Edição Especial
NeoMondo
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um olhar consciente
Ano 4 - Nº 36 - Julho 2010 - Distribuição Gratuita
Rogério Cezar de Cerqueira Leite 04
Iluminado por Natureza
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Agenda verde
Energia Eólica
Candidatos à Presidência
Vai de vento em popa
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Seções Perfil 04 Prof. Emérito da Unicamp Iluminado pela própria natureza
12 Artigo – Denise de La Corte Bacci O calor que vem de dentro
ESPECIAL - ENERGIA 16 Agenda verde na campanha Programas eleitorais de candidatos à Presidência
ESPECIAL - ENERGIA 15 No alvo a energia verde Temática sobre energia limpa
ESPECIAL - ENERGIA 24 Para economizar bilhões Desperdício de energia chega a 17 bilhões por ano
ESPECIAL - ENERGIA Por céus de brigadeiro Espaço aéreo livre de co2
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Artigo – Natascha Trennepohl Política nacional de resíduos sólidos
20 30 Artigo – Dr. Marcos Lúcio Barreto Reaproveitar aproveitemos essa ideia
ESPECIAL - ENERGIA Energia Eólica Vai de vento em popa
32 37 Artigo – Terence Trennepohl Farewell do código florestal de 1965 ESPECIAL - ENERGIA
38 Artigo – João Muciaccito Produção mais limpa (P+L)
44 Artigo – Dra. Dilma de Melo Silva Energia pura
48
O sol brilha para todos Energia do astro rei
46 Vem da lama, mas é limpa Lodo gera energia ESPECIAL - ENERGIA Energia que vem das cinzas Usinas flutuantes
54 Artigo – Márcio Thamos A invenção da humanidade
40
ESPECIAL - ENERGIA
Cotidiano 56 NEO MONDO Informa Notícias Imperdíveis
50 Artigo – Rafael Lopes Teoria da evolução dos automóveis 52 Artigo – Rosane Magaly Martins Longevidade Article in English Profile 08 Professor Emeritus of Unicamp Enlightened by his own Nature
Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Estagiária: Heloisa Moraes Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Diagramação: Renata Rodrigues Vialli Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo 2
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Publicação Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br
A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.
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Perfil
Iluminado pela própria Professor emérito da Unicamp, pesquisador emérito do CNPq, conselheiro federal em Ciência e Tecnologia, falar de – e com – energia é com ele mesmo
Divulgação
Gabriel Arcanjo Nogueira
Cerqueira Leite: “a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas de álcool e açúcar... a redução de emissões beneficiará o Brasil e o resto do planeta”
Neo Mondo: A saída para o Brasil é insistir na construção de hidrelétricas? Por quê? E em que medida esse tipo de usina pode acrescentar como alternativa de energia limpa?
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uma edição que trata das alternativas de energia limpa, NEO MONDO foi buscar uma das maiores autoridades não só no tema do nosso Caderno Especial, mas também em assuntos de múltiplo interesse socioeconômico pela sua carreira caracterizada pela diversidade de atuação: da docência acadêmica a participações como conselheiro, passando pela gestão de instituições privadas e públicas. Rogério Cezar de Cerqueira Leite é físico, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro do Conselho de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo. A ABTLuS administra o Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais, que congrega os quatro laboratórios nacionais (Síncrotron, Biociências, Nanotecnologia e Etanol). Cerqueira Leite tem participação importante no desenvolvimento da ciência, especialmente em São Paulo, por ser membro fundador da Academia Paulista de Ciências
e atuar, durante 6 anos, como membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Na qualidade de pesquisador, foi também presidente do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), de 1985 a 1997, onde ainda atua como presidente do Conselho de Administração. Fazem parte de sua trajetória atividades como a presidência da Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas, a vice-presidência executiva da Companhia Paulista de Força e Luz, a participação em 1976, como consultor, da Conferência de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), e a participação em missões da Presidência da República do Brasil para acordos de cooperação internacional em tecnologia industrial. Cerqueira Leite não deixou de lado nenhuma das questões levantadas e é ao mesmo tempo visceral e bem-humorado quando trata de assunto que é a bola da vez: a construção de Belo Monte. “ ’Ignocentes’ veem a árvore, mas não percebem a floresta em que ela está inserida”, diz. Vale a pena ler a entrevista que gentilmente nos concedeu.
Cerqueira Leite: No médio e longo prazo o problema ambiental fundamental será o do aquecimento global; todos os demais serão insignificantes perto deste. Isto, se não tomarmos providências sobre a emissão de gases
do efeito estufa (GEE), e a hidrelétrica ainda é a opção que emite menor quantidade de CO2 e outros gases GEE. Principalmente a longo prazo, pois o tempo de vida de uma usina dessas é de mais de 100 anos.
É claro que outras opções, principalmente a eólica, podem ser adicionadas a sistemas em que não sejam majoritárias. Isto devido à baixa confiabilidade inerente ao regime de ventos. Neo Mondo: Por que se investe tão pouco, no país, comparativamente, nas modalidades eólica e solar: Falta vontade política? Falta interesse do setor privado? Falta planejamento? Ou não compensa mesmo? Cerqueira Leite: Investimentos em hidrelétricas são de retorno muito longo, e empresários brasileiros estão acostumados a recuperar seus capitais em poucos anos. Eis porque não são comuns investimentos privados em hidrelétricas no Brasil. A solução continua sendo investimento público, ou privado com empréstimos a baixos juros. Mesmo assim o empresário brasileiro tem outras opções de retorno rápido. Neo Mondo: Como estão esses investimentos no mundo ou nos países em que há mais avanços? Há casos em que possamos nos espelhar e aplicar as soluções aqui? Cerqueira Leite: Em outros países o setor financeiro não oferece retorno tão generoso como no Brasil e, por isso, o setor de energia tem alguma atratividade para o setor privado. Isto ocorre principalmente nos
Estados Unidos, mas não na Europa, onde o setor público se ocupa da produção de energia. Neo Mondo: Investir em energia significaria também contribuir para mitigar os efeitos do aquecimento global? Se sim, como? Ou uma coisa não tem a ver com a outra? Cerqueira Leite: É claro que investir em eletricidade produzida por meio de combustíveis fósseis é o mais atraente do ponto de vista estritamente financeiro, principalmente porque o período de construção dessas usinas é muito menor, ensejando retornos mais rápidos. Todavia, se torna um atraso essa escolha devido à enorme emissão de GEE. Hoje, do ponto de vista financeiro e ecológico, a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas de álcool e açúcar. De fato, é um atraso que apenas um percentual muito baixo desse potencial já existente seja atualmente aproveitado. Esse potencial poderá ser ele mesmo aumentado quando o Brasil vier a exportar álcool, o que terá uma dupla vantagem financeira e ecológica, pois a redução de emissão de GEEs que vier a ocorrer nos países importadores de álcool beneficiará igualmente o Brasil e o resto do planeta. Neo Mondo: O senhor vê como positivas as iniciativas de grupos como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica), que estão avançados no aproveitamento do potencial que o setor sucroenergético possui? Cerqueira Leite: Considero que as iniciativas do grupo Unica e outras têm sido eficientes para derrubar barreiras baseadas em falsas premissas que foram erguidas na Europa e em outras partes do universo. Embora o governo federal e alguns governos estaduais tenham feito algum esforço no mesmo sentido, o resultado é muito inferior àqueles dos setores sucroalcooleiros. Neo Mondo: Como estamos no Brasil em relação a outros países em pesquisas, projetos e realizações para incrementar a oferta de energia limpa? O senhor pode citar exemplos bem-sucedidos ou pelo menos bem encaminhados? Cerqueira Leite: O Brasil domina e está na dianteira quando se trata de tecnologias como as de hidrelétricas e de produção de álcool, mas está atrasado no que se refere a vários tipos de aproveitamento de energia solar e eólica. Também no que diz respeito a energia nuclear; apenas recentemente percebeu o Brasil que é necessário um esforço de pesquisa em ciência e tecnologia nuclear, e não a aquisição de pacotes fechados e reatores de grande porte. É um engano imperdoável achar que o Brasil terá alguma competência tecnológica em energia nuclear comprando mostrengos como Angra 3.
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Perfil
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Aquecimento global é o problema ambiental; todos os demais são insignificantes. E a hidrelétrica ainda é a opção que emite menos gases, no longo prazo
Se o Brasil tem hoje alguma competência no setor é porque, opondo-se, embora timidamente, a influências externas, desenvolveu seu próprio sistema de enriquecimento de urânio. Devido a interesses puramente financeiros o setor sucroalcooleiro desenvolveu com muita competência a tecnologia de produção de açúcar e álcool de primeira geração. Isto ocorreu, sobretudo, devido à criação ousada do Centro de Pesquisa da Copersucar. Todavia, embora um pouco tardiamente, mas não tarde demais, o governo federal decidiu criar um centro de pesquisas dedicado principalmente à tecnologia do álcool de segunda geração, isto é, álcool produzido a partir da celulose, inclusive bagaço de palha de cana. Este esforço é concomitante aos que são realizados atualmente pela Petrobrás e pela Embrapa. Neo Mondo: Belo Monte parece ser a bola da vez. O que há de mito e realidade na relação custo/benefício neste empreendimento? Cerqueira Leite: Que carnaval estão fazendo ambientalistas e ecopalermas em torno da futura usina de Belo Monte, a ser implantada no médio Xingu, na Amazônia. Esse exército extemporâneo de Brancaleone é composto de conservacionistas de diversas espécies. Além de uma tribo de índios locais e de bem-intencionados, porém mal informados, estudantes e intelectuais, veem-se artistas de Hollywood e de outras culturas, malabaristas, fanfarrões e pseudointelectuais. Será que esses senhores deixaram de comprar móveis de mogno, ou se manifestaram perante seus governos, ou boicotaram a carne e a soja produzidas na Amazônia? Será que percebem que a área alagada pelo projeto Belo Monte corresponde a 6
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tão-somente 0,01% da Amazônia brasileira e que bastaria 0,025% do rebanho nacional de gado para invadi-la, dentro da média atual de ocupação? Ou seja, da maneira como está planejada, Belo Monte, usina de fio d’água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condições ecológicas e também financeiras. Que bênção seria se tivéssemos mais uma meia dúzia de Belo Monte! Neo Mondo: Como assim, professor. Só há benefícios? Cerqueira Leite: Os mais inteligentes e bem-intencionados “ignocentes” (neologismo composto por 50% de inocência + 50% de ignorância) dirão: e a biodiversidade? Ora, qualquer espécie que esteja espontaneamente restrita a um território de 500 km2, excetuando-se algumas confinadas a pequenas ilhas, já está em extinção. Só um ignorante pode pensar em perda de biodiversidade nessas circunstâncias. E é claro que muitos espécimes vão sucumbir, milhares, se não milhões de formigas, carunchos e talvez até alguns mamíferos. Em compensação, 20 milhões de brasileiros poderão ter luz em suas casas, muitos outros locais passarão a ter benefícios do progresso, poderão ver pela TV o Programa do Ratinho. Indústrias geradoras de emprego serão implantadas. É isso que os “ignocentes” não percebem. Eles veem a árvore, mas não percebem a floresta onde ela está inserida, sem a qual não pode a árvore sobreviver. Quanto à questão social, é preciso lembrar que o caso de Belo Monte é muito diferente do de Três Gargantas, na China, onde a densidade da população ribeirinha era extremamente elevada. O governo chinês admite que precisou realocar 1 milhão de habitantes; outras organizações falam em 2 e até 3 milhões.
Neo Mondo: A seu ver, como está a convivência e até mesmo a parceria entre órgãos públicos, como o Ministério das Minas e Energia e seus derivados ou equivalentes nos estados e municípios, com o setor privado, ONGs, sociedade em geral? Cerqueira Leite: Em casos como esse, em que uma nova oportunidade surge, a ansiedade inicial causa algumas diferenças de opinião; por exemplo, certo constrangimento entre o setor público e o privado ocorreu no que diz respeito à tecnologia do álcool, o que é uma pena, pois o objetivo do setor público é apenas desenvolver tecnologias que sejam aproveitadas pelo setor privado. A mesma falta de entendimento existe entre órgãos do próprio governo federal e entre estes e alguns dos órgãos estaduais. Parece ser uma questão apenas de disputa de espaços. É uma pena. Todavia, essa competição vem aos poucos se amenizando graças a intervenções do Ministério de Ciência e Tecnologia. Neo Mondo: O que tem de ser feito para o Meio Ambiente tornar-se matéria obrigatória nas escolas em todos os níveis, seja nas particulares seja nas públicas? Cerqueira Leite: Algumas escolas secundárias têm introduzido a questão ecológica em seus cursos. Obviamente só haverá disciplinas específicas com a conscientização da questão ambiental em diversos setores da sociedade, inclusive governos estaduais, ministérios e a sociedade como um todo. Neo Mondo: O senhor participa de instituições de relevância no cenário nacional. Seria possível resumir o que cada uma delas faz de significativo na questão energético-ambiental? É possível apresentar para nossos leitores os resultados mais expressivos? Cerqueira Leite: A questão da sustentabilidade está-se tornando um problema de toda a sociedade, e creio que cada uma das organizações em que atuo, como o Conselho de Ciência e Tecnologia, órgão da Presidência da Republica, tem-se mostrado sensível à questão. O problema atual é que ambientalistas apaixonados com seu extremismo dogmático e pseudocientífico tornam difícil uma conscientização racional dos
Neo Mondo: No caso da mídia, em recente evento internacional, em Manaus, ela foi cobrada por não fazer da questão ambiental uma bandeira, em vez de tratá-la apenas como notícia. O que o senhor acha disso? Cerqueira Leite: É claro que todo mundo acha que é o outro o culpado pelos problemas ambientais. A imprensa não é mais culpada do que qualquer outro setor. Durante cinco ou seis anos mantive uma coluna da Folha de S. Paulo denominada “O todo e a parte” e não tive muito sucesso. O amadurecimento em relação à questão ambiental está-se acelerando nestes últimos anos, principalmente na Europa. Acredito que no Brasil isso ocorrerá tanto mais cedo quanto a sociedade vier a perceber os exageros de suas militâncias. Se um jornal nesse momento fizer uma campanha de esclarecimento, ela não deve ser excessivamente contundente. A capacidade de absorção pela população quando se trata de problemas de longo prazo é também lenta. Não devemos esperar milagres. Neo Mondo: O que cabe a cada um de nós fazer para termos melhor qualidade de vida, a partir dos cuidados socioambientais: o indivíduo, a família, a escola, as ONGs, as empresas, as instituições acadêmico-científicas? Cerqueira Leite: Hoje creio que ninguém mais defende o desmatamento. Ele ocorre já no âmbito da marginalidade. Mas devemos lembrar que qualidade de vida não melhora sem uma melhor distribuição de renda no país, sem melhores salários, sem empregos; e esta será consequência de melhorias na educação, no saneamento básico e na infraestrutura. A questão ambiental virá como consequência dessas outras melhorias. Neo Mondo: Obrigado pela entrevista. Fique à vontade para deixar seu recado para os leitores de NEO MONDO.
Cerqueira Leite: A questão da biodiversidade está-se tornando uma religião e não mais um tema de natureza cientifica. Ambientalistas e até mesmo cientistas vêm defendendo a Amazônia devido ao valor financeiro de suas riquezas bioquímicas, de sua biodiversidade, o que é uma reversão histórica. A farmácia até 1950 teve de fato como fonte de seus produtos e de conhecimento a natureza. Hoje, dentre as várias dezenas de milhares de fármacos, apenas um é extraído da natureza. O extrativismo foi a forma inicial de que se valeu a humanidade para sua sobrevivência em seus primórdios; depois vieram a agricultura, a revolução industrial, a informática etc. O homem usa hoje a sua inteligência para criar moléculas para toda e qualquer finalidade. Colocar as esperanças do desenvolvimento do Brasil em extrativismo, em biodiversidade é um retrocesso inaceitável para um país moderno. Devemos lutar contra o desmatamento da Amazônia e de outras áreas que devem ser preservadas, principalmente devido ao fato de que contêm elas o carbono que pode vir a ser um desastre para a humanidade, pois a quantidade de CO2₂ que seria produzida com a destruição da Amazônia é equivalente àquela devida a todo petróleo que já foi utilizado, mais aquele que ainda resta nas reservas conhecidas. Temos que mantê-la também devido à sua influência no regime de chuvas, essencial para nossa economia Devemos ainda manter a Amazônia porque é parte integrante da identidade nacional.
Títulos e obras Divulgação
problemas do meio ambiente. Isto é natural em todo o início de revolução cultural, mas já é tempo de ambientalistas, cientistas e governos se fazerem entender.
Para o professor e pesquisador eméritos, Brasil não terá competência em tecnologia nuclear comprando mostrengos como Angra 3
Rogério Cezar de Cerqueira Leite Entre outros títulos recebeu: • a Ordem Nacional do Mérito da França • a Cátedra da Universidade de Montreal, no Canadá • o de Professor Emérito da Unicamp • o de Pesquisador Emérito do CNPq • a Ordem Nacional do Mérito (Gran Cruz) É autor de cerca de 80 trabalhos em revistas especializadas que receberam cerca de 3 mil citações em revistas indexadas.
Instituições de ponta desde estudante • Engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) • Doutor em Física de Sólidos na Universidade Paris • Professor do ITA e da Unicamp • Diretor do Instituto de Física e coordenador geral das Faculdades na Unicamp
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Profile
Enlightened by his own Professor Emeritus of Unicamp, Emeritus CNPq Researcher, and Federal Science &Technology Counselor; when it comes to ‘energy’, he knows – and shows – what he’s talking about
Divulgation
Gabriel Arcanjo Nogueira
Cerqueira Leite: “the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar mills… reduced emissions would equally benefit Brazil and the rest of the planet”
NEO MONDO: Is insisting in the construction of hydroelectric plants the alternative for Brazil? Why? To what extent can this type of energy generation aggregate value as a source of ‘clean energy’ on a medium and long term basis?
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n a month is which we are covering clean energy alternatives, NEO MONDO sought advice from one of the greatest authorities in the field, not only for our Special Section article, but also for issues of multiple social and economic interests – in light of his expertise and diversified career: Cerqueira Leite has been a scholar and a Technology Counselor, besides having successfully run both private and public institutions. Rogério Cezar Cerqueira Leite is a Physicist; Professor Emeritus of the State University of Campinas (Unicamp), member of the Science & Technology Council of the Presidency of the Republic, President of the Administrative Board of ABTLuS (Brazilian Synchrotron Light Technology Association), and member of Folha de São Paulo’s Publishing Board. ABTLuS runs the National Energy and Materials Research Center, which is made up of four national labs (Synchrotron, BioSciences, Nanotechnology, and Ethanol). Cerqueira Leite plays an important role in the development of science, especially in São Paulo, for also being a member and co-founder of the Academia
Paulista de Ciências (Science Academy of São Paulo), besides having acted, for six years, as member of the Higher Council of The São Paulo Scientific Research Support Foundation (Fapesp). As a researcher, he also chaired the National Synchrotron Light Laboratory (LNLS) from 1985 to 1997, where he still works as President of the Administrative Council. His track record encompasses activities such as chairing the Campinas Higher Technology Pole Development Company, the Executive Vice-Presidency of the São Paulo Light and Energy Company, consulting jobs for the United Nations (UN) Science and Technology Conference in 1976, and participation in missions on behalf of the Presidency of the Republic of Brazil for international Industrial Technology cooperation deals. Cerqueira Leite did not dodge any of our questions, answering them in a visceral and witty fashion, especially with regard to the issue in the spotlight these days: the construction of ‘Belo Monte’. ‘“Ignocently”, they see a tree, but can’t notice the forest around it”, he says. The interview he kindly granted us is well worth reading.
Cerqueira Leite: On a medium and long term basis our essential environmental issue is global warming; all other issues seem insignificant compared to it. In other words, if we don’t effectively find an alternative to reducing Greenhouse Gas
Emissions (GGE), hydroelectric power will carry on being the alternative with the lowest CO2 generation and other GHG emissions. And the main impact is clearly in the long run, since a hydro-energy plant is built to work for over 100 years.
Of course other options, especially wind power, may be added to systems as secondary energy sources. I say secondary because of the undependability of this type of energy production; the behavior of the wind is inherently hardly ever accurate. NEO MONDO: Why is there, comparatively, so little investment in wind and solar energy in this country: lack of will on the part of the politicians? Lack of interest from the private sector? Lack of planning? Or is it simply not worthwhile? Cerqueira Leite: Investments in hydroelectric plants and similar types clean energy generation take long to break even and Brazilian entrepreneurs are used to recovering their investments in just a couple of years. That’s why investments in hydroelectric plants from the private sector are scarce in Brazil. The solution continues being investments from the public sector or loans made to the private sector at very low interest rates. But Brazilian businessmen have many other investment options of quicker ROI. NEO MONDO: What’s the investment scenario like in the world or in more developed countries? Are there case studies worth replicating and whose solution would be applicable here? Cerqueira Leite: In other countries, interest rates don’t favor speculative investments as generously as in Brazil.
Consequently, the energy segment is somewhat more attractive to the private sector. That’s particularly true in the North America, but not quite so in Europe, where the public sector still runs the energy generation sector. NEO MONDO: Do investments in energy also mean contributing to mitigating the effects of global warming? If so, in what way? Or is there no correlation between the two things? Cerqueira Leite: Investing in fossil fuel energy is obviously the most attractive alternative from a strictly financial standpoint, especially because the time to build such plants is relatively shorter, meaning quicker ROI. However, such choice becomes onerous if GGE is added to the equation. Today, from both a financial and environmental standpoint, the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar mills. As a matter of fact, it’s a shame that only a tiny share of this potential is actually used and that we still don’t take full advantage of it. This potential might be leveraged when Brazil starts exporting ethanol, which brings a two-fold advantage to the world – financially and environmentally speaking – since reduced emissions in importing nations would equally benefit Brazil and the rest of the planet. NEO MONDO: Do you consider positive the initiatives of companies such as The Industrial Union of Sugar Produ-
cers (Unica), who are well advanced in exploiting the potential of the sugar production segment? Cerqueira Leite: I think Unica initiatives and those of other groups have been effective in overcoming barriers set by false assumptions that originated in Europe and “elsewhere in the universe”. But even though the Federal government and some State governments have made an effort, however mild it may have been, to fight such backward ideas, the result is still way below the expectations of the sugar-ethanol production sector. NEO MONDO: When it comes to ‘clean energy’, how do we fare, in Brazil, in relation to other countries, in terms of research, projects, and achievements? Cerqueira Leite: Brazil is at the forefront in terms of hydro energy and sugar-cane ethanol production technology, but we lag behind in terms of solar and wind energy alternatives. Also, when it comes to nuclear power, Brazil has only recently realized that an effort towards incrementing research into science and nuclear technology is necessary, instead of acquiring large-scale energy production projects from abroad. It’s an unforgivable mistake to think that Brazil will ever be competent in nuclear energy technology if we keep on buying outdated white elephants such as Angra 3.
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Profile
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Global warming is an environmental issue; all other issues seem insignificant compared to it. Hydroelectric power will carry on being the alternative with the lowest CO2 generation and other GHG emissions in the long run
Brazil is only somewhat competent in that field because we went against – though a subtle, shy manner – foreign interests by developing our own uranium enrichment system. On account of local interests, which were purely financial, the sugar-cane processing segment very competently developed the 1st generation of refined sugar-ethanol coproduction technology. This happened, above all, because of the bold creation of the ‘Copersucar’ Research Center. However, later on – but not too late – the Federal government decided to create a dedicated research center focusing mainly on the 2nd generation of ethanol production technology i.e.: alcohol produced from cellulose including sugar-cane straw. This initiative is concomitant with the developments brought about by Petrobrás and Embrapa. NEO MONDO: Belo Monte seems to be in the spotlight these days. What’s myth and what’s fact about the costbenefit ratio of this endeavor? Cerqueira Leite: The hissy fits these environmentalists and “eco-morons” are having and the tantrums they’re throwing in public are totally out of line. Belo Monte is but a hydro-energy plant to be built on the Xingu River in the Amazon. This modern version of Brancaleone’s army is made up of rebel-rousing conservationists “of many a species” supported by students armed with good intentions and poor education and the scholars who educated them. Hollywood stars can easily be found in their midst, “amongst other creatures”, alongside myriad foreign and local jugglers, acrobats, and pseudo-intellectual buffoons. I wonder how many of them haven’t ever bought any mahogany furniture. Have they ever taken a formal manifest to their governments? Would they boycott beef or soybeans produced in the Amazon? Don’t they realize that the area to be flooded by Belo Monte represents only 0.01% of the Amazon and 10
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that 0.025% of our cattle would easily use up an equivalent area within the current occupation rates? That means that, as it was planned, Belo Monte, with its running water production technology, has no better option than to be built there, nor is any other location better in terms of sustainability, combining financial advantages and environmental impact minimization. What a blessing it would be if we had not one, but a dozen Belo Monte! NEO MONDO: What do you mean, Professor? Are there only advantages? No downsides? Cerqueira Leite: The most intelligent good-willed “ignocents” (neologism meaning 50% ignorant; 50% innocent) would say: what about biodiversity? Please! Any species spontaneously restricted to a 500 Km2 territory, except for those few confined in restricted islands, is already in extinction! Only an uneducated simpleton would ever consider loss of biodiversity under these circumstances. And of course many species will succumb; thousands, if not millions of ants, worms, and maybe even a couple of mammals. On the other hand, 20 million Brazilians will have electricity in their homes, countless places will be entitled to a little progress and their people will finally be able to watch the ‘Ratinho’ show on TV. Companies will be attracted to those remote regions and create jobs where today there’s mass unemployment. That’s what our “ignocent” whiners fail to realize. They see a tree, but fail to notice the forest around it, without which the tree can’t survive. As for the social issue, one must remember that the Belo Monte Case is very different from that of the Tree Gorges, in China, where the population living alongside river banks was enormous. The Chinese government admits having to relocate 1 million inhabitants; but other organizations claim they were 2, or even 3 million.
NEO MONDO: In your point of view, how good is the relationship and even the partnership between public agencies, such as the Ministry of Mining & Energy and its State and municipal counterparts with the private sector, NGOs, and society at large? Cerqueira Leite: In cases such as that, in which a new opportunity arises, the initial anxiety brings about some conflicting opinions – for example; there was some friction between the public and private sectors with regard to ethanol technology. That’s unfortunate, since the private sector’s objective is merely to develop technologies which may be used by the public sector as well. The same lack of understanding is present between Federal and State government agencies themselves. It seems to be a matter of territorial dispute, which is truly a shame. Nonetheless, such competition has been slowly losing momentum thanks to the intervention of the Ministry of Science & Technology. NEO MONDO: What must be done for environmental studies to become a mandatory subject at all levels of both public and private schools? Cerqueira Leite: Some high schools have added general environmental issues to the courses they teach. Obviously specific subjects will only be formally introduced when several social segments, including State governments, Ministries, and the population at large, become fully aware of the importance of environmental issues. NEO MONDO: You’re a member of important institutions in the national scenario. Would it be possible to briefly describe the key things each of them does with regard to the energy/ environment issues? Cerqueira Leite: Sustainability is becoming a growing concern for all society. And I believe that each of the organizations in which I participate, such as the Science & Technology Council – an agency of the Federal government – has been showing interest in this issue.
NEO MONDO: Regarding the media, during a recent international event in Manaus, the press was asked why they don’t turn environmental issues into one of their flagships instead of treating them as common news. What do you think about that? Cerqueira Leite: Of course, we all like to put the blame for environmental issues on others. The press isn’t any guiltier than any other sector of the economy. For five or six years I had a column in the Folha de São Paulo newspaper named “The Whole and the Fragment”, which didn’t do very well. Maturity towards environmental issues has been gaining momentum in the last few years, especially in Europe. But in Brazil I believe this will only happen once society realizes the hindrance posed by environmentalist radicalism. If a newspaper now made an awareness campaign clarifying the issue it would bear no fruit. The population can’t promptly grasp the importance long-term issues. We shouldn’t expect any miracles. NEO MONDO: What part does each of us have to play to have a better quality of life from a social-environmental point of view; that is: individuals, families, schools, NGOs, companies, and academic-scientific institutions? Cerqueira Leite: I believe that nowadays no one’s openly in favor of deforestation anymore; it’s become a criminal activity. But we must remember that quality of living is directly proportional to better income distribution in the country, better salaries, enough jobs and it’s also a direct consequence of effective investments in education, basic sanitation, and infrastructure. Environmental awa-
reness will surface as a by-product of these other improvements. NEO MONDO: Thank you for the interview. Feel free to leave your message to the readers of NEO MONDO. Cerqueira Leite: The biodiversity issue is becoming a religion rather than an issue of scientific nature. Environmentalists and even scientists are defending the Amazon on account of the economic value of its biochemical resources, of its biodiversity, which is like looking back in time. The pharmaceutical industry, until 1950, truly depended on its knowledge of nature to survive. Today, of all pharmaceutical products, only one in tens of thousands is extracted from nature. Exploiting natural resources was the primal means of survival for humanity in its early evolutionary stages; which was then followed by agriculture, the industrial revolution, computer science, etc. Humans use their intelligence today to synthesize any molecule they might need to meet any imaginable purpose. To think all hopes for Brazil lie on extracting natural resources and on our biodiversity is an unacceptable setback for a modern nation. We must fight against the deforestation of the Amazon and other areas that should be preserved mainly because of the carbon they contain, which, if turned into CO2 through deforesting fires, would be equivalent to burning all petroleum ever used to-date plus all reserves known and yet to be exploited – and that would be a disaster for humanity. We must also preserve such areas in light of their influence on the rain, which is essential to our economy. Last but not least, we must preserve the Amazon because it’s an essential part of our national identity.
Awards and achievements Divulgation
The problem these days is that passionate environmentalists filled with dogmatic and pseudo-scientific radicalism make it hard to foster rational awareness of true environmental issues. This is only natural at the beginning of any cultural revolution, but it’s about time environmentalists, scientists, and governments tune up to the same wavelength and start understanding each other.
For the Emeritus Researcher and Professor, Brazil will not be competent in nuclear energy buying outdated white elephants, such as Angra 3
Rogério Cezar de Cerqueira Leite Among other awards and titles: • National Order of Merit of France • Professor of the University of Montreal, Canada • Professor Emeritus of Unicamp • CNPq Emeritus Researcher • National Order of Merit (Gran Cruz) Author of over 80 works in specialized magazines, which have been quoted over 3,000 times in other publications.
At the forefront of education ever since a student • Electronic Engineering degree from the Air-force Technology Institute (ITA) • PhD in Physics – Solids – University of Paris • Professor at ITA and Unicamp • Director of the Physics Institute and General Faculty Coordinator of Unicamp
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O Calor que vem E
m termos de energia térmica, o interior do nosso planeta é uma fonte inesgotável, considerando a escala de tempo humano. A transferência de calor da Terra ocorre por meio de três mecanismos: Condução: que acontece pela transferência de calor entre moléculas pelo contato físico entre elas. A condução depende da estrutura molecular do material. Convecção: que é a transferência de calor pelo deslocamento de um fluido, que ocorre no núcleo externo da Terra. Radiação: os objetos emitem radiação eletromagnética. Esse processo pode ocor-
rer quando os dois mecanismos acima são impossíveis, pois independe do contato molecular e torna-se particularmente eficiente quando a temperatura ultrapassa os 1.000o C. Esse é o mecanismo principal de transferência de calor do núcleo da Terra para as camadas mais periféricas. A conversão do calor natural do interior da Terra em energia (geotérmica) para aquecimento e geração de eletricidade é usada desde o início do século XX. No entanto, o interesse por esse tipo de energia aumentou na década de 70, com a crise do petróleo. Constitui-se numa fonte de energia limpa, uma vez que o vapor e a água
Potencial anual de energia geotérmica (EJ) Categoria Recursos acessíveis Recursos acessíveis sem utilidade
Energia 140 000 000 600 000
Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)
5 000
Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)
500
Fonte: Palmerini, 1993; Bjornsson et al, 1998. 12
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geotermal não produzem resíduos e geralmente contêm baixa quantidade de CO2. O aproveitamento dessa fonte exige regiões com fluxo alto de calor, onde a fonte é relativamente próxima da superfície (3-10 km). Locais apropriados são onde ocorrem gêisers com atividade vulcânica recente ou outros pontos quentes como, por exemplo, os do Parque de Yellowstone (EUA). Os gêisers se caracterizam como uma atividade ligada à interferência de calor do magma com a água subterrânea, caracterizado por jatos intermitentes de água quente e vapor que surgem através de fraturas na crosta da Terra. Os vapores geotermais são empregados em usinas de produção de eletricidade em regiões da Europa, Nova Zelândia, Japão, Islândia, América Central, América do Norte e América do Sul. O maior campo de exploração localiza-se na costa da Califórnia (EUA), com uma produção atual de 1.200 MW de energia, suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de pessoas. No Brasil as águas quentes são usadas em algumas regiões com a finalidade de lazer, em balneários com piscinas aquecidas por essas fontes naturais. Presidente Pru-
Denise de La Corte Bacci
de dentro dente (SP), Termas do Rio Quente (GO) e de Gravatal (SC) são locais bem conhecidos. Dependendo das características geológicas locais, os sistemas de aproveitamento das fontes geotermais são diferentes. Os mais conhecidos são aqueles que compreendem reservatórios naturais de água e vapor em profundidade, que recebem o calor constante do magma. Próximo à superfície, onde a pressão é menor, a água flui na for-
ma de vapor superaquecido que é captado e canalizado para turbinas que produzem a energia elétrica. Nesse sistema, a recarga de água subterrânea lenta permite que as rochas quentes convertam a água em vapor. O aproveitamento geotérmico se dá pela captação de água quente em perfurações feitas a até 2 mil metros. Através dos poços, o vapor é conduzido até a central elétrica geotérmica. Tal como numa central elétrica nor-
Usina Geotermal Turbina
Gerador
Referência Bibliográfica Taioli, F. Recursos Energéticos e meio ambiente. In: Teixeira, W.; Fairchild, T.R.; Toledo, M.C.M.; Taioli, F. Decifrando a Terra. Companhia Editora Nacional, 2ª edição. 2009. São Paulo. Cap 18. (p. 486-507).
Vapor de isobutano
Ar e vapor de água Condensador Isobutano Ar Trocador de calor
Água
Torre de resfriamento
Ar Água
Fluido frio
Fluido quente Bomba Furo de produção
mal, o vapor faz girar as lâminas da turbina como uma ventoinha. A energia mecânica da turbina é transformada em energia elétrica através do gerador. A diferença destas centrais elétricas é que não é necessário queimar um combustível para produzir eletricidade. Após passar pela turbina o vapor é conduzido para um tanque onde vai ser resfriado. A fumaça branca que se vê saindo das usinas é o vapor que se transforma novamente em água no processo de resfriamento. A água é de novo canalizada para o reservatório onde será naturalmente aquecida pelas rochas quentes. Os impactos ambientais provenientes do aproveitamento intensivo das fontes geotermais são menores que os de outras fontes, considerando sua extensão e que não é necessário o transporte de matéria prima ou beneficiamento de combustível. No entanto, seu aproveitamento ocorre em locais muito particulares, nos quais os condicionantes geológicos são favoráveis. Os impactos, dessa forma, também são locais, constituindo em ruídos e geração de gases. No entanto, não há queima ou disposição de resíduos na geração de energia.
Reinjeção da água
Denise de La Corte Bacci Graduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP. E-mail: bacci@igc.usp.br Neo Mondo - Julho 2010
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Neo Mondo - Outubro 2008
No alvo,
Três eventos ocorridos em junho voltados para a temática da Energia Limpa mostraram que segmentos essenciais para a consolidação de uma consciência em torno da questão estão ativos e amadurecem a passos largos. O primeiro, em 8 de junho, incluiu no roteiro da candidata à Presidência da República, Dilma Roussef, uma visita a um centro de alta tecnologia para pesquisa de biomassa e motores verdes implantado pela Vale do Rio Doce, em São José dos Campos. O segundo, entre 8 e 10 de junho, foi um Seminário sobre Fontes Renováveis de Energia na Aviação, também em São José dos Campos, o mais importante polo aeroespacial do Hemisfério Sul. Este reuniu empresas, pesquisadores e construtores para discutir questões
voltadas para os desafios da redução de emissão de CO2 e emprego de fontes renováveis de energia em aeronaves e aeroportos. E por fim, em São Paulo, nos dias 16 e 17, houve o mais importante desses eventos: o 7° Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (COBEE), abordando uma sólida pauta visando a “enfrentar a competição no pós-crise em uma economia de baixo carbono e menor desperdício”, ao lado de uma bem organizada exposição de produtos sobre o tema. O Cobee é o maior evento multissetorial a tratar da eficiência energética em todo o Brasil. Neo Mondo acompanhou os três eventos e disponibiliza nesta edição especial uma amostra do que foi abordado nestes encontros.
Especial - Energia
na campanha Parceria público-privada viabiliza centro de alta tecnologia, voltado a estudos de energia limpa, tema que deveria constar de programas eleitorais de candidatos à Presidência Divulgação
Antonio Marmo
Funcionários no laboratório da VSE: gaseificação a partir do carvão, turbinas a gás e a vapor, motores de combustão interna e a busca por geração de energia a partir do etanol, para substituir o diesel poluidor são as preocupações da empresa
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reocupada em amarrar sua imagem a uma agenda verde como contraponto à sua declarada adversária nesta área, Marina Silva, a candidata à Presidência da República, Dilma Roussef – vale lembrar, uma expert em energia – incluiu em sua agenda de início de campanha visita 16
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a uma unidade experimental da Vale do Rio Doce, instalada em São José dos Campos. A VSE ou Vale Soluções Energéticas foi criada em dezembro de 2007, com o objetivo específico de pesquisar e desenvolver sistemas integrados para geração distribuída de energia limpa com uma estimativa
de investimento da ordem de US$ 720 milhões em projetos entre 2008 e 2012. O investimento é resultado de uma associação entre a Vale do Rio Doce, que detém 52% da composição acionária, o BNDES (45%) e a Sygma Tecnologia (3%). A VSE será, na prática, o Centro de Desenvolvimento Tecno-
Divulgação
lógico em Energia (CDTE), empresa com sede no Rio de Janeiro e filial em Belo Horizonte, mas fisicamente instalada numa área de 100 mil m2 no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista. O Centro funciona como uma rede aberta de pesquisa e desenvolvimento, com áreas de atuação divididas de acordo com a tecnologia aplicada: gaseificação; turbinas a gás e a vapor; motores de combustão interna e a busca por geração de energia a partir do etanol, para substituir o diesel poluidor. Em 2009 foram realizados testes com os protótipos de turbinas e gaseificadores desenvolvidos pela empresa, realizados par a par com a construção do Centro Tecnológico.
Dilma Roussef busca uma agenda verde para contrapor-se a Marina SIlva, sua adversária mais próxima nestes temas. José Serra dedicou 10 linhas de seus discursos a esta questão
PROJETOS EM ANDAMENTO Geração distribuída Até julho de 2011 a empresa se propõe a produzir turbinas de pequeno porte. As tecnologias recentes têm permitido que se construam geradores de dimensões bastante reduzidas, muito eficientes, seguros, fáceis de adquirir e de operar, visando a geração distribuída ou a geração de energia próxima do consumidor final. Além disso, encontra-se também em desenvolvimento uma tecnologia que viabilizará o projeto de centrais de geração compactas de alta potência para o mercado de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). O objetivo da VSE é o desenvolvimento de uma família de turbinas para minitérmicas, com potencial para competir no mercado de energia.
IGCC de porte médio, utilizando gaseificadores térmicos de 60 e 70 MW, o que irá proporcionar geração distribuída de energia elétrica de forma limpa e eficiente. Nota da redação: dentre as diversas tecnologias de combustão disponíveis para produção de energia elétrica com base em carvão destacam-se a PCC ou carvão pulverizado, a CFBC ou leito fluidizado com recirculação e esta IGCC que é o ciclo combinado com gaseificação integrada de carvão. O carvão mineral é a segunda fonte de energia primária no mundo, mas representa a principal posição na geração de energia elétrica. A produção mundial está no nível de cinco bilhões de toneladas anuais e as
reservas são enormes, assegurando o suprimento nesse ritmo por 200 anos, ao passo que as reservas conhecidas de petróleo – primeira fonte – não garantem mais meio século de vida útil. O carvão é o único combustível fóssil cujo suprimento permanecerá, durante uma parte do século XXI, existindo em grande quantidade e a custos relativamente baixos. Trata-se, portanto, de um dos principais combustíveis substitutos disponíveis para atenuar a transição da era atual de petróleo e gás natural abundantes para uma fase futura de recursos energéticos renováveis, gaseificação do carvão até o processo de metanização e a produção do hidrogênio - em sistema híbrido com as demais energias.
Gaseificadores a carvão Um terceiro leque de projetos busca a criação de uma nova geração de gaseificadores para produção de gás combustível a partir de carvão, biomassa ou resíduos. O objetivo é atender às necessidades de energia da própria Vale do Rio Doce, mas também do mercado. Neste leque persegue-se o desenvolvimento de centrais termelétricas do tipo
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Motores multicombustíveis Busca-se, ainda, o desenvolvimento de uma família completa de motores multicombustíveis (etanol, gás natural, biogás, gás de síntese obtido por gaseificação de biomassa e carvão), para aplicações em geração de energia elétrica estacionária e em veículos pesados híbridos, como ônibus, caminhões, tratores e colheitadeiras.
Protótipo de motor aeronáutico com energia verde. Motor já foi cedido ao ITA para estudos conjuntos
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Especial - Energia
Energia do etanol A Scania e a Vale Soluções em Energia (VSE) assinaram em Estocolmo, na Suécia, memorando de entendimento para acordo de cooperação tecnológica visando ao desenvolvimento, no Brasil, de um projeto inédito na América Latina, buscando motores para geração de eletricidade a partir do etanol e do gás natural. Trata-se da primeira parceria entre uma empresa brasileira e uma sueca voltada para o desenvolvimento e integração de uma família de motores movidos a combustíveis alternativos. O rei Carl XVI Gustaf em sua recente visita ao Brasil não deixou de marcar presença na VSE
ao lado do secretário de Estado para Comércio Exterior da Suécia, Gunnar Wieslander, e do presidente da Scania Brasil, Sven Antonsson A VSE buscará transformar os motores básicos da empresa em motores para diversas aplicações, entre as quais, geradores de energia limpa, utilizando como combustível o etanol ou etanol combinado com gás natural. O diferencial é a utilização de 100% de etanol na geração de energia, sem emissão de gases poluentes. Quando comparado ao diesel, o uso do etanol possibilita significativa redução da emissão de gases do efeito estufa, emitindo
cerca de 68% a menos de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Os motores em teste já apresentam redução nos níveis de ruído, se comparados a motores que funcionam com óleo diesel. A potência máxima de operação pode chegar a 500 kW, o que daria para abastecer uma cidade com cerca de 2,5 mil habitantes. Futuramente, os motores serão utilizados para gerar eletricidade e mover bombas e compressores em maquinários utilizados nas indústrias de mineração e agricultura. O mercado brasileiro para motores estacionários nestes segmentos é estimado em 3.000 unidades por ano.
AS CENTRAIS DE BOLSO Diante de cenários de escassez de reservas e ameaças ambientais, o mundo corre atrás de formas complementares ou alternativas para gerar energia
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Tecnológico. A própria Vale entrou com R$ 300 milhões; Prefeitura e governo do Estado entraram com R$ 100 milhões. Driblando racionamentos Além de maior consciência para a busca de sustentabilidade ambiental, estes esforços todos envolvendo inovação, energia e ambiente estão intimamente ligados a cenários de racionamento de energia, hoje já mais distantes que em anos passados até mesmo diante do volume excepcional de chuvas entre 2009 e 2010 mas sempre presentes no horizonte. As empresas estão implementando sistemas mais modernos, especialmente a troca de caldeiras movidas a biomassa, que são até três vezes mais eficientes na geração de eletricidade.
A própria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) já se convenceu de que a produção de energia por biomassa tem o potencial de gerar até seis gigawatts (GW), o que seria equivalente à geração de eletricidade de duas hidrelétricas do Rio Madeira (RO). No Parque Tecnológico de São José dos Campos, Dilma foi recepcionada pelo diretorgeral, Marco Antônio Raupp, que fez uma apresentação técnica no auditório. Em seguida, a petista seguiu para uma visita ao local, que tem aproximadamente 12,5 milhões de metros quadrados, passando pelo laboratório da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), pelo Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi), que abriga diversas incubadoras de empresas, e pela Vale Soluções em Energia.
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Para entender os avanços: em contraposição às centrais convencionais e como meios complementares e alternativos de produção de energia elétrica, busca-se no mundo todo o desenvolvimento de novos tipos de centrais em vista da atual e futura situação das reservas energéticas de combustíveis, bem como de preocupações relativas à poluição do ambiente. Estas formas de produção de energia de menor dimensão são englobadas no conceito de geração distribuída que pode incluir várias formas de produção de energia elétrica, quer sejam de fontes renováveis ou não. Aqui destacam-se as microturbinas a gás, pilhas de células de combustível, grupo gerador multicombustível, a cogeração, mini-hídricas, centrais de biomassa módulos solares fotovoltaico e as turbinas eólicas. Sendo ela mesma uma voraz consumidora de energia, a Vale prevê que a primeira unidade de gaseificação de carvão e biomassa será implantada na Alunorte, no Pará. O gás gerado substituirá o óleo combustível na geração de energia, o que reduz as emissões de poluentes atmosféricos. O maior investidor no Parque Tecnológico foi o governo federal. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e mesmo o MEC investiram quase R$ 500 milhões no Parque
Parque Tecnológico de São José dos Campos
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Por céus de
BRIGADEIRO O terceiro evento de junho voltado para a energia limpa mostrou preocupação em preservar céus de brigadeiro sempre azuis, mantendo o espaço aéreo livre da emissão de CO2. Profissionais ligados ao setor aeroespacial discutiram durante dois dias em São José dos Campos como implementar fontes de energia renováveis na aviação. Antônio Marmo
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or ser extremamente dependente dos combustíveis fósseis o transporte aéreo é o maior emissor de CO2 per capita no mundo, mas os números divergem conforme a metodologia de cálculo. Para a International Civil Aviation Organization (CAO), um passageiro que voa de São Paulo para Tóquio (Narita) no Japão, emitirá cerca de 1,5 tonelada de CO2 no voo, quantidade que deveria ser emitida pelo passageiro durante um ano inteiro. Já a quantidade de emissão de CO2 por um único passageiro, em uma viagem de Miami ao Rio – calculada pelo programa Atmosfair –, por exemplo, é
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de 2,4 toneladas de CO2, o equivalente a 65,35 euros no mercado de carbono. As emissões de gases pelas aeronaves correspondem a 3,5% das emissões globais de gases do efeito estufa com estimativa de dobrar este nível nos próximos 15 anos. Mas há um alerta positivo: estimase que 18% do combustível queimado pela aviação no mundo seja resultado da ineficiência da infraestrutura e das medidas operacionais. Isto significa quase 150 milhões de toneladas de CO2 emitidas que poderiam ser poupadas simplesmente pela adoção de novos parâmetros operacionais.
Foi para discutir saídas para tais impasses que profissionais ligados à aviação reuniram-se durante dois dias em São José dos Campos, o maior polo aeroespacial do Hemisfério Sul, entre 8 e 10 de junho, num Seminário sobre Fontes Renováveis de Energia na Aviação. A cidade sediou, paralelo ao encontro, a 12ª Feira Internacional de Aeronáutica e Defesa – Expo Aero Brasil, o maior evento em aviação civil da América Latina. No encontro os pesquisadores mostraram resultados de seus trabalhos voltados para a busca de combustíveis e motores alternativos e infraestruturas adequadas a uma economia de baixo carbono, como os aeroportos solares.
AEROPORTOS SOLARES Acolhendo mais de 5 bilhões de passageiros/ano, os aeroportos do mundo todo são passarelas para formadores de opinião ou tomadores de decisão. Assim, seus espaços vêm-se convertendo em vitrines para novas tecnologias poupadoras de energia.
Medindo em megawatt/hora Para exemplificar, lembra-se que o maior aeroporto do mundo, o de Pequim, tem uma área de 986 mil metros quadrados. A administração do aeroporto quer aquecer 315 toneladas de água por dia, utilizando apenas a energia solar, que pode permitir o preparo de até 30 mil refeições por dia. Ela lembra que “na região mais ensolarada da Alemanha o nível de radiação solar é 40% menor do que na região menos ensolarada do Brasil. E na Alemanha, foram instalados 10 mil m2 de módulos no aeroporto de Saarbrucken e 1.685 módulos ou placas solares em Colônia. No Brasil, com toda essa exuberância de sol tropical, pesquisas mostram que há capacidade para se aplicar módulos solares nos Aeroportos Internacional de Brasília (22 mil m2 de placas), Rio (até 70 mil m2), Guarulhos com 54 mil m2 e Florianópolis (14 mil m2), usando-se três tipos de tecnologia.
Em função da enorme radiação solar na região do Cerrado, em Brasília é possível calcular a capacidade de geração de energia em megawatt-hora, ou MWh. Já em Guarulhos, por exemplo, com seus 54 mil m2 a potência seria medida em megawatts/pico ou MWp. Vale dizer, no entanto, que a demanda de Guarulhos e Rio por energia é bem maior do que em Brasília. Por isso a capacidade de geração do equipamento solar nesses dois aeroportos cai. Antecipando-se a Kioto 2012 A Infraero, segundo Priscila, tem tomado medidas preventivas voluntárias, antes de ser obrigada por Kioto-2012. No entanto, o setor está clamando por uma indústria nacional consistente de módulos solares. Hoje tais módulos são ainda um sistema caro. No Brasil ainda não há incentivo. EUA, Alemanha, a Europa toda financiam boa parte do sistema. Mas, a cada vez que a produção acumulada dobra, o custo da produção diminui em cerca de 20 %. Calcula-se que em 2020 o custo da tecnologia fotovoltaica poderá ser inferior a um dólar por watt instalado. A sofisticação simplificada Segundo a pesquisadora, “a tecnologia solar é tecnologia de ponta mais simples de usar. É um sistema sem peças móveis, de baixa manutenção e operação desassistida. Basta um controlador de carga, um banco de baterias e se necessário um inversor de corrente contínua para alternada. Isso é válido para sistemas iso-
lados; no caso dos aeroportos solares, a ideia é que eles sejam conectados à rede ou smart grid”. A maioria das tecnologias hoje disponíveis no mercado é com base no silício cristalino ou combinação de filmes finos. Estática e silenciosa, esta tecnologia promissora de geração elétrica proporciona a possibilidade de aplicação junto ao ponto de consumo. A tecnologia de silício cristalino domina o mercado de módulos fotovoltaicos. Nos estudos para o aeroporto de Florianópolis, Priscila calculou que se fosse adotado um aumento de R$ 0,20 (vinte centavos de reais) na taxa de embarque, os resultados mostravam que se os 96 milhões de passageiros que utilizaram o transporte aéreo no Brasil pagassem essa sobretaxa, seria possível instalar um sistema fotovoltaico de 1,4 megawatt/p em menos de um ano no aeroporto de Florianópolis. Vitrine tecnológica A integração dos sistemas fotovoltaicos em aeroportos poderia suprir em 100% a demanda de energia elétrica dessas edificações. A metodologia de pesquisa e implantação procura otimizar a integração de sistemas, buscando tornar os aeroportos uma vitrine da tecnologia para a sociedade. E ainda: utilizando a energia solar nos aeroportos em substituição a outras fontes de energia poluidoras, viabilizaria negociações no mercado internacional de carbono sob a forma de títulos de crédito compensando as emissões causadas pelo transporte aéreo, conclui Priscila. Divulgação
A catarinense Priscila Braun, do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) da Universidade Federal de Santa Catarina, foi didática em sua explanação sobre os Aeroportos Solares para mostrar o potencial da geração solar fotovoltaica integrada a complexos aeroportuários. Segundo a pesquisadora, o aumento da utilização do transporte aéreo nos últimos anos faz com que aeroportos no mundo estejam em constante expansão e modernização para acomodar a crescente demanda. Em 1998, 1,3 bilhão de pessoas viajaram de avião. Em 2004 foram 4 bilhões de passageiros e em 2009 estamos próximos dos 7 bilhões. Este número cresce em média 5% ao ano. No Brasil cresceu 12% em 2009. A maioria desses passageiros é composta por formadores de opinião ou tomadores de decisão, lembra Priscila. Assim, tipicamente ocupando grandes áreas, ensolaradas ou livres de sombreamento, com características de construção horizontais, os aeroportos aparecem como um grande potencial para a aplicação dos sistemas fotovoltaicos, buscando tornar os aeroportos uma vitrine da tecnologia para esses usuários influentes e a sociedade como um todo.
Aeroporto de Florianópolis mira Copa de 2014; espaço para instalar 33 mil m2 de placas
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O QUEROSENE VERDE DO EXPEDITO
Drawlio Joca
A partir de um pé de ingá de seu sítio, o engenheiro químico Expedito Parente tornou-se referência mundial em pesquisas com biomassa. Detentor da primeira patente internacional do bioquerosene para aviação, hoje ele só espera a homologação do produto.
O cientista Expedito Parente, exemplo de persistência e simplicidade, aguarda homologação para seu combustível verde: o bioquerosene para aviação que lhe deu o mais importante prêmio científico da ONU, o Troféu Céu Azul.
Desprezado no início de seu trabalho praticamente artesanal, o engenheiro químico Expedito José de Sá Parente, 67 anos, cearense de Fortaleza, graduado pela Escola Nacional de Química, no Rio, especializado em estudos de biomassa para fins energéticos, químicos e alimentares, acabou virando referência mundial como pesquisador persistente e abnegado. Ele foi um dos convidados de honra no encontro de São José dos Campos para mostrar que “o bioquerosene – subproduto do biodiesel, criado por ele a partir do babaçu -- será como a terceira onda. Terão outras. Acho que um dia haverá a bioeletricidade”. No dia 24 de outubro de 1984, Dia do Aviador, um Bandeirante da FAB decolou, de São José dos Campos, usando o bioquerosene como combustível. O teste foi um sucesso! Mas, pasme-se, após criar e patentear o biodiesel e bioquero-
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sene – para aviões – no início da década de 80, o então professor da Universidade Federal do Ceará viu seus produtos engavetados no final do regime militar. Foram preteridos pelo álcool. Em maio de 2006, Expedito foi chamado a uma reunião em Seattle, com representantes da Nasa (agência espacial norte-americana), do governo dos EUA e da Boeing, a maior fabricante de aviões no mundo. Continuou suas pesquisas do bioquerosene com esta empresa. Em dezembro de 2009 foi convidado para o voo inaugural do Boeing 787. Mas, para ele, o reconhecimento mais importante veio mais de 20 anos depois da descoberta: “Recebi na China, em dezembro de 2005, o Blue Sky Award (Troféu Céu Azul), o mais importante prêmio de tecnologia e ciência concedido pela Organização das Nações Unidas. O prêmio foi concedido por causa da descoberta do bioquerosene. Expedito insiste sempre que o álcool é um combustível solitário, para veículo de passeio. O biodiesel é coletivo, para ônibus, caminhões, trens, navios, máquinas agrícolas e geração de energia. Por isso, o programa do biodiesel chegará a ser maior do que o do álcool. NEOMONDO: O que ainda impede a adoção do bioquerosene pela aviação? Expedito: Não há mais nenhum obstáculo. O que tem que acontecer é a homologação desses combustíveis, que pode levar de dois a três anos, talvez. Eles já estão sendo testados pela Boeing e mesmo pela Nasa. A homologação sairá. NEOMONDO: Como o senhor chegou ao biodiesel? Expedito: Eu tive uma inspiração em 1977, tomando banho de cachoeira em meu sítio perto de Pacoti –
região serrana do Ceará – observando o fruto do ingá, que tem óleo na semente. Olhei para o pé de ingá e veio a inspiração: vi ali a molécula do biodiesel. No outro dia, surgiram os primeiros 100 ml de biodiesel a partir do óleo do algodão Quando concebi a ideia, em um domingo, já estava com o processo na cabeça. Na segunda-feira, fui para o laboratório e fiz a reação química. Foi muito fácil. Para fazer a transesterificação, utilizei óleo de algodão e metanol. O resultado foi o biodiesel, idêntico ao que conhecemos hoje. NEOMONDO: Por que a ideia só renasceu nos anos 90? Expedito: Cresceu a consciência da finitude do petróleo e dos danos causados por sua queima. Energias limpas hoje têm mais visibilidade. Quando a ideia do biodiesel foi ressuscitada na Alemanha e Áustria (1991), passou a ser referência para os países em desenvolvimento, como o Brasil. A outra razão é política: Lula comprou a ideia do biodiesel. Razão forte que fez o programa ser reiniciado aqui. NEOMONDO: Qual a tendência daqui pra frente? Expedito: A tendência é que haja uma substituição gradual e completa do petróleo por combustíveis alternativos. Sim. Essa substituição vai acontecer de qualquer jeito. A demanda pelo petróleo vem crescendo exponencialmente. A média de consumo mundial no semestre passado foi de mil barris por segundo, um número que a atmosfera não aguenta. Os biocombustíveis vão ser uma alternativa importante, não para solução definitiva, mas para diminuir traumas do consumo de energia pela humanidade. Mas a energia solar será, a meu ver, a grande energia do futuro.
COMEÇA NO PLANO DE VOO Decisões visando agilizar operações e gerar maior fluidez no tráfego aéreo podem diminuir consideravelmente as emissões Cerca de um quarto das emissões globais são geradas pelo setor de transportes dos países industrializados. Um dos palestrantes, especialista em controles operacionais, o comandante Laert S. Gouvêa, insistiu na “importância da otimização de operações nesta área para redução de emissões”. Ele mostrou que no caso da aviação a eficiência dos motores melhorou de forma significativa desde que se entrou na era dos jatos. Hoje um motor é 70% mais eficiente do que há 40 anos. Um jato moderno gasta 3,5 litros por passageiro a cada 100 km, e os modelos Boeing 787 e A380 gastam 3 litros por passageiro a cada 100 km em rotas longas, um desempenho claramente mais eficiente que nos carros. Na comparação de consumo por pax (sigla para passageiro) em diferentes distâncias, se vê que em voos entre São Paulo e
Sul e Sudeste o consumo é de 10 litros, entre o Norte e Nordeste é de 7.5 litros e entre EUA e Europa, de 6 litros a cada 100 km.
foi encurtada em 115 milhas, representando um economia de aproximadamente 500 kg de combustível em cada voo.
Eficiência operacional Segundo o comandante, que já pilotou na Esquadrilha da Fumaça, só a influência do controle de tráfego aéreo é responsável por volta de 6% a 12% do CO2 emitido. Por este motivo são necessárias as medidas operacionais que visem dar maior fluidez ao tráfego, e agilidade das operações pode colaborar claramente na diminuição destes volumes. Com a ajuda das inovações tecnológicas e soluções criativas, algumas ações com este objetivo já foram possíveis, como o encurtamento de rotas. Cada rota entre Europa e China foi reduzida em 15 minutos, isto representou uma redução de 84 mil toneladas de CO2 ao ano. A rota entre Curitiba e Campinas
Coincidência de interesses Para o comandante Laert Gouvêa, “a grande vantagem deste setor é que a maioria das medidas necessárias para redução das emissões é a mesma das que fomentam o desenvolvimento econômico da atividade”. Desenvolver um motor mais eficiente ou voar rotas mais curtas, por exemplo, está em perfeita harmonia com os interesses econômicos e sustentáveis da atividade. Mas para isso é fundamental que o sistema se torne cada vez mais inteligente, ágil e eficiente, acompanhando o desenvolvimento tecnológico buscando sempre resultados satisfatórios, a começar pela otimização burocrática ou planos de voo.
O poste cearense Por falar em cearense, o engenheiro mecânico Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eóllic, um outro professor Pardal daquelas paragens, testa após uma gestação de sete anos, com apoio do governo local, o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energia eólica e solar. um gerador – é capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas). Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão. As baterias do poste híbrido têm autono-
mia para 70 horas, ou seja, se faltarem vento e sol 70 horas, ou sete noites seguidas, as lâmpadas continuarão ligadas. O inventor arranjou um padrinho forte: o governo do Ceará. O projeto pode ser visto no Palácio Iracema, onde passa por testes finais. Divulgação
O poste, feito de aço e com altura que varia de 12 a 18 metros, denominado Produtor Independente de Energia (PIE), possui como peças-chave um avião de três metros de comprimento feito em fibra de carbono e alumínio especial e bateria montados no topo. O avião tem células solares de silício em suas asas que captam e transformam em energia elétrica os raios ultravioletas e infravermelhos. Esta energia fica armazenada na bateria instalada logo abaixo do avião. As hélices do aviãozinho funcionam como as pás dos moinhos de energia eólica. Quando giram impulsionadas pelo vento, elas produzem até 1.000 watts de energia que também vai para a bateria. A captação (do sol e do vento) pelo avião é feita em um eixo com giro de 360 graus, de acordo com a direção do vento. São duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo. Cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo. Ou seja, um poste com um “avião” – na verdade
Projeção em computação gráfica da Avenida Washington Soares, uma das mais movimentadas de Fortaleza, com a utilização do poste híbrido
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Especial - Energia
Encontro sobre eficiência energética reúne pesos-pesados da conservação de energia, grandes usuários e profissionais em 16 painéis de debates e 80 palestrantes
O Brasil joga fora nada menos que R$ 17 bilhões por ano com o desperdício de energia. Empresas que buscam a eficiência energética sabem que isso é muito dinheiro e correm atrás para diminuir esta cifra dentro de uma economia de baixo carbono. Para os organizadores do 7º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, “ninguém pode parar o crescimento da população mundial nem a demanda por energia. Mas todos podem mudar a forma de utilizar esta energia e reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa”. Antônio Marmo
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Economia de baixo carbono De caráter eminentemente técnico, esta edição do Congresso aprofundou temas práticos, de natureza tecnológica, úteis para as empresas que estão preparando-se para a competição no pós-crise, pois em todo o mundo as corporações estão reduzindo desperdícios e adaptando-se à uma economia de baixo carbono.
O evento propôs-se a “difundir práticas sustentáveis e tecnologias que contribuam para o uso racional de energia e ao mesmo tempo tragam mais competitividade e lucros para as empresas, oferecer soluções para a eficiência em grandes edificações, processos industriais e gestão de utilidades, apresentando casos de sucesso, tecnologias, opções de energéticos e linhas de crédito e serviços de apoio à implantação de programas de eficiência energética”. Por isso, as empresas estão empenhadas em intensificar a adoção de programas de racionalização de energia porque os investimentos necessários podem propiciar um retorno em dois anos e podem economizar até 10% de energia após 12 meses. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a tendência é de as empresas ampliarem tais programas de economia de energia, pois estão interessadas em minimizar os riscos de fornecimento, em meio a uma conjuntura econômica marcada por um ciclo de expansão, como atestam os índices excepcionais destes dois últimos trimestres de 2010, próximos a índices chineses. 17 bilhões jogados fora Nas estatísticas dos organizadores, o mercado de eficiência energética no Brasil cresceu cerca de 15% entre 2008 e 2009, fechou 2009 representando um negócio de R$ 900 milhões de reais. Mas a Abesco prevê um estouro no crescimento do mercado em 2010: de 30% a 40%. Mas, segundo os dados divulgados no Congresso, só com o desperdício de energia o Brasil joga fora nada menos que R$ 17 bilhões por ano. É um número astronômico.
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ntre os dias 16 e 17 de junho, em São Paulo, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), com patrocínio do calibre de um BNDES, Petrobrás, Eletrobrás, Furnas e Light-Esco, reuniu mais de 600 congressistas, órgãos públicos, bancos, grandes usuários de energia e profissionais em torno de 16 painéis de debates e palestras e rodadas de negócios, com 80 palestrantes para o 7º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (COBEE). O COBEE reuniu entre esses participantes os presidentes das principais associações empresarias do setor: Ricardo Lima, da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres- Abrace; José Starosta, presidente da Abesco; e Jamilton Lobo, coordenador do grupo de eficiência da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia (Abradee). A Abesco representa mais de 80% de todo o setor de preservação e economia de energia do país. Fundada em 1997, com abrangência nacional, a entidade reúne 25 fabricantes de produtos e provedores de serviços de energia eficiente; instituições acadêmicas; agentes do setor energético; além de 60 empresas na categoria “ESCO” (de serviços de conservação de energia).
Alexandre Behrens falou sobre o primeiro programa privado de eficiência energética - Sinergia - com foco no público industrial e comercial
Mas o potencial de redução de energia por classe de consumidor é de 38% no setor industrial, 35% no setor público e 27% no comercial. A média de retorno de investimento é de 36 meses. Em 21 de junho de 2009 surgiu o Programa Sinergia, que é a união de um grupo de empresas privadas com o objetivo de criar soluções integradas para a racionalização programada e eficiência energética, direcionado ao público industrial e comercial de grande porte (indústrias, redes de supermercados, aeroportos, hotéis e shopping centers). Os organizadores enxergam benefícios de toda sorte em um programa como este: primeiro, para a engenharia que minimiza custos de instalação; depois, na manutenção que reduz períodos de indisponibilidade. E ainda para a produção que maximiza disponibilidade, para a contabilidade que maximiza resultados financeiros da planta e, finalmente, para os investidores que maximizam o valor de suas ações.
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Especial - Energia
EFICIÊNCIA E INTEGRIDADE AMBIENTAL Vivemos em um mundo em perigo onde energia é custo e este custo está aumentando. Logo, eficiência energética, integridade ambiental e aquecimento global estão relacionados. Divulgação
• Interfaces simples e efetivas entre a rede e os sistemas de gerenciamento de energia dos prédios irão permitir usos mais eficientes e menores custos de eletricidade. • Será possível programar o uso de energia para tirar partido de políticas de preço diferenciado (em sinais de redução de carga programada, ou sinais de redução de emergência). • Condicionadores de ar terão um programa de uso otimizado com as tarifas, em uma base dinâmica, conforme período do ano (seco ou úmido), temperatura ambiente e horário do dia. Cyro Bocuzzi preside o Fórum Latino Americano de Smart-Grid. Ele entende que só novas tecnologias nos farão chegar ao próximo real economizado com o consumo energético
Uma das palestras mais acessíveis do evento – a maioria delas abordou temática especializada mas de especial interesse para cada participante – foi proferida por Cyro Vicente Bocuzzi, presidente da ECOee e do Fórum Latino-Americano de Smart Grid. Discorrendo sobre o tema “Redes Inteligentes e a Gestão Energética nas Empresas”, ele foi claro ao mostrar que: “Vivemos em um mundo em perigo”. Hoje, “energia é um custo e este custo está aumentando. As fontes de energia estão ou declinando ou em risco político. Assim, eficiência energética, a integridade ambiental e aquecimento global estão agora relacionados”. Para ele, “a eficiência energética é a única estratégia viável a curto e médio prazos. Onde achar o próximo real de economia de energia? Só apresentando uma nova tecnologia para a realidade energética de hoje”. A nova tecnologia, segundo ele, terá que englobar as chamadas “redes inteligentes” ou smart grid. Elas envolveriam qualidades capazes de azeitar a transição da matriz energética tradicional para fontes renováveis, unindo tecnologias como uso de supercondutividade, preços flexíveis e arquitetura plug-n-play (plugue e use).
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Energia em micro-escala O início da construção dessa nova rede faz parte do pacote de estímulo econômico do presidente Barack Obama. Nessa rede deve haver mecanismos para incluir a “geração distribuída” em pequena escala que também chegou para ficar. Por isso é hora de pensar na smart grid e armazenamento de energia, já que será possível produzir energia em micro- escala, de fontes não firmes (fotovoltaica e eólica). A geração distribuída de forma inteligente transforma potencialmente a cidade inteira em uma usina, com perdas mínimas de transmissão. Faz sentido também, segundo Cyro, dotar os prédios com capacidade de armazenamento. E ele entende que, a partir do uso em larga escala, também os veículos teriam incrível capacidade de armazenamento para as redes elétricas. Assim, “a nova rede proverá energia e comunicações para habilitar prédios inteligentes, motores, aparelhos e cargas inteligentes através de um ‘portal’ do consumidor”. • Um conjunto de dispositivos (IHD’s) e softwares permitirão que aparelhos se comuniquem entre si em uma dada instalação.
E as empresas? Mas, se o futuro é assim para as residências, o que é possível fazer hoje nas empresas? Muita coisa, mas infelizmente os grandes consumidores ainda não se sentem estimulados a fazer EE ou eficiência energética, diz Cyro. Vale dizer: pede-se incentivo, apoio oficial. Mas o 7º Congresso mostrou em detalhes que há linhas especiais de crédito para este fim. Cyro explicou que projetos de eficiência energética têm prazo curto de implantação ou 3 vezes menor que na geração com retorno do investimento mais rápido que a expansão, além de: 1. Impacto ambiental = zero 2. Viabilidade de novas tecnologias com aumento de escala = muitas já são viáveis hoje, principalmente em grandes operações; 3. Cogeração e Autoprodução no Brasil retornam mais rápido que em outros países; 4. Implantação deve sempre ser dirigida por valor. Onde então o smart grid pode ajudar os grandes consumidores empresariais? Para o palestrante, será na melhor gestão de energia, na busca de qualidade de energia, na busca de vantagens ou na integração com outros insumos e infras, na redução dos custos operacionais e melhoria da competitividade e na redução do impacto ambiental e melhoria da imagem.
Revolução chegando Se Cyro estiver certo, a revolução está chegando. E rápido. Um exemplo: analistas dizem que há US$ 50 bilhões de dólares em capital pronto para ser investido em projetos de energia solar no deserto de Nevada. Na Califórnia, já está instalada a Aucra, empresa que oferece tecnologia para resolver um problema antigo: armazenar energia solar. Para isso, usa espelhos que aquecem água em contêineres para, em
seguida, mover turbinas a vapor. Seu criador, David Mills, promete que, com uso de 10% do deserto de Nevada, será possível gerar 90% da energia consumida no país. Na Europa existem ideias similares, como trazer energia geotérmica da Islândia, eólica de “fazendas de vento” no Mar do Norte ou energia solar produzida em áreas desérticas do Marrocos. Mas é preciso cuidado com a superexitação diante de tudo isso, fugin-
do-se de modismos na discussão: hoje se fala no smart grid , smart IMS, ripple control, PLC etc., mas quem se lembra da “smart house”, uma outra febre tempos atrás? Dizem os críticos que são soluções que prometem muito, mas antes de tudo mais servem para criação de novas associações, fórum, grupos, empresas etc. sob esse rótulo. Lembre-se que uma simples ligação telefônica no Brasil ainda é capenga.
O SOL NA CASA DO PETRÓLEO Ao incluir a energia solar em suas instalações, a Petrobrás busca ampliar fronteiras para além do universo dos hidrocarbonetos e derivados. Mas ainda são investimentos hipertímidos diante da excitação do pré-sal, indicando que, por enquanto, vale apostar no tradicional. O aproveitamento da energia termossolar na Petrobrás, assim como de outras fontes renováveis, segundo o químico Claudio R. Modeze, tem como objetivo principal consolidá-la como uma empresa de energia, ampliando suas fronteiras para além do universo dos hidrocarbonetos e seus derivados, mantendo-a em consonância com as restrições ambientais futuras do planeta sem perder o foco no negócio. Falando no 7º Congresso, o representante da empresa compartilhou com o público, exemplos de aplicações de sistemas termossolares que permitiram congregar em seus resultados: economia no consumo de outras fontes de energia, liberação desta energia para aplicações mais nobres, utilização de uma energia limpa e segura e geração de créditos de carbono. A “aplicação de energia termossolar na Petrobrás” por ora é restrita à utilização para aquecimento nas cozinhas, banheiros e laboratórios em 16 unidades da empresa com uma área instalada de coletores planos de 4.640 m², um volume de reservatórios de água quente de 287 m³ e economia anual de energia em torno de 2.530 MWh, evitandose a dispersão no ar de 651 t/ anuais de gás carbônico ou CO2. Acrescentem-se a isto, com projetos para novas instalações em 2010, novos módulos de coletores planos e outros de mais 3.141 m2, volume de reservatórios de água quente em torno de 236 milhões de litros ou 236 m3
visando a uma economia anual de energia de 1.500 MWh ou evitando-se a dispersão de 378 toneladas/ano de CO2 na atmosfera. O explanador fez um comparativo com o CO2 evitado mostrando que um veículo médio com motor 1.8 FLEX emite 81,923 g CO2/ km. Se este veículo rodar 30.000 km/ano, emitirá 2,46 t de CO2/ano (dados do Ibama) Segundo a Petrobrás, com os sistemas solares instalados e a instalar pela empresa, chega a 419 o número de veículos correspondentes que sairiam de circulação. A Petrobrás programa para 2010: 1. Aplicações termossolares de alta temperatura para a substituição de queima de combustíveis fósseis com a consequente redução de gases de efeito estufa. 2. Um único projeto, que está em processo de instalação para produção de água quente com 200 m² de coletores evacuados, evitará a emissão de 35 toneladas anuais de CO2 (14 veículos médios FLEX). 3. Desenvolvimento de novas oportunidades tecnológicas em campos de produção terrestre como: 4. Aquecimento para redução de viscosidade de óleo; 5. Aquecimento para quebra de emulsões água-óleo; 6. Aquecimento de tubulações de transporte de óleo 7. Termo de Cooperação com a GTZ - Sociedade Alemã de Cooperação Técnica.
Detalhes: O 7º Congresso incluiu ainda, em sua temática, desde discussões sobre o “chuveiro flex” passando por questões mais detalhistas, como “a susbstituição da controladora de água gelada e implantação de sistema de gerenciamento de fan-coils”, “a substituição da configuração de controle da instrumentação da casa de bombas e implantação de bombeamento variável de água gelada”, “Tendências tecnológicas em Motores Elétricos de Alta Eficiência, uma palestra simples proferida pelo engenheiro Renato Rech sobre “Nova regulamentação para motores elétricos no Brasil”, “Iluminação de áreas de pátios e iluminação pública com tecnologias eficientes”. E mais: o Congresso mostrou que quem quiser investir nesta área pode contar com uma série de “linhas de financiamento para projetos de eficiência energética”. Vá em frente.
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Política Nacional de Resíduos Sólidos A Caminho da Sanção Presidencial
U
m dos maiores problemas ambientais do Brasil está muito próximo de receber um adequado tratamento legislativo. Trata-se da Política Nacional de Resíduos Sólidos que regula em âmbito nacional e de modo uniforme a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final de milhares de toneladas de lixo produzidos diariamente nas cidades brasileiras. Na verdade, a preocupação do Poder Legislativo com o tratamento dos resíduos sólidos não é recente. O Projeto de Lei (PL 203/91, substitutivo do PLS 354/89) que foi aprovado em março na Câmara dos Deputados e em julho no Senado Federal já tramita há 21 anos! No entanto, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos está agora 28
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a um passo, ou melhor, a uma assinatura de se tornar lei: só falta a sanção do presidente Lula. O Projeto de Lei estabelece princípios, objetivos, instrumentos econômicos, responsabilidades e diretrizes gerais para a gestão integrada dos resíduos em todo o território nacional. Além disso, há a menção a um sistema de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto bem parecido com o existente em vários países europeus. Nesse sistema, todos passam a ser responsáveis pelo lixo, exigindo a participação da sociedade, das empresas e do Poder Público na coleta seletiva. Também merece destaque a instituição de um sistema de logística reversa, que
nada mais é do que um conjunto de ações que visam facilitar a coleta e a devolução dos resíduos sólidos. Nesse caso, quem fabrica, importa, distribui ou comercializa determinados produtos, como pilhas, baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes, equipamentos eletroeletrônicos e agrotóxicos, deve viabilizar uma forma de retorno desses produtos após o uso. A ideia central é diminuir a geração de resíduos na medida em que os fabricantes ficam responsáveis pelo seu tratamento e reaproveitamento. Uma opção simples e de baixo custo para viabilizar essa medida é o estabelecimento de postos de coleta em supermercados. É comum encontrar caixas de coleta para pilhas, baterias e embalagens plásticas em supermercados europeus. Assim,
Natascha Trennepohl
Correspondente especial de Berlim – Alemanha
facilita-se o acesso da população a uma forma ambientalmente correta de disposição dos resíduos, os quais não acabam sendo jogados em lixões. Outro ponto interessante é a previsão de que os gestores dos serviços públicos de limpeza urbana priorizem a contratação de cooperativas ou associações de catadores de materiais recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda. Não é novidade a existência de milhares de catadores trabalhando diariamente no Brasil. No entanto, apenas uma parte deles está organizada em associações e cooperativas. Essa previsão da Política Nacional pode tirar da informalidade milhares de pessoas e, inclusive, aumentar a renda de muitos catadores de materiais recicláveis no país.
Para que os municípios tenham acesso a recursos federais ou recebam financiamentos para o desenvolvimento de empreendimentos e serviços de limpeza urbana, é necessário que eles desenvolvam Planos Municipais de Gestão Integrada. Aqui, terão prioridade de acesso aos recursos federais os municípios que implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou associações de catadores. O Projeto de Lei da Política Nacional também traz algumas proibições. Dentre elas, a proibição de queimar resíduos sólidos a céu aberto ou jogá-los em lixões, praias, no mar ou em qualquer tipo de recurso hídrico. Por mais estranho que possa parecer, a proibição de lançamento de lixo nos recursos hídricos é muito im-
portante, pois a lei que regula o uso dos recursos hídricos no Brasil prevê a possibilidade de se usar um recurso hídrico para o “lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final” (artigo 12 da lei 9.433/97). É certo que a aprovação do Projeto de Lei 203/91 pela Câmara e pelo Senado é um grande avanço, ainda que tardio, já que essa matéria tramita há mais de duas décadas nas casas legislativas. Não há dúvida de que a instituição de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos é um tema muito importante para a qualidade de vida e já deveria constar no ordenamento jurídico nacional há vários anos. No entanto, a simples promulgação de uma lei não vai resolver os problemas oriundos do inadequado tratamento dos resíduos sólidos no país. Para isso, é essencial o estabelecimento de políticas públicas voltadas para o incentivo à valorização dos resíduos, como a reciclagem. Por fim, para que o sistema de responsabilidade compartilhada e o de logística reversa funcionem, é necessária a atuação conjunta do Estado, das empresas e da sociedade civil, uma vez que a proteção ambiental não é um dever apenas do Poder Público, mas de toda a coletividade.
Natascha Trennepohl Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim. E-mail: natdt@hotmail.com Neo Mondo - Julho 2010
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aproveitemos essa R
ecente pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro revelou que, nos últimos três anos, os brasileiros, apesar de mais preocupados com os impactos do aquecimento global, não alteraram os seus comportamentos correspondentemente. Ao contrário; hábitos como reciclar o lixo e consumir produtos ecológicos diminuíram no período. Essa triste constatação faz por aumentar os desafios que se impõem à sociedade e ao poder público no trato de uma questão sensível a todos, qual seja o gerenciamento dos resíduos sólidos em nosso país. O Brasil, conforme amplamente noticiado, vem experimentando níveis crescentes de desenvolvimento econômico. Especialmente o consumo das classes menos
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favorecidas vem impulsionando esse crescimento. Em tempos de economia aquecida, por conta do aumento do consumo das famílias, o descarte de embalagens se eleva. O brasileiro praticamente já produz a mesma quantidade de lixo que um europeu. A média da geração de lixo no Brasil hoje é de 1,152 kg por habitante/dia, enquanto nos países da União Européia a média é de 1,2 kg por habitante/dia. Porém, apesar das merecidas celebrações em torno dessa inquestionável conquista, temos que responsavelmente enxergar que, potencializado pela crença exacerbada de que a felicidade está condicionada à capacidade de consumir, os desejos humanos são ilimitados, tendo, no entanto, que serem atendidos e supridos
por recursos naturais limitados. Todo produto que chega ao consumidor, seja uma geladeira, um calçado, um copo de leite, é originário de extração ou colheita de bens da natureza. Estima-se que atualmente consumimos 30% a mais de recursos naturais do que a Terra consegue repor. Diante dessa realidade, nos indagamos como compatibilizar tal contraposição. Passando pelo sempre lembrado avanço tecnológico, entendemos que inafastavelmente teremos que incrementar, em seus mais altos níveis, o reaproveitamento dos finitos recursos naturais. Desnecessário discorrermos, por já fartamente repisados, acerca das conseqüências ambientais da extração, em larga escala, desses materiais da natureza. Mas é
Dr. Marcos Lúcio Barreto
ideia importante registrarmos que o Brasil produz cerca de 182.000 toneladas de lixo doméstico, diariamente. Apenas pouco menos da metade (89.000 toneladas), recebe destinação adequada, sendo depositado em aterros sanitários. Do restante, 21.000 toneladas sequer são coletadas, indo parar nas cabeceiras dos rios, valas, terrenos baldios ou sendo simplesmente queimados; resíduos que contribuem para desastres naturais, como as enchentes recentemente verificadas nos estados de Alagoas e Pernambuco; as outras 72.000 toneladas seguem com destinação inadequada e vão para aterros com problemas e lixões a céu aberto. Daí, também, a importância da reciclagem de tais resíduos. No Brasil, apenas 56% dos seus 5.564 municípios indicam a existência de ini-
ciativas de coleta seletiva de lixo. Ainda assim, em boa parte desse universo, esse serviço se processa de maneira deficiente. Na cidade de São Paulo, por exemplo, onde apenas 1% do lixo é reciclado e somente metade dos seus 11 milhões de habitantes dispõe do serviço, estima-se que 30% do que é separado pelos moradores para coleta seletiva vai parar em aterros sanitários comuns. Ou seja, boa parte do esforço dos paulistanos conscientes de sua responsabilidade ambiental é literalmente jogada na lata do lixo. Por falta de estrutura (as atuais 16 centrais de triagem e o pequeno número de cooperativas conveniadas à Prefeitura paulistana são insuficientes à demanda existente) e vontade política, a cidade de São Paulo contribui para a saturação dos nossos aterros sanitários. Em Estocolmo, por sua vez, escolhida pela União Européia como sua “capital verde” em 2010, mais de 25% do lixo é reciclado, 73,5% é queimado para produção de energia e o 1,5% restante é tratado biologicamente. O que vai parar nos aterros, pasmem, é só a cinza que resta da incineração. A ineficiência da política de coleta seletiva e a conseqüente deposição de materiais recicláveis em aterros sanitários causam, além dos já conhecidos danos ambientais, enormes prejuízos financeiros para a sociedade. As perdas ocorrem principalmente por causa dos custos adicionais nas indústrias pelo uso de material virgem em vez de reciclado, dos próprios danos ambientais e de gastos do orçamento com a destinação final do lixo em aterros. Só para a construção de um aterro sanitário com capacidade para receber 2 mil toneladas de resíduos por dia (lembrando que São Paulo produz cerca de 15 mil toneladas) estima-se o custo de R$ 530 milhões. Para se ter um alcance maior da coleta seletiva, é necessário o envolvimento de cooperativas de catadores, que, além
de expandir o volume de lixo reciclável recolhido, permite a geração de trabalho e renda para ex-moradores de rua. Para tanto, impõe-se ao poder público o fornecimento de suporte jurídico, administrativo, operacional e material a essas cooperativas (construção/locação de galpão de triagem do material coletado, equipado com prensa e balança, aquisição de caminhões gaiola de coleta, etc). Espalhando-se as centrais de triagem em diversos pontos da cidade, evitam-se viagens maiores do lixo e se torna possível a abrangência total da área do município atendida. Por outro lado, procurando-se uma contribuição ainda maior, é fundamental a construção de usinas de compostagem, para a produção de fertilizantes utilizáveis em canteiros, jardins, reposição de encostas. Finalmente, todo esse processo não pode deixar de passar por uma conclamação da população a dele participar, seja através de educação ambiental, seja por meio de apelos via meios de comunicação. Dessa maneira, na medida em que os indivíduos passam a separar os materiais recicláveis, são eles levados a pensar sobre as conseqüências de suas ações para a proteção do meio ambiente, fazendo surgir uma importante e imprescindível conscientização ambiental. Se esses e outros caminhos forem seguidos, poderemos reduzir em 80% o lixo destinado a aterros sanitários, obtendo inegáveis ganhos ambientais. Assim, com a palavra e a caneta os nossos dirigentes...
Dr. Marcos Lúcio Barreto Promotor de Justiça do Meio Ambiente de São Paulo E-mail: marcoslb@mp.sp.gov.br
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Especial - Energia
de vento em popa
Usina e贸lica na cidade de Walla Walla, Estados Unidos. Pa铆s lidera a lista dos que mais geram este tipo de energia
Sparktography
Emissão reduzida de CO2 e matéria-prima abundante são alguns dos atrativos da modalidade que cresceu 77,7% no país, em 2009 Rosane Araujo
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ados divulgados pelo Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), em fevereiro, apontaram que a produção de energia eólica no Brasil cresceu mais do que o dobro da média mundial, que registrou 31%. O crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que o dos Estados Unidos, que teve aumento de 39%, o da Índia (13%) e o da Europa (16%), mas menor que o da China, cuja capacidade de geração ampliou-se em 107%. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, o aquecimento do setor é reflexo de um processo que vem desde 2002, quando o governo federal instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). “Vários parques eólicos participantes do PROINFA entraram em operação no ano passado. Contudo, o grande fato foi o Leilão de Energia de Reserva que contratou 1.800 MW de potência instalada para entrada em operação em 2012”, explicou. O leilão, realizado em dezembro, foi o primeiro exclusivo de energia eólica e os 1.805 MW comercializados se dividirão em investimentos a serem realizados em cinco estados brasileiros: o Rio Grande do Norte com 657 MW, o Ceará com 542 MW, a Bahia com 390 MW, o Rio Grande do Sul com 189 MW e Sergipe com 30 MW. “Foi uma mudança de paradigma. Para que se tenha uma idéia, hoje a capacidade instalada de energia eólica no Brasil é de 700 MW, entre o final deste ano e início do próximo passaremos para 1,4 mil MW e já em 2012, como consequência do leilão, teremos 3,4 mil MW de capacidade de ge-
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A eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta
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ração de energia eólica. Isso significa dizer que iremos quadruplicar a capacidade instalada em relação a 2010. Mas isso não é muito, e o que impressiona é que esse volume corresponde apenas a 2,5% da capacidade instalada no país”, completou Simões. Se no território nacional, a força dos ventos ainda é pouco representativa, em termos mundiais a participação do Brasil é ainda menor. Mesmo com tanto crescimento, o país ainda representa cerca de 0,38% da produção mundial. Segundo Simões, um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor é o peso da carga tributária. “Para enfrentar essa dificuldade é necessário um regime tributário específico que contemple a cadeia produtiva como um todo, e não com benefícios fiscais isolados e temporários”, opinou. Neste sentido, a Abeeólica vem discutindo com o governo federal a implementação do Renovento, regime tributário especial para desonerar desde a matériaprima até a operação dos parques eólicos. Ricardo Simões, presidente da Abeeólica
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Divulgação Petrobras
Especial - Energia
Turbina da usina localizada em Macau, no Rio Grande do Norte, pertencente à Petrobrás
Mas por que a opção eólica, se o Brasil tem tanto potencial hidráulico para gerar energia? A resposta, segundo Simões, está na diversificação. “Temos o privilégio de possuir recursos hidráulicos extraordinários e, assim, por muitos anos a nossa matriz continuará sendo predominantemente da forma que conhecemos hoje - com as hidroelétricas - e é bom que seja assim, porque essa é a mais competitiva de todas
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as fontes. Mas a eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta”, afirmou. Segundo ele, a característica complementar pode ser verificada até em termos de sazonalidade. “Os ventos são mais fortes e mais constantes justamente quando não está chovendo, nos períodos em que os reservatórios de água das hidros estão secando”, explicou.
E é justamente neste ponto que, segundo ele, o crescimento da oferta de energia calcada em bases hidráulicas e eólicas, dada a complementaridade e contrasazonalidade, faz com que o Brasil tenha uma condição extremamente diferenciada e competitiva, em comparação com outros países. Como estimulante da competitividade, o Leilão de Energia de Reserva (LER) funcionou bem já que também estimulou o aumento da escala na fabricação de equipamentos e componentes de geração eólica. Por isso Simões destaca a importância desta política. “A continuidade de leilões específicos para energia eólica pode tornar o Brasil uma plataforma de domínio tecnológico desta rota de geração”, opinou. Ao menos na edição do LER 2010, que será realizada em agosto, as eólicas terão que dividir espaço com termelétricas movidas a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Até agora, porém, segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as usinas movidas a vento são a grande maioria: representam 82% das 517 usinas cadastradas para concorrer ao leilão de fontes alternativas destinadas ao fornecimento de energia em 2013. Juntas, todas as cadastradas terão uma capacidade instalada de 15.774 megawatts (MW), sendo que as 425 eólicas têm capacidade para 11.214 MW. Mesmo com dados tão promissores, o setor ainda tem desafios pela frente. Para que a energia que vem dos ventos se firme de vez em solo brasileiro é preciso resolver uma importante questão: o alto custo de produção. A energia gerada por essa alternativa custa entre 60% e 70% a mais que a mesma quantidade oriunda de uma usina hidrelétrica. Segundo Simões, o processo para baixar este custo já começou. “A energia eólica no Brasil está em fase de ampliação da sua competitividade. Basta comparar o preço praticado no Proinfa e o preço médio do Leilão de 2009. No Proinfa os valores são de R$ 260/MWh, enquanto no leilão o preço médio foi de R$ 148/MWh”, destacou. Segundo ele, a melhoria na qualidade dos projetos, a percepção de risco dos investidores com o contrato ofertado no leilão, a situação cambial do ano passado e os efeitos da crise de 2008 influenciaram na redução dos custos.
A Força dos ventos Como funciona? Energia eólica é a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu aproveitamento ocorre por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas, também denominadas aerogeradores, para a geração de eletricidade, ou cataventos (e moinhos), para trabalhos mecânicos como bombeamento d’água. As primeiras tentativas de geração de eletricidade surgiram no final do século 19, mas somente cerca de um século depois é que foram desenvolvidos equipamentos para produção em escala comercial.
TOP 10 – CAPACIDADE TOTAL INSTALADA 2008 Resto do mundo
Estados Unidos
Portugal Dinamarca Inglaterra França
Itália Índia
Alemanha
Fonte: Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica
China
Vantagens A energia eólica atende às três principais preocupações em termos de geração de energia sustentável: • Segurança de suprimento – ao contrário de combustíveis fósseis, como o petróleo, a energia eólica utiliza-se de matéria-prima permanentemente disponível em praticamente todos os países do mundo; • Independência de preços externos do petróleo e do gás natural - Cada quilowatt / hora gerado por energia eólica tem potencial para substituir importações de combustíveis fósseis, melhorando a segurança do abastecimento e da balança comercial dos países; • Emissão reduzida de CO2 – o setor energético é a maior fonte de emissões de CO2, representando cerca de 40%. Na opção eólica, porém, a emissão é baixíssima: três a seis meses de atividade de uma turbina eólica compensam as emissões geradas durante a fabricação da própria turbina. Diferencial As três vantagens acima podem ser observadas também nas usinas hidrelétricas. O grande diferencial das eólicas refere-se ao baixo impacto ambiental que provocam. O equipamento ocupa 1% da área da usina eólica e o restante pode ser ocupado por lavoura ou pastagem. Além disso, é possível a uma distância de 400 metros das usinas eólicas sem que seu ruído cause danos ou perturbações ao ser humano. Desvantagens O custo da energia gerada por essa alternativa é entre 60% e 70% mais alto do que a mesma quantidade produzida em uma usina hidrelétrica. Programas governamentais de incentivo estão tentando mudar esta realidade. Pelo mundo Os Estados Unidos ocupam o topo da lista dos países com maior capacidade instalada em comparação com o potencial energético, somando 20,8%. Em seguida, vem a Alemanha, com 19,8%. Fonte: Conselho Global de Energia Eólica (GWEC)
Espanha MW
%
EUA
25,170
20.8
Alemanha
23,903
19.8
Espanha
16,754
13.9
China
12,210
10.1
Índia
9,615
8.0
Italia
3,736
3.1
França
3,404
2.8
Inglaterra
3,241
2.7
Dinamarca
3,180
2.6
Portugal
2,862
2.4
Resto do mundo
16,693
13.8
Total TOP 10
104,104
86.2
Total mundo
120,798
100.0
No Brasil O país tem posição destacada no contexto regional, pois terminou o ano de 2009 com uma capacidade instalada de 606 MW, tendo apresentado um crescimento de 77,7% sobre os 341 MW instalados até o final de 2008. Geração Eólica no Brasil Capacidade instalada Ano MW
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 22
29
29
29
237
247
341
606 1423*
*projeção com a finalização do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA)
Fonte: Abeeólica
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Especial - Energia USINAS do tipo Eólica em Operação Usina Eólica de Prainha
Potência Fiscalizada (kW) 10.000
Destino da Energia PIE
Proprietário
Município
100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda
5.000
PIE
100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda
Aquiraz - CE São Gonçalo do Amarante - CE
100% para CEMIG Geração e Transmissão S/A
Eólica de Taíba Eólica - Elétrica Experimental do Morro do Camelinho Eólio - Elétrica de Palmas Eólica de Fernando de Noronha Parque Eólico de Beberibe Mucuripe RN 15 - Rio do Fogo Praia do Morgado Pirauá Eólica de Bom Jardim Foz do Rio Choró
1.000
REG
2.500 225 25.600 2.400 49.300 28.800 4.950 600 25.200
PIE REG PIE REG PIE PIE PIE REG PIE
Praia Formosa
104.400
PIE
Eólica Olinda
225
REG
Eólica Canoa Quebrada
10.500
PIE
Lagoa do Mato
3.230
PIE
Parque Eólico do Horizonte
4.800
REG
Eólica Icaraizinho
54.600
PIE
Eólica Paracuru
23.400
PIE
Eólica Praias de Parajuru Pedra do Sal Parque Eólico Enacel Macau Canoa Quebrada Eólica Água Doce Parque Eólico de Osório Parque Eólico Sangradouro
28.804 18.000 31.500 1.800 57.000 9.000 50.000 50.000
PIE PIE PIE REG PIE PIE PIE PIE
Taíba Albatroz
16.500
PIE
100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A.
50.000 50.000 4.950 4.950 4.950 4.950 10.200 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 4.500 Potência Total: 794.334 kW
PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE PIE
100% para Ventos do Sul Energia S/A 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. 100% para SPE Millennium Central Geradora Eólica S/A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A
Parque Eólico dos Índios Bons Ventos Xavante Mandacaru Santa Maria Gravatá Fruitrade Millennium Presidente Camurim Albatroz Coelhos I Coelhos III Atlântica Caravela Coelhos II Coelhos IV Mataraca Total: 45 Usina(s)
SP - Serviço Público Fonte: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica 36
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100% para Centrais Eólicas do Paraná Ltda 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE 100% para Eólica Beberibe S.A. 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda 100% para Energias Renováveis do Brasil S.A. 100% para Central Eólica Praia do Morgado S/A 100% para Eólica Pirauá Geradora de Energia S.A. 100% para Parque Eólico de Santa Catarina Ltda 100% para SIIF Cinco Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Eólica Formosa Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE 100% para Rosa dos Ventos Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Rosa dos Ventos Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda 100% para Eólica Icaraizinho Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Eólica Paracuru Geração e Comercialização de Energia S.A. 100% para Central Eólica Praia de Parajuru S/A 100% para Eólica Pedra do Sal S.A. 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Petróleo Brasileiro S/A 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda 100% para Ventos do Sul Energia S/A 100% para Ventos do Sul Energia S/A
PIE - Produção Independente de Energia
Gouveia - MG Palmas - PR Fernando de Noronha - PE Beberibe - CE Fortaleza - CE Rio do Fogo - RN Acaraú - CE Macaparana - PE Bom Jardim da Serra - SC Beberibe - CE Camocim - CE Olinda - PE Aracati - CE Aracati - CE Água Doce - SC Amontada - CE Paracuru - CE Beberibe - CE Parnaíba - PI Aracati - CE Macau - RN Aracati - CE Água Doce - SC Osório - RS Osório - RS São Gonçalo do Amarante - CE Osório - RS Aracati - CE Pombos - PE Gravatá - PE Gravatá - PE Gravatá - PE Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB Mataraca - PB REG - Registro
Terence Trennepohl
Correspondente especial de Boston – Estados Unidos
Antonio Cruz/ABr
Organizações não governamentais fazem manifestação contra a aprovação do Código Florestal em frente ao Congresso Nacional
A
Lei nº 4.771/65 que instituiu o Código Florestal brasileiro é a responsável pela regulamentação da exploração das florestas e demais formas de vegetação no território nacional. Porém, muito embora tenha sido para a época um avanço em termos de legislação, ela precisa urgentemente de revisão. O Código trata da pequena propriedade rural, das áreas de preservação permanente, da reserva legal e da Amazônia Legal, uma vez que as florestas nacionais e demais formas de vegetação são bens de interesse comum a todos. É importante destacar que é possível o exercício dos direitos de propriedade em relação a esses espaços, mas esse direito está sujeito a limitações, podendo-se considerar as ações ou omissões que contrariarem as disposições legais como uso nocivo da propriedade. A atual legislação ambiental, caso seja aplicada em seus mais estritos termos, aqueles dispostos em 1965, colocaria na ilegalidade mais de 90% dos produtores rurais brasileiros. Isso porque mantêm
algumas obsoletas exigências que são descabidas para o momento de desenvolvimento econômico que conseguimos alcançar. Diga-se de passagem, nosso setor primário deve ser reconhecido como a atividade mais competitiva do país. Hoje, por exemplo, o agronegócio representa para o Brasil aproximadamente 27% do PIB nacional, 37% dos empregos no país, 42% das exportações, 215 mercados internacionais conquistados e um crescimento exponencial previsto para os próximos anos. Portanto, o agronegócio brasileiro é algo que muito interessa ao mundo neste início de século, principalmente quando se põe em discussão a sustentabilidade de suas matrizes. Temos que considerar que o novo Código Florestal vai regular a proteção ambiental num país continental e com biomas muito diversificados. Generalizar essa proteção, desconsiderando as características de cada área envolvida, é cometer uma grave injustiça com os produtores rurais brasileiros, com a economia e com a própria sociedade.
Um dos pontos que mais chamava a atenção na redação do Código de 1965 era a área de reserva legal, a qual fica localizada no interior de uma propriedade rural e sofre forte limitação para sua exploração. Ressalte-se que não faz parte da reserva legal a área de preservação permanente, necessária para o uso sustentável dos recursos naturais, a conservação e reabilitação dos processos ecológicos, a conservação da biodiversidade, bem como a proteção de fauna e flora nativas. O art. 16 da Lei nº 4.771/65 previa a averbação da área de reserva legal nos percentuais de 80%, 35% e 20%, nas regiões da Amazônia Legal, cerrado e outras formas de vegetação, respectivamente. Porém, em passagem alguma do Código Florestal havia a previsão de sanção pelo descumprimento dessa averbação. O Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, reacendeu a polêmica no tocante à obrigatoriedade de averbação da área de reserva legal, conforme previsão do Código Florestal, e passou a impor severas multas pela não averbação da área. Sendo assim, diversos detalhes precisam ser analisados antes de se ter uma nova legislação tratando de uma matéria com pontos tão importantes. Afinal, não há no mundo um modelo de produção agrícola como o nosso, ou seja, uma produção sustentável e pouco poluente. Por fim, a reforma que está em andamento é de vital importância para o país e precisa ser implementada seja para retirar o produtor rural brasileiro dessa suposta ‘ilegalidade’; seja para adaptar a legislação ambiental aos novos tempos. Terence Trennepohl Sócio de Martorelli e Gouveia Advogados Senior Fellow na Universidade de Harvard Doutor e Mestre em Direito (UFPE) Bolsista da CAPES E-mail: tdt@martorelli.com.br Neo Mondo - Julho 2010
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A utilização do Sistema de Gestão Ambiental como ferramenta para
Produção mais Limpa (P+L)
A
o longo da década de 90 do século XX, foram implementados nas empresas instrumentos de gestão ambiental para o controle e a prevenção de danos ambientais, a fim de responder com maior eficiência às atuais demandas do mercado e exigências de órgãos, onde entre outras situações, se deve enfatizar a ocorrência de acidentes ambientais – como o incidente na Allied Quemical Corporation, em Hopewell, Virgínia (EUA), em 1975; a explosão química da Hoffman- La Roche, em Seveso (Itália), em 1976; o vazamento de gases tóxicos numa fábrica de pesticida da Union Carbide em Bhopal (Índia), em 1984; a explosão de reator nuclear em Chernobyl, na então União Soviética, em 1986; o vazamento de petróleo, em 1990, do navio petroleiro Exxon Valdez e o caso emblemático Love Canal, no estado de Nova York, um símbolo de contaminação do solo por resíduos sólidos enterrados, o que obrigou as empresas a arcarem com elevados gastos em indenizações, recuperação dos ambientes danificados e ações para mitigação e/ou controle dos danos. Além dis-
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so, a imagem das empresas causadoras do dano foi afetada negativamente. Frente a esse quadro, empresas com maior potencial poluidor passaram a desenvolver e implementar instrumentos de gestão ambiental corporativa para a melhoria do fluxo de informação, interno e externo, além de propiciar a redução de risco de incidentes e acidentes. O setor químico foi o pioneiro na elaboração de diretrizes para a gestão ambiental corporativa. A Canadian Chemical Producers Association (CCPA) lançou, em 1984, um documento denominado Statement of Responsible Care and Guiding Principles, contendo princípios específicos para a gestão responsável do processo de produção em todo o ciclo de vida do produto, dando ênfase à proteção da saúde humana e do meio ambiente e à segurança industrial e do produto. O SGA (Sistema de Gestão Ambiental) contribui para a ecoeficiência das empresas, enquanto prática de produzir sempre bens e serviços mais úteis, concomitantemente à redução contínua do consumo de recursos e da poluição, o que traduz
a preocupação em estabelecer a melhor relação possível entre atividade empresarial, meio ambiente e necessidades humanas presentes e futuras. Sob essa ótica, empresas de todos os tamanhos estariam aprimorando suas cadeias produtivas, incorporando ações que conduzem à melhoria do desempenho ambiental. Alguns desses avanços consistem na redução da obsolescência e da perda da manutenção, reparo e operação (MRO) de materiais, através de práticas de gestão de estoques; decréscimo substancial de custos com sobras e perdas de materiais; aumento de receitas com a conversão de resíduos e desperdícios em subprodutos; redução do uso e do desperdício de solventes, pinturas e outras substâncias químicas, por meio de parcerias ou terceirização de serviços e reutilização de materiais, pela adoção de programas de retorno do produto. Atreladas ao sistema de gestão ambiental, inovações operacionais e tecnológicas são incorporadas ao longo do ciclo de vida de empresas que atuam em setores variados - química, eletroeletrônica, alumínio, automóveis, en-
João Carlos Mucciacito
tre outros - com resultados positivos do ponto de vista econômico e ambiental. Esses resultados raramente são percebidos, a não ser de forma muito pontual, pois as empresas carecem de mecanismos adequados para sua contabilização, razão pela qual consideram onerosos os gastos incorridos com a gestão e as certificação ambientais. Diversos instrumentos, desenvolvidos para melhorar seu desempenho ambiental, redundaram numa série de vantagens econômicas: redução de custos, aumento de competitividade, abertura de novos mercados e diminuição das chances de serem surpreendidas por algum tipo de ônus imprevisível e indesejável. Tais argumentos de caráter econômico, por si sós, já seriam suficientes para fundamentar a necessidade de que as assumissem o compromisso de velar pela conservação dos recursos naturais e a qualidade do meio ambiente. No entanto, indústrias que atuam neste campo ainda carecem de uma política efetiva de gestão ambiental. Mesmo executando serviços essenciais à sociedade, apresentam potencial poluidor capaz de causar danos à saúde de seus trabalhadores e à população localizada em seu entorno, além de contaminar o solo, a atmosfera, os rios e os lençóis freáticos. A preocupação ambiental não constitui tema recente, mas foi somente nas últimas três décadas do século XX que ela passou a ser debatida em. É uma discussão desafiadora, que deve envolver governo, empresas, sociedade civil como um todo, e o âmbito acadêmico. A introdução dessa variável no âmbito dos negócios não ocorre de forma homogênea, variando entre as unidades produtivas, seja porque a consideração da variável ecológica está associada à natureza do negócio da empresa, seja
porque depende do grau de conscientização da alta administração em matéria ambiental. Assim, a conscientização ambiental empresarial pode ser avaliada à luz de diversos estágios evolutivos, que se constituem a partir da proposição de importantes autores e que formam uma grande pluralidade de níveis de maturidade para a análise da gestão ambiental na organização. Entender a gestão ambiental na empresa por meio de taxonomias é uma maneira estruturada para que empresários e pesquisadores reflitam a situação organizacional atual e planejem atividades futuras em matéria ambiental. Assim, objetiva-se contribuir para a edificação do conhecimento já existente em gestão ambiental, a resposta da indústria ao desafio ecológico pode ser analisada por três estágios, muitas vezes superpostos. A primeira fase é chamada de controle ambiental na saída, tais como chaminés e redes de esgotos, (tecnologia de final de tubo), mantendo a estrutura produtiva já existente, o que nem sempre se mostra eficaz, já que os benefícios dessa resposta são frequentemente contestados pela sociedade civil e pelo próprio empresariado. No princípio, as organizações ansiavam apenas com a eficiência dos processos produtivos, porém, com o crescimento da consciência ecológica principalmente a partir do final do século XX, a sociedade, os governos e as próprias empresas passaram a incorporar essa orientação em suas estratégias. A postura errônea adotada quanto ao tratamento de resíduos, tem de ser revista e transformada com atitudes de gestão eficientes e efetivas. Do ponto de vista de processo não há como deixar de produzir resíduos no processo de negócio. Portanto, cabe aos futuros envolvidos na gestão destes uma abordagem mais ecológica nos processos, nos tratamentos e nos descartes.
A partir de uma gestão correta, poderse-á chegar aos fatores críticos de sucesso relativos ao meio ambiente, não somente ao atendimento a legislação, bem como a redução da poluição e consumo de água – por exemplo – e propiciar um correto descarte e destinação final dos resíduos. O conhecimento qualitativo prévio e posteriormente quantitativo da composição dos resíduos químicos, o fluxograma e a análise ambiental crítica proporcionam uma base para que a redução de desperdícios, mudanças nos processos, minimizações do uso de certas matérias-primas ou substituição por outras menos agressivas ao meio ambiente sejam atingidas. Desta forma pode-se concluir que atualmente, a sociedade preocupa-se com questões de qualidade de produtos ecológicos, de segurança, de proteção e defesa do consumidor. Ela fica mais atenta ao comprometimento ético das empresas, assim como atuação de seus executivos, resultando em novas leis e regulamentos que provocam o surgimento de posturas modernas. Porém, a que custo aconteceram estas mudanças? Será que ainda é possível reverter os danos causados ao meio ambiente ao longo da história? Estas são dúvidas que remetem a muitas reflexões, pesquisas e ações; entretanto, são indagações que, provavelmente, só o tempo poderá revelar.
João Carlos Mucciacito Químico da CETESB, Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro Universitário Santo André - UNI-A e na FAENG Fundação Santo André E-mail: joaomucciacito@yahoo.com.br
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Especial - Energia
O S l brilha para todos Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei Heloisa Moraes
Q
uem diria que toda a tecnologia relacionada à energia solar, uma das vedetes responsáveis por oferecer uma alternativa limpa e renovável, pode ser comparada ao funcionamento de organismos presentes num jardim - as plantas. Por meio da clorofila (substância verde das folhas semelhante à hemoglobina do nosso sangue) esses organismos são capazes de capturar os raios de sol e transformálos no próprio alimento. Este mesmo conceito pode ser aplicado aos painéis solares, que utilizam o sol para aquecer ou gerar energia elétrica.
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Neo Mondo - Julho 2010
As vantagens desses tipos de sistema vão do bolso do consumidor até o meio ambiente. Não é à toa que cerca de 1 milhão de estabelecimentos (dos quais 66% são residências) já adotaram esse mecanismo, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento / Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Abrava/Dasol). Com o aquecimento solar é possível economizar até 70% de energia elétrica ao ano - por ser capaz de substituir o gás e a eletricidade - e recuperar o preço do investimento entre 2 e 3 anos, segundo a fabricante Soletrol. Além
disso, o fato de ser um tipo de energia renovável e que não agride a natureza pode beneficiar a consciência de muita gente que deseja contribuir com a causa sustentável. Apesar dos benefícios, a energia fotovoltaica ainda engatinha aqui no Brasil. Os principais motivos são a inexistência de uma política nacional que viabilize a produção em larga escala e os obstáculos para a produção de silício grau solar. Este tipo específico de silício, elemento básico para a produção das células fotovoltaicas, caracteriza-se pelo elevado custo de produção e pela alta pureza, que aumenta sua pro-
priedade de semicondutor elétrico e ramifica seu uso para chips e outros componentes eletrônicos. O professor Paulo Roberto Mei, do Departamento de Engenharia de Materiais, da Unicamp, explica que o mercado nacional ainda foca no silício metalúrgico, a forma impura do mineral, que é facilmente encontrado na natureza e que é usado nesse setor principalmente para dar liga metálica no aço, latão e bronze. Por esses motivos, o Brasil atualmente importa placas fotovoltaicas de marcas como Kyocera, Sharp, Sanyo e SS Solar. O gestor da Dasol Marcelo Mesquita afirma que os pontos de maior dificuldade são o valor de produção e a pouca maturidade do setor. “Apesar da redução do IPI e da devolução do ICMS, [o custo] ainda é um impeditivo para a competição no mercado de aquecimento de água. A desverticalização do setor, por sua vez, requer desenvolvimento de toda a cadeia e a formação de profissionais instaladores para atender a demanda crescente.” Além disso, Mesquita acredita que o desenvolvimento da cultura ecológica na sociedade seja um ponto vital. “A conscientização da população pode ser considerada como desafio, apesar de já estar acontecendo de maneira acelerada.” Uma nova era solar? As expectativas para a mudança do cenário atual são grandes. O especialista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Ricardo Ruther afirma que o aumento dos custos de produção de energia elétrica e a futura redução das despesas de fabricação das placas fotovoltaicas serão um verdadeiro impulso para a área. “Temos boa insolação e a maior reserva de quartzo do mundo, de onde se extrai o silício, usado nas células solares. Desenvolver o setor é questão de dez anos”. Para Mesquita, uma das novidades positivas no setor é a busca da utilização do sistema de aquecimento solar em projetos habitacionais, como nos programas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), das Companhias de Habitação (Cohab) e das casas construídas pelo programa da Caixa Econômica Federal Minha Casa Minha Vida. “As vantagens em usar o chuveiro solar híbrido são grandes, pois os chuveiros elétricos ficam desligados como reserva para eventuais situações de longo período sem sol.” Embora cogitada como item obrigatório no início do projeto, as placas solares serão opcionais e chegarão a apenas uma
parte do 1 milhão de casas que o governo pretende construir. O grupo de trabalho, que tem representantes dos ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia, das Cidades, além da Caixa Econômica Federal, do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e empresários do setor, ainda não definiu metas ou o número mínimo de unidades habitacionais que deverão receber o sistema de aquecimento solar. De acordo com Vânia Soares, coordenadora de Energia e Meio Ambiente da Secretaria e Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, essa iniciativa irá depender das construtoras ou das prefeituras. Saindo do papel “A legislação vem-se consolidando e aperfeiçoando suas aplicações. À medida que o aquecedor solar é implantado em municípios, aumenta a obrigatoriedade nas edificações e em alguns segmentos produtivos da sociedade”, destaca Mesquita. A maior dificuldade, de fato, é aprovar e aplicar o que está no papel. Algumas das iniciativas nacionais que ainda tramitam no Congresso Nacional são o Projeto de Lei 630/03, que institui um fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a produção de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da energia eólica, de autoria do deputado Roberto Gouveia (PT-SP); o Projeto de Lei do Senado 311/09, que institui o Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de energia limpa, de autoria do senador Fernando Collor (PTB-AL); e o Pro-
jeto de Lei do Senado 336/09, que concede isenção do Imposto de Importação às células solares fotovoltaicas, assim como suas partes e acessórios, de autoria do senador João Vicente Claudino (PTB-PI). Apesar da lentidão do processo legislativo e da demora pela aprovação dos referidos projetos de lei, o advogado Diego Medina explica que ainda é possível contar com outras formas de fomento à energia limpa. De créditos especiais em bancos privados, bolsas, editais e subsídios até programas de órgãos governamentais que podem investir em novas tecnologias (como a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia), benefícios fiscais ou Terceiro Setor, opções não faltam. “Há estados que concedem isenções tributárias nas operações com equipamentos e componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica. Por isso, quem quer investir em energia limpa deve estar atento à legislação nacional e regional”. Eventos de grande porte como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 também prometem impulsionar e disseminar a aplicação dessa tecnologia. Mesquita afirma que o seminário Copa do Mundo de 2014: normatização para obras sustentáveis, promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), apresentou o aquecimento solar como uma importante contribuição para a infraestrutura necessária aos eventos por ser limpo, com um excelente potencial energético e economicamente viável. “Temos uma verdadeira usina solar limpa e gratuita, funcionando o ano todo, em todas as regiões. Por isso, prevemos aplicações em hotéis, alojamentos,
Placas solares são cogitadas em projetos habitacionais e podem aparecer em obras da Copa do Mundo e Olimpíadas
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Especial - Energia restaurantes, hospitais, lavanderias, vestiários, piscinas, entre outros.” Apesar da localização privilegiada do Brasil, que permite uma boa taxa de insolação em várias regiões no ano todo, o país ainda está no 10º lugar no ranking de utilização da matriz solar como fonte de energia – ficamos atrás de China, Israel, Áustria, Índia, Turquia, Alemanha, Japão, Estados Unidos e Austrália. Com metas de longo prazo, o Plano Nacional de Eficiência Energética é outra
novidade do setor. Ainda em fase de consultas com empresas do setor energético, órgãos do governo e empresas de conservação de energia, o projeto tem como pontos principais a conscientização da população, do setor público e medidas que possam trazer benefícios financeiros e fiscais (como leilões de eficiência energética, estímulos para indústrias, programas de etiquetagem, entre outros). A elaboração do plano tem passado atupor grandes complexidades devido a uma
O que nos falta Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Brasil precisa seguir alguns mandamentos para que se torne uma das principais lideranças no setor de energia solar:
• Laboratórios modernos • Centros de referência integrados • Investir em desenvolvimento de
tecnologia (para obter energia solar fotovoltaica a baixo custo) • Estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos • Especialistas para o mercado – estima-se que o mundo irá precisar de 37 milhões de profissionais para atuar no setor até 2030
Fonte: EcoDesenvolvimento
série de alinhamentos que precisam ser feitos para garantir o não aumento de tarifas, o respeito a contratos existentes (principalmente das concessionárias com o governo e dos consumidores com as distribuidoras), a expansão rápida do acesso à rede elétrica em todas as regiões do país e integração sulamericana. Apesar disso, o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas Energia, Hamilton Moss, afirma que o plano será anunciado antes do final de 2010 e estará alinhado com a meta de reduzir em 10% a demanda por eletricidade no país até 2030. Para ele, o Brasil, comparado a outros países, tem menos urgência para implementar ações na área devido aos números atuais relacionados à eficiência energética: cerca de 70% da matriz elétrica e 48% da matriz energética total brasileiras provêm de fontes renováveis.
Com informações de Revista Sustentabilidade, Inovação Tecnológica, Soletrol, Planeta Sustentável, SuperInteressante, EcoDesenvolvimento, Energia
Irmãos de sol Além de depender da energia solar, ambos os processos precisam de placas específicas que serão responsáveis por captar e transformar a energia. Entenda em detalhes como funciona a energia solar: As placas para aquecer água são escuras com o intuito de absorver o máximo possível de radiação solar. O calor é então passado para as serpentinas internas da placa (geralmente feitas de cobre, um material altamente condutor), que contém água fria proveniente de um reservatório ligado à caixa d’água. Após passar por esse tubo, a água esquenta e vai para o boiler, um reservatório térmico específico para manter a temperatura. Dessa forma, a água chega muito quente aos chuveiros da casa, o que explica a necessidade de ter uma torneira para cada tipo de água (quente e fria), para poder atingir uma temperatura agradável. A energia fotovoltaica, por sua vez, requer placas compostas por células feitas de materiais semicondutores, como o silício (já citado anteriormente). Quando partículas de luz solar (fótons) se chocam com os átomos do material que reves-
te a placa, elétrons se deslocam, e essa energia gerada carrega uma bateria. A tecnologia requerida por este processo vem sendo aprimorada com o tempo, já que em 1839 o físico francês Edmund Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico em uma experiência com eletrólitos (substâncias que se tornam condutoras de eletricidade com a adição de um solvente ou aquecimento). Trinta e oito anos depois, W.G. Adams e R.E. Day construíram a pri-
meira célula solar com selênio, elemento que converte luz diretamente em eletricidade, mas com baixíssimo rendimento. O silício grau solar para fins industriais só veio a ser desenvolvido em 1940/1950, quando o método Czochralski (nome de um cientista polonês) foi desenvolvido para fins industriais. Atualmente, cada metro quadrado de coletor fornece 170 watts - pouco menos que três lâmpadas comuns de 60 watts.
boiler
coletor solar
sistema auxiliar elétrico
água quente água fria
(reservatório térmico de água quente)
caixa d’água da residência
(para dias em que o sol não aquece a água plenamente)
Com informações de Soletrol, Guia da Energia Solar e artigo de Miguel C. Brito e José A. Silva, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 42
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O cosmos é em movimento
E
stive em Hiroshima, em Nagasaki, cidades bombardeadas por ordem do presidente dos EUA, Harry Truman. E também em aldeias africanas destruídas por napalm por aviões da Otan por ordem dos generais de Salazar. Nesses locais, totalmente destruídos pela insensatez de poderosos, a natureza deverá trabalhar milhares de anos para que o meio ambiente volte a ter vida,para que a terra novamente frutifi-
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que.Foram experiências marcantes que nunca irei esquecer. O que me faz refletir sobre a origem da vida, e nossa sobrevivência neste planeta. A terra é a fonte primeira da energia e devemos preservá-la, com a seriedade dos líderes sioux quando discutem se podem ou não derrubar uma árvore, e se esse ato irá ou não prejudicar a oitava geração. Precisamos aprender com a sabedoria milenar do taoísmo, budismo, xintoísmo,
dos povos africanos e pré-colombianos de Nossa América. Os pressupostos de seus ensinamentos – confirmados pela física contemporânea – afirmam que o mundo é constituído de energia vital, de uma força presente nos seres humanos, nas coisas animadas e inanimadas, no mundo existente e no preexistente. Os homens/mulheres são poderosos, pois são a força com inteligência capaz de manipular a força destituída de inteligên-
Dilma de Melo Silva
cia (ou seja, todo o meio ambiente que nos cerca). Assim, cabe a nós, seres vivos, com domínio sobre a natureza, cuidar dela, mantê-la, preservá-la afinal, fazemos parte da mesma. Como nos ensina F.Capra(1), fazemos parte do universo, somos parte constituinte do mesmo (leiam a obra “O tao da Física” ou “Ponto de mutação); esse cientista nos recomenda cuidar do planeta como um animal cuida de seus filhotes, e jamais nos arriscarmos a destruir a energia viva existente no mesmo. Nessa obra, faz um paralelo entre a Física Moderna e o pensamento oriental levando a uma nova visão de mundo seja no contexto científico seja sociológico, onde a característica unilateral é a concepção da unidade e da coexistência e alternância de valores opostos. Esse pensamento em física surge com a teoria da relatividade, enquanto que nas tradições filosóficas do Oriente a maior parte de seus conceitos inclui o tempo e a mudança como elementos essenciais. Essa concepção é a parte integrante da visão da realidade que se torna à base das tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais. Daí a necessidade de dominar e de controlar o conhecimento científico para uma atitude de cooperação e não de violência na sociedade, ou ao meio ambiente. Nós, enquanto seres vivos, observamos e estudamos a movimentação da energia vital em nosso planeta; os avanços da Física no século XX, com a descoberta dos quanta, pode nos ser extremamente útil, pois aponta para o papel do observador na constituição da realidade, a importância dos processos cognitivos relacionados às estruturas sociais. Autores como Maturama, Varela, Capra, Pregogine, Morin são alguns dos que apontam para a importância do observa-
dor na constituição da realidade, já que o mundo nos é dado através da experiência do sujeito, o meio e suas interações estão referidos a esse sujeito. Todos os sistemas vivos são unidades de interações,interagimos entre nós – seres vivos, animados, com inteligência/ consciência – e também com os demais seres vivos, sem inteligência, sem consciência de si. A realidade é feita de inter-relações dos diferentes níveis de concretude da força/energia vital, dentro e fora de nós. Nas primeiras décadas do século XX o avanço cientifico passa ter uma alteração complexa, surgindo em primeiro plano o princípio da complexidade. A Física Contemporânea com o principio da incerteza/complexidade/complementaridade de Bohr e de Heisenberg introduz o observador na observação. O objeto da ciência não é mais um objeto, mas um sistema com atividades autorreguladoras, cada elemento último esperado pela Física não é encontrado, mas sim o incerto, o contraditório – a partícula ora se comporta como onda, ora como corpúsculo. Após a descoberta do átomo, tivemos a descoberta da partícula, e depois a descoberta dos quanta, que nos remete ao principio da incerteza. Desde Heráclito de Éfeso (século V a.C.) temos uma visão processual da realidade como um vir-a-ser, como um movimento, como metamorfoses, como mutações, essa linha de pensamento propõe uma visão processual da realidade, num permanente fazer-se. Como nos bem ensinou Ruy Galvão de Andrada Coelho, valendo-se de Husserl, a realidade não se dá a conhecer em sua totalidade, em sua essência, mas através de manifestações, de fenômenos através do quais o real se apresenta à consciência humana(2). O conhecimento resulta
do encontro do objeto – naquilo que ele se dá à percepção – com a consciência intencional do homem. Assim, sujeito e objeto se fundem; existe uma relação recíproca entre noese e noema, entre os fatores constituintes e constituídos no processo de conhecimento. Torna-se, assim, imprescindível perceber a subjetividade como fator partícipe da formação do conhecimento; a própria afirmação: visão de mundo pressupõe a existência de um sujeito e, desse modo, reconhecer o papel indispensável da consciência no processo cognitivo, nos vermos como ser-no-mundo, fundidos e interligados uns com o(s) outro(s) e com a natureza. O mundo é feito de energia, o cosmos é feito de energia pura, energia em movimento, num caos de incertezas, no qual está imersa a vida. E o equilíbrio é instável, cabendo a nós seres humanos a tarefa de mantê-lo. Citações: CAPRA, F. O ponto de mutação, Cannes: 1990 (vídeo) O tão da física,SP:Ed. Cultrix,1983 COELHO,R.G.A. Ficção e Realidade in Revista Arte Cultura da América Latina.SP: CESA,2004
Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto. E-mail: disil@usp.br
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Especial - Energia
Vem da
lama,
mas é LIMPA
Pesquisadores da Fundação Universidade Rio Grande (Furg), do Rio Grande do Sul, vão aproveitar lodo do porto para geração de energia
A
mesma lama que pode atrapalhar navios e outras embarcações de trafegarem pelo Porto do Rio Grande, localizado no município gaúcho de mesmo nome, agora contribuirá para alimentar veículos e equipamentos do próprio porto. Projeto desenvolvido pelo Laboratório de Controle de Poluição da Fundação Universidade Rio Grande (Furg) utilizará a lama dragada do oceano como fonte de geração de energia para baterias utilizadas nesses equipamentos. O processo aproveita os elétrons envolvidos na respiração dos micro-organismos encontrados na lama, que durante a queima (oxidação) da matéria orgânica liberam elétrons, que são captados por um eletrodo, gerando uma corrente elétrica. Associado a este reator, um circuito elétrico converte a voltagem desta reação para valores comerciais tradicionais (110 ou 220 volts). “Em escala industrial, estima-se que possam ser gerados até 580 MW, considerando que a dragagem do Porto produz 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos ao ano”, explicou o professor Dr. Fabricio Santana, que coordena a pesquisa ao lado da professora Dra. Christiane Saraiva Ogrodowski.
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Alan Bastos
Rosane Araujo
Coordenadores da pesquisa Furg, Fabricio Santana e Christiane Ogrodowski mostram a lama retirada do porto
A geração de energia seria suficiente para abastecer uma cidade de até 600 mil habitantes. Segundo Santana, o objetivo é criar uma Unidade de Tratamento de Sedimentos de Dragagem, cuja previsão para início das atividades é janeiro de 2011. Há dois anos, o processo de bioconversão da lama em energia elétrica vem sendo estruturado pelos pesquisadores que contam com o apoio de outros profissionais participantes de convênios com órgãos de fomento estaduais, federais e privados. O projeto conta com financiamento da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, que investirá R$ 300 mil, e do Porto do Rio Grande, que injetou R$ 60 mil, além do custo estimado em R$ 300 mil que será pago pela Furg pelo trabalho dos pesquisadores. “Atualmente, encontra-se em fase de laboratório, estão sendo realizados experimentos para o dimensionamento da planta piloto, próxima etapa do estudo”, revelou.
Menor impacto A lama retirada dos portos contém uma parte inerte (areia), que corresponde a 96% e pode ser comercializada. O restante do sedimento, onde estão presentes micro-organismos capazes de gerar eletricidade, é armazenado e depois despejado no oceano, em áreas onde causa menor impacto ambiental.
Segundo o professor Santana, a lama do Porto do Rio Grande pode ter sido beneficiada pelo fato de ser este canal uma ligação natural da Lagoa dos Patos com o oceano, proporcionando maior teor de matéria orgânica e criando características diferenciadas. “Mas isso não impediria a aplicação desta tecnologia a outros portos”, garantiu. Ao menos no Porto do Rio Grande, o segundo do país e um dos mais importantes da América Latina devido à sua posição geográfica e extensão, a geração de energia limpa é uma questão de tempo. Para o professor Santana, mesmo a geração biológica não sendo a alternativa mais desenvolvida atualmente, em comparação à eólica, solar e hidráulica, por exemplo, somadas, essas tecnologias podem incrementar a matriz energética do país. “Sabe-se que a solução para a escassez de energia não está associada com o uso de apenas um tipo de tecnologia ou fonte e sim com o aproveitamento pleno destas possibilidades”, encerrou. Divulgação
Alan Bastos
A estimativa é que e, em escala industrial, possam ser gerados até 580 MW
Assim que implantada, a Unidade será a única do gênero no mundo, já que as outras iniciativas de que se tem conhecimento visavam utilizar o sedimento oceânico para geração de energia, mas sem removêlo da superfície marinha. “Esta alternativa é muito questionada, já que pode provocar um desequilíbrio no meio ambiente”, contou Santana. O projeto gaúcho, ao contrário, é totalmente seguro à vida marinha, pois utiliza o material já retirado, oferecendo solução para um problema de esfera mundial, que é a destinação desses sedimentos.
Porto do Rio Grande é considerado um dos mais importantes da América Latina devido à localização estratégica
Energia a partir da lama 1º passo – Dragagem As dragagens removem sedimentos que se acumulam com o tempo no fundo do mar, a fim de manter ou aumentar a profundidade dos canais portuários, garantindo o acesso seguro dos navios. O material retirado é separado, parte vira areia e é comercializada e a outra parte, que seria despejada de volta no oceano em profundidades maiores, vai para a Unidade de Tratamento.
2 º passo - Unidade de Tratamento de Sedimentos A parte dos sedimentos onde estão instalados os microrganismos capazes de gerar energia é utilizada na geração de energia por meio da queima da matéria orgânica (oxidação).
3º passo – Utilização da energia A energia gerada é utilizada para carregar as baterias de equipamentos e veículos do próprio Porto do Rio Grande.
Representação da geração de energia a partir da instalação da Unidade de Tratamento
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Especial - Energia
Alternativa que vem
das cinzas
Usinas flutuantes de biomassa reaproveitam sobras de materiais e renovam comunidades inteiras no Pará Heloisa Moraes
A
clássica pergunta “o que você levaria para uma ilha deserta” pode agora ser projetada em outro contexto – esse sim, muito mais real. O cenário é a Ilha de Marajó, localizada na foz do rio Amazonas, considerada a maior ilha fluvial-marítima do mundo. Em vez de itens de beleza, tecnologia e entretenimento, o Grupo de Energia, Biomassa e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Pará, decidiu levar aos moradores da ilha um item de difícil acesso, mas essencial: energia. O grupo, criado com o intuito de desenvolver pesquisas e projetos aplicados na área de produção de energia a partir da queima direta de biomassa, foi respon-
sável pela criação de usinas de porte pequeno para atender a demanda de comunidades isoladas da ilha. “Até então, essas pessoas contavam com geradores a diesel para ter energia elétrica – a pouca renda que tinham ainda tinha que dar para a compra do combustível. Nós entendemos a dificuldade em gerar energia”, afirma o coordenador Gonçalo Rendeiro. O especialista em energia de biomassa explica que as usinas se adequam ao perfil e à demanda de cada comunidade e aproveitam os resíduos locais – “um vetor de desenvolvimento acoplado a um processo produtivo.” O projeto, que tem apoio do Ministério das Minas e Energia, do CNPq, da Eletrobrás e da Rede Celpa, proporciona duas vantagens
Projeto Usina Flutuante: potência de 50 kW acoplada a uma fábrica de extração de óleo vegetal
que se destacam. Além da possibilidade de gerar energia a partir de restos que iriam para o lixo (como óleo vegetal, lascas de madeira, folhas, frutos e até lixo), economiza-se o dinheiro anteriormente destinado para compra de óleo diesel - vendido exclusivamente por empresas sediadas no Centro-Sul do país e causador de impactos ambientais, como chuva ácida e emissão de gases estufa. O sistema tem um ciclo sustentável redondo: além de não agredir a natureza, as usinas aproveitam resíduos extrativistas, ajudam no desenvolvimento econômico da região e ainda beneficiam os trabalhadores responsáveis pela plataforma, que são treinados e acompanhados até serem capazes de gerenciar o processo de forma independente.
Tudo novo, de novo O primeiro projeto voltado para atender as demandas de energia elétrica em locais distantes aconteceu em 2004. As duas primeiras usinas eram de alvenaria e levaram pouco mais de um ano para ser construídas. No meio desse processo, surgiram os obstáculos. “Havia dificuldade em encontrar mão-de-obra e material, além do problema do transporte – aqui os rios são as estradas”, conta Rendeiro. Por isso, a equipe criou plataformas flutuantes. Além de levar menos tempo para construir (seis meses apenas), esses tipos de usina podem deslocar-se facilmente por rios e atracar em comunidades ribeirinhas, que vão de 80 a 300 pessoas. Segundo o coordenador, três unidades já funcionam e cinco irão ficar prontas ainda neste ano. Uma delas, responsável pela geração de 50kW de energia, atende a comunidade de Santo Antônio e fornece eletricidade para uma fábrica de gelo, uma fábrica de extração de óleo e uma câmara frigorífica que armazena produtos agrícolas e pescado. Com esse sistema é possível tornar praticamente todos os tipos de resíduo em biomassa para produção de energia – até lixo. Rendeiro conta que atualmente essa possibilidade passa por análise da prefeitura local e garante a viabilidade desse tipo de aplicação. “Com o auxílio das usinas, é possível diminuir a quantidade de lixo e ainda gerar energia elétrica. E ainda existe o benefício de que esse projeto pode ser aplicado em qualquer lugar”, conclui.
Com informações de Beira do Rio
Fábrica de extração de óleo Vegetal
Usina de 200kW
Projeto Enermad/Buriti: usina de de 200 kW. estufa para secagem de madeira e uma Fábrica de Extração de óleo vegetal
Fábrica de Gelo e Câmara Frigorífica
Fábrica de Óleo Vegetal
Usina de Geração de Energia Elétrica
Projeto Marajó: usina de 200 kW, fábrica de gelo com câmara frigorífica e fábrica de extração de óleo vegetal
Como funciona a biomassa Cada unidade é constituída basicamente por uma caldeira, uma turbina, um gerador, um condensador, um tanque de condensados, um sistema de bombeamento e um sistema de tratamento de água. Quando a biomassa é queimada na fornalha da caldeira, gera-se calor. O calor, ao entrar em contato com a água, se transforma em vapor que, por estar em alta pressão e alta temperatura, gira as pás da turbina. A rotação da turbina aciona o gerador, que produz energia suficiente e estável para o funcionamento da usina e para a comunidade.
Usina de 1 kW para atendimento de 5 residências isoladas
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a teoria da
T
odo mundo que foi um bom aluno em biologia lembra do Darwinismo e da teoria da evolução. Hoje, dois séculos depois do nascimento do seu criador, Charles Darwin, o pensamento continua atual e servindo de inspiração para inúmeras outras ideias, inclusive publicitárias. Para comemorar os 200 anos de Charles Darwin e os 100 anos da montadora Audi, uma agência de publicidade sueca criou o conceito do “Carwinismo” e trouxe um novo olhar para a indústria automobilística. Segundo a teoria do “Carwinismo”, não devemos enxergar os carros como máquinas, mas como organismos que evoluem, crescem e morrem, dependendo do potencial de cada um para se adaptar ao meio. O pesquisador e consultor francês Clotaire Rapaille, um dos principais ide-
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alizadores do “Carwinismo”, questiona: “será o carro uma espécie em extinção?”. Muitos poderão dizer que sim, considerando o impasse global das mudanças climáticas e a necessidade de revermos drasticamente todas as fontes de emissão de dióxido de carbono. No entanto, o que estamos assistindo não é bem a um processo de extinção, mas uma série de mutações ao longo da história que tem garantido a sobrevivência dessa “espécie” chamada automóvel. Essas mudanças têm sido em grande parte no papel e no significado do carro para a sociedade. O significado de carro evoluiu incrivelmente desde a sua criação, indo muito além de um meio de transporte ou algo que simplesmente leva você de A para B. Rapaille recomenda às montadoras: “A missão de vocês não é vender carros, mas perpetuar um elemento da cultura”.
Com tanta oferta e variedade de modelos no mercado, a escolha de um determinado carro acaba sendo uma expressão inconsciente de quem você é. Nos Estados Unidos, por exemplo, há quem diga que quem dirige um Hummer é republicano e quem dirige um Volvo é democrata. Se por um lado os carros precisam reinventar-se para sobreviver, eles não podem jamais perder a sua identidade, o seu DNA. Muitas marcas têm tido muito sucesso com essa filosofia, sendo fiéis ao que elas representam ao consumidor, como no caso do Jeep, que significa aventura, e o Mini Cooper, que é sinônimo de diversão. Outro teórico do “Carwinismo”, o psicólogo sueco Kare Rumar, analisa a evolução do carro pelo funcionamento dos faróis. Rumar afirma que o olho humano foi feito para a luz solar e que, por essa razão, à noite o olho funciona de
Rafael Pimentel Lopes
evolução dos automóveis modo limitado com a iluminação artificial. Diante disso, os passos evolutivos dos faróis seriam no sentido de tornarse extremamente inteligentes, ajustando automaticamente a luz de acordo com fatores como distância para outros carros, composição do tráfego, condições climáticas e situação da rodovia. Anders Sandberg, da Universidade de Oxford, também destaca o aumento da inteligência dos carros. Para Sandberg, num futuro próximo, os carros serão robôs inteligentes, chegando a entrar em piloto automático e podendo comunicar -se com outros carros e com o departamento de trânsito. A robotização dos carros não vai parar por aí. O carro inteligente saberá exatamente onde já foi e onde não foi, bem como será capaz de fazer viagens randômicas, escolhendo o destino de acordo com as preferências e o perfil do motorista.
Também haverá uma otimização de trajetos de acordo com os compromissos do motorista, pois o carro ajudará a definir a sequência ideal dos lugares a serem visitados. Além disso, o carro inteligente poderá propor uma alteração de agenda de acordo com as condições do trânsito. O preço dessa inteligência reduzirá bastante com o passar dos anos e se tornará acessível para o motorista. Mas quem falou que sempre haverá um motorista? Já existe tecnologia para a criação do carro autônomo, que fará com que todos no carro sejam passageiros. Para que os carros acompanhem as mudanças sociais e culturais, uma das palavras-chave é inovação. É apenas com criatividade que essa “máquina viva” vai adaptar se ao mundo a seu redor, encontrando soluções para temas como eficiência energética e redução de emissões,
apenas para citar alguns dos temas amplamente discutidos nos dias de hoje. Por fim, é importante ressaltar que todas essas transformações do mercado automobilístico não vão partir apenas das montadoras, mas da nossa própria transformação como consumidores. Essa seleção natural dos veículos depende fundamentalmente da seleção que fazemos na hora de comprar um carro. Por isso, não dê chance de sobrevivência a carros com um baixo custo de aquisição, mas um alto custo ambiental.
Rafael Pimentel Lopes Publicitário da Jung von Matt, em Berlim Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School Neo Mondo - Julho 2010
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LONGEVIDADE e suas implicações comerciais e sociais
A
recente descoberta que indivíduos centenários possuem uma série de assinaturas genéticas particularmente comuns abre a discussão sobre novos rumos da longevidade e saúde nas próximas décadas. Abre a possibilidade de que, no futuro, as pessoas poderão saber se têm ou não o potencial de viver ainda por muitas décadas – sem levar em conta, naturalmente, o histórico familiar, fatores ambientais ou de estilo de vida. A pesquisa, publicada em 2 de julho pela revista Science, interessa a toda a humanidade. As pessoas geneticamente privilegiadas foram pesquisadas pela professora
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Paola Sebastiani, da Universidade de Boston (EUA)1, que vasculhou com parceiros os genomas de 1.055 homens e mulheres com mais de 100 anos e de 1.267 indivíduos mais jovens (grupo de controle). Identificaram um número de marcadores genéticos que são especialmente diferentes entre centenários e indivíduos mais jovens. Os cientistas desenvolveram um modelo para calcular a probabilidade de uma pessoa atingir maior longevidade, com base em 150 marcadores genéticos identificados pelo estudo. Com a ajuda do modelo, os cientistas foram capazes de estimar com 77% de
exatidão se um determinado indivíduo ultrapassou ou não os 100 anos. Mas os autores destacam que o modelo ainda está longe de ser perfeito. Seguros e planos de saúde Os resultados da pesquisa recém-publicada (os genes da longevidade) poderão ser utilizados não apenas para avaliar a probabilidade de uma pessoa tornar-se centenária, mas também no estudo de doenças relacionadas ao envelhecimento. “A metodologia que desenvolvemos pode ser aplicada a outros mecanismos genéticos complexos, incluindo doenças como
Rosane Magaly Martins
Alzheimer, Parkinson, cardiovasculares e diabetes”, disse a pesquisadora para a revista Science. Os reflexos desta e outras pesquisas do Genoma Humano deixam em desassossego outros especialistas, como os que atuam com risco, que analisam como estas informações poderão refletir no cálculo dos custos de planos de saúde, nos atuariais da previdência pública e privada, assim como poderão ser mais bem calculados os seguros de vida. No futuro próximo poderemos saber quais pessoas apresentarão maior probabilidade genética que outra de envelhecer saudável ou envelhecer com patologias diversas que encareçam seus planos de saúde, seguro de vida e os cuidados e serviços com saúde. Prevenção de doenças Os pesquisadores imaginam que os resultados de novas investidas sobre o genoma poderão revelar padrões hoje desconhecidos a respeito do envelhecimento humano e que serão úteis para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento específicas para cada indivíduo. Hoje proliferam informações com fórmulas e conselhos que indicam o modo correto de viver bem, sem que tenhamos as fontes que embasem tais orientações. E mesmo que tenhamos acesso a tais fontes, não há como garantir que o indivíduo que siga tais recomendações terá o resultado prometido, pois não vivemos num mundo de certezas. Surge o paradoxo: quanto mais nos aperfeiçoamos nas pesquisas e no conhecimento, mais incerteza tem-se do futuro. Há sempre uma promessa para aqueles que fazem atividade física diária, consomem alimentação saudável e vivem sem estresse de que viverão muito. Caso não sigam as recomendações, os indivíduos hoje
correm o risco de ser vítimas de exclusão de determinados grupos sociais, por não cuidar de si e de sua saúde. Hoje vivemos uma infelicidade crônica não por falta de escolhas, mas pelo excesso e impossibilidades de usufruir de todas as informações existentes ao nosso redor. Z. Bauman chama isso de “globalização da vida individual”. Corpo de rico versus corpo de pobre As pesquisas do Genoma Humano podem mostrar-nos novos caminhos para controle e prevenção de doenças, mas não poderemos evitá-las. Como vivemos numa sociedade desigual, temos que pensar tais temas em termos de responsabilidade social. Como bem destaca o filósofo Renato Janine Ribeiro, a Saúde até pouco tempo era vista como uma tentativa de evitar males, onde a medicina pretendia levar o corpo a um estado de bem-estar. Hoje exige-se da Saúde algo mais que o combate a doença, pois as pessoas buscam a promoção do bem-estar. Como resultado temos o Prozac, o Xenical, o Viagra e vitaminas ortomoleculares que favorecem prazer, virilidade e expectativa de vida superior à de nossos antepassados. A questão trazida pela filosofia é como faremos a apropriação social desses resultados da ciência, uma vez que corpo e psique das pessoas estão em jogo. Caso não se faça uma discussão ética, “teremos uma sociedade dividida em corpos de ricos e corpos de pobres”, adverte Renato Janine Ribeiro. Ele destaca corpos esculpidos, saudáveis acompanhados de psique mais feliz versus corpos doentes, longe dos padrões da beleza com psiques infelizes por questão de dinheiro. Como podemos fazer com que a igualdade prevaleça, em tempos de mercado e globalização de uma sociedade capitalista selvagem? Se tivermos corpos
tratados desde cedo de maneiras diferentes, poderemos ter fetos e embriões manipulados e programados para destinos distintos. O que era ficção deixa de sê-lo, sustentado por um discurso midiático que oferece corpos magros mesmo comendo gordura, alegria com medicamentos, vida sexual ativa apesar da impotência. Temos que observar com cuidado a evolução das pesquisas financiadas por laboratórios que não objetivam o bemestar individual, mas sim o lucro no mercado globalizado. Somente avanços tecnológicos acessíveis a todos é que devem ser estimulados, sob pena de termos desigualdade não só social e econômica, mas também determinante de quem viverá pouco ou muito, com saúde ou doenças. 1 Artigo “Genetic Signatures of Exceptional Longevity in Humans” (10.1126/science.1190532), de Paola Sebastiani e outros, pode ser lido em www.sciencemag.org
Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/ México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fundadora e presidente da ONG Instituto AME SUAS RUGAS, participando desde 2007 na Europa e na América Latina de congressos, cursos e especialização que envolve o tema. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas” lançados no Brasil e em Portugal. E-mail: advogada@rosanemartins.com Site: www.rosanemartins.com
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Mitologia clássica: a invenção da
HUMANIDADE N
o limiar do terceiro milênio, vemos o surgimento de uma preocupação socioambiental auspiciosa. Uma outra ordem, mais democrática, mais sensível, mais humana, gradualmente parece impor-se no mundo globalizado, ao mesmo tempo em que, com os rápidos avanços da ciência e da tecnologia, vislumbramos, fascinados, um novo nível civilizacional que a humanidade estaria apta a atingir. Mas uma ampla consciência ecológica só poderá ser alcançada mediante esforços contínuos visando a uma educação que favoreça decisivamente o processo de interação do homem com o meio ambiente. Ao insistir na necessidade de colaboração internacional para a preservação da vida e para a elevação da qualidade de vida no planeta, a ideia de uma fraternidade universal naturalmente tende a se reforçar. Assim, o conceito de humanidade se expande na medida em que o espírito humano encontra condições para se desenvolver (eis aí o que parece um importante ganho do nosso tempo). A ciência e a tecnologia, no entanto, não podem por si mesmas apontar esse caminho para a evolução do homem. Tudo o que com elas se faça depende e dependerá sempre de escolhas ditadas por valores socialmente construídos, lenta e moralmente arraigados. A ciência e a tecnologia em si mesmas não são boas nem más – são possibilidades que se colocam à disposição da vontade humana, crian-
do novos meios que podem influir tanto na elevação quanto na dissipação da inteligência. Tudo depende do uso que deles se faça. Daí a necessidade de alimentar continuamente o espírito, educando a sensibilidade. Daí a importância da cultura e da imaginação, fundamentais na estruturação do pensamento. Por conta de um pragmatismo e de um imediatismo crescentes nos dias de hoje, o estudo da cultura clássica, base de todo o humanismo, foi sendo relegado em nossas escolas a ponto de desaparecer dos currículos oficiais do ensino fundamental e médio. Em consequência, o acesso ao legado do antigo mundo greco-romano e o despertar para os valores clássicos, sobre os quais se assentou a sociedade ocidental desde o Renascimento, tornou-se mais difuso e pouco sistemático para as jovens gerações. A perda que daí advém para a formação do espírito é certamente incalculável. E, por isso mesmo, num tempo em que tudo escoa pelo crivo simplista e quantificador das planilhas de avaliação, não podendo ser reduzido imediatamente a números, esse prejuízo passa despercebido. Ninguém menos do que Einstein afirmava que a imaginação é mais importante que o conhecimento (uma vez que o progresso do conhecimento, o que de fato importa, depende de nossa capacidade criativa). A invenção da humanidade – isto é, o reconhecimento de características específicas do homem, que nos distinguem como
seres no mundo, a valorização de nossa própria natureza e a consciência de que pertencemos a um grupo maior, ao qual permanecemos ligados por laços intrínsecos – se deu inequivocamente na Grécia Antiga, após um imemorial processo de evolução do pensamento primitivo. Perscrutando o mistério da existência, a imaginação do povo helênico criou uma série praticamente inesgotável de relatos míticos que sobreviveram por muitas gerações e foram o tesouro dos poetas antigos. Assimilado e enriquecido pelos romanos, esse patrimônio cultural jamais deixou de influenciar as artes e as ciências das épocas posteriores, no mundo que se reconstruiu sobre os fundamentos da cultura greco-romana. Na essência, ainda somos o que fomos desde então. Por isso estou pensando em recontar aqui um pouco dessas fábulas que incrementaram nossa imaginação no decorrer dos tempos e, de certo modo, levaram à invenção do que chamamos humanidade. Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br Neo Mondo - Julho 2010
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Cotidiano
NEOMONDO INFORMA Acompanhe aqui, em cada edição, as novidades mais quentes sobre o que está acontecendo no mundo Da Redação
Carbono pra dar e vender Imagine 3 mil pessoas de 110 países diferentes reunidas para discutir o mercado de carbono – desde as emissões de GEE (gases de efeito estufa) até tendências, novidades e tudo que há de mais moderno na área. Esse foi o principal objetivo da 7ª Carbon Expo, uma feira sobre mercado de carbono e tecnologias limpas que aconteceu em 26, 27 e 28 de maio em Colonia, na Alemanha. O evento foi organizado pelo Banco Mundial, pela Associação Internacional de Mercado de Emissões (em inglês, International Emissions Trading Association - IETA) e pelo Koelnmesse, uma das organizações mundiais líder em exposições de mercado industrial. Segundo feedbacks de alguns dos 240 exibidores da feira, o evento foi importante principalmente para deixar evidente a impor-
tância de estabelecer regras claras para a proteção do clima global para depois de 2012 – a data limite do chamado “primeiro período de
compromisso” do Protocolo de Quioto.
Com informações de CarbonExpo
Líderes empresariais discutem novidades do mercado de carbono
Cada vez mais verde Em meio de tantas iniciativas sustentáveis atuais, o instituto de pesquisa Market Analysis constatou que a publicidade também está mais verde - a quantidade de anúncios voltados para o tema cresceu 51%. Tais dados consideraram somente as revistas Veja e Exame, de grande circulação nacional, entre janeiro de 2003 e janeiro de 2010. As matérias de mídia impressa, no entanto, são imbatíveis: aumentaram cerca de 344% nesse período. Para Fabián Echegaray, diretor geral do instituto, tal estatística representa o reposicionamento do mercado a favor da busca de soluções para os problemas ambientais – uma boa-nova para todo mundo. Pesquisa constata que houve crescimento de anúncios sustentáveis de 2003 para cá
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Com informações de Meio & Mensagem
Amazônia detalhada em mapa online Uma iniciativa pioneira da Petrobrás, com a parceria do site de buscas Google, resultou em um mapa detalhado sobre a flora e fauna amazônicas disponível na internet. Além de ficar por dentro de curiosidades das espécies nativas, também é possível visualizar fotos e vídeos sobre as expedições realizadas por profissionais na área.
Facebook ambiental
A visualização e a pesquisa acontecem por meio dos serviços Google Maps e Google Earth e o acesso está disponível no endereço www.petrobras.com. br/biomapas.
Com informações de CicloVivo
Curiosidades sobre fauna e flora, bem como fotos e vídeos de expedições, estão no site
Com informações de Planeta Sustentável
Alternativa indiana Na corrida mundial por energias renováveis, a Índia aparece no cenário com uma proposta inusitada: produzir biodiesel a partir de algas marinhas e pinhão-manso (Jatropha curcas). Estudos que comprovem a eficiência e a viabilidade do projeto ainda estão em curso e são somados ao benefício de reduzir a pressão por terras, já que o país tem uma alta densidade populacional e é escasso em terras cultiváveis. Os especialistas preveem colheitas rápidas das algas (que crescem de 5% a 10% ao dia) e pesquisas posteriores que aumentem a produtividade do pinhão.
Com informações da Agência Fapesp
Não, a aparência do Made in Forest não é igual ao Facebook, mas a proposta de reunir pessoas, instituições e informações sobre iniciativas ambientais do mundo todo até permite uma comparação. O MiF possui sete categorias para facilitar a navegação: Eco produtos, Eco serviços, Eco turismo, Reciclagem de lixo e materiais, Universidade e Usuários da rede. Segundo os criadores da rede – os empresários brasileiros Fábio Biolcati e Martin Mauro – o portal já possui mais de 5 mil perfis de empresas, ONGs, universidades e cidadãos comprometidos com a causa ambiental de 25 países diferentes. Para mais informações é só acessar o site www.madeinforest.com ou seguir o perfil da rede no Twitter pelo @madeinforest.
Chove, chuva Como Funciona
Chuva Reservatórios superiores
1. A água pluvial é
captada por pontos distribuídos pelo prédio
5.
O reservatório distribui a água para o reúso
2.
4.
A água é direcionada por tubulação para o sistema de filtragem
Por uma tubulação, a água é conduzida para o reservatório superior
500 m2
é a área a partir da qual os prédios comerciais precisam captar água da chuva
Bomba de recalque
Filtro
Água da concessionéria
Cisterna
3.
Após passar pelo filtro, a água é armazenada numa cisterna
Prédios com mais de 500 m2 ou mais de 50 famílias terão de se adaptar
Biodiesel de algas marinhas é uma solução
E que chova, de preferência, nos reservatórios para captação de água dos edifícios de São Paulo. Essa é a mais nova proposta de lei sugerida pelo deputado Rodolfo Costa e Silva (PSDB) e que agora depende somente da aprovação do governador Alberto Goldman. Se a lei for aprovada, os prédios que possuem área superior a 500m² ou
que abrigam mais de 50 famílias terão de se apressar – os prazos para que edifícios comerciais e residenciais se adaptem à nova legislação será de dois e sete anos, respectivamente, e apenas 180 dias para os que ainda estão em construção ou na planta.
Com informações de Metro
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Cotidiano
Os frutos (verdes) do ensino Para quem acredita que o que realmente importa são as crianças que deixaremos para o mundo (e não o contrário), vem aí uma oportunidade para mostrar projetos educacionais sustentáveis que visam conscientizar a geração futura. Trata-se da segunda edição do Prêmio Ecofuturo de Educação para a Sustentabilidade, que tem o “Saber cuidar” como tema central e recebe
iniciativas e planos de aula que ajudem educadores a tratar de sustentabilidade em sala de aula de forma teórica e prática. A inscrição vai de 25 de junho a 25 de agosto e é aberta para professores da rede pública e privada de educação infantil a ensino médio, além de educadores que atuem na EJA (Educação para Jovens e Adultos) e em outras instituições onde se
realizem atividades educacionais. Os autores dos dez melhores projetos inscritos no concurso serão premiados com R$ 3 mil e uma coleção de títulos de literatura e ecologia. Mais informações no site www.premioecofuturo.com.br.
Com informações de Planeta Sustentável
Projetos e atividades ligadas à sustentabilidade em sala de aula serão premiados pela iniciativa
Movimento antissacolinha Verdadeiras vilãs do meio ambiente por se acumularem em uma proporção imensurável, por levar centenas de anos para se decompor e por poluir o meio ambiente. Para se ter uma ideia, o Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida) calculou que 15 bilhões de sacolas plásticas descartáveis foram distribuídas às lojas comerciais brasileiras em 2009. Esses são os principais motivos que estão levando supermercados – que distribuem sacolinhas plásticas descartáveis de graça – a promover iniciativas que visam incentivar o consumidor a reduzir e até dispensar o uso desse produto. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, Belo Horizonte (MG) foi a primeira cidade brasileira a instituir, em 2007, uma legislação para o assunto (a partir de 2011, todos
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os estabelecimentos do município que não se adaptarem à Lei serão penalizados). Depois, vieram algumas outras cidades como Florianópolis (SC), Sorocaba, Guarulhos e Jundiaí (SP). Essas ações, no entanto, ainda são pontuais e tímidas diante da urgência da causa ambiental. Até quando?
Com informações do Planeta Sustentável
15 bi de descartáveis ainda são pouco
Casa Cor sustentável A busca por soluções sustentáveis em todos os projetos desenvolvidos por arquitetos e decoradores foi a linha-guia desse ano da Casa Cor, o maior evento de arquitetura e decoração das Américas e o segundo maior do mundo. Os 120 ambientes apresentados seguiram o tema “Sua casa, sua vida, mais sustentável e feliz” e apresentaram tendências e novidades da área. Espaços multifuncionais, o uso de madeira certificada e de objetos reciclados, feitos por exemplo a partir de garrafas pet, foram algumas das alternativas mais vistas durante o evento.
Com informações de CasaCor
Construção sustentável para Copa e Olimpíadas A Fundação Vanzolini, uma instituição sem fins lucrativos, mantida e gerida pelos professores do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, acaba de lançar a certificação AQUA para arenas e complexos esportivos multiuso. Esta novidade é voltada para adequar reformas e construções aos critérios de Alta Qualidade Ambiental para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. As categorias abordadas no processo envolvem questões como acessibilidade, segurança, impacto ambiental, economia de energia elétrica e de água, planejamento da gestão de resíduos, entre outros.
Parceria artesanal online
Com informações de Infra Facility | Property
Selo leva em conta acessibilidade, segurança e economia
A rede norte-americana de supermercados Walmart anunciou uma parceria com a Solidarium, uma empresa social com foco na articulação de acordos comerciais para desenvolver, fortalecer e ampliar uma rede de grupos produtores localizados em comunidades de baixa renda. Esse tipo de negócio está alinhado ao Comércio Justo, um dos pilares da sustentabilidade econômica e ecológica que visa estabelecer preços justos e padrões sociais e ambientais equilibrados. Estima-se que o projeto beneficie cerca de 150 homens e mulheres do Paraná, São Paulo, Maranhão e Minas Gerais, que contarão com o pagamento 50% adiantado pela companhia. Será possível adquirir os produtos fabricados pelo site www.walmart.com.br.
Com informações de Supermercado Moderno
Hidropirataria volta para a pauta Você leitor de NEO MONDO se lembra de uma reportagem denunciando o roubo de água de rios da Amazônia por navios estrangeiros (edição 32 / março 2010)? Pois esse mesmo tema voltou à tona no final de junho em uma audiência pública na Comissão da Amazônia, que reuniu vários órgãos do Executivo para debater essas denúncias. O tema, no entanto, foi contestado por representantes da Marinha, da Polícia Federal e do Ministério do Meio Ambiente, que informaram que até hoje não foi feita nenhuma denúncia formal de hidropirataria na Região Amazônica. O coordenador de Articulação e Comunicação da Agência Nacional de Águas (ANA), Antonio Félix Domingues, foi um dos presentes que argumentou que esse tema é um mito. “Não temos a menor evidência nem fundamento sobre essa denúncia por uma simples razão: economicamente, não é viável para ninguém pegar água na foz do rio Amazonas e levar, por exemplo,
para os países do Oriente Médio, porque o custo do frete e do tratamento dessa água é três, quatro, cinco vezes superior ao custo da dessalinização dessa água em Israel ou na Arábia Saudita.” A advogada Ilma Barcelos, autora das denúncias publicadas na revista Consulex e ligada à Comissão de Meio Ambiente da OAB do Espírito Santo, disse que vai formalizar a denúncia. “Eu
já tinha certeza absoluta que essas questões seriam negadas porque ninguém vai assumir que é incompetente em algum órgão. Eu continuo afirmando que existe uma grande omissão por parte das autoridades em verificar, de forma responsável, essa questão do tráfico de água doce.”
Com informações de Correio do Brasil
Autoridades negam, mas advogada insiste em que o que há na verdade é omissão em apurar as denúncias
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