanol from sugar cane Although it cannot be grown in the Amazon, due to the high humidity, other examples of bioenergy can be used - but with debatable efficiency. Palms, already common in Southeast Asia and the Pacific with efficiency equivalent to Brazilian ethanol, are capable of

Foto: Adalton Ramos

Brazil on the limit Guilherme Leite Dias, a professor of Economics, Business Administration and Accounting from the University of São Paulo (FEA / USP), evaluates that Brazil finds itself on the limit of the energy issue. Belo Monte shall be, therefore be inevitable. There are other aspects connected to Belo Monte, and rapid uncontrolled urbanization, with all the problems it brings, is one. For the professor and economist Guilherme Dias, intense urbanization and consequent Amazonian demographic swelling produced an explosion of energy demand in the region, forcing the construction of new energy alternatives. “If we put 10 or 15 million people in mid-sized cities in the Amazon, the energy demand explodes,” he says. In the wake of this greater evil, we also find cities that typically without planning, with high mortality, high illiteracy and poor basic sanitation. The latter is strongly related to Belo Monte. Data from the Town Hall, collected in the last census, in the municipality of Altamira, show that only 1,358 residents had access to sewerage, or about 1.8% of the population. In other cases, residents use septic tanks or even the Xingu River for sewage disposal. About 6,000 residents did not even have a toilet in their homes. In a nutshell, Belo Monte smells of environmental degradation.

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Villas Boas: surgery by candleligh generating sustainable sources of alternative energy from biomass in this kind of weather. Another possible solution, according to researcher Marcos Buckeridge, Institute of Biosciences USP, is the forestgrassland, a common Brazilian plant. According to Buckeridge, Eletronorte has already developed a pyrolyser (an instrument that helps the decomposition of biomass) which, with about 2kg of forest-pasture per day, can produce enough energy for a family of 4. It works, but the efficiency is low. This alternative only worthwhile in places where there is no electricity supply. “Where the power lines reach, it is cheaper and more efficient to use electricity from hydro, affirms the researcher. Biomass is therefore not as efficient for producing electricity. Moreover, it can even cause greater environmental impact than hydroelectric. “The impact [of hydroelectric power], even with the issue of flooding, would be less than if I used bioelectricity. Because if we use biomass to produce electricity, people will start cutting down trees,” he warns.

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History in peril Clearly, the construction of Belo Monte will cause environmental and social impact on the Xingu region. An area of the Amazon biome will be simply submerged along with two thirds of the town of Altamira. However, something much more fragile and less talked about, is at risk: history. The Amazon is not composed exclusively of forest. Under the protection of trees, quietly lie huge archaeological sites. Ceramics or even whole villages are hidden under the infertile wetland in the region. As research in this area is very recent, we do not yet know the exact quantity of archaeological sites in the Amazon. It is estimated that only in the central Amazon, there are more than 200. According to archaeologist and researcher at the Museum of Archaeology and Ethnology (MAE), Eduardo Góes Neves, major projects in the Amazon, such as dams and transmission lines, are causing major impacts on archaeological sites and especially on Brazilian history. The major aggravating factor is that Brazil does not have sufficient number of archaeologists to assess all the sites affected. With this, a lot of information may be being thrown in the trash. The area impacted by Belo Monte is no different. As the discussion has continued on the dam for about 30 years, some preliminary studies have been performed, bringing together a collection of archaeological knowledge about the Xingu region. However, with the recent auction, further studies will be needed in order to thoroughly evaluate the presence of heritage in the flooded area. Belo Monte is not, however, the only plant planned for Amazonia. In

total, about eight hydroelectric plants are included in the government’s plans. According to Eduardo Neves, there are not enough qualified workers to meet such demand. A very important part of Brazil’s history - the ancient history of the Amazon and its relationship with the Andean peoples - can simply disappear; case studies cannot be conducted appropriately. Chinese example In this aspect, according to General Villas Boas, it is necessary to learn from China. The construction of the dam of Three Gorges power plant, which is one and half times the capacity of Itaipú, displaced 2 million people and over 100 ancient archaeological sites. However, for the General, it is “a work central to the development of the country.” Even with the displacement of about 2,000 Indians, who have their cemeteries and stories set in the lands of the Xingu, Belo Monte should be treated in the same way as the Three Gorges. Tuíra disagrees. Bruno Molinero

Bruno Molinero

Guilhermae: plant is inevitable

It is clear, that with the flooding, biodiversity will be lost. But for Buckeridge, energy is an immediate need, tending to work with the notion of minimal impact. According to Professor William Day, this minimal impact is precisely what happens with the dam. Besides the indisputable efficiency, the hydroelectric power plants, if thought out carefully, do not pose as many risks. “I do not think the damage of the dams is a reason to get too horrified if compared with other alternatives we have.” To him, the exploitation of the pre-salt is of much more risk to the ecosystem than the Amazonian dams.

Buckeridge: forest-pasture vs. “power lines”

Bruno Molinero

Bruno Molinero

2010 Retrospective

Eduardo Neves: Information tossed away

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Bruno Molinero

GEOGRAPHER QUESTIONS COST-BENEFIT RATIO

Ariovaldo: ore at “pizza price” Although Eletrobrás data predict production of more than 11,000MW, the Belo Monte plant will certainly not reach such production. This is because the Xingu River suffers a drastic reduction in its flow during the dry season. Studies have shown that the dam will be capable of generating an average of 4,428MW - far below the ranking of second largest plant in Brazil. According to Professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, of the Department of Geography of the Faculty of Philosophy and Humanities at USP (FFLCH / USP), “the great problem of the construction of hydroelectric dams in the Amazon is the size of the lakes, if compared to the capacity of power generation.” For the geographer, the Amazon has numerous examples of hydroelectric power stations that have submerged large areas, creating a big environmental im-

pact, but without producing a significant quantity of electricity. One such case is the Balbina dam, near the city of Presidente Figueiredo, which flooded much of an indigenous territory in its construction. The hydroelectric power station, built to supply the city of Manaus, currently only generates its full potential for three months of the year - and with a very high cost. What was to be a great investment thus became one of the biggest strategic mistakes of Brazil. Balbina is insufficient to meet the electricity demand for the capital of Amazonas. “The same thing will happen in Belo Monte, if built. We are going to invest a fortune and this plant will not have the capacity to generate the electricity that studies say it will have,” believes Ariovaldo. The geographer says the Xingu River, as well as the river Uatumã, where Balbina is, demonstrates large fluctuations in its level between the dry and wet sea sons. Another blackout imminent Moreover, the Amazon electricity deficit is a fact - and something needs to be done. “We already had an electrical blackout and we’re about to have another,” warns General Villas Boas. In Humaitá, an Amazonian city, there are cases of doctors performed surgery by candlelight, due to lack of electricity. In this sense, the hydroelectric plants would be the most immediate solution to the energy crisis in Northern Brazil. However, hydroelectricity does not necessarily mean economic and social de-

velopment for the area in which it is built. Much less a guarantee of electricity. A prime example is the plant at Tucurui in Para - the current largest 100% Brazilian plant. Very few people in the town of Tucurui actually work at it. The generation of employment, always associated with a new construction, has not happened to a great extent. Even worse is the fact that the electricity generated is not even transmitted into town. According to Pedro Ortiz, coordinator of the Amazon module in the Reporter of the Future project, aimed at journalism students, there are neighborhoods in Tucurui that simply don’t have electricity. So, where does it go, if not to the local population? For Ariovaldo, electricity is not geared toward meeting the needs of the Brazilian population, but for mineral processing companies located in the Amazon. Really, the electricity generated is not needed by the population. “The Tucurui electricity is used by Vale do Rio Doce to extract iron ore and export it for the price of a pizza per ton, on Fifth Avenue in New York.” This would explain the shortage in some neighborhoods of the city. Villas Boas disagrees. The solution of the Amazonian problems, the General says, will only occur with the development of the region. The hydroelectric plants, Belo Monte plant among them, are key vehicles for this. They are social tools. Pragmatically, the General affirms, that politically correct thinking, does not permit accommodating concrete solutions, it prevents the resolution of Amazonian issues.

Jupati fiber in basketry Tuíra is a symbol of resistance to the construction of the hydroelectric plant of Belo Monte, on the river Xingu and the five letters of its name condenses one of the largest and most complex issues in Brazil. Of Kayapó origin and machete in hand, the life of the Tuíra Indian intertwines with the history of the plant just like jupati fibers in basketry. The origin of the dam, go back to the early 1980s, when studies showed that the North represented approximately 60% of do-

mestic energy potential. It was from the plant, still called Kararaô, that the lines began to be plotted. Even though construction on the Xingu River will directly affect the daily lives of indigenous peoples, on account of flooding and interference in the ecosystem, they were not consulted first. Consequently, 1989 was marked by the First Meeting of Indigenous Peoples of the Xingu, which intended to discuss the issue of the dams and culminated with the famous photograph of north

Tuíra. The warning and the opposition to the construction of Kararaô took their first steps. Time passed, and Kararaô, the war cry still echoes today. In 2008, Tuíra once again threatened someone with a machete. This time, however, the blade had the right address: the arm of Eletrobrás worker Paulo Fernando Rezende. The situation deteriorated further in 2009 when Tuíra and the Kaiapós chanted the real Kararaô, threatening war on the construction of the dam.

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Divulgação

Retrospectiva 2010

Encontro sobre eficiência energética reúne pesos-pesados da conservação de energia, grandes usuários e profissionais em 16 painéis de debates e 80 palestrantes

O Brasil joga fora nada menos que R$ 17 bilhões por ano com o desperdício de energia. Empresas que buscam a eficiência energética sabem que isso é muito dinheiro e correm atrás para diminuir esta cifra dentro de uma economia de baixo carbono. Para os organizadores do 7º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, “ninguém pode parar o crescimento da população mundial nem a demanda por energia. Mas todos podem mudar a forma de utilizar esta energia e reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa”. Da Redação

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Economia de baixo carbono De caráter eminentemente técnico, esta edição do Congresso aprofundou temas práticos, de natureza tecnológica, úteis para as empresas que estão preparando-se para a competição no pós-crise, pois em todo o mundo as corporações estão reduzindo desperdícios e adaptando-se à uma economia de baixo carbono.

O evento propôs-se a “difundir práticas sustentáveis e tecnologias que contribuam para o uso racional de energia e ao mesmo tempo tragam mais competitividade e lucros para as empresas, oferecer soluções para a eficiência em grandes edificações, processos industriais e gestão de utilidades, apresentando casos de sucesso, tecnologias, opções de energéticos e linhas de crédito e serviços de apoio à implantação de programas de eficiência energética”. Por isso, as empresas estão empenhadas em intensificar a adoção de programas de racionalização de energia porque os investimentos necessários podem propiciar um retorno em dois anos e podem economizar até 10% de energia após 12 meses. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a tendência é de as empresas ampliarem tais programas de economia de energia, pois estão interessadas em minimizar os riscos de fornecimento, em meio a uma conjuntura econômica marcada por um ciclo de expansão, como atestam os índices excepcionais destes dois últimos trimestres de 2010, próximos a índices chineses. 17 bilhões jogados fora Nas estatísticas dos organizadores, o mercado de eficiência energética no Brasil cresceu cerca de 15% entre 2008 e 2009, fechou 2009 representando um negócio de R$ 900 milhões de reais. Mas a Abesco prevê um estouro no crescimento do mercado em 2010: de 30% a 40%. Mas, segundo os dados divulgados no Congresso, só com o desperdício de energia o Brasil joga fora nada menos que R$ 17 bilhões por ano. É um número astronômico.

Divulgação

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ntre os dias 16 e 17 de junho, em São Paulo, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), com patrocínio do calibre de um BNDES, Petrobrás, Eletrobrás, Furnas e Light-Esco, reuniu mais de 600 congressistas, órgãos públicos, bancos, grandes usuários de energia e profissionais em torno de 16 painéis de debates e palestras e rodadas de negócios, com 80 palestrantes para o 7º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (COBEE). O COBEE reuniu entre esses participantes os presidentes das principais associações empresarias do setor: Ricardo Lima, da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres- Abrace; José Starosta, presidente da Abesco; e Jamilton Lobo, coordenador do grupo de eficiência da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia (Abradee). A Abesco representa mais de 80% de todo o setor de preservação e economia de energia do país. Fundada em 1997, com abrangência nacional, a entidade reúne 25 fabricantes de produtos e provedores de serviços de energia eficiente; instituições acadêmicas; agentes do setor energético; além de 60 empresas na categoria “ESCO” (de serviços de conservação de energia).

Alexandre Behrens falou sobre o primeiro programa privado de eficiência energética - Sinergia - com foco no público industrial e comercial

Mas o potencial de redução de energia por classe de consumidor é de 38% no setor industrial, 35% no setor público e 27% no comercial. A média de retorno de investimento é de 36 meses. Em 21 de junho de 2009 surgiu o Programa Sinergia, que é a união de um grupo de empresas privadas com o objetivo de criar soluções integradas para a racionalização programada e eficiência energética, direcionado ao público industrial e comercial de grande porte (indústrias, redes de supermercados, aeroportos, hotéis e shopping centers). Os organizadores enxergam benefícios de toda sorte em um programa como este: primeiro, para a engenharia que minimiza custos de instalação; depois, na manutenção que reduz períodos de indisponibilidade. E ainda para a produção que maximiza disponibilidade, para a contabilidade que maximiza resultados financeiros da planta e, finalmente, para os investidores que maximizam o valor de suas ações.

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Retrospectiva 2010

EFICIÊNCIA E INTEGRIDADE AMBIENTAL Vivemos em um mundo em perigo onde energia é custo e este custo está aumentando. Logo, eficiência energética, integridade ambiental e aquecimento global estão relacionados. Divulgação

Cyro Bocuzzi preside o Fórum Latino Americano de Smart-Grid. Ele entende que só novas tecnologias nos farão chegar ao próximo real economizado com o consumo energético

Uma das palestras mais acessíveis do evento – a maioria delas abordou temática especializada mas de especial interesse para cada participante – foi proferida por Cyro Vicente Bocuzzi, presidente da ECOee e do Fórum Latino-Americano de Smart Grid. Discorrendo sobre o tema “Redes Inteligentes e a Gestão Energética nas Empresas”, ele foi claro ao mostrar que: “Vivemos em um mundo em perigo”. Hoje, “energia é um custo e este custo está aumentando. As fontes de energia estão ou declinando ou em risco político. Assim, eficiência energética, a integridade ambiental e aquecimento global estão agora relacionados”. Para ele, “a eficiência energética é a única estratégia viável a curto e médio prazos. Onde achar o próximo real de economia de energia? Só apresentando uma nova tecnologia para a realidade energética de hoje”. A nova tecnologia, segundo ele, terá que englobar as chamadas “redes inteligentes” ou smart grid. Elas envolveriam qualidades capazes de azeitar a transição da matriz energética tradicional para fontes renováveis, unindo tecnologias como uso de supercondutividade, preços flexíveis e arquitetura plug-n-play (plugue e use).

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Energia em micro-escala O início da construção dessa nova rede faz parte do pacote de estímulo econômico do presidente Barack Obama. Nessa rede deve haver mecanismos para incluir a “geração distribuída” em pequena escala que também chegou para ficar. Por isso é hora de pensar na smart grid e armazenamento de energia, já que será possível produzir energia em micro- escala, de fontes não firmes (fotovoltaica e eólica). A geração distribuída de forma inteligente transforma potencialmente a cidade inteira em uma usina, com perdas mínimas de transmissão. Faz sentido também, segundo Cyro, dotar os prédios com capacidade de armazenamento. E ele entende que, a partir do uso em larga escala, também os veículos teriam incrível capacidade de armazenamento para as redes elétricas. Assim, “a nova rede proverá energia e comunicações para habilitar prédios inteligentes, motores, aparelhos e cargas inteligentes através de um ‘portal’ do consumidor”. • Um conjunto de dispositivos (IHD’s) e softwares permitirão que aparelhos se comuniquem entre si em uma dada instalação.

Interfaces simples e efetivas entre a rede e os sistemas de gerenciamento de energia dos prédios irão permitir usos mais eficientes e menores custos de eletricidade. Será possível programar o uso de energia para tirar partido de políticas de preço diferenciado (em sinais de redução de carga programada, ou sinais de redução de emergência). Condicionadores de ar terão um programa de uso otimizado com as tarifas, em uma base dinâmica, conforme período do ano (seco ou úmido), temperatura ambiente e horário do dia.

E as empresas? Mas, se o futuro é assim para as residências, o que é possível fazer hoje nas empresas? Muita coisa, mas infelizmente os grandes consumidores ainda não se sentem estimulados a fazer EE ou eficiência energética, diz Cyro. Vale dizer: pede-se incentivo, apoio oficial. Mas o 7º Congresso mostrou em detalhes que há linhas especiais de crédito para este fim. Cyro explicou que projetos de eficiência energética têm prazo curto de implantação ou 3 vezes menor que na geração com retorno do investimento mais rápido que a expansão, além de: 1. Impacto ambiental = zero 2. Viabilidade de novas tecnologias com aumento de escala = muitas já são viáveis hoje, principalmente em grandes operações; 3. Cogeração e Autoprodução no Brasil retornam mais rápido que em outros países; 4. Implantação deve sempre ser dirigida por valor. Onde então o smart grid pode ajudar os grandes consumidores empresariais? Para o palestrante, será na melhor gestão de energia, na busca de qualidade de energia, na busca de vantagens ou na integração com outros insumos e infras, na redução dos custos operacionais e melhoria da competitividade e na redução do impacto ambiental e melhoria da imagem.

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Revolução chegando Se Cyro estiver certo, a revolução está chegando. E rápido. Um exemplo: analistas dizem que há US$ 50 bilhões de dólares em capital pronto para ser investido em projetos de energia solar no deserto de Nevada. Na Califórnia, já está instalada a Aucra, empresa que oferece tecnologia para resolver um problema antigo: armazenar energia solar. Para isso, usa espelhos que aquecem água em contêineres para, em

seguida, mover turbinas a vapor. Seu criador, David Mills, promete que, com uso de 10% do deserto de Nevada, será possível gerar 90% da energia consumida no país. Na Europa existem ideias similares, como trazer energia geotérmica da Islândia, eólica de “fazendas de vento” no Mar do Norte ou energia solar produzida em áreas desérticas do Marrocos. Mas é preciso cuidado com a superexitação diante de tudo isso, fugin-

do-se de modismos na discussão: hoje se fala no smart grid, smart IMS , ripple control, PLC etc., mas quem se lembra da “smart house”, uma outra febre tempos atrás? Dizem os críticos que são soluções que prometem muito, mas antes de tudo mais servem para criação de novas associações, fórum, grupos, empresas etc. sob esse rótulo. Lembre-se que uma simples ligação telefônica no Brasil ainda é capenga.

O SOL NA CASA DO PETRÓLEO Ao incluir a energia solar em suas instalações, a Petrobrás busca ampliar fronteiras para além do universo dos hidrocarbonetos e derivados. Mas ainda são investimentos hipertímidos diante da excitação do pré-sal, indicando que, por enquanto, vale apostar no tradicional. O aproveitamento da energia termossolar na Petrobrás, assim como de outras fontes renováveis, segundo o químico Claudio R. Modeze, tem como objetivo principal consolidá-la como uma empresa de energia, ampliando suas fronteiras para além do universo dos hidrocarbonetos e seus derivados, mantendo-a em consonância com as restrições ambientais futuras do planeta sem perder o foco no negócio. Falando no 7º Congresso, o representante da empresa compartilhou com o público, exemplos de aplicações de sistemas termossolares que permitiram congregar em seus resultados: economia no consumo de outras fontes de energia, liberação desta energia para aplicações mais nobres, utilização de uma energia limpa e segura e geração de créditos de carbono. A “aplicação de energia termossolar na Petrobrás” por ora é restrita à utilização para aquecimento nas cozinhas, banheiros e laboratórios em 16 unidades da empresa com uma área instalada de coletores planos de 4.640 m², um volume de reservatórios de água quente de 287 m³ e economia anual de energia em torno de 2.530 MWh, evitandose a dispersão no ar de 651 t/ anuais de gás carbônico ou CO2. Acrescentem-se a isto, com projetos para novas instalações em 2010, novos módulos de coletores planos e outros de mais 3.141 m2, volume de reservatórios de água quente em torno de 236 milhões de litros ou 236 m3

visando a uma economia anual de energia de 1.500 MWh ou evitando-se a dispersão de 378 toneladas/ano de CO2 na atmosfera. O explanador fez um comparativo com o CO2 evitado mostrando que um veículo médio com motor 1.8 FLEX emite 81,923 g CO2/ km. Se este veículo rodar 30.000 km/ano, emitirá 2,46 t de CO2/ano (dados do Ibama) Segundo a Petrobrás, com os sistemas solares instalados e a instalar pela empresa, chega a 419 o número de veículos correspondentes que sairiam de circulação. A Petrobrás programa para 2010: 1. Aplicações termossolares de alta temperatura para a substituição de queima de combustíveis fósseis com a consequente redução de gases de efeito estufa. 2. Um único projeto, que está em processo de instalação para produção de água quente com 200 m² de coletores evacuados, evitará a emissão de 35 toneladas anuais de CO2 (14 veículos médios FLEX). 3. Desenvolvimento de novas oportunidades tecnológicas em campos de produção terrestre como: 4. Aquecimento para redução de viscosidade de óleo; 5. Aquecimento para quebra de emulsões água-óleo; 6. Aquecimento de tubulações de transporte de óleo 7. Termo de Cooperação com a GTZ - Sociedade Alemã de Cooperação Técnica.

Detalhes: lh O 7º Congresso incluiu ainda, em sua temática, desde discussões sobre o “chuveiro flex” passando por questões mais detalhistas, como “a susbstituição da controladora de água gelada e implantação de sistema de gerenciamento de fan-coils”, “a substituição da configuração de controle da instrumentação da casa de bombas e implantação de bombeamento variável de água gelada”, “Tendências tecnológicas em Motores Elétricos de Alta Eficiência, uma palestra simples proferida pelo engenheiro Renato Rech sobre “Nova regulamentação para motores elétricos no Brasil”, “Iluminação de áreas de pátios e iluminação pública com tecnologias eficientes”. E mais: o Congresso mostrou que quem quiser investir nesta área pode contar com uma série de “linhas de financiamento para projetos de eficiência energética”. Vá em frente.

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Retrospectiva 2010

de vento em popa

Usina eĂłlica na cidade de Walla Walla, Estados Unidos. PaĂ­s lidera a lista dos que mais geram este tipo de energia

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Sparktography

Emissão reduzida de CO2 e matéria-prima abundante são alguns dos atrativos da modalidade que cresceu 77,7% no país, em 2009 Da Redação

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ados divulgados pelo Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), em fevereiro, apontaram que a produção de energia eólica no Brasil cresceu mais do que o dobro da média mundial, que registrou 31%. O crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que o dos Estados Unidos, que teve aumento de 39%, o da Índia (13%) e o da Europa (16%), mas menor que o da China, cuja capacidade de geração ampliou-se em 107%. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, o aquecimento do setor é reflexo de um processo que vem desde 2002, quando o governo federal instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). “Vários parques eólicos participantes do Proinfa entraram em operação no ano passado. Contudo, o grande fato foi o Leilão de Energia de Reserva que contratou 1.800 MW de potência instalada para entrada em operação em 2012”, explicou. O leilão, realizado em dezembro, foi o primeiro exclusivo de energia eólica e os 1.805 MW comercializados se dividirão em investimentos a serem realizados em cinco estados brasileiros: o Rio Grande do Norte com 657 MW, o Ceará com 542 MW, a Bahia com 390 MW, o Rio Grande do Sul com 189 MW e Sergipe com 30 MW. “Foi uma mudança de paradigma. Para que se tenha uma ideia, hoje a capacidade instalada de energia eólica no Brasil é de 700 MW, entre o final deste ano e início do próximo passaremos para 1,4 mil MW e já em 2012, como consequência do leilão, teremos 3,4 mil MW de capacidade de ge-

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A eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta

ração de energia eólica. Isso significa dizer que iremos quadruplicar a capacidade instalada em relação a 2010. Mas isso não é muito, e o que impressiona é que esse volume corresponde apenas a 2,5% da capacidade instalada no país”, completou Simões. Se no território nacional, a força dos ventos ainda é pouco representativa, em termos mundiais a participação do Brasil é ainda menor. Mesmo com tanto crescimento, o país ainda representa cerca de 0,38% da produção mundial. Segundo Simões, um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor é o peso da carga tributária. “Para enfrentar essa dificuldade é necessário um regime tributário específico que contemple a cadeia produtiva como um todo, e não com benefícios fiscais isolados e temporários”, opinou. Neste sentido, a Abeeólica vem discutindo com o governo federal a implementação do Renovento, regime tributário especial para desonerar desde a matériaprima até a operação dos parques eólicos. Simões prevê quadruplicar capacidade até 2012

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Divulgação Petrobras

Retrospectiva 2010

Turbina da usina localizada em Macau, no Rio Grande do Norte, pertencente à Petrobrás

Mas por que a opção eólica, se o Brasil tem tanto potencial hidráulico para gerar energia? A resposta, segundo Simões, está na diversificação. “Temos o privilégio de possuir recursos hidráulicos extraordinários e, assim, por muitos anos a nossa matriz continuará sendo predominantemente da forma que conhecemos hoje - com as hidroelétricas - e é bom que seja assim, porque essa é a mais competitiva de todas

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as fontes. Mas a eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta”, afirmou. Segundo ele, a característica complementar pode ser verificada até em termos de sazonalidade. “Os ventos são mais fortes e mais constantes justamente quando não está chovendo, nos períodos em que os reservatórios de água das hidros estão secando”, explicou.

E é justamente neste ponto que, segundo ele, o crescimento da oferta de energia calcada em bases hidráulicas e eólicas, dada a complementaridade e contrasazonalidade, faz com que o Brasil tenha uma condição extremamente diferenciada e competitiva, em comparação com outros países. Como estimulante da competitividade, o Leilão de Energia de Reserva (LER) funcionou bem já que também estimulou o aumento da escala na fabricação de equipamentos e componentes de geração eólica. Por isso Simões destaca a importância desta política. “A continuidade de leilões específicos para energia eólica pode tornar o Brasil uma plataforma de domínio tecnológico desta rota de geração”, opinou. Ao menos na edição do LER 2010, que será realizada em agosto, as eólicas terão que dividir espaço com termelétricas movidas a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Até agora, porém, segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as usinas movidas a vento são a grande maioria: representam 82% das 517 usinas cadastradas para concorrer ao leilão de fontes alternativas destinadas ao fornecimento de energia em 2013. Juntas, todas as cadastradas terão uma capacidade instalada de 15.774 megawatts (MW), sendo que as 425 eólicas têm capacidade para 11.214 MW. Mesmo com dados tão promissores, o setor ainda tem desafios pela frente. Para que a energia que vem dos ventos se firme de vez em solo brasileiro é preciso resolver uma importante questão: o alto custo de produção. A energia gerada por essa alternativa custa entre 60% e 70% a mais que a mesma quantidade oriunda de uma usina hidrelétrica. Segundo Simões, o processo para baixar este custo já começou. “A energia eólica no Brasil está em fase de ampliação da sua competitividade. Basta comparar o preço praticado no Proinfa e o preço médio do Leilão de 2009. No Proinfa os valores são de R$ 260/MWh, enquanto no leilão o preço médio foi de R$ 148/MWh”, destacou. Segundo ele, a melhoria na qualidade dos projetos, a percepção de risco dos investidores com o contrato ofertado no leilão, a situação cambial do ano passado e os efeitos da crise de 2008 influenciaram na redução dos custos.

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A Força dos ventos Como funciona? Energia eólica é a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu aproveitamento ocorre por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas, também denominadas aerogeradores, para a geração de eletricidade, ou cataventos (e moinhos), para trabalhos mecânicos como bombeamento d’água. As primeiras tentativas de geração de eletricidade surgiram no final do século 19, mas somente cerca de um século depois é que foram desenvolvidos equipamentos para produção em escala comercial.

TOP 10 – CAPACIDADE TOTAL INSTALADA 2008 Resto do mundo Estados Unidos Portugal Dinamarca Inglaterra França

Itália Índia

Alemanha

Fonte: Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica

China

Vantagens A energia eólica atende às três principais preocupações em termos de geração de energia sustentável: • Segurança de suprimento – ao contrário de combustíveis fósseis, como o petróleo, a energia eólica utiliza-se de matéria-prima permanentemente disponível em praticamente todos os países do mundo; • Independência de preços externos do petróleo e do gás natural - Cada quilowatt / hora gerado por energia eólica tem potencial para substituir importações de combustíveis fósseis, melhorando a segurança do abastecimento e da balança comercial dos países; • Emissão reduzida de CO2 – o setor energético é a maior fonte de emissões de CO2, representando cerca de 40%. Na opção eólica, porém, a emissão é baixíssima: três a seis meses de atividade de uma turbina eólica compensam as emissões geradas durante a fabricação da própria turbina. Diferencial As três vantagens acima podem ser observadas também nas usinas hidrelétricas. O grande diferencial das eólicas refere-se ao baixo impacto ambiental que provocam. O equipamento ocupa 1% da área da usina eólica e o restante pode ser ocupado por lavoura ou pastagem. Além disso, é possível a uma distância de 400 metros das usinas eólicas sem que seu ruído cause danos ou perturbações ao ser humano. Desvantagens O custo da energia gerada por essa alternativa é entre 60% e 70% mais alto do que a mesma quantidade produzida em uma usina hidrelétrica. Programas governamentais de incentivo estão tentando mudar esta realidade.

Espanha

MW

%

EUA

25,170

20.8

Alemanha

23,903

19.8

Espanha

16,754

13.9

China

12,210

10.1

Índia

9,615

8.0

Italia

3,736

3.1

França

3,404

2.8

Inglaterra

3,241

2.7

Dinamarca

3,180

2.6

Portugal

2,862

2.4

Resto do mundo

16,693

13.8

Total TOP 10

104,104

86.2

Total mundo

120,798

100.0

No Brasil O país tem posição destacada no contexto regional, pois terminou o ano de 2009 com uma capacidade instalada de 606 MW, tendo apresentado um crescimento de 77,7% sobre os 341 MW instalados até o final de 2008. Geração Eólica no Brasil Capacidade instalada

Pelo mundo Os Estados Unidos ocupam o topo da lista dos países com maior capacidade instalada em comparação com o potencial energético, somando 20,8%. Em seguida, vem a Alemanha, com 19,8%.

Ano MW

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 22

29

29

29

237

247

341

606 1423*

*projeção com a finalização do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA)

Fonte: Abeeólica Fonte: Conselho Global de Energia Eólica (GWEC)

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Retrospectiva 2010 USINAS do tipo Eólica em Operação Usina Eólica de Prainha

Potência Fiscalizada (kW) 10.000

Destino da Energia PIE

Proprietário

Município

100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda

5.000

PIE

100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda

Aquiraz - CE São Gonçalo do Amarante - CE

100% para CEMIG Geração e Transmissão S/A

Eólica de Taíba Eólica - Elétrica Experimental do Morro do Camelinho Eólio - Elétrica de Palmas Eólica de Fernando de Noronha Parque Eólico de Beberibe Mucuripe RN 15 - Rio do Fogo Praia do Morgado Pirauá Eólica de Bom Jardim Foz do Rio Choró

1.000

REG

2.500 225 25.600 2.400 49.300 28.800 4.950 600 25.200

PIE REG PIE REG PIE PIE PIE REG PIE

Praia Formosa

104.400

PIE

Eólica Olinda

225

REG

Eólica Canoa Quebrada

10.500

PIE

Lagoa do Mato

3.230

PIE

Parque Eólico do Horizonte

4.800

REG

Eólica Icaraizinho

54.600

PIE

Eólica Paracuru

23.400

PIE

Eólica Praias de Parajuru Pedra do Sal Parque Eólico Enacel Macau Canoa Quebrada Eólica Água Doce Parque Eólico de Osório Parque Eólico Sangradouro

28.804 18.000 31.500 1.800 57.000 9.000 50.000 50.000

PIE PIE PIE REG PIE PIE PIE PIE

Taíba Albatroz

16.500

PIE

100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A.

50.000 50.000 4.950 4.950 4.950 4.950 10.200 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 Potência Total: 794.334 kW

PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE

100% para Ventos do Sul Energia S/A 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para SPE Millennium Central Geradora Eólica S/A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A

Parque Eólico dos Índios Bons Ventos Xavante Mandacaru Santa Maria Gravatá Fruitrade Millennium Presidente Camurim Albatroz Coelhos I Coelhos III Atlântica Caravela Coelhos II Coelhos IV Mataraca Total: 45 Usina(s)

SP - Serviço Público Fonte: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

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100% para Centrais Eólicas do Paraná Ltda 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE 100% para Eólica Beberibe S.A. 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda 100% para Energias Renováveis do Brasil S.A. 100% para Central Eólica Praia do Morgado S/A 100% para Eólica Pirauá Geradora de Energia S.A. 100% para Parque Eólico de Santa Catarina Ltda 100% para SIIF Cinco Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Eólica Formosa Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE 100% para Rosa dos Ventos Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Rosa dos Ventos Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda 100% para Eólica Icaraizinho Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Eólica Paracuru Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Central Eólica Praia de Parajuru S/A 100% para Eólica Pedra do Sal S.A. 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Petróleo Brasileiro S/A 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda 100% para Ventos do Sul Energia S/A 100% para Ventos do Sul Energia S/A

PIE - Produção Independente de Energia

Gouveia - MG Palmas - PR Fernando de Noronha - PE Beberibe - CE Fortaleza - CE Rio do Fogo - RN Acaraú - CE Macaparana - PE Bom Jardim da Serra - SC Beberibe - CE Camocim - CE Olinda - PE Aracati - CE Aracati - CE Água Doce - SC Amontada - CE Paracuru - CE Beberibe - CE Parnaíba - PI Aracati - CE Macau - RN Aracati - CE Água Doce - SC Osório - RS Osório - RS São Gonçalo do Amarante - CE Osório - RS Aracati - CE Pombos - PE Gravatá - PE Gravatá - PE Gravatá - PE Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB REG - Registro

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Retrospectiva 2010

O S L brilha para todos Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei Da Redação

Q

uem diria que toda a tecnologia relacionada à energia solar, uma das vedetes responsáveis por oferecer uma alternativa limpa e renovável, pode ser comparada ao funcionamento de organismos presentes num jardim - as plantas. Por meio da clorofila (substância verde das folhas semelhante à hemoglobina do nosso sangue) esses organismos são capazes de capturar os raios de sol e transformálos no próprio alimento. Este mesmo conceito pode ser aplicado aos painéis solares, que utilizam o sol para aquecer ou gerar energia elétrica.

As vantagens desses tipos de sistema vão do bolso do consumidor até o meio ambiente. Não é à toa que cerca de 1 milhão de estabelecimentos (dos quais 66% são residências) já adotaram esse mecanismo, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento / Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Abrava/Dasol). Com o aquecimento solar é possível economizar até 70% de energia elétrica ao ano - por ser capaz de substituir o gás e a eletricidade - e recuperar o preço do investimento entre 2 e 3 anos, segundo a fabricante Soletrol. Além

disso, o fato de ser um tipo de energia renovável e que não agride a natureza pode beneficiar a consciência de muita gente que deseja contribuir com a causa sustentável. Apesar dos benefícios, a energia fotovoltaica ainda engatinha aqui no Brasil. Os principais motivos são a inexistência de uma política nacional que viabilize a produção em larga escala e os obstáculos para a produção de silício grau solar. Este tipo específico de silício, elemento básico para a produção das células fotovoltaicas, caracteriza-se pelo elevado custo de produção e pela alta pureza, que aumenta sua proNeo Mondo Neo -Mondo Janeiro- 2011 Maio 2008

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Retrospectiva 2010 priedade de semicondutor elétrico e ramifica seu uso para chips e outros componentes eletrônicos. O professor Paulo Roberto Mei, do Departamento de Engenharia de Materiais, da Unicamp, explica que o mercado nacional ainda foca no silício metalúrgico, a forma impura do mineral, que é facilmente encontrado na natureza e que é usado nesse setor principalmente para dar liga metálica no aço, latão e bronze. Por esses motivos, o Brasil atualmente importa placas fotovoltaicas de marcas como Kyocera, Sharp, Sanyo e SS Solar. O gestor da Dasol Marcelo Mesquita afirma que os pontos de maior dificuldade são o valor de produção e a pouca maturidade do setor. “Apesar da redução do IPI e da devolução do ICMS, [o custo] ainda é um impeditivo para a competição no mercado de aquecimento de água. A desverticalização do setor, por sua vez, requer desenvolvimento de toda a cadeia e a formação de profissionais instaladores para atender a demanda crescente.” Além disso, Mesquita acredita que o desenvolvimento da cultura ecológica na sociedade seja um ponto vital. “A conscientização da população pode ser considerada como desafio, apesar de já estar acontecendo de maneira acelerada.” Uma nova era solar? As expectativas para a mudança do cenário atual são grandes. O especialista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Ricardo Ruther afirma que o aumento dos custos de produção de energia elétrica e a futura redução das despesas de fabricação das placas fotovoltaicas serão um verdadeiro impulso para a área. “Temos boa insolação e a maior reserva de quartzo do mundo, de onde se extrai o silício, usado nas células solares. Desenvolver o setor é questão de dez anos”. Para Mesquita, uma das novidades positivas no setor é a busca da utilização do sistema de aquecimento solar em projetos habitacionais, como nos programas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), das Companhias de Habitação (Cohab) e das casas construídas pelo programa da Caixa Econômica Federal Minha Casa Minha Vida. “As vantagens em usar o chuveiro solar híbrido são grandes, pois os chuveiros elétricos ficam desligados como reserva para eventuais situações de longo período sem sol.” Embora cogitada como item obrigatório no início do projeto, as placas solares serão opcionais e chegarão a apenas uma

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parte do 1 milhão de casas que o governo pretende construir. O grupo de trabalho, que tem representantes dos ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia, das Cidades, além da Caixa Econômica Federal, do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e empresários do setor, ainda não definiu metas ou o número mínimo de unidades habitacionais que deverão receber o sistema de aquecimento solar. De acordo com Vânia Soares, coordenadora de Energia e Meio Ambiente da Secretaria e Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, essa iniciativa irá depender das construtoras ou das prefeituras. Saindo do papel “A legislação vem-se consolidando e aperfeiçoando suas aplicações. À medida que o aquecedor solar é implantado em municípios, aumenta a obrigatoriedade nas edificações e em alguns segmentos produtivos da sociedade”, destaca Mesquita. A maior dificuldade, de fato, é aprovar e aplicar o que está no papel. Algumas das iniciativas nacionais que ainda tramitam no Congresso Nacional são o Projeto de Lei 630/03, que institui um fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a produção de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da energia eólica, de autoria do deputado Roberto Gouveia (PT-SP); o Projeto de Lei do Senado 311/09, que institui o Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de energia limpa, de autoria do senador Fernando Collor (PTB-AL); e o Pro-

jeto de Lei do Senado 336/09, que concede isenção do Imposto de Importação às células solares fotovoltaicas, assim como suas partes e acessórios, de autoria do senador João Vicente Claudino (PTB-PI). Apesar da lentidão do processo legislativo e da demora pela aprovação dos referidos projetos de lei, o advogado Diego Medina explica que ainda é possível contar com outras formas de fomento à energia limpa. De créditos especiais em bancos privados, bolsas, editais e subsídios até programas de órgãos governamentais que podem investir em novas tecnologias (como a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia), benefícios fiscais ou Terceiro Setor, opções não faltam. “Há estados que concedem isenções tributárias nas operações com equipamentos e componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica. Por isso, quem quer investir em energia limpa deve estar atento à legislação nacional e regional”. Eventos de grande porte como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 também prometem impulsionar e disseminar a aplicação dessa tecnologia. Mesquita afirma que o seminário Copa do Mundo de 2014: normatização para obras sustentáveis, promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), apresentou o aquecimento solar como uma importante contribuição para a infraestrutura necessária aos eventos por ser limpo, com um excelente potencial energético e economicamente viável. “Temos uma verdadeira usina solar limpa e gratuita, funcionando o ano todo, em todas as regiões. Por isso, prevemos aplicações em hotéis, alojamentos,

Placas solares são cogitadas em projetos habitacionais e podem aparecer em obras da Copa do Mundo e Olimpíadas

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restaurantes, hospitais, lavanderias, vestiários, piscinas, entre outros.” Apesar da localização privilegiada do Brasil, que permite uma boa taxa de insolação em várias regiões no ano todo, o país ainda está no 10º lugar no ranking de utilização da matriz solar como fonte de energia – ficamos atrás de China, Israel, Áustria, Índia, Turquia, Alemanha, Japão, Estados Unidos e Austrália. Com metas de longo prazo, o Plano Nacional de Eficiência Energética é outra

novidade do setor. Ainda em fase de consultas com empresas do setor energético, órgãos do governo e empresas de conservação de energia, o projeto tem como pontos principais a conscientização da população, do setor público e medidas que possam trazer benefícios financeiros e fiscais (como leilões de eficiência energética, estímulos para indústrias, programas de etiquetagem, entre outros). A elaboração do plano tem passado atupor grandes complexidades devido a uma

O que nos falta Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Brasil precisa seguir alguns mandamentos para que se torne uma das principais lideranças no setor de energia solar:

• • Laboratórios modernos • Centros de referência integrados • Investir em desenvolvimento de

tecnologia (para obter energia solar fotovoltaica a baixo custo) Estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos Especialistas para o mercado – estima-se que o mundo irá precisar de 37 milhões de profissionais para atuar no setor até 2030

Fonte: EcoDesenvolvimento

série de alinhamentos que precisam ser feitos para garantir o não aumento de tarifas, o respeito a contratos existentes (principalmente das concessionárias com o governo e dos consumidores com as distribuidoras), a expansão rápida do acesso à rede elétrica em todas as regiões do país e integração sulamericana. Apesar disso, o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas Energia, Hamilton Moss, afirma que o plano será anunciado antes do final de 2010 e estará alinhado com a meta de reduzir em 10% a demanda por eletricidade no país até 2030. Para ele, o Brasil, comparado a outros países, tem menos urgência para implementar ações na área devido aos números atuais relacionados à eficiência energética: cerca de 70% da matriz elétrica e 48% da matriz energética total brasileiras provêm de fontes renováveis.

Com informações de Revista Sustentabilidade, Inovação Tecnológica, Soletrol, Planeta Sustentável, SuperInteressante, EcoDesenvolvimento, Energia

Irmãos de Sol Além de depender da energia solar, ambos os processos precisam de placas específicas que serão responsáveis por captar e transformar a energia. Entenda em detalhes como funciona a energia solar: As placas para aquecer água são escuras com o intuito de absorver o máximo possível de radiação solar. O calor é então passado para as serpentinas internas da placa (geralmente feitas de cobre, um material altamente condutor), que contém água fria proveniente de um reservatório ligado à caixa d’água. Após passar por esse tubo, a água esquenta e vai para o boiler, um reservatório térmico específico para manter a temperatura. Dessa forma, a água chega muito quente aos chuveiros da casa, o que explica a necessidade de ter uma torneira para cada tipo de água (quente e fria), para poder atingir uma temperatura agradável. A energia fotovoltaica, por sua vez, requer placas compostas por células feitas de materiais semicondutores, como o silício (já citado anteriormente). Quando partículas de luz solar (fótons) se chocam com os átomos do material que reves-

te a placa, elétrons se deslocam, e essa energia gerada carrega uma bateria. A tecnologia requerida por este processo vem sendo aprimorada com o tempo, já que em 1839 o físico francês Edmund Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico em uma experiência com eletrólitos (substâncias que se tornam condutoras de eletricidade com a adição de um solvente ou aquecimento). Trinta e oito anos depois, W.G. Adams e R.E. Day construíram a priboiler

meira célula solar com selênio, elemento que converte luz diretamente em eletricidade, mas com baixíssimo rendimento. O silício grau solar para fins industriais só veio a ser desenvolvido em 1940/1950, quando o método Czochralski (nome de um cientista polonês) foi desenvolvido para fins industriais. Atualmente, cada metro quadrado de coletor fornece 170 watts - pouco menos que três lâmpadas comuns de 60 watts. coletor solar

(reservatório térmico de água quente)

caixa d’água da residência

sistema auxiliar elétrico (para dias em que o sol não aquece a água plenamente)

água quente água fria

Com informações de Soletrol, Guia da Energia Solar e artigo de Miguel C. Brito e José A. Silva, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Neo Mondo Janeiro- 2011 Neo -Mondo Maio 2008

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Retrospectiva 2010

Vem da

LAMA,

mas é LIMPA Pesquisadores da Fundação Universidade Rio Grande (Furg), do Rio Grande do Sul, vão aproveitar lodo do porto para geração de energia

A

mesma lama que pode atrapalhar navios e outras embarcações de trafegarem pelo Porto do Rio Grande, localizado no município gaúcho de mesmo nome, agora contribuirá para alimentar veículos e equipamentos do próprio porto. Projeto desenvolvido pelo Laboratório de Controle de Poluição da Fundação Universidade Rio Grande (Furg) utilizará a lama dragada do oceano como fonte de geração de energia para baterias utilizadas nesses equipamentos. O processo aproveita os elétrons envolvidos na respiração dos micro-organismos encontrados na lama, que durante a queima (oxidação) da matéria orgânica liberam elétrons, que são captados por um eletrodo, gerando uma corrente elétrica. Associado a este reator, um circuito elétrico converte a voltagem desta reação para valores comerciais tradicionais (110 ou 220 volts). “Em escala industrial, estima-se que possam ser gerados até 580 MW, considerando que a dragagem do Porto produz 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos ao ano”, explicou o professor Dr. Fabricio Santana, que coordena a pesquisa ao lado da professora Dra. Christiane Saraiva Ogrodowski.

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Alan Bastos

Da Redação

Coordenadores da pesquisa Furg, Fabricio Santana e Christiane Ogrodowski mostram a lama retirada do porto

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A geração de energia seria suficiente para abastecer uma cidade de até 600 mil habitantes. Segundo Santana, o objetivo é criar uma Unidade de Tratamento de Sedimentos de Dragagem, cuja previsão para início das atividades é janeiro de 2011. Há dois anos, o processo de bioconversão da lama em energia elétrica vem sendo estruturado pelos pesquisadores que contam com o apoio de outros profissionais participantes de convênios com órgãos de fomento estaduais, federais e privados. O projeto conta com financiamento da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, que investirá R$ 300 mil, e do Porto do Rio Grande, que injetou R$ 60 mil, além do custo estimado em R$ 300 mil que será pago pela Furg pelo trabalho dos pesquisadores. “Atualmente, encontra-se em fase de laboratório, estão sendo realizados experimentos para o dimensionamento da planta piloto, próxima etapa do estudo”, revelou.

Menor impacto A lama retirada dos portos contém uma parte inerte (areia), que corresponde a 96% e pode ser comercializada. O restante do sedimento, onde estão presentes micro-organismos capazes de gerar eletricidade, é armazenado e depois despejado no oceano, em áreas onde causa menor impacto ambiental.

Segundo o professor Santana, a lama do Porto do Rio Grande pode ter sido beneficiada pelo fato de ser este canal uma ligação natural da Lagoa dos Patos com o oceano, proporcionando maior teor de matéria orgânica e criando características diferenciadas. “Mas isso não impediria a aplicação desta tecnologia a outros portos”, garantiu. Ao menos no Porto do Rio Grande, o segundo do país e um dos mais importantes da América Latina devido à sua posição geográfica e extensão, a geração de energia limpa é uma questão de tempo. Para o professor Santana, mesmo a geração biológica não sendo a alternativa mais desenvolvida atualmente, em comparação à eólica, solar e hidráulica, por exemplo, somadas, essas tecnologias podem incrementar a matriz energética do país. “Sabe-se que a solução para a escassez de energia não está associada com o uso de apenas um tipo de tecnologia ou fonte e sim com o aproveitamento pleno destas possibilidades”, encerrou. Divulgação

Alan Bastos

A estimativa é que e, em escala industrial, possam ser gerados até 580 MW

Assim que implantada, a Unidade será a única do gênero no mundo, já que as outras iniciativas de que se tem conhecimento visavam utilizar o sedimento oceânico para geração de energia, mas sem removêlo da superfície marinha. “Esta alternativa é muito questionada, já que pode provocar um desequilíbrio no meio ambiente”, contou Santana. O projeto gaúcho, ao contrário, é totalmente seguro à vida marinha, pois utiliza o material já retirado, oferecendo solução para um problema de esfera mundial, que é a destinação desses sedimentos.

Porto do Rio Grande é considerado um dos mais importantes da América Latina devido à localização estratégica

Energia a partir da lama 1º passo – Dragagem As dragagens removem sedimentos que se acumulam com o tempo no fundo do mar, a fim de manter ou aumentar a profundidade dos canais portuários, garantindo o acesso seguro dos navios. O material retirado é separado, parte vira areia e é comercializada e a outra parte, que seria despejada de volta no oceano em profundidades maiores, vai para a Unidade de Tratamento.

2 º passo - Unidade de Tratamento de Sedimentos A parte dos sedimentos onde estão instalados os microrganismos capazes de gerar energia é utilizada na geração de energia por meio da queima da matéria orgânica (oxidação).

3º passo – Utilização da energia A energia gerada é utilizada para carregar as baterias de equipamentos e veículos do próprio Porto do Rio Grande.

Representação da geração de energia a partir da instalação da Unidade de Tratamento

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