Neomondo 35

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Edição Especial

NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 4 - Nº 35 - Junho 2010 - Distribuição Gratuita

Dia Mundial do

Meio Ambiente João Doria Jr 10

Engajamento Sustentável

Impactos Ambientais 18

Sumiço dos Vagalumes

Certificação Ambiental 26

Madeira de Lei


2

Neo Mondo - Maio 2008


Neo Mondo - Maio 2008

3


4

Neo Mondo - Maio 2008


Neo Mondo - Maio 2008

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Seções Perfil 10 João Doria Jr. Engajamento sustentável

Animais 18 Impactos ambientais Sumiço dos vagalumes

24

Animais 18 Cadê as abelhas? O mundo inteiro sofre com o desaparecimento das abelhas

30

22 Procuram-se anfíbios Onde foram parar as rãs?

Água Gestão requer muitos cuidados ONG detecta 20 mil áreas de contaminação; sinal de alerta para o CNRH

Água 38 Recurso limitado, dotado de valor econômico Lei federal 9.433 de 1997 regularizou a outorga e instituiu a cobrança pela utilização da água Água 42 Hidropirataria Tráfico de água doce na foz do Rio Amazonas

34 À deriva Como uma das melhores invenções do século XX tornou-se um dos principais vilões do século XXI

40

O mar é o limite! A importância e a saúde dos nossos mares Meio Ambiente/Biocombustível 48 Biocombustíveis Energia limpa em discussão

52 Biodiesel, só dá ele Com o surgimento de novas opções, o biodiesel é o assunto do momento COP 15 62 Catástrofe jurássica Alerta máximo na COP 15

CoP 15 56 Projeções sinistras Estudo pioneiro da FEA/USP reúne 11 instituições de pesquisa CoP 15 66 Empurrando com a barriga Líderes mundiais deixam a desejar...

70 Agora é lei Sancionada a lei 12.187

Cultura, lazer e arte 78 Pedro Martinelli Doutor das lentes

82 Livro de Lester Brown Sociedade tem de assumir soluções

88 Duda Penteado Arte pela vida

92 Rodrigo Brandão Monteiro Lição de vida

Cotidiano 98 NEO MONDO Informa Notícias Imperdíveis

Certificação ambiental 26 Madeira de Lei Uso de produtos certificados no país ainda é muito baixo

Articles in English Profile 14 João Doria Jr Sustainable Engagement

Cultura, lazer e arte 74 Frans Krajcberg Artista conhecido mundialmente pela beleza das obras e pelo ativismo ambiental

85 Avatar É eco e não é chato

Animals 20 Environmental impacts Hiatus of the fireflies

Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Jornalista Estagiário: Caio Martins Estagiária: Heloisa Moraes Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo 6

Neo Mondo - Junho 2010

Publicação Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 Vila Floresta - Santo André – SP Cep: 09050-120 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


ANÚNCIO BRASKEN

Neo Mondo - Julho 2008

7


Editorial

P

rezado leitor, NEO MONDO está em festa. Estamos comemorando não só o Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), mas também nossa entrada no 4o ano de existência. O Meio Ambiente tem sido nossa bandeira desde a primeira edição por um simples motivo: é uma questão de sobrevivência, e a destruição do Planeta é um problema nosso! É com este pensamento que trazemos no PERFIL, o empresário, jornalista e

publicitário João Doria Jr., presidente do LIDE – Grupo de Líderes Empresariais. Nesta entrevista, Doria Jr. revela o quanto é importante termos no país um grupo empresarial com visão de futuro e ação no presente, em que a questão ambiental é ponto de honra para seus integrantes. E por falar em questão ambiental, entrevistamos a coordenadora de Certificação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Luciana

Maria Papp, que nos traz números alarmantes como: 80% da madeira proveniente da floresta amazônica é ilegal, 56% das emissões de gás carbônico na atmosfera são provenientes do desmatamento das florestas brasileiras. Ela fala sobre a importância da certificação florestal FSC para as empresas, trazendo maior credibilidade para o setor e imagem positiva perante o consumidor. Mostramos que os vagalumes são verdadeiros indicadores

s

De olho no Universo

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Ano 3 - Nº 25 - Agosto 2009 - Distribuição Gratuita

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Ano 3 - Nº 26 - Setembro 2009 - Distribuição Gratuita

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Ano 3 - Nº 27 - Outubro 2009 - Distribuição Gratuita

Meio Ambiente podemos sim,

Prioridade na Amazônia

18

8

a salvação das empresas Unicef

Habitante consciente

Produzir Água!

40

um jogo de Valor

marcos Ponte

10

82

Em construções convencionais

10

O direito de aprender

Tecnologia Socioeducacional

18

Neo Mondo --Junho Agosto2010 2008

Preservação Ambiental

24

Gilberto Freyre “Um Pensador “

08

Pintando com a boca

identidade cultural

Terra, respeito e vida

16

COP15 A Salvação do Planeta?

QUADRINHOS

Índio

34

Espelho de um povo

12

Plano Amazônia Sustentável (PAS)

Lição de Vida

28

Um ano depois...

Projeto Criança Ecológica

Frans Krajcberg A Arte que Grita!

46

um olhar consciente

Ano 3 - Nº 28 - Novembro 2009 - Distribuição Gratuita

Conscientização em

Diversidade

Green Building

Bola pra Frente

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lilian aragão

laison dos santos

Ano 3 - Nº 24 - Julho 2009 - Distribuição Gratuita

Dia mundial do agenda criança

Intervalo Cultural

Gente do Bem

o Sol

08

EDição EspEcial

Edição EspEcial www.neomondo.org.br

Ano 3 - Nº 23 - Junho 2009 - Distribuição Gratuita

De olho no Universo

de presente, um divertido jogo radical

um papo com mauricio de Sousa

08

um mundo diferente

Ano 1 - Nº 2 - Novembro/Dezembro 2008 • R$ 8,50

Intervalo Cultural

Gente do Bem

Conheça os Animais Astronautas

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Especial de Natal

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um mundo diferente

Ano 1 - Nº 1 - Setembro/Outubro 2008 • R$ 8,50

s

Kid NeoMoNdo

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Resultados positivos

G20

Procuram-se anfíbios

Brasil em evidência

46

-

Chico Graziano 10

Governo fixa metas para Copenhague

Lixo sem fim

Desafio: Vencer barreiras

Cadê as rãs?

54

Esse problema tem solução?

28

44

Compromisso com o planeta


dos impactos ambientais e, com seu sumiço, estamos perdendo uma série de aplicações biotecnológicas e medicinais. E não são apenas os vagalumes; as abelhas, as rãs e os peixes-palhaço também. Tudo isso está acontecendo neste momento, é um sinalizador que apresentamos em nossa matéria “Projeções Sinistras”. Não estou sendo pessimista e sim realista. A verdade é uma só: precisamos de uma mudança comportamental urgente. Para exemplificar melhor, encerro este editorial com um trecho

do texto do nosso articulista e conselheiro da revista Márcio Thamos.

“A questão ambiental traz em si a virtude da comunhão espontânea entre os povos. Ela nos convida a um entrelaçamento universal de mãos e nos sugere uma dança telúrica, viva e ritmada, em que os gestos de cada um sejam a um tempo causa e consequência do júbilo de se sentir de fato integrado a esse todo maior ao qual denominamos humanidade“.

Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Tenha uma ótima leitura!

edição especial

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Ano 2 - Nº 22 - Maio 2009 - Distribuição Gratuita

gente

do Bem paulo skaf

cRami

Os caminhos do desenvolvimento

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Ano 3 - Nº 29 - Dezembro 2009 - Distribuição Gratuita

Somos os

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Retrospectiva

2009

Marcos Jank

Catástrofe Jurássica

Deficientes e eficientes

Renato Aragão

Alerta máximo na COP 15

Aumento de oportunidades no mercado de trabalho

“Eterna criança”

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Ano 3 - Nº 30 - Janeiro 2010 - Distribuição Gratuita

Em defesa da energia limpa

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próximoS? 10

Teatro

Respeito é bom, e criança gosta!

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10

Mauricio de Sousa

Viviane Senna

Conscientização em quadrinhos

Pela memória de

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Ayrton Senna

18

Neo Mondo - Junho 2010

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Em busca da fala


Perfil

O PIB que vale O LIDE - Grupo de Líderes Empresariais faz do respeito ao meio ambiente um de seus carros-chefe; tanto que tem no LIDE Sustentabilidade o seu braço ambiental Gabriel Arcanjo Nogueira

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Divulgação

Empresário, jornalista e publicitário, Doria Jr. lidera Grupo de empresas de forte responsabilidade social e ações ambientais

10

Neo Mondo - Junho 2010

uando se fala em Produto Interno Bruto (PIB), nem sempre 2 e 2 são 4. Ao menos se levarmos em conta estudos, projeções de instituições de respeito no cenário econômico-administrativo e os dados oficiais. Para o LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, o que vale mesmo é o PIB social, nele entendidos aspectos como a da sustentabilidade, inclusão, preservação ambiental, em suma, qualidade de vida. Criado em junho de 2003, para difundir e fortalecer os princípios éticos de governança corporativa no Brasil, promover e incentivar as relações empresariais e sensibilizar o apoio privado para programas comunitários, o LIDE já disse a que veio por vários motivos. Um deles, o crescimento de 600%, ao completar 7 anos de vida. Hoje são 650 empresas associadas, responsáveis por iniciativas que priorizam educação, formação profissional e respeito ao meio ambiente. Todas são consideradas empresas de peso, prezam por sua imagem pública e gozam de alta reputação no Brasil e no exterior. Quem garante é o fundador e presidente do LIDE, João Doria Jr. . Empresário, jornalista e publicitário, ele revela neste Perfil o quanto é importante termos no país um grupo empresarial com visão de futuro e ação no presente, em que a questão ambiental é ponto de honra para seus integrantes.


Neo Mondo: Os associados do LIDE representam mais de 40% do PIB. Para eles, vale o PIB econômico ou social? Como o Grupo vê esse aspecto do desenvolvimento brasileiro? João Doria Jr.: É o PIB privado brasileiro. O LIDE enxerga o desenvolvimento brasileiro de forma positiva, não apenas para os empresários, mas também para o crescimento do país. Os números da economia brasileira são bastante otimistas e apontam crescimento, e o desenvolvimento brasileiro tem ganhado com isso em melhor qualidade de vida e melhor distribuição de renda. Neo Mondo: Há, no país, entidades empresariais até centenárias. O LIDE veio dar uma arejada ou uma sacudida no setor produtivo? Como e quando surgiu o grupo? Pode-se dizer que o carro-chefe dele é a sustentabilidade? João Doria Jr.: O LIDE foi criado em 2003. Sem dúvidas a sustentabilidade e ações de respeito ao meio ambiente são um dos carros-chefe do LIDE, ao lado de outros objetivos como incentivar e promover as relações empresariais; discutir temas econômicos e políticos de interesse nacional; fortalecer a governança corporativa; defender a ética, os princípios democráticos e a eficiência de gestão nos setores público e privado; promover, atualizar e aperfeiçoar o conhecimento empresarial; sensibilizar o setor privado para programas comunitários, com prioridade para educação e formação profissional; estimular o respeito pelo meio ambiente. Neo Mondo: Das empresas que compõem o LIDE, quantas são pesos pesados da economia nacional e que espaço nele ocupam as pequenas e médias? João Doria Jr.: Todas as empresas do LIDE são consideradas de peso, já que para se associar ao Grupo o faturamento anual da organização deve ser de R$ 200 milhões, ter uma política de governança corporativa, responsabilidade social e ações de respeito ao meio ambiente. Além disso, as empresas devem ter imagem pública de alta reputação no Brasil e no exterior.

