Neomondo 29

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NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 3 - Nº 29 - Dezembro 2009 - Distribuição Gratuita

Somos os

próximos? 10

Marcos Jank

Catástrofe Jurássica

Deficientes e eficientes

Em defesa da energia limpa

Alerta máximo na COP 15

Aumento de oportunidades no mercado de trabalho

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“Elaborar o cardápio de 8 mil crianças de 90 escolas e creches, considerando o valor nutricional indicado para cada idade, é o que chamo de um gigantesco desafio. Mas, nas ocasiões em que eu conto com o Programa Nutrir, tudo fica mais fácil. Ele funciona como uma ferramenta que me ajuda a estar próxima das merendeiras e a trabalharmos motivadas e unidas. No meu trajeto de Programa Nutrir,

Kizze Fajardo,

aprendi muito. Especialmente

Fortaleza, CE

que é fundamental colocar o coração

Nutricionista

no que fazemos.”

O Programa Nutrir da Nestlé completa 10 anos de trabalho voltado para o combate à desnutrição e à obesidade em comunidades de baixa renda do país. Conheça mais sobre essa iniciativa que já capacitou 11 mil educadores e beneficiou 1,2 milhão de crianças. www.nestle.com.br/nutrir


Editorial

P

rezado leitor, é com grande satisfação que preparamos para você a última edição do ano de 2009 da NEO MONDO. Infelizmente, fechamos a edição antes do balanço geral da COP15, porém estamos trazendo um especial desta Conferência das Partes com exclusividade e muito mais, como segue: Cercada de expectativas, a Conferência do Clima em Copenhague (COP 15) pode representar uma virada de mesa no trato de questões que afetam o aquecimento global de forma preocupante. Procuramos saber com especialistas e autoridades em que medida as expectativas se confirmaram para melhor, no sentido de se adotar medidas que tornem a vida no planeta mais saudável. Economia do Clima é um alentado estudo feito pela nata das instituições de pesquisa no País. No total, 11, sob coordenação geral de um ex-reitor da USP. Ouvimos uma das coordenadoras técnicas do projeto. Mais do que apontar problemas, os autores do estudo dão preciosa contribuição, ao sugerir adaptações e medidas viáveis para que as previsões sinistras não se confirmem. Está tudo ali: desmatamento, energia, emissões etc. Marcos Jank, da União da Indústria de Açúcar (Unica), é nosso perfil, numa edição voltada com ênfase para a COP 15. Ele é assíduo participante de reuniões do clima e está à frente de uma das instituições empresariais do Brasil que levam a sustentabilidade a sério, com muita base, conhecimento, mas também práticas de gestão. Programa EcoJuventude, - A Coordenadoria de Ações para a Juventude de São Bernardo do Campo constituiu o programa EcoJuventude que conta com a participação de alunos, voluntários, ONGs e redes de educação ambiental, para estimular a Cooperação e Conscientização ambiental dos participantes das Oficinas e Eventos, considerando a demanda de 12 mil jovens por ano.

A matéria apresenta o programa, suas ações e realizações. Programa Faz Bem Nutrir - Há dez anos, o programa Faz Bem Nutrir, da Nestlé, leva educação alimentar para crianças e jovens com idades entre 5 e 14 anos, de comunidades de baixa renda de todo o país. O principal objetivo é contribuir para o combate à desnutrição e à obesidade por meio da educação. O programa foi concebido a partir da constatação de que muitas vezes a desnutrição não se deve à indisponibilidade de alimentos, mas sim à falta de informação.

Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Natura - Empresa preocupada com o meio ambiente, vamos ver a sua contribuição nos debates pósCopenhague. Biodiesel - Dando continuidade à discussão sobre os biocombustíveis, falamos sobre o atual momento do biodiesel, suas perspectivas para o futuro e as pesquisas que estão sendo realizadas para utilização do pinhão-manso como matéria-prima. Inclusão de deficientes - Em comemoração ao Dia Internacional do Deficiente Físico, celebrado em 3 de dezembro, apontaremos iniciativas vencedoras para inclusão de deficientes no mercado de trabalho, citando exemplos já consolidados e também novas frentes que surgem como a proposta da Associação Embalando o Amanhã, composta por funcionários voluntários da Alcan Embalagens. Empregos Verdes - As estimativas de crescimento para as chamadas “profissões verdes” são as melhores possíveis. Mas será que vale mesmo a pena investir em uma carreira nesta área? Quais os riscos envolvidos? Leia a reportagem e chegue às suas conclusões. Essa é apenas uma parte do que você vai encontrar nesta edição. Boa leitura, um ótimo Natal e um ano novo repleto de realizações e comprometimento com o Planeta.

Instituto

Neo Mondo Um olhar consciente

Neo Mondo - Dezembro 2009

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Neo Mondo - Agosto 2008


Neo Mondo - Agosto 2008

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Seções

18 Artigo: O debate sobre meio ambiente na USP Comprometimento com o Planeta 24 Artigo: O humor gráfico e o aquecimento global COP 15 em Copen-hahaha-ge

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ESPECIAL - COP 15 Projeções Sinistras Estudo pioneiro da Fea/Usp reúne 11 instituições de pesquisa

Perfil 10 Marcos Jank Em defesa da energia limpa

19 Artigo: Discurso conveniente: Negando o aquecimento global

ESPECIAL - COP 15 20 Catástrofe jurássica Alerta máximo na COP 15

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MEIO AMBIENTE Compromisso com a questão ambiental Natura quer reduzir 10% das emissões até 2012 30 Artigo: O parque de Tilá-Tilá Lenda da Serra que chora

MEIO AMBIENTE/BIOCOMBUSTÍVEL Biodiesel, só dá ele Com o surgimento de novas opções, o biodiesel é o assunto do momento

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32 BIOMAS A superpopulada Zona Costeira Abrangendo diferentes ecossistemas, o bioma abriga 70% da população nacional

Educação 44 Faz bem nutrir e cuidar Programas sociais da Nestlé têm como base a educação

36 Artigo: O Etanol brasileiro Os atuais projetos de infraestrutura

Educação 42 Eco Juventude Programa da Prefeitura de São Bernardo do Campo atinge 10 mil alunos por ano inclusão social

47 Artigo: Educação para a água Importância vital para a vida no Planeta

Deficientes e eficientes Aumento de oportunidades no mercado de trabalho

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economia 51 Artigo: O Pais do futuro Uma viagem a Pelotas

52 Empregos verdes Eles vieram para ficar

Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva e Rosane Magaly Martins Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Elizabeth Lorenzotti (MTB 10.716) Estagiário: Caio César de Miranda Martins Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva 6

Neo Mondo - Dezembo 2009

Publicação Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


Neo Mondo - Julho 2008

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. MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE

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Neo Mondo - Julho 2008


QUANDO FOR DIRIGIR, NÃO BEBA. QUANDO BEBER, NÃO DIRIJA.

No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo que você pode causar aos outros e a si mesmo. Sob o efeito do álcool um acidente pode ser inevitável, mesmo se o consumo for em pouca quantidade. Dirija com consciência.

www.eusoulegalnotransito.com.br Neo Mondo - Julho 2008

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Perfil

Marcos Jank, à frente da Unica, ajuda a clarear as fronteiras agrícolas do País Gabriel Arcanjo Nogueira

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Climáticas, premiou os vencedores de 2009 no mesmo dia em que se abriu em Copenhague a 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU). Um evento nacional e outro internacional, em que o jogo limpo segue as coordenadas que Marcos Jank defende com propriedade e convicção. Engenheiro agrônomo e professor universitário, em instituições do País e do exterior, com ampla vivência em assuntos socioeconômicos e centenas de trabalhos publicados e palestras proferidas, a sua visão e iniciativas o credenciam a ser um dos brasileiros mais ativos em Copenhague.

Antes de viajar para a COP 15, na qual o setor que representa vai com propostas detalhadas e reconhecidas por sua importância até por Luiz Alberto Figueiredo, negociador oficial do Brasil, o presidente da Unica recebeu NEO MONDO para a entrevista, cuja íntegra forma este Perfil. Marcos Jank participou das quatro conferências do clima mais recentes: não perdeu uma, desde que o Protocolo de Kyoto, de 1997, passou a vigorar em 2005. Na bagagem, e principalmente, na cabeça, as ideias que fazem desse jovem líder empresarial um defensor convicto das possibilidades brasileiras no cenário mundial como produtor de energia limpa.

Mário Miranda

uando se fala em mudanças climáticas, não há como ignorar o singular potencial de matriz energética limpa, de que o Brasil dispõe e precisa cuidar para que não se perca. Para evitar o pior, que se adotem medidas efetivas pela educação e por negócios sustentáveis, entre outras iniciativas nas quais o setor sucroenergético está na linha de frente. A União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), presidida desde 2007 por Marcos Sawaya Jank, é exemplo de ações conjuntas nas duas linhas. O projeto Agora de agroenergia e meio ambiente, com seu Desafio Mudanças

Marcos Jank assegura que “mudança climática é nosso DNA; temos duas Itaipus adormecidas nos canaviais, que podem ser despertadas”

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Neo Mondo - Dezembro 2009


Neo Mondo: Você participou de conferências do clima. Que avaliação faz delas? Marcos Jank: Até agora, não houve ainda o comprometimento político, de fazer o multilateralismo funcionar. A COP é uma tentativa de resolver os problemas de todo o mundo, na medida em que todo o mundo assuma metas comuns, ainda que diferenciadas. Ou seja, todos vão reduzir a emissão de poluentes, mas alguns mais que outros, sobretudo aqueles que têm mais culpa pelas mudanças climáticas. Os países ricos, por exemplo, reduziriam mais do que os em desenvolvimento, mas haveria uma meta comum com um sistema de comércio de emissões. Até agora, desde o Protocolo de Kyoto, não houve esse avanço, e não vamos alcançálo em Copenhague. Trata-se muito mais de um encontro político entre governos, ONGs, empresários - que mostram o que fazem e o que pretendem fazer - do que efetivamente uma grande concertação internacional. Neo Mondo: Será que o mundo não tem jeito? Marcos Jank: Pode até ser que se assumam algumas metas lá, mas que serão claramente insuficientes. Considero importante é que o assunto andou. O Brasil, por exemplo, que nas últimas COPs ia com três ou quatro empresas - e nós estávamos entre elas -, hoje comparece com mais de 600 delegados. É sinal de que o assunto ganhou importância. A meu ver, houve uma mudança grande, qualitativa. O assunto subiu ao nível do presidente da República, há vários ministros presentes; chegou a governos estaduais, municipais; várias empresas se manifestam. Fico feliz em ver que empresas tomam atitudes; independentemente do que acontecer na COP 15, empresas têm-se dedicado à sustentabilidade, governos assumem seu papel ainda que de forma descoordenada. Neo Mondo: Um bom começo, então... Marcos Jank: Agora, esperar que de Copenhague vá sair uma grande concertação, não vai; demora ainda. Os Estados Unidos têm de se mexer, a China e a Índia, também. Falta muito para que se chegue a um grande acor-

do, e talvez nunca se chegue. Mas se medidas nacionais forem acontecendo, já é um passo; se os americanos e europeus, nacionalmente, adotarem medias, isso já é importante. Para nós, que vendemos etanol, por exemplo, o fato de haver hoje um grande debate na Europa e nos Estados Unidos sobre o chamado combustível de baixo carbono e regulamentações sendo feitas em favor do combustível limpo, renovável, já é positivo. Neo Mondo: Em certo sentido, no Brasil, você acha que a iniciativa privada contribui para que outras áreas, entre elas o próprio governo, tomem atitudes viáveis? Marcos Jank: No nosso caso, temos um produto - o etanol, a bioeletricidade - em que a mudança do clima faz parte do DNA dele. Ou seja, o produto existe exatamente para isso. Se, lá atrás, nos anos 1970, o etanol surgiu como alternativa para substituir o petróleo importado, daqui para a frente, nos próximos 30 anos, vai estar ligado ao clima; quanto mais a humanidade buscar reduzir as emissões de poluentes, mais nosso produto vai ser valorizado. Para nós, é fundamental estar presentes. Há ainda muito por fazer, mesmo entre as empresas (que mais estão falando do que fazendo), quando se trata de energia limpa e renovável. A empresa cria lá um departamento, começa a participar, mas não chega efetivamente ao ponto das grandes mudanças que o momento exige. Estamos no começo; a mudança vai ser mais forte quando se fixarem

metas, claras, de produção. Um primeiro passo é o fato de haver uma legislação que premie energias limpas e renováveis. Outro passo é diminuir o desmatamento. Neo Mondo: O que isso implica? Marcos Jank: Se o Brasil conseguir, como sociedade, reduzir o desmatamento ilegal, sobretudo na floresta amazônica, mas também no cerrado; acabar com a ilegalidade; definir direitos de propriedade, fiscalizar etc., já conseguiria uma boa redução da emissão de poluentes. Mas o País tem de optar por uma matriz energética limpa. Hoje, temos o etanol, mas há dúvidas, por exemplo, se daqui a 20 anos, um governo populista não vai se entusiasmar com o pré-sal e fazer o Brasil voltar à era do fóssil. Neste momento, se fazem térmicas sujas para gerar energia, como mostram os quatro leilões em que se vendeu térmica a carvão ou térmica a óleo combustível. Infelizmente! O Brasil tem um potencial imenso em biomassa, eólica, solar; não precisaria recorrer a carvão e óleo combustível. Há recursos naturais suficientes para conseguir eletricidade limpa. Temos de tomar muito cuidado para o País não ir pelo caminho errado. As empresas se conscientizam, mas ainda estão naquela fase de falar mais do que fazer. Neo Mondo: O setor que vc representa está num nível melhor nesse aspecto? Marcos Jank: Eu diria que o nosso setor acordou. Desde a participação em quatro COPs, e de dois anos para

Integrantes da Aliança Brasileira pelo Clima Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP) Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf) Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar) Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares) Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) - apoio técnico Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais (Siamig) Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg) União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica)

Fonte: Unica Neo Mondo - Dezembro 2009

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Perfil

cá, assumimos a mudança do clima como DNA. A Aliança Brasileira pelo Clima é exemplo disso. Somos entidades com uma agenda concreta, que inclui uma pauta para cada um dos temas que estão em negociação. Queremos que o Plano Nacional de Mudanças do Clima se torne uma política nacional. Nos propomos a trabalhar pelo desmatamento, pela redução e eliminação de todo desmatamento ilegal. Já há ações efetivas nesse sentido, a exemplo da moratória da soja na Amazônia; na cana criamos o zoneamento ecológico, que implica não haver expansão do cultivo com desmatamento, seja de que tipo for. A cana não vai crescer à base de desmatamento na floresta amazônica, na mata atlântica, no pantanal, no cerrado, nos campos; só vai crescer em áreas consolidadas. Ações como essas mostram o nosso comprometimento.

Nosso protocolo agroambiental, que é de livre adesão, dois anos depois de seu início, nos surpreende positivamente: 88% do setor participa; o nível de mecanização saltou de 34% para 54% no período. São 600 colhedeiras por ano a mais no processo produtivo, o que faz o absurdo, que é a queima da cana, ser contido. Neo Mondo: Há iniciativas socioeducacionais em elaboração ou em andamento com a participação de vocês? Marcos Jank: Posso citar o projeto Agora, que vem suprir uma lacuna de qualidade no ensino público das 7a. e 8a. séries. A carência de material didático-pedagógico é significativa, sobretudo em unidades municipais e estaduais. E contamos na coordenação de conteúdo do que consta nos kits com a notória capacidade do professor Luiz Gilvan Meira Filho. O Desafio Mudanças Climáticas 2009, desenvolvido em parcerias qualificadas de empresas e instituições da agroenergia com especialistas em pedagogia e apoio de secretarias de Educação em 8 estados de 4 regiões

Mário Miranda

Neo Mondo: Quais as suas principais propostas e metas para o desenvolvimento sustentável do setor? Marcos Jank: A redução da queima da cana é uma delas, em que até nos antecipamos ao que está previsto por lei: o que era para começar a acontecer em 2021, puxamos para 2014, em áreas mecanizáveis; e para 2017, nas não mecanizáveis.

A COP é uma tentativa de resolver problemas comuns com metas comuns, de forma diferenciada

O projeto Agora realizou mostra dos 10 trabalhos sobre o clima, selecionados entre 3,5 mil inscritos; os 3 melhores foram premiados no mesmo dia em que se abriu em Copenhague a COP 15 12

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brasileiras, nos permitiu chegar a resultados expressivos. O material didático-pedagógico criado por esse projeto é de ótima qualidade, como reconhecem os próprios alunos, professores e diretores das escolas participantes. E o fato de alcançarmos 12 mil escolas com os kits educacionais e termos um retorno de trabalhos inscritos por 3,5 mil escolas no Desafio é gratificante. No que também somos acompanhados pela avaliação de nosso públicoalvo. Cada estado teve 10 trabalhos selecionados, e os 3 primeiros foram premiados. O pôster, que integra o material dos kits, é um sucesso à parte. Tanto que temos inúmeros pedidos de sua redistribuição. Conseguimos colocar mele, de maneira muito feliz, acertada, todos os aspectos gritantes que estão a exigir atenção de todos em mudanças climáticas. Neo Mondo: Como se dá efetivamente a participação do seu setor na COP 15? Marcos Jank: Temos propostas bem claras, mas antes de fazer carnaval com elas, tomamos alguns cuidados. Trabalhamos tecnicamente o nosso pessoal, que leu atentamente cada uma das 800 páginas negociadas em reuniões preparatórias - o que nos permitiu chegar a um detalhamento desejável. O próprio embaixador Figueiredo (negociador oficial do Brasil na COP 15 - N.R.) reconhece que nossas propostas são as mais diretamente relacionadas com a negociação que se estabelece em Copenhague. Neo Mondo: O embaixador Sérgio Serra, que participa da equipe de negociação do País, fala em três ações fundamentais do agronegócio, que são a recuperação de pastagens; o plantio direto; a integração da pecuária e do cultivo de espécies. Que participação vocês têm nesta definição? Marcos Jank: O agronegócio, quando se trata de mudanças climáticas,


ao mesmo tempo é ameaça, é ameaçado e é solução. Isso porque está relacionado com o desmatamento, mesmo que com sua expansão não seja a principal causa das derrubadas em áreas verdes. Temos de combater principalmente o desmatamento ilegal, se bem que acho que temos de chegar a desmatamento zero, pelo menos na Amazônia. O ilegal é grande absurdo, e pequena parcela dele está relacionada com o agronegócio. Portanto, é ameaça. Mas é também ameaçado porque, se houver mudanças no clima, o agronegócio é um dos setores que mais vai sofrer com os problemas delas advindas, porque se altera o ciclo das plantas, das águas e tudo o mais. O agronegócio como solução é algo de que não se falava no País. Era apenas visto como o vilão porque associado ao desmatamento. Se o lado vilão pode ser resolvido pelo Brasil com o combate ao desmatamento, falta valorizar o lado solução. Neste aspecto, as alternativas estão aí: a agroenergia, o etanol, o biodiesel, a bioeletricidade, o carvão vegetal. E também a questão do carbono no solo, que aumentou com técnicas conservacionistas, entre elas o plantio direto. Esta é uma técnica extraordinária para ser usada. O aumento da produtividade na agricultura é algo interessante porque pode ser alcançado sem a necessidade de expandir a área plantada, a não ser marginalmente, porque os ganhos em produtividade são imensos. Há uma avenida aberta aí porque dá para fazer até gasolina ou diesel a partir de plantas agrícolas, os chamados hidrocarbonetos de cana. Há pesquisas categorizadas para converter o açúcar de cana em querosene ou diesel de origem agrícola (e não de origem fóssil);

que, portanto, absorve CO2, em vez de jogá-lo pro ar. Quando se pega uma planta e se transforma o açúcar dela em etanol ou diesel, se absorve CO2 no crescimento da planta. Esse tipo de fronteira tecnológica é que o Brasil tem de explorar. Neo Mondo: Há outros avanços setoriais que vocês pretendem atingir? Marcos Jank: Sob a óptica do produto final, nós queremos aumentar o consumo de etanol e de bioletricidade. Sob a óptica da produção, o nosso grande desafio é reduzir - até eliminar - a queima da cana; usar a palha e o bagaço para fazer eletricidade. Costumo dizer que temos duas Itaipus adormecidas nos canaviais brasileiros, que podem ser despertadas. Outro desafio é recuperar as áreas de preservação permanente (APPs). Porque as áreas em que a cana predomina são as que, na origem (há 80 anos, com os primeiros produtores, imigrantes italianos), a regra era que fossem expandidas até os rios. Já naquela época havia muito muito pouco de mata ciliar. O que fazemos hoje é um processo de consolidação e recuperação de matas ciliares. São 250 mil hectares já registrados no setor e preservados, no sentido de sua demarcação. E, agora, iniciamos a recuperação - daqui a 2017 - da ordem de 32 mil hectares, com o plantio de 50 milhões de mudas. Em dois anos desse processo já foram plantados 2 milhões de mudas.

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Horário de Funcionamento Seg a Sex - 11:30 às 15:00h Sáb, Dom e Feriados - 12:00 às 15:30h

Para saber mais sobre o projeto Agora e suas ações, acesse www.desafiomudancasclimaticas.com.br Para conhecer melhor a Unica, acesse www.unica.com.br

Conteúdo dos kits do Desafio Mudanças Climáticas Cada escola recebe dois kits com • Caderno do professor • DVD com 3 filmes temáticos • 4 pôsteres

(11) 2896-0065 Rua Cel. Ortiz, 726 V. Assunção - Santo André (Convênio com estacionamento)

Viabilização do projeto: Unica, Orplana, Siamig, Bioenergia, Sifaeg, Biosul, Sindalcool/MT, Monsanto, Itaú Unibanco, Dedini, Basf, Sew Eurodrive Produção: Editora Horizonte

Fonte: Projeto Agora Neo Mondo - Dezembro 2009

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Especial - COP 15

Projeções Estudo pioneiro, sob coordenação geral de Jacques Marcovitch, da FEA/USP, reúne 11 instituições de pesquisa Gabriel Arcanjo Nogueira

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comunidade acadêmico-científica do Brasil, em boa hora, traz sua contribuição para que os impactos das mudanças climáticas sejam menos desastrosos, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, como Amazônia e Nordeste, em que as perdas agrícolas podem ser expressivas em praticamente todos os estados que formam essas regiões do País. Há risco de a economia brasileira sofrer um baque de R$ 719 bilhões a R$ 3,6 trilhões em 2050, caso nada seja feito para reverter a situação que se afigura sinistra. Se não bastasse, a confiabilidade no sistema brasileiro de geração de energia elétrica ficaria ainda mais comprometida, em cerca de 30%. O alerta está no estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil (EMCB), ou Economia do Clima, lançado em 25 de novembro, com o objetivo de integrar projeções sobre diferentes setores. A iniciativa, pioneira, de um consórcio de 11 instituições que formam a

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nata das voltadas a pesquisa no País *, tem a coordenação geral do professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Jacques Marcovitch, e a coordenadoria técnica de Sérgio Margulis e Carolina Dubeux, esta responsável pelo lado operacional do projeto. Marcovitch, ex-reitor da USP, é autor do livro Para Mudar o Futuro – Mudanças Climáticas, Políticas Públicas e Estratégias Empresariais, e presidiu o Conselho Consultivo do projeto. Margulis é economista líder de meio ambiente do Banco Mundial. Impactos esperados De acordo com Carolina, “as projeções alimentaram modelos de alguns setores da economia que traduziram em termos econômicos os impactos esperados em cada setor, de acordo com duas possíveis trajetórias do clima futuro desenvolvidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

(IPCC, em inglês) – os cenários A2 (altas emissões) e B2 (baixas emissões)”. São trajetórias que, “baseadas em hipóteses sobre o comportamento futuro da economia global, nos permitem simular o comportamento futuro da economia brasileira compatível, na medida do possível, com as mesmas hipóteses do IPCC para a economia global”. A coordenadora técnica do estudo esclarece: “Os cenários então gerados para a economia brasileira são chamados no estudo de cenário A2-BR, simulado sem mudança do clima e com mudança do clima, segundo cenário climático A2 do IPCC; e cenário B2-BR, também simulado sem mudança do clima e com mudança do clima, segundo o cenário climático B2 do IPCC. Eles representam trajetórias futuras da economia brasileira, caso o mundo se desenvolva globalmente segundo as premissas (econômicas) do IPCC do cenário climático A2 e do cenário climático B2”.


Sinistras O que o estudo leva em conta

• modelos climáticos desenvolvidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe

• o horizonte do ano de 2050 - problemas climáticos associados ao aquecimento global são de longo prazo

• setores cruciais, entre eles, agricultura, energia, uso da terra e desmatamento, biodiversidade, recursos hídricos, zona costeira, migração e saúde

• cenários de emissões altas (A2) e baixas (B2)* Fonte: Economia do Clima (EMCB)

Amplo debate A representatividade do estudo é inegável, assim como o seu alcance. Com apoio do governo britânico, a Economia do Clima está disponível para consulta pública pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), porque “pretendemos que seus resultados sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira”, diz Carolina. Criado em 2000, o FBMC é presidido pelo presidente da República e composto por 12 ministros de Estado, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), representantes da sociedade civil, entre outros. A Academia Brasileira de Ciências (ABC), por sua vez, sedia o conselho consultivo do estudo, composto por representantes do governo, sociedade civil e da comunidade científica, entre eles o embaixador extraordinário para Mudança do Clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Sérgio Serra;

Wilton Júnior

Carolina sugere que os resultados do estudo sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira

o presidente do Ipea, Márcio Pochmann; o coordenador do CPTEC/Inpe, Carlos Nobre; o coordenador do Fórum Paulista de Mudanças Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann; o coordenador geral de mudanças globais do clima do Ministério de Ciência e Tecnologia, José Miguez;

* A gabaritada equipe interdisciplinar é formada pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ,) Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

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Especial - COP 15

e o membro do conselho deliberativo do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, José Goldemberg (IEE/USP). Um ano todo perdido As perspectivas macroeconômicas que o estudo apresenta não podem ser ignoradas por quem pretenda levar o País e o planeta a sério. Carolina chama atenção para as mais relevantes: • Estima-se que, sem mudança do clima, o PIB brasileiro será de R$ 15,3 trilhões (reais de 2008) no cenário A2-BR em 2050, e R$ 16 trilhões no cenário B2-BR. Com o impacto da mudança do clima, estes PIBs reduzem-se em 0,5% e 2,3% respectivamente. • Antecipados para valor presente com uma taxa de desconto de 1% ao ano, estas perdas ficariam entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões, o que equivaleria a jogar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos. • Com ou sem mudança do clima, o PIB é sempre maior em B2-BR do que em A2-BR. “Isto quer dizer que na trajetória mais limpa do cenário B2-BR, a economia cresce mais, e não menos. Em ambos cenários, a pobreza aumenta por conta da mudança do clima, mas de forma quase desprezível.” • Haveria uma perda média anual para o cidadão brasileiro em 2050 entre R$ 534 (ou US$ 291) e R$ 1.603 (ou US$ 874). O valor presente em 2008 das reduções no consumo dos brasileiros acumuladas até 2050 ficaria entre R$ 6 mil e R$ 18 mil, representando de 60% a 180% do consumo anual per capita atual. Perspectivas regionais A coordenadora do projeto lembra que “as regiões mais vulneráveis à mudança do clima no Brasil seriam a Amazônia e o Nordeste”. E detalha: • Na Amazônia, o aquecimento pode chegar a 7-8°C em 2100, o que prenuncia uma alteração radical da floresta amazônica – a chamada “savanização”. Estimase que as mudanças climáticas resultariam em redução de 40% da cobertura florestal na região sul-sudeste-leste da Amazônia, que será substituída pelo bioma savana.

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País pode perder até R$ 3,6 trilhões, em 2050, se nada for feito para reverter os impactos das mudanças climáticas

• No Nordeste, as chuvas tenderiam a diminuir 2-2,5 mm/dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados da região. O déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte, favorecendo assim um retrocesso à pecuária de baixo rendimento. • O declínio de precipitação afetaria a vazão de rios em bacias do Nordeste, importantes para geração de energia, como a do Parnaíba e a do Atlântico Leste, com redução de vazões de até 90% entre 2070 e 2100. • Haveria perdas expressivas para a agricultura em todos os estados, com exceção dos mais frios no Sul-Sudeste, que passariam a ter temperaturas mais amenas. Perspectivas setoriais No que diz respeito aos diversos segmentos, o quadro exige atenção redobrada, para que o apocalipse não se efetive. Recursos hídricos - Os resultados projetados seriam alarmantes para algumas bacias, principalmente na região

Nordeste, com uma diminuição brusca das vazões até 2100. Energia - Perda de confiabilidade no sistema de geração de energia hidrelétrica, com redução de 31,5% a 29,3% da energia firme. Os impactos mais pronunciados ocorreriam nas regiões Norte e Nordeste. No Sul e no Sudeste os impactos se mostrariam mínimos ou positivos, mas neste caso não compensariam as perdas do Norte e do Nordeste. Agropecuária - Com exceção da cana-de-açúcar, todas as culturas sofreriam redução das áreas com baixo risco de produção, em especial soja (-34% a -30%), milho (-15%) e café (-17% a -18%). A produtividade cairia em particular nas culturas de subsistência no Nordeste. Zona costeira - Considerando o pior cenário de elevação do nível do mar e de eventos meteorológicos extremos, a estimativa dos valores materiais em risco ao longo da costa brasileira é de R$ 136 bilhões a R$ 207,5 bilhões.

ABr

Estudo aponta também soluções, como a de desestimular a pecuária na Amazônia em até 80% com o carbono a US$ 450/ha


Perdas e ganhos Um aspecto chama atenção por suas peculiaridades. O crescimento da área plantada - de 17,8 milhões a 19 milhões de hectares -, segundo o estudo, não causaria substituição de áreas destinadas às culturas de subsistência em nenhuma região brasileira nem pressionaria o desmatamento da Amazônia, mas nas regiões Sudeste e Nordeste poderia afetar florestas e matas dos estabelecimentos agrícolas, caso as políticas para o setor não sejam implementadas adequadamente. No Centro-Sul, principalmente, pode ocorrer exposição de grandes concentrações populacionais a altos níveis de poluição atmosférica, caso não seja adotado o sistema de colheita mecanizada. Outro é a taxação de carbono, que, na estimativa do estudo, o impacto de uma taxação entre US$ 30 e US$ 50 por tonelada de carbono reduziria as emissões nacionais entre 1,16% e 1,87% e resultaria em uma queda no PIB entre 0,13% e 0,08%. Já no setor energético, tomando-se como referência o Plano Nacional de Energia 2030, o potencial estimado de redução de emissões seria de 1,8 bilhão de toneladas de CO2 acumuladas no período 2010-

2030. Com uma taxa de desconto de 8% ao ano, o custo estimado seria negativo, ou seja, haveria um ganho, ou benefício, de US$ 34 bilhões em 2030, equivalentes a US$ 13 por tonelada de CO2.

é garantir que a matriz energética mantenhase “limpa”, investir nas muitas opções de eficiência energética altamente rentáveis e garantir que o crescimento do PIB nacional também seja gerado de forma “limpa”.

Prioridades de ação O estudo recomenda ainda que, em vista de os custos e riscos potenciais da mudança do clima para o Brasil serem ponderáveis e pesarem mais sobre as populações pobres do Norte e Nordeste, “políticas de proteção social nestas regiões devem ser reforçadas”. Nesse sentido, “é possível e necessário associar metas ambiciosas de crescimento com a redução de emissões de gases de efeito estufa, para assegurar acesso a mercados que favoreçam produtos com baixa emissão de carbono em seu ciclo de vida”. Além disso, “a mudança do clima deve integrar as políticas governamentais do setor ambiental (como incluir emissão ou sequestro de gases do efeito estufa no processo de licenciamento), tanto no caso da agenda marrom (poluição) quanto no da agenda verde (setor rural e afins) – setores de transportes, habitação, agricultura e indústria”. Ponto de honra, para nossos pesquisadores,

Estancar desmatamento já! Para os autores do estudo, no presente - para não dizer “pra ontem” -, a principal recomendação é estancar o desmatamento da Amazônia. Não fosse por outros motivos, porque essa prática nefasta “gera significativas mudanças do clima local e regional e resulta em uma perda projetada de até 38% das espécies e de 12% de serviços ambientais em 2100”. A par dessa medida, o País tem de aumentar o conhecimento técnico sobre o problema, com o desenvolvimento de modelos climáticos, modelos que traduzam as mudanças esperadas do clima em impactos físicos nos diversos setores da economia, alternativas de mitigação e adaptação mais eficientes. Soma-se a esse quesito a necessidade de investir em pesquisa agrícola de ponta, em particular na modificação genética de cultivares. E, ainda, mas não o menos importante, desenvolver mais estudos para quantificar natureza e riscos de eventos extremos para além de 2050 e 2100.

Fontes limpas de energia entre as adaptações sugeridas

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estudo não se furta a apresentar soluções pontuais, para não ficar restrito a um “muro de lamentações”. No caso da agricultura, Carolina considera que “as modificações genéticas seriam alternativas altamente viáveis para minimizar impactos da mudança do clima, exigindo investimento em pesquisa da ordem de R$ 1 bilhão por ano”. E lembra que a irrigação também foi investigada como alternativa de adaptação, mas “com razões benefício-custo em geral menores”. Em relação à energia, a Economia do Clima aponta que seria preciso instalar uma capacidade extra para gerar entre

162 TWh (25% da oferta interna de energia elétrica em 2008) e 153 TWh por ano (31% da oferta interna de energia elétrica em 2008), de preferência com geração por gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo de capital da ordem de US$ 48 bilhões a US$ 51 bilhões. Na zona costeira, o custo de ações de gestão costeira e outras políticas públicas (14 ações recomendadas) somariam R$ 3,72 bilhões até 2050, ou cerca de R$ 93 milhões por ano. Além dessas adaptações possíveis, o estudo mostra a viabilidade de oportunidades de mitigação, que envolvem aspectos cruciais. Entre eles:

* o desmatamento, em que - a um preço médio de carbono na Amazônia de US$ 3 por tonelada, ou US$ 450 por hectare, se desestimularia entre 70% e 80% a pecuária na região; e ao preço médio de US$ 50 por tonelada de carbono, seria possível reduzir em 95% essa autêntica praga de nossos tempos; * em biocombustíveis, a substituição de combustíveis fósseis poderia evitar emissões domésticas de 92 milhões a 203 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2035, e exportações de etanol acrescentariam de 187 milhões a 362 milhões de toneladas às emissões evitadas em escala global.

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Dilma de Melo Silva

O debate sobre meio ambiente na Universidade de São Paulo

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Universidade de São Paulo está envolvida, em vários níveis, no debate sobre meio ambiente. Podemos citar algumas iniciativas. Existe o Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental que forma mestres e doutores nessa temática. No Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, vários docentes dedicam-se a essa temática. Na Faculdade de Economia e Administração, o ex-reitor Jacques Marcovitch dedicase ao estudo das políticas de implantação da Convenção do Clima/Protocolo de Kyoto com ênfase nas estratégias que almejam a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera (leia matéria nesta edição). Na Escola de Comunicações e Artes, o chefe do departamento de Comunicações e Artes, professor Ismar de Oliveira Soares, através do Núcleo de Comunicações e Educação (NCE/USP), organizou um Simpósio para discutir a questão da educomunicação socioambiental. Nesse Simpósio, colocou-se a proposta de que a educomunicação seria uma fer-

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ramenta poderosa para ampliar, a todos os espaços, a discussão das questões que aparecem diariamente na mídia. Temas como: aquecimento global, mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, efeito estufa, gases poluentes, dentre outros, devem figurar em jornais, revistas, televisão, internet, rádio e cinema, e precisam ser repassados às escolas formais. A Universidade de São Paulo se coloca desse modo à disposição para alavancar essa temática articulando diferentes segmentos sociais dentro e fora da Instituição. Assim, foi realizado o Simpósio, no SESC Vila Mariana, reunindo cerca de 500 participantes provenientes do setor público, do empresariado, da mídia, da educação formal debatendo questões relativas ao meio ambiente. O organizador, professor Ismar, declarou na abertura do evento: “É preciso reconquistar os brasileiros para que termos 190 milhões de preservacionistas”. Outra iniciativa que devemos pontuar diz respeito ao trabalho de educação ambiental desenvolvido por professores(as) na

Creche Central da USP, que tem utilizado a nossa Revista Neomondo para aulas com os pequeninos. Todos têm recebido, mensalmente, a Revista, e a edição preferida foi aquela da Diversidade Cultural, pois trazia um envelope com sementes que foram plantadas e todos(as) acompanham o crescimento nos vasinhos escolhidos para a atividade. Esse é um pequeno exemplo de nossa tarefa, conscientizando as crianças desde cedo, para nossa responsabilidade em salvar o planeta Terra e todos os seres vivos que nele habitam. Neste mês de dezembro será realizada a Conferência do Clima em Copenhague, Dinamarca, da qual participará nosso presidente que aponta para “responsabilidade coletiva” nas questões ambientais. Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.


Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

Discurso conveniente: negando o aquecimento global

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esmo com todos os estudos científicos, as reportagens e as campanhas presentes na mídia nacional e internacional alertando para as catástrofes naturais que podem acontecer se a temperatura do planeta subir 2º C na próxima década, ainda é possível encontrar pessoas negando o aquecimento global e afirmando que as mudanças na temperatura do planeta são comuns e já aconteceram em outras épocas. Recentemente, o escândalo causado pela divulgação de e-mails pessoais de alguns cientistas de uma conceituada universidade na Inglaterra jogou mais lenha na fogueira. Hackers invadiram os computadores do centro de pesquisa em mudanças climáticas da universidade e divulgaram trechos de e-mails de alguns cientistas, citados fora de contexto, sugerindo que esses cientistas estariam divulgando apenas informações que sustentassem as suas teorias sobre o aquecimento global. Em resposta ao incidente, vários cientistas britânicos divulgaram uma declaração na qual sustentam a teoria de que o aquecimento global é causado principalmente pelas atividades humanas, em consonância com o 4º relatório do IPCC (Pai-

nel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O IPCC foi criado pela ONU e é responsável pelo estudo de temas ligados às mudanças climáticas. A criação da impressão de que existe um debate na comunidade científica sobre o aquecimento global é usada como estratégia para justificar a omissão. Assim, acaba sendo conveniente para alguns governos e setores industriais questionar a veracidade dos dados científicos relacionados com o aquecimento global, pois as ações de mitigação, como a redução de emissão de CO2, podem ser postergadas. Dessa forma, o debate muda o foco e ao invés de serem discutidas ações de adaptação e mitigação, acaba sendo discutido se o aquecimento no planeta é realmente causado pela intervenção humana. Para identificar quem sai ganhando com essa estratégia, basta ver quem está financiando os grupos de cientistas que contestam a influência humana no aquecimento global. Destacar os interesses por trás daqueles que negam as mudanças climáticas é a tática usada por James Hoggan (no livro Climate Cover-up) para revelar o grande lobby por trás das campanhas que tentam convencer o público

de que o aquecimento global não está provado e que não há razão para serem adotadas medidas de mitigação. Essa abordagem do tema serve para confundir a sociedade e influencia diretamente as pesquisas de opinião pública. Por exemplo, nos Estados Unidos, é comum encontrar ainda nos dias de hoje, muitas pessoas contestando o aquecimento global. Isso diminui a cobrança para a adoção de medidas de redução de emissões, bem como enfraquece o apoio popular para o financiamento nos países em desenvolvimento de projetos voltados para combater o aquecimento global. Uma prova disso são as pesquisas de opinião que mostram que os europeus são mais favoráveis do que os norte-americanos ao financiamento de medidas de adaptação e mitigação nos países em desenvolvimento.

Natascha Trennepohl Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim. E-mail: natdt@hotmail.com Neo Mondo - Dezembro 2009

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Especial - COP 15

Catástrofre

Jurássica Alerta máximo na COP 15: emissões de CO2, embora em queda desde 2008, são as maiores em 2 milhões de anos Gabriel Arcanjo Nogueira

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ercada de expectativas, entre elas a vigília do Greenpeace na capital dinamarquesa e a decisão, de última hora, do governo da China - um dos principais emissores ao lado de Estados Unidos, União Europeia e Índia - de também comparecer com uma meta voluntária ambiciosa de redução em 45% das emissões de gases do efeito estufa -, a 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU), de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague, traz, no mínimo, um alerta máximo. E com participação brasileira. O mundo vai ter de se desdobrar, para exigir que os grandes emissores de dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4) sejam contidos, para evitar uma catástrofe biológica como a que exterminou dinossauros há milhões de anos. A situação da humanidade, em seus diversos ecossistemas, é preocupante (ver quadro). Tanto que, mesmo com as emissões de CO2 diminuindo em 2008, todavia elas são as maiores em pelo menos 2 milhões de anos. Os números são do balanço anual feito por cientistas ligados ao Global Carbon Project, de acordo com matéria publicada na Sala de Imprensa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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O estudo, divulgado originalmente pela revista Nature Geoscience, tem entre seus autores Jean P. Ometto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe. Procurado por NEO MONDO, o pesquisador reservou espaço em sua intensa agenda de final de ano para esclarecer alguns aspectos do assunto que está na ordem do dia em tempos de conferência sobre o clima. Métricas e regras Ometto lembra que a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Alterações Climáticas (cuja sigla em inglês é UNFCCC, de United Framework Convention on Climate Change) “resulta de um acordo internacional de centenas de países buscando métricas e regras para o enfrentamento das questões associadas às alterações climáticas”. O que se pretende, então, é construir um esforço internacional, sem precedentes, para tentar estabelecer ações, em nível global, em relação a um problema que atinge a humanidade como um todo. Perguntado sobre que mundo é possível esperar pós-Copenhague, o especialista destaca alguns aspectos que considera importantes, partindo do princípio de que serão negociações intensas: “É difícil imaginar que as nações lá representadas selem

um grande acordo. O importante é a evolução nas negociações e o estabelecimento de metas tangíveis e factíveis pelas nações em relação às emissões de gases de efeito estufa. É importante também lembrar que a questão atmosférica é crítica, mas não é a única com a qual devemos nos preocupar. As mudanças ambientais globais são muito mais amplas e têm importância regional diferenciada”, avalia. Kyoto não morreu O pesquisador entende que o Brasil, ao assumir metas voluntárias de redução de emissões de gases do efeito estufa, se reveste de importância política muito grande, por não ser obrigado pelas regras do Protocolo a assumi-las. “A questão é que o Brasil propôs reduzir emissões sobre projeções de emissões futuras (até 2020). Isto ilustra a complexidade das negociações e o que cada país está colocando na mesa”, sintetiza o agrônomo com doutorado em Ciência Nuclear na Agricultura. Há quem considere o Protocolo de Kyoto morto. Não é, porém, o caso de Ometto. Mesmo porque o documento foi proposto com um período de vigência determinado, 2012. O pesquisador do Inpe entende que “o desafio da Conferência das Partes em Cope-


Por que é tão preocupante?

Fotos: ABr

Protocolo de Kyoto é de 1997: • meta para 2012 era reduzir em 5% as emissões em relação às de 1990 Relatório da ONU * é de 2007: • emissões de CO2, N2O e CH4 podem aumentar em 4% a temperatura da Terra antes da virada do século • Especialista quer um pós-2012 mais rigoroso ** * Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), cujo trabalho mereceu o Nobel da Paz ** Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, que participou do relatório

Fonte: Pesquisa NEO MONDO

nhague é construir um acordo que substitua (o de Kyoto) a partir de 2012. O Protocolo foi (e está sendo) muito importante para definir prioridades, identificar falhas e lacunas que devam ser contempladas para atingir o objetivo maior que é a redução das emissões”. Ometto diz ainda que “é importante lembrar que a Convenção, com base nos relatórios científicos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), reconhece que há um problema ambiental (climático) no planeta e busca, na esfera política, encontrar os mecanismos, globais, para atenuar ou mitigar este problema”. Alternativas verdes Ometto destaca, entre as possibilidades brasileiras de oferecer ao mundo alternativas de energia limpa, que “qualquer iniciativa que reduza a quantidade de carbono emitida para a atmosfera é bem-vinda”. Mas faz ressalvas quanto ao etanol, por exemplo, que para ele “não é a salvação do planeta”. Isto porque, analisa, “apesar de ser um combustível renovável, ainda há uma quantidade de carbono associado à sua produção. O importante é, tecnologicamente, alterarmos a forma de nos locomovermos. Neste momento teríamos que

Brasil precisa se desvincular da imagem negativa quanto às emissões por desmatamento, causado por queimadas, como estas em São Félix do Xingu, no Pará

melhorar eficiência dos motores de combustão interna e caminharmos para transportes que utilizem outra forma de energia (como elétrica, hidrogênio)”. O cientista explica também que “o aço verde nada mais é que a utilização de carvão

vegetal, oriundo de reflorestamento, na produção do aço (substituindo o carvão mineral, não renovável)”. Trata-se, pois, de uma proposta de se utilizar algo que a natureza renova “rapidamente”, ao invés de utilizar algo que a renovação ocorre em milhões de anos.

Questão atmosférica é crítica, mas não única; mudanças ambientais são mais amplas com importância regional diferenciada

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Especial - COP 15

Mudança de consumo Ometto ressalta um aspecto importante quando se trata de agir positivamente em relação às mudanças climáticas: “Devemos buscar a mudança nos padrões de consumo e trabalhar para uma economia de baixo carbono, com o que estas iniciativas contribuem, mas não solucionam”. Nesse sentido, a (re)ação tem de atingir todos os níveis sociais. “De forma geral, a iniciativa privada é movida pelos mecanismos de mercado, mas deve-se lembrar que políticas de incentivos governamentais (como redução de impostos) são muito efetivas nas respostas deste setor. Os consumidores, por sua vez, devem atuar primeiro, individualmente, alterando seus padrões de consumo e observando práticas de bom convívio com os

bens naturais (exemplos simples, como não lavar a calçada, reduzir uso de carro, replantar margens de rios são muito importantes). Além disso, a força do consumidor define os rumos das indústrias, se, por exemplo, exigir produtos com menor impacto no ambiente, com selo de origem sustentável ou, mesmo, menor uso de insumos e produtos químicos”, conclui o pesquisador. Mundo dividido Até o fechamento desta edição, a COP 15 confirmava que a divisão do mundo é mais multifacetada do que possa parecer, na constatação de jornalista que cobre o evento: há ricos, com maior poder de influenciar nas negociações, seguidos pelos classe média, pobres e desesperados. Neste caso, Mal-

divas é exemplo de país que está entre os de menor poder de influência na conferência, na ponta debaixo da tabela. Maldivas corre o risco de desaparecer por causa do aumento do nível do mar e, até mesmo por isso, espera grandes cortes de emissões dos países ricos, mas se propõe a ser totalmente neutro em carbono até 2020. A China, maior poluidor atualmente, e os Estados Unidos, historicamente o maior emissor de poluentes, na ponta de cima da tabela, anunciam cortes que vão de 17% a 45% na sujeira que produzem, até 2020. Em que pese tanta disparidade, na quinta-feira, 10 de dezembro (a conferência abriu na segunda-feira anterior), já se dava como certo que o texto de um acordo poderia ser anunciado ainda naquela semana.

Agronegócio na pauta brasileira

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a parte do Brasil, a importância do agronegócio parece unir governo e entidades empresarias ao menos no debate do assunto. Sérgio Serra, embaixador extraordinário do Itamaraty para Mudanças Climáticas,

quer que o agronegócio seja eficaz em três pontos fundamentais: recuperação de pastagens; plantio direto; e integração de pecuária e agricultura. O recado foi dado ainda antes de viajar para a COP 15.

Foto: Lau Polinésio

Fórum da Abag reuniu lideranças da iniciativa privada, do governo e do meio científico: desmatamento tem de passar de ameaça a solução

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Em São Paulo, durante o 17o. Fórum da Associação Brasileira de Agribusiness, em 3 de dezembro - quando o tema foi Copenhague e o Agronegócio Brasileiro -, 130 pessoas, entre lideranças do agronegócio, empresários e representantes do governo e de instituições de ensino e pesquisa, deixaram claro que se dispõem a fazer a sua parte para que o maior vilão das mudanças climáticas no País seja contido: o desmatamento. Carlos Clemente Cerri, um dos debatedores, é realista: “Temos uma possibilidade incrível pela frente. O Brasil pode sair muito mais rapidamente do que os outros países do ranking dos emissores. Se reduzirmos o desmatamento, aumentarmos a produção de biocombustíveis e substituirmos o plantio convencional pelo plantio direto, podemos mitigar e deixar o Brasil em posição de destaque”. Opinião de peso para quem é engenheiro agrônomo e pesquisador da relação entre agricultura, clima e meio ambiente, ao falar


Fotos: Greenpeace

Jovens de várias partes do mundo fazem vigília em Copenhague em defesa do planeta; um dos recados tem endereço certo: “salve a Amazônia!”

sobre Emissões de gases do efeito estufa no Brasil e opções de mitigação pela agricultura, pecuária e silvicultura. Cerri, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (USP), está entre as maiores autoridades mundiais em sua especialidade. Cenário de incertezas Para Carlo Lovatelli, presidente da Abag, “apesar do cenário de incertezas que paira sobre a COP 15, acreditamos que ao menos um acordo seja alinhado entre os países para o futuro na questão da redução do efeito estufa”. Se o cenário é incerto, Lovatelli está convicto de que “o Brasil tem grandes possibilidades para assumir um papel de liderança nesse processo”. Isto porque, lembra, dispõe de matriz energética limpa (mais de 40%) e pratica a moratória da soja, desde 2006, agora citada como referência de negociação pelas mais importantes ONGs do mundo.

O presidente da Abag diz que só falta ao Brasil “se desvincular da imagem negativa quanto às emissões por desmatamento, e tenho certeza de que venceremos esse desafio também”. O Fórum Abag contou também com a participação de Marcos Sawaya Jank (Perfil desta edição de NEO MONDO), presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica); Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); e Rodrigo Lima, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). Estabelecimento de metas e prazos para a redução das emissões de gases do efeito estufa; combustíveis de baixo carbono; metodologias para calcular a emissão e sequestro de gases do efeito estufa; mecanismos de redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação das Florestas (Redd) e Mercado de Carbono predominaram entre os assuntos abordados.

De comum, nas apresentações, a redução do desmatamento como questão de honra para um país que se pretenda afirmar entre os mais influentes do planeta. Custo - investimento Moutinho, do Ipam, ao falar sobre Mudanças Climáticas, Redd e Mercado de Carbono, esclareceu: “O custo estimado para que o desmatamento brasileiro tenha um fim está entre US$ 7 bilhões e US$ 18 bilhões até 2020”. O que, lembra, “deve ser encarado como investimento, pois pesquisas apontam que a preservação da floresta amazônica poderá render entre US$ 70 bilhões e US$ 110 bilhões nos próximos 10 anos com negociações de crédito de carbono”. Moutinho revelou que há na Amazônia 47 bilhões de toneladas de carbono armazenadas. E constata: “Não estamos ganhando nada com isso; precisamos do reconhecimento internacional pelos esforços que estamos fazendo”.

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Rafael Pimentel Lopes

o humor gráfico e o aquecimento global

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odo mundo já ouviu falar em humor negro, mas ultimamente o que vem tendo bastante destaque é o que poderíamos chamar de humor verde. Com a questão ambiental sendo discutida diariamente e transmitida pela grande mídia, tópicos relacionados às mudanças climáticas são cada vez mais abordados pela lente do humor. As sátiras envolvem os mais diversos elementos, até mesmo ícones religiosos e passagens bíblicas. Para alguns humoristas, São Pedro não parece estar muito preocupado com o que está acontecendo com o planeta. Pelo contrário. Em um cartum australiano bastante irônico, um senhor de barba branca aparece sentado confortavelmente numa nuvem, esticando as pernas e aquecendo os pés em cima do planeta Terra. Com a previsão de aumento do nível do mar como consequência das mudanças climáticas, os trabalhos não poderiam deixar de fazer referência a uma das narrativas mais emblemáticas da Bíblia: o dilúvio universal. A arca de Noé, na visão de um ilustrador holandês, reaparece em pleno século XXI no topo de um prédio do governo, resgatando carros oficiais de dois em dois. A ideia de “Inferno na Terra” em decorrência do aquecimento do planeta também é explorada. Em um cartum na Alemanha,

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vemos a porta de entrada do Inferno com o seguinte aviso: “Estamos fechando em 2012 e nos mudando para o planeta Terra”. A força da imagem do planeta é usada em diferentes metáforas, sendo combinada com outros elementos que transmitem a ideia de calor. Por exemplo, em um cartaz onde uma panela “frita” o mapa mundi, ou em outro onde o globo terrestre está dentro de um forno de micro-ondas. O efeito desse calor infernal, principalmente o derretimento de geleiras, também rende várias analogias. Em um pôster na Inglaterra, vemos uma casquinha de sorvete com o globo terrestre derretendo em cima. Já em uma ilustração no melhor estilo surrealista, há um quadro que mostra um iceberg derretendo, enquanto a água escorre pela parede até o chão. Um dos cenários mais frequentes para os cartuns sobre as mudanças climáticas é, sem dúvida, o Polo Norte. Por ser de fácil identificação e simples representação gráfica, são inúmeros os desenhos que trazem elementos característicos dessa região. Em um deles, um iglu é construído com caixas de papelão em vez de pedras de gelo. Nesse cenário de geleiras, os animais são normalmente os personagens centrais do humor gráfico, principalmente pinguins

e ursos polares. As situações são sempre inusitadas, como no caso de uma ilustração nos Estados Unidos que mostra uma pilha de pinguins sentados uns sobre os outros para poderem caber em cima de uma minúscula placa de gelo. Ou em outro painel onde um pinguim lê uma placa que diz: “Cuidado, chão molhado!”. É claro que muitas pessoas podem achar o humor verde de gosto tão duvidoso quanto o humor negro, argumentando que o problema do aquecimento global é grave demais para ser alvo de brincadeiras. Mas, na verdade, quanto mais inconvenientes as verdades, mais convenientes para esse tipo de humor elas são. O propósito desses trabalhos não é simplesmente fazer rir, mas principalmente fazer pensar com uma “provocação visual”. E para conseguir esse tipo de efeito, o poder de síntese e a força do humor gráfico são ferramentas imprescindíveis. Publicitário da Jung von Matt, em Berlim Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School E-mail: rafael.lopes@jvm.de


Neo Mondo - Outubro 2008

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Meio Ambiente

Pedro Martinelli

Compromisso com a Natura quer reduzir 10% das Elizabeth Lorenzotti

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Pedro Martinelli

maior empresa brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, com receita bruta de R$ 4,7 bilhões em 2008, é também integralmente comprometida com a questão ambiental. “Pelo conjunto de nossas ações, práticas e resultados, estamos convencidos de que é plenamente possível adotar o desenvolvimento sustentável como fundamento para a atuação empresarial”, afirma a empresa em seu posicionamento frente às mudanças climáticas. No dia 10 de dezembro, em um evento paralelo à 15ª Conferência das Partes (COP 15), em Copenhague, a empresa anunciou sua adesão ao programa Defensores do Clima do WWF-Brasil e seu compromisso em reduzir em 10% as emissões absolutas dos seus processos operacionais até 2012, em relação ao ano de 2008. O programa Defensores do Clima, da Rede WWF, está sendo inaugurado no Brasil por meio de acordo com a WWF-Brasil, organização não governamental brasileira que trabalha em articulação com a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza. O programa global conta com 22 empresas participantes, entre as quais CocaCola, IBM, Tetrapak, Nokia, National Geographic e Sony, que prometem, juntas, reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 50 milhões de toneladas de CO2 até 2010, o equivalente às emissões anuais da Suíça.

A castanha-do-brasil (Bertholletia Excelsea), ameaçada de extinção, é uma espécie utilizada na produção de insumos adquiridos pela Natura. A empresa compra esse insumo apenas de áreas certificadas


questão ambiental Segundo Alessandro Carlucci, diretorpresidente da Natura, “ao aceitar o desafio proposto pelo WWF-Brasil, estamos dando mais um passo em nosso compromisso com a sustentabilidade e garantindo que, independentemente do nosso crescimento, reduziremos nossas emissões de gases do efeito estufa relacionadas às nossas operações”. A preocupação da Natura com a sustentabilidade é antiga. Em 1983, foi a primeira empresa a oferecer ao mercado produtos com refil. No ano 2000, lançou a linha Ekos, uma plataforma de produtos desenvolvida a partir do uso sustentável da biodiversidade brasileira. Em 2005, optou por substituir totalmente o uso da gordura animal por óleos vegetais na linha de sabonetes e, posteriormente, fez o mesmo trocando os óleos minerais na linha de óleos corporais. O uso do álcool orgânico, hoje presente em mais de 70% dos produtos da Natura, também foi adotado, uma vez que este material possui um volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) 54% menor do que o do álcool tradicional. Em 2007, a Natura assumiu uma meta arrojada: reduzir, até 2011, suas emissões de CO2 em 33% por quilo de produto em toda a sua cadeia produtiva, desde extração da matéria-prima ao descarte. No fim daquele ano, a empresa comemorou a redução de 7% das suas emissões relativas de GEEs, na comparação com 2006, e de mais 3% em 2008. Isso significa que as emissões relativas por produto, que eram de 3,93 kg de CO2e por kg de produto faturado em 2006, caíram para 3,57 kg de CO2e por kg de produto faturado em 2008. O modelo envolve toda sua cadeia de negócios. Dessa forma, a Natura oferece aos seus clientes produtos carbono neutro. Programa Carbono Neutro “O Programa Carbono Neutro surgiu do nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável e com um modelo de negócio que não apenas gera, mas compartilha com toda a sociedade, resultados econômicos,

sociais e ambientais”, afirma Marcos Vaz, diretor de Sustentabilidade da Natura. “Fizemos um inventário para reduzir todas as nossas emissões e só o que não é passível de ser reduzido é compensado pelos projetos selecionados pelo edital.” Em 2008, a empresa investiu cerca de R$ 3,3 milhões em projetos relacionados às mudanças climáticas. Este valor representa 6% do total de investimentos no período e 58% do total aplicados em meio ambiente pela Natura, em projetos ou ações não relacionados aos negócios da empresa e que extrapolam as exigências legais. Para compensar todas as emissões que não forem passíveis de redução, serão neutralizadas as emissões referentes a 2008 por meio do financiamento de projetos de desmatamento evitado e de reciclagem atrelados à questão do carbono. Segundo Vaz, “no total serão compensadas 228 mil toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente), contra uma emissão de 188.051 mil toneladas de CO2e”. Cinco projetos de compensação foram escolhidos por edital público realizado de junho a setembro de 2008. A Natura recebeu 61 propostas, abrangendo diversos temas como eficiência energética, reflorestamento e Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação e Reciclagem (Redd). Os projetos selecionados, além de benefícios ambientais mensuráveis, também propiciam ganhos sociais para as comunidades envolvidas. (leia Box) “Com a divulgação do edital, queremos mais do que prestar contas à sociedade, queremos trocar experiências, falar de aprendizados e desafios com todos aqueles que acreditam no desenvolvimento sustentável”, completa Marcos Vaz. Desde 2007 a Natura passou a publicar anualmente o inventário de emissões de GEE de sua cadeia produtiva. Essas informações estão sempre disponíveis nos seus canais de comunicação e em outros instrumentos de mobilização e prestação de contas, como o Carbon Disclosure Project, iniciativa que procura formar uma

Pedro Martinelli

emissões até 2012

Marcos Vaz: “O valor de uma empresa está ligado à sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade e em uma gestão socioambientalmente responsável”

base de dados corporativos sobre mudanças climáticas. A Natura defende também que os dados de emissões devam constar dos rótulos dos produtos para evidenciar o impacto, ampliar a consciência do consumidor e estimular a adoção de padrões mais sustentáveis. Criada em 1969 a partir de um laboratório e uma pequena loja em São Paulo, hoje a empresa possui cerca de 5,7 mil colaboradores. Sua força de vendas é formada por 938,8 mil consultores, sendo 798,7 mil no Brasil e 140,1 mil em países da América Latina. E o retorno dos clientes à sua política é positivo. Os consumidores costumam contribuir com os projetos desenvolvidos pela companhia. A Natura mantém um projeto de Reciclagem Logística Reversa, implantado em Recife e São Paulo, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental das embalagens. O trabalho envolve também os consultores, que incentivam os clientes a devolver essas embalagens, levadas para reciclagem. Em dois anos foram arrecadados 210 mil quilos de materiais recicláveis. Neo Mondo - Dezembro 2009

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Meio Ambiente

Os projetos selecionados São os seguintes os projetos selecionados por edital público pela Natura para compensar totalmente o volume de CO2e emitido por suas operações em 2008. 1. Carbono, Biodiversidade e Comunidade no Corredor Ecológico Pau Brasil. O projeto tem como objetivo a promoção do reflorestamento para restabelecer um corredor de vegetação nativa que unirá dois importantes fragmentos protegidos da mata atlântica: o Parque Nacional do Pau Brasil e o parque nacional de Monte Pascoal, ambos no estado da Bahia. Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 79.050 toneladas de CO2e. 2. Uso da Biomassa Renovável em Indústrias Cerâmicas. Propõe alternativas sustentáveis para substituição da madeira por fontes renováveis em duas indústrias ceramistas em Alagoas. No lugar da lenha, serão empregadas biomassas renováveis como o bambu, a serragem, a casca de coco e o bagaço de cana. Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 60 mil toneladas de CO2e. 3. Carbono Socioambiental do Xingu. O projeto faz parte da campanha ‘Y Ikatu Xingu’ que se desenvolve desde 2004 na região das cabeceiras do Xingu, com o objetivo de promover a recuperação de áreas de Preservação Permanente dos cursos d’água . Para a compensação das emissões geradas pela Natura, prevê a remoção do carbono ao longo do período de 30 anos, com a recuperação de 116 hectares de APPS (áreas de proteção permanentes) degradadas nos municípios de Canarana, São José do Xingu, Querência, Cláudia e Marcelândia, onde o Instituto Sócio Ambiental o ICV (Instituto Centro de Vida) e seus parceiros estabeleceram parcerias com as prefeituras municipais. Um ponto importante do projeto é a tecnologia inovadora que inclui o plantio mecanizado de sementes para recomposição da vegetação nativa, envolvendo os funcionários das propriedades e aproveitando a infraestrutura do modelo agropecuário utilizado na região. Também está sendo estruturada uma rede de sementes que mobiliza pequenos produtores e populações indígenas para a coleta de material de campo.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 40 mil toneladas de CO2e.

4. Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma. O objetivo é conter o desmatamento e a consequente emissão de GEE na Reserva de desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma, no Amazonas.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 30 mil toneladas de CO2e.

5. Fogões Eficientes no Recôncavo Baiano. Pretende substituir o uso de fogões à lenha rudimentares por fogões eficientes, com tecnologia mais eficiente, menos nociva às famílias e com consumo reduzido de lenha. Com a implementação dos fogões eficientes, o projeto reduzirá as emissões de GEE (gases do efeito estufa) das famílias envolvidas em até 60%, contribuindo para a proteção dos remanescentes de mata atlântica e melhorando a qualidade de vida da população.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 18.880 de CO2e.

Natura - Ciclo do Carbono (% de Emissões) - Em 2008: 188.051 toneladas de CO2 e 3,57 kg de CO2e/kg produto

www.natura.net/carbononeutro

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O Parque de Pico dos Marins (2422m altitude)Piquete - SP

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egundo a lenda, viveu entre as montanhas a mais linda pequena nascida naquelas terras. Ainda jovem, banhando-se nas cascatas geladas da Mãe Serra, Tilá-Tilá encantou os mais fortes e determinados guerreiros dos diferentes grupos étnicos daquela região. Mas, ofuscado por intensos brilhos de luz, seu coração só atentava ao poderio do Sol, o provedor generoso que fielmente iluminava toda a criação de Tupã, aquecia-lhe o corpo já na aurora e tonalizava-lhe a pele durante seu passeio diário sobre a terra. Os mais velhos contaram que lhe custou a juventude até que conseguisse a atenção do grande guerreiro brilhante. Este, que nunca vira tamanha harmonia para reunião de graças e belezas, abandonou seu itinerário sem permitir que a noite caísse novamente para que as tribos alcançassem a terra dos sonhos. Então, Irmã Lua, cravada de ciúmes, cobrou providências de Tupã que, munido de infinita sabedoria colhida nos prados brandos da eternidade, determinou a sete nuvens escuras e aos seus irmãos raios e ventos que desdobrassem sobre a linda Tilá-Tilá os maiores maciços rochosos da Mãe Serra. Restabeleceu-se, pois, a normalidade dos tempos. Passadas três primaveras, todas aldeias viram, estupefatas, a Serra Mãe verter no-

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vos e caudalosos riachos, encachoeirandose para formar as abençoadas veias d´água que hoje nós, os herdeiros das histórias das bandeiras e das catas de ouro, chamamos de “Paraíba do Sul” e “Rio Grande”. Então, em uma homenagem mea-culpa à intensidade da paixão testemunhada naquela terra, Tupã nomeou a Mãe Serra de Amantigir , para nós, Mantiqueira - A Serra que Chora. Ainda em 2009, sob o guarda chuva do conceito de “Desenvolvimento Sustentável”, acompanho daqui – tão estupefato quanto os lendários índios - verdadeiras batalhas corporativas protagonizadas pelos representantes públicos, governamentais ou não, das “tribos” ambientalistas e desenvolvimentistas – em especial os ruralistas -, com suas ideologias lendárias. Na arena do combate, projetos de leis, medidas provisórias e uma infinidade de pseudo-audiências públicas que darão a sorte das alterações do Código Florestal Brasileiro (CFB), da regularização (da grilagem) fundiária na Amazônia legal, da obrigatoriedade dos critérios técnicos a serem observadas para licenciamentos ambientais de obras do PAC – situações especiais??? –, do pagamento pelos serviços ambientais e, para não me estender, também da política nacional de criação de Unidades de Conservação no país.

Esta última destaca-se por ser uma imensa demanda diante dos olhos de Tupã, caracterizada pela diferença de argumentos de ilustres guerreiros da história interna do movimento conservacionista mundial, tais como Maria Tereza Jorge Pádua e Antônio Carlos Diegues, que defendem, respectivamente, a criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral e a criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, ambas previstas na Lei 9.985/2000 que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) no Brasil. Todavia, as experiências bem sucedidas de criação e de gestão de Unidades de Conservação na América Latina - com destaque para os processos desenvolvidos na Costa Rica, no Peru e na Colômbia – revelaram premissas de participação social determinantes para o sucesso das respectivas Unidades em questão. Priorizou-se nesses países uma construção de longo prazo, de “baixo para cima”, baseada em processos sociais já em andamento, valorizando e organizando atores sociais e institucionais locais e, principalmente, validando os potenciais benefícios que gerassem alternativas econômicas como estratégia para se chegar a um pacto de defesa da Unidade de Conservação pelas comunidades locais.


Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Hoje, aqui na “Serra que Chora”, convivemos com uma nova realidade: a proposta da criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira - ou Cristas da Mantiqueira, ainda não está definido o nome do iminente parque – que terá a nobre função de possibilitar e promover conectividade gênica de fauna e flora que hoje ocorrem isoladas em outras duas importantes áreas protegidas na região: o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Estadual de Campos do Jordão. E mais uma vez, as ideologias adversárias colocadas na arena do combate pelas tribos ruralistas e ambientalistas não passarão de lendas - como a da índia Tilá - caso não seja encontrado o abençoado caminho da concordância. Um trágico exemplo: incêndios criminosos ainda persistem quase que anualmente no Parque Nacional do Itatiaia – o mais antigo do Brasil, criado em 1937 – devido, provavelmente, pela não aceitação das restrições impostas às comunidades tradicionais do local. Por outro lado, no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, no sul do Estado de São Paulo, a adoção de gestão participativa direta da comunidade no processo de elaboração do Plano de Manejo da Unidade vem consolidando, desde 1997, uma das mais bem sucedidas experiências brasileiras em administração de Áreas Protegidas. Assim como nos países supra citados, a gestão ambiental na Ilha do Cardoso compreende iniciativas que deram certo por observarem peculiaridades locais através de regulamentações também locais, com participação efetiva da sociedade organizada – repito: peculiaridades locais observadas por organização social local. Hoje, imersos no “Mosaico de Unidades de Conservação da Serra da Mantiqueira” – conjunto de áreas protegidas na região, reconhecido pelo ato de assinatura da Portaria Ministerial N.351, em 11/12/2006, pela então ministra e atual Senadora Marina Silva – os empreendedores e moradores rurais da região da

Mantiqueira criam seus filhos perante imbróglios legais que remetem a 1965, ano da última alteração do CFB. Abrigando cerca de 120 milhões de brasileiros e gerando 70% do PIB do país, a Mata Atlântica - e suas atuais tribos - não podem mais assistir passivamente aos atropelos sócio-ambientalmente desastrosos dos pseudocaciques de Brasília. Urgem por aqui as participações locais de diferentes segmentos da sociedade para o planejamento da definição dos limites desse novo parque nacional, bem como das políticas públicas para desenvolvimento econômico das comunidades que serão diretamente afetadas pela sua criação, em especial os produtores e comunidades rurais. Com esse propósito, a Fundação ROGE - instituição sem fins lucrativos que oferece ensino médio profissionalizante, entre outras ações de responsabilidade social na região – analisa atualmente uma proposta de acordo de aproximação com o Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio / Ministério do Meio Ambiente) através de um

Termo de Cooperação Técnica com a gerência da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira (APASM) para identificação de parceiros que possam apoiar financeiramente a realização de ações conjuntas de implementação de projetos e programas visando a sustentabilidade na Serra da Mantiqueira. Que Tupã nos ajude nessa tarefa e continue a abençoar nossos curumins com as águas puras da paixão de Tilá-Tilá.

Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Professor da Escola Técnica LIMASSIS / Fundação ROGE Produtor Rural e Consultor Ambiental em Sistemas de Produção Animal Zootecnista e Mestre em Produção Animal pela Universidade Federal de Lavras Membro Titular do Conselho Consultivo da APA da Serra da Mantiqueira (CONAPAM) Ex-presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Piquete - SP

Mosaicos de UC´s da Mata Atlântica: Serra da Mantiqueira e Serra do Mar

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Meio Ambiente/Biocombustível

Ampliação da porcentagem de utilização no diesel mineral e o surgimento de novas opções de matérias-primas fazem do biodiesel o assunto do momento Rosane Araujo

N

“Mesmo na pior das hipóteses, a produção de biocombustíveis é melhor do que a gasolina. O nosso é melhor ainda”, afirmou o diretor do Departamento de Energia do Ministério de Relações Exteriores, André Corrêa do Lago, comparando a produção brasileira com a de outros países. Biodiesel e etanol ganharam tanto destaque que foram apresentados pelo governo como alternativas para a redução do efeito estufa durante os debates da 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15), realizada de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague (Dinamarca).

Em paralelo à discussão na COP 15, o governo divulga medidas visando promover um crescimento ainda maior do setor. Até março de 2010, setores do governo e da iniciativa privada ligados ao desenvolvimento do biodiesel brasileiro lançarão uma agenda conjunta para os próximos cinco anos visando ampliar a produção nacional. “Estão sendo desenvolvidas pesquisas com vários produtos, como semente de girassol, pinhão manso, óleo de dendê, canola e até cana-de-açúcar, mas ainda é importante se buscar outras fontes de biodiesel”, afirmou o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone,

Bruno Veiga / Petrobrás

a edição passada, NEO MONDO iniciou uma série de reportagens que discutirá diferentes aspectos dos biocombustíveis, aqueles que são produzidos a partir de fontes renováveis de energia. A matéria de abertura introduziu os conceitos e, nesta edição, a discussão atinge um dos personagens principais da história: o biodiesel. Desde que passou a ser utilizado na composição do diesel mineral, o biodiesel vem gradativamente virando um dos “queridinhos” dos órgãos ligados à produção de energia, ao lado do etanol.

Colheita de mamona - Cooperativa Terra Livre, no Rio Grande do Norte 32

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Diversidade de matérias-primas Segundo dados divulgados em novembro pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a soja ainda é disparada a principal matéria-prima utilizada para produção de biodiesel, representando 77,35%, seguida pela gordura bovina com 15,48%, o óleo de algodão com 4,29% e outros materiais graxos com 2,88%. A liderança, porém, é polêmica. No início deste ano, uma forte alta no preço do produto no mercado mundial, refletiu diretamente nos lucros dos produtores brasileiros, ameaçando acabar com as expectativas otimistas de crescimento do setor. Sua utilização também é criticada por autoridades que consideram antiético o uso de grãos passíveis de serem utilizados na cadeia alimentar humana ou animal para produção de biocombustível. O próprio presidente Luíz Inácio Lula da Silva já se demonstrou contrário à dependência da soja. “O país não pode continuar a depender apenas da soja. Perdemos 28 anos [desde que o biodiesel foi patenteado, em 1975]. Essa decisão já deveria ter sido tomada”, afirmou. A segunda matéria-prima do ranking, a gordura bovina, envolve outra polêmica: a pecuária é apontada como um dos principais fatores que impulsionam o desmatamento da Amazônia. Segundo o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, divulgado pela ONG Repórter Brasil, dos cerca de 199,7 milhões de bois contabilizados em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em todo o território nacional, 13% estavam no Mato Grosso. “Não por acaso, o estado também abriga o maior número de cabeças de gado no bioma amazônico: 17, 9 milhões”, cita o relatório. O trabalho também menciona a tese de doutorado ainda não defendida pelo pesquisador Bernardo Strassburg, da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, que cruzando dados oficiais concluiu que 69% do desmatamento da Amazônia no período de 1997 a 2006 ocorreu devido à pecuária. Finalmente, na terceira colocação do ranking de matérias-primas utilizadas para obtenção de biodiesel, está o óleo de algodão, com pequena participação.

Petrobrás

após participar da oitava reunião ordinária da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel, no dia 25 de novembro. Com a introdução, a partir de janeiro de 2010, do biodiesel B5 (5% de biodiesel adicionado ao diesel mineral), a demanda pelo produto certamente será ainda maior.

Laboratório de biodiesel da Petrobrás Biocombustível Em relação aos dois anteriores, o algodão é visto com bons olhos já que sua produção é dominada por pequenos agricultores, que podem aproveitar três subprodutos: a fibra, o óleo e a torta — utilizada como ração animal no lugar do farelo de soja. A única ressalva é quanto ao avanço deste cultivo de forma desordenada no cerrado, um bioma seriamente ameaçado. “Suas áreas planas, com alta incidência de sol e chuvas regulares, têm atraído grandes empreendimentos agrícolas, que aproveitam que as leis autorizam desmatamentos de até 80% da área de uma fazenda – na Amazônia, o limite é de apenas 20%”, alerta o relatório da Repórter Brasil. Outros materiais graxos O quarto item do gráfico de matériasprimas utilizadas na produção do biodiesel brasileiro é identificado como “outros materiais graxos”. Alguns destes materiais são: girassol, mamona, palma, macaúba e pinhão manso.

Apesar da pouca representatividade atual, esses itens têm merecido grande atenção de pesquisadores e produtores, já que poderiam solucionar alguns dos problemas apontados pelos críticos do biodiesel: podem ser cultivados por pequenos produtores, estimulando a agricultura familiar; não estão incluídos na cadeia alimentar humana nem animal. A mamona despontou, em 2005, como a grande esperança do Programa Nacional do Biodiesel, mas a produção usando apenas óleo de mamona mostrou-se inviável, já que pelos parâmetros da ANP, o biodiesel é muito viscoso e poderia danificar os motores. Recentemente, a Petrobrás Biocombustível informou ter concluído todo o processo tecnológico que permite à empresa produzir biodiesel a partir do óleo de mamona - dentro das especificações técnicas da ANP -, que estipula o limite de 30% do óleo de mamona em cada litro de biodiesel. Com a redução da expectativa da mamona, uma outra oleaginosa surgiu no

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Meio Ambiente/Biocombustível Divulgação

Congresso reuniu pesquisadores para definição de um programa de desenvolvimento do pinhão manso cenário das pesquisas, com grande potencial: o pinhão manso. Segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), desde 2005, a espécie está sendo plantada em áreas comerciais e experimentais, visando seu entendimento e aproveitamento para a produção de óleos. O órgão organizou nos dias 11 e 12 de novembro, em Brasília, o I Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso, que contou com cerca de 400 participantes debatendo sobre a oleaginosa. Os resultados dos trabalhos discutidos nos grupos especiais Tecnologia Agronômica, Industrial e Estudos Transversais servirão de base para a finalização do documento do programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação do pinhão manso a ser enviado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento até o final deste ano. “O Congresso se firmou como um importante fórum para tratar destas questões de avanço do conhecimento, do monitoramento e qualificação da expansão de áreas com pinhão manso e dos critérios para a ampliação da parceria público-privada no Brasil”, ressaltou Frederico Durães, chefegeral da Embrapa Agroenergia. O pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, também participou do Congresso apresentando o tema “Recursos genéticos e aprimoramento do pinhão manso”. Após o evento, Bruno conversou por email com a reportagem de NEO MONDO. Confira a seguir suas conclusões. Neo Mondo: Em que nível está a pesquisa sobre o pinhão manso? Qual a sua expectativa a respeito? Bruno Laviola: O pinhão manso é uma oleaginosa que apresenta grande potencial para produção de biodiesel em diferentes regiões no 34

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país e isto se deve a algumas características da cultura, como: potencial de rendimento maior que as oleaginosas convencionais (por exemplo, a soja produz 500 kg/ha de óleo); cultura perene, não necessitando de renovação anual de plantio; cultura não alimentar, não apresentando concorrência direta com a agricultura de alimentos; os espaçamentos adotados permitem o cultivo de culturas intercalares na fase inicial de estabelecimento, permitindo a produção de energia e alimentos em uma mesma área; opção potencialmente interessante para agricultura familiar; possibilidade de diversificação das atividades agrícolas tradicionais em algumas regiões, sendo mais uma alternativa de renda; cultura pouco mecanizável e altamente dependente de mão-deobra, gerando emprego no campo. Por outro lado, o pinhão manso é uma espécie que não está domesticada, carecendo ainda do desenvolvimento de cultivares comerciais e sistema de produção que suporte o seu plantio em diferentes regiões produtoras de biodiesel no país. A Embrapa estruturou um projeto nacional em rede desde 2008, no qual são desenvolvidas várias ações de pesquisa com o pinhão manso, desde a implantação de bancos de germoplasma até trabalhos de nutrição mineral e adubação, densidade de plantas, podas, relações hídricas, controle de pragas e doenças, colheita, qualidade, entre outras. É um projeto completo, com 126 atividades de pesquisa distribuídas em todas as áreas da cadeia de produção da oleaginosa.

Neo Mondo: Você acredita que a longo prazo os biocombustíveis poderão substituir os combustíveis fósseis?Qual sua previsão de quando isso possa acontecer? Bruno Laviola: Como a cada ano são descobertas novas reservas de petróleo é muito difícil estabelecer um prazo com precisão para o fim destas energias não-renováveis. Porém, a cada ano o consumo no mundo aumenta e é certo de que as reservas de petróleo vão se esgotar. Os biocombustíveis surgem como uma opção a curto prazo no sentido de postergar o fim das energias não-renováveis e a longo prazo como uma opção para substituir estas fontes. No Brasil o consumo de álcool já está equiparando ao consumo de gasolina e a tendência é que o Brasil passe a consumir mais álcool que gasolina. Neo Mondo: O Brasil é apontado como uma futura potência na produção de biocombustíveis. Você concorda? Por quê? Bruno Laviola: O Brasil é um dos únicos países que pode expandir a agricultura de energia sem competir com a agricultura de alimentos. No futuro, o país será o maior produtor de energias de biomassa e alimentos do mundo. Temos atualmente cerca de um quarto das reservas de água doce do planeta, temperaturas adequadas ao crescimento das plantas o ano todo e uma área para expansão agrícola de mais de 65 milhões de hectares, o que permite ao país expandir a agricultura de alimento e energia sem competição e sem gerar pressão sobre as áreas de florestas e de preservação ambiental.

Matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel 4,29%

2,88%

15,48% 77,35%

Óleo de Soja Gordura Bovina Óleo de Algodão Outros Materiais Graxos Mês de referência: Outubro/2009 Fonte: ANP


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O Etanol S

emanas atrás, a revista The Economist dedicou não só a capa, mas uma matéria de 14 páginas ao Brasil, enaltecendo inúmeras qualidades do Pais e advertindo sobre outros tantos vícios. Isso se deu no momento em que o País vive uma perspectiva de crescimento prolongado, oferecendo oportunidades de investimentos e apresentando um incremento do mercado doméstico e uma larga escala na produção de commodities. No contexto internacional, diga-se de passagem, não há de se falar em um País com oportunidades de investimento similares com tão alto grau de retorno. Chama bastante a atenção o fato de o Brasil ter entrado na crise com uma economia forte e ter saído dela mais forte ainda, com índices de crescimento superiores aos da maioria do resto do mundo. Somos a maior economia da América Latina e o

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quinto país em dimensões territoriais (depois de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos). Além disso, estamos entre as dez nações que mais consomem energia, grande parte dela advinda de fontes renováveis, como a da matriz energética hidráulica, do etanol e do biodiesel. Recentemente, diga-se de passagem, o ex-vice-presidente americano Al Gore, em seu mais novo livro, Our Choice, admitiu seu erro em apoiar o etanol do milho (americano) na década de 70 e salientou a eficiência do etanol da cana (brasileiro), que usa menos fertilizantes na plantação, produz mais biomassa por hectare e que, ainda, pode ter seu bagaço usado como combustível no processo de produção. O que chama muito a atenção no livro de Al Gore é a crítica sobre as altas tarifas impostas pelos EUA para a importação do produto brasileiro.

Pois bem. Diante desse positivo cenário brasileiro, econômico e ambiental, encontramos investimentos em logística e infraestrutura, principalmente enormes projetos em eletricidade e transporte, bem como a descoberta (e início da prospecção) das novas reservas de petróleo (decorrentes do présal), a realização da Copa do Mundo de 2014 e a euforia das Olimpíadas de 2016. É fora de dúvida que todos esses megaeventos necessitarão de bilionários recursos e enormes projetos que, via de consequência, necessitarão de licenciamento ambiental, haja vista os significativos impactos deles decorrentes. A legislação brasileira, com reflexo no desenvolvimento sustentável e no meio ambiente ecologicamente equilibrado, busca regular a atividade econômica, impondo algumas restrições às atividades que causem


Terence Trennepohl

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

brasileiro

e os atuais projetos de infraestrutura

impacto à natureza, sempre levando em conta o futuro das presentes e futuras gerações, conforme enuncia a Constituição Federal. Ora, o etanol brasileiro oriundo da cana-de-açúcar, enquanto uma commodity mundial, já é uma realidade cujas técnicas de licenciamento são dominadas por seus produtores! É um caminho sem volta... para o bem do desenvolvimento sustentável!! Quando se estimam bilhões para a exploração da camada de pré-sal e milhões de dólares para os investimentos esportivos que se avizinham, muito menos do que isso poderia ser feito para consolidar a situação da nossa commodity da cana no contexto da globalização e impulsionar o País no segmento dos combustíveis renováveis. Para não mencionar tudo o que pode ser feito nesse campo, basta citar o exemplo do incremento de alguns incentivos fiscais no

Brasil e a retirada de algumas barreiras comerciais no exterior. É sabido que os investimentos em energias renováveis crescem vertiginosamente, e que em dois anos (2007/2008) elas atraíram montantes globais acima dos US$ 100 bilhões. Incluídos os “produtos verdes” nessa conta, esse mercado chegará a impressionantes US$ 4,7 trilhões em 2020, segundo algumas projeções internacionais. Enfim, a busca por esses “produtos verdes”, e aqui principalmente leiam-se “combustíveis renováveis”, já começou há muito tempo, e o Brasil, indiscutivelmente, está na dianteira desse processo. Basta saber como conduzi-lo! Portanto, no momento em que o País apresenta claros sinais de um real crescimento e fortalecimento econômico, e já estamos sendo tratados em alguns encon-

tros internacionais com a respeitabilidade de país desenvolvido, é chegada a hora de as instituições públicas investirem no que temos de melhor e mais seguro do ponto de vista comercial (e ambiental!). Nesse contexto, a cana-de-açúcar aparece como uma “saudável” e viável alternativa ambiental... E nesse instante surge a questão: por que não investir mais forte e seriamente nesse produto? Fica a questão...

Terence Trennepohl Sócio de Martorelli e Gouveia Advogados Senior Fellow na Universidade de Harvard Doutor e Mestre em Direito (UFPE) E-mail: tdt@martorelli.com.br

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Biomas

Uma viagem pelos

Biomas Brasileiros A superpopulada Zona Costeira

Abrangendo diferentes ecossistemas, o bioma abriga 70% da população nacional Caio Martins

Praia de Copacabana, Rio de Janeiro

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Zona Costeira, bioma que possui 41% da área emersa do Brasil, é a região que ocupa cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados do país. Estendendo-se por mais de 8.500 quilômetros do litoral, o bioma abriga 70% da população brasileira. Por ter em seu território um grande conjunto de ecossistemas, é uma das áreas de maior diversidade nacional.

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Divisão da Zona Costeira A Zona Costeira brasileira possui uma grande variedade de ecossistemas, todos de grande relevância ambiental. Estão presentes dunas, manguezais, costões rochosos, recifes de corais, entre outros. Por serem diferentes, todos os ambientes abrigam espécies únicas de animais e plantas, devido às diferenças climáticas e ao relevo. É na zona litorânea que está

localizado o que restou da Mata Atlântica, uma das maiores biodiversidades do planeta. Além disso, existem os manguezais, áreas de grande importância para a reprodução biótica marinha. Cada um desses ecossistemas é importante à sua maneira e tem significantes reservas de recursos naturais. No entanto, a ocupação desordenada, que será explicada mais para frente, está colocando em risco


Ilhas: Divisão Especial Assim como a Zona Costeira é dividida em diversos ecossistemas, há também uma divisão de ilhas. Ao todo, são três

Wanderson Oliveira

a biodiversidade litorânea. Conheça melhor as divisões da costa brasileira: 1. Litoral Amazônico: começa na foz do rio Oiapoque e vai até o delta do rio Parnaíba. Os manguezais são predominantes na região, assim como as matas de várzeas de maré, praias e campos de dunas. Por conta desses ecossistemas, o litoral amazônico apresenta uma grande diversidade de crustáceos, peixes e aves. 2. Litoral Nordestino: começa na foz do Parnaíba e continua até o Recôncavo Baiano. Suas maiores características são as dunas que se movimentam com o vento e os recifes calcíferos e areníticos. É nesta área do Nordeste que se encontram o peixe-boi e as tartarugas marinhas, ambos ameaçados de extinção. 3. Litoral Sudeste: vai do Recôncavo Baiano até São Paulo e é a área com a maior densidade demográfica do país. Com a costa muito recortada, é tomada pela Serra do Mar. Entre as características mais marcantes do litoral sudeste estão as praias de areias monazíticas (mineral marrom escuro), os recifes e as falésias. As espécies que habitam essa parte do litoral são a preguiça-de-coleira e o mico-leãodourado, animais em extinção. 4. Litoral Sul: começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Por possuir áreas predominantemente de mangues, é mais comum a aparição de aves. Outras espécies frequentes são as lontras, capivaras e ratões-do-banhado.

Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas, que pertence ao estado do Rio Grande do Norte

tipos, sendo que a maioria delas nasceu a partir da imersão de partes de terra da costa brasileira. Por tal motivo, são consideradas prolongamentos do litoral do país. São elas: 1. Serra do Mar: conjunto de ilhas que aparecem como pedaços emersos de porções que ficam abaixo das águas da Serra do Mar. São centenas delas, que são encontradas ao longo do litoral. 2. Litoral Paulista: são porções de ilhas que se encontram no litoral de São Paulo. São considerados pedaços de terras sedimentares de baixa altitude, denominadas como prolongamento do estado. Exemplo: Ilha Comprida, que é um longo segmento de território isolado pelo mar. 3. Ilhas oceânicas: São ilhas resultantes de fenômenos naturais, como o vulcanismo submerso no fundo atlântico. Neste caso, são conside-

radas totalmente desvinculadas do relevo continental brasileiro. Exemplos: Fernando de Noronha e Atol das Rocas. Fauna Marinha O bioma abriga também uma enorme variedade de animais marinhos, divididos em zonas. Em especial, detalharemos três delas: 1. Zona médiolitoral: é a zona com maior consistência marítima, sendo, portanto, possuidora da maior variedade de espécimes aquáticas. Entre os animais característicos estão a craca (Chtamalus stellatus), um tipo de crustáceo, a lapa ( Patella piperata), um tipo de molusco, diversas algas cianófitas, diferentes espécies de pequenos poliquetas, crustáceos e outros gastrópodes, além de peixes, como o caboz ( Coryphoblennius galerita).

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Craca (Chtamalus stellatus)

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Caboz (Coryphoblennius galerita)

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Biomas

Raia (Raja clavata)

2. Zona infralitoral: também é muito variada. No entanto, diferencia-se da zona médiolitoral por estar permanentemente debaixo da água. É a área normalmente explorada pelos mergulhadores. Por estar em locais profundos, recebe pouca luz, observando-se, então, a presença de algas fotófilas, enguias-de-jardim (Heteroconger longissimus), raias (Raja clavata), além de invertebrados, como poliquetas, crustáceos decápodes e moluscos. 3. Zona circlitoral: área marinha coberta por diversos tipos de algas, possuindo, assim, um substrato rico em nutrientes, que facilita o desenvolvimento de pequenos invertebrados. Exemplos de animais são o pargo (Pagrus pagrus), peixe com dorso prateado, e o encharéu (Pseudocaranx dentex), outro tipo de peixe, caracterizado pelas barbatanas amareladas. Superpopulação destrutiva A Zona Costeira possui uma das maiores densidades demográficas do Brasil. Em média, vivem 87 habitantes por quilômetro quadrado, ou seja, cinco vezes mais que a média nacional (17 hab./km²). Como hoje metade da população brasileira vive em regiões que ficam distantes em uma faixa de até 200 quilômetros do mar, ou seja, quase 100 milhões de pessoas, a área acaba sofrendo com a destruição causada pela superpopulação. 40

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Isso impacta diretamente nos ecossistemas litorâneos, principalmente porque a urbanização em torno destas regiões cresce desordenadamente, com carência em serviços básicos. Tal fato acarreta contaminação das águas e, consequentemente, degradação do meio marinho. Além disso, a superpopulação trouxe para a Zona Costeira brasileira atividades agrícolas e industriais. Com ela, a poluição, a especulação imobiliária sem planejamento e ainda o grande fluxo de turistas que, cada vez mais, ameaça a integridade ecológica da costa nacional pressionada pelo crescimento dos grandes centros urbanos. A ”invasão” da área litorânea também causa problemas.

A devastação das vegetações nativas pelos ocupantes leva a movimentação das dunas e até a desabamentos de morros, deformando a paisagem local. Os animais, os vegetais e até mesmo o “filtro” natural, que limpa as impurezas lançadas nas águas, são postos em perigo devido ao aterro dos manguezais. Alguns mangues estão estrategicamente situados entre a terra e o mar para formar um estuário para a reprodução de peixes, mas as submersões parciais das raízes das árvores do mangue espalhamse sob a água e impedem que os sedimentos escoem para o mar. Outros problemas enfrentados pelos moradores da região são o lançamento de esgoto no mar sem nenhum tipo de tratamento e o vazamento de petróleo por parte das transferências de cargas e outras operações feitas pelos terminais marítimos. Além de toda a degradação natural da parte física da faixa litorânea, a cultura dos povos que habitam a área está perto da extinção devido à expulsão das populações caiçaras de seus locais de origem. Tentando contornar esses problemas, o Ministério do Meio Ambiente, em cooperação com o Conselho Interministerial do Mar, os governos estaduais e outras instituições, está tentando ordenar e proteger os ecossistemas com a implementação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC). Por sua vez, o Ibama fica encarregado de desenvolver projetos e ações contínuos de gerenciamento dos ecossistemas costeiros. Anselmo Garrido

Divulgação

Praia do Forte, Bahia


Curiosidades Wanderson Oliveira

• O Brasil possui 7.367 km de linha costeira. No entanto, se levados em conta os recortes litorâneos, como baías, reentrâncias e golfões, a área aumenta para mais de 8,5 mil km. • Quase toda Zona Costeira brasileira está virada para o Atlântico Sul. No entanto, há uma pequena porção que divide águas com o Mar do Caribe. • O Amapá é o estado que possui a maior área costeira do Brasil (cerca de 12,3% do total). Por outro lado, a área do Piauí não passa de 0,2% do total.

Fernando de Noronha, Pernambuco

• A Zona Costeira tem densidade • Somente na costa do Rio Grande demográfica média cinco vezes do Sul, foi registrada a presença maior que a média nacional (87 de aproximadamente 570 espéhab/km² contra 17 hab/km²). cies de aves diferentes. • O arquipélago de Fernando de No- • Como a Zona Costeira recebe a maior parte das águas dos prinronha, uma das mais belas regiões cipais rios do País, o bioma é um da Zona Costeira, fica a 345 km do dos mais vulneráveis às consenordeste brasileiro e é constituído quências ambientais negativas por uma ilha principal e 19 ilhotas, (resíduos de agrotóxicos, adupossuindo um dos maiores índices bos e efluentes das indústrias). de biodiversidade marinha do Brasil.

Fontes: - Almanaque Brasil Socioambiental ISA 2008 - Ambiente Brasil www.ambientebrasil.com.br - Animal Show www.animalshow.hpg.ig.com.br - Mundo de Sabores www.mundodesabores.com.br - WWF Brasil – www.wwf.org.br

Receita Típica da Zona Costeira: Mariscos Gratinados Ingredientes: • 1 e ½ quilos de mariscos • 2 colheres de sopa rasas de manteiga ou margarina • 50 gramas de farinha de rosca • Pimenta-do-reino em pó • 1 maço de salsa picado • Óleo ou azeite • Sal

8. Deixe cozinhando no fogo alto durante alguns minutos; 9. Quando estiver com uma boa consistência, adicione a salsa picada; 10. Polvilhe com sal e pimenta-do-reino; 11. Despeje a mistura nos mariscos; 12. Regue com bastante óleo ou azeite e leve ao forno quente, deixando a forma durante 5 minutos, para gratinar; 13. Retire do forno e sirva imediatamente.

Preparo: 1. Raspe as conchas dos mariscos com o auxilio de uma faca; 2. Lave-as muito bem e despeje-as numa frigideira grande, sem adicionar água; 3. Leve ao fogo forte e, à medida que as conchas forem se abrindo, retire-as da frigideira; 4. Separe as conchas, jogando uma das partes fora, deixando apenas a metade em que o molusco estiver preso; 5. Coloque as partes com o molusco em uma forma refratária, uma ao lado do outro, formando uma só camada; 6. Em outra panela, coloque a manteiga ou margarina, deixando-a no fogo até que derreta; 7. Acrescente então a farinha de rosca e mexa bem com uma colher de pau;

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Educação

aposta na conscientização Programa da Prefeitura de São Bernardo do Campo atinge 10 mil alunos por ano Elizabeth Lorenzotti

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onscientizar a juventude sobre a questão ambiental e mostrar a importância da cooperação é o objetivo do programa EcoJuventude, da Prefeitura de São Bernardo do Campo, realizado pela Coordenadoria de Ações para a Juventude (Cajuv), que conta com a participação de alunos, voluntários, ONGs e redes de educação ambiental. O programa surgiu em razão das mudanças globais evidentes no clima, focando as questões da desigualdade social, distribuição dos alimentos, acesso à educação, à saúde e, principalmente as ações de cidadania. Um trabalho de fôlego que já mostrou a que veio: a iniciativa foi premiada pela Cosmopolitana de Ação Socioambiental, entidade do Grande ABC que identifica ações de relevo no setor e participou do Sexto Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, no Rio de Janeiro, com representantes de todo o País. Não é pouco para um projeto que começou no início do ano, com a nova administração. Segundo a engenheira ambiental Talita Pestana, 25 anos, coordenadora 42

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do projeto e desde 2004 na Prefeitura, o EcoJuventude atende cerca de 4,7 mil alunos por semestre, quase 10 mil por ano, na faixa de 14 a 29 anos. “Trabalhar com adolescente não é muito fácil, a conscientização leva tempo, até saberem a importância da atuação deles no município e na área de

convivência”, afirma. “Nosso trabalho é passo a passo.” O programa é constituído por atividades e oficinas socioculturais e profissionalizantes, esportes radicais, orientações sobre puberdade, saúde, alimentação e prevenção primária. A extensão destas atividades é realizada em comunidades de Talita Pestana

Antes da excursão: projeto leva jovens para conhecer locais de cenários ambientais impactantes


bairros e no Parque da Juventude “Città Di Marostica”, considerado o maior parque de esportes radicais da América Latina. Entre as atividades mais procuradas estão as excursões de conscientização, visitas a locais de cenários impactantes, ou de degradação ambiental, como diz Talita, “coisas que a escola não faz”. Neste segundo semestre, as excursões basearam-se no Centro de Triagem SBC, Aterro Essencis, e Estação de Tratamento de Água da Sabesp. “Agora, antes do fim do ano, vamos fazer um passeio de rafting”. conta Talita, atividade que conta com a parceria da empresa Canoar Turismo. O rafting é a prática de descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança, um bom meio de ficar em contato com a natureza. No segundo semestre foi desenvolvida a prática de rapel, no Parque Estadual da Serra do Mar, uma parceria com o governo estadual e a Secretaria de Meio Ambiente de São Bernardo. O EcoJuventude capacita alunos para a monitoria em caminhadas ecológicas, incentivando o ecoturismo e o contato com a natureza sustentável. Cursos profissionalizantes de formação socioambiental, em parceria com o Senac, são oferecidos a maiores de idade,e os monitores são encaminhados, depois, para serviço interno em parques do município.

Talita Pestana

Plantio de sementes, uma atividade simples, mas essencial Talita Pestana

Oficinas de reciclagem: ensinando a transformar materiais

Prática da cooperação Outra atividade com grande participação é o mutirão de limpeza. “Pintamos praças de bairros, mudando a área socioambiental”, diz Talita. O evento é realizado a cada dois meses em bairros cadastrados, com interesse na revitalização, assim como na capacitação dos moradores, em questões fundamentais de saúde ambiental. Projetos populares ecologicamente corretos são desenvolvidos com a aplicação de materiais recicláveis, com atuação interna e externa como aquecedor solar, rede de captação de água da chuva, minirrede de tratamento de resíduos, adubos orgânicos, hortas comunitárias, entre outros. Os projetos são apresentados em maquetes e orientados nos eventos “Juventude no Seu Bairro”, nas comunidade de bairros. “Também ensinamos a confecção de sabão com óleo de cozinha, fornecido por um restaurante da vizinhança, distribuído depois, com a receita, para os centros de mães”, informa Talita. “E mais: estamos reaproveitando materiais como pneus que não têm mais uso, da

Secretaria de Urbanização; com eles fizemos pufes e os alunos usam muito.” Igualmente os banners que a Secretaria de Comunicação não utiliza mais transformaram-se em 300 bolsas, com a ajuda de voluntárias costureiras. A maioria dos jovens já aderiu à coleta seletiva – São Bernardo tem quatro centros, geridos pela Secretaria de Urbanização -- e também aos workshops. A Cajuv pesquisa entre os jovens os temas de maior interesse, por exemplo, o ecomercado, “o que se pode tirar sustentavelmente da natureza para gerar renda. A maioria mora em área de manancial, é necessário passar essa gestão de sustentabilidade, que assim poderão transmitir à família, aos vizinhos”, acentua Talita. Em novembro, o tema foi “O Poder da Mídia na Cons/Desconstrução de uma Sociedade”, a cargo de um professor da Universidade Metodista. Nos intervalos de aulas, são projetados, no palco da Coordenadoria, duas vezes por semana, diversos filmes. Não há chamamento específico, quem quiser assiste e discute e, segundo Talita, “o interesse é

grande, logo que o filme é exibido, as conversas param e o pessoal assiste”. O objetivo é incentivar a reflexão sobre as relações do mundo e o meio ambiente, e os vídeos têm duração máxima de três minutos. Para 2010, o objetivo é continuar a realizar ações intersetoriais, com as secretarias de Habitação, Meio Ambiente, Esportes, Educação, Saúde. As atividades, que hoje são nove, chegarão a 23. Feliz 2010! CONCURSOS CULTURAIS O EcoJuventude também promove concursos culturais, com o objetivo de divulgar os trabalhos dos alunos relacionados com o tema ambiental em espaços culturais no município de São Bernardo do Campo. A cada fim de semestre as turmas apresentamse na semana de encerramento das oficinas da Coodenadoria de Ações para a Juventude, exibindo os trabalhos em exposições.

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Educação

Faz bem

nutrir e

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cuidar Divulgação Nestlé

Programas sociais da Nestlé têm como base a educação Elizabeth Lorenzotti

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Programa Faz Bem Nutrir completa dez anos e já beneficiou 1,2 milhão de crianças e jovens

m um país onde as pesquisas mostram que a obesidade já chegou às crianças, o programa Nestlé Faz Bem Nutrir completa dez anos com números que refletem sua atuação vitoriosa: desde 1999, beneficiou 1,2 milhão de crianças e jovens, 4.295 organizações sociais e escolas e capacitou mais de 11 mil educadores. O programa foi apresentado como referência mundial de atuação em educação alimentar durante o Fórum Creating Share Value, realizado em Nova Iorque pela Nestlé em parceria com a ONU, em abril deste ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), grande parte da desnutrição que afeta mais de 32 milhões de pessoas no País se deve à falta de conhecimento e a hábitos alimentares inadequados. Esta é a concepção do programa, que há dez anos leva educação alimentar para crianças e jovens com idades entre 5 e 14 anos de comunidades de baixa renda. A partir de uma metodologia lúdica, o programa transmite a educadores, merendeiras e famílias conceitos de saúde, higiene e aproveitamento máximo dos alimentos. Trata-se hoje da iniciativa social mais importante da empresa, com investimento anual de R$ 1 milhão, atingindo 19 municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul. O voluntariado é a base de todas as ações do Nutrir. Os funcionários voluntários são liberados duas horas por semana para essas atividades. Eles recebem treinamento sobre o conceito do programa e aprendem a atuar na prevenção da desnutrição infantil.

A empresa designa pessoal para desenvolver o material pedagógico de apoio para os encontros do Nutrir. Nutricionistas e outros profissionais especializados da Nestlé encarregam-se de elaborar o conteúdo, garantindo a qualidade técnica e motivacional. O colaborador planeja as atividades e realiza oficinas, destinadas a aprender a utilização do material educativo para a criação de jogos e brincadeiras com as crianças. Na Folia Culinária (encontro entre voluntários e a comunidade), crianças e mães são estimuladas por meio de atividades lúdicas e preparação de receitas. A pauta principal gira em torno de informações sobre os grupos alimentares; frutas, vegetais, grãos e cereais, o leite e seus derivados, e o conjunto carnes, ovos e frango além de higiene (como lavar as mãos, escovar os dentes etc.), saúde (vacinação, saneamento básico etc.) e aproveitamento integral dos alimentos. Os resultados têm sido animadores. Fundação gerencia projetos Atualmente, segundo Ivan Zurita, diretor-presidente da Nestlé Brasil, 220 mil famílias no País vivem dos salários diretos e indiretos pagos pela empresa. “Muito mais do que um compromisso, o envolvimento direto com as questões sociais nos países em que atuamos é para nós um princípio. Por isso, a empresa tem desenvolvido, historicamente, diversas ações sociais, com o objetivo de compartilhar com as comunidades o que tem de melhor: sua especialização e experiência como maior indústria do mundo da área de alimentação.”

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Divulgação Nestlé

Educação

Combatendo a falta de informações e ensinando hábitos alimentares adequados A Fundação Nestlé Brasil é a responsável pelo gerenciamento do investimento social feito pela empresa, e sua estratégia de apoio está focada em projetos que tenham como temáticas as questões relacionadas a nutrição, desenvolvimento rural e a água. O Programa Nestlé Faz Bem Cuidar, voltado para a educação ambiental, com foco na preservação da água, utiliza a educação como estratégia para colaborar na transformação das comunidades. Em junho, a Fundação premiou a instituição de ensino que melhor colocou em prática o aprendizado adquirido durante a capacita-

ção deste Programa. Em Recife (PE), o programa - que tem como objetivo disseminar em escolas públicas conceitos relacionados à preservação do meio ambiente e reciclagem -, motivou alunos e professores a desenvolver projetos que colaborassem na preservação do Rio Morno, principal afluente do Rio Beberibe. Outra atividade do programa foi desenvolvida na capital paulista desde abril, o projeto Água Amiga. Em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e Secretaria do Meio Ambiente, a Nestlé investe R$ 650 mil em projeto pedagógico, volta-

do para questões relativas à preservação da água. Por meio de um teatro-aventura, o projeto Água Amiga traz interatividade com a natureza e coloca grupos escolares em contato com a realidade da água no mundo. O trabalho realiza-se no Parque Ecológico do Guarapiranga e é dirigido a alunos de escolas públicas e privadas. O teatro-aventura Ácquamón: O Segredo Milenar das Águas é uma criação do diretor e autor de teatro Ricardo Karman. Com aproximadamente 2h30 de duração, envolve os participantes em inusitada expedição em busca da água pura e conta com uma etapa a ser percorrida por trilha na mata e outra na água, em escuna que navega pela represa do Guarapiranga. A peça permite que público e atores, transformados num único elenco, mergulhem numa aventura com o objetivo de salvar a água do planeta. Toda a ação pedagógica desenvolvida é baseada na Declaração Universal dos Direitos da Água e propõe uma reflexão sobre temas como: desperdício, poluição, responsabilidade individual e a água como condição essencial à vida, junto aos participantes. “A educação é a maneira mais eficiente de fazer com que pessoas se apropriem do conteúdo e possam aplicá-lo em sua realidade diária”, afirma João Dornellas, presidente da Fundação Nestlé Brasil.

Projeto Andradina e o valor compartilhado De acordo com o conceito global da Nestlé Criação de Valor Compartilhado, para o sucesso dos negócios a longo prazo não basta gerar valor aos acionistas, mas também para a sociedade. O Projeto Andradina alinha-se a este conceito. Foi criado em 2005 com o objetivo de melhorar o desempenho econômico e técnico das fazendas de pequenos produtores de leite, além de garantir a sustentabilidade e a fixação destes produtores na atividade leiteira da região de Andradina (SP). Antes do projeto, os pequenos produtores, sem acesso à tecnologia e à orientação para adoção de adequadas práticas de produção, muitas vezes tinham que se desfazer de seus animais em determinadas épocas do

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ano por falta de alimento para o rebanho, inviabilizando seus negócios. Com a iniciativa da Nestlé, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), essa realidade mudou. Dezoito famílias que participam do projeto comemoram índices positivos: em 2007 houve evolução de 132,4% em aumento de renda obtido na atividade sobre o ano anterior. Em 2008, a produção média alcançou a marca de 69 litros/dia, e a produção média por animal está em 8,1 litros/dia, ou seja, aumento de 42,1% na média anual da produção diária de leite por produtor. Desde março de 2005, a Nestlé coloca à disposição dos produtores um técnico que, sob a supervisão de professores da Esalq/USP, trei-

na, orienta e capacita os produtores sobre diversos temas voltados à melhoria da produção de leite, como manejo de ordenha e qualidade do leite, uso de cana-de-açúcar como suplemento volumoso, utilização estratégica de alimentos concentrados. Além disso, os produtores atendidos pelo projeto têm acesso a financiamentos que podem ser pagos com sua própria produção de leite, em parcelas mensais fixas e sem juros. O financiamento, com 100% dos juros custeados pela Nestlé, é utilizado para investimento em animais, plantio e adubação de áreas de canade-açúcar e de pastagens. Com as orientações técnicas, hoje estes produtores ofertam leite com qualidade durante o ano inteiro.


Educação para

Denise de La Corte Bacci

a Água

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água tem fundamental importância para a manutenção da vida no Planeta e, portanto, falar da relevância dos conhecimentos sobre a água, em suas diversas dimensões, é falar da sobrevivência da espécie humana, da conservação e do equilíbrio da biodiversidade e das relações de dependência entre seres vivos e ambientes naturais. Nessa perspectiva, fazse necessário ressaltar a relação homemnatureza ao longo do tempo e suas implicações para o uso e qualidade da água. A presença ou ausência de água escreve a história, cria culturas e hábitos, determina a ocupação de territórios, vence batalhas, extingue e dá vida às espécies, determina o futuro de gerações. Nosso Planeta não teria se transformado em ambiente apropriado para a vida sem a água. Desde a sua origem os elementos hidrogênio e oxigênio se combinaram para dar origem ao elementochave da existência da vida. Em condição privilegiada deu possibilidade às espécies de evoluírem e ao homem de existir e habitar esse Planeta. Ao longo de milhares de anos nossa espécie ocupou territórios, cresceu e desenvolveu com base nesse bem natural tão importante e valioso que é a água. No entanto, ao longo da história modificações aconteceram na relação do homem com a natureza e, por consequência, na sua relação com a água. Na sociedade em que vivemos a água passou a ser vista como recurso hídrico e não mais um bem natural, disponível para a existência humana e das demais espécies. Passamos a usá-la indiscriminadamente, descobrindo sempre novos usos, sem avaliar as consequências ambientais em termos de quantidade e qualidade da água.

Somado ao aumento populacional em escala mundial no último século, esse recurso tornou-se escasso em determinadas regiões do planeta, principalmente por fatores antrópicos ligados à ocupação do solo, à poluição e contaminação dos corpos de água superficiais e subterrâneos. Hoje nos deparamos com uma situação na qual estamos ameaçados por uma crise que pode tornar-se um dos mais graves problemas a ser enfrentado neste século. Além da escassez da água, a disponibilidade para consumo em certas regiões brasileiras, como no Sul e Sudeste, onde as demandas são maiores, tem-se tornado um problema constante. Nas grandes cidades, as inundações não são mais controladas por obras civis e têm-se configurado em verdadeiros desastres. Essas mesmas obras de contenção dos processos naturais de extravazamento dos rios modificaram tanto o padrão natural das bacias hidrográficas e dos canais que acabaram por desconfigurar os sistemas naturais de recarga, vazão e cheias, bem como as planícies naturais. A questão atual é como equacionar a demanda/disponibilidade e resolver os problemas relacionados à água. Nessa perspectiva temos que valorizar uma educação para a sustentabilidade, a qual associa o uso dos recursos hídricos com um modo de vida comprometido com os sistemas naturais, que os entenda e os respeite, de forma que a ocupação desenfreada em áreas de risco, a impermeabilização excessiva do solo, o uso indiscriminado não sejam um problema, mas sirvam como lições de aprendizado para futuras ações de gestão e governabilidade dos ambientes, em especial dos urbanos. Para uma abordagem educacional eficiente é necessário desenvolver uma visão integrada

do mundo que nos cerca, uma visão que nos leve a compreender as diversas esferas (hidrosfera, biosfera, litosfera e atmosfera) e suas inter-relações, bem como as interferências geradas pelo homem no meio em que vive. Essa visão apresenta-se como estratégia educativa sem a qual a compreensão integrada do meio ambiente é praticamente impossível. Desta forma, a água deve estar presente no contexto educacional, tanto na educação formal como não formal, com enfoque na ética e na formação do cidadão consciente do lugar que ocupa no mundo, num mundo real, dinâmico, que parte do local e se relaciona com o global, onde todas as coisas podem tomar parte de um processo maior. Acreditamos que a água seja um tema de aproximação dos conhecimentos parcelares profundos e plurais e um tema que desenvolva a prática interdisciplinar. A educação para a água não pode, desta forma, estar centrada nos usos que fazemos dela, mas na visão de que a água é um bem que pertence a um sistema maior, integrado e que, nesse caso, nossas próprias ações, como produto dessa visão histórica de mundo, é que acabam por gerar os problemas que vivemos hoje. Senac, 2008, v. , p. 17-54. Denise de La Corte Bacci Graduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP. E-mail: bacci@igc.usp.br Neo Mondo - Dezembro 2009

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Inclusão Social

Deficientes É cada vez maior o número de pessoas com deficiência física ou intelectual atuando no mercado de trabalho. Grande parte dos deficientes, porém, ainda continua sem ocupação Rosane Araujo

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les já somam 24,6 milhões de pessoas e representam 14,5% da população total do Brasil, segundo dados do Censo 2000. São pessoas que apresentam algum tipo de incapacidade ou deficiência em diversos graus de severidade conforme a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), divulgada em 2001 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Um grupo expressivo, mas que ainda assim viveu à margem da sociedade por muitos anos, realidade que aos poucos está mudando. 48

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Inclusão tem sido a palavra de ordem pelo mundo afora desde que ações como a criação da Década das Nações Unidas das Pessoas com Deficiência (1982 a 1992) e o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência, em 1981, foram criados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1992 a ONU concluiu o debate com a criação do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro, cujo objetivo é tornar perenes as ações de conscientização da situação dos direitos destas pessoas nos diferentes países.

Desde a definição da data, passaram-se 17 anos, e os desafios ainda são muitos. O mesmo Censo mostrou que a proporção de pessoas ocupadas de 10 anos de idade ou mais é de 51,8% para os homens portadores de deficiência e de 63,0% para os homens que declararam não possuir nenhuma das deficiências investigadas, ou seja, uma diferença maior que 10%. Diferença semelhante é observada entre as mulheres: a proporção de ocupadas varia entre 27% e 37%. Os dados também mostraram que o tipo de deficiência que mais dificulta a in-


Divulgação Divulgação

serção no mercado de trabalho é a deficiência mental: somente 19,3% das pessoas que declararam apresentá-la estão ocupadas. ”A contratação de deficientes intelectuais esbarra muito na questão da formação”, explica Cida Soler, coordenadora do Serviço de Capacitação e Orientação para o Trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo. O trabalho de capacitação realizado pela entidade há seis anos visa combater o problema, oferecendo profissionalização aos deficientes intelectuais. “Trabalhamos com dois focos: o cliente com deficiência e o empresariado. O objetivo maior é capacitar para incluir”, disse. Para os deficientes a entidade oferece o Serviço de Capacitação e Orientação para o Trabalho, no qual eles se deparam com situações reais do mercado: existe a possibilidade de treinamento em cozinha industrial, lanchonete, limpeza e jardinagem e no setor administrativo como mensageiro interno e externo. O deficiente também é orientado em relação à postura profissional, relacionamento, aparência e higiene pessoal. Já às empresas, que investem por um ano na capacitação, a entidade presta assessoria para a contratação dos deficientes, suporte para a área de Recursos Humanos, chefia e principalmente para os colaboradores que vão atuar diretamente com os eles, esclarecendo dúvidas. Mesmo depois da contratação do deficiente, a Apae monitora o trabalho por um ano. “Respeitamos o momento em que a empresa está: se está iniciando a sensibilização da diretoria ou já substituindo funcionários”, garantiu Cida. O resultado de tanta assessoria é compensador: a instituição insere em média 70 pessoas no mercado e 96% permanecem atuando. O número só não é maior porque faltam candidatos para o Serviço de Capacitação. “Tenho mais empresas procurando profissionais do que deficientes que procuram”, revelou Cida. A explicação, segundo ela, é simples. “O próprio deficiente intelectual não se coloca para ser incluído”, disse. Quando consegue a inclusão, porém, as mudanças são muitas. “O trabalho é fundamental para o ser humano e, para os deficientes, é o primeiro sim que eles recebem da sociedade, sentem-se aceitos e começam a abrir portas: tornam-se consumidores, deixam de ser dependentes da família; é uma virada”, opinou. O desafio atual, segundo ela, é o empresariado se disponibilizar para trabalhar

Curso de capacitação oferecido pela Apae São Paulo: simulação de situações reais

com a diversidade. “Existem empresas flexíveis nesse aspecto”, completou. Um exemplo é a Alcan, multinacional do ramo de mineração de bauxita, fabricação de alumínio e embalagens, com unidades na região metropolitana de São Paulo. A empresa sempre procurou manter deficientes no seu quadro, cumprindo a Lei Federal 8.213/91, mais conhecida como Lei de Cotas, que estipula às empresas, de acordo com o número de funcionários, uma reserva de vagas para profissionais com deficiência ou reabilitados. Os deficientes intelectuais, porém, nunca haviam sido incluídos no processo, e foi aí que a parceria com a Apae de São Paulo entrou. “A empresa identificou as funções em que eles teriam mais sucesso e foram incluídos oito funcionários com deficiência intelectual para trabalhar como mensageiros internos e também na equipe de jardinagem, que já existia”, explicou Cida. E o trabalho não parou por aí. A Alcan continua trabalhando com portadores de outros tipos de deficiência, mas, sem o suporte da Apae São Paulo que lida apenas com deficientes intelectuais, a empresa encontrou uma solução dentro de casa: o apoio da Associação Embalando o Amanhã, formada com funcionários voluntários. A Associação, criada em outubro de 2008, está desenvolvendo um programa para qualificação profissional. “Como não conseguíamos encontrar e manter os deficientes, resolvemos entender o problema e constatamos que a empresa não estava preparada para recebê-los, e por outro lado eles

não estavam preparados para trabalhar em uma empresa”, contou Fernando Procópio, gerente de EHS, sigla em inglês para Meio Ambiente, Saúde e Segurança. Segundo o gerente, era comum a empresa empregar deficientes auditivos, mas depois de alguns meses, eles deixavam o trabalho. “Nós, a princípio, achávamos que eles haviam recebido propostas melhores, mas na realidade eles não conseguiam se comunicar com os colegas nem com os supervisores”, revelou. Em outubro, a Associação organizou o Seminário Inclusão de Pessoas com Deficiência, no qual reuniu especialistas na área de capacitação. “Pudemos ouvir os problemas das empresas, suas soluções e, por outro lado, os problemas e soluções das organizações voltadas para as pessoas com deficiência”, disse. O conhecimento adquirido ajudará na implantação do projeto prevista para fevereiro, quando serão disponibilizados cursos de informática, fotografia e corte e costura, não só para deficientes auditivos como também para a comunidade carente em geral. Tudo isso visando ao crescimento social. “Deficiência e vulnerabilidade social estão ligadas. Em geral, os deficientes não têm como manter o custo da profissionalização”, ressaltou Cida Soler. Dados do Censo comprovam a afirmação: 32,9% da população sem instrução ou com menos de três anos de estudo é portadora de deficiência. As proporções de portadores de deficiência caem quando aumenta o nível de instrução, chegando a 10% de portadores de deficiência entre as pessoas com mais de 11 anos de estudo. Neo Mondo - Dezembro 2009

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Inclusão Social

vestibular para um curso superior interativo de marketing, com a ajuda de um computador adaptado e passou em primeiro lugar. Concluiu o curso este ano, mas foi só o começo. Sua sede por conhecimento, ainda é grande, por isso Alexandre está começando uma nova faculdade: estudará administração. Na vida profissional, encontrou uma ocupação interessante: realiza palestras para empresas privadas e escolas públicas. O tema é motivação, superação de obstáculos, auto-estima e auto-controle. “É uma injeção de ânimo. Às vezes as pessoas acham difícil realizar alguma tarefa e quando me vêem falando, vêem que é possível”, explica. Ele também já teve boas experiências em escolas públicas, com adolescentes. “Eles me vêem na faculdade, então, começam a pensar o futuro. Percebem que também podem”, afirmou. Divulgação

No filme Corpo Fechado (Unbreakable) Samuel L. Jackson viveu o misterioso Elijah Price, portador de uma doença rara que fragilizava seus ossos, provocando incontáveis fraturas. O personagem conhece David Dunn, vivido por Bruce Willis, por quem demonstra uma estranha admiração e a quem confessa, magoado, ter sido chamado de “senhor vidro” durante a infância. Na vida real, Alexandre Abade não se incomoda em ser chamado de Alexandre Ossos de Vidro. Portador de osteogênese imperfeita, doença genética, que provoca falha no colágeno, tecido formador do osso, ele sofreu mais de 300 fraturas, do nascimento até os 17 anos de idade. Após tratamento homeopático, a doença estabilizou, e finalmente o morador de Sobradinho, no Distrito Federal pôde iniciar os estudos. “Comecei no ensino especial e foi muito bom estudar em meio a pessoas especiais. Vi que a minha deficiência não era nada, me fortaleci”, contou. Um ano depois, devido ao excelente desempenho, Alexandre foi integrado no ensino regular. “Foi um novo desafio, pude conhecer pessoas não especiais, interagir. Passei por algum preconceito sim, mas pude superar”, revelou. Enquanto estava no Ensino Médio, Alexandre abriu-se para novas experiências: teve o primeiro relacionamento amoroso e entrou para um grupo de teatro. “Apresentava peças sobre pessoas especiais para quebrar paradigmas”, disse. Hoje, aos 30 anos, ele continua derrubando preconceitos e se superando. Mesmo sem conseguir realizar tarefas simples, como pentear os cabelos, prestou

Divulgação

Alexandre Ossos de Vidro dá palestras no DF

Alexandre Ossos de Vidro – quebra de paradigmas incluía cena de beijo

Apesar da boa formação acadêmica, sua entrada no mercado de trabalho efetivo ainda não aconteceu. “Gostaria de concluir o estudo de administração, aplicá-lo em alguma empresa e também continuar com as palestras”, ponderou. Para realizá-las, o jovem conta com a ajuda do irmão mais novo, Eduardo, que desde o falecimento do pai é seu braço direito, ajudando-o na locomoção. “Sou feliz porque tenho uma família que me apóia. Acho que seria bom se tivesse mais apoio das autoridades. A sociedade pede inclusão, mas ainda há muito o que melhorar”, desabafou. Sem se acomodar com a falta de apoio, o homem de 1,20m de altura e 30kg, segue estudando e fazendo planos: “Nosso saber ninguém tira. Críticas e preconceitos só atingem o corpo, o que está na nossa cabeça só a gente consegue controlar. Nossa cabeça pode ir além”. Contato de Alexandre Abade:

Durante colação de grau, na formatura, em que foi orador da turma

Tel.: (61) 3591-5020 / 9234-2167 aleximagem@hotmail.com www.alexandreossosdevidro.com


Fernando Caprio

Márcio Thamos

O(Uma País do futuro viagem a Pelotas-RS) P

or toda a cidade, e principalmente no centro, como não poderia deixar de ser, há uma série de prédios muito antigos que vale a pena a gente ir ver. Mas é preciso ir logo. São casarões e edifícios públicos de uma época em que Pelotas considerava-se a “Princesa do Sul”. Ao que parece, o título então não era injusto. E talvez ainda seja merecido, mas as jóias da Princesa, é certo, perderam muito de seu brilho original. Dá pena ver as construções ruindo aos poucos e virando caliça. O tempo em si jamais é tão impiedoso com a história. Sua proverbial voracidade, na prática, não chega a ser assim tão terrivelmente incontida. Sim, ele cumpre com rigor sua velha tarefa de abrir caminho às novas épocas e às novas gerações, mas não se pode acusá-lo de perverso ou de apressado, isso não. É com muita paciência e comedimento que o tempo vai arrebatando e retirando de circulação os fragmentos tristes daquilo que os homens, na verdade, já não querem mais. Afeta-se aqui e ali algum constrangimento, certo pudor reverencial diante da imponência arquitetônica que tenta resistir (às vezes, por exemplo, mantém-se uma fachada restaurada à frente de um edifício moderno para cuja construção demoliu-se um antigo casarão...). Mas, no fim das contas, aceita-se com facilidade que não se pode fazer nada: afinal, talvez seja verdade que tudo isso é ve-

lho demais para nós e não está de fato à altura das exigências contemporâneas – embora tenha, em matéria de pé direito, uma altivez que não ousamos nunca igualar. Penso em Minas e suas igrejas, em Goiás e suas casas populares, no Pelourinho em Salvador, no Recife e em Olinda, em São Luís do Maranhão... e na pobre Vila de Paranapiacaba, na Grande São Paulo. Quanta riqueza e quanta sabedoria, quanta alegria e quanta tradição perdida, ou que se há-de perder... Ligadas a cada um desses lugares e suas antigas edificações, quantas estórias saborosas e pequeninas se entrelaçam para tecer a trama viva da nossa História maior. Dá pena ver tudo se desfiando e esfarrapando devagar. No entanto, parece que não nos abalamos realmente: o novo há-de ser sempre sinal de progresso. E o novo pelo novo é confundido tantas vezes com dinamismo e adaptabilidade, é visto enfim como superação da pesada rigidez do passado. Mas não nos damos conta de que é nossa cultura, nossa memória, nossa própria identidade como nação que se vai transformando em escombros, se calando lentamente, ou melhor, pulverulentamente. A expressão do que já fomos agoniza em silêncio pelos pátios dos palacetes e nas sacadas dos sobrados. Não nos interessa, ou nos interessa pouco, esse diálogo entre nós mesmos franqueado pela preservação do nosso passado. Somos jovens,

só o presente nos importa. Por isso ainda somos o país do futuro. Mas o tempo em sua sabedoria ancestral conhece bem a impaciência própria da juventude e vai recolhendo sem pressa o entulho de nossa história, vai dando tempo a si mesmo e a nós. O tempo acredita na boa vontade dos homens e, generoso, lhes oferece sempre outras oportunidades de pensar melhor, de rever seus passos e de voltar atrás com dignidade se assim por bem houverem. Somos tão jovens... Mas estamos crescendo, e temos muito que aprender. Uma lição sobre a qual nos faria bem meditar é aquela que ensina que não se chega nunca à maturidade sem um passado vibrante e sua memória. Com os avanços que temos conquistado ultimamente, já não seria hora de ponderarmos que, deixando nosso passado ruir sem mais, nos arriscamos a ser, talvez para sempre, o país do futuro, ignorante de si mesmo de norte a sul?. Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br Neo Mondo - Dezembro 2009

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Economia

Estudo recente da OIT no Brasil apontou que já existem 2,6 milhões de postos ocupados no País Rosane Araujo

L

ançado em 9 de dezembro durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) realizada no Itamaraty, o estudo inédito Empregos Verdes no Brasil: Quantos São, Onde Estão e Como Evoluirão nos Próximos Anos, realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), trouxe o número atualizado

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e surpreendente de 2,6 milhões de empregos verdes já ocupados no País. O levantamento considera verdes os postos de trabalho em atividades econômicas que contribuem para a redução de emissões e para a melhoria da qualidade ambiental. A OIT considerou dados da Relação Anual de Informações Sociais, do Minis-

tério do Trabalho e Emprego, e agregou os empregos verdes em seis categorias: produção e manejo florestal; geração e distribuição de energias renováveis; saneamento, gestão de resíduos e de riscos ambientais; manutenção, reparação e recuperação de produtos e materiais; transportes coletivos alternativos ao rodoviário e aeroviário;


e telecomunicações e teleatendimento. O levantamento não considerou o enorme contingente de catadores de materiais recicláveis devido à falta de proteção social da atividade e pelo grau de insalubridade a que estão expostos. Para o órgão, o conceito de emprego verde não deve ser dissociado do trabalho decente. “Embora atualmente não restem muitas dúvidas quanto ao papel positivo desempenhado por esses trabalhadores em relação ao meio ambiente, o fato é que certamente não é esse tipo de postos de trabalho que a OIT pretendia promover”, justifica o relatório. A expectativa do órgão é que, além das vagas que contribuem para a melhoria da qualidade ambiental, a criação de empregos verdes se dê também por setores baseados na exploração de recursos naturais e que dependem da qualidade ambiental: extração mineral e indústrias de base; construção, comercialização, manutenção e uso de edifícios; agricultura, pecuária e pesca; e turismo e hotelaria. “O potencial de geração de empregos verdes dessas atividades decorre do fato de serem ao mesmo tempo grandes empregadoras e grandes emissoras de carbono ou ainda grandes consumidoras de energia e de recursos ambientais, muitos deles não renováveis”, aponta o estudo. Pelos dados de 2008, esses setores foram responsáveis por cerca de 5,8

milhões de empregos formais. Parte das vagas poderá se tornar sustentável, segundo a OIT, se os setores passarem por um “esverdeamento” dos processos de produção e distribuição. Taxação de carbono Em outro relatório, divulgado dias antes do estudo Empregos Verdes, a OIT sugeriu a criação de uma taxa para onerar as emissões de gases de efeito estufa de forma a aumentar o nível de empregos no mundo. Os novos postos de trabalho seriam estimulados com o repasse da arrecadação com a taxação do carbono para criação de subsídios que diminuam a carga trabalhista das empresas. Até 2014, a medida poderia aumentar em 0,5% o nível de emprego, com mais de 14,3 milhões de novas vagas. “Esses empregos não se criarão automaticamente. São necessários programas que promovam a transição nos mercados de trabalho e as competências profissionais necessárias para que esses novos empregos se tornem realidade”, diz a entidade. Atualmente, segundo a OIT, cerca de 40% dos empregos do mundo estão em setores de altas emissões de carbono, num total de 600 mil trabalhadores. A taxação de carbono foi uma das propostas discutidas durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Cop 15).

Novas profissões A carreira de gerente de ecorrelações foi apontada como a mais promissora em uma lista de novas profissões que prometem crescer nos próximos anos, segundo pesquisa realizada pela Faculdade de Administração da Universidade de São Paulo (USP), por meio do Programa de Estudos do Futuro (Profuturo). Entre as profissões tradicionais, os 112 ex-alunos de MBA entrevistados para a pesquisa indicaram a função de engenheiro ambiental como a mais promissora. Para Carmen Alonso, gerente de treinamento do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), empresa especializada em colocação de estagiários, o mercado é promissor não só no que diz respeito às profissões diretamente ligadas à economia verde. “Empresas da área vão precisar de profissionais como advogados, contabilistas etc. Toda empresa precisa de uma infraestrutura”, analisou. Para ela, este é um mercado que tem muito para crescer, mas ainda está se estabilizando. “O que vemos de forma mais clara no Brasil são vagas em grandes indústrias, que se preocupam com o tratamento de águas, reciclagem e economia, por exemplo. As empresas de porte, em geral, acabam tendo este foco e investem em ações de responsabilidade socioambiental”, explicou.

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Economia

Dentre os estudantes atualmente cadastrados no Nube, a gerente citou algumas formações relacionadas diretamente à economia verde: curso médio-técnico em meio ambiente, superior tecnólogo em gestão de meio ambiente, superior em

geografia com ênfase em meio ambiente e pós-graduação em meio ambiente. Carmen afirma que tem sido cada vez mais frequente encontrar profissionais interessados em trabalhar com causas sociais e ambientais.

Para ela, é importante ter este tipo de predisposição para ocupar uma profissão verde. “Tem que ter uma atitude verde, ética diante das pessoas e longe delas. O sentido de ecologia tem a ver com a noção de que suas atitudes impactam nas outras pessoas”, finalizou.

Empregos Verdes Conceitos Para a OIT, o conceito de “empregos verdes” resume a transformação das economias, das empresas, dos ambientes de trabalho e dos mercados laborais em direção a uma economia sustentável que proporcione um trabalho decente com baixo consumo de carbono. Os “empregos verdes” reduzem o impacto das empresas no meio ambiente e dos setores econômicos a níveis que sejam sustentáveis. Além disso, contribuem para diminuir a necessidade de energia e matérias-primas, para evitar as emissões de gases de efeito estufa, reduzem aos mínimo os resíduos e a contaminação, bem como restabelecem os serviços do ecossistema como a água pura e a proteção da biodiversidade. Números • A expectativa da OIT é que até 2030 haja 20 milhões de empregos verdes ocupados. • Na Alemanha, a indústria ambiental já gera 1,8 milhão de empregos. • Um dos principais desafios dos empregos verdes é proporcionar desenvolvimento social e um trabalho decente para todos, o que inclui elevar mais de 1,3 bilhão de pessoas, quatro de cada dez trabalhadores no mundo e suas família, acima da linha da pobreza e oferecer oportunidades de emprego decente aos 500 milhões de jovens que ingressarão no mercado de trabalho durante os próximos 10 anos.

Contraponto Como qualquer outro assunto, os empregos verdes e seus aspectos positivos não são unanimidade. Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo , em 27 de outubro, o economista José Pastore, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP especializado em Relações do Trabalho e Emprego, citou o documento Seven Myths about Green Jobs ( Sete Mitos sobre Empregos Verdes ), do Property and Environment Research Center – PERC de Montana, nos Estados Unidos, como uma “ducha fria” em seu entusiasmo com os empregos verdes. O relatório critica a metodologia utilizada pela literatura, inclusive os estudos realizados pela ONU e OIT e seus autores afirmam que as projeções são exageradas, sendo, muitas delas, baseadas em mitos. Segundo Pastore, um das críticas dos autores se refere à desconsideração do custo de oportunidade dos imensos recursos que terão de ser usados para descarbonizar o Planeta. É o caso da maioria dos empregos ligados à energia solar e eólica que decorrem de pesados subsídios – que terão de ser pagos pelos contribuintes. Os 50 mil empregos criados nesses campos na Espanha demandaram um investimento (subsidiado) de US$ 38 bilhões, ou seja, a exorbitante quantia de US$ 760 mil por emprego.

O que dizem os líderes mundiais sobre os empregos verdes “A crise, tão devastadora como é, oferece uma excelente oportunidade para promover um desenvolvimento econômico favorável ao meio ambiente. O esforço deveria incluir uma atenção prioritária aos projetos de mão-de-obra intensiva que reduzem as emissões de gases de efeito estufa e ajudam as comunidades a adaptar-se ao aquecimento global. A transição a uma economia com baixo consumo de carbono pode criar milhões de empregos”. Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas “A opção que agora enfrentamos não é entre salvar nosso meio ambiente e salvar nossa economia. A opção que enfrentamos é entre prosperidade e decadência. Podemos deixar que a mudança climática cause estragos no meio ambiente ou podemos criar empregos que procurem evitar seus piores efeitos”. Barack H. Obama, presidente dos Estados Unidos “Conseguir um desenvolvimento sustentável e preservar a terra – nosso lar comum – estão estreitamente ligados aos interesses fundamentais da população mundial, assim como aos interesses imediatos de um vasto número de trabalhadores. Percorrer o caminho do desenvolvimento civilizado de um crescimento mais rápido da produtividade, a melhora das condições de vida e da preservação de um ecossistema saudável e alcançar um desenvolvimento econômico e social, convivendo harmoniosamente com a natureza para que os trabalhadores vivam e trabalhem em um bom ambiente ecológico é a finalidade última do desenvolvimento sustentável, assim como uma importante condição prévia para o trabalho decente para todos os trabalhadores”. Jun Hintao, presidente da China Fonte: Cartilha Empregos Verdes 15 OIT – Organização Internacional do Trabalho 54

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Neo Mondo - Setembro 2008

A


Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2009

as finalista eça s e vencedoras. h n o C

Categoria: Região Norte

VENCEDORA

Criação de Peixes em Canais de Igarapés

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Manaus

AM

Farmácia Nativa

Prefeitura Municipal de Belém

Belém

PA

Telinha de Cinema – Modernização da Educação

Casa da Árvore

Palmas

TO

Associação Caatinga

Fortaleza

CE

Abordagem Sistêmica Comunitária

Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim

Fortaleza

CE

Cultivo Sustentável de Algas Marinhas

Fundação Brasil Cidadão para Educação, Cultura, Tecnolgia e Meio Ambiente

Fortaleza

CE

A Reserva Natural Serra das Almas e seu Modelo Integrado de Conservação da Caatinga

VENCEDORA

Categoria: Região Nordeste

Categoria: Região Centro-Oeste Adolescentes Protagonistas

Instituto de Estudos Socioeconômicos

Brasília

DF

Canteiro Bio-Séptico

Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado

Pirenópolis

GO

Conexão Cheiro Verde – Modelo de Comércio Justo

Instituto Centro de Vida

Cuiabá

MT

VENCEDORA

Categoria: Região Sudeste

VENCEDORA

A Célula ao Alcance da Mão

Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

Belo Horizonte

MG

Balde Cheio

Embrapa Pecuária Sudeste

São Carlos

SP

Vovô Sabe Tudo

Prefeitura Municipal de Santos

Santos

SP

Categoria: Região Sul

VENCEDORA

Caprichando a Morada

Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares

Chapecó

SC

Produção e Preservação de Sementes Crioulas

União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu

Canguçu

RS

Trupe da Saúde

Universidade Livre da Cultura

Curitiba

PR

Categoria: Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil

Comunicação Participativa Juvenil para o Desenvolvimento Comunitário

Associação Imagem Comunitária

Belo Horizonte

MG

Método Quadros

Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social

São Paulo

SP

Rádio pela Educação

Diocese de Santarém

Santarém

PA

VENCEDORA

Categoria: Gestão de Recursos Hídricos VENCEDORA

Barragem Subterrânea com Lona Plástica

Cooperativa de Serviços Técnicos do Agronegócio

Natal

RN

Pingo d’Água – Água para Beber e Produzir

Instituto Sertão Vivo

Quixeramobim

CE

Tanques em Lajedos de Pedra

Centro de Educação Popular e Formação Social

Teixeira

PB

Categoria: Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais

VENCEDORA

Gerando Renda e Transformando Relações de Gênero

Associação Difusora de Treinamentos e Projetos Pedagógicos

Curitiba

PR

Rede de Mulheres para Comercialização Solidária

Casa da Mulher do Nordeste

Afogados da Ingazeira

PE

Rede Industrial de Confecção Solidária

Guayi

Porto Alegre

RS

Parceria Institucional:

56

Patrocínio:

Neo Mondo - Outubro 2008

Realização:


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