NeoMondo
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um olhar consciente
Ano 3 - Nº 28 - Novembro 2009 - Distribuição Gratuita
COP15 A Salvação do Planeta? 10
Chico Graziano
Lixo sem fim
Desafio: Vencer barreiras
Esse problema tem solução?
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Governo fixa metas para Copenhague 44
Compromisso com o planeta
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MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE
FIQUE ATENTO AOS MOTOCICLISTAS E SINALIZE SEMPRE ANTES DE MUDAR DE FAIXA.
No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo que você pode causar aos outros e a si mesmo. Lembre-se que motos e bicicletas são mais frágeis e a segurança de quem as conduz depende da sua atenção. Dirija com consciência.
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Seções Perfil 10 Chico Graziano Desafio: Vencer barreiras
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educação Fundação Gol de Letra Pioneira de projetos sociais entre os craques da bola
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18 Crônicas brasileiras Uma viagem a Pelotas 16educação Fundação Abrinq História que faz a diferença CULTURA & ARTE 24 Pedro MartinellI Doutor das lentes
28 Lixo sem fim Esse problema tem solução?
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MEIO AMBIENTE/BIOCOMBUSTÍVEL Biocombustíveis Energia limpa em discussão
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32 Artigo: As necessidades ambientais As questões ambientais transcendem as fronteiras nacionais
meio ambiente
Artigo: Vovô e vovó invadem mercado Quem serão os novos idosos que ocuparão uma vaga nos vestibulares? 43 Artigo: Mudanças climáticas ao longo do tempo geológico Terra, energia e matéria
Artigo: COP15 A discussão internacional sobre as mudanças climáticas e a governança ambiental no Brasil
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BIOMAS
Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Luciana Stocco de Mergulhão, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl e Rosane Magaly Martins Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Elizabeth Lorenzotti (MTB 10.716) Estagiário: Caio César de Miranda Martins Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Neo Mondo - Novembo 2009
ESPECIAL - COP15 44 Governo fixa metas para Copenhague Compromisso com o planeta ESPECIAL - COP15 De vilão a salvação Lideranças empresariais, do Terceiro Setor e acadêmica, discutem caminhos da sustentabilidade de olho em Copenhague
56 Por baixo das cheias do Pantanal Corredor biogeográfico entre as duas maiores Bacias da América do Sul
Expediente
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ECONOMIA 40 Livro de Lester Brown Sociedade tem de assumir soluções
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54 Artigo: Antes que seja tarde demais O senso de urgência na publicidade da cop15
37 Artigo: Fontes renováveis de energia Ambientalismo sim... ambientalice não!
Publicação Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br
A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.
Editorial
P
rezado leitor, começo o editorial com duas notícias: uma é ótima e a outra é péssima. Qual você quer ler primeiro? A boa é que mais uma vez Neo Mondo traz para você o que há de melhor na área socioambiental, a péssima é que os Estados Unidos, China e a própria Dinamarca, que sediará agora em dezembro a COP15, já disseram que não irão levar nenhuma meta para a Conferência, e o que é pior, estão querendo “empurrar com a barriga“ estas metas para o ano que vem. A realidade é uma só, não temos mais tempo; prova disso, veja o que está acontecendo pelo mundo. Será que não passamos de 2012? Como Barack Obama pode ganhar recentemente o Prêmio Nobel da Paz? Mais uma vez digo que temos que cobrar o que é nossso por direito e para isso acontecer o caminho é a mobilização da sociedade, portanto, mobilize-se, cobre, faça acontecer! Bem, mas voltando às nossas páginas, trazemos assuntos importantes como: O lançamento do livro de Lester Brown, do Hearth Policy Institute“PLano B 4.o- Mobilização para salvar a civilização”, em que elenca uma série de urgentes e inadiáveis medidas. Ele investiga desde o aquecimento global até a falência do Estado, diagnostica problemas ecológicos que afetam o planeta e oferece respostas tanto para indivíduos como para governos. Entre outras questões, propõe como aumentar a eficiência energética no mundo e como canalizar fontes de energias alternativas. Fundação Abrinq - um panorama da entidade, suas realizações e projetos pelos direitos das crianças em cerca de 20 anos de atuação no país. Gol de Letra, projeto pioneiro criado pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo, consegue bons resultados e motiva seu dirigente a alçar vôos maiores.
COP15 - Continuamos a acompanhar os preparativos para a Conferência do Clima, que acontece em dezembro em Copenhague. Autoridades, especialistas, diretores de empresas e ONGs debatem as expectativas sobre o estratégico evento e as possibilidades de negócios dele decorrentes. O ponto de partida é o Fórum Exame de Sustentabilidade Copenhague: Desafios e Oportunidades. Lixo sem fim - Trataremos sobre a destinação dos resíduos sólidos, utilizando como exemplos as cidades de São Paulo e Santo André. Enquanto a primeira vêse obrigada a exportar seu lixo para outras cidades, a segunda comemora a ampliação da capacidade de seu aterro, o que representa uma sobrevida de mais 13 anos.
Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
Combustíveis renováveis - Nosso correspondente em Boston, nos Estados Unidos, Terence Trennepohl garante: não se fala de outra coisa na América. O presidente Obama quer investir no ramo, a revista Time discute o assunto com frequência. E o Brasil tem tudo para ocupar lugar de destaque na produção de biocombustíveis. A reportagem de NEO MONDO mostrará os prós e os contras (sim, eles existem!) sobre esta questão. Perfil Xico Graziano - Gerir as políticas ambientais do estado mais industrializado do País é a difícil tarefa do secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Graziano Neto. O agrônomo nascido em Araras, no interior paulista, acredita ser possível integrar interesses de ambientalistas e produtores rurais. Conheça essa e outras ideias do secretário. Essa é apenas uma parte do que você vai encontrar nesta edição. Boa leitura!
Instituto
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OS EFEITOS DO AQUECIMENTO GLOBAL JÁ PODEM SER SENTIDOS NO MUNDO INTEIRO. Neste momento, o esforço de todos é muito importante. Com políticas ambientais que combatem o desmatamento e incentivam práticas sustentáveis na agricultura e na indústria, o Brasil está fazendo a sua parte na luta para conter as alterações climáticas. É assim que o nosso país contribui com um futuro melhor para todo o planeta. Conheça as políticas públicas para o meio ambiente: www.mma.gov.br 6
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Há 10 anos, centenas de voluntários do programa sociocultural Doutores Cidadãos visitam regularmente dezenas de hospitais e asilos, construindo cidadania pela arte e alegria. Com as visitas, ajudam pacientes de todas as idades, acompanhantes e profissionais a construírem bem-estar e saúde, já que a própria ciência comprovou que a afetividade e o bom humor contribuem sensivelmente para a recuperação dos pacientes. Para manter e ampliar o trabalho, o grupo realiza atividades em ambiente corporativo, como apresentação de eventos, palestras, oficinas e outras. Saiba mais sobre os Doutores Cidadãos e os outros programas sociais do Canto Cidadão em www.cantocidadao.org.br. Doutores Cidadãos. Há dez anos fazendo graça de graça.
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Perfil
Xico Graz
Desafio:
Agrônomo e ambientalista, secretário do Meio Ambiente paulista quer aliar a preservação dos recursos naturais à lógica do campo Rosane Araujo Ciete Silvério / Governo do Estado SP
Graziano acredita que agricultura e meio ambiente têm de ser pensados em conjunto
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E
nquanto ambientalistas, políticos e sociedade civil do mundo inteiro aguardam com ansiedade os resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo antecipa-se e lança, no início de novembro, sua própria política de mudanças climáticas, que prevê redução de 20% na emissão de gases que provocam o efeito estufa até 2020. À frente da iniciativa, não está nenhum ambientalista ou eco-revolucionário, mas sim o engenheiro agrônomo, de origem rural, Francisco Graziano Neto. Xico Graziano, como é conhecido o secretário estadual do Meio Ambiente, nasceu em Araras no interior paulista, formou-se em agronomia, fez mestrado em economia agrária e doutorado em Administração. Sua estreia no comando de secretarias estaduais aconteceu no governo Mário Covas (1996-1998), quando dirigiu a Secretaria da Agricultura. Antes, em 1995, presidiu o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Depois de passar por tantos cargos ligados à agricultura, em 2006, assumiu a Secretaria do Meio Ambiente com a tarefa de unificar a preservação do meio ambiente e a lógica do campo. Missão impossível? Ele acha que não. “É possível e necessário”, disse em entrevista concedida para a NEO MONDO. Nela, ele citou exemplos de como as duas áreas podem trabalhar integradas e explicou também os projetos da Secretaria, como o Município Verde Azul, que considera um dos principais. Confira:
iano Neo Mondo: É comum vermos, no cenário brasileiro, embates entre representantes do setor agrícola e ambientalistas. Você, que é agrônomo e já foi secretário da Agricultura, hoje comanda a pasta do meio ambiente. É realmente possível conciliar interesses de ambos os lados? De que forma? Xico Graziano: Sim, é possível. E necessário. Tome como exemplo o projeto Etanol Verde. Os resultados demonstram que é possível conciliar a agenda ambiental e a da agricultura, com avanços para os dois lados. O Protocolo Agroambiental, termo assinado pelo setor sucroalcooleiro com o Governo do Estado, por meio de suas Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura e Abastecimento, teve a adesão de 167 usinas, que representam 84% delas, além de 4.745 plantadores de cana-de-açúcar. Um resultado importantíssimo foi a redução das queimas da palha da cana-de-açúcar. A evolução da colheita crua foi de 34,2 % na safra 2006/2007 para 49,1 % na safra 2008/2009, o que significa um aumento de 810 mil hectares colhidos mecanicamente sem a utilização de fogo. Caso toda safra paulista seguisse a Lei Estadual 11.241/02, que determinava o prazo final para 2021, teríamos uma área de queima de 2,7 milhões de hectares, ou seja, 70% da área plantada. Hoje estimamos que no Estado de São Paulo não haverá mais queima a partir de 2014. Bom para o meio ambiente e bom para agricultura. Mas o Protocolo Agroambiental não se restringiu apenas à questão da queima da palha; ampliou seu escopo para outras questões importantes, como a mata
Pedro Calado
vencer barreiras
Com o governador José Serra, o secretário participa da inauguração do Circuito das Árvores no Parque Villa-Lobos, espécie de trilha acessível a pessoas com deficiência física
ciliar, um componente importante para a recuperação da cobertura vegetal do Estado de São Paulo. A área de mata ciliar comprometida para proteção e recuperação por parte das unidades agroindustriais e associações de fornecedores, somada, é de 226 mil hectares, que corresponde a cerca de 35 mil km de rios protegidos e recuperados. Neo Mondo: Existem áreas que você considera prioritárias na gestão da Secretaria? Quais seriam e por quê? Xico Graziano: Um dos destaques desta gestão é a descentralização da política ambiental paulista com o Projeto Município Verde Azul. Trata-se de um projeto ambiental que busca a participação dos municípios, dos órgãos legislativos e sociedade civil no processo de gerenciamento ambiental local, incorporando esta questão nas agendas político-administrativas de cada municipalidade.
O compromisso voluntário da Prefeitura Municipal ocorre com a adesão ao Protocolo, que incorpora no território sob sua jurisdição o planejamento e a gestão ambiental visando à melhoria da qualidade ambiental e social de seu município, tomando por base 10 Diretivas Ambientais, estabelecidas para esse fim. Os municípios são avaliados por suas ações ambientais, e os que conquistam nota acima de 80, em uma avaliação que pode ser de 0 a 100, recebem o Certificado de Município Verde Azul, além da prioridade no acesso aos recursos da Secretaria. Neo Mondo: O Estado de São Paulo foi o primeiro a firmar acordo para redução da emissão de gases do efeito estufa, acordo este firmado há quatro anos. Quais as ações já realizadas neste sentido? Existem indicadores de resultados? Neo Mondo - Novembro 2009
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Xico Graziano: Recentemente o Governo do Estado de São Paulo aprovou a Política Estadual de Mudanças Climáticas, Lei Estadual nº 13.798/2009, com os objetivos de estabelecer o compromisso do Estado frente ao desafio das mudanças climáticas globais, dispor sobre as condições para as adaptações necessárias aos impactos derivados das mudanças climáticas, bem como contribuir para reduzir ou estabilizar a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera. É uma ação ousada. Somos o primeiro estado brasileiro a contar com uma meta de redução. São Paulo tem como meta a redução global de 20% das emissões de dióxido de carbono (CO2), relativas a 2005, em 2020. O inventário paulista de emissões, uma das atribuições da Secretaria, de acordo com a lei, deverá ser finalizado em 2010, permitindo a proposição de políticas setoriais. Uma estimativa das emissões aponta a importância da proposição de ações para o transporte sustentável no Estado e a melhoria da eficiência energética, principalmente nos processos industriais. Neo Mondo: O sr. acredita que ações mais localizadas como esta possam surtir efeitos em âmbito global? Xico Graziano: Hoje é inegável a importância dos governos regionais na proposição e execução de ações visando ao combate às mudanças climáticas. E o pioneirismo do Governo do Estado de São Paulo serve de exemplo para outros estados, ou mesmo para o Brasil. As mudanças climáticas demandam transformações na atuação do Estado, independentemente se é uma esfera nacional ou regional. A problemática é global. E precisamos de um Estado ativo. E o Governo do Estado de São Paulo se propõe a ser e agir como tal. Neo Mondo: Uma questão que aflige ambientalistas e a população em geral é a água. Em São Paulo, temos este recurso em abundância, porém a distribuição é ruim. Uma das medidas de preservação utilizadas pelo governo é a cobrança pelo uso da água. Como o sr. avalia esta arrecadação? Seu valor tem sido
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Pedro Calado
Perfil
Em Campinas, secretário participa de evento no Parque José Salim, que será revitalizado por meio de parceria entre prefeitura e governo estadual
aplicado com a abrangência necessária? Xico Graziano: No Estado de São Paulo duas bacias já fazem a cobrança pelo uso da água: a Piracicaba-Jundiaí-Capivari e a Paraíba do Sul. E logo teremos o Alto Tietê e o Tietê-Sorocaba. Este mecanismo permitiu que a população desse valor a este bem que está consumindo. Nestas bacias em que o processo já foi iniciado, grandes empresas já mudaram sua forma de uso da água, investindo em reuso, por exemplo, reduzindo a demanda por água. E os recursos são aplicados, obrigatoriamente, na bacia em que foram arrecadados, com o objetivo de investir na melhoria da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos. Neo Mondo: Nesta edição, discutimos a questão do lixo e dos aterros sanitários. Dados apontam que dos 645 municípios do Estado, 53 estão com aterros inadequados, dentre eles a capital, que exporta seu lixo para outros municípios. Como a Secretaria avalia a questão? Que soluções o sr. vê para este problema? Xico Graziano: A capital está na categoria adequada no Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos Sólidos, com nota acima de 9. Seus resíduos são destinados para dois aterros em São Paulo (Aterro São João e CDR Pedreira) e um em Caieiras. Na maioria dos casos destes 53 inadequados, a questão é a melhoria da operação dos aterros. Depende do compro-
A ação do governo paulista no clima é ousada. Somos o primeiro estado a contar com redução de emissões Neo Mondo - Novembro 2009
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metimento das prefeituras municipais em dar atenção a esta temática. Mas esta questão nunca será sanada enquanto não forem propostas políticas específicas para o consumo e destinação. Não dá mais para fugir da coleta seletiva e reciclagem, além da necessidade de redução da geração dos resíduos. Neo Mondo: Na edição passada, citamos o projeto de educação ambiental Criança Ecológica como exemplo de iniciativa pública. O sr. tem participado com frequência de ações do projeto. Qual sua avaliação? A educação ambiental é um investimento a longo prazo, e ainda assim vale a pena? Xico Graziano: Sim, lógico que vale a pena. A agenda de projetos da Secretaria do Meio Ambiente conta com ações de longo, médio e curto prazo. E são complementares. O destaque vale para a educação ambiental, uma das prioridades desta gestão. E a capacidade de mobilização do projeto tem sido fantástica. Veja só os números. No total, 402 municípios aderiram ao projeto Criança Ecológica, sendo que 120 mil crianças já foram envolvidas neste processo. Foram feitas também capacitações de professores, com adesão de 1.870 pedagogos da rede pública municipal. Além dos encontros, o projeto incluiu apresentações da peça de teatro do Criança Ecológica, que visa ao aprendizado fora da sala de aula, momento em que as crianças aprendem como cuidar do planeta. O teatro itinerante fez apresentações em todo o Estado de São Paulo e teve o envolvimento de 25 mil crianças. Estamos educando agora para colher bons resultados no futuro.
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A
Fernando Siqueira
Educação
Gol de placa Fundação, criada por Raí e Leonardo, é pioneira de projetos sociais entre os craques da bola Gabriel Arcanjo Nogueira
A
Fundação Gol de Letra é um grande centro cultural, esportivo e educativo que forma as novas gerações como agentes de transformação social. A definição é de um de seus criadores, Raí Souza Vieira de Oliveira, que teve a ideia, quando ainda era jogador de futebol, com o colega de clube, Leonardo Nascimento de Araújo. Era o início dos anos 1990. “Leo já falava muito a respeito de se fazer algo nessa linha. Um acabou motivando o outro”, diz Raí, em conversa com NEO MONDO.
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Tudo muito bem pensado: em 1998 a ONG já estava delineada, e em 1999 começou as suas atividades, com crianças, lembra o diretor-presidente. “Tivemos no início o apoio de consultorias pedagógicas, em que o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) foi fundamental, e hoje temos claro que todas as pessoas empenhadas na Fundação devem ser um pouco educadores, sejam pedagogos de formação ou monitores”, afirma Raí.
Dez anos se passaram, com resultados dignos de motivar ainda mais os idealizadores da Fundação, jamais acomodá-los. Estruturada dentro e fora do Brasil, a Gol de Letra tem em Leonardo o presidente do Conselho Curador. Raí explica que o que mais pesou na decisão de criar a ONG foi uma soma de fatores: a sua origem pessoal, em uma família de 6 irmãos, em que os pais sempre privilegiaram a formação dos filhos - todos homens. Dava um time de vôlei ou uma equipe de futsal; dois brilharam nos campos de futebol, nacionais e europeus: Dr. Sócrates e
Instituição modelo Raí lembra que a Gol de Letra é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como instituição modelo. Consequência dos programas de educação integral que desenvolve, com proposta pedagógica aliada à proteção social. “Já chegamos a 1,2 mil crianças, adolescentes e jovens com atendimento a suas famílias e fortalecimento das comunidades em que atuamos”, afirma. Alicerçada em sólidos e modernos princípios educacionais, que compõem o tripé aprender, conviver e multiplicar, a Gol de Letra leva a sério a missão, a visão e os valores que se fixou, para conseguir a ampliação do repertório cultural e educacinal de seu público-alvo, bem como o desenvolvimento de valores e regras de convivência e a formação de multiplicadores de conhecimentos e atitudes.
No time Gol de Letra, não importa que clube defendam, a adesão de atletas de várias épocas é de fazer inveja a muita seleção
Raí. Embora os dois craques da bola se saiam muito bem fora das quatro linhas, o brilho social, para Raí e outro de seus irmãos, Sóstenes, que compartilha com ele a direção da Fundação, é mais relevante. Outro ponto de motivação, lembra Raí, foi o período em que jogou na França, quando sentiu uma realidade social muito diferente da nossa, para melhor, que provocou certo choque cultural, e poderia ter parado num mero deslumbramento. Mas não! Virando o jogo A ideia que amadurecia desde os tempos de convivência com Leonardo, no futebol paulista e nacional, e também na Seleção Brasileira, ganhou o empurrão que faltava. Se a França, entre outros países mais desenvolvidos, consegue dar um
padrão e uma perspectiva de vida de alto nível, por que não cuidar de nossas crianças e adolescentes com mais atenção, com programas e projetos voltados para seu desenvolvimento integral? O desafio foi aceito. Hoje é possível contabilizar o quanto os programas evoluíram e ganharam força. A começar pelo Virando o jogo - nome emprestado do jargão futebolístico, em times que jogam pra frente, pra vencer. “Desenvolvemos este programa desde 1999, com crianças de 7 a 14 anos e jovens entre 16 e 18 anos. Cuidamos do desenvolvimento integral deles com atuação nas famílias, de modo a fortalecer o núcleo familiar. Acompanhamento que também se dá em outros programas”, explica o presidente da Fundação. Alguns aspectos dos programas da Gol de Letra estão em quadros que ilustram esta matéria.
Fundação legal Estabelecidos os princípios, a proposta pedagógica da Gol de Letra leva em conta o que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no que diz respeito à proteção integral dessa gente, e é amparada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). “Temos consciência dos direitos fundamentais à educação, cultura, esporte e lazer, definidos no ECA”, esclarece Raí. Já a proposta de ação social se estriba na Política Nacional de Assistência Social, na Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) e no Sistema Único de Assistência Social (Suas). “Nosso foco está na família e em ações socioassistenciais, com o objetivo de desenvolver contextos de proteção social familiar, escolar e comunitária”, acrescenta. Participação e formação Na Gol de Letra, o nível de participação é pleno: todos os seus programas e projetos privilegiam o desenvolvimento de um trabalho cooperativo e participativo, que envolve direção, coordenação, educadores, crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidade. Nada escapa a essa marca registrada: da fase de criação e planejamento aos momentos de avaliação. Outra preocupação é a formação continuada de seus quadros. O que é visto como “ferramenta fundamental para garantir um atendimento de qualidade, o constante fortalecimento do trabalho em grupo e resultados efetivos da equipe”. Neo Mondo - Novembro 2009
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Educação Divulgação
Raí e Leonardo: motivação mútua ao criar ONG que é reconhecida por seus sólidos e modernos princípios educacionais
Os períodos de capacitação da Fundação vão de janeiro a julho e são feitos com todos os seus colaboradores, mediante palestras, workshops e dinâmicas com profissionais convidados. Nesses eventos são abordados temas relativos às áreas de atuação dos programas, bem como de aspectos da prática socioeducativa.
Divulgação
Na Gol de Letra, o nível de participação é pleno: das crianças aos diretores, passando pelos educadores
Parcerias e voluntariado Tudo, para a Gol de Letra, tem de dar certo quando o assunto é zelar pela autoestima, aprendizagem e desenvolvimento de habilidades sociais de crianças; pelas perspectivas de um futuro promissor para jovens no que diz respeito a conscientizálos do risco das drogas e da permanência
Virando o Jogo • • •
Público: 240 crianças e 32 jovens Programa contínuo 4 horas de atividades diárias expressão oral e escrita (informática, leitura e escrita e mediação de leitura), corporal e cultural (educação física, música, dança, teatro, capoeira, brinquedoteca e sexualidade) • Formação de jovens Mediadores e Monitores • Biblioteca Comunitária Fonte: Fundação Gol de Letra
em ruas, bem como proporcionar-lhes preparo profissional e pessoal mais adequado, a ponto de transformá-los em multiplicadores de boas ações. NEO MONDO apresenta apenas alguns dos resultados da Fundação, constantes de avaliação realizada de março de 2005 a março de 2007, sob coordenação da doutora Cristiana Berthoud, da Becap Consultoria. Resultados que se somam aos impactos positivos nas famílias e comunidades em que essas crianças e jovens se inserem. As famílias relatam mudanças de comportamento e atitudes na criação dos filhos e na dinâmica familiar e se mostram satisfeitas com os resultados observados nos filhos, familiares e comunidade. A comunidade constata diminuição da violência nas ruas do entorno. A instituição ganha a credibilidade do público atendido, além de ser reco-
Programa de Jovens
Programa Comunidades
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Público: 140 adolescentes e jovens (14 a 21 anos) Programa contínuo (desde 2001) Proposta Desenvolvimento integral, por meio da ampliação do repertório educacional, cultural e social • Eixos de atuação Cultura e Multiplicação: oficinas de Artes Visuais, Audiovisual, Grafite e Núcleo de Projetos Rumo à empregabilidade: Oficina de Desenvolvimento pessoal, Pólo de Informações Formação comum: Fóruns, Saraus e atividades culturais externas • Projetos Agregados Projeto Formar (Oficina de Marcenaria), Projeto Aprendiz Trabalhador • Atuação junto às famílias
• Projeto Família Atendimento e acompanhamento familiar
Fonte: Fundação Gol de Letra
Fonte: Fundação Gol de Letra
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• Projeto Arredores Promoção de ações, eventos e oficinas para a comunidade; participação em espaços de rede • Projeto Agentes Sociais Capacitação de agentes multiplicadores; Oficina de Sexualidade
Cauê Diniz
Divulgação
A Fundação privilegia as parcerias (que podem ser até internacionais) e o voluntariado, para chegar à educação integral
nhecida pela comunidade do entorno e instituições da região pelos benefícios de grande utilidade que proporciona. Se não bastassem os resultados em si, a avaliação serviu para ver e rever os resultados das práticas socioeducativas da instituição e verificar os conhecimentos e competências desenvolvidos por meio do trabalho em São Paulo (desde 1999), Niterói (de 2001 a 2007) e Rio de Janeiro (desde 2006), esclarece a Gol de Letra. Parcerias e voluntariado são marcantes na Fundação. Empresas e outras formas jurídicas que queiram colaborar com a Gol de Letra podem telefonar para (11) 2206-5520 ou acessar o site www.goldeletra.org.br, e interessados em trabalhar como voluntários - como “importante fator de mobilização social e de desenvolvimento da organização” - podem enviar e-mail para voluntarios@goldeletra.org. br, especificando em que área pretendem desenvolver suas atividades.
Exemplo de iniciativa conjunta é o Torneio Gol de Letra, que neste ano foi disputado por 16 empresas. Basta fazer a inscrição mediante doação à ONG. Além de contribuir com os programas educacionais, descritos na matéria, as empresas têm a rara oportunidade de proporcionar a seus funcionários momentos de integração e a
Os melhores dos jogos classificatórios enfrentam o time das personalidades
chance de jogar ao lado de ídolos do futebol e da mídia (Rogério Ceni, Neto, Caio, Cafu, entre outros) em alguns dos grandes estádios brasileiros, na fase final. A primeira fase, classificatória, esclarece a Gol de Letra, é realizada durante agradável fim de semana, quando a Fundação fornece aos participantes uniformes e alimentação.
Jogo Aberto • • • • • • • •
Público: 550 crianças, adolescentes e jovens (7 a 18 anos) Programa contínuo (desde 2004) Aprendizagens esportivas, recreativas e de lazer Núcleo de Esporte e Desenvolvimento 6 modalidades esportivas; formação de jovens monitores; atendimento na Promove (ONG parceira) Projeto Escola Ação Esportiva Atividades de lazer para a comunidade Projeto Lazer aos Sábados Atuação junto às famílias
Fonte: Fundação Gol de Letra
Componentes da Educação Integrada
Jogo Aberto Caju (RJ)
• Educação + Proteção Social • Projeto político pedagógico, cidadania, justiça social • Competências para vida social • Aprendizado descentralizado da escola • Espaços variados de aprendizagens • Atenção à família • Encaminhamento de casos • Fortalecimento da comunidade • Trabalho em Rede
• Público: 160 crianças e adolescentes (7 a 18 anos) e 9 jovens (15 a 21 anos) • Programa contínuo (desde 2006) • Projeto Jogos de Mundo Atividades recreativas, esportivas e de lazer; formação de 5 jovens monitores • Projeto Gol de Letrinhas Leitura, Escrita, Informática, Biblioteca e Artes; formação de 4 jovens monitores • Projeto Mensageiros da Água Interdisciplinar de Educação Ambiental • Projeto Comunidades Atendimento às famílias e ações socioeducativas para as comunidades
Fonte: Fundação Gol de Letra
Fonte: Fundação Gol de Letra
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Foto:Fabrício Marcon
Márcio Thamos
Uma viagem a Pelotas (Crônicas brasileiras)
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or toda a cidade, as ruas são muito largas. Isso é algo que impressiona. Os pelotenses, desde o início do século XIX, não tiveram dúvidas de que o progresso não se contentaria em chegar sempre em lombo de burro: tinham visão de futuro e projetaram uma cidade para além de seu próprio tempo. Lá na ponta extrema do país, a “Princesa do Sul”, não mais do que uma graciosa infanta recém-saída das fraldas, já barbarizava no comércio e nas artes, toda orgulhosa de si (aliás, muito justamente). Da arquitetura à culinária, do saber ao sabor, em Pelotas – tudo indica – reinou sempre a sensibilidade e o requinte (por isso, metonimicamente não é difícil deduzir de onde vem a maliciosa fama da cidade quanto à delicadeza de seus cidadãos...). Faz tempo que fiz essa viagem, mas lembro que foi interessante perceber, como já disse em algum outro artigo, o quanto o Brasil todo é sempre Brasil mesmo, isto é, o quanto a identidade desse país se entrelaçou de norte a sul para dar no que deu em cada canto. Por trás da grande riqueza de nossa diversidade regional, se entrevê um substrato cultural unificador que faz a gente se sentir em casa, onde quer que se encontre. Como brasileiro, achei particularmente instrutivo – e por que não dizer comovente – saber do decisivo impulso que deu a seca nordestina para a prosperidade desses rincões do Sul. E deve ter
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sido uma seca das brabas mesmo pra fazer que um português estabelecido no Ceará se abalasse lá de cima e fosse bater na outra ponta do país, à beira do Arroio das Pelotas, pra fundar a primeira charqueada dessas paragens. Português arretado esse João Pinto Martins, que, cá pra nós, já devia era estar muito bem aclimatado a essas terras de além-mar. Daí pra frente, a cornucópia gaúcha não se fez de rogada: várias outras estâncias ao longo do mesmo arroio produzindo charque em escala industrial levaram a cidade ao seu apogeu econômico e cultural. É bem verdade que o arroio, recebendo os despojos sangrentos de tantos abates, devia feder terrivelmente. Mas, se nem tudo é perfeito, será ao menos compensável: a uma distância salutar para os sentidos, tudo era graça e beleza: bailes e saraus, elegância e bom gosto, distintos cavalheiros e damas mui hermosas, abençoados pasteizinhos de Santa Clara, trouxinhas de amêndoas, fios de ovos e outras delícias tradicionais. Hoje, há mudanças sensíveis. O Arroio das Pelotas não é mais poluído como naqueles tempos (pelo menos não por causa do charque). Por outro lado, as charqueadas que o margeiam, com exceção de uma ou outra, estão dando em ruínas. Do mesmo modo, pela cidade, tem-se a impressão de que belíssimos casarões em estilo colonial
podem desabar a qualquer momento. E no admirável Teatro Sete de Abril, fundado em 1833 – e “o mais antigo teatro brasileiro em funcionamento” (conforme leio num folheto que guardei) –, alguns morcegos de alma lírica voejam pelo palco e dão rasantes na plateia durante qualquer espetáculo. É triste; afinal, o que se perde é uma parte da nossa história. Mas há a tremenda força do comércio lojista e a grande indústria de beneficiamento de arroz. E ainda se mantém a saborosa tradição dos docinhos portugueses. E há sobretudo a natural sobriedade e simpatia dos cidadãos que transitam por essas ruas antigas e largas da “Atenas Rio-Grandense”, em cujas calçadas cachorros tranquilos folgam ao sol, cheios de cativante nobreza canina. Falo sério, Pelotas vale a pena! Por isso ainda vou contar aqui outros aspectos dessa viagem que me revelou um pouco desse país. Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br
Neo Mondo - Outubro 2008
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Educação
História que faz
Crianças de um dos muitos projetos desenvolvidos pela Fundação Abrinq: educação e cidadania
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diferença Pedro Rubens
Incentivando ações sociais, Fundação Abrinq mobiliza a sociedade para a defesa dos direitos e o exercício da cidadania Elizabeth Lorenzotti
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ais de 6 milhões de crianças brasileiras foram beneficiadas, em 19 anos de atuação da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Número dos mais significativos, levando-se em consideração que os problemas das novas gerações carentes significam um dos maiores desafios para o País. A entidade trabalha na mobilização dos setores da sociedade para promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania desses segmentos, por meio de parcerias que garantem os recursos. Tornou-se uma ponte entre quem precisa de ajuda e aqueles que querem ajudar por acreditar que as ações da instituição, além de garantir direitos, também asseguram o acesso a educação, cultura, lazer, saúde, inclusão digital e formação profissional. Seu programa mais antigo é de 1995, o Empresa Amiga da Criança, com o objetivo de fazer com que o setor privado assuma o compromisso de respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em relação ao trabalho infantil. Já em 1994 a Fundação patrocinou, com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o primeiro levantamento sobre o trabalho infantil no Brasil, realizado pela jornalista Jô Azevedo e pela fotógrafa Iolanda Huzak, que resultou no livro Crianças de Fibra. Ambas colaboravam com o jornal Criança, da Fundação Abrinq, e fizeram uma reportagem sobre criança e trabalho em São Paulo. Em entrevista concedida naquele ano, Iolanda Huzak contou: “Conhecemos um garoto de 10 anos que tinha perdido a mão numa máquina de moer carne, numa pizzaria. Aquele caso nos deixou chocadas, e resolvemos ampliar a matéria.
Então vimos que não havia situações registradas de forma sistemática sobre o trabalho infantil. Mas esse trabalho era muito comum. Topamos com a OIT, tentando implantar o Ipec (Programa de Eliminação do Trabalho Infantil), financiado pelo governo alemão, aqui no Brasil e em outros 5 países. Porque o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Brasil, proíbe o trabalho de crianças com menos de 14 anos. Ou de jovens a partir dessa idade, em ambientes que comprometam seu desenvolvimento. As duas entidades aproximaram-se, e a Fundação Abrinq concordou em desenvolver uma série de ações para sensibilizar a opinião pública”. A atuação da Fundação Abrinq, então, começava a se desenvolver nesta e em outras áreas relacionadas à criança e ao adolescente. Entre as ações que promove está o Programa Nossas Crianças, que há 16 anos aproxima pessoas e empresas que queiram apoiar a causa de organizações sociais que prestam atendimento a crianças e adolescentes de famílias de baixa renda. A proposta é mobilizar a sociedade para a melhoria das condições de vida dessa população e apoiar as organizações por meio da Rede Nossas Crianças. Para mobilizar o poder público, a instituição desenvolve o programa Prefeito Amigo da Criança, que dá suporte às gestões municipais na implantação de políticas públicas voltadas à promoção da qualidade de vida das crianças e dos adolescentes. Em sua terceira edição (20052008), contou com a adesão de 2.263 prefeitos, dos quais 535 participaram da análise para receber o prêmio, 132 foram reconhecidos com o selo Prefeito Amigo Neo Mondo - Novembro 2009
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Pedro Rubens
Educação
Ações da Fundação Abrinq em parcerias diversificadas dão oportunidade para que adolescentes exerçam atividades que não comprometam seu desenvolvimento
da Criança, e 5 foram destacados nacionalmente pela efetivação dos direitos das crianças e adolescentes. E o número mais importante: 7,5 milhões de crianças foram beneficiadas nesses municípios. Proteção à primeira infância Desde 1989 o Prêmio Criança identifica e reconhece iniciativas inovadoras realizadas por empresas e organizações sociais voltadas a crianças de 0 a 6 anos, gestantes e parturientes. É nesta faixa etária que cuidados e estímulos adequados podem fazer toda a diferença. Segundo Synésio Batista da Costa, presidente da Fundação Abrinq, “a primeira infância é uma fase única e preciosa da vida, em que se formam as conexões cerebrais que asseguram o pleno desenvolvimento intelectual, psicológico e social do ser humano, por meio de estímulos e interação com ambientes adequados. É por esse motivo que iniciativas que zelam por bebês, crianças, suas mães e sua família merecem atenção redobrada de toda a sociedade”. No dia 11 de novembro, a Fundação Abrinq realizou o Prêmio Criança, que contou com 355 iniciativas inscritas e a participação de cerca de mil pessoas entre autoridades do poder público, empresários, doadores, imprensa e organizações da sociedade civil. Os vencedores foram os seguintes: Programa Fazendo Minha História, do Instituto Fazendo História (São Paulo). A iniciativa abre espaço para que crianças e adolescentes criem seus álbuns de histórias e assim possam fortalecer a sua autoestima e identidade. A maior parte dessas 22
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crianças vivenciou episódios de abandono, negligência e violência, e o exercício lúdico de reconstruir, junto ao universo da literatura e da fantasia, a sua própria biografia, é um processo transformador. Projeto Lugar de Palavra, do Núcleo de Atenção à Violência (Nova Iguaçu/RJ), dá voz a crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica. As crianças falam das situações traumáticas e constroem novas formas de se relacionar em família e no contexto social. Projeto Vale a vida – Juntos por um Futuro Melhor, da Vale do Ivai S/A Açúcar e Álcool – São Pedro do Ivaí (PR). Desde agosto de 2005, a empresa Vale do Ivaí S/A Açúcar e Álcool, em parceria com a Pastoral da Criança, promove ações preventivas para a gestante e seu bebê no Projeto Vale a Vida - Juntos Por um Futuro Melhor, desenvolvido junto à comunidade e funcionárias no município de São Pedro do Ivaí, no Paraná, e São Miguel do Cambuí, em Minas Gerais. Em 2008, a iniciativa foi ampliada e uma equipe de saúde da empresa realiza as ações recomendadas no manual desenvolvido para o projeto, orientando as gestantes colaboradoras da empresa de outros 13 municípios, alcançando o total de 255 atendimentos por ano. Promovendo o Desenvolvimento de Crianças com Desnutrição: Uma Nova Concepção, do Instituto de Prevenção a Desnutrição e a Excepcionalidade (Fortaleza/CE). Potencializar o desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade social e fortalecer os vínculos entre elas e seus cuidadores são os principais objetivos da iniciativa, que atualmente atende 800 crianças de 0 a 6 anos.
O selo que garante o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente
Na cerimônia da entrega do Prêmio Criança foi homenageada a pediatra Jocete Barroco Fontes, indicada pelo INFANS, Unidade de Atendimento do Bebê, que se destaca em Salvador (BA), por sua atuação que vai além da saúde dos pequenos pacientes, estendendo-se à garantia dos direitos da criança. Rio 2016 e a criança A Fundação Abrinq acredita que as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, serão uma nova oportunidade para o Brasil olhar para o futuro. Para Synésio, “muitos dos pequenos brasileiros de hoje virão a ser os atletas olímpicos daqui a sete anos. Eles competirão em estádios construídos por operários, muitos deles frutos de uma geração com poucas oportunidades, mas que poderão vivenciar as conquistas de seus filhos”. Acentuando que, do ponto de vista econômico, o País conseguiu inúmeros avanços, o presidente da Fundação Abrinq afirma que “sopram ventos favoráveis para mudanças estruturais na educação, na saúde e na qualidade de vida, especialmente para as crianças”. A Fundação entende que, com a missão de organizar o principal evento esportivo do planeta, e com indicadores econômicos tão positivos, “os nossos governantes têm pela frente a chance de ser os operários na construção de uma geração campeã, vitoriosa na formação educacional, com ampla oferta de oportunidades e de um horizonte mais glorioso. Um exemplo de que os jogos poderão trazer avanços é a medida que prevê o ensino de inglês, a partir de 2010, aos adolescentes das escolas municipais cariocas. Muitas outras mudanças e inovações como essa também estão por vir”.
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Cultura & Arte
Doutor das
LENT
O primeiro índio fotografado em 1973, ao sair da pesca: “Nós levamos três anos para fazer contato, adiando ao máximo a catástrofe”
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edro Martinelli é um dos poucos brasileiros que conhecem a Amazônia, não por ouvir falar e ler ou por meio de estudos de gabinete. Ele documenta a região e seu povo desde 1970, quando, aos 20 anos, foi enviado pela sucursal paulista do jornal O Globo para fotografar a expedição dos irmãos Villas Bôas, Cláudio e Orlando, sertanistas que, com o irmão Leonardo, idealizaram o Parque Nacional do Xingu (hoje Parque Indígena do Xingu), fundado em 1961 - a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Informação Científica, Tecnológica e Ecológica (1996) , é fotógrafo independente desde 1994 e tem inúmeras reportagens publicadas nos 24
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principais periódicos do País. Reconhecidamente, um dos maiores fotógrafos brasileiros. Os Villas Bôas foram responsáveis por sua “pós-graduação em mato”, como Pedrão costuma dizer. Pedrão é como todos chamam esse descendente de italianos, criado em Santo André, no ABC, em São Paulo, em uma família de oito irmãos. Desde o início, em 1967, na sucursal do jornal Gazeta Esportiva - quando revelou a primeira foto e se apaixonou pela profissão -, sua carreira voou. Trabalhou no Diário do Grande ABC em Santo André até 1970 e foi para a sucursal paulista de O Globo, onde ficou até 1975. Fez de tudo, desde cuidar dos linotipos até aprender a fotografar e revelar.
“Cheguei na redação indicado por um amigo do Diário do Grande ABC, o Chicão. Nove da manhã, o chefe, que se chamava Garini, cortou um pedaço de jornal que estava lendo e falou: ‘senta e escreve’. Eu tinha trabalhado em cartório, fiz curso de datilografia, era bom nisso.” Foi assim que Pedrão se tornou rádio-escuta, não havia vaga para fotógrafo. Rádio-escuta é a pessoa que ficava ouvindo rádio e gravando os noticiários. “Acontece que eu mais fotografava do que gravava noticiário. Trabalhei bastante, e cinco meses depois O Globo tinha mandado dois fotógrafos para a Amazônia; nenhum deu certo, ninguém queria ir, com medo de malária, da mata. Eu fui, e pronto”.
Pedro Martinelli
ES
Especialista em Amazônia Assim Pedrão começou a se especializar em Amazônia. Ficou em O Globo até 1975, trabalhou depois no Palácio do Governo de São Paulo e foi para a revista Veja em 1976, onde ficou até 1983, como fotógrafo e depois editor de fotografia. Entre 1983 e 1994 foi diretor de serviços fotográficos do Estúdio Abril. Pediu demissão para dedicar-se à documentação da Amazônia. “A primeira coisa que eu fiz foi ver se encontrava o índio que tinha fotografado em 1973. Até então ninguém sabia me dizer se eles estavam vivos, principalmente o que havia saído na foto de primeira página. Fiquei 20 anos tentando, as informações eram muito escassas, só sabia que eles haviam sido transferidos para o Xingu. Logo depois do contato, a estrada passou, morreu 70% da população, acho que ficaram vivos 76. Para impedir a extinção, a Funai os transferiu para o Xingu”, conta. Em 1994, com seu projeto pessoal elaborado durante anos, Pedrão comprou Divulgação
Pedro Martinelli, fotógrafo da Amazônia, é pós-graduado em mato pelos irmãos Villas Bôas
expedição de contato com os índios gigantes, os Kranhacãcore (homem grande da cabeça redonda), como os inimigos Txucarramães os chamavam. Hoje são os Panará. A frente de atração era chefiada pelos irmãos Claudio e Orlando Villas Bôas, cuja missão era fazer o contato com os índios que estavam no rumo da rodovia Cuiabá--Santarém. “Fui para ficar um mês e acabei ficando três anos”, conta. “Encontrei meus mestres Villas Bôas, que tinham uma concepção contra a construção de estrada, a favor de manter os índios isolados, enfim...”. Ficou três anos no rio Peixoto de Azevedo (divisa de Mato Grosso e Pará) até fazer contato com os índios. “O contato foi em abril de 73.” Quando ninguém esperava, sai do meio da mata um índio gigante: ”Estava pescando e apareceu no fim da tarde, inteirinho, maravilhoso”, lembra. A foto do primeiro contato foi publicada na primeira página de O Globo, em 11 de fevereiro de 1973, depois que as partes íntimas do índio foram retocadas por ordem do censor que ficava na redação.
No mato, todo dia Então tudo começou. Mas Pedrão não era um iniciante em mato. “Eu já conhecia a Mata Atlântica em Santo André, desde menino caçava com meu pai, na Serra do Mar, que ficava do lado da minha casa. Meu pai fechava o açougue às 3 horas, e a gente ia para o mato todo dia. Eu tinha adoração pelo mato, a Mata Atlântica, deslumbrante, mas com um olhar de caçador, não de ambientalista, não tinha noção do tamanho da encrenca que estava por acontecer. Em 1970, eu queria conhecer a Amazônia”. Na época da ditadura, os militares começaram a construir estradas: Cuiabá--Santarém, Transamazônica, Perimetral Norte. Foi quando O Globo escalou Pedrão para cobrir a
Pedro Martinelli: quase 40 anos de Amazônia, um trabalho inestimável
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Pedro Martinelli
Cultura & Arte
O mesmo indio, quase 40 anos depois : “Fiquei amigo dele; hoje os Panará entendem perfeitamente o meu papel”
um barco para fazer seu primeiro livro Amazônia povo das águas. Foi atrás dos Kranhacãcore com um antropólogo norteamericano, conhecedor da língua deles que, de certa forma, salvou a sua vida. “Eu fui o primeiro que participou do contato e voltou na aldeia 20 anos depois. Cláudio e Orlando se aposentaram e nunca mais voltaram. Os mais velhos me reconheceram, e foi uma loucura, o pajé os instigava pra me matarem.” Isto porque culpavam Pedrão, um membro da expedição de 1973, por todo o mal que aconteceu a eles depois do contato. “Mas o antropólogo Steve (Pedrão recorda-se apenas do nome – N.R.) foi contornando, na língua deles, calmo. Foi colocando minha história. Dormi na aldeia; foi dramático, 26
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acordei e pensei: estou vivo, então não me matam mais. Porque o lance é matar à noite, é clássico no Xingu: dão uma casa pra dormir e matam de borduna, muitos brancos morreram lá assim”, diz Pedrão. Ponte no lugar de aldeia Teve início, então, uma grande relação com aqueles índios. “Levei as fotos, eles viram parentes que tinham morrido, foi muito dolo-
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roso”, diz. Para o encontro, Pedrão encontrou um índio amigo da antiga expedição: “Fomos numa caminhonete e andamos até a antiga aldeia”. Encontraram terra arrasada.” Onde era aldeia tem ponte de concreto; fotografei tudo e liguei para Merval Pereira, então diretor do Globo, que nos anos 70 era colega repórter. Quando consegui falar, ele disse: ‘Vem para o Rio agora’. Ficaram loucos com o material, o jornal não tinha nunca voltado. Fizeram uma série de matérias, e ganhamos o Prêmio Esso de Informação Jornalística”. Em 1998, foi realizada uma grande exposição no Sesc Pompéia com o lançamento do livro Panará a volta dos índios gigantes. Compareceram seis índios, fizeram uma linda dança durante três dias. Entre eles, o índio gigante fotografado há 35 anos. De camiseta pólo, sapatos, não é mais um índio gigante; hoje ele é o seu Euclides. As contas do que se perdeu Desde 1970, Pedro Martinelli começou a fazer as contas de tudo que se estava perdendo. “Muita gente que fala em sustentabilidade não conhece mato, não tem idéia da perda. Hoje saiu uma notícia de que desmatamos 36 % menos que no ano passado. São burocratas de escritório que ficam tomando banho de luz fluorescente na frente do computador a vida inteira, nunca falaram com caboclo, nunca dormiram mais de uma noite no mato”, avalia. Pedrão se enfurece porque suas contas não batem com as oficiais. “Na minha conta, eu juro, quando vi a estrada chegando, nos anos 1970, as primeiras derrubadas, pensei que a Amazônica se acabaria em 20 anos. Posso ter errado, mas se continuar assim, em 20 anos não vai haver mais nada”, profetiza. Segundo Pedrão,nos últimos cinco anos a qualidade de vida piorou muito: “ A questão não é nem ambiental; o problema é a degradação humana que a Amazônia está sofrendo. Trabalhei para um especial da revista Veja e fiz a parte de Manaus inteira em quatro dias. Toda a periferia. Não dá para explicar, é egoísta pensar em árvore, preservação de mato, de bicho, com o ser humano naquelas condições”.
Problema maior é a degradação humana... Se nada for feito, (região) não dura mais 20 anos; como falar em sustentabilidade?
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Em Belém as pessoas moram em cima do esgoto, em palafitas Pedrão enfatiza: “Se falta esgoto em São Paulo, imagine em Belém e Manaus. Vou a Belém há quase 40 anos. Desde que construíram o Hilton Hotel, há 25 anos, até hoje, tem esgoto passando em frente. Duvida disso? Você pega um táxi e vai até o Porto da Palha, a 10 minutos do Hilton, na Avenida Beira Rio, você vai ver ser humano no pior estado.Você não imagina! O problema não é só deste governo, é de vários. Isso que eu falei na boca de um sociólogo fica interessantíssimo, jamais ele falará de saneamento básico, de esgoto, da degradação humana. Continuam falando uma linguagem que não existe. E daqui a pouco, vão falar o que mais?”. Fossa olímpica Para Pedro Martinelli, antes de salvar a Amazônia, as pessoas deveriam cuidar do rio Tietê, que passa no nosso quintal. “A raia olímpica da USP é de esgoto. Onde estão sentados os grandes cérebros do País, a 200 metros do rio Pinheiros, ao lado existe uma favela. Eu pergunto: há alguma assistente social fazendo trabalho naquela favela? Este país precisa de assistente social, para ensinar a cuidar de verme, tratar de saneamento. Porque há muitos trabalhos em favelas que ensinam a mexer em computador, mas não a defecar na fossa. Sim, deve haver aula de teatro, de música, mas não há fossa séptica.Esgoto, saneamento básico, estas são as palavras necessárias. Assim estaremos dando um passo enorme”, alerta. “No mato, para ver televisão a pessoa tem de matar uma paca, vender tartaruga.
Uma tartaruga vale R$ 5 , que é o preço de um litro de óleo diesel na Amazônia. Duas horas de TV consomem um litro de óleo diesel, ou seja, uma tartaruga. Cinco horas de TV valem uma paca. Para começar a discutir sustentabilidade, é preciso discutir qual a alternativa para o caboclo comprar o diesel dele e continuar a ver televisão sem vender tartaruga nem matar paca”, afirma. Todo o trabalho de Pedrão na documentação da Amazônia nunca foi financiado: ”Nem um litro de gasolina, nenhuma passagem de avião, ninguém me hospedou por conta. E também ninguém me questionou até hoje; só o caboclo poderia me questionar, mas não”. Enquanto grelha uma abobrinha na chapa, Pedrão , que em seu blog coloca estas e muitas outras histórias preciosas de sua vida profissional, diz que tem vontade mesmo é de falar sobre comida.”Sempre cozinhei, desde pequeno; todos os oito irmãos aprenderam a limpar casa, passar roupa e cozinhar - a nossa primeira grande lição de vida”. E a comida da Amazônia? Pedrão diz que está na moda,mas esta é mais uma frente de dilapidação do patrimônio de índios e caboclos: “Neguinho vai lá, usa a pimenta deles, a idéia deles, vota, faz um prato bonitinho para o mundinho fashion, mas o retorno, a contrapartida é zero”. Ele pergunta: como arrumar o mundo sustentável para esse homem da Amazônia? “Eu comprei ingresso na poltrona vermelha, numerada, vou sentar e assistir de camarote.”
Livros de Pedro Martinelli O livro Panará a Volta dos Índios Gigantes (1998) conta toda a história do contato, a transferência para o Xingu e a mudança para o Rio Iriri, onde os Panará estão desde 1994. Você pode encontrar a obra no site www.istitutosocioambiental.org Pedro Martinelli publicou ainda Casas Paulistanas (São Paulo, 1998), Amazônia o Povo das Águas (com exposição individual no Museu de Imagem e do Som, São Paulo, 2000), Mulheres da Amazônia (com exposição no Museu da Casa Brasileira, São Paulo 2004) e Gente X Mato, São Paulo 2008. Estes dois últimos podem ser adquiridos com o próprio autor no seu site www.pedromartinelli.com.br
Lição de Orlando Villas Bôas
“Durante a longa permanência entre os índios, a única contribuição que talvez lhes tenhamos dado foi mostrar aos civilizados que o índio brasileiro não é um selvagem agressivo e destruidor. Nós trouxemos a notícia de que eles constituem uma sociedade tranqüila, alegre. Ali, ninguém manda em ninguém. O velho é dono da história; o índio, dono da aldeia; e a criança, dona do mundo. Nesse tempo todo em que vivemos perto deles, nunca assistimos a uma discussão, a uma desavença na aldeia ou a uma briga de marido e mulher. Se a criança faz alguma coisa que o pai desaprova, ele não a repreende. Apenas a tira de onde está e a leva para outro lugar. É admirável, também, o respeito que os pequenos têm pela natureza, valor que adquirem observando o comportamento dos mais velhos. O chefe, ou cacique, é o líder cultural da aldeia. Ele goza de muitas prerrogativas, mas deve observar uma série de restrições: não pode falar alto, nem rir ou fazer gestos bruscos, por exemplo. Sua função não é impor regulamentos nem determinar tarefas, mas estabelecer uma ligação entre a comunidade e os pajés que se reúnem todas as tardes para conversar, fumar e deliberar sobre o bom andamento da tribo. O cacique não participa da conversa. Apenas ouve o que está sendo dito e na manhã seguinte, segurando o arco numa das mãos, dirige-se ao povo que se junta diante de sua maloca para escutar as recomendações dos pajés e, em seguida, colocá-las em prática. Supostamente os pajés nunca erram porque não têm outra preocupação além de ficar zelando pelo bemestar da comunidade. Quando colocamos a possibilidade do diálogo entre os diferentes povos e culturas como horizonte a ser alcançado, precisamos logo esclarecer que ele pressupõe que os povos estejam fortalecidos e seguros (quanto à questão de suas terras; quanto à sua identidade étnica e nas suas relações com ‘os outros’)”. www.expedicaovillasboas.com.br/ portal/orlando-villas-boas.html
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Meio Ambiente
Lixo: problema sem fim? Municípios da região metropolitana de São Paulo desdobram-se para gerenciar seus aterros sanitários, enquanto pelo país afora os lixões ainda são uma realidade. Esse problema tem solução? Rosane Araujo
RSU - Resíduos Sólidos Urbanos
Quantidade de municípios onde existem iniciativas de coleta seletiva
Norte 257 57,2%
Nordeste
192 42,8% 1.189 66,3%
605 33,7%
Centro-Oeste 106 22,7%
Brasil
360 77,3%
361 21,6% 1.307 78,4%
2.456 44,1%
Sudeste
3.109 55,9%
289 24,3% 899 75,7%
Sul
S
anto André, município do ABC paulista, ainda comemora a autorização para ampliação de seu aterro sanitário municipal, concedida pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em 21 de outubro. Enquanto isso, a capital paulista vê seu último aterro próprio ser encerrado e passa a destinar seus resíduos a aterros particulares, até mesmo em outros municípios. Gerenciar os resíduos sólidos gerados em uma cidade grande é tarefa que tem exigido bastante dos administradores municipais, e não é para menos. Em média, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), cada brasileiro produz 0,95kg de lixo por dia, o que corresponde a 53 milhões de toneladas por ano, cerca de 53 estádios Maracanã lotados de lixo. “Deste total, 12% não chegam a ser coletados pelos municípios, 40% vão para lixões e 48% para aterros sanitários”, informou o diretor-presidente da Abetre, Diógenes Del Bel.
Não
Sim
Fonte: Pesquisa ABRELPE 2008
Os dados mostram uma realidade preocupante, já que, sem coleta ou dispostos em lixões sem qualquer infra-estrutura, os resíduos oferecem riscos diretos ao meio ambiente e à saúde da população em geral. Uma regulamentação do setor em território nacional, porém, está a caminho e poderá ser o primeiro passo para evoluções efetivas na área. Em 15 de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, após avaliação de 79 propostas em tramitação na casa. O projeto de lei tem como objetivo principal acabar com lixões e proibir a destinação final em rios, córregos ou no mar. O projeto também estabelece responsabilidades ao setor empresarial, como a lógica reversa, por meio da qual as empresas terão de recolher os resíduos de seus produtos, após descarte dos consumidores. Pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes e produtos eletrônicos são alguns itens que deverão ser recolhidos pelos fabricantes. Neo Mondo - Novembro 2009
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Meio Ambiente
Geração e destinação de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil (2008) 170mil t/dia
12%
52,9 milhões t/ano 0,95 kg/habitante.dia
13%
Aterro San. Privados
35%
40%
Aterro San. Municipais Lixões Não Coletado
Fonte: ABRELPE e ABETRE A proposta segue para votação na Câmara, e a previsão é de que seja votada no Senado já no próximo ano. “O importante é que cada município faça seu planejamento, seu orçamento; é isso que o projeto prevê. O lixão é custo zero, não tem engenharia envolvida, mas é também um passivo ambiental que cabe aos municípios sanar. Vai chegar uma hora em que todos vão ter de lidar com isso”, comentou Diógenes. Capital X 53 municípios A coleta e a destinação do lixo da capital paulista são realizadas por duas empresas: Loga e EcoUrbis. A primeira,
responsável pela região noroeste da cidade, destinava o lixo recolhido para o aterro Bandeirantes, que teve suas atividades encerradas em 2007. Desde então, o material, cerca de 6 mil toneladas por dia, é enviado a um Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) particular, na cidade de Caieiras. A mesma situação está sendo enfrentada agora pela concessionária Eco Urbis, responsável pela região sudeste da cidade. Após 17 anos de vida útil, o aterro sanitário municipal São João encerrou suas atividades recentemente, levando a empresa a transportar o lixo para o aterro particular CDR Pedreira, na
divisa com o município de Guarulhos. “Contratualmente, elas são responsáveis pela destinação final dos resíduos, em aterros da prefeitura ou particulares, pois o valor pago é por meio de tarifa única”, informou a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Serviços. O cenário deve manter-se assim até que seja concedida imissão de posse de uma área de 435 mil m², vizinha ao São João, para construção de um novo aterro. O problema do esgotamento de aterros, porém, não é uma exclusividade da capital paulista. Segundo o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares, elaborado por técnicos da Cetesb, 53 municípios do estado apresentavam, em 2008, aterros sanitários em condições inadequadas. O número, porém, é menor do que o registrado no relatório realizado em 2007, no qual 137 cidades receberam a mesma avaliação. O órgão atribui a melhoria ao Projeto Estratégico Lixo Mínimo, lançado em novembro de 2007, pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, cuja meta é acabar com os lixões no estado de São Paulo até o final de 2009. Seguindo a mesma linha, a Secretaria pretende, ainda neste ano, divulgar a situação dos programas de coleta seletiva nos municípios paulistas, introduzindo um novo índice para classificar a qualidade desses serviços.
Enquanto o cenário da destinação do lixo no estado de São Paulo evolui gradativamente, algumas cidades mostram mais consistência em suas ações no setor. É o caso de Santo André, cidade com 680 mil habitantes, que recentemente obteve autorização da Cetesb para ampliar seu aterro próprio, que caminhava para o esgotamento, para uma área de 39,8 mil m², o que representará mais 13 anos de vida útil para o aterro. Caso não conseguisse a ampliação, a cidade teria de mandar seus resíduos para o aterro particular Lara, em Mauá, como fazem os municípios vizinhos, o que representaria um gasto extra de R$ 1,3 milhão por mês. Privar o município e seu povo de não utilizar o seu aterro e mandar esse
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Neo Mondo - Novembro 2009
Semasa
Santo André amplia aterro e estuda outras opções
Aterro de Santo André - Ampliação garantirá mais 13 anos de operação
Semasa
Em busca de inovações, os responsáveis pelo Semasa visitaram recentemente países como República Tcheca e Alemanha, além de receber visitas técnicas de autoridades portuguesas e americanas da área. “Temos acompanhado a evolução mundial no ramo, estamos atentos a tudo o que acontece. Ainda existe um limite tecnológico, mas a gente sabe que está avançando para romper barreiras. Tenho certeza de que o aterro de Santo André não será só uma área onde futuramente plantaremos árvores. Pode haver o desmonte, proporcionando geração de energia e permitindo a reutilização para armazenar novos resíduos sólidos, sem ocupar outro espaço. Cada município tem seus problemas e tem que apresentar soluções”, comentou o diretor do Semasa. Outro importante trunfo do órgão no gerenciamento dos resíduos sólidos da cidade é a coleta seletiva, que já atende 100% do território. A participação da população, porém, ainda é baixa e somente 13% do lixo é separado para reciclagem. A justificativa do órgão para a baixa adesão é o desconhecimento da população sobre o serviço, o que tem sido combatido em campanhas. Em uma delas, uma gravação é transmitida por telefone aos moradores da cidade, informando como funciona a coleta e incentivando os munícipes a participar. Os resultados foram positivos, e em menos de um ano houve um au-
Semasa
Santo André conta com 100% de coleta seletiva, mas adesão da população ainda é pequena
Todo o material recolhido na coleta seletiva é destinado a galpões de triagem Semasa
lixo para as cidades vizinhas seria terrível, tanto para Santo André quanto para a vizinha. Tem o impacto ambiental de deslocar esses caminhões, fora o impacto financeiro que isso iria proporcionar. Acho que foi uma vitória para todo o povo de Santo André?, comemorou o superintendente do Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa), Ângelo Pavin. Na área acrescida funcionam a administração do depósito e duas cooperativas de reciclagem de lixo, que serão alocadas dentro do terreno original. “Temos a intenção de ampliar as cooperativas e até implantar novas para outros tipos de materiais como garrafas Pet”, disse o diretor de Resíduos Sólidos do Semasa, Roberto Massanobu Tokuzumi. Mesmo satisfeitos com a autorização de ampliação do aterro, os técnicos do Semasa reconhecem que é preciso buscar outras soluções para os resíduos sólidos da cidade. “O aterro sanitário é um elemento finito, tem uma vida útil. Estamos pesquisando alternativas tecnológicas para o tratamento dos resíduos de Santo André. Ganhamos uma sobrevida de 13 anos, mas isso não quer dizer que nossa responsabilidade cessou porque senão estaremos transferindo o problema. Já temos algumas soluções, mas é um pouco prematuro ainda citar”, afirmou o superintendente adjunto do Semasa, Dovílio Ferrari Filho. Uma das idéias em estudo é criar o Condomínio da Reciclagem, que seria implantado em uma área de aproximadamente 60 mil m², onde seriam utilizados vários tipos de tecnologias, entre elas o aproveitamento de resíduos de construção e demolição (RCD) para geração de energia. Outra proposta, esta para um prazo mais curto, é a utilização do gás metano gerado pelos resíduos do aterro para produção de biogás, o que resultaria em créditos de carbono. “Também não está descartada a opção de desmonte do aterro”, garantiu Dovílio. O desmonte consistiria na retirada de parte do lixo já enterrado para incineração e geração de energia. “É uma solução que alguns países da Europa já fizeram”, completou Roberto.
Nos galpões de triagem, cooperados fazem a separação do material e posterior comercialização
mento de 29% na coleta seletiva, o que levou a campanha a receber o prêmio EcoPet na categoria Ação da Empresa, oferecido pela Associação Brasileira da Indústria do Pet. “Cada tonelada que conseguimos coletar ajuda a aumentar a vida útil do nosso aterro sanitário. Essa é uma preocupação que só os municípios que possuem aterros próprios têm”, encerrou Roberto. Neo Mondo - Novembro 2009
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João Carlos Mucciacito
As necessidades ambientais
no mundo corporativo
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s relações ambientais e as atividades industriais e de comércio vêm aumentando sua importância de forma bastante intensa nos últimos anos, afetando de maneira decisiva a vida das empresas. As questões ambientais transcendem as fronteiras nacionais, tornando-se ponto vital nas relações de comércio internacional, como mostram os desdobramentos da Rodada Uruguaia do GATT, atualmente Organização Mundial do Comércio (OMC). Estas novas entidades internacionais, dizem alguns, tendem a ter mais poder que a própria ONU, na exata medida em que regulam o comércio internacional neste mundo globalizado. Essa alteração das relações comerciais tem forçado as organizações empresariais a se adaptar aos novos padrões globais de comércio, passando a considerar o novo contexto político, o comportamento de um consumidor mais consciente e a nova realidade de proteção ambiental. As necessidades ambientais são fundamentalmente estabelecidas pelo público, tanto diretamente, pelos consumidores e partes interessadas, quanto indiretamente, por decisões políticas tomadas por meio de acordos regionais ou 32
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mesmo internacionais e, ainda, pelo estabelecimento de novas legislações. Tais necessidades estão baseadas, por um lado, no atual estágio do conhecimento científico e, por outro, nas percepções dos assuntos ambientais. Em alguns casos, eventos que já tenham efetivamente ocorrido (como derramamento de óleo nos oceanos) ou até mesmo previsões de eventos (como as mudanças climáticas e suas consequências) geram um aumento de pressão pela defesa do meio ambiente, que acaba se tornando uma área prioritária para estabelecimento de ações. Além dessas ponderações, não devemos nos esquecer de que o conceito de desenvolvimento sustentável envolve uma reflexão a respeito do uso dos recursos naturais e necessidades futuras no presente, sem comprometer o uso dos recursos naturais e necessidades das futuras gerações. Para ser possível a concretização do que chamamos desenvolvimento sustentável, as grandes organizações empresariais, ou mesmo as empresas individuais, deverão estruturar-se por meio de processos que demonstrem a necessidade de planos de curto prazo para reduzir pressões ambientais negativas de seus produtos e/ ou processos.
Concluindo, podemos expressar que as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países industrializados. Cada vez mais os impactos do consumo da sociedade são grandes responsáveis pelo aumento da degradação ambiental: seja no processo de extração de matérias-primas, seja no processo produtivo propriamente dito ou, até mesmo, no consumo e descarte dos produtos, a sociedade de consumo em massa está causando um grande impacto na casa em que habita, o planeta Terra. A disseminação de informações a respeito desses impactos é um dos instrumentos que a sociedade tem para tentar frear a atual deterioração.
João Carlos Mucciacito Químico da CETESB, Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro Universitário Santo André - UNI-A e na FAENG Fundação Santo André E-mail: joaomucciacito@yahoo.com.br
Neo Mondo - Outubro 2008
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Meio Ambiente/Biocombustível
– energia limpa em discussão Série NEO MONDO discutirá prós e contras do que está sendo conhecido como “petróleo verde” Rosane Araujo
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partir desta edição, NEO MONDO traz uma série de reportagens sobre os biocombustíveis, tema que está em evidência nos noticiários e reuniões de governos do mundo inteiro. O potencial do Brasil para assumir a liderança no mercado de biocombustível mundial já foi motivo de comentários do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que em março deste ano declarou sua admiração pelas iniciativas brasileiras na área. O fato, porém, não modificou a resistência do País perante a mudança de sua matriz energética, ou seja, a gama de opções para geração de energia das quais dispõe. O governo americano prefere, por hora, investir no desenvolvimento de opções limpas em seu próprio território. Se o mercado externo ainda não se deixou seduzir pelos biocombustíveis brasileiros, por outro lado, internamente, a evolução é gradual, mas efetiva. Em 17 de novembro, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) realizou o primeiro leilão para atender à mistura B5, composta por 5% de biodiesel adicionado ao diesel comum, a qual começará a ser utilizada a partir de janeiro de 2010.
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Foram comercializados 575 milhões de litros de biodiesel, com preço médio ponderado de R$ 2,33 por litro. Desde o ano passado, o produto vem sendo adicionado ao diesel mineral em concentrações cada vez maiores. A mistura com 5% estava prevista para ser utilizada somente em 2013, mas o governo resolveu antecipá-la. “É um combustível menos poluente e mais gerador de empregos. Temos todas as razões do mundo para consagrá-lo. O Brasil pode se apresentar como um grande referencial mundial em conhecimento tecnológico e capacidade produtiva”, declarou o presidente Lula, por meio da Agência Brasil, ao anunciar a antecipação do B5, em outubro. Com o aumento da mistura, a demanda de biodiesel para 2010 é estimada em pelo menos 2,3 bilhões de litros, sendo que 1,8 bilhão de litros deverão ser feitos a partir de óleo de soja. A ideia do governo, porém, é investir em novas tecnologias para não depender exclusivamente da soja para a produção.
nhão manso, oleaginosa nativa com produtividade potencial três vezes maior do que a da soja. Tanto potencial tem gerado pesquisas e eventos. Nos dias 11 e 12 de dezembro, em Brasília, aconteceu o 1º Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso, promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM). O encontro, que reuniu pesquisadores, técnicos, professores e estudantes, colocou a necessidade de um estudo específico sobre a espécie. Já se sabe que o pinhão produz cerca de duas toneladas de óleo por hectare e leva de três a quatro anos para chegar à idade produtiva, que pode durar até 40 anos. Para se tornar uma fonte consistente de biodiesel, porém, necessita de modificações para que possa adaptar-se às diversas regiões do País e para que deixe de ser tóxico.
Alternativas não faltam Biodiesel produzido a partir de girassol, amendoim, mamona, algodão, canola e dendê já são uma realidade, mas a grande expectativa gira em torno do pi-
Importância do etanol As expectativas de crescimento no setor, entretanto, não são exclusivas do biodiesel. Segundo informações da Embrapa, dados conservadores apontam
BIOETANOL O cioetanol (etanol de lignocelulose) é um combustível renovável produzido a partir de resíduos agroindustriais (bagaço de cana). A milésima patente depositada pela Petrobras foi resultado do processo de fabricação de etanol de lignocelulose e marcou a entrada da Companhia na era dos biocombustíveis de 2ª geração.
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Meio Ambiente/Biocombustível
que se a matriz mundial fizer substituição da gasolina por etanol em 10%, o Brasil pode contribuir em até 50% com esta oferta, num período de 10 a 15 anos. Com tantas perspectivas positivas não é de estranhar que o tema dos biocombustíveis seja tão frequente. Mas o assunto não chega a ser unanimidade. Organizações humanitárias
acreditam que a produção de biocombustível destruirá lavouras e fomentará a pobreza nas regiões emergentes. Alguns ambientalistas também contestam a redução nas emissões de CO2, apontadas como uma das vantagens do biocombustível. Segundo eles, não estão sendo consideradas as emissões geradas por
fertilizantes e pesticidas utilizados nas colheitas, além dos custos com utensílios agrícolas, processamento e refinação, do transporte e da infraeestrutura para distribuição. Uma discussão complexa sobre a qual NEO MONDO não poderia ficar de fora. Acompanhe as próximas reportagens de série e fique informado!
O que são biocombustíveis Os biocombustíveis são produzidos a partir de fontes renováveis, como biomassa e produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas e gordura animal. O biocombustível mais conhecido do brasileiro é o etanol: o álcool é encontrado nos postos de serviço desde a década de 1970. Ele é feito da fermentação dos açúcares de gramíneas e grãos como milho, cana-de-açúcar e sorgo. Recentemente, iniciou-se a produção do biodiesel. Origem Em sua edição especial sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, em junho de 2008, NEO MONDO lembra que o inventor do biodiesel é o engenheiro químico e professor universitário cearense, Expedito Parente.
Já na década de 1970, o estudioso apresentou o achado que foi batizado de pró-diesel, mas acabou perdendo a patente em 1990, por não ter sido utilizada. Já os primeiros carros movidos exclusivamente a etanol começaram a ser produzidos em 1978, por meio do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em 14 de novembro de 1975, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando atender as necessidades do mercado interno e externo. Os maiores produtores de etanol hoje são EUA, a partir do milho (46%); e Brasil, derivado da cana (42%).
Ricardo Stuckert/PR
Lula confere o mapa da biodiversidade brasileira, ao inaugurar instalações da Embrapa em Campinas, em 2008
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Marcello Casal Jr./ABr
Obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia
Terence Trennepohl
Correspondente especial de Boston – Estados Unidos
Fontes renováveis de energia
- Ambientalismo sim... ambientalice não!
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lgumas semanas atrás, a Folha de S. Paulo publicou um artigo, de autoria do Dr. Marcos Cintra (Doutor em Economia pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas), chamado ‘Remédios e venenos’, em que o autor analisava algumas modificações no regime de tributação sobre a entrada de capitais no País (IOF). O que chamava a atenção no artigo era o alerta feito para que fosse mantida a competitividade do Brasil diante dos demais países emergentes com políticas econômicas consistentes, estáveis e seguras. Sabidamente, ninguém investe em um país cuja margem de insegurança econômica seja relativamente alta. Pois bem. Passo a falar não de segurança econômica, mas de segurança jurídica. Mantida essa preocupação, volto os olhos para os investimentos feitos em projetos de infraestrutura, principalmente aqueles que causam significativos impactos ambientais, como a instalação de usinas hidrelétricas. Impacto ambiental não sugere, necessariamente, degradação ambiental. Ao contrário, pois muitos impactos geram significativas melhorias sociais. A consolidação de uma matriz energética, por exemplo, não é degradação, mas sim ‘custo ambiental’. Não há forma de estabelecê-la sem impactos ao meio ambiente. O licenciamento de obras com esse perfil vem repercutindo muito nos meios de comunicação, no Brasil e no exterior. O mundo acompanhou as notícias sobre os imbróglios ambientais no Rio Madeira. Nos Estados Unidos chegou-se a dizer que iriam ‘acabar’ com a Amazônia!
Ao mesmo tempo que o Estudo de Impacto Ambiental, assim como seu respectivo Relatório (EIA/Rima), representa um dos mais importantes instrumentos para a garantia da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, o licenciamento ambiental é, também, um dos maiores problemas que os empreendedores enfrentam no País. Com previsões de investimentos bilionários (repito, bilionários), para os próximos anos no setor energético brasileiro, a possibilidade de projetos desse porte serem embargados e de empresas sofrerem pesadas sanções pecuniárias certamente é considerada pelos investidores. Isso se chama passivo ambiental, e é colocado na conta a ser paga em cada empreendimento. É necessário que haja uma conscientização institucional, dirigida aos órgãos ambientais, ao Ministério Público (Federal e Estadual) e, principalmente, ao Poder Judiciário, para evitar que desencontrados e injustificados atos ou decisões abalem a imagem de crescimento do País no cenário internacional. Veja bem, é bom que fique claro: é lógico que se faz necessária uma due diligence ambiental, a fim de verificar quais os riscos e impedimentos que são frequentes na instalação, operação e funcionamento (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação – LP, LI e LO) de qualquer empreendimento privado no setor energético. Esse acompanhamento especializado, a orientação e o apoio técnico devem estar presentes, a fim de responder aos anseios não somente dos órgãos de defesa do meio ambiente, mas da segurança jurídica do empreendedor. Todavia, a ‘briga de liminares’ em torno de empreendimentos de sabida importância para o
País não pode paralisar nosso crescimento. No meio disso, o governo federal ainda marca (porque precisa), para o dia 21 de dezembro, a realização do leilão da usina de Belo Monte, no Rio Xingu! O acervo legislativo ambiental é complexo e busca conciliar desenvolvimento x sustentabilidade, para que não ocorra agressão à natureza. O que não pode ocorrer é o embargo de obras, já licenciadas por um órgão ambiental, em razão de medidas judiciais de última hora. Isso gera uma crise de incerteza e de insegurança não só no mercado, mas nos gestores ambientais, e faz com que qualquer recomendação do Ministério Público, por exemplo, seja motivo para a imediata paralisação de qualquer atividade, suspensão de obras ou não emissão de licenças, com receio de responsabilização criminal por omissão ou conivência (basta mencionar os processos movidos contra o presidente do Ibama, os chefes de licenciamento, diretores do órgão; enfim, quem concede licença ambiental está sujeito à voracidade de um processo criminal). Portanto, no momento em que a economia nacional está em franco crescimento, e a alcunha de ‘país desenvolvido’ já se avista no horizonte, é chegada a hora de as instituições de defesa ambiental pensarem se o que estamos fazendo é realmente ambientalismo... ou possível ambientalice! Terence Trennepohl Sócio de Martorelli e Gouveia Advogados Senior Fellow na Universidade de Harvard Doutor e Mestre em Direito (UFPE) E-mail: tdt@martorelli.com.br
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invadem mercado
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uem serão os novos idosos que ocuparão uma vaga nos vestibulares de 2020 para mudar as perspectivas de suas vidas? Que tendências de consumo apresentarão os adultos de hoje, dentro de 20 anos? Como os novos idosos decidirão seus votos, seu restaurante preferido? Que alternativas encontrarão para o caos que eles próprios ajudaram a criar? Estamos preparados para estes novos idosos que invadirão as praias com seus laptops, celulares multifuncionais enquanto acertam os detalhes de seu intercâmbio com uma família da Austrália? Difícil prever todos os detalhes dos novos idosos, mas há estudos que tentam traçar o perfil de comportamento destes grupos geracionais. Nos últimos 60 anos surgiram quatro gerações distintas e que marcaram época: a geração “tradicional” (pessoas nascidas até 1945), os “baby-boomers” (nascidos entre 1946 e 1964), a “Geração X” (nascidos entre 1965 e 1977) e a “Geração Y“ (aqueles que nasceram depois de 1978). Esta classificação é apresentada pelo consultor Bruce Tulgan, que foca suas pesquisas nas tendências dos jovens que ingressam no mercado de trabalho e
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autor do livro “Not Everyone Gets A Trophy: How to Manage Generation Y”(1). Enquanto Tulgan estuda jovens e suas tendências, gerontólogos(2) de todo o mundo tentam prever como serão estas gerações enquanto idosos, numa forma de prever e antecipar quais serão suas necessidades, dificuldades e perspectivas de vida. Interessante observar que os idosos quase centenários nascidos sob a designação de geração tradicional, enfrentaram ou viveram sob os efeitos de uma Grande Guerra, passaram pela Grande Depressão e precisaram reconstruir o mundo para sobreviver. A maioria não estudou muito. Os jovens da década de 30/40 são hoje nossos idosos práticos, dedicados às tarefas, que gostam de hierarquias rígidas por apresentar-lhes segurança. A maioria deles dedicou-se por anos consecutivos a um só empregador/empresa e a maioria sacrificou seu prazer pessoal para alcançar metas e objetivos. Por isso mesmo não gostam muito de contato físico, de emoções salientes, pois para sobreviver ocultaram o que sentiam. Aqueles que nasceram entre 1946 e 1964 são tidos por Tulgan como a geração babyboomers, filhos do pós-guerra que romperam
(ou tentaram) padrões sociais e lutaram pela paz. Estes envelhecentes, hoje com 60/70 anos de idade não conheceram o mundo destruído e, mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na valorização da educação dos filhos. O consultor os descreve (ou nos descreve) como tendo relações de amor e ódio com os superiores e que preferem agir em consenso com os outros. Deste modo hierarquias sempre se apresentam como conflituosas e nos grupos sociais desta faixa etária há sempre busca por consenso e luta pela “hierarquia democrática”, coisa bem rara, convenhamos. E o que dizer daqueles que nasceram entre 1965 e 1977? Eles integram a Geração X, que hoje tem entre 40/50 anos de idade que pensa em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. As novas tecnologias de comunicação favorecem para que estes adultos possuam equilíbrio entre o trabalho e a realização pessoal. Entretanto, enfrentam crises violentas, como a onda de desemprego na década de 80 e mostram-se céticos com o futuro, o que lhes faz pais e mães super-protetores. Já aqueles que nasceram depois de 1978 e que estará idosa nas décadas de 2040 e 2050
Rosane Magaly Martins
são pessoas que foram valorizados em seu desenolvimento e tem ao seu favor os avanços da informática (internet, computador, celular) educação sofisticada e bilíngüe. Estas pessoas ganharam a auto-estima mas não se sujeitam a atividades que não fazem sentido a longo prazo. Sabem trabalhar em rede apesar de serem altamente individualistas e focalizados nas próprias recompensas. São mais preocupados com o meio ambiente e com os direitos humanos e apresentam valores morais muito fortes, coisa que seus pais não souberam definir, encobertos sob a fumaça da marijuana e no som do rock paz e amor de woodstock. Somos iguais ou diferentes uns dos outros? O envelhecimento demográfico nos impõe estudos aprofundados das conseqüências psicossociais desta nova realidade, onde deve haver uma reflexão acerca desta nova fase da vida (dos 70 aos 100 anos). Até pouco tempo a humanidade não conhecia o envelhecimento pois a maioria das pessoas morria antes dos 60 anos de idade. Agora é comum termos notícia de novos centenários que passam suas
receitas individuais de como conseguiram comemorar um século de vida com saúde regular e memória ainda perfeita. Estudos na área da psicologia gerontológica apontam para o envelhecimento na perspectiva do ciclo vital (life span perspective), defendida pela doutora brasileira Anita Liberalesso Néri. Ela defende que a vida dos indivíduos é um contínuo que apresenta constantes mudanças (perdas e ganhos permanentes) que implica no reconhecimento de que somos indivíduos cambiantes em contextos cada vez mais cambiantes. A Gerontologia não possui respostas definitivas, mas sim perguntas constantes para reflexão e construção destes novos paradigmas. Entre algumas das questões estão: 1. O envelhecimento influi em nossa forma de comportamento? 2. Nosso comportamento influi em nossa forma de envelhecer? 3. As expectativas sociais, a época e o ambiente onde vivemos influenciam nossa forma de viver e envelhecer? 4. Mudamos nossa forma de ser e de nos comportar a medida que envelhecemos? 5. Quanto mais vivemos mais nos parecemos conosco mesmos? Ou nos parecemos mais com outras pessoas de nossa mesma idade? Estas foram algumas das questões debatidas durante o 1º Curso de Formação de Docentes em Gerontologia da América Latina, realizado em maio deste ano na cidade de Manizales/ Colômbia, promovido pela OPS- Organização Panamericada de Saúde e IAGG- International Association of Gerontology and Geriatrics. Estivemos reunidos com grandes nomes da Gerontologia Mundial numa forma de buscar respostas e alternativas para as inúmeras questões que envolvem esta nova realidade que se chama: envelhecimento humano. Alguns desafios foram propostos diante de uma velhice mais longa que apresenta desafios e problemas distintos. Iremos dividir a velhice em fases? Cremos que não, pois as pessoas são muito heterogêneas e o curso de vida de cada um é extremamente fragmentado e diferenciado um do outro.
Por isto é que os paradigmas mecanicista (defendidos por Skinner e Watson), organicista (Piaget, Freud, Erickson) e dialético (Vigotsky, Piaget) estão alguns superados e alguns integrados na construção do paradigma contextualista (defendido por Neugarten) que entende que ambiente e indivíduo são mutuamente influentes e que nos desenvolvemos como humanos ao longo de nossas vidas, sem um mecanicismo reativo nem divididos em fases e faixas etárias. Poderemos utilizar os conceitos de geração apresentados por Bruce Tulgan apenas como um referencial de tendência, mas jamais isolarmos grupos humanos como se fossemos todos resultados de uma experiência bizarra laboratorial de estímulos e reflexos. As gerações de sucedem e há interação constante sócio-cultural e genético-biológica. Os eventos de vida influenciam nossa forma de viver e envelhecer, conforme nossa vulnerabilidade e riscos a que somos expostos, com ganhos e perdas concorrentes. Portanto, enquanto cientistas se debatem em busca de respostas, temos um conselho para você: envelheça, pois “vivir es envejecer” (Nathan Shock) (1) Síntese
do livro e das teorias, na edição n. 219 da Revista Galileu de 01/10/09. (2) Gerontologia é um campo de estudos interdisciplinar que investiga os fenômenos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais relacionados com o envelhecimento do ser humano. A gerontologia difere da geriatria na medida em que esta última é o ramo da medicina (especialidade) associado ao estudo, prevenção e tratamento das doenças e da incapacidade em idades avançadas.
Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/ México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fundadora e presidente da ONG Instituto AME SUAS RUGAS. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas” lançados no Brasil e em Portugal. E-mail: advogada@rosanemartins.com Site: www.rosanemartins.com Neo Mondo - Novembro 2009
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Economia
Sociedade tem de assumir
soluções Livro de Lester Brown, recém-lançado no Brasil, soa como alerta geral Elizabeth Lorenzotti
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s dados apresentados pelo eco-economista norte-americano Lester Brown, do Earth Policy Institute, um dos mais notáveis pensadores mundiais da sustentabilidade, são impressionantes. Em seu livro Plano B 4.0 Mobilização para salvar a Civilização, lançado em São Paulo em outubro, o autor convida a sociedade a tomar parte no processo de construção da economia de baixo carbono e aponta caminhos e recursos já disponíveis para governos, organizações e indivíduos. Um plano ambicioso, para alguns impossível, ele reconhece. Mas não é. “O Plano B oferece uma visão de como pode ser o futuro, um mapa de como ir daqui até lá e um cronograma para cumprir o percurso. Não se baseia no pensamento convencional, até porque foi ele que nos colocou no meio dessa confusão. Pelo contrário, adota um jeito diferente de pensar, uma nova mentalidade, para nos tirar da presente situação”, esclarece. Segundo Brown, no concorrido evento de lançamento, “a pergunta não é quanto vai custar se fizermos isso e aquilo pela mudança climática. A pergunta é: quanto custará se não fizermos nada? O planeta continuará existindo, mas a civilização, não sabemos”.
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A reestruturação econômica dos Estados Unidos após a guerra foi feita em meses. Podemos reestruturar a economia mundial mais rápido do que imaginamos, afirma. “Salvar a civilização não é um esporte de espectadores, cada um tem sua parte” (ler “Para implementar o Plano B”). Um mundo que gasta US$ 1 trilhão por ano está simplesmente fora de sincronismo com a realidade ao não responder às ameaças mais sérias ao nosso futuro. Perto disso, o orçamento do Plano B, de US$ 187 bilhões por ano, será um gasto razoável para salvar a civilização. Uma proposta principal do Plano B é taxar menos o trabalho e mais as emissões de carbono, via imposto de renda, e para isso é necessária a participação política de cada cidadão, pressionando seus representantes. “Os acordos internacionais talvez sejam obsoletos em pouco tempo’’, diz Brown. “Como alcançar as crianças em diferentes culturas? Não temos tempo de educar uma geração, sugiro que se eduquem vereadores, deputados.” Única alternativa No Plano B, Brown propõe a estabilização do clima e da população, a erradicação da pobreza e a restauração dos suportes naturais da natureza. “Trata-se de um plano ambicioso, mas é também a nossa única alternativa. Estamos nos aproximando da Conferência de Copenhague, que focará em apenas um desses problemas: as mudanças climáticas. Ao publicar esse livro, pretendemos alcançar uma mobilização global, algo em que o mundo todo se envolva, não um país ou um grupo de países”. O livro é uma coedição de Ideia Sustentável e idealização da New Content, com o apoio do Bradesco, e foi lançado quase simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos. Graças ao modelo adotado de edição patrocinada, será possível produzir uma tiragem impressa para doação a bibliotecas, escolas, universidades e ONGs; os conteúdos estão disponibilizados para download gratuito (ler “Para implementar o Plano B”). Os pontos principais do Plano são os seguintes, segundo Brown: • Visão de futuro O Plano B estrutura-se a partir da urgência de impedir o aumento das concentrações atmosféricas de CO2, reverter o declínio na segurança alimentar e encurtar a lista de estados
Brown citou as Olimpíadas de 2016 no Rio como uma oportunidade de se fazer pesquisas para limpar o ar, fechar fábricas e reduzir o uso de automóveis apenas no período
falidos ou em falência. Ao estabelecer o objetivo de cortar em 80% a emissão de carbono até 2020, não perguntamos que tipo de corte seria politicamente viável. Em vez disso, perguntamos quanto e quão rápido temos de reduzir as emissões de carbono se quisermos ter uma chance decente de salvar a camada de gelo da Groenlândia e evitar uma elevação do nível do mar politicamente desestabilizadora. Com quanta rapidez temos de cortar carbono se desejarmos salvar pelo menos as maiores geleiras do Himalaia e do Platô Tibetano, cujo gelo derretido irriga as plantações de trigo e arroz na China e na Índia? No plano da energia, nosso objetivo é fechar todas as termelétricas a carvão até 2020, substituindo-as amplamente por fazendas eólicas. Na economia do Plano B, o sistema de transporte será eletrificado com base em uma ampla mudança para os carros híbridos, carros elétricos e vias férreas de alta velo-
cidade. Já as cidades serão projetadas para pessoas, não para automóveis. • A verdade ambiental O mercado faz várias coisas bem, mas uma das coisas que não faz é incorporar impactos indiretos da queima de combustíveis fósseis. Por exemplo, ele não inclui o custo da mudança climática no preço da energia gerada pelo petróleo ou no preço da gasolina. Assim os preços seriam muito mais altos do que são e seriam preços honestos, os verdadeiros. Quando compramos um galão de gasolina nos EUA, pagamos pela extração do petróleo, o transporte desse petróleo para uma refinaria, a produção da gasolina e, então, o transporte da gasolina para uma estação servil. Nós não pagamos o custo da mudança climática. Se reestruturarmos os impostos, abaixando o imposto de renda e aumentando a taxação de atividades ambientalNeo Mondo - Novembro- 2009
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Economia
“
Planeta permanecerá, não a civilização... temos de educar legisladores; e que cada um faça a sua parte
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mente destrutivas, podemos levar o mercado a dizer a verdade ambiental. Ao fazermos isso, a economia energética começará – muito rapidamente – a reestruturar-se e responder aos sinais de preço do mercado. Essa é a medida mais importante que podemos tomar para nos mover em direção a uma economia de baixa emissão de carbono. Enquanto isso, precisamos subsidiar o desenvolvimento das fontes renováveis de energia – eólica, solar e geotérmica – com impostos atraentes. • Acordo climático global Acordos climáticos, negociados internacionalmente, não dão certo. A razão para isso é simples: nenhum governo concorda em fazer mais do que os outros países se dispõem a fazer, e o resultado disso é um acordo com padrões mínimos. O próprio Protocolo de Kyoto é um exemplo. Deveríamos ter-nos afastado dele com algumas metas de cortes de emissões dramáticas, mas não o fizemos. Concordamos que os países industrializados cortassem as emissões em torno de 7%, e o fato é que a maioria deles não está nem perto de conseguir isso e, portanto, não alcançarão a meta. Acredito que não temos tempo para continuar negociando novos acordos climáticos para reduzir as emissões de carbono. Por isso, temos de pensar em uma maneira de diminuir drasticamente as emissões de carbono, como apontamos no Plano B: 3.0. Se quisermos ter uma chance decente de salvar a civilização, teremos de cortar as emissões de carbono em algo em torno de 80% até 2020. Isso soa ousado, mas está começando a gerar uma mobilização como em tempos de guerra para reestruturar a economia energética dos EUA e mudar a matriz.
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Entre os 20 maiores países na lista de Estados em falência, quase todos vêm perdendo a corrida entre produção de comida e crescimento populacional. Cerca de metade depende de uma corda de salvamento do WFP (programa de ajuda alimentar da ONU)
Para implementar o Plano B Informe-se, leia a respeito dos problemas. O livro pode ser baixado da internet gratuitamente do website: www.bradesco.com.br/rsa <http://www. bradesco.com.br/rsa> Escolha um assunto de seu interesse, como reestruturação tributária, proibição de lâmpadas ineficientes, desativação de termelétricas a carvão, ou a luta por sistemas viários adequados para pedestres e ciclistas em sua comunidade. Ou ainda una-se a um grupo que esteja trabalhando para a estabilização da população mundial. O que poderá ser mais excitante e gratificante do que se envolver pessoalmente no esforço de salvar a civilização? Você pode preferir prosseguir por conta própria, mas poderá também organizar um grupo de pessoas com identidade de pensamento. Você poderá começar a conversar com as pessoas para escolher um tema ou temas que orientem seus trabalhos. Comunique-se com os políticos em quem você votou, na câmara municipal ou nas assembléias legislativas. Ao lado dos temas que tenha selecionado como objetivo, existem dois de extrema importância: a reestruturação tributária e as prioridades fiscais. Escreva ou mande e-mails para seus representantes acerca da necessidade de reestruturar os tributos, reduzindo-os sobre a renda e aumentando os impostos ambientais. E, acima de tudo, nunca subestime o que você pode fazer.
Mudanças climáticas ao longo do
Denise de La Corte Bacci
Tempo Geológico
A
Terra se constitui num planeta dinâmico, em constante transformação, no qual as diversas esferas se interrelacionam e trocam energia e matéria. A dinâmica terrestre se manifesta nessas esferas pelos processos geológicos, hídricos e atmosféricos que ocorrem desde a origem do planeta. Em tempos mais recentes, pode-se identificar a interferência do homem nos processos naturais, contribuindo para a alteração dos mesmos em grandeza e intensidade. O sistema climático é um dos sistemas que compõe o Sistema Terra e exerce grande interferência nos demais sistemas. As mudanças climáticas associadas ao aquecimento global vem se revelando numa das questões mais discutidas na atualidade, sendo atribuída à forma de desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. No entanto, para os geólogos e outros profissionais que estudam a variabilidade climática ao longo do tempo geológico, ou seja, desde a formação da Terra até os dias atuais, essas mudanças fazem parte da evolução natural do planeta no decorrer de centenas e milhares de anos. Segundo Dias (2006) o fato inusitado de nossos tempos é a velocidade com que as mudanças estão ocorrendo, sobrepondo-se à variabilidade climática corriqueira e causando efeitos visíveis, como a intensificação do eventos extremos como furacões, tornados, aridez. A Terra já passou por períodos sucessivos de aquecimento e resfriamento que podem ser comprovados nos registros geológicos e paleontológicos dos sedimentos do fundo oceânico, que nos oferecem informações dos últimos 170 milhões de anos. As rochas sedimentares no continente nos indicam ainda antigos desertos ou regiões cobertas por gelo, lagos e mares, mostrando que os ambientes terrestres se modificaram, não sendo iguais ao que observamos hoje. Oliveira et al (2009) nos fornece exemplos dessas variações, como na Era Mesozóica que foi caracterizada por um clima muito quente, onde viviam animais como dinossauros, crocodilos e tartarugas adaptados ao calor ao norte do círculo polar ártico. As temperaturas médias globais situ-
avam-se 8 o a 10o acima das atuais e havia altas concentrações de CO2 na atmosfera, o nível do mar estava 100 a 200 metros acima do atual e desertos ocupavam extensas áreas continentais. Em outro momento, na Era Cenozóica, há 35 milhões de anos, as temperaturas caíram bruscamente e o gelo cobriu parte da superfície terrestre. Desde então, o clima tem apresentado flutuações cíclicas, com tendência de decréscimo de temperatura, os quais são denominados ciclos glaciais e interglaciais. Nos últimos 2 ou 3 milhões de anos da história da Terra as geleiras avançaram e recuaram, gerando desaparecimento de alguns ecossistemas e promovendo adaptações de animais e plantas à temperaturas mais frias. No auge da Idade do Gelo o Atlântico Norte estava congelado desde a Groelândia e o Canadá até a Inglaterra. O término desse período ocorreu a 14.000 anos, durante o qual ocorreram períodos mais quentes e outros mais frios. Tais mudanças são responsáveis por alterações no sistema climático, como a distribuição das chuvas, pelas nevascas e pelo aumento ou diminuição da neve em escala global. No período recente (últimos 18 mil anos), a temperatura continuou variando, o clima esquentou vários graus, até atingir a média atual de 15 oC e o nível do mar subiu cerca de 120 metros, com aumento da concentração de CO2. Durante o século XX observamos um aumento da temperatura da Terra, de forma mais acentuada a partir de 1960. O nível do mar subiu cerca de 0,17 metros ao longo do século e as concentrações de CO2, medidas em 2005, excederam os valores registrados ao longo dos últimos 650 mil anos. Diante do histórico das variações climáticas, observa-se que existe um incremento dos valores dos gases do efeito estufa no sistema Terra, o que pode ser atribuído às ações humanas, segundo o IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (2007). Os conhecimentos sobre a variação do clima ao longo do tempo no Sistema Terra, no entanto, ficam no âmbito acadêmico,
não chegando ao público em geral, que praticamente desconhece a dinâmica do nosso planeta. O que se divulga sobre as mudanças climáticas fica restrito aos últimos dois séculos, dando grande ênfase à interferência humana e às consequências da alteração do clima nos diferentes sistemas terrestres. Pensar nas mudanças climáticas como um processo natural só é possível se considerarmos o tempo geológico, e pensar em milhões ou bilhões de anos é algo inconcebível na nossa imediatista sociedade moderna. A questão do tempo é central nessa discussão, pois o homem está alterando a velocidade dos processos naturais o que leva a modificações ainda desconhecidas dada a complexidade do sistema climático. Isso nos leva a refletir sobre o nosso papel e nosso futuro no planeta. Apesar das incertezas, o que fica é quanto nós estamos interferindo no sistema climático natural e quais são as reais conseqüências para todas as formas de vida do planeta? Os resultados das mudanças climáticas que podemos esperar são: o desaparecimento de algumas espécies, a adaptação e o desenvolvimento de outras, o que sempre aconteceu na evolução da Terra, mas tudo a seu devido tempo, naturalmente. Sendo assim, não é o planeta que está ameaçado pelas mudanças climáticas, mas sim a nossa própria espécie. Para conhecer mais sugerimos a seguinte leitura: OLIVEIRA, S.M.B. Base científica para a compreensão do aquecimento global. In: José Eli da Veiga. (Org.). Aquecimento global: frias contendas científicas. São Paulo: Editora
Denise de La Corte Bacci Graduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP. E-mail: bacci@igc.usp.br
Especial - COP15
Governo fixa metas para
CopenhaGUE Compromisso é resultado de uma série de reuniões interministeriais com a Presidência Gabriel Arcanjo Nogueira
O
governo federal definiu, numa sexta-feira 13, as metas que o País leva a Copenhague. Não se diga que as decisões não sejam fruto de amplo debate. Até acertar os ponteiros, houve uma série de reuniões interministeriais com o presidente da República, numa sequência cronológica que nos permite perceber como a agenda ambiental é levada a sério. O compromisso a que se chegou, até aquela data, era o mais ousado entre os anunciados por países em desenvolvimento. De acordo com a Agência Brasil de Notícias, o que se pretende é reduzir as emissões de gases do efeito estufa de 36,1% a 38,9% sobre o que o País emitiria até 2020. Os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, ao anunciar a agenda oficial para a 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU), destacaram que o compromisso assumido pelo Brasil é voluntário. O governo acredita que o alcance dessa redução pode ficar entre 975 e 1.061 milhões de toneladas de gás carbônico no período. Objetivo que será alcançado com a redução do desmatamento da Amazônia em 80% e do cerrado em 40%, até 2020, além de medidas setoriais em agricultura, energia e siderurgia. Dilma sempre deixou claro que o crescimento econômico não vai prejudicar os
Antônio Cruz/ABr
Dilma, que estará à frente da delegação brasileira, e presidente Lula, numa das reuniões: “que Copenhague tenha ganhos, os ricos cumpram suas metas, e os emergentes assumam compromissos”
compromissos de redução de emissão de gases poluentes. “Estamos fazendo tudo para assegurar que uma coisa não comprometa a outra”, é um seus argumentos-chave. Outro é que o Brasil tem uma posição muito clara e que será exemplo para o mundo. “Queremos que Copenhague tenha ganhos, que os ricos cumpram as suas metas e que os em desenvolvimento proponham seus objetivos voluntários.” Para a ministra, o maior vilão das emissões de gás carbônico são os combustíveis de energia fóssil e que o Brasil não tem esse problema, uma vez que trabalha com energias de matriz renováveis. Força dos emergentes O governo, ao mesmo tempo, fez um esforço para envolver outros países emergentes a assumir compromissor mais avançados, o que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a encontrar-se com o francês Nicolas Sarkozy. “Ninguém quer o impossível, mas apenas o razoável: que deixemos para o futuro um mundo pelo menos igual ao que recebemos”, disse Lula em Paris. Segundo a Agência Brasil, Sarkozy afirmou que vai enviar ministros à África, parte da Ásia e à América do Sul para convencer o maior número possível de países a se alinhar ao Brasil na definição de metas ambientais, para que a Conferência de Copenhague chegue a uma declaração de princípios. França e Brasil pretendem pro-
por a criação de uma Organização Mundial para o Meio Ambiente, como parte de uma reforma ampla da ONU. Lula aproveitou para cobrar a responsabilidade dos Estados Unidos e da China, para que não ajam os dois isoladamente, sem se importar com o impacto das mudanças climáticas no planeta. “Estamos vendo uma tentativa de se criar um G2 do clima”, adiantou o presidente brasileiro. Lição de casa Outra pretensão do governo Lula, revelada pelo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, é discutir pontos em comum com representantes dos governos de países sul-americanos, entre eles Venezuela, Peru, Equador e Colômbia, que serão levados a Copenhague. “O fundamental é que o Brasil chegue bem a Copenhague, pois registrou a menor taxa de desmatamento na Amazônia dos últimos 21 anos, graças ao empenho que está sendo dedicado a essa área”, disse Padilha. O ministro revelou que há a proposta de se criar um fundo brasileiro destinado a custear os investimentos necessários para que o país possa enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Pacote agrícola Até o fechamento desta edição, faltava saber detalhes de um pacote ambiental para a agricultura que o governo prepara e
que daria aos proprietários rurais de áreas desmatadas ilegalmente até 22 anos de prazo (até 2031) para recompor a vegetação. Já a partir de 11 de dezembro todos os proprietários terão três anos para comparecer a algum órgão ambiental nos estados para registrar a área de preservação do imóvel - 80% na Amazônia e 20% nos outros biomas. Caso tenham sido notificados, eles deverão fazer a regularização em 6 meses. As informações foram antecipadas, no início de novembro, pelo ministro do Meio Ambiente. Também farão parte do pacote a legalização de todos os plantios tradicionais em morros e encostas, como café, mate, maçã, pera e uva, e a possibilidade de que imóveis de até 150 hectares possam usar as áreas de proteção permanente (APPs), como rios, para compor a reserva legal. “Desse modo estamos resolvendo a situação de 95% das propriedades rurais”, disse Minc, que se mostrava otimista, segundo a Agência Brasil: “Acabou a guerra. Estou otimista de que vamos chegar a um bom entendimento”. O pacote ambiental estaria acertado entre Meio Ambiente, Casa Civil e Ministério do Desenvolvimento Agrário, faltando a adesão do Ministério da Agricultura, que pretende aumentar o tamanho da propriedade candidatas a usar as APPs na composição da reserva legal para até 800 hectares.
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Especial - COP15 Foto: ABr
Como foi acertar os ponteiros Em novembro, a agenda ambiental do País foi movimentada e até certo ponto agitada, em vista do apagão do dia 10. Em meio a raios e trovões, o governo conseguiu acertar os ponteiros para a hora do clima em Copenhague, como mostra a cronologia dos fatos. Na reunião interministerial do dia 3 de novembro, o governo acena com propostas segmentadas (ver quadro Aço verde + moratória da soja). Casos dos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, três dos participantes do encontro com o presidente da República para definir a agenda brasileira para Copenhague. De acordo com a Agência Brasil de Notícias, além da única proposta consensual - de redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020 -, ficou acertada nova reunião para o dia 14, em que ministros e demais representantes de ministérios e da delegação brasileira à COP 15 procurarão acertar os ponteiros para quando chegar a hora de Copenhague. Um dos pretextos oficiais é ganhar mais tempo para detalhar as medidas, o que não impede o governo de revelar alguns cálculos. O principal deles: com a redução do desmatamento da Amazônia, o Brasil deixaria de emitir cerca de 580 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. ”É igual a todo o esforço americano, se a lei deles passar no Senado”, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O que seria suficiente para baixar os níveis de emissões nacionais em cerca de 20%, restando calcular qual será a redução possível em outros setores. Soma de esforços Dilma, que deve chefiar a delegação brasileira a Copenhague, antecipou: “Vamos tomar medidas nas áreas de ener-
O que o Brasil leva na bagagem
compromisso de reduzir entre 36,1% e 38,9% emissões de gases causadores do aquecimento global
meta de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% e do cerrado em 40%
prazo: até 2020
Aço verde + moratória da soja * Governo quer que em 8 anos as siderúrgicas passem a usar carvão vegetal de reflorestamento feito pelas próprias empresas. * O chamado aço verde, entre outras vantagens, traz diferencial de competitividade no exterior. * Acordo de incentivos visa estimular o setor a operar nesse modelo. * Produto se somaria à moratória da soja: assinada em 2007 e renovada duas vezes, faz com que empresas se comprometam a não comprar soja produzida em áreas desmatadas. Fonte: ABr
Fonte: ABr
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gia, agropecuária, siderurgia e desmatamento em outros biomas”. Numa soma de esforços que, segundo ela, pode “chegar a um número significativo. O Brasil está disposto ao maior esforço possível para que a reunião de Copenhague seja bem-sucedida”. Nada muito detalhista, porém: “Serão linhas gerais. Não Ministros Amorim, Minc e Dilma conseguem acertar os vamos apresentar os números, ponteiros para a hora do clima em Copenhague vamos apresentar as medidas. Até porque estamos fazendo nos US$ 400 bilhões por ano para que os de forma voluntária, porque achamos que países em desenvolvimento enfrentem as é importante que o Brasil preserve suas camudanças climáticas. Até agora, a única proracterísticas de país sustentável”. posta na mesa, da União Europeia, fala em Minc não descarta o número proposto recursos na ordem de US$ 140 bilhões. por sua pasta, de redução de 40% das emisNo dia 9 de novembro, depois de mais sões até 2020, considerando crescimento uma reunião iterministerial com o presideneconômico de 4% ao ano. “Nada está deste, Dilma falou no compromisso voluntário cartado nem definido”, disse, ao lembrar do Brasil em reduzir em cerca de 40% os que na reunião do início de novembro fogases do efeito estufa até 2020 e argumenram apresentadas opções considerando cetou: “Ao reduzirmos o desmatamento, já nários de crescimento da economia de 5% e conseguiremos reduzir 20% das emissões 6% ao ano, a pedido da ministra Dilma. de gases“. A ministra se referia à AmazôMinc adiantou que a contribuição da nia e à emissão de CO2, lembra a Agência agricultura será fundamental, com ações Brasil. Faltava, então, ao governo calcular de manejo, plantio direto e recuperação de qual seria a contribuição de setores como áreas degradadas. Para ele, “a agricultura agricultura, percuária e energia. Para a mibrasileira dará uma grande contribuição”. nistra, esse compromisso voluntário ainda não estava definido porque o governo não Entrave financeiro pode ser adepto do “achismo”. “Só vamos asAinda de acordo com a ABr, parte das sumir o que é possível. Falta fazer avaliações ações de mitigação do governo brasileiro deconsistentes porque temos de provar o que pende de recursos internacionais (alguns pode ser feito e ter políticas para fazê-lo. Não setores menos, como a agricultura, e outros temos metas a cumprir; temos compromismais, como o combate ao desmatamento da sos voluntários”, afirmou. E afirmou que o Amazônia) porque é no financiamento que anúncio da agenda para Copenhague seria reside um dos pontos que travam a negociafeito no dia 14 de novembro. Sem medo de ção do novo acordo climático global. intempéries e contratempos de ordem natuPara o ministro Amorim, o Banco Munral ou sobrenatural, a definição de metas e dial estima que sejam necessários pelo mecompromissos saiu numa sexta-feira 13.
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COP15:
a discussão internacional sobre as e a gove
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stá chegando ao fim a contagem regressiva para a COP 15, que será realizada em Copenhague e contará com a participação de representantes de vários países. O próprio site oficial da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima marca os dias, horas, minutos e segundos que faltam para o início da conferência, confirmando a grande expectativa em torno do evento. De fato, têm sido presença constante na mídia as notícias relacionadas com a conferência e com as propostas que serão apresentadas pelos países para reduzir as suas emissões de gases do efeito estufa (GEE). Essa cobertura incessante tem a vantagem de facilitar o entendimento das discussões políticas e fazer com que a sociedade participe mais ativamente do debate, cobrando uma postura de liderança do governo. 48
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Esse aumento da participação da sociedade nas decisões políticas, seja através de ONGs seja por meio do empresariado nacional, caracteriza o que se chama de ‘governança ambiental’. Governança ambiental, de forma simplificada, é uma maior participação de outros atores, além das instituições do governo, nos processos decisórios. As discussões sobre o novo acordo climático que deverá substituir o Protocolo de Quioto têm deixado o fenômeno da governança ambiental bem visível. Não são apenas os Ministérios do Meio Ambiente (MMA), das Relações Exteriores (MRE) e da Ciência e Tecnologia (MCT), que estão discutindo as questões climáticas no País. É possível encontrar ONGs, indivíduos e empresários, não apenas no Brasil, mas no mundo todo, preocupados com esse tema e apresentando propostas para os seus governantes.
No Brasil, a iniciativa privada está participando do debate sobre as emissões de gases do efeito estufa (GEE), principalmente quando o assunto é Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e créditos de carbono. Iniciativas, como ‘Empresas pelo Clima’, pretendem integrar o setor econômico (leia-se empresários) às discussões para a criação de uma economia de baixo carbono. Outro exemplo é a criação da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono (Abemc), que visa promover e desenvolver o mercado de carbono por aqui. Mercado que, de acordo com o último relatório do Banco Mundial, movimentou 126 bilhões de dólares em 2008, dos quais 6,5 bilhões vieram do comércio de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) de projetos de MDL. Diversas empresas e bancos já estão inventariando as suas emissões de GEE. A justificativa é simples: para poder adotar medidas
Natascha Trennepohl
Correspondente especial de Berlim – Alemanha
mudanças climáticas rnança ambiental no de redução e gestão, primeiro é necessário saber quanto se emite e em que áreas do negócio essa emissão acontece. Mediante um inventário de emissões é possível identificar oportunidades para o desenvolvimento de projetos de MDL e, com isso, comercializar créditos no mercado de carbono. Quanto às ONGs brasileiras que estão envolvidas nas discussões sobre política climática, podem ser mencionados os trabalhos do Observatório do Clima, Vitae Civilis e do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS). A participação dessas ONGs não se resume a campanhas educativas e nem lembra os atos extremos realizados por alguns ativistas que aparecem na mídia e chamam a atenção imediata para problemas como a caça das baleias, focas etc. No quesito políticas climáticas, essas ONGs vêm tentando facilitar o diálogo entre
Brasil
o governo e a sociedade civil com a organização de diversos eventos. Em setembro de 2009, um seminário discutiu ‘As negociações internacionais de mudanças de clima e o Brasil’, com a participação da sociedade civil e de representantes dos governos da Suécia, Dinamarca, Suíça, Estados Unidos e Brasil. Além de campanhas de conscientização e eventos para discutir os problemas e as oportunidades relacionadas às mudanças climáticas, o Observatório do Clima apresentou sugestões para o aprimoramento do Projeto de Lei que regula a Política Nacional de Mudanças Climáticas no Brasil. No final de 2008, a organização enviou ao Congresso Nacional o documento ‘Contribuições da sociedade civil ao Processo Legislativo de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas’ com sugestões que foram coletadas em eventos nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Algumas sugestões
foram acolhidas. O próprio Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas, apresentado pelo governo na COP 14, esteve disponível para consulta pública e sugestões. Na COP 15, vai ser possível perceber uma parte da governança ambiental mundial em ação. Diversas organizações vão estar presentes, pressionando os representantes dos países e exigindo dos governantes uma postura enérgica e arrojada em relação ao acordo climático que deve ser assinado. Um exemplo claro de que a sociedade não apenas elege os seus governantes, mas também precisa acompanhar o que eles estão fazendo. Natascha Trennepohl Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim. E-mail: natdt@hotmail.com Neo Mondo - Novembro 2009
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De vilão a SALVAÇÃO Lideranças empresariais, do Terceiro Setor e acadêmica discutem caminhos da sustentabilidade de olho em Copenhague Gabriel Arcanjo Nogueira
As florestas de eucalipto da Suzano, como esta no Sul da Bahia, fazem parte da performance ambiental da empresa; plantio de 230 mil árvores/dia
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lternativas de matriz energética, pesquisas e tecnologia, exploração do pré-sal, além de geração de empregos, predominaram entre os assuntos debatidos nos dois painéis do Fórum Exame de Sustentabilidade. A um mês da 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU), o auditório do Hotel Unique, em São Paulo, esteve lotado, na parte da manhã da quarta-feira, 11 de novembro, para ouvir recados como este: “País deve passar de vilão a solução” de problemas ambientais, como o desmatamento, o descaso com os recursos hídricos e saneamento. Quem preconiza é Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), um dos
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debatedores do painel Oportunidades de Negócio para o Brasil Sustentável. No caso específico do desmatamento, Jank é direto: “Precisa de vergonha na cara e cumprir a lei. Cerca de 80% do desmatamento é ilegal, cometido por grileiros e posseiros. Se conseguíssemos coibir essa prática, reduziríamos nossas emissões pela metade”. Foi um dos mais aplaudidos, pela objetividade, alicerçada na intimidade com o tema, como assíduo participante das conferências do clima. A seu lado, Marcos Bicudo, presidente da Philips e chairman do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebeds), lançou sua “provocação cidadã e empresarial”, ao elencar o que
considera urgente-urgentíssimo: resolver os dilemas nacionais, que se arrastam indefinidamente, apesar das boas intenções da Eco-Rio 92. “Temos de priorizar as primeiras coisas”, para alcançar a sustentabilidade que interessa - a social. Bicudo aponta três desses dilemas, que são desafios que dizem respeito a todo brasileiro: cuidar da água (num país que possui 10% do reservatório do planeta); encontrar soluções para a mudanças climáticas; e combater a pobreza (expressa, entre outros números, no déficit habitacional de 8 milhões de moradias, nos 18 milhões de pessoas sem banheiro). Depois de citar esses dados, diagnosticou: “Nosso saneamento básico é vergonhoso”.
Ricardo Telles
Especial - COP15
Claudio Rossi Claudio Rossi
Maciel Neto, da Suzano: performance financeira, social e ambiental compõe a sustentabilidade
Vaz, da Natura, apela à responsabilidade individual: não se acha um país nas ruas, mas pessoas
Sem direito a omissão Marcos Vaz, diretor de Sustentabilidade da Natura, no mesmo painel do Fórum Exame, lembrou que não é suficiente apenas corporações, governos, ONGs fazerem a parte que lhes cabe. Não será a um simples passe de mágica que o Brasil vai mudar pós-Copenhague. O papel de liderança que o País pode assumir entre os emergentes, e quem sabe até entre as nações mais desenvolvidas, só será possível a partir da “responsabilidade individual”. Citando a China, em que alguns indivíduos acordaram e deram a sua contribuição socioambiental, Vaz se dirigiu à plateia: “Representamos ínfima minoria no País”, e cada um dos presentes pode contribuir para aumentar o nível de consciência nacional. Ao comparar que não se anda pelas ruas e se vê o Brasil como um transeuente, mas pessoas, apelou: “Não podemos assumir o direito à omissão”. O que a Natura faz é transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócios. Para a empresa, voltada à linha de consumo de não-duráveis, “cosméticos estão a jusante e a montante” de sua atuação no mercado. “Eliminamos desperdícios com otimização de resultados financeiros, pouco uso de energia e alternativas tecnoló-
Claudio Rossi
poração vê nesses dois pilares as “ferramentas para aproveitar a economia verde”. E cita o exemplo das boas vendas do sulfite Report® Carbono Zero como “importante vantagem competitiva”, assim como a comercialização de créditos de carbono, a certificação florestal e incentivos a práticas sustentáveis na cadeia de fornecedores. Maciel Neto entende que “sustentabilidade é a capacidade de replicar ciclos de sucesso e crescimento da empresa com performance financeira, social e ambiental”. A dignidade do ser humano e a preservação do meio ambiente, para o presidente da Suzano, é “equilíbrio fundamental para competir no mercado global”. O empresário destacou, entre as realizações da companhia, os investimentos em plantio que representam 230 mil árvores por dia, fazendo as suas reservas saltarem de 45 mil a 55 mil hectares de madeira ecológica produzida.
Jank, da Unica: economia de baixo carbono é real, falta valorizar o etanol como energia limpa e segura
Claudio Rossi
Economia verde Quem também marcou presença nos debates desse painel foi Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, ao sugerir que o Brasil jogue no ataque em Copenhague, com metas ambientais ousadas e mecanismos de monitoramento eficazes para cumpri-las. Para o empresário, produtos “made in Brazil” não podem prescindir da marca da sustentabilidade, e a Suzano caminha para isso. Pela sexta vez consecutiva, ela é uma das 20 empresas-modelo, eleita pelo Guia Exame de Sustentabilidade. Para a Suzano, ser referência em práticas socioambientais é uma constante em sua trajetória de 85 anos, nas dimensões social, ambiental e econômica, com forte atuação em iniciativas em relação a mudanças climáticas, biodiversidade, conservação e uso sustentável de recursos naturais. A empresa credita boa parte do reconhecimento de seu papel à sua estratégia de longo prazo em sustentabilidade, que vai desde a criação de produtos à venda de créditos de carbono. A cor-
Bicudo, da Philips: não há sustentabilidade sem resolver os dilemas nacionais que se arrastam indefinidamente
gicas viáveis. Somos 1 milhão de consultoras conscientizadas e identificadas com a causa ambiental”, garante Vaz. Sem falar que o componente ecológico está presente no fato de a empresa não se utilizar de animais em experiências de laboratório; e nas embalagens e mensagens que elas trazem ao consumidor, que se beneficia com produtos em que a matriz de ciência e tecnologia é uma constante. Vaz disse ainda que ele próprio é exemplo da geração de oportunidades no mercado de trabalho com a sustentabilidade (ver quadro Oportunidades de emprego verde). Oportunidades de emprego verde
• pesquisadores para soluções inovadoras
• serviços de conservação e extrativismo
• biotecnólogos • operadores de equipamentos Fontes: Natura, Suzano, Unica Neo Mondo - Novembro 2009
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Claudio Rossi
Especial - COP15
Claudio Rossi
Para Graziano, do Meio Ambiente paulista, pré-sal endeusado é algo que não se coaduna com o século XXI
Young, do Ethos, considera positivo a governança ganhar relevância na COP 15, mas não acredita em revoluções
Pressão sobre os ricos No painel Como Lidar com o Aquecimento Global e seus Impactos, Xico Graziano, secretário do Meio Ambiente de São Paulo, se mostrou descrente sobre a participação da delegação brasileira em Copenhague. A semana ambiental, de 8 a 13 de novembro, foi movimentada no País. Dois dias antes do Fórum Exame, o governo paulista anunciou um pacote, em que o governador José Serra sancionou lei que prevê redução em 20% das emissões de carbono no Estado até 2020. O que talvez tenha empolgado o secretário: “Em vez de fazer com que o Brasil assuma a posição de liderança, o governo federal não se sente obrigado a participar ativamente do processo só porque não pertence ao grupo de países desenvolvidos”. Ideias para um balanço positivo
• Inserir mais pessoas no processo • Reduzir impactos ambientais • Incentivar parcerias Fonte: Natura 52
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Brasil tem as condições para se tornar líder em energias renováveis e produtos verdes; não pode perder mais esta oportunidade
De acordo com a Assessoria de Imprensa do Fórum Exame, Graziano sugeriu: “Deveríamos estabelecer metas. Estamos perdendo uma ótima oportunidade de mobilizar a opinião pública mundial e, assim, pressionar os países ricos a adotar medidas ecológicas”. O press release informa que, para Graziano, o governo federal esvazia o debate sobre sustentabilidade ao dar alta prioridade ao petróleo do pré-sal: “O pré-sal não pode ser endeusado, ele representa a matriz energética de um modelo econômico que não condiz com os paradigmas do século XXI. O importante é discutir o financiamento de pesquisas, tecnologias mais limpas e eficientes, utilizando os recursos obtidos com a extração no pré-sal”. Governança global O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, no mesmo painel, considerou simbólica a importância da Conferência do Clima em Copenhague: “Os países não vão realizar grandes revoluções por causa dela, mas trata-se da primeira vez em que a agenda da governança global prevalece sobre as discussões envolvendo a soberania de cada nação”. Young também ironizou o tratamento que o governo dá às descobertas das jazidas no pré-sal: “Lula parece alguém que ganhou um bilhete premiado e reúne a família para ver o que cabe a cada um na partilha do valor milionário”. O professor da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Viola, lembrou que a China deu a volta por cima em três anos. Apesar de ser o império do carbono e da poluição, desde 1985, acordou para a emissão de poluentes ameaçadora e, de 2006 para cá, se tornou grande competidor do desenvolvimento globalizado. Grã-Bretanha e a Coreia do Sul, reduziram de modo significativo a presença do carbono em suas atividades produtivas, acrescentou.
”
O Brasil, no entender do professor, tem todas as condições naturais de se tornar líder em energias renováveis e produtos verdes. “Estamos sentados em alernativas como a o etanol, a das hidrelétricas”, afirmou. Viola pede um debate profundo dos candidatos nas próximas eleições, para não cairmos mais uma vez no rol das oportunidades perdidas ou pouco aproveitadas. “Cavalo manso” Fernando Reinach, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, depois de lembrar das potencialidades que o País reúne - como os fatos de “a fotossíntese ser aqui”, contar com alumínio renovável, aço verde, carbono renovável, o próprio pré-sal -, ressalvou que não queria ser simplista porque os problemas estão aí. Mas o Brasil não pode deixar passar a oportunidade de estar à frente de novos tempos para a humanidade. “Temos de assumir a liderança, com ousadia. Complexo de inferioridade me deprime. O cavalo está selado, à nossa frente, e ele é manso”, comparou, para definir: “É preciso substituir o negativismo, para o País dar uma invertida”. O caso do pré-sal, nesse sentido, é esclarecedor. Para Fernando, trata-se de definir o como explorar as jazidas, com tecnologia adequada, limpa, até mesmo como possibilidade de diminuir a importância do carbono na geração de divisas. O otimismo do diretor-executivo da Votorantim foi compartilhado, com ressalvas, no outro painel por Jank, da Unica, ao referir-se à presença brasileira em Copenhague: “Já somos uma economia de baixo carbono. O Brasil está avançado na questão das metas e regulações ambientais, mas peca principalmente no que diz respeito à fiscalização no campo”, avaliou. Ele aproveitou para defender mais atenção ao valor que a cana-de-açúcar tem como matriz energética renovável. “Temos duas Itaipus adormecidas nos canaviais. Se usásse-
Claudio Rossi
www.villanatural.com.br
Alimentação saudável, saborosa e feita com arte
Fernando, da Votorantim, exorciza a depressão: “o cavalo está à nossa frente, selado, e é manso”
Claudio Rossi
mos a energia da cana, não passaríamos por problemas como o apagão de ontem”. Ele se referia à queda de energia em 18 estados. Na capital paulista, na manhã seguinte, ainda havia semáforos desligados, atrasando a chegada de muitas pessoas ao evento. Mais que falar apenas em causa própria, Jank considerou que a sustentabilidade socioeconômica tem de estar no DNA do brasileiro. Com o que concorda Bicudo, da Philips. Para ele, “DNA verde só vem com formação; quanto mais cedo, tanto melhor”. Era uma referência à parceria da Philips com o Instituto Dom Cabral, em que a educação passa necessariamente pelo aprendizado ecológico. Daí a chegar às corporações fica mais fácil: “Sustentabilidade tem de estar no planejamento estratégico das empresas”, receitou. O que, para Vaz, da Natura, é o mesmo que pedir às organizações que se oxigenem, se atualizem: “PIB é crescimento; não desenvolvimento. Crescer não é pecado, é meta de sucesso empresarial. Mas outros indicadores devem ser incorporados, numa discussão diária. Dilema é constante, e solução nem sempre está à vista”. Faltou dizer: com ou sem apagão.
Claudio Rossi
Debates aconteceram numa semana ambiental promissora e agitada: anúncios de medidas oficiais e apagão
Horário de Funcionamento Seg a Sex - 11:30 às 15:00h Sáb, Dom e Feriados - 12:00 às 15:30h
(11) 2896-0065 Viola, da UnB, pede aos candidatos nas próximas eleições que debatam a fundo o potencial das energias renováveis nacionais
Rua Cel. Ortiz, 726 V. Assunção - Santo André (Convênio com estacionamento)
Desafios x Ações de sustentabilidade
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saber crescer enfrentar concorrência consumo de papel (kg/ano) nos EUA = 300; Brasil = 40; Índia = 7 novas unidades no Piauí (15% do PIB estadual) e Maranhão geração de 10 mil empregos diretos e 30 mil indiretos
Fonte: Suzano Papel e Celulose
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Antes que seja
o senso de urgência na
A
publicidade nem sempre mostra o lado bom das coisas. Muitas vezes o objetivo da peça publicitária não é comunicar as maravilhas de um produto, mas sim a gravidade de um problema. Isso fica bem claro nos trabalhos de conscientização pública, como no caso das campanhas que alertam sobre o aquecimento global. Uma preocupação comum a todas as campanhas que tratam do aquecimento global é, sem dúvida, criar um senso de urgência. A mensagem transmitida é a de que todo mundo precisa agir, e rápido. Porque a inércia e a perpetuação das práticas atuais terão um custo muito alto. As consequências serão irreversíveis e catastróficas. Grande parte desse senso de urgência é baseada no medo das consequências.
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O anúncio de uma catástrofe ambiental iminente é algo perturbador e altamente motivador, ativando um dos nossos instintos mais básicos: o de sobrevivência. É por isso que a publicidade sempre lembra que não é apenas o planeta que está correndo perigo; nós também estamos. A força publicitária da COP 15 está diretamente ligada a esse senso de urgência. O evento em Copenhague está sendo visto como a grande oportunidade para reverter as mudanças climáticas. Algumas organizações mais radicais chegam a dizer que será a nossa última oportunidade. Para mostrar que o relógio está correndo e que não temos tempo a perder, uma aliança de várias organizações internacionais criou a campanha TicTacTicTac e o slogan “hora de agir pelo clima”. Com o objetivo de mobilizar a opinião públi-
ca e pressionar as lideranças, a iniciativa promoveu um abaixo-assinado simbólico para as autoridades. Nesse documento, a sociedade civil apresenta suas reivindicações e cobra medidas concretas para combater as causas das mudanças climáticas e amenizar os seus efeitos. Buscando a adesão da sociedade, algumas campanhas criaram dias específicos para manifestações públicas. Desde 2007, a WWF realiza no último sábado de março de cada ano a chamada “Hora do Planeta”. Nesse dia, em um período de 60 minutos, governos, empresas e a população de todo o mundo são convidados a apagar as luzes para demonstrar sua preocupação com o aquecimento global. O projeto “Hora do Planeta” também conseguiu uma grande participação da sociedade na Internet. Para explorar o fato
Rafael Pimentel Lopes
tarde demais:
a publicidade da COP15 de a COP 15 ser um momento de decisão política, a campanha criou a ideia de que o que vai acontecer em Copenhague é uma grande eleição em que os candidatos são o Aquecimento Global e o Planeta Terra. No site da campanha, existe uma urna onde você pode clicar e “votar” no Planeta. Para promover uma participação mais ativa da sociedade nas discussões que acontecerão na COP 15, muitas campanhas têm funcionado como pontes entre o público geral e os líderes que estarão em Copenhague. O Youtube e o Governo da Dinamarca, por exemplo, lançaram em parceria um canal na Internet para que o conteúdo criado pelos usuários seja levado para o evento. O canal é parte da campanha “Fale mais alto”, que promete fazer com que as reivindicações das pessoas sejam ouvidas pelos políticos.
A Organização das Nações Unidas também lançou uma campanha mundial para criar e apresentar uma petição da sociedade civil aos governantes. A campanha on-line “Sele o compromisso” tem reunido assinaturas de pessoas em vários países. O objetivo é pedir que os líderes cheguem a um acordo justo e equilibrado em Copenhague, garantindo o investimento em energia limpa e o desenvolvimento de uma economia global sustentável. Não faltam exemplos de campanhas publicitárias sobre os temas que serão discutidos em Copenhague. Se a COP 15 vai realmente definir estratégias eficientes e metas concretas para reverter as mudanças climáticas, ainda não sabemos. Mas podemos afirmar que o esforço publicitário tem mostrado bons resultados, en-
gajando a população na discussão. Hoje já existe o senso de urgência necessário para provocar mudanças ou, na pior das hipóteses, para gerar no futuro um grande sentimento de culpa na humanidade. Afinal, a publicidade tem feito a sua parte, mostrando também o lado ruim das coisas. Se o pior acontecer, não vai ser por falta de aviso.
Publicitário da Jung von Matt, em Berlim Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School E-mail: rafael.lopes@jvm.de Neo Mondo - Novembro 2009
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Biomas
Uma viagem pelos
Biomas Brasileiros Por baixo das cheias do Pantanal
Considerado como a maior planície alagável do mundo, o bioma tem a importante função de corredor biogeográfico entre as duas maiores bacias da América do Sul Caio Martins
O
Pantanal, maior planície alagável do mundo, se estende por diversos países da América Latina, entre eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando uma área total de 210 mil km². Com a maior parte no território nacional (cerca de 70%), o bioma está presente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Considerado como um elo de ligação entre as duas maiores bacias da América do Sul (do Prata e da Amazônia), a região pantaneira tem a importante função de corredor biogeográfico, permitindo assim a dis56
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persão e a troca de espécies de fauna e flora entre os lugares. Por esse e por outros motivos, grande parte do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica do Prata) é considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, além de estar presente na Constituição Brasileira como Patrimônio Nacional. Mesmo não possuindo um número muito grande de espécies endêmicas (exclusivas), o bioma tem qualidades de uma “ecorregião”, ou seja, possui características específicas por englobar diversos outros biomas, como o Cerrado (leste, norte e sul), o Chaco (sudoeste),
a Amazônia (norte), a Mata Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste). Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheia e seca, faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito grande de espécies. Em relação ao clima, a região possui temperaturas quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em torno de 1000 e 1400 milímetros.
Pantanal Florestal O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca de 1650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os campos pantaneiros são, predominantemente, cobertos por gramíneas e vegetações típicas do cerrado. Já nos pontos mais altos, como picos de morros, há o predomínio da flora típica da caatinga, com barrigudas, gravatás e mandacarus, além da ocorrência da vitória-régia, planta típica da Amazônia. Nas partes alagadas, as vegetações flutuantes, como aguapé e a salvinia, são predominantes. Essas, quando carregadas pelos rios, formam ilhas verdes, chamadas de camalotes. Outra flora existente é a de mata densa e sombria, normalmente encontradas em volta das margens mais elevadas dos rios. Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o Carandá (Copernicia australis), planta da família das arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio. Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria madeireira para construção de postes para linhas telefônicas e elétricas. Pantanal Animal Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira também é muito grande, sendo, inclusive, considerada umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1800), 1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do bioma:
Felipe Trindade
Tuiuiú (Jabiru mycteria)
Jenny Mackness
Aguapés no Pantanal
1. Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade, dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos vertebrados. 2. Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto, e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar 8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.
3. Cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos. Maior veado da América do Sul, o cervo-doPantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não sirva para comer, o cervo-do-Pantanal é caçado por causa do seu couro e galhada. 4. Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. Seu nome derivase de sua habilidade de colher, através do seu bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
Divulgação
Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus)
Divulgação
Cervo do pantanal (Blastocerus dichotomus)
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Biomas
Jenny Mackness
Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare)
Pantanal Social e Econômico Com uma população aproximada de 1,1 milhão de pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes, como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como Cuiabá (MT). Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa população, destacase a pesca, que tem ligação direta com o turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo de estimulo econômico é o maior gerador de renda dos residentes da região, dividido em três categorias: pesca de subsistência, que é fonte de alimento das populações ribeirinhas; pesca profissional, que tem a função de gerar renda aos pescadores, principalmente, na venda de espécies nobres, como pintado, dourado e pacu; e pesca esportiva, maior atrativo turístico do Pantanal, o qual recebe, em média, 450 mil pescadores de fora por ano. Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva, ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de cabeças 58
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na área pantaneira) dependem do período de cheia e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento das partes baixas, os animais tem que ser levados aos locais mais altos para se alimentar e procriar. Uma terceira atividade econômica é a mineração e siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas tem uma importante função no crescimento não só da economia regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres. Degradação do Pantanal Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal também sofre com problemas ambientais de degradação.
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5. Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois a três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos. Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é sua temperatura corporal, que varia entre 25 a 30 graus.
Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado a uma grande fonte de renda da região e do País como um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de forma impressionante. As queimadas são outro problema da região pantaneira. Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes, atingem a própria população, que fica contaminada pela fumaça, lotando os postos de saúde com problemas pulmonares, e também os pássaros, que acabam se afastando, também por causa da fumaça. Um terceiro problema é a exploração incessante de algumas espécies de animais e de plantas nativas do bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso, há o comercio ilegal de madeira, que destrói e acaba com as árvores do território. O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça e a venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam com esses animais, o que influencia diretamente na cadeia alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática. Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente da pecuária no planalto, que faz com que diversos sedimentos rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água. O sexto problema está ligado às atividades mineradoras, que acabam contaminando os lençóis freáticos.
Fazenda típica do Pantanal no Mato Grosso do Sul
Curiosidades
Fabiano Lucas
• Considerada a maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos. • O Tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas. • Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do pantanal. • As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas. • O Pantanal brasileiro possui 144.294 km² de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram no Mato Grosso do Sul e 38,1% no Mato Grosso. • O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores. • Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. • A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que vivem na região. • O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. • O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai ande bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal. • A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira. • Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
Bonito - Mato Grosso do Sul
Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - São Lucas do Pantanal www.saolucasdopantanal.com.br - Terra - http://360graus.terra.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br
Receita Típica do Pantanal: Furrundum Ingredientes: • 2 cidras médias (cerca de 1 kg) • 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas ou 3 xícaras de açúcar mascavo • 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado • 1 coco grande ralado fino
6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando, mexendo sempre, por mais alguns minutos; 7. Tire do fogo e deixe esfriar; 8. Retire pequenas porções da massa e modele formando bolinhas; 9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa.
Preparo: 1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso sem atingir a polpa; 2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela com água fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo; 3. Escorra e esprema bem; 4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte a rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo; Acrescente gengibre e leve ao fogo brando; 5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo da panela começar a aparecer;
Rendimento: cerca de 30 doces.
Neo NeoMondo Mondo- -Novembro Setembro 2008 2009
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“Elaborar o cardápio de 8 mil crianças de 90 escolas e creches, considerando o valor nutricional indicado para cada idade, é o que chamo de um gigantesco desafio. Mas, nas ocasiões em que eu conto com o Programa Nutrir, tudo fica mais fácil. Ele funciona como uma ferramenta que me ajuda a estar próxima das merendeiras e a trabalharmos motivadas e unidas. No meu trajeto de Programa Nutrir,
Kizze Fajardo,
aprendi muito. Especialmente
Fortaleza, CE
que é fundamental colocar o coração
Nutricionista
no que fazemos.”
O Programa Nutrir da Nestlé completa 10 anos de trabalho voltado para o combate à desnutrição e à obesidade em comunidades de baixa renda do país. Conheça mais sobre essa iniciativa que já capacitou 11 mil educadores e beneficiou 1,2 milhão de crianças. www.nestle.com.br/nutrir Neo Mondo - Outubro 2008 60