Neo Mondo: O LIDE, a nosso ver, coloca a classe produtiva brasileira na vanguarda do desenvolvimento sustentável. Como estamos em relação a outros países? João Doria Jr.: A sustentabilidade é um tema que norteia as atividades do Grupo, por meio do LIDE Sustentabilidade, braço ambiental do LIDE, que promove o entendimento e a importância da preservação do meio ambiente junto à sociedade brasileira. Pela Seminars, realizamos o Fórum Internacional de Sustentabilidade em março deste ano. Reunimos 300 empresários e lideranças políticas do Brasil, com participação do exvice-presidente dos Estados Unidos e Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, do cineasta James Cameron, além dos ambientalistas Thomas Lovejoy e Jean-Michel Cousteau, entre outras figuras importantes. Em 2011, realizaremos o Fórum Mundial de

Sustentabilidade, que consolidará o Brasil no debate deste tema. Neo Mondo: O círculo virtuoso de desenvolvimento que o país experimenta, graças também a investimentos sociais que produzem a inclusão, entre outros efeitos benéficos, contribui em que medida para que o LIDE tenha sido criado? A criação do grupo veio na esteira dessa nova mentalidade? João Doria Jr.: O LIDE foi criado com o objetivo de atualizar e aperfeiçoar o conhecimento empresarial, para sensibilizar o setor privado em relação a programas comunitários, com prioridade para educação, formação profissional e também para estimular o respeito pelo meio ambiente. Além de discutir temas econômicos e políticos de interesse nacional, fortalecer a governança corporativa e defender a ética, os princípios democráticos e a eficiência de gestão nos setores público e privado.

Folha de serviços exemplar Braço ambiental do grupo, o LIDE Sustentabilidade - em pouco mais de um ano de existência apresenta uma folha de serviços exemplar (ver quadro) ao lado de importantes ações desenvolvidas em parceria na condução de projetos. “Nosso propósito é balizar os empresários sobre todas as informações relacionadas ao tema, principalmente para estimulá-los na troca de experiências e na prática de iniciativas”, diz Roberto Klabin, seu presidente. A exemplo do que aconteceu no debate O desafio urbano da reciclagem, tema do primeiro encontro do LIDE Sustentabilidade. Os participantes não se conformam com a realidade de, no país, apenas 6% das 150 mil toneladas desses resíduos serem aproveitadas para reciclagem, enquanto diariamente a sua quase totalidade é despejada no meio ambiente. Índice LIDE-FGV Mas não é apenas o meio ambiente que esses líderes empresariais querem melhorar. Em debate-almoço,

em meados de maio, com a candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, 350 empresários compuseram a mais recente versão do índice LIDEFGV. Comparativamente ao medido em março, eles se mostraram quase que no mesmo nível do otimismo: 7,1, para 7,3; este é recorde absoluto na apuração desde 2003. Otimismo que se traduz em outros números da pesquisa: 74% consideram que seus negócios estão melhores agora em comparação com os do ano passado; e os empresários que pretendem contratar, neste ano, representam 65% dos entrevistados. Além do grau de otimismo, eles revelaram as prioridades que consideram relevantes, entre elas, as reformas fiscal e trabalhista, com 30% dos entrevistados, cada, seguindo-se a reforma política, citada por 20% deles, e a jurídica, com outros 20%. Dos temas destacados pelos entrevistados como prioritários, economia e segurança lideram, com 20%; educação, saúde e infraestrutura fecham a lista, com 15% cada.

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Perfil

um programa de responsabilidade social, tenha postura ética e respeito ao meio ambiente.

Foto: Gustavo Scatena/Redação Terra

LIDE, com Doria Jr. à frente do evento em Manaus (AM), já prepara o Fórum Mundial para 2011

Neo Mondo: Por setores e/ou segmentos, é possível termos uma radiografia do LIDE, para melhor entendimento de nosso leitor? O grupo está aberto a mais adesões?

João Doria Jr.: O LIDE possui, hoje, 650 empresas associadas, está aberto a novas adesões e exige, para filiação, que a empresa interessada tenha faturamento anual mínimo comprovado de R$ 200 milhões, apoie ao menos

Neo Mondo: Quais são os principais projetos e iniciativas do grupo com respectivos resultados? João Doria Jr.: Todos os projetos são relevantes, e nossas iniciativas têm alcançado bons resultados. Um ótimo exemplo é o LIDE Educação. Os projetos Se Liga, Acelera e Superação, implantados em parceria com o Instituto Ayrton Senna em Pernambuco, Paraíba e São Paulo, foram adotados por 3.647 escolas em 2009. Em Pernambuco, o índice de alfabetização de alunos ficou em 82,2%. Na Paraíba, foi ainda maior: 83,1%. No caso do Superação, em São Paulo, os jovens leram, em média, seis livros por vontade própria no ano passado. A média dos estudantes brasileiros é inferior a dois livros. Neo Mondo: O senhor se define como empresário, jornalista, multimídia ou há

À frente de Grupo qualificado

F

ormado em jornalismo e publicidade, João Doria Jr. foi secretário de Turismo e presidente da Paulistur, entre 1983 e 1986; e presidente da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo entre 1986 e 1988. Entre outras instituições representativas que presidiu e/ou participou, é membro do Conselho das ONGs Projeto Âncora e da Fundação SOS Mata Atlântica. Preside as empresas Videomax Produções, a Doria Associados e a Doria Associados Editora. Além de editor, escreveu os livros Sucesso com Estilo e Lições para Vencer. Criou o projeto Market Plaza, shopping sazonal que funciona no inverno e preside o conselho da Seminars, além de ser colunista da revista Isto É Dinheiro. Foi eleito uma das 100 pessoas mais influentes do país, pela revista IstoÉ, em 2009. Em 2010, foi eleito uma das 100 pes-

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Neo Mondo - Junho 2010

soas mais influentes no mundo, pela revista IstoÉ. Apresenta a sétima edição do reality show O Aprendiz, na rede Record, desde abril de 2010. Acompanhe nosso entrevistado no www.twitter.com/jdoriajr e saiba mais sobre as realizações do LIDE a seguir. Coerente com seu objetivo de difundir e fortalecer os princípios éticos de governança corporativa no Brasil, promover e incentivar as relações empresariais e sensibilizar o apoio privado para programas comunitários, o Grupo registra importantes realizações:

• Fórum Empresarial Maior encontro empresarial do Brasil, anualmente em Comandatuba (BA), voltado para a discussão de temas da política econômica, gestão empresarial e responsabilidade social que impactam no cenário nacional, em 2010 terá como tema “Cres-

cimento Econômico Sustentável”, “Ética e Eficiência na Gestão Pública”, ”Sustentabilidade Ambiental” e “Esporte como Fator de Desenvolvimento Econômico e Social no País”. • Meeting Internacional Primeira iniciativa brasileira a reunir empresários para fortalecer relacionamentos e debater importantes questões, acontece realizado anualmente há 13 anos, para fortalecer as relações entre empresários, corporações e governos de diferentes países. Em sua 15a. edição em Cartagena, Colômbia , reunirá 160 dos maiores CEOs brasileiros, empresários colombianos, além de autoridades dos dois governos, para debater temas essenciais como “Educação e Segurança Pública” e “Crescimento Econômico Sustentável da América Latina”.


algum outro termo que traduza melhor o que é ser João Doria Jr. no momento? João Doria Jr.: Sou empresário, jornalista e publicitário. Sou um trabalhador incansável, um eterno aprendiz; me defino assim.

Mais 600% em 7 anos

Neo Mondo: Talvez ainda seja cedo, mas o seu contato, na TV, mais de perto com jovens que estão na reta final da formação acadêmica, o deixa mais esperançoso pelo futuro de nossa gente? João Doria Jr.: Temos muitos jovens capazes de mudar a história do Brasil. Mas para isso acontecer é necessário que o país mude sua postura com relação à educação, ainda muito deficiente.

• Estas representam 44% do PIB privado nacional

Neo Mondo: Como e onde João Doria se sente mais à vontade? Em família, com os amigos, na TV, numa reunião de negócios? João Doria Jr.: Estar em casa com a família é um momento especial e agradável. Trabalhar é um hobby; eu amo o que faço, e quando gostamos do que fazemos, o ‘estar à vontade’ é consequência disto.

• Participação destacada no Fórum Internacional de Sustentabilidade (mar/10)*

• CEO’S Family Workshop Reúne alguns dos mais bem-sucedidos empreendedores do Brasil e presidentes de grandes empresas, com suas esposas e filhos de 1 a 25 anos, para trata do seu bem mais precioso: a família. São desenvolvidas atividades para pais e filhos, desde 2005, com grande sucesso. Em 2010 participaram figuras marcantes, entre elas, Renato Opice Blum, advogado e especialista em crimes na internet; Maria Paula Gonçalves da Silva, a Magic Paula, Malcom Montegomery, médico ginecologista e autor de vários livros; Carlinhos de Jesus, dançarino e professor de dança; Beto Pandiano, velejador; Içami Tiba, médico psiquiatra, educador e especialista em educação familiar; e Alexandre Rossi, conhecido nacionalmente como Dr. Pet. • Fórum de Marketing Empresarial O primeiro acontece de 13 a 15 de agosto, no Hotel Sofitel Jequitimar,

• O LIDE foi fundado em junho de 2003 • Em 7 anos, cresceu 600% • São 650 empresas associadas Fonte: CDN Comunicação Corporativa

Braço ambiental do LIDE

• Criado em 2009, o LIDE Sustentabilidade é presidido por Roberto Klabin • Estimula o debate e a troca de experiências e ações de sustentabilidade • Primeiro encontro (set/09) debateu O desafio urbano da reciclagem • Defende a aprovação de uma política nacional de resíduos sólidos • É composto por LIDEM - Grupo de Mulheres Líderes Empresariais; JLIDE - Grupo de Jovens Líderes Empresariais; LIDE Educação - no campo da responsabilidade social * Ao difundir a prática e mecanismos bem-sucedidos de desenvolvimento sustentável da Amazônia, os dois dias do Fórum em Manaus serviram para priorizar o consumo de produtos e alimentos da região; a reciclagem ou reutilização de resíduos; o reaproveitamento de material usado no evento por uma cooperativa de reciclagem local, bem como por cooperativas de costureiras locais; além do uso exclusivo de madeira certificada. Fonte: CDN Comunicação Corporativa

no Guarujá (SP), para apresentar o surgimento de um novo mercado no período pós-crise e destacar a importância do marketing na reestruturação das estratégias das empresas. • Fórum de Empreendedores Formado por jovens executivos e empreendedores, com até 40 anos,

e na posição de liderança nas empresas associadas ao LIDE, o JLIDE – Grupo de Jovens Líderes Empresariais realizará a primeira edição de 19 a 21 de novembro no Grande Hotel em Campos do Jordão (SP), para promover e estimular troca de experiências de sucesso no empreendedorismo empresarial. Elias Kitosato

Em Comandatuba (BA), no Fórum Empresarial, todo ano o LIDE discute temas que impactam o cenário nacional

Neo Mondo - Junho 2010

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Profile

GDP

that COUNTS ‘LIDE – Group of Business Leaders’ makes respect for the environment one of its main flagships; so much so that they have created their own environmental division; ‘LIDE Sustainability’ Gabriel Arcanjo Nogueira

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Divulgação

Entrepreneur, journalist, and advertising professional, Doria Jr leads a Group of companies with strong commitment to social responsibility and environmental actions

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Neo Mondo - June 2010

hen talking about GDP, 2 plus 2 doesn’t always equal 4, especially if we take into consideration studies, forecasts from respected institutions in the economic-administrative scenario, and official data. For ‘LIDE – Group of Business Leaders’, what truly counts is the ‘social’ GDP, encompassing aspects such as sustainability, inclusion, and environmental preservation; in a nutshell: quality of living. Created in June 2003 in order to deploy and strengthen ethical corporate management principles in Brazil, while promoting business relations and gaining support from the private sector to community programs, ‘LIDE’ has stated that it has been created for myriad reasons. A proof of that is the 600% growth it has achieved in its seven years of existence. Today LIDE has 650 affiliated companies who are responsible for initiatives that prioritize education, professional qualification, and respect for the environment. They are all considered important companies that value their public image and reputation both in Brazil and abroad. Who vouches for that is founder and President of ‘LIDE’, Mr. João Doria Jr. Businessman, journalist, and publicist, he reveals in this ‘Profile’ interview the importance of having in Brazil a group of businesses with foresight and capable of acting in the present, and whose members consider the environmental issue a question of honor.


Neo Mondo: For LIDE, whose affiliated companies account for over 40% of our GDP, which GDP actually counts: the economic or the social one? How does the Group see this Brazilian development aspect? João Doria Jr: It’s the private Brazilian GDP that matters. LIDE sees the Brazilian development in a positive way, not only for entrepreneurs, but also for the benefit of the country. Brazilian economic figures are very optimistic and point toward economic growth, and the development of the country has gained with that in terms of better quality of living and better income distribution. Neo Mondo: There are, in Brazil, business entities over a hundred years old. Has LIDE come to revamp the scenario or shake up the productive sector? When and how was the Group formed? Can we say that its flagship is sustainability? João Doria Jr: LIDE was created in 2003. Without any doubt, sustainability and environmental actions are one of LIDE’s flagships, along with other objectives, such as fostering business relations, discussing economic and political issues of national interest, strengthening corporate management, defending ethics, democratic principles and the efficient administration of the public and private sectors, promoting, updating and improving business knowledge, increasing the awareness of the private sector of the need to support community programs, prioritizing education, professional qualification and respect for the environment. Neo Mondo: Of the companies that make up LIDE, how many are heavyweights in the national economy and what role do medium and small size companies play? João Doria Jr: All LIDE companies are considered heavy-weights, since one of the prerequisites to join the Group is an annual turnover of R$ 200 million or more, besides having a sound corporate management policy, social responsibility and actions to foster respect for the environment. Besides that, these companies must have a positive image and good public reputation in Brazil and overseas.

Neo Mondo: It is our understanding that LIDE places the productive sector at the forefront of sustainability. And how do we fare compared to other countries? João Doria Jr: Sustainability is an issue that guides the activities of the Group through ‘LIDE Sustainability’ – LIDE’s environmental division – who fosters understanding of the importance of preserving the environment for the Brazilian population. Through ‘Seminars’ we carried out the International Sustainability Forum in March this year. We gathered 300 business persons and the Brazilian political leadership and counted on the participation of the ex-Vice President of the United States and Nobel Prize winner, Al Gore; filmmaker James Cameron, and environmentalists Thomas Lovejoy and Jean-Michael Cousteau, among other personalities. In 2011 we will carry out the Global Sustainability Forum, which will consolidate Brazil’s

participation in the debate of this issue worldwide. Neo Mondo: The virtuous development track record our country has experienced, along with social investments which foster inclusion, among other beneficial factors, have contributed to what extent to the creation of LIDE? Was LIDE’s creation thrust by the tides of this emerging mindset? João Doria Jr: LIDE was created with the objective of updating and improving business knowledge, raising the private sector’s awareness of the need to support community programs with emphasis on education and professional qualification, while also promoting environmental respect. Our aim is also to discuss economic and political issues of national interest, strengthen corporate management, and defend ethics and democratic principles in the efficient administration of the public and private sectors.

A Track Record that Sets an Example The Group’s environmental division, ‘LIDE Sustainability’, in a little over one year of existence, presents an impeccable track record (see table) along with important actions jointly developed with other reputable entities to carry out key projects. “Our purpose is to guide businessmen through pertinent information and, mainly, to motivate them to exchange experience and carry out applicable initiatives”, says Roberto Klabin, President. Just like what happened at the ‘The urban challenge to recycling’ debate – topic of the first ‘LIDE Sustainability’ summit –, participants were thunderstruck at the fact that only 6% of the 150 tons of reusable waste produced in this country are effectively recycled, the rest of it being almost totally dumped into the environment. LIDE-FGV Index But the environment is not the only thing these leaders want to impro-

ve. During a debate-lunch in midMay with Green Party (PV) candidate, Marina Silva, the latest LIDE-FGV Index version was wrapped up in a survey encompassing 350 businessmen. Compared to the March figures, optimism levels remained almost unaltered: 7.1 to 7.3, which is the highest record in the poll since 2003. Such optimism is reflected in other survey results: 74% think their businesses are doing better now, compared to last year; and 65% of the interviewees intend to hire more workers this year. Besides the level of optimism, they have pointed out which priorities they consider more relevant; Tax and Labor reforms raking first at 30%, followed by Political and Legislative reforms at 20% each. Of the other issues highlighted as priorities by the participants, economy and safety rank first at 20%; with education, health, and infrastructure closing the list at 15% each.

Neo Mondo - June 2010

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Profile

Gustavo Scatena/Redação Terra

‘LIDE’, with Doria Jr conducting the event in Manaus (AM), already preparing the Global Forum in 2011

Neo Mondo: Is it possible to get an x-ray of LIDE by sector and/or segment for our readers to better understand it? Is the Group open to new members? João Doria Jr: LIDE currently has 650 affiliated companies and it is, indeed, open to companies inte-

rested in becoming new members, provided their annual turnover is no less than R$ 200 million and they support at least one social responsibility program, besides having a track record of ethics and respect for the environment.

Neo Mondo: What are the Group’s key projects and their respective results? João Doria Jr: All projects are relevant and our initiatives have obtained positive results. A great example is ‘LIDE Education’. Projects ‘Connect Yourself’ (‘Se Liga’), ‘Step on It’ (‘Acelera’), and ‘Overcome’ (‘Superação’), jointly implemented with the ‘Ayrton Senna Institute’ in the States of Pernanbuco, Paraíba, and São Paulo, were adopted by 3,647 schools in 2009. In Pernambuco the literacy rate of students rose to 82.2%. In Paraíba, results were even better, reaching 83.1%. In the case of the ‘Overcome’ Project, youngsters in São Paulo read, on average, six books of their choice last year. The average grades of Brazilian students are lower than the average number of books read through this project. Neo Mondo: Do you define yourself as a businessman, a journalist, a multimedia professional, or is there any another term to better define João Doria Jr today?

Leading a qualified Group

H

aving majored in Journalism and Advertising, João Doria Jr was Secretary of Tourism and President of ‘Paulistur’ between 1983 and 1986, and President of ‘Embratur’ and the ‘National Tourism Council’ between 1986 and 1988. Among other household institutions he has chaired and/or participated in, he is a member of the ‘NGO Council Anchor Project’ (‘Conselho de ONGs Projeto Âncora’) and of the ‘SOS Atlantic Forest Foundation’ (‘Fundação SOS Mata Atlântica’). He is President of ‘Videomax Productions’, ‘Doria Associates’ and ‘Doria Associates Publishing Company’. Besides being a publisher, he has written the books ‘Success in Style’ (‘Sucesso com Estilo’) and ‘Lessons to Win’ (‘Lições para Vencer’). Creator of the ‘Market Plaza’ project, a seasonal shopping mall for the winter, he also presides the ‘Seminars’ council, besides writing for ‘Isto É Dinheiro’ magazine.

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Elected one of the most influential persons in the country by ‘Isto É’ magazine in 2009, he was then elected one of the most influential persons in the world by the same publication in 2010. Follow João Doria Jr on www.twitter. com/jdoriajr and learn more about ‘LIDE’’s achievements (see below). Coherent in his objective to publicize and strengthen ethical principles of corporate management in Brazil, he promotes business relations and fosters private sector support to community programs. The ‘LIDE’ Group has a record of important achievements: • Business Forum Biggest business gathering in Brazil, it takes place in Comandatuba (BA), and aims at discussing issues pertaining to political economy, business management, and social responsibility that impact the national scenario. For 2010 the topics to be discussed are “Sustai-

nable Economic Growth”, “Ethics and Efficiency in Public Administration”, “Environmental Sustainability” and “Sport as a Social and Economic Development Factor for the Country”. • International Meeting First Brazilian initiative to gather businessmen and strengthen relations while debating key issues. It is an annual event which has taken place for the last 13 years and aims at tightening the ties that bind together businesses, corporations, and governments from different countries. The 15th event in Cartagena, Colombia, will gather 160 of the most important CEOs from Brazil, Colombian businessmen, and officers from both governments to debate key issues, such as “Education and Public Safety” and “Sustainable Economic Growth in Latin America”.


João Doria Jr: I’m a businessman, a journalist, and an advertising professional. I’m a relentless worker and an eternal learner; that’s how I define myself. Neo Mondo: It might still be too soon to state this, but does your closer contact, on TV, with young adults finishing their higher education, give you greater hope for the future of our people? João Doria Jr: There are many young people capable of changing Brazil’s history, but for that to effectively happen the country must change its attitude with regard to education, which is still very precarious. Neo Mondo: How and where does João Doria feel more at ease; with the family, with friends, on TV, or at a business meeting? João Doria Jr: Being at home with the family is both very special and pleasant. Work is a hobby; I love what I do. And when we love what we do, feeling comfortable is merely a consequence of that.

• CEOs Family Workshop Gathering of some of the most successful Brazilian entrepreneurs and large company CEOs, along with their spouses and children between 1 and 25 years of age to talk about their most precious asset: their families. Activities are developed for parents and children and, since 2005, the event has been a great success. In 2010 important personalities were there, such as lawyer and specialist on Internet crime Renato Opice Blum; basketball star Maria Paula Gonçalves da Silva – a.k.a. ‘Magic Paula’; Malcolm Montgomery, gynecologist and author of several books; dancer and choreographer Carlinhos de Jesus; competition sailor Beto Pandiano; renowned psychiatrist and specialist in family education, Içami Tiba; and Alexander Rossi, nationally known as ‘Dr. PET’.

Over 600% in 7 years

• LIDE was founded in July 2003 • In 7 years it grew 600% • There are 650 affiliated companies • These companies represent 44% of the private national GDP Source: ‘CDN’ Corporate Communication

LIDE’s environmental division

• Created in 2009, ‘LIDE Sustainability’ is chaired by Roberto Klabin • It fosters debate, information exchange, and environmental actions • At the first summit (Sept. 09) ‘The urban challenge to recycling’ issue was debated

• ‘LIDE Sustainability’ fights for the approval of a national solid waste policy • Highlighted participation in the ‘International Sustainability Forum’ (Mar 09 *) • Subdivisions include ‘LIDEM – Group of Women Business Leaders’, ‘JLIDE – Group of Young Business Leaders’, and ‘LIDE Education’ – in the field of social responsibility * By publicizing information on successful practices and mechanisms of sustainable development of the Amazon, the two-day Forum in the city of Manaus aimed at prioritizing the use and consumption of local food and products; recycling or reutilizing waste; reprocessing materials used during the event by local sewing and tailoring cooperative entities, as well as the exclusive use of certified wood. Source: ‘CDN’ Corporate Communication

• Business Marketing Forum The first event will take place from the 13th to the 15th of August at the ‘Sofitel Jequitimar Hotel’ in Guarujá (SP) to present the emergence of a new post-crisis market and to point out the importance of Marketing in the restructuring process of company strategies.

• Entrepreneurial Forum Composed of young executives up to 40 years of age with leading positions in ‘LIDE’’s affiliated companies, ‘JLIDE – Group of Young Business Leaders’ will carry out this first event from the 19th to the 21st of November at ‘Grande Hotel’ in Campos do Jordão (SP) to foster the exchange of successful business enterprising experiences. Elias Kitosato

In Comandatuba (BA), at the Business Forum; every year ‘LIDE’ discusses issues that impact the national scenario

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Animais

O hiato dos Vagalumes Verdadeiros indicadores dos impactos ambientais, os vagalumes estão sumindo – e com eles uma série de aplicações biotecnológicas e medicinais Heloisa Moraes

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lembrança de noites pontuadas por potes brilhantes, cheios de vagalumes, não é rara entre brasileiros de gerações passadas. Os mais jovens, no entanto, não tiveram tanta sorte - é cada vez mais difícil presenciar o espetáculo luminoso dos insetos, afugentados pelas luzes urbanas e pela degradação ambiental de biomas em todo o país. A constatação faz parte de uma pesquisa coordenada pelo professor Vadim Viviani, do grupo de Bioluminescência e Biofotônica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no campus de Sorocaba (SP). Há cerca de 20 anos, o grupo visita periodicamente a região do Parque Nacional das Emas, no sudoeste do Estado de Goiás, que preserva uma parte do Cerrado e abriga diversas espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção. Segundo o professor, o desaparecimento dos insetos indica sutilmente um problema muito maior. “Belezas naturais, ícones da diversidade brasileira correm risco de extin-

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ção. Por conta da degradação ambiental, que é muito grande.” Engana-se quem imagina que a deterioração citada é fruto de desmatamentos e queimadas, somente. Viviani explica que plantações, principalmente de soja, tomaram enormes áreas que até então eram pastagens ou habitats naturais – o caso Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ricos em vaga-lumes no mundo. Ele estima que o dano já se estenda até o norte de Tocantins e acredita que o uso de pesticidas, herbicidas e outras substâncias químicas utilizadas nas lavouras também contribuiu para a extinção silenciosa de algumas espécies. Tal desequilíbrio abala não só a natureza, mas os cientistas e pesquisadores – e isso tem a ver com o potencial de aplicação da luciferase, a enzima responsável pela emissão de luz dos vaga-lumes, desde o estágio larval até o adulto. O processo que gera luz é o mesmo em quase todos os animais bioluminescentes: a luciferase oxidar a proteína luciferina, o que

emite fótons de luz – como se fosse um processo inverso da fotossíntese. A substância funciona como um biossensor, se “apagando” se exposta a toxinas, por exemplo, e tornando mais fácil a detecção de agentes microbicidas e crescimento celular. Esta última aplicação é uma das mais promissoras, pois torna possível o estudo e acompanhamento de vários tipos de câncer. Hoje, o interesse é descobrir ainda mais detalhes sobre o mecanismo de funcionamento das enzimas relacionadas com a bioluminescência para tentar modificá-las para torná-las ainda mais aplicáveis do que já são. Conforme a redução da diversidade de espécies, o leque de possibilidades de descobertas e melhorias biotecnológicas vai se fechando. “Precisamos preservar o meio ambiente por também sermos parte dele, e não só para tirarmos proveito do que ele nos oferece”, ressalta o professor. Ele ainda explica que, embora existam vários estudos sobre bioluminescência em outros países, aqui no Brasil poucos sabem da importância das moléculas de vaga-lumes para a biomedicina e biotecnologia atual. Esse fator faz coro aos efeitos da iluminação artificial, que também prejudica a manutenção dessas espécies. É que a iluminação pública, cada vez mais generosa e potente, literalmente apaga o lampejo emitido para atrair o parceiro para o acasalamento. No livro Antes que os vaga-lumes desapareçam, o pesquisador Alessandro Barghini, do Instituto de Eletrotécnica e Energia e do Laboratório de Estudos Evolutivos do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), conta que os vagalumes “desligam” a luz quando o nível de iluminação ambiente é superior a 0,5 lux – a mesma medida da intensidade lu-


Krill-do-norte (Meganyctiphanes norvegica)

Pyrophorus e Microlampis omissa observados pela equipe do LBF (Laboratório de Bioluminescência em Fungos) no Parque Nacional das Emas

Das 500 espécies conhecidas do fungo Mycena, 35 são bioluminescentes

Polvo-sugador-brilhante (Syrtensis stauroteuthis)

minosa que muitas câmeras fotográficas exigem para capturar imagens ou vídeos com o mínimo de qualidade. Com isso, a reprodução é diretamente ameaçada e a população dos insetos definha. Nem tudo que brilha é ouro No Brasil, os seres luminosos são na maioria terrestres. Além dos vagalumes, existem fungos que emitem uma luz constante devido a reações químicas que dependem sempre da presença de oxigênio. Tais organismos são estudados por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Bioluminescência de Fungos, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP). O grupo, coordenado pelo professor Cassius Stevani, investiga o mecanismo de bioluminescência, substâncias bioativas em extratos dos cogumelos, o desenvolvimento de bioensaios ecotoxicológicos, a biorremediação de solos contaminados e a biodegradação de resíduos industriais. Em geral, as espécies de fungos bioluminescentes ocorrem em ambientes florestais úmidos, pois dependem da umidade para se alimentar, crescer e reproduzir daí o motivo de muitos estarem na América do Sul. A bioluminescência dos fungos pode servir para defesa (alertar predadores ou atrair predadores de animais fungívoros) e para atrair insetos noturnos, que auxiliam na dispersão dos esporos – que podem germinar e originar outro fungo. Apesar de desempenhar funções indispensáveis ao funcionamento de ecossistemas terrestres (como a decomposição de matéria orgânica morta, por exemplo), os fungos ainda estão dentre os organismos menos conhecidos do mundo ainda não se

sabe muito sobre o mecanismo das reações químicas associadas a esse processo, nem por que ele ocorre. Edith Widder, pesquisadora da Associação de Pesquisa e Conservação de Oceanos Fort Pierce, nos Estados Unidos, publicou um artigo em maio na revista Science com um foco especial nos animais marinhos. Apesar de ainda ser difícil detectar esses animais (pois exigem técnicas como a iluminação infravermelha), 700 gêneros bioluminescentes já foram registrados e 80% deles são encontrados no oceano. Por conta do ambiente em que vivem, a cor mais frequente na bioluminescência desses animais é o azul, seguida pelo verde, violeta, amarelo e laranja, além de outros espectros de cor imperceptíveis ao olho humano. Os motivos são basicamente os mesmos: conseguir alimento, achar um par e auxiliar na defesa, que pode ser uma camuflagem ou a exalação de partículas luminosas que despistam ou cegam o predador. Algumas das espécies marinhas bioluminescentes conhecidas incluem o peixe-lanterna (Symbolophorus barnardi), cujos olhos são iluminados, o krill-do-norte (Meganyctiphanes norvegica), parecido com um camarão, ou o polvo-sugador-brilhante (Syrtensis stauroteuthis), que lembra uma medusa. Qualquer semelhança não é mera coincidência Se você já assistiu Avatar, vai saber do que estou falando. Em um primeiro momento, as imagens panorâmicas de bioluminescência em Pandora são hipnotizantes – nivelamos este tipo de beleza, nunca visto antes, a um sonho bom que alguém sonhou.

Mas o que realmente surpreende é redescobrir a bioluminescência sob formas que existem aqui – e se não dá mais shows de cor e brilho é por motivos que vão do obstáculo tecnológico de captura de imagens até o pouco conhecimento do assunto, como pesquisadores citam acima. O próprio Vadim Viviani, professor da UFSCar, reconhece a semelhança. “Certamente os produtores do filme consultaram especialistas em bioluminescência.” (com informações da Agência Fapesp, How Stuff Works e Scietific American Brasil)

Fonte: http://plantandoconsciencia.wordpress.com

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Animals

Hiatus of the Fireflies True indicators environmental impacts, fireflies are disappearing – and with them a series of potential biotechnological and medicinal applications Heloisa Moraes

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he memory of nights decorated with glass jars filled with fireflies is not rare among Brazilians from generations past. Younger people, however, have not been so lucky – it is increasingly difficult to witness the bright show of these insects, driven away by city lights and by the environmental degradation of biomes throughout the country. This is substantiated as part of a research coordinated by the Professor Vadim Viviani, of the Bioluminescence and Biophotonics group of the Federal University of São Carlos (UFS-Car), at their Sorocaba campus (SP). For approximately 20 years, the group has periodically visited the National ‘Emas’ Park region, in the southwest end of the State of Goiás, which preserves a part of the ‘Cerrado’ (Brazilian Savannah) and shelters several species of fauna threatened with extinction. According to the Professor, the disappearance of the insects subtly indicates a much bigger problem. “These natural beauties, icons of the Brazilian diversity,

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are in risk of extinction on account of tremendous environmental degradation.” If you think this degradation is merely due to fires and deforestation, you are wrong. Viviani explains that plantations, mainly of soy, have taken up enormous areas that used to be natural habitats – which is the case of the Atlantic Forest, one of the richest firefly ecosystems in the world. He estimates that the damage has already reached the north of Tocantins and believes that the utilization of pesticides, weed-killers and other chemical substances used in the plantations also contributed to the silent extinction of some species. Such an imbalance not only shakes nature, but also scientists and researchers because of the potential application of luciferase, the enzyme responsible for the fireflies’ emissions of light, from the larval stage to their adult phase. The process that produces light is the same in almost all bioluminescent creatures: luciferase oxidizes a protein called luciferin, which gives out photons of light – as if in a rever-

se process of photosynthesis. The substance works as a biosensor, “going out” if exposed to toxins, for instance, and therefore making the detection microbiocides and cellular growth agents easier. This last application is one of the most promising, since it makes it possible to study and follow-up on the development of several types of cancer. Today our interest is to discover even more details on the mechanism of the enzymes connected with bioluminescence to try to modify them and make them even more applicable than they already are. reduction of the diversity of species progresses, the range of options to discover improvements to biotechnology grows narrower by the minute. “We must preserve the environment not only to benefit from what it offers us, but also because we’re part of it”, emphasizes the Professor. He also explains that, although there are several studies on bioluminescence in other countries, here in Brazil very few people are aware of the importance of firefly molecules to our current biomedicine and biotechnology. This oblivion factor is further aggravated by the effects of artificial lighting, which also damage the maintenance of these species. The fact is that public lighting; ever more abundant and potent, literally outshines the bioluminescent flashes used by fireflies to attract their mating partners. In the book ‘Before the Fireflies are all Put Out’ (‘Antes que os Vagalumes Desapareçam ), researcher Alessandro Barghini, from the Institute of Electro-technics and Energy and of the Evolutionary Studies Laboratory of the Bioscience Institute (IB) of the University of São Paulo (USP), says that fireflies “switch off their lights” when the lighting level of the environment is greater than 0.5 lux – the


Northern krill (Meganyctiphanes norvegica)

Pyrophorus e Microlampis omissa observed by the LBF team (Fungi Bioluminescence Lab) at the National ‘Emas’ Park

Of the 500 known types of the Mycena fungi, 35 are bioluminescent

Deep-sea cirrate octopus (Syrtensis stauroteuthis)

same light intensity measurement that many people’s snapshot and video cameras require to capture images or videos at a minimum quality standard. With that the mating of fireflies is directly threatened. Not all that glitters is gold

In Brazil luminous creatures are mostly terrestrial. Besides the fireflies, there are fungi that constantly shine due to chemical reactions that always depend on the presence of oxygen. Such bodies are studied by a team of researchers from the Fungi Bioluminescence Laboratory of the Chemistry Institute of the University of São Paulo (IQ-USP). The group, coordinated by Professor Cassius Stevani, investigates the mechanisms of bioluminescence, bioactive substances in mushroom extracts, ecotoxicological bio tests, bioremediation of contaminated soils, and biodegradation of industrial waste. In general, fungal species occur in humid forest environments, since they depend on moisture to feed, grow, and reproduce; hence the existence of many of them in South America. The bioluminescence of fungi can be used for defense (to scare away or attract predators of fungivorous animals) and to attract nocturnal insects that help to disperse spores, which may germinate and generate other fungi. Although they play indispensable roles to the proper functioning of terrestrial ecosystems (such as the decomposition of dead organic matter), fungi are still among the lesser-known organizations in the world; not much is known about the mechanism

of chemical reactions associated with this process, nor why it occurs. Edith Widder, a researcher at the Ocean Research & Conservation Association (ORCA) in Fort Pierce, Florida, published an article in Science magazine in May with special focus on marine animals. Although it is still difficult to detect such animals (since that requires techniques such as infrared lighting), 700 bioluminescent species have been recorded and 80% of them are found in the oceans. Because of the environment where they live, the most common bioluminescent color of these animals is blue, followed by green, violet, yellow and orange, and other color spectra which are imperceptible to the human eye. The reasons are basically the same: to obtain food, find a mating partner, and assist in their defense, which may be through camouflage or the squirting of luminescent particles to confuse or blind their predators. Some known bioluminous marine species include the lantern-fish (Symbolophorus barnardi), whose eyes shine, the northern krill (Meganycti-Phanes norvegica), and the deep-sea cirrate octopus (Syrtensis stauroteuthis), which looks like a jellyfish.

But what really surprises us is to rediscover forms of bioluminescence that can be found here – and we are only deprived of greater color and light shows due to reasons ranging from technological hurdles to capture the images to lack of knowledge of the subject, as mentioned above by researchers. Even Vadim Viviani, Professor at UFSCar, recognizes the similarity. “The film producers certainly sought advice from experts in bioluminescence.” (with information from ‘FAPESP’, ‘How Stuff Works’ and ‘Scientific American’ Brazil)

Any resemblance is not coincidental

If you have seen Avatar, you will know what I mean. When you first watch it, the panoramic images of bioluminescence in Pandora are simply mesmerizing – we compare such beauty, never before seen, to a good dream someone has dreamed.

Source: http://plantandoconsciencia.wordpress.com Neo Mondo - June 2010

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Animais

Procuram-se anfíbios Onde foram parar as rãs? De Redação

O

nde foram parar? Está é a pergunta feita pela maioria dos cientistas que estão à procura dos anfíbios na natureza. Rãs, pererecas, salamandras apenas para citas alguns - estão desaparecendo, segundo um estudo publicado pela revista Science . Cerca de um terço dessa classe de animais (aproximadamente 1900 espécies) corre risco de extinção. Isso quer dizer que, em proporção, há mais anfíbios do que mamíferos sumindo da terra (cerca de 25% dos mamíferos o que também é um numero assustador).

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A mesma pesquisa publicada pela revista americana mostra que, nas últimas três décadas, 120 tipos de anfíbios desapareceram. Coincidentemente, há 30 anos as mudanças climáticas começaram a entrar em pauta com tons mais alarmantes. Um dos maiores exemplos da velocidade com que estes sumiços estão acontecendo se passa na Califórnia. Nos lagos californianos de Serra Nevada, as espécies de rã que lá habitavam foram dizimadas em quatro anos. Dos cinco lagos estudados, apenas um conseguiu sobreviver às últimas quatro estações, graças ao trabalho de um cientista que dedicou meia década na pesquisa de um remédio contra a maior praga destruidora de anfíbios já vista: o quitrídio. Quitrídio: a causa maior O quitrídio é um fungo aquático que tem propriedades de decomposição. Segundo estudos feitos com as rãs californianas, a pele destes animais estava totalmente infestada por esse fungo. Como uma das principais características dessa classe de animais é a pele permeável e úmida, já que usam-na para respirar, o quitrídio conseguiu facilmente entrar e se instalar nas rãs. Com o tempo, o fungo criou camadas tão grossas de pele mucosa que as rãs não conseguiram mais respirar e acabaram morrendo. Durante anos, cientistas acharam que o primeiro caso do quitrídio havia ocorrido na América do Norte, em 1961. No entanto, pesquisas mais aprofundadas descobriram que a resposta para a maneira de como este fungo se espalhou estava em outro lugar no mapa: na África, desde 1938. A rã-africana (Xenepus laevus) é uma das espécies que, durante anos, sofreu com o quitrídio. Porém, após mutações e adaptações, esta rã conseguiu desenvolver resistência ao fungo, inclusive, carregando-o nas costas. Mas como esta ameaça aos anfíbios foi parar tão longe? Há décadas atrás, cientistas africanos descobriram que injetar hormônios humanos femininos nas rãs era a maneira mais prática para saber se a mulher estava grávida ou não. Como os testes de gravidez ainda não haviam sido inventados, a descoberta levou rãs-africanas para todo o mundo, espalhando o quitrídio. Onde mais esses casos foram constatados? Casos de quitrídios já foram constatados em quase todo o planeta. Nos EUA, a situação está praticamente incontrolável. Grande parte dos cursos de água norte-americana está contaminada pelo fungo. No Missouri,

por exemplo, o quitrídio não ameaça somente as rãs, mas afeta também as salamandras. Cerca de 80% da população de salamandrasgigantes diminuiu nos últimos anos. E quais as consequências disso para a população? Rios e lagos mais sujos. Isso porque as salamandras são responsáveis por grande parte da limpeza da água que circula os EUA, já que estes animais têm propriedades de absorção de resíduos. A solução encontrada para garantir a sobrevivência dessa espécie foi a reprodução em cativeiro, única maneira de garantir a sobrevivência não só dessa espécies, mas de todos os anfíbios. Outro lugar em que foi observada a proliferação do quitrídio foi Porto Rico. Lá, existiam 19 espécies endêmicas de rãs. Desse número, três já foram extintas por causa do fungo. E onde os humanos entram nessa história? Como citado no começo do texto, desde que as mudanças climáticas começaram a ocorrer em maior escala, o desaparecimento dos anfíbios aumentou em proporções assustadoras. Essa classe é tida como a primeira, dentro dos organismos biológicos avançados, a sofrer com os problemas das alterações climáticas. Em Porto Rico, por exemplo, o aumento de 1 grau na temperatura (que não parece muito para os humanos, mas que faz estragos terríveis nas espécies de rãs) ameaçou e ainda ameaça grande parte dos anfíbios. Para piorar, a mudança no clima facilita a proliferação e desenvolvimento do quitrídio. Outro ponto importante a ser destacado é a relação hormonal das rãs e dos humanos.

Há aproximadamente 10 anos, estes animais começaram a nascer com deformidades em suas estruturas corporais. A causa seria o aumento nos níveis de hormônios dessas espécies por causa de resíduos tóxicos lançados pelo homem no meio ambiente. Para nossa preocupação, os níveis de hormônios dessas espécies de anfíbios são muito semelhantes aos do homem. Tão semelhantes que as rãs são utilizadas por médicos e cientistas para testes de câncer de próstata e de mama, já que, hoje em dia, acredita-se que essas doenças têm relações estreitas com os hormônios. Esse fato indica que o que está acontecendo com os anfíbios pode uma hora afetar o homem. De uma forma ou de outra, estes animais estão nos avisando de algo que pode acontecer conosco. Ou seja, proteger os anfíbios quer dizer proteger a espécie humana! E agora, há solução? Estudos feitos em Virginia, nos EUA, descobriram que algumas bactérias na pele de algumas espécies de rãs têm a capacidade de protegê-las do quitrídio. Ainda não se sabe ao certo, mas esta bactéria pode ser a solução para acabar com este fungo e salvar todas as espécies de rãs (e, consequentemente, os próprios humanos!). A única coisa preocupante é que, mesmo que um dia seja possível destruir ou pelo menos controlar a proliferação do quitrídios, ainda faltará controlar a própria humanidade e todos os efeitos que esta está causando sobre o planeta. Será mesmo um fungo que destruirá a vida no planeta ou será o próprio homem?

Procurando Nemo... e se ele se perder? O que aconteceria se o peixinho Nemo, famoso desenho animado da Disney, se perdesse novamente e não conseguisse mais retornar para casa? E se, dessa vez, o pai do pobre Nemo também se perdesse, quem o salvaria? Pois bem, isso é cada vez mais real fora das telas de animação norte-americanas. O peixe-palhaço (que vêm a ser a espécie da animação da Disney) está sendo cada vez mais afetado pelo aquecimento global. O aumento das temperaturas oceânicas altera o grau de acidez das águas. Isso influencia, e muito, o senso de direção dessas espécies, já que o peixe-palhaço orienta-se através do cheiro dos minerais contidos na água. Sobe-se a acidez da água, diminui-se a propriedade de

localização dos peixinhos, que não chegam até os bancos de corais , seu habitat natural. Cientistas afirmam que, até o final do século, o pH dos oceanos pode diminuir em até 0,35, passando de 8,15 para 7,8. Mudança insignificante para o homem, mas que acaba com a direção do peixe-palhaço, que, segundo estudos, começa a se desorientar quando colocado em água com pH 7,8. Desse jeito, nem se a Dory recuperasse a memória o pobre Nemo voltaria para casa.

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Animais

Cadê as

abelhas?

No mundo inteiro há casos de desaparecimento das abelhas e pra cada um, uma nova explicação Da Redação

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igadas a uma imagem tão meiga por proliferar flores e frutos, as abelhas estão sendo alvos da mídia do mundo inteiro que faz a seguinte pergunta: Aonde elas foram parar? França, Inglaterra, EUA, Canadá, Espanha, Suíça e até o Brasil estão sofrendo com o desaparecimento súbito e sem rastro das abelhas. Há notícias de que apicultores chegaram a perder cerca de 90% de toda a criação. E o espanto não é à toa! Albert Einstein, há mais de 60 anos, alertou: “Olhem as abelhas, se elas sumirem, a humanidade tem no máximo quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais, a polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”. Afinal o trabalho delas é, além de produzir mel, levar o pólen das anteras de uma flor, onde são produzidos os pólens, para o estigma de uma outra, ou da mesma flor, gerando novos frutos. No caso do Brasil, o fenômeno pode abalar até o desenvolvimento do biocom-

bustível, uma vez que uma das matériasprimas utilizadas é o girassol, que precisa de um grande potencial de abelhas para polinizar toda a área de plantação. Embora os dados sejam assustadores, para o pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aroni Sattler, não há motivo para desespero. Segundo ele, já faz tempo que casos de desaparecimentos ocorrem, na Espanha o primeiro surto aconteceu em 2000. Assim como na França, Inglaterra, e outros, mas os episódios tiveram pouca repercussão. Somente em 2006, quando o mesmo aconteceu nos EUA, deu-se maior divulgação. “O trabalho das abelhas é prestar serviço à polinização e se não há abelhas, há comprometimento na economia. Nos EUA, o valor de 60 dólares pelo aluguel de colméias para a polinização de pomares saltou para 150 dólares, após a crise” – relata Sattler.

... embora os efeitos sejam parecidos, cada caso é um caso

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Contudo, conforme afirma o especialista, pesquisas mostraram que nos EUA o provável causador do pavoroso fenômeno era um vírus, identificado pela primeira fez em Israel. Já na Espanha, os estudos atribuíram o episódio a um protozoário originário do Sudeste da Ásia. “Portanto, embora os efeitos sejam parecidos, cada caso é um caso” – destaca. Sumiço no Brasil Mesmo ocasionado por causas diferentes, quando a divulgação sobre o desaparecimento chegou ao Brasil logo relacionaram com o que estava acontecendo no resto no mundo, causando confusão para os apicultores que não sabiam que medidas deveriam tomar. “Especificamente no Sul, esse sumiço começou em 2000. E, diferente do que ocorria em outros países, não foi preciso alarme para descobrir os porquês. Identificamos que aqui o fenômeno era causado pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, má conservação e manutenção das colméias e a utilização de dessecantes com formicidas nas plantações próximas às colméias” – explica o pesquisador. Este produto, dessecante, é usado para limpar lavouras, como as de soja, para

controlar a lagarta e o percevejo, porém é muito tóxico para as abelhas, que por sua vez são extremamente sensíveis a produtos químicos. Outro fator atribuído ao desaparecimento é a mudança meteorológica. De acordo com Sattler, ano passado o inverno começou mais cedo eliminando as flores mais rapidamente, sem pólen as abelhas ficaram desnutridas e morreram. “Por isso é importante que o apicultor deixe uma boa reserva de mel para elas se alimentarem” - alerta. Em outro período, o calor foi excedente, fazendo com que elas abandonassem as colméias e longe das rainhas, elas não têm muito tempo de vida. Solução Muitas são as especulações, mas a dica do pesquisador para solucionar este problema é estar atento aos cuidados com o apiário. “Deixar uma reserva boa de mel durante o inverno e lembrar que, em determinadas épocas do ano, é normal este desaparecimento. Em 2006, aqui no Sul perdemos cerca de 40% das colméias, mas hoje já estão totalmente recuperadas. E isto foi um processo natural” – comenta Sattler.

Não é a primeira vez que isso ocorre Ao longo dos últimos vinte anos, em diversos países, pragas atacaram com freqüência provocando o desaparecimento das abelhas em todo o mundo. Por volta dos anos 50, a apicultura viveu um período de grande baixa, 80% das colméias foram dizimadas e

a produção apícola caiu drasticamente, por causa de doenças e pragas advindas da falta de cuidado com o saneamento das colméias. Em 1987, outro pico que atingiu o Brasil, Europa e EUA, dessa vez, o causador foi o ácaro Varoa.

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Certificação Ambiental

Madeira de Lei

Uso de produtos certificados no país ainda é muito baixo; classe produtiva mobiliza-se para melhorar essa prática Gabriel Arcanjo Nogueira

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ão rico em recursos naturais e tão perdulário, quando se trata de preservá-los. Esta imagem do Brasil ganha força ao nos depararmos com números preocupantes. Um deles: cerca de 80% da madeira proveniente da floresta amazônica é ilegal, extraída de forma predatória ao meio ambiente e mediante a exploração irregular da mão-de-obra da população local. A esses dados - apresentados por Luciana Maria Papp, coordenadora de Certificação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), durante encontro para debater os desafios da Certificação de Origem da madeira no Brasil-, a própria engenheira florestal acrescenta que 56% das emissões de gás carbônico na atmosfera são provenientes do desmatamento das florestas brasileiras. Luciana esteve entre os participantes do evento, promovido pelo LIDE Sustentabilidade, no dia 13 de maio em São Paulo, que apontou ser a conscientização dos empresários de toda a cadeia produtiva sobre a importância do uso de produtos certificados a saída mais viável não apenas para evitar a destruição das florestas brasileiras, mas também para encontrar oportunidades lucrativas para os próximos anos.

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A importância desse encontro é ressaltada pela coordenadora de Certificação do Imaflora “por demonstrar que os empresários brasileiros estão comprometidos com a certificação de origem de produtos florestais e consideram que a certificação florestal FSC é a de maior credibilidade. Isso levará, sem dúvida, a uma melhoria de imagem do setor e à abertura de novos mercados, propiciando, no longo prazo, uma oferta maior de produtos certificados, permitindo que se tornem cada vez mais acessíveis a um maior número de consumidores”. Conjunto de ações Para Luciana, a Amazônia tem jeito, mesmo porque é nessa região que a Imaflora desenvolve muitos de seus trabalhos. Engenheira florestal com mestrado em Engenharia Ambiental pela Universidade Regional de Blumenau (SC), a coordenadora de Certificação do Imaflora reconhece que “a situação fundiária na Amazônia é complexa e envolve um conjunto de ações, nas diversas esferas de poder e da sociedade, mas acreditamos que a solução passa também pela certificação socioambiental. Isso porque a certificação parte do

princípio de que é possível e desejável conciliar o uso responsável da floresta com finalidades econômicas, por meio do manejo florestal correto e sem prejuízo das atividades econômicas já desenvolvidas pelas populações tradicionais, entre outros aspectos. Essas ações são mais efetivas quando associadas a políticas públicas. “Além disso, temos tido forte atuação nas Unidades de Conservação e na formação e capacitação de seus conselhos e acreditamos no potencial aumento das áreas certificadas com o crescimento de concessões florestais de áreas públicas para empresas, comunidades e associações. Acreditamos que a viabilidade econômica, social e ambiental da Amazônia, no longo prazo, passa também por esses caminhos”. A contribuição do Imaflora, nesse sentido, de acordo com sua coordenadora de Certificação, é das mais significativas. Seja por ser uma instituição que utiliza a certificação socioambiental como fonte geradora de mudanças nos setores agrícola e florestal seja por ter participação ativa no desenvolvimento das normas de certificação, na capacitação de profissionais, entidades e outros segmentos da sociedade na área e produzir material explicativo a respeito.


Feita a explicação, Luciana revela: “Ao longo da nossa trajetória, acumulamos uma experiência muito rica, que procuramos utilizar para gerar melhorias onde pudermos. Por isso, nossa atuação vem se ampliando. Atualmente, estimulamos e apoiamos o desenvolvimento de projetos de políticas públicas, especialmente no município em que estamos, Piracicaba. Nossas atividades compreendem ainda a verificação de projetos de clima e carbono; o desenvolvimento de ferramentas de verificação de legalidade da origem da madeira, a elaboração de projetos em unidades de conservação na Amazônia, entre outros”. Se não bastasse, o Imaflora é presença constante em diversos grupos, mesas-redondas, discussões nacionais e internacionais, como o da Moratória da Soja, Fair Trade, FSC internacional, Rede de Agricultura Sustentável (RAS), Biocombustíveis, Pecuária. Todo cuidado, porém, é pouco, lembra e especialista. “Dentro dos segmentos agrícola e florestal, muitas vezes, desenvolvemos estudos para avaliar o impacto das ferramentas que usamos”, afirma. O que cabe a cada um Sua vivência a leva a sugerir que governos, empresas, cidadãos e ONGs façam a sua parte para que a soma de contribui-

ções positivas mude o quadro para melhor no país. “Creio que cabe ao governo a execução de políticas públicas claras no sentido de estimular o consumo responsável e manter órgãos reguladores eficazes. Às empresas, o aumento da transparência em suas atividades e políticas de consumo, visando sempre conhecer a origem dos produtos e matérias primas utilizadas, estimulando práticas responsáveis. E aos cidadãos cabe buscar informações sobre os produtos e serviços que consomem, estimulando e optando pelas que exerçam as melhores práticas, como, por exemplo, ao comprar portas, madeira, piso, lápis, carne, café sempre preferir aqueles que demonstram que sua produção não causou degradação ambiental e/ou social, como consumir sempre produtos certificados FSC e RAS. E as ONGs devem divulgar e estimular o consumo de produtos e matérias primas com certificação de origem”. Luciana ressalta a importância de esses segmentos disponibilizarem canais de diálogos abertos para troca de conhecimento e melhoria dos sistemas de controle dos produtos consumidos e produzidos no Brasil. Isso porque, acentua, “ainda há muita desinformação a esse respeito. Saber de onde vem um produto e o caminho percorrido por ele ao longo de sua cadeia produ-

Acervo Imaflora

Luciana: a Amazônia tem jeito, em parte com a certificação tiva é fundamental para que o consumidor possa fazer uma escolha consciente do que compra. Estimular esse questionamento é muito positivo e oferecer informações ao cidadão a respeito da origem do que está consumido é básico. Daí a importância dos selos que atestam a certificação, como FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal), RAS (Rede de Agricultura Sustentável) e outros. Assim, nós das ONGs, teremos melhores resultados no desafio de gerar mudanças e benefícios

O selo FSC é garantia de madeira certificada nos cinco continentes Neo Mondo - Junho 2010

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Certificação Ambiental Divulgação

Nigro, da Tetra Pak: 2 bilhões de embalagens com selo FSC garantem futuro do negócio sociais; os governos, por sua vez, terão leis, como a CLT, respeitadas; e as empresas menor risco para suas atividades. O consumidor teria a garantia que o produto escolhido respeitou o meio ambiente, o trabalhador, e outros aspectos avaliados pela certificação”. Luciana lembra que é possível estabelecer parcerias com o Imaflora, desde que “estejam alinhadas à nossa missão e não haja conflitos de interesse com as atividades que desenvolvemos. Atualmente possuímos parcerias com entidades de cooperação internacionais, ONGs locais e internacionais, empresas e com entidades governamentais. Demandas nesse sentido são analisadas pelo nosso Conselho”. Sinal de que nem tudo está perdido no planeta é a busca crescente por certificações que garantem origem de produtos ao longo da cadeia produtiva até o consumidor final. Luciana aponta as principais, que são, no caso da madeira, a certificação florestal FSC e, no caso de produtos agrícolas, a certificação da Rede de Agricultura Sustentável, o selo Rainforest Alliance Certified.

Acervo Imaflora

Do café aos móveis, a procura de ...

+ 28% e 2 bi de embalagens

Acervo Imaflora

Luciana explica: “Estes são os sistemas de certificação de origem com maior credibilidade internacional e muito demandados pelos mercados europeus, norte-americanos e asiáticos. A busca é crescente.

... produtos certificados é crescente

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No mercado interno há forte aumento na procura da certificação florestal, principalmente após algumas cadeias varejistas terem adotado políticas de compra orientadas para o consumo de material certificado FSC. O número de empresas certificadas em Cadeia de Custódia FSC no Imaflora, em 2009, cresceu 28%. Os setores de embalagens, imprensa (revistas, jornais), tissue (papel higiênico, guardanapos etc.) têm impulsionado a cadeia florestal. E há um aumento também muito significativo na procura por produtos agrícolas certificados, como café, cacau, uva e chá, estimulados, sobretudo pelos compradores internacionais”. No evento realizado pelo LIDE Sustentabilidade, em São Paulo, em meados de maio, Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak, revelou que o selo FSC foi adotado em 2 bilhões de embalagens comercializadas pela empresa. Um número que ilustra o percentual citado por Luciana. Nigro foi um dos debatedores, a exemplo de líderes empresariais e ambientalistas, cujo entendimento é de que a agenda do consumidor final exigirá cada vez mais o uso de produtos de pouco ou nenhum impacto ambiental. Atraso de uma década Nesse quesito, nos volta à mente a imagem da tartaruga manca, para ilustrar o ritmo dos passos com que se avança no país. A consciência do consumidor no que se refere à importância da aquisição de produtos certificados e ambientalmente corretos ainda deve demorar pelo menos uma década para se concretizar, disse o presidente da Tetra Pak. O que ele espera é que as empresas façam a sua parte antes de todos. “Quem não estiver focado nos pilares ambiental e social, além do econômico, deixará de existir num prazo muito curto”, afirmou Nigro. “O apoio ao manejo sustentável é um diferencial de mercado. As empresas que utilizam produtos certificados terão preferência pelas empresas internacionais e terão vantagem competitiva em suas exportações”, acrescentou.

Comprometimento empresarial permitirá abrir novos mercados e ampliar a oferta de produtos certificados para mais consumidores


Selo Certificação FSC

Selo IMAFLORA

Selo Certificação Agrícola (RAS)

Mercado interno registra forte aumento na procura da certificação florestal com aumento de 28% no número de empresas certificadas no Imaflora em 2009

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Além da certificação da madeira

as constatações no evento realizado pelo LIDE, uma delas é a de que entre os grandes vilões do mau uso de nossa madeira despontam o setor de construção civil, que absorve pelo menos ¾ da madeira ilegal comercializada no país, de acordo com Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Ele lembra que outra quantidade considerável desse material vai para o setor siderúrgico, para ser transformado em carvão. “As empresas que comercializam a madeira ilegal não cumprem a legislação trabalhista e nem ambiental. E quem consome esses produtos também está consumindo uma cadeia de destruição”, acrescentou Rubens Gomes, presidente da Rede GTA – Grupo de Trabalho Amazônico e conselheiro do FSC, conselho brasileiro de manejo florestal, cujo ob-

jetivo principal é promover o manejo e a certificação florestal no Brasil. “O consumidor e o empresário precisam se preocupar em saber de onde vem o produto que ele consome”, disse Luciana, da Imaflora. “Muitas empresas ainda não incorporam ativos e passivos ambientais em suas estruturas porque temem a competição. Mas a certificação deve ser o componente desta transformação cultural”, avaliou Smeraldi. “A economia florestal vai além da certificação da madeira”, acrescentou o diretor do Amigos da Terra. “Queremos expandir essas possibilidades para os setores agrícola e pecuário. O Brasil importou o selo de certificação SFC para a madeira, mas no que se refere à agricultura, temos massa crítica para desenvolver nossos próprios critérios de certificação. E não estamos falando apenas de certificação para produtos, e sim para unidades produtivas.”

O presidente do LIDE Sustentabilidade, Roberto Klabin, ao ser questionado sobre a possibilidade de se aumentar as penas para produtores que cometam crimes ambientais, respondeu que a idéia é aplicar as leis que já existem e, ao contrário de punir, levar a estas pessoas opções para estimulá-lo a agir corretamente. “Levar opções de ganho para estes produtores é nosso maior desafio. Penalizá-los criaria ainda mais resistência”, explicou. O deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP), em sua participação no evento, afirmou que ainda há um grande preconceito por parte dos parlamentares no que se refere às questões ambientais. “Prova disso é a ameaça que sofre o novo Código Florestal brasileiro”, disse. Empresários ligados ao LIDE fazem suas gestões em Brasília para tratar da questão da certificação com parlamentares.

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GESTÃO REQUER muitos cuidados ONG detecta 20 mil áreas de contaminação; sinal de alerta para o CNRH Gabriel Arcanjo Nogueira


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s veias do planeta que passam pelo território brasileiro precisam de muito cuidado para não se entupir de vez. Há mais de 20 mil áreas de contaminação por lixões industriais ou municipais, entre outras que degradam nossos recursos hídricos. Os dados constam do relatório O Estado Real das Águas no Brasil, em sua segunda edição (2004-2008), feito pela Defensoria Social, derivada da Defensoria da Água, ambos organismos vinculados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “São mais de 5 milhões de pessoas afetadas diretamente e 15 milhões indiretamente, sem falar da poluição por plásticos não recicláveis”, diz Leonardo Aguiar Morelli, secretário-geral da ONG (www.defensoria.org.br). Jornalista e escritor (autor do livro O Grito das Águas), com especialização em Auditoria e Perícia Sócio Ambiental pela Certiquality World Foundation, com sede em Genebra, Morelli é crítico do modelo de gestão dos recursos hídricos brasileiros. O auditor não vê no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) a necessária integração. O que levaria a instituição a “cometer danos na medida em que sua operacionalidade esbarra em dois tipos de conflito, o de atribuição e o de competência”. A Defensoria considera “o governo inoperante e o sistema - embora a lei diga ser participativo - é figurativo e esvaziado”. Morelli lembra que, quando do lançamento da primeira edição do relatório, em 2004, que chegou até a Organização das Nações Unidas (ONU), o CNRH teria votado moção de repúdio, sem ao menos tomar conhecimento do teor do estudo.Isso porque, acredita o secretário-geral, “atacávamos o problema na raiz, responsabilizando grandes corporações pela contaminação das águas”. E acrescenta: hoje “os resultados são ainda mais graves”.

O que é o Relatório • Abordagem de mais de 450 mil denúncias e registros de poluição • Identificação de responsáveis por crimes ambientais • Participação da sociedade em mais de 30 mil comunidades Fonte: Defensoria Social

Ecumênica e suprapartidária Morelli é enfático: “Pena os governantes só quererem ouvir o que lhes agrada. O que importa é que água de má qualidade mata”. O auditor defende uma reforma profunda do Judiciário, que estabeleça punições rigorosas a crimes ambientais porque afetam a saúde pública. “Há empresários do agronegócio e da indústria que precisam ser punidos pela sociedade”, afirma. O secretário-geral explica: “Embora atuemos muito com a Campanha da Fraternidade, temos uma composição ecumênica, visão suprapartidária e muita, mas muita militância social”. Tanta disposição não impede que deixe um recado amargo: “Pena que as pessoas aprendem apenas no susto, no medo ou no conflito. Temo pelos jovens. O quadro previsto para 2050 com o império da nanotecologia e convergência de tecnologias, o avanço de transgênicos, o domínio das reservas estratégicas por grandes corporações, afetando a soberania dos povos... Não sei se há tempo ainda. O que está em risco não é o futuro do planeta, mas da nossa civilização”. Neo Mondo - Junho 2010

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Àgua

Mais voz aos comitês A Agência Nacional de Águas (Ana) integra o CNRH e, a par do seu papel de agência reguladora, desempenha “importante papel técnico, assessorando diversas instâncias de decisão política do Conselho”. Quem explica é o engenheiro agrônomo Antônio Félix Domingues, coordenador-geral das assessorias da Ana. Com vivência acumulada desde 1990 em assuntos hídricos e correlatos, Domingues defende que se dê papel mais preponderante aos comitês de bacia. “Esses colegiados já têm funções muito importantes (como a de aprovação dos planos de bacias e a de fixação da cobrança pelo uso da água). Seria importante que fossem ouvidos durante o planejamento de saneamento de sua respectiva de área de atuação”, pondera. O coordenador-geral de assesorias considera que a gestão de recursos hídricos evoluiu no País, ao citar que há 12 anos (o CNRH foi criado em 1997) não havia nem a Ana nem os comitês de bacias federais. Mas aponta entre os desafios: • melhorar a Comunicação Social - “que pode fazer com que a sociedade perceba o real valor da água e que cada setor social tenha a noção de sua responsabilidade com relação aos recursos hídricos”; • e garantir o comprometimento estadual de que ações em recusos hídricos terão continuidade, independentemente de quem esteja governando”.

Temo pelos jovens; o que está em risco é o futuro da nossa civilização

Colegiado regulador e articulador O CNRH, instituído pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 - a “Lei das Águas” -, apresenta-se como “a instância mais alta na hierarquia do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”. Presidido pelo ministro do Meio Ambiente, dele participam representantes de ministérios, secretarias do governo federal, conselhos estaduais, usuários, ONGs, entre outros. Pela ficha de presença às reuniões plenárias (disponível no site ), a participação parece ser significativa. É um colegiado ao mesmo tempo regulador, “que desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários da água”, e articulador da “integração das políticas públicas no Brasil”. Define-se como “orientador para um diálogo transparente no processo de decisões no campo da legislação de recursos hídricos”. Dispõe de 10 Câmaras Técnicas: a de Assuntos Legais e Institucionais; a de Águas Subterrâneas; a de Ciência e Tecnologia; a de Integração de Procedimentos, Ações de Outorga e Ações Re-

guladoras; a de Educação, Capacitação, Mobilização Social e Informação; a do Plano Nacional; a de Análise de Projeto; a de Gestão transfonteiriça; a de Cobrança pelo Uso; a de Integração de Gestão das Bacias Hidrográficas e dos Sistemas Estuarinos e Zona Costeira. Raylton Alves/Banco de Imagens ANA

Domingues quer comprometimento estadual na continuidade das ações

Atribuições do Conselho * Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos; * Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos; * Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários; * Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos; * Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados; * Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica; * Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso; * Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução. Fonte: CNRH

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ANÚNCIO ELETRONORTE

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Água

À deriva Como uma das melhores invenções do século XX se tornou um dos principais vilões do século XXI Heloisa Moraes

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uem já viu uma enchente sabe o quão impressionante é a quantidade de água – e de lixo. Segundo estudo divulgado em 2008 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), das cerca de 150 mil toneladas de lixo doméstico que são coletadas por dia, 45,1% (67 mil toneladas) têm destino impróprio – aterros com problemas, lixões a céu aberto, entre outros, recebem o material. Para piorar a situação, mais de 20 mil toneladas/ dia de lixo doméstico não são coletadas e acabam sendo queimadas ou jogadas em terrenos baldios e rios, que acabam virando um depósito a céu aberto, onde todo tipo de sujeira é descartada. Os dados são brasileiros, mas o descarte irregular de lixo acontece no mundo

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todo. Quando desembocam no mar, esses detritos se juntam ao lixo das embarcações – cerca de 85% é plástico que flutua ao sabor das marés e vai se desintegrando em minúsculas partículas com o tempo. A pior parte é que esses pedacinhos de plástico levam centenas de anos para se decompor – até lá, já se misturaram à água e levaram centenas de animais à morte por sufocamento ou bloqueio das vias digestivas. Além disso, podem conter resíduos tóxicos que causem alterações genéticas como queda de fertilidade e mutações, como o nascimento de tumores e outros membros. O lixo maior que fica boiando funciona como armadilhas que enroscam e prendem animais e indicam apenas superficialmente, como um iceberg, a extensão do que já foi poluído.

O oceanógrafo Charles Moore foi o pioneiro no levantamento dessas informações ao descobrir a existência de uma grande mancha de lixo no Oceano Pacífico em 1997, entre a costa da Califórnia e o Havaí. Esta região é conhecida como o Giro do Pacífico Norte devido às diversas correntes marítimas que passam às margens da Ásia e da América do Norte e acabam formando um enorme redemoinho feito de água, vida marinha e dejetos em geral. Ele afirma que essa mancha não é identificada nas imagens de satélite por conta do tamanho e da dinâmica de ventos e ondas do oceano. Com exceção de algumas poucas peças maiores e mais pesadas que afundam ou prendem outros organismos, como mariscos, o resto dos resíduos vira uma “sopa” suja que se mistura ao plânc-


Ciclo sem fim A partir do momento em que chegam ao mar, os detritos se movem com o auxílio dos ventos e das correntes marítimas. Fatores que afetam estes agentes, como a mudança de estações, também mudam a direção do lixo no mar, que pode ser carregado para bem longe de onde originalmente veio. Segundo o Programa de Detritos Marinhos NOAA, a área de calmaria na qual o lixo se acumula no Pacífico é delimitada pelas correntes Norte Pacífica, Califórnia, Norte Equatorial e Kuroshio, próxima à costa do Japão. Amostras comparativas comprovam que as maiores concentrações de lixo marinho são encontradas no centro dessa zona de alta pressão – embora esta, por sua vez, não seja uma área delimitada e apresente variações ao longo do ano. O mesmo órgão explica que existem mundialmente cinco giros oceânicos – correntes oceânicas que giram em espiral em torno de um ponto central – que são os Giros Subtropicais do Pacífico Norte e do Pacífico Sul, os Giros Subtropicais do Atlântico Norte e do Atlântico Sul,

ton e outros alimentos, o que confunde os animais. Em entrevista ao Independent, o diretor de pesquisa da Fundação de Pesquisa Marinha Algalita (na qual Moore é fundador) Marcus Eriksen afirma que “(...) é uma coisa sem fim que ocupa uma área que pode ser até duas vezes o tamanho dos Estados Unidos”. Recentemente, cientistas da Sea Education Association (SEA, em inglês, Associação de Educação Marítima) descobriram que existe outra região ao norte do Oceano Atlântico onde também se encontrou acúmulo de lixo plástico. Assim como no Pacífico, também existe o Giro Subtropical do Atlântico Norte, composto por quatro correntes principais – Norte Equatorial, Corrente do Golfo, NorteAtlântica e Corrente das Canárias. Mas afinal, por que isso está acontecendo?

o Giro Subtropical do Oceano Índico. Ainda não se sabe ao certo o tamanho exato dos giros por serem sistemas fluidos, o que aumenta a variação dos dados divulgados na mídia. Por conta das limitações das amostras, observações e pesquisas, ainda não há uma estimativa precisa da quantidade ou da extensão das manchas de lixo existentes. Além disso, as feições oceânicas variam muito, sem limites ou extensão fixa, o que dificulta o levantamento de informações diretas e confiáveis a um custo amigável. Faxina no mar Como limpar a bagunça ainda é um quebra-cabeça que desafia pesquisadores, cientistas e oceanógrafos. É preciso, primeiramente, reunir dados precisos da quantidade e da extensão do lixo espalhado. O projeto Kaisei é uma das iniciativas que busca, desde junho de 2009, mapear a extensão e profundidade do plástico acumulado nestes “lixões oceânicos” - para depois pensar em como retirar toda a sujeira dali.

O mar de lixo pode levar animais à morte por ..

... sufocamento ou bloqueio das vias digestivas Fonte: http://nebulosadosaber.blogspot.com/2009/02/mar-de-plastico.html Neo Mondo - Junho 2010

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Água Entretanto, as dificuldades para este segundo passo são muitas. Segundo o biólogo Flávio dos Anjos, já existem medidas de limpeza para terrenos contaminados. Mas limpar a água é muito mais delicado. “O maior problema é o impacto que bactérias de limpeza, por exemplo, podem causar na vida marinha. Não há como controlar este tipo de organismo na água, ele acaba se espalhando”. O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer afirma que algumas áreas do Oceano Pacifico é possível encontrar seis vezes mais polímeros do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha. Para retirá-los do meio aquático seriam necessárias intervenções mais delicadas ainda não descobertas – é como caçar pequenas agulhas em um palheiro enorme. Já foi considerado o uso de enzimas, polímeros e outras substâncias biodegradáveis e atóxicas que quebrem os polímeros do plástico em partículas de carbono, inofensivas à natureza – exceto talvez pela possibilidade de esse método liberar muitas destas partículas, que poderiam desestabilizar ainda mais o meio aquático.

Enquanto alternativas são pesquisadas e novidades como o plástico solúvel em água não se tornam financeiramente viáveis, é melhor prevenir do que remediar. Preferir materiais alternativos, diminuir o

uso de produtos plásticos descartáveis e aumentar a reciclagem e o reúso de materiais sempre que possível são ações simples que, juntas, diminuem o fluxo ilimitado do grande vilão do início do século.

O plástico através dos tempos • Em 1839, Charles Goodyear descobriu que ao aplicar pressão e calor a uma composição de borracha o resultado era um produto mais maleável e durável, que podia ser moldado • Até o início do século XX, químicos ao redor do mundo desenvolveram plásticos como a celulóide, a baquelite e o náilon. Leves, fortes e duráveis, conquistaram o mundo principalmente depois da Segunda Guerra Mundial • Acessíveis e baratos, os diversos tipos de plástico se popularizaram através da aplicação em eletrodomésticos, artigos para o lazer e utensílios descartáveis, que rapidamente se incorporaram ao cotidiano de todas as classes sociais • Estima-se hoje que o consumo de plástico no mundo inteiro cresceu 20 vezes desde os anos 50, totalizando 150 milhões de toneladas por ano. Mais de 85 milhões de garrafas plásticas são usadas a cada três minutos • Movidos pela necessidade de criar uma alternativa ao plástico poluente, pesquisadores brasileiros inventaram em 2009 um plástico biodegradável feito a partir do lixo de usinas de açúcar e de fábricas de suco. Em 6 meses ele se decompõe • O mercado mundial de materiais plásticos para 2010 foi avaliado em 300 milhões de toneladas. Menos de 5% do material será reciclado Fonte: HowStuffWorks, Innova, Revista Plástico Moderno

Fonte: http://www.logon.com.br/atlas/mundo/mdmacl.htm 36

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Àgua

Matthew Bowden

Recurso

dotado Lei federal 9.433 de 1997 regularizou a outorga e instituiu a cobrança pela utilização da água Rosane Araujo

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onhecida como Lei das Águas, a lei 9.433 completou 12 anos de sanção e representou avanços em muitos aspectos. Ela instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh). Também definiu a água como “bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”. Para utilização dos recursos hídricos, a lei estabeleceu a necessidade da outorga do Poder Público, com o objetivo de “assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água”. Com isso, passou a ser necessária concessão de outorga para determinados fins: derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou dispo-

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limitado,

de valor econômico sição final; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. “Em 2008, o total geral outorgado foi de 1282 outorgas e 189 casos de uso insignificante da água (captação com vazões máximas instantâneas de até 1 litro por segundo). Portanto, o total geral regularizado no último ano foi de 1471”, informou Luciano Meneses, gerente de Outorga da ANA (Agência Nacional de Águas). Para ele, o sistema de outorga é especialmente eficiente em casos onde não há consenso sobre o uso da água. “A outorga começa a fazer mais diferença em bacias que têm conflitos pelo uso da água, pois coloca disciplina na utilização dos recursos hídricos. Nestes casos, a ANA tem estabelecido, junto com os órgãos estaduais, distritais e federais, marcos regulatórios que estabelecem regras gerais de uso, fiscalização e monitoramento para harmonizar o uso da água para todos os usuários dos recursos hídricos da bacia”, garantiu. Um exemplo emblemático da intervenção da ANA aconteceu no conflito pelo uso das águas entre a população da própria bacia do Rio Piracicaba (cerca de 4 milhões de pessoas) e a da Região Metropolitana de São Paulo (cerca de 18 milhões de habitantes). Esta última tem parte de sua água vinda do Sistema Cantareira, que leva a água do Piracicaba por meio de reservatórios e túneis até a região. A utilização não possuía critérios que considerassem a população local e foi neste ponto que a ANA atuou, definindo critérios técnicos e de outorga em conjunto com órgãos gestores dos re-

cursos hídricos de São Paulo e de Minas Gerais, o Comitê da Bacia do Piracicaba e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A ação aconteceu em 2004 e até agora não foram registrados novos conflitos. Cobrança pelo uso da água Outra regularização trazida pela Lei das Águas foi o estabelecimento da cobrança pelo uso dos recursos hídricos nas mesmas situações citadas acima, as quais necessitam da outorga. Os valores arrecadados com a cobrança são aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados para financiamento de estudos, programas, projetos e obras, incluídos nos Planos de Recursos Hídricos e no pagamento de

despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do Singreh. São recursos vindos desta cobrança nas Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) que financiam o projeto Produtor de Águas em Extrema, Minas Gerais, citado nesta edição. No estado de São Paulo, a Lei Estadual 12.183, de 29 de dezembro de 2005, institui a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, o que já ocorre, desde 2007, também na bacia PCJ. Segundo divulgado pela Secretaria do Meio Ambiente, os usuários dos setores urbano e industrial localizados na bacia hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê passarão a pagar pelo uso dos recursos hídricos ainda em 2009.

A Lei das Águas (Nº 9.433/97) determina que: • a água é um bem de domínio público; • a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; • em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; • a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; • a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; • a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Para a água mineral, as regras são diferentes: Os bens minerais são de domínio da União, como a água mineral, e não são tratados pelas leis de recursos hídricos. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM) realiza a concessão de lavra – uma espécie de outorga – e se compromete a adotar os princípios da Política Nacional de Recursos Hídricos.

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O MAR A importância e a saúde dos nossos mares Da Redação

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Terra bem poderia se chamar Planeta Água, não apenas pela sua abrangência, já que ocupa 70% da superfície do globo terrestre, mas, principalmente pela sua incondicional relação com a vida no planeta. Sem água não há vida! O mar representa grande parte desse líquido vital, muitas vezes relacionado apenas ao lazer e férias; ele é muito mais importante do que se possa imaginar. A começar pelo oxigênio fornecido pelas algas, muitas microscópicas, que ficam na superfície dos mares e que são responsáveis pela maior parte da fotossíntese na Terra. O pescado, o sal, o petróleo, os minerais (ouro, prata, cobre, ferro, zinco) e um enorme potencial energético são alguns dos recursos naturais disponíveis nesse imenso território, mas a sustentabilidade na sua exploração pode ser uma das questões mais importantes dos próximos anos. No Brasil, o mar tem importância histórica, já que através dele foi descoberto e colonizado. Ainda hoje, representa a grande porta de entrada e saída de cargas de importação e exportação, algo em torno de 95% do comércio exterior. O desafio é imenso, pois a forma como os oceanos são tratados atualmente, como se fossem fontes inesgotáveis de recursos, demonstram desconhecimento, descaso e despreparo. Um relatório divulgado no último semestre de 2008 pelo Greenpeace, denominado “À deriva – um panorama do mar brasileiro”, onde mais de 40 especialistas brasileiros em oceanos – membros do governo, pesquisadores, ambientalistas e representantes de ONGs foram entrevistados, mostra um quadro preocupante. O estudo conclui que o

bioma marinho não tem sido uma prioridade no Brasil. Aponta ainda um sistema de gestão pouco eficiente, uma vez que vários órgãos públicos têm atribuições nessa área, muitas vezes com conflitos e sobreposição de funções, sem atuar de maeira integrada às questões relacionadas aos oceanos. O relatório cita como entidades relacionadas ao mar: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Marinha. Eduardo Mazzolenis de Oliveira – gerente do Departamento de Tecnologia de Águas Superficiais e Efluentes Líquidos é mais otimista. Segundo ele, a sinergia entre essas entidades que realizam a gestão de recursos hídricos já começa a acontecer de forma mais efetiva. “Esses órgãos estão conