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Ano 10 - N0 77 - Novembro/ Dezembro 2016
Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida
R$ 16,00
PANTANAL # SHOW Mangue
Ameaça eminente
Pantanal
Patrimônio natural da humanidade
Alerta
Desmatamento na Amazônia
MATRIZ CERRO CORÁ
UNIDADE ACLIMAÇÃO
PROJETO TATUAPÉ
PROJETO MOEMA
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Proteção e respeito a todos os animais 6
Neo Mondo - Julho 2008
Neo Mondo - Julho 2008
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Seções
ÍNDICE 12
Meio ambiente No quintal do nosso mangue Considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta.
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Meio ambiente Uma viagem aos biomas brasileiros Pantanal - a maior planície alagada do mundo
Artigo Ulrike Vogi O centro virou periferia
Animais
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Economia Pecuária sustentável Combina pecuária moderna e proteção de áreas da Floresta Amazônica
Ação pretende proteger aves migratórias do pantanal Região recebe espécies de várias partes do mundo
EDITORIAL Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
O Pantanal, maior área continental úmida do planeta e berço de rica biodiversidade, é o tema da edição que encerra o ano de 2016. E, em clima natalino, são os nossos leitores os agraciados por um presente especial da WWF-Brasil e do fotógrafo Adriano Gambarini. Nossa capa e páginas centrais estampam fotos da exposição “Pantanal: natureza, conservação e cultura”, organizada pela WWF-Brasil em homenagem ao Dia do Pantanal, celebrado em 12 de novembro. Adriano Gambarini (www.adrianogambarini.com) é fotógrafo da Revista National Geographic Brasil e autor de 13 livros de fotografias, sendo dois deles finalistas do Prêmio Jabuti. Com mais de 20 anos de profissão, possui um dos arquivos fotográficos mais diversificados do país, com mais de 170 mil fotos de ecossistemas, cavernas, vida selvagem, modos de vida, cultura de grupos étnicos, Antártica e mais 20 países. E, lógico, milhares de imagens do Pantanal, sua rica biodiversidade, fauna e pecuária, a principal atividade econômica da região. Muito obrigado, NEO MONDO e seus leitores agradecem o presente! Nesta edição abordamos ainda a tendência de aumento do desmatamento na Amazônia e um inovador projeto que se transformou em modelo de pecuária baseado no tripé de sustentabilidade, o projeto Pecuária Verde, realizado em Paragominas (PA). Tudo isso e muito mais vocês encontrarão em nossas páginas. Encerro aqui com votos de Boas Festas para todos e de um 2015 repleto de saúde, paz, luz e conservação. Tenham uma ótima leitura! NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz
Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco
Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)
Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação)
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO Direção de Arte: Editora Caramujo Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575)
Diretor de Tecnologia - Roberto Areias de Carvalho Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho - São Paulo - SP - CEP 05442-040 Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@ neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4303-0491 / 98234-4344 Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br
PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. Neo Mondo - Novembro/ Dezembro2016
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Meio Ambiente
No quintal do nosso
mangue Por Andreza Taglietti
Considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, os manguezais contribuem para a biodiversidade, mas são menosprezados pelos projetos de conservação
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uando se fala em ecossistemas ameaçados pela ação humana, logo vêm à mente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, que sofrem desmatamento acelerado. Menos lembrados são os manguezais, embora tenham importância crucial para a manutenção da vida na costa de forma geral. Considerados um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, contribuem para a biodiversidade de relevância mundial, asseguram a integridade ambiental da faixa costeira e são responsáveis pelo fornecimento dos recursos e serviços ambientais que sustentam atividades econômicas. O Brasil abriga a terceira maior área de manguezais do planeta (162 mil km2). Cerca de 26 mil km2 (cerca de 16% do total) estão distribuídos por 16 estados do território brasileiro, desde o Amapá até Laguna, em Santa Catarina, e são a base da biodiversidade no litoral. Em Pernambuco, existem cerca de 270km2, espalhados por Goiana e Megaó, Itapessoca, Jaguaribe, Canal de Santa Cruz, Timbó, Paratibe, Beberibe, Capibaribe, Jaboatão e Pirapama, Massangana e Tatuoca, Ipojuca, Macaraípe, Sirinhaém, Ilhetas e Mamucabas, Uma e Meireles e Persinunga. Na costa do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais chegam a ter 40 quilômetros de largura e suas árvores alcançam mais de 40 metros de altura. Apesar de sua importância, esse ecossistema é cada vez mais vulnerável a uma série de ameaças, tais como a perda e fragmentação da cobertura vegetal, a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, devido, sobretudo, à poluição e à mudanças na hidrodinâmica, o que tem promovido a diminuição na oferta de recursos dos quais muitas comunidades tradicionais e setores dependem diretamente para sobreviver. Outros fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do manguezal são: aterro e desmatamento; queimadas; deposição de lixo; lançamento de esgoto e de efluentes industriais; dragagens; 12
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construções de marinas; pesca predatória. Estima-se que 25% dos manguezais brasileiros tenham sido destruídos desde o começo do século 20. Além disso, muito dos que ainda existem são classificados como vulneráveis ou ameaçados de extinção. A situação é particularmente séria no Nordeste e no Sudeste, que apresentam um grande nível de fragmentação. Estimativas recentes sugerem que cerca de 40% do que foi um dia uma extensão contínua de manguezais foi suprimido. Hoje, no Brasil, a faixa mais ameaçada é a área conhecida como apicum, palavra de origem tupi que significa “brejo de água salgada”. Os apicuns ocorrem geralmente nas regiões onde as marés têm dificuldade em avançar na costa por encontrar terras elevadas. A água que chega a essas terras se evapora rapidamente e o chão acumula tanto sal que nele sobrevive apenas a vegetação rasteira. Ecossistema-chave Manguezais são inquestionavelmente considerados como uma das organizações mais produtivas do planeta. Na América Tropical, na qualidade de zonas úmidas, são reconhecidos como “ecossistemachave”, cuja preservação é crítica para o funcionamento de outros grupos maiores e mais diversos que se estendem além dos limites de um bosque de mangue. Desempenham importante papel como exportador de matéria orgânica para o estuário, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Cerca de 70% das espécies de peixes, moluscos e crustáceos pescados comercialmente no litoral brasileiro têm relação com os manguezais em alguma fase de sua vida. É nessa área que encontram as condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo para várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico e econômico. É comum a coleta dessas espécies que vivem enterradas
na lama para o comércio. A manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Esse ecossistema também serve de refúgio para aves migratórias. Os mangues do Maranhão e Pernambuco, e também os da região de Cubatão, no litoral paulista, recebem batuíras e maçaricos, aves típicas do norte do Canadá e Estados Unidos, que se recuperam ali após a longa viagem. A vegetação dessas áreas serve para fixar as terras, impedindo assim a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a costa. As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos. Constitui, ainda, importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas. Falta de projetos de preservação O manguezal é considerado, no Brasil, área de preservação permanente, incluído em diversos dispositivos constitucionais (Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais (leis, decretos, resoluções, convenções). Mas sua deterioração é também resultado da ausência de iniciativas, em escala nacional, que visem à sua preservação e ao uso sustentável. Durante muito tempo, os únicos trabalhos produzidos sobre o tema eram de cunho científico, com circulação limitada às universidades e com foco em regiões restritas. O primeiro mapeamento nacional foi feito apenas em 2008, pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Um projeto lançado há três anos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), batizado de Manguezais do Brasil, recebeu financiamento do PNUD, órgão das Nações Unidas que cuida do combate à pobreza e também lida com questões ambientais. Foram escolhidas cinco regiões na costa brasileira, no Pará, Maranhão, Piauí, Paraíba, São Paulo e Paraná, onde serão feitas experiências de gestão e preservação dos recursos. O mapeamento do ecossistema também será atualizado, em parceria com o Ibama e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Espera-se que a iniciativa ajude a preservar os berçários da vida do litoral brasileiro.
Erro conceitual Em outubro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou 32 modificações no Código Florestal. Determinou que os manguezais de todo o País passassem a ser Área de Preservação Permanente (APP) e também vetou os dois parágrafos da lei que permitiam a municípios e estados decidir sobre a proteção de manguezais e dunas. Os vetos da presidente Dilma Rousseff, no entanto, ao Código Florestal não incluíram o trecho da nova lei que tratava da carcinicultura, a técnica de criação de camarões em viveiros. Segundo especialistas, esta falha é desastrosa para o manguezal no Nordeste, que terá 35% de sua área suscetível a aterros para a implantação de fazendas de camarão. No texto aprovado pelo Congresso Nacional em setembro de 2012, que não sofreu interferência do executivo federal, a prática é permitida em até 10% na Amazônia e até 35% nas demais regiões, inclusive no Nordeste, em apicuns. Para especialistas em ecossistema, um erro conceitual possibilitou a abertura de uma “brecha” para parlamentares que defendiam os interesses dos carcinicultores. Devido a esta falha, a crescente conversão de apicuns em viveiros de camarão reduzirá a produtividade dos estuários. Um exemplo claro é quando consideramos o caso de crustáceos como os caranguejos, que fazem as tocas nestes locais, revolvendo o solo e trazendo nutrientes para a superfície. Quando a maré enche, esse material é transportado para o estuário, contribuindo
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Meio Ambiente
para a manutenção da cadeia alimentar do estuário e dos mares. Além disso, os apicuns, da forma como está no novo Código Florestal, não são considerados Área de Preservação Permanente (APPs), apenas o mangue. Mas o manguezal não é só a floresta de mangue - é nos apicuns que se espraia a água no estuário, na maré alta. Com a ocupação deles, essa água vai invadir as áreas habitadas.
na cata de caranguejos O Porto do Capim é uma comunidade de baixa renda localizada às margens do rio Sanhauá, em João Pessoa, na Paraíba. São cerca de 350 famílias pobres vivendo sob condições precárias, morando em casas simples de alvenaria ou barracos de madeira à beira do mangue. Os moradores, em geral, trabalham em oficinas mecânicas e madeireiras próximas, ou como descarregadores de caminhão, entre outras ocupações. Muitos recebem o Bolsa Família, que, porém, não é suficiente para o sustento das famílias. Na comunidade não há posto de saúde, quadra poliesportiva ou equipamentos culturais. E a única escola pública atende apenas alunos da primeira à quarta série do ensino fundamental. A total ausência de opções de lazer e cultura e a necessidade de complementar a renda se traduzem numa triste realidade que acompanha o Porto do Capim há anos. Crianças e adolescentes passam horas coletando caranguejos-uçás e guaiamuns – outro tipo de caranguejo – nos mangues locais para depois vendê-los para a população da cidade. Durante o ano inteiro, eles armam a ratoeira pela beira do mangue para pegarem o guaiamum e depois comercializarem. Durante a andada do caranguejouçá, há muitas crianças dentro do rio. A andada é o período em que há o acasalamento e a desova dos caranguejos-uçás, o que os leva a ficarem mais tempo fora da toca, tornando-os presas fáceis. A cata desses crustáceos é proibida durante essa época.Os meninos também pegam os caranguejos para comer. Muitas vezes precisam levar alguma comida para casa. Mas Porto do Capim é uma amostra da realidade de um universo muito maior. E um problema também. A atividade em mangues é considerada uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o decreto presidencial 6.481, de 2008. Segundo o documento, nesse tipo de trabalho, crianças e adolescentes são expostos à umidade e excrementos, ferimentos ocasionados por caranguejos, perfurações e picadas de serpentes. Além disso, podem contrair doenças como rinite, resfriado, bronquite, dermatite, leptospirose e hepatite viral. Por isso, é importante reforçar a fiscalização da incidência de trabalho infantil nos mangues, para que as crianças sejam encaminhadas, por exemplo, ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras), ambos do governo federal.
Antonio Cícero/FotoArena/AE
Lixo, caranguejos e urubus O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado. No passado, as manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e a química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal. Nessas regiões, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e as frequentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios. Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a matéria orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição. O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas da linha do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.
Crianças e adolescentes trabalham
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O Manguebeat e a Manguetown
Projeto Manguezais do Brasil O Projeto Manguezais do Brasil foi criado pelo Ministério do Meio Ambiente com o objetivo de melhorar a capacidade do Brasil de promover a efetiva conservação e uso sustentável dos recursos em ecossistemas manguezais, baseado no fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e na designação de áreas de preservação permanente a todos os manguezais do Brasil. O projeto é executado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que, para cumprir tal objetivo, busca elaborar uma estratégia de gestão de áreas protegidas para a conservação efetiva de uma amostra representativa dos ecossistemas manguezais no Brasil.
Divulgação
Um estilo musical muito interessante e cheio de ideias inovadoras surgiu no Recife por volta dos anos 1990: o Manguebeat (algo como “ritmo do mangue”, “batida do mangue”). Uma mistura de rock, hip hop e música eletrônica, quase uma música de contestação, para protestar sobre o descaso sofrido pela cultura local, a desigualdade entre as pessoas e também sobre o abandono sofrido pelo mangue. Apesar das raízes do Manguebeat existirem desde a década de 70, com discos do guitarrista Robertinho de Recife, o estilo foi associado à figura do músico Chico Science (1966-1997), que era vocalista da banda Nação Zumbi, em atividade até os dias de hoje. Mesmo depois da morte de Chico Science, o movimento continua vivo e forte, sempre ligado ao seu papel social e representado por bandas como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Sheik Tosado e Eddie. Inclusive, muitas homenagens foram prestadas a esse ritmo tão especial, como é o caso da estátua do caranguejo - animal símbolo do movimento - construída na rua da Aurora, bairro do Recife.
Utilização sustentável dos manguezais Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal sem lhe causar prejuízos ou danos, entre elas: • Pesca esportiva e de subsistência, evitando a sobrepesca, a pesca de pós-larva, de juvenis e de fêmeas ovadas • Cultivo de ostras • Cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias) • Criação de abelhas para a produção de mel • Desenvolvimento de atividades turísticas, recreativas, educacionais e pesquisa científica
Para celebrar a riqueza deste ecossistema, a revista NEO MONDO desenvolveu um aplicativo especial de Realidade Aumentada, em que você terá a oportunidadede se surpreender com o equilíbrio existente nos mangues. Acesse http://trinitymidia.com.br/ meioambiente.html
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Educação
A
s estudantes brasileiras Georgia Gabriela da Silva Sampaio e Raíssa Müller, ambas com 19 anos, foram selecionadas em um programa de incentivos a projetos empreendedores com ideias inovadoras, promovido pela Harvard University, nos Estados Unidos. Agora estão captando recursos para custear uma viagem aos Estados Unidos, na qual representarão o Brasil apresentando seus projetos para investidores (mais informações de como contribuir no box).
DOIS JOVENS TALENTOS EM HARVARD Duas estudantes brasileiras foram selecionadas em um programa de incentivo a projetos inovadores de empreendedorismo social. Para custear uma viagem aos Estados Unidos, estão captando doações por meio da Internet. Da Redação
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Jannis Tobias Werner / Shutterstock.com
Georgia Gabriela da Silva Sampaio pesquisa a criação de um método menos invasivo e mais barato, por meio de um exame de sangue, para o diagnóstico da endometriose. A doença é caracterizada pela presença do endométrio – tecido que reveste o interior do útero – fora da cavidade uterina, ou seja, em outros órgãos da pelve: trompas, ovários, intestinos e bexiga. Hoje, afeta cerca de seis milhões de brasileiras. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, entre 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) podem desenvolvê-la e 30% tem chances de ficarem estéreis. Giorgia começou a pesquisar o assunto há três anos, depois que uma tia foi diagnosticada e teve de extrair o útero. A estudante concluiu o ensino médio no ano passado e agora vai disputar uma vaga em uma universidade americana, onde pretende conciliar cursos de engenharia e algo no campo das ciências biológicas. Já Raissa Müller é estudante do ensino técnico em química. Criou uma espécie de esponja que repele água e absorve óleo e poderia, por exemplo, ser utilizada em acidentes com derramamento de óleo no mar. Nenhuma substância química tem esse poder, segundo Raíssa. Lembra que a palha de milho também é usada para este fim, mas depois precisa ser queimada. Agora a estudante pretende fazer testes do produto em grande escala para verificar a aplicabilidade. Os vídeos de ambas podem ser visto nos links https://www.youtube.com/watch?v=5pciCcDipys e https://www.youtube.com/watch?v=jdrIz3xHgN8.
Contribua você também A contribuição para Georgia Gabriela da Silva pode ser feita no link: https://www.crowdrise.com/villagetoraiseachildprojects/fundraiser/georgiagabrieladasam Para Raíssa Müller pode ser feita por meio do link: https://www.crowdrise.com/villagetoraiseachildprojects/fundraiser/rassamller Neo Mondo - Novembro/ Dezembro2016
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Meio ambiente
UMA VIAGEM AOS BIOMAS BRASILEIROS Considerado como a maior planície alagada do mundo, o bioma tem a importante função de corredor biogeográfico entre as duas maiores bacias da América do Sul. Da Redação
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P
antanal, maior planície alagada do mundo, se estende por diversos países da América Latina, entre eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando uma área total de 210 mil km2. Com a maior parte no território nacional (cerca de 70%), o bioma está presente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Considerado como um elo de ligação entre as duas maiores bacias da América do Sul (do Prata e da Amazônia), a região pantaneira tem a importante função de corredor biogeográfico, permitindo assim a dispersão e a troca de espécies de fauna e flora entre os lugares. Por esse e por outros motivos, grande parte do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica do Prata) é considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, além de estar presente na Constituição Brasileira como Patrimônio Nacional.
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Mesmo não possuindo um número muito grande de espécies endêmicas (exclusivas), o bioma tem qualidades de uma “ecorregião”, ou seja, possui características específicas por englobar diversos outros biomas, como o Cerrado (leste, norte e sul), o Chaco (sudoeste), a Amazônia (norte), a Mata Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste). Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheias e secas, faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito grande de espécies. Em relação ao clima, a região possui temperaturas quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em torno de 1.000 e 1.400 milímetros.
Pantanal Florestal O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca de 1.650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os campos pantaneiros são predominantemente cobertos por gramíneas e vegetações típicas do cerrado. Já nos pontos mais altos, como picos e morros, há o predomínio da flora típica da caatinga, com barrigudas, gravatás e mandacarus, além da ocorrência da vitóriarégia, planta típica da Amazônia. Nas partes alagadas, as v e g e t a ç õ e s flutuantes, como aguapé e a salvinia, são predominantes. Essas, quando carregadas pelos rios, formam ilhas verdes, chamadas de camalotes. Outra flora existente é a de mata densa e sombria, normalmente encontradas em volta das margens mais elevadas dos rios.
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Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o Carandá (Copernicia australis), planta da família das arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio. Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria madeireira para construção de postes para linhas telefônicas e elétricas.
Pantanal Animal Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira também é muito grande, sendo, inclusive, considerada umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1.800), 1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do bioma:
1 Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade, dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos vertebrados.
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Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto, e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar 8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.
Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos. Maior veado da América do Sul, o cervo-do-pantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não sirva para comer, o cervo-do-pantanal é caçado por causa do couro e galhada.
4 Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. O nome deriva-se de sua habilidade de colher, através do bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
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Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois e três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos. Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é a temperatura corporal, que varia de 25 a 30 graus.
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Pantanal Social e Econômico Com uma população aproximada de 1,1 milhão de pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes, como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como Cuiabá (MT). Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa população, destaca-se a pesca, que tem ligação direta com o turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo de estimulo econômico é o maior gerador de renda dos residentes da região, dividido em três categorias: a pesca de subsistência, que é fonte de alimento das populações ribeirinhas;
A pesca profissional, cuja função é gerar renda aos pescadores, principalmente, na venda de espécies nobres, como pintado, dourado e pacu; e a pesca esportiva, maior atrativo turístico do Pantanal, que recebe, em média, 450 mil pescadores de fora por ano. Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva, ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de cabeças na área pantaneira) dependem do período de cheia e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento das partes baixas, os animais têm que ser levados aos locais mais altos para se alimentar e procriar. Outras atividades econômicas são a mineração e a siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas têm uma importante função no crescimento não só da economia regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres.
Degradação do Pantanal Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal também sofre com problemas ambientais de degradação. Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado a uma grande fonte de renda da região e do País como um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de forma impressionante.
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As queimadas são outro problema da região pantaneira. Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes, atingem a própria população, que fica contaminada pela fumaça, lotando os postos de saúde com problemas pulmonares, e também os pássaros, que acabam se afastando, também por causa da fumaça. Um terceiro problema é a exploração incessante de algumas espécies de animais e de plantas nativas do bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso, há o comércio ilegal de madeira, que destrói e acaba com as árvores do território.
O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça e a venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam com esses animais, o que influencia diretamente na cadeia alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática. Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente da pecuária no planalto, fazendo com que diversos sedimentos rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água. O sexto problema está ligado às atividades mineradoras, que acabam contaminando os lençóis freáticos.
Curiosidades • A maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos. • O tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas. • Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do Pantanal. • As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas. • O Pantanal brasileiro possui 144.294 km2 de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram em Mato Grosso do Sul e 38,1% em Mato Grosso. • O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores. • Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. • A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que vivem na região. • O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. • O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai flua bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal. • A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira. • Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
Receita Típica do Pantanal: Furrundum
Ingredientes: • 2 cidras médias (cerca de 1 kg) • 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas ou 3 xícaras de açúcar mascavo • 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado • 1 coco grande ralado fino
Preparo: 1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso sem atingir a polpa; 2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela com água
fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo; 3. Escorra e esprema bem; 4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte a rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo. Acrescente o gengibre e leve ao fogo brando; 5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo da panela começar a aparecer; 6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando, mexendo sempre, por mais alguns minutos; 7. Tire do fogo e deixe esfriar; 8. Retire pequenas porções da massa e modele formando bolinhas; 9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa. Rendimento: cerca de 30 doces. Neo Mondo - Novembro/ Dezembro2016
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Artigo
O CENTRO VIROU PERIFERIA Uma viagem para o Pantanal, paraíso ameaçado no coração da América do Sul.
Ulrike Vogl Correspondente especial de Berlim – Alemanha
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ou uma mulher da cidade. Nasci em Viena, centro cultural, político e econômico da Áustria e que era, até uns 100 anos atrás, a capital de um grande império, o da ÁustriaHungria. Não posso me imaginar morando numa cidade provinciana ou no campo. Às vezes, porém, me apaixono por uma região periférica que é carente em infraestrutura e pouco habitada, mas dotada de uma beleza irresistível. Já aconteceu no Alasca, na Patagônia chilena e nas ilhas Lofoten na Noruega. No Brasil, uma das regiões julgadas periféricas é o Pantanal. O Pantanal faz parte de uma grande planície com partes localizadas nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, na parte ocidental da Bolívia e no Paraguai. Em 1981, uma grande parte da região pantaneira foi transformada em Parque Nacional. Do ponto de vista geográfico, o Pantanal fica no centro mesmo da América do Sul. Um lugar a alguns quilômetros ao norte da região pantaneira foi identificado como centro geodésico do continente sul-americano. Nesse lugar uma placa informa que estamos num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico. Esse “centro” porém, é pouco habitado: a densidade demográfica de Mato Grosso é de apenas 2,6 habitantes por km2 e a capital, Cuiabá com 482.500 habitantes, é uma das menores capitais estaduais do Brasil. É uma cidade com pequeno centro colonial, mas cercada de prédios modernos e altos, o que lhe dá um pouco de ar de metrópole. De maneira geral, Cuiabá não tem muito a oferecer aos turistas que normalmente só passam pela cidade a caminho para o Pantanal. 24 24
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A nossa viagem para o Pantanal Norte também começou em Cuiabá. Lá encontramos o guia Pedro Paulo que iria nos levar de carro para o interior do Parque Nacional. A intenção era viajar pela Transpantaneira até a Pousada Rio Claro. A Transpantaneira foi construída entre 1972 e 1977 durante a ditadura militar. Na época existiam planos de construir uma estrada que ligasse Poconé (perto de Cuiabá) a Corumbá (um trecho de 397 quilômetros). Mandaram milhares de soldados para realizar o projeto. Falta de dinheiro e protestos de ecologistas fizeram com que o projeto nunca fosse terminado. Resta uma estrada sem saída, sem asfalto, de 149 quilômetros. O Volkswagen do Pedro Paulo balançava bastante na Transpantaneira que estava em estado ruim. Fora da van, estendia-se um vasto terreno verde. Não havia lojas, propagandas nem postos de gasolina. Entramos em terra desconhecida. O nosso guia Pedro Paulo, no entanto, parecia se sentir à vontade. Era óbvio que para ele não se tratava de terra desconhecida: o Pantanal é o seu centro do mundo. Segurando bem a direção, estava ao mesmo tempo olhando para o campo e mostrando animais da seguinte forma: jacaré Kaiman-caiman, capivaras Wasserschwein-capybara, martim-pescador Eisvogel-kingfisher. Era como se tivesse aprendido de cor o nome dos animais em três línguas. O entusiasmo dele pegou. Descobrimos dois tuiuiús, símbolos do Pantanal. A apenas alguns metros da Transpantaneira vimos lontras na água, comendo peixe. Perto delas, inúmeros jacarés meio escondidos no capim alto. E sobretudo pássaros de todas as cores e tamanhos do mundo. Lembramos de um trecho num guia turístico onde o autor chama o Pantanal de “jardim zoológico gigante”. Dizem que o Pantanal tem a fauna e a flora mais diversas da América do Sul: foram identificadas mais de 260 espécies de peixes, 656 espécies de pássaros e 50 espécies de répteis. Depois de 42 quilômetros na Transpantaneira, viramos à esquerda e seguimos numa pequena estrada que nos levou à Pousada Rio Claro. De novembro até março só se pode
chegar lá de barco. O Pantanal é cercado de planaltos e, na época das chuvas, quase toda a água dos planaltos se reúne na planície do Pantanal e faz com que grandes partes de terra sejam inundadas. A Pousada estava lotada de turistas: da Holanda, da Bélgica, da Inglaterra, da Alemanha e da Polônia; mas nenhum do Brasil. Ao perguntarmos por que havia poucos turistas brasileiros no Pantanal, disseram-nos que “brasileiros preferem praia”. Acrescentaram que “se não tivesse existido a novela Pantanal nos anos 90, ainda menos brasileiros teriam visitado a região”. Por um lado compreendo bem que os brasileiros em geral prefiram passar as férias no litoral. Sendo de um país sem acesso ao mar, sempre sonhava em visitá-lo quando era criança. Até hoje tenho saudades do mar e gosto muito de passear na orla. Por outro lado, sei por experiência própria que férias no “interior” podem também ser muito divertidas. Quando era pequena, sempre passava as férias na Áustria que só tem “interior”, não tem litoral. Ia para as montanhas com a minha família, nadava em lagos e aproveitava bastante. Essa situação me fez pensar que talvez exista uma diferença profunda entre a Europa e os outros continentes no que se refere à relação entre centro, periferia, interior e litoral. Na Europa, regiões periféricas podem ser situadas tanto longe quanto no litoral mesmo. E não se liga automaticamente periferia (política, econômica e cultural) com interior e litoral com a ideia de centro (político, econômico e cultural) como é comum no Brasil. Ao contrário, na história da Europa, países localizados no centro do continente viram nisso um sinal de poder. Essa metáfora que compara o centro geográfico a um coração poderoso é menos corrente no caso do Brasil. Sem
Por exemplo, uma linha do hino nacional da minha terra, a Áustria, diz: ‘fervorosamente disputada, furiosamente desejada, está no meio do continente, igual a um coração poderoso’.
dúvida isso tem a ver com a história da colonização e, em específico, com a direção da colonização. Os colonizadores se aproximaram pelo mar e se instalaram no litoral. Na historiografia brasileira, a colonização do interior é descrita como empreitada dura e perigosa que perseguia um objetivo principal: descobrir metais preciosos. Em busca de ouro os bandeirantes descobriram e exploraram o interior, fundando colônias no caminho. Ouro Preto é o exemplo mais conhecido. Um outro exemplo é Cuiabá, pois a cidade foi fundada em 1719, nas margens do Rio Cuiabá, quando bandeirantes encontraram ouro na região. Os bandeirantes são descritos como heróis que superaram o clima desagradável e sobreviveram a doenças tropicais e conflitos com a população indígena. Talvez seja essa imagem do interior como um lugar desconhecido e hostil que ainda impede a maioria dos brasileiros de escolher o interior como destino de viagens de lazer. Porém, é mais do que a imagem do bandeirante em ambiente hostil que sobreviveu até hoje. A tradição da exploração do interior também continua. Hoje em dia, grandes partes do interior estão sendo exploradas por causa das suas riquezas naturais. Fora do Parque Nacional do Pantanal, a savana foi desmatada para dar lugar a criações de gado e plantações de soja onde pesticidas contaminam os rios da região. Ao voltarmos para Cuiabá, perto de Poconé, descobrimos o que pareciam ser colinas. Porém, o nosso guia explicou que eram áreas degradadas para dar lugar ao garimpo. O solo devastado nos fez lembrar que de fato, a mineração de ouro ainda não terminou. Até hoje garimpeiros usam mercúrio para extrair ouro da terra. O mercúrio contamina o solo e a água o que representa uma ameaça à saúde dos habitantes do Pantanal. O centro geográfico do continente, longe de ser aceito como ‘coração’ do país, é um paraíso em perigo. Continuamos a nossa viagem em direção à costa baiana. No final das contas, sou como os brasileiros: gosto de praia. Passamos o resto das férias na Praia do Forte, sonhando com a beleza do Pantanal e refletindo porque, no Brasil, o centro virou periferia.
Professora e Pós-doutoranda na Freie Universität (FU) em Berlim Doutora em Filologia Holandesa e Mestre em Linguística Aplicada (Universidade de Viena, Áustria) E-mail: uvogl@zedat.fu-berlin.de Neo Mondo - Novembro/ Dezembro2016
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Cultura
Exposição "Pantanal: natureza, conservação e cultura”, uma
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parceria do WWF-Brasil com Adriano Gambarini
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Núcleo de Educação
NEO MONDO www.neomondo.org.br
Faça seu projeto educacional conosco. Nossa equipe está pronta para trabalhar o conceito do seu cliente e/ ou empresa de modo absolutamente personalizável. Consulte-nos.
Sair da mesmice, transmitir informação de um jeito divertido e diferente. Mais que um norte, um compromisso.
Sustentabilidade, criatividade e educação de mãos dadas com o futuro. É a partir desse conceito que surge o novo núcleo do Instituto NEO MONDO, voltado para o desenvolvimento de projetos especiais de cultura e educação infantil. A criança é multiplicadora de informação e, sempre, o cidadão do amanhã. É para este público que desenvolvemos conteúdos diferenciados capazes de promover o aprendizado de forma lúdica, divertida e com tecnologia de ponta. - Livros que podem ser desdobrados em múltiplas ações em salas de aula.
- Projetos educativos para empresas que desejam aliar sua imagem à educação, cultura e temas específicos. - Projetos especiais de livros para os governos Federal, Estadual e Municipal sobre temas relevantes para a sociedade em geral. - Tecnologias disponíveis a serviço da educação: REALIDADE AUMENTADA, 3D, GAMEFICAÇÃO, IMERSÃO VIRTUAL, HOLOGRAFIA, APLICATIVOS, entre outros.
Fábrica de Brinquedos – Livro referencial quando o assunto é diversão e aprendizado. A partir da construção de brinquedos temáticos, e sempre por meio da utilização de material reciclável, os leitores são sensibilizados para a importância cada vez maior de se construir um futuro que tenha como base o respeito aos recursos naturais. Fábrica de Brinquedos também é um projeto maior, que permite a adaptação e a personalização de uma série de ações para empresas e prefeituras, por exemplo. Fábrica de Comidinhas – Projeto derivado da Fábrica de Brinquedos com foco na necessidade crescente de divulgar informações relevantes sobre alimentação infantil saudável. Além de divulgar conteúdos sobre o tema, receitas e divertimentos, a Fábrica de Comidinhas (que já está perto de ser inaugurada) também prevê a publicação de livros personalizáveis e uma série de outras ações de branded content.
Projeto
O Núcleo de Educação NEO MONDO é liderado por profissionais capacitados e entusiasmados com a construção de um mundo melhor. Oscar Lopes Luiz – Publicitário, pós-graduado em Marketing. É presidente do Instituto NEO MONDO Eleni Lopes – Diretora de Redação da revista NEO MONDO. Ricardo Ditchun – Sociólogo especializado em comunicação corporativa, jornalista e editor. Valéria Cabrera – Jornalista e relações públicas. Ricardo Girotto – Publicitário e ilustrador de livros infantis. Alda de Miranda – Publicitária e autora de livros infantis.
O rio que ri – Que tal tratar do tema da água, dos rios, das lagoas, dos mares? Esta obra alia poesia infantil à construção de personagens com materiais reciclados para ensinar a criança a utilizar a água de forma responsável e a respeitar o meio ambiente. Um reino sem dengue – Passando longe da forma habitual de abordar a questão da dengue, este livro leva a criança a se envolver numa historinha divertida, com rei e princesas, num formato recheado de ilustrações. Aprender a combater o mosquito Aedes aegypt deixou de ser uma complicação. Ótima ferramenta para pais, professores, empresas e prefeituras.
Fale com a gente: (11) 2619-3054/ 98234-4344/ 97987-1331
Tecnologia
ARCA DE NOÉ NACIONAL
Embrapa inaugura terceiro maior banco genético do mundo. Um prédio com tecnologia de última geração para guardar sementes, mudas de plantas, sêmens e embriões e também micro-organismos, como fungos, bactérias e até vírus. Da Redação
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ilhares de espécies animais e vegetais estão ameaçadas de extinção em todo o planeta. Mas se depender de cientistas da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), essas nunca vão desaparecer. Os pesquisadores criaram um enorme arquivo genético a serviço da humanidade, na sede da Embrapa, em Brasília. A arquitetura não é mera coincidência. A Embrapa quis dar a forma de uma grande arca ao maior banco genético da América Latina: um prédio com tecnologia de última geração para guardar sementes, mudas de plantas, sêmens e embriões e também micro-organismos, como fungos, bactérias e até vírus. Ao todo são 750 mil diferentes espécies que estão hoje espalhadas em laboratórios da Embrapa em todo o Brasil e até no exterior.
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As instalações compõem a infraestrutura e têm capacidade para abrigar até 750 mil amostras de sementes, dez mil vegetais in vitro, além das coleções mantidas a 180ºC negativos por meio de nitrogênio líquido, método conhecido como criopreservação, que manterá mais de 200 mil amostras vegetais, animais ou de micro-organismos. Ao todo, o prédio terá capacidade para abrigar mais de um milhão de amostras nos diferentes métodos de armazenamento. A obra envolveu investimentos da ordem de R$ 13 milhões oriundos de emendas parlamentares e da própria Embrapa. "Os recursos genéticos são a base da pesquisa e o pilar central da agronomia brasileira," explica o presidente da Embrapa, Mauricio Lopes, ressaltando que a capacidade do novo Banco Genético da Embrapa colocará o Brasil entre
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O Brasil ingressa no grupo dos grandes países que preservam o patrimônio genético da humanidade
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os três maiores repositórios mundiais do gênero. Para ele, as grandes conquistas da pesquisa agropecuária nacional se deram graças ao domínio da genética. "Adaptamos bovinos da Índia, soja da China e gramíneas da África às condições brasileiras porque soubemos trabalhar com a diversidade genética, daí a importância de um empreendimento como este", afirma. Após a inauguração, foi realizado um passeio pelo novo espaço que engloba quatro câmaras frias para conservação em longo prazo, sala de recepção de sementes, câmaras de espera e secagem, laboratório de fitopatologia, salas de coleção de base in vitro, e salas de tanques de criogenia para armazenamento de germoplasma vegetal, animal e de microrganismos. Além de expandir as categorias de materiais a ser guardados, o novo prédio já conta com infraestrutura laboratorial, facilitando a logística de várias pesquisas. O prédio ainda possui um showroom com exposição permanente de tecnologias da Embrapa e da história da conservação da empresa. Na laje, foi instalada uma fábrica de nitrogênio líquido, elemento fundamental para a conservação de amostras a temperaturas ultrabaixas.
comemora o chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Mauro Carneiro, para quem o banco recém-inaugurado impulsionará pesquisas e será um importante repositório de segurança para materiais de interesse agropecuário. O Banco Genético de Brasília receberá cópias de todos os bancos da Embrapa instalados em suas unidades de pesquisa distribuídas pelo Brasil, funcionando como um backup dessas coleções. "Não é possível pensar num
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Tecnologia
país que seja grande produtor de alimentos sem possuir uma forte coleção de base", acredita o chefe geral. As novas instalações irão disponibilizar amostras para a realização de pesquisas voltadas a diferentes aplicações como o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos, o estudo de micro-organismos que podem controlar pragas e doenças das lavouras e ainda devolver ao campo espécies que foram perdidas ao longo do tempo.
Gerenciamento de dados genéticos Os depósitos de materiais de toda a coleção genética da Embrapa serão gerenciados por um sistema de informação desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP). Batizado de "Alelo ", o sistema indica a localização de armazenamento de cada amostra e apresenta seus dados de caracterização como, por exemplo, indicação do local e data de coleta, quantidade armazenada etc. De acordo com Carneiro, o sistema Alelo terá diferentes níveis de acesso a depender do usuário que acessálo. "Um cidadão que quiser conhecer a coleção genética terá um nível de acesso mais genérico, enquanto um pesquisador que trabalha com o Banco contará com informações aprofundadas", explica o gestor.
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Embrapa Sede - Parque Estação Biológica - PqEB - Brasília, DF - Brasil
desArME-se
NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias; busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências positivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais carentes, das crianças e adolescentes, dos idosos, das plantas, dos animais. Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem!
Economia
MODELO DE PECUÁRIA SUSTENTÁVEL
Projeto Pecuária Verde combina pecuária moderna e proteção de áreas da Floresta Amazônica. Por Eleni Lopes
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aragominas é um dos principais polos da pecuária na Amazônia. Situado no nordeste do Pará, o município tem fazendas e rebanhos imensos e, durante muito tempo, esteve entre os campeões do desmatamento no Brasil. Nos anos 60 e 70, a região atraiu pecuaristas e madeireiros em busca de terra barata e crédito público. Desta forma, muitas fazendas desmataram de maneira descontrolada. Em 2008, esse avanço desequilibrado foi barrado na força: Paragominas entrou para a lista dos municípios que mais destroem a Floresta Amazônica, a chamada lista negra do desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. A fiscalização apertou, serrarias foram fechadas e fazendas de gado multadas. Para sair da crise, os criadores assinaram um pacto com o Ministério Público para reduzir derrubadas e fazer o cadastramento ambiental das propriedades. Com apoio da Prefeitura e entidades não governamentais, as medidas foram adotadas e, em 2010, Paragominas foi o primeiro
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município a ser retirado da lista negra do desmatamento. O desafio então era encontrar uma nova maneira para a atividade agropecuária na região. Foi neste contexto que nasceu em 2011, o projeto Pecuária Verde, iniciativa do Sindicato de Produtores Rurais de Paragominas, que três anos depois se transformou em modelo para a pecuária na Amazônia. Com patrocínio do Fundo Vale e da Dow AgroSciences, conta com o apoio técnico de organizações não governamentais, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e da The Nature Conservancy (TNC), além da consultoria de pesquisadores da Esalq/USP e da Unesp. O projeto visa o desenvolvimento de práticas mais sustentáveis na pecuária bovina, baseado em soluções tecnológicas e no fortalecimento da agropecuária para aumento da eficiência produtiva. A ideia é aumentar a capacidade do setor para atender tanto as exigências do mercado quanto a maximização dos benefícios sociais, ambientais e econômicos da atividade.
Tripé sustentável O conceito de pecuária verde está baseado em três ações estratégicas coordenadas por pesquisadores que são referência nas suas áreas específicas de estudo: • Adequação ambiental das propriedades rurais Averbação das áreas de Reserva Legal, Área de Preservação Permanente (APP), bem como a regularização dos passivos ambientais (déficits de Reserva Legal e recuperação de APPs degradadas). • Manejo de pastagem Modelo de manejo e melhoria da produtividade de pastagens desenvolvido sob a liderança do consultor Moacyr Corsi, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). • Bem-estar animal e da propriedade Liderado pelo consultor Matheus Paranhos, professor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da UNESP/Jaboticabal.
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Economia
As seis propriedades selecionadas para participar do projeto Pecuária Verde foram aquelas que apresentaram melhores notas e maiores avanços na adoção de boas práticas agrícolas, além de critérios técnicos e acadêmicos que permitissem ao modelo ser testado adequadamente. Outro critério essencial para a escolha das propriedades foi a não existência de passivos sociais ou trabalhistas. O uso de ferramentas para o desenvolvimento de um modelo de pecuária menos extensiva e mais eficiente que considere a mitigação dos seus impactos através da adequação ambiental ajuda a liberar áreas para outras atividades e, principalmente, evita a expansão extensiva baseada no desmatamento ou na conversão de áreas de floresta nativa. Além da disseminação de práticas sustentáveis de criação bovina, a capacitação dos empregados e a disciplina no trabalho foram importantes para o aumento dos índices de produtividade e lucratividade e da redução dos custos das fazendas. Em três anos, a produção aumentou de sete para 36 arrobas. Outro fator importante foi a adequação ambiental e produtiva por meio da recuperação das áreas de reserva legal, onde jatobás, ipês, cedro e andiroba foram plantados com cacau e cupuaçu em sistema agroflorestal.
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Três anos depois, o projeto Pecuária Verde comprovou sua eficácia e aplicabilidade. O desafio, agora, é divulgar esse modelo para outras fazendas e regiões da Amazônia.
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Meio ambiente
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA VOLTA A AUMENTAR De acordo com a ONG Imazon, a dimensão da área devastada põe em dúvida a eficácia das atuais políticas de prevenção e controle ao desmatamento. Da Redação
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desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 467% em outubro de 2014 em relação a outubro do ano passado, de acordo com a ONG Instituto Imazon. A área desmatada equivale a mais de 24.000 campos de futebol. Segundo o Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), da Imazon, o desmatamento nos nove estados amazônicos brasileiros foi de 244 km2. Em outubro do ano passado, a derrubada de árvores somou 43 km2. A SAD realiza suas medições em colaboração com o aplicativo Google Earth. Sessenta por cento do desmatamento ocorreu em terras privadas ou sob o controle de ocupantes ilegais. Para a Imazon, os dados colhidos pelo SAD põem em dúvida a eficácia das atuais políticas de prevenção e
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controle ao desmatamento. O Brasil conseguiu reduzir o desmatamento, que alcançou 27.000 km2 em 2004, para 4.571 km2 no período 2011/2012, o mínimo histórico. Após essa marca, o desmatamento na maior floresta tropical do planeta voltou a crescer e, no período 2012/2013, atingiu 5.981 km2 (+29%). Para enfrentar o desmatamento da Amazônia, cada vez mais sofisticado, as autoridades brasileiras anunciaram, no começo do mês, a adoção de um novo e refinado sistema de alerta por satélites, assim como uma estratégia de combate ao crime organizado. Conheça, abaixo, mais detalhes sobre os dados parciais do período 2013-2014 colhidos pelo SAD em comparação às informações, aparentemente contraditórias, divulgadas pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes):
3) Comparações diretas entre Prodes e SAD devem ser feitas para o mesmo período e considerar as diferenças de escala espacial e temporal dos dados. O SAD permite acompanhar as tendências na frequência mensal e o Prodes permite o mapeamento anual mais detalhado.
1) Os últimos dados divulgados pelo Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD) do Imazon se referem à nova estação de desmatamento – compreendendo o período de agosto a outubro de 2014. Logo não é possível comparar diretamente os dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes) relatados recentemente, pois são de períodos diferentes. 2) Os dados preliminares da taxa de desmatamento da Amazônia, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por meio do Prodes, se referem ao período de agosto de 2013 a julho de 2014, o que apontou uma redução do desmatamento em relação ao período anterior.
4) Historicamente, o Imazon tem mostrado que um aumento no número e área de alertas de desmatamento obtidos com o SAD indicam uma maior área mapeada pelo Prodes. Isso se confirmou, por exemplo, em 2013 quando os dados do SAD apontaram que a área desmatada deveria aumentar depois do desmatamento ter alcançado, em 2012, a menor taxa histórica registrada pelo Prodes. 5) O último boletim do SAD aponta para um aumento de 226% na área de alertas de desmatamento para os meses de agosto a outubro de 2014, ou seja, para os três primeiros meses da nova estação de desmatamento. Portanto, esse aumento não pode ser comparado com as estatísticas divulgadas pelo Prodes para a estação de desmatamento de 2014 (que vai de agosto de 2013 a julho de 2014).
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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Emissões de carbono no Brasil atingem o maior valor desde 2008
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missões brasileiras de carbono atingiram 1,57 bilhão de toneladas em 2013, um aumento de 7,8% em relação ao ano de 2012. Trata-se do maior valor desde 2008, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estuda (SEEG 2.0), do Observatório do Clima. Este incremento observado em 2013 representa uma reversão de tendência registrada desde 2005, quando as emissões vinham caindo ano a ano devido a sucessivas quedas nas taxas anuais de desmatamento. Em 2012, atingiram o seu menor valor, com 1,45 milhão de toneladas de CO2.
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Segundo o estudo, todos os setores apresentaram aumento de emissão em 2013, com destaque para as Mudanças de Uso da Terra (16,4%), puxado pelo aumento do desmatamento na Amazônia e Cerrado, e Energia (7,8%), influenciado pelo aumento do uso de energia termoelétrica de fontes fósseis e do consumo de gasolina e diesel para transporte. O aumento das emissões por queima de combustíveis fósseis tende a se intensificar como reflexo do maciço investimento em energias fósseis, redução e poucos investimentos em novos combustíveis renováveis e na própria participação de energias renováveis na matriz
energética brasileira, que caiu de 48% para 41% nos últimos 5 anos. O Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) foi lançado em 2013, por iniciativa do Observatório do Clima, como uma ferramenta desenvolvida para calcular anualmente as emissões brasileiras e identificar sua origem. O trabalho técnico é desenvolvido pelo IEMA, IMAFLORA, IMAZON e ICLEI. O sistema conta com o apoio da Fundação Avina, da Latin America Regional Climate Initiative, da Fundação OAK, da Climate and Land Use Alliance e da parceria com o GVCEs. O estudo pode ser consultado na íntegra pelo endereço www.seeg.eco.br.
Mais de 700 milhões de pessoas não têm acesso à água potável
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m total de 748 milhões de pessoas não tem acesso à água potável de forma sustentada em todo o mundo e calcula-se que outros 1,8 bilhão usem uma fonte contaminada com fezes, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo mostra que 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento adequado e que 1 bilhão defecam ao ar livre, nove em cada dez, em áreas rurais. Os dados constituem as principais conclusões do relatório Glass 2014, estudo feito a cada dois anos pela OMS. O texto destaca que o acesso à água potável e ao saneamento adequado tem implicações num amplo leque de aspectos, desde a redução da mortalidade infantil, passando pela saúde materna, o combate às doenças infecciosas, a redução de custos sanitários e no meio ambiente. No entanto, apesar de alarmante, este cenário
mundial já comemora avanços. O estudo mostra que, nas duas últimas décadas, 2,3 bilhões de pessoas conseguiram ter acesso às fontes de águas melhoradas. No mesmo período, o número de mortes de crianças devido às doenças diarreicas – relacionadas com o saneamento precário – caiu de 1,5 milhão em 1990 para 600 mil em 2012. Segundo dados da OMS, se o acesso à água potável melhorasse e se fossem implementados serviços de saneamento adequado, as mortes por diarreia poderiam ser reduzidas em cerca de 70%. O estudo calcula que a cada dólar investido em serviços de água e saneamento pode-se obter um retorno de 4,3 dólares, com a redução dos custos de saúde, o aumento da produtividade no trabalho e a criação de novos empregos em indústrias relacionadas com a gestão de resíduos.
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Invista na microgeração de energia
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uso de fontes renováveis já é uma realidade do sistema elétrico do Brasil, porém, muitos brasileiros ainda desconhecem as vantagens da mini e microgeração de eletricidade através da energia eólica ou solar. Devido ao grande potencial brasileiro de produzir energia limpa, o valor investido em painéis solares e geradores eólicos retorna em até oito anos. O investimento está associado basicamente à disponibilidade do recurso natural, ao tipo de solução (solar, eólica ou mista), e ao custo do financiamento do equipamento, que dura de 20 a 25 anos.
Atualmente o cliente residencial ou comercial de energia de baixa tensão paga à concessionária R$ 0,52 o KWh, em média. E com uma solução eólica ou solar, o KWh pode chegar a R$ 0,19. A expectativa do setor elétrico no País é que, com o aprimoramento da Resolução Normativa nº 482/2012, que trata das regras destinadas para a instalação de geração distribuída, aconteça um aumento da geração própria no País. Uma das vantagens para o consumidor é que além de produzir energia elétrica, possa obter descontos em sua conta de energia ou até zerá-la, por meio da compensação da produção excedente.
Fundo Verde da ONU para o Clima arrecada US$ 9,3 bilhões
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eunidos em Berlim, na Alemanha, trinta e dois países, se comprometeram a repassar US$ 9,3 bilhões para o Fundo Verde para o Clima (FVC) das Nações Unidas, criado para ajudar os países em desenvolvimento a lutar contra as mudanças climáticas. Desta forma, a entidade tem um orçamento assegurado para os próximos quatro anos. A maioria dos contribuintes são países ricos como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Japão. O Fundo Verde, com sede na Coreia do Sul, foi criado oficialmente em 2010 pelos acordos de Cancún para ajudar os países em desenvolvimento
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a lutar contra o aquecimento global. Tem como objetivo ajudar os países mais vulneráveis às mudanças climáticas a realizar projetos específicos como, por exemplo, reduzir as emissões de gases do efeito estufa, conter o desmatamento e se proteger contra o aumento dos níveis do mar. O principal objetivo é limitar a 2°C o aumento da temperatura global, pois para além deste nível poderia causar desequilíbrios climáticos severos. O FVC receberá fundos públicos e privados, doações e empréstimos. Faz parte da meta da ONU obter US$ 100 bilhões para ações contra as mudanças climáticas até 2020.
Bagaço de cana pode ser usada como matéria prima para transporte de frutas
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esquisadores do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Materiais para Biossistemas da Faculdade de Zooctenia e Engenharia de Alimentos da USP, em Pirassununga (SP), desenvolveram embalagens biodegradáveis e autodesmontáveis para transporte de frutas, hortaliças e bebidas, a partir de painéis produzidos com resíduos de bagaço de cana-deaçúcar e resina poliuretana à base de óleo de mamona. Além de ocuparem menos espaço e de serem uma alternativa às caixas de madeira, as embalagens biodegradáveis representam mais uma opção para reaproveitar os resíduos da indústria sucroalcooleira. O projeto “Embalagens biodegradáveis para transporte de alimentos produzidas com painéis de partículas de bagaço de cana-de-açúcar” obteve o 2º lugar na Olimpíada USP do Conhecimento em 2013. “Apesar de produzidas em escala laboratorial, as embalagens apresentam potencial para terem um custo inferior aos materiais utilizados atualmente”,
destaca um dos coordenadores do trabalho, o professor Juliano Fiorelli. Fiorelli conta que a ideia era desenvolver uma embalagem biodegradável oriunda de resíduo agroindustrial resistente ao sol e a água. Após a secagem em estufa, o bagaço de cana foi moído para obtenção de partículas de até 8 milímetros. Em seguida, misturado à resina poliuretana à base de óleo de mamona. A mistura foi colocada em molde e posteriormente em uma prensa termo-hidráulica para dar forma e estrutura de painel. Foram realizados vários ensaios físicos e mecânicos para determinar densidade, inchamento em espessura, a absorção de água e resistência à flexão. A partir desses painéis foram fabricados 3 modelos de embalagens: transporte de bebidas, e de frutas médias (laranja, pera e maçã) e embalagem autodesmontável para transporte de frutas pequenas (morangos e uvas).
Pesquisa estuda o uso de membranas para tratamento de água e efluentes
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ma pesquisa em parceria com a Université Laval, do Canadá, e a Universidade Feevale investiga uma tecnologia para tratamento de efluentes. O estudo consiste em utilizar uma das técnicas de separação por membrana – a eletrodiálise – que emprega membranas íons-seletivas. A técnica proporciona uma alta qualidade ao efluente tratado, o que possibilita a reutilização deste pela indústria e, ainda, a recuperação de íons metálicos. De acordo com o professor Fabrício Celso, colaborador no projeto, a ideia principal é desenvolver membranas que possam ser produzidas no Brasil a custo competitivo com as atuais, que são importadas. “A sustentabilidade decorre da aplicação da técnica de eletrodiálise, principalmente nos tratamentos de água potável, de efluentes industriais, de esgoto
municipal, entre outras aplicações da técnica”, explica. Ainda conforme o professor Celso, a principal diferença da técnica de eletrodiálise para outros métodos de tratamento de água e efluentes industriais e municipais está relacionada à maior eficiência na remoção de poluentes persistentes de pequeno tamanho como, por exemplo, os metais pesados. No Brasil, a Petrobras é pioneira no emprego dessa técnica, globalmente conhecida e difundida, com aplicação em diversos mercados, desde tratamento de água, efluentes industriais e esgoto municipal, até a separação e concentração de insumos de alto valor agregado na indústria alimentícia, farmacêutica e de suplementos esportivos, entre outros.
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Crise econômica ainda afeta a inovação em escala global
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mais recente crise econômica global afetou severamente os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação nos países industrializados e seus impactos ainda não foram completamente absorvidos. No período posterior ao início da crise – de 2008 a 2013 –, a taxa de investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,6%, correspondendo à metade da registrada entre 2001 e 2008, antes do início da recessão econômica mundial. A conclusão é do relatório OECD Science, Technology and Industrial Outlook 2014, que analisou tendências em políticas científica e tecnológica e desempenho no setor em mais de 45 países, incluindo os da OCDE e economias emergentes. “A recuperação dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação dos países industrializados tem sido modesta e ainda não retornou aos patamares observados antes do início da crise”, explica Sandrine Kergroach, analista de política da diretoria de ciência, tecnologia e indústria da OCDE. De acordo com ela, a crise econômica global fez com que o orçamento público para PD&I de muitos países estagnasse ou diminuísse a partir de 2008. A participação dos países da OCDE em investimentos globais em PD&I caiu de 90% para 70% em uma década, quando as economias mais avançadas cortaram orçamentos no setor. Por outro lado, os investimentos da China dobraram entre 2008 e 2012 e o país pode se tornar até 2019 um dos que mais investem no setor no mundo, superando a União Europeia e os Estados Unidos, de acordo com o relatório. O relatório também mostra que, em 2012, a despesa em PD&I dos BRIICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do
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Sul, foi de US$ 330 bilhões, contra US$ 1,1 trilhão dos países da OCDE. O bloco de países emergentes produziu cerca de 12% das publicações científicas de alto impacto no mundo em 2013, ante 28% dos Estados Unidos. Em relação ao Brasil, o documento destaca que o país resistiu bem à crise econômica mundial e registra um crescimento em trajetória ascendente. O total de gastos em ciência, tecnologia e inovação em relação ao PIB registrado pelo País em 2008 – de 1,08% – está abaixo da média dos países da OCDE, mas acima de outras grandes economias da América Latina, como Argentina, Chile e México. A síntese do relatório OECD Science, Technology and Industrial Outlook 2014 pode ser lida no site http://www.oecd.org/sti/sti-outlook-2014-highlights.pdf.
Fecha o cerco ao desmatamento ilegal para grilagem de terras no Pará
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governo do Pará passou a divulgar na internet uma lista atualizada das áreas desmatadas ilegalmente no estado. A Lista do Desmatamento Ilegal – LDI começa com cerca de 200 áreas irregulares identificadas por imagens de satélite e já embargadas. Têm, em média, 300 hectares, e pelo tamanho, provavelmente foram desmatadas para a prática de grilagem. Os empreendimentos, propriedades ou posses rurais que estiverem na lista ficam embargadas. Perdem o direito a financiamento bancário, concessão de licenças, autorizações, serviços ou qualquer outro tipo de benefício ou incentivo público por parte de órgãos ou entidades da administração pública estadual enquanto permanecerem nela. A inclusão na lista dos desmatadores segue critérios elaborados ao longo de um ano de trabalho pelo Comitê Técnico da LDI. Entre eles, está o tamanho mínimo das áreas a serem embargadas, o intervalo de tempo na análise dos dados de satélite e outras características da localidade do imóvel rural. O grupo técnico é formado por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Ministério Público, Ibama, Imazon, Secretaria de Meio Ambiente do Pará e Programa Municípios Verdes. O alvo principal da lista são os grandes desmatadores, que agem com a finalidade de grilar terras públicas no território paraense. Nos últimos meses, os dados de satélite apontaram o aumento do desmatamento na região sudoeste do estado, sobretudo em terras públicas devolutas, que são áreas ainda não destinadas pelo poder público estadual ou federal. O desmatamento nessas áreas ocorre com propósito especulativo e fundiário. O infrator avança sobre a floresta pública, desmata e implanta alguma atividade produtiva – geralmente a pecuária – para tentar justificar a ocupação da área. O esquema é sofisticado e envolve investimentos como a contratação de trabalhadores, movimentação de máquinas, equipamentos e construção de estradas
no intuito de remover a floresta e se apoderar da área. A operação acontece no período chuvoso para escapar à fiscalização, devido à incidência de nuvens que dificultam a detecção do desmatamento por satélite. Quando o alerta de desmatamento chega aos órgãos de fiscalização, no período de seca, o dano já foi causado e o fiscal dificilmente encontra o responsável no local. Mesmo quando consegue se antecipar, em função de denúncia ou patrulhamento aéreo, poucas vezes chega ao autor do dano, que se esconde atrás dos empreiteiros contratados para fazer o desmatamento, conhecidos popularmente como “gatos”. Depois de um tempo, o real interessado, mandante do desmatamento, tenta legalizar sua atividade e legitimar a ocupação. Para isso, abre um cadastro sanitário e passa a ter acesso à Guia de Transporte Animal – GTA. Busca ainda a inscrição junto à Secretaria de Fazenda para a emissão de Notas Fiscais que acobertem sua produção. Em seguida, faz a declaração e o pagamento de Imposto Territorial Rural – ITR e ingressa com o pedido de regularização no órgão fundiário, seja estadual ou federal. Com isso, tenta obter o domínio sobre a área e a titulação do imóvel rural, transformando o apossamento criminoso da área pública em uma propriedade privada. Com o novo sistema, o governo quer tornar a regularidade ambiental uma exigência ou condição para a prestação de serviços públicos ou concessão de benefícios ou incentivos da parte do Estado, suprindo a falta de conexão entre a política ambiental e outras áreas da Administração Pública. Para o procurador da República, Daniel Cesar Azeredo Avelino, do Ministério Público Federal, a estratégia do governo do Pará deverá impactar no preço das terras. “Sem perspectiva de serem regularizadas, as áreas griladas não serão atrativas para o mercado”, diz ele
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Nova espécie de ave é descoberta no Brasil, mas corre risco de extinção
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ma nova espécie de ave da ordem Passeriformes – que engloba os animais conhecidos popularmente como pássaros ou passarinhos – foi descoberta numa estreita faixa de Mata Atlântica junto ao litoral da Bahia. O Scytalopus gonzagai recebeu o nome popular de macuquinho-preto-baiano. A descoberta foi reconhecida oficialmente em agosto deste ano, pela revista The Auk, periódico científico da American Ornithologists’ Union (União dos Ornitólogos Americanos), voltada para estudos e pesquisas de aves. O passarinho, de 12 centímetros e cerca de 15 gramas, passou muito tempo na natureza, despercebido pelos pesquisadores e ornitólogos. Apesar de a descrição acontecer em 2014, o estudo que levou à descoberta da nova espécie começou há mais de 20 anos, quando uma expedição com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou a primeira coleta de exemplares e gravações das vozes da espécie. No entanto, estudos sistemáticos e exaustivos dirigidos para investigar e descrever a nova espécie começaram somente em 2004, culminando com uma grande expedição em 2006, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O primeiro exemplar da espécie foi encontrado em 1993. Inicialmente os pesquisadores acreditavam que o pássaro era um macuquinho-preto comum (espécie do
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sul e sudeste do Brasil), pela grande semelhante. "Ao longo do estudo, porém, percebemos que se tratava de uma nova ave do gênero Scytalopus”, explica Giovanni Nachtigall Maurício, professor do curso de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (RS) e primeiro autor do artigo de descrição da espécie. Os outros autores são Ricardo Belmonte-Lopes e Marcos Ricardo Bornschein (ambos da UFPR), José Fernando Pacheco (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos), Bret Whitney (Louisiana State University, Estados Unidos) e Luís Fábio Silveira (USP). O Scytalopus gonzagai apresenta ritmo de canto mais forte e diferentes vocalizações – como se fossem vários tons da fala humana – diferenciando-se das outras aves do mesmo gênero. De acordo com Marcos Ricardo Bornschein, do setor de Ciências Biológicas da UFPR e do Instituto de Pesquisas Ambientais de Curitiba (PR), a nova espécie é encontrada exclusivamente num trecho de montanhas do litoral baiano, numa área de florestas de 5.865 hectares, no bioma Mata Atlântica. A estimativa dos pesquisadores é de que vivem ali pouco menos de três mil indivíduos – número considerado baixo para aves. O macuquinho-preto-baiano já é considerado em perigo de extinção.
Holanda testa ciclovia capaz de gerar energia
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Holanda anunciou recentemente um teste para a criação de uma ciclovia capaz de gerar energia limpa. O projeto, denominado SolaRoad, consiste em um novo bloco inteligente que substitui o asfalto e produz energia a partir da captação de raios solares. O protótipo, dotado de 70 metros de extensão, foi instalado na cidade de Krommenie, a 25 km da capital Amsterdam, e pode produzir energia suficiente para abastecer as casas de três famílias durante um ano.
Funciona assim: o SolaRoad é um módulo especial de concreto coberto por uma camada de vidro resistente e células fotovoltaicas, que captam a energia do sol e a convertem em eletricidade. No entanto, os módulos no chão são até 30% menos eficientes que as placas solares instaladas nos telhados, devido à inclinação. A iniciativa é da TNO, uma organização holandesa independente que promove a inovação. A ideia é aumentar a extensão para 300 metros até 2016. O projeto tem um custo estimado de 3 milhões de euros.
Greenpeace denuncia exportação ilegal de madeira da Amazônia para a Europa
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Greenpeace denunciou que árvores da Amazônia brasileira estão sendo cortadas clandestinamente e transportadas em caminhões para serralherias que, em seguida, tratam e exportam a madeira como se fosse produto legal para França, Bélgica, Suécia e Holanda. Estes quatro países europeus tiveram, entre janeiro e agosto deste ano, uma relação comercial direta com três serralherias, segundo investigação do Greenpeace em Santarém (norte do Pará). A investigação da ONG - que escondeu aparelhos de GPS debaixo dos caminhões que transportam
madeira para vigiar seu trajeto - revelou, ainda, "que os documentos oficiais não são nem sequer capazes de garantir a origem legal da madeira". Segundo dados do Instituto Imazon, entre agosto de 2011 e julho de 2012, 78% das regiões de atividade florestal no Pará não tinham autorização para cortar madeira. A madeira de ipê, muito cobiçada na Europa, sobretudo para construir deques de piscinas, chega a custar US$ 3.200 o metro quadrado. O Greenpeace pediu ao governo brasileiro que revise todas as autorizações entregues às madeireiras.
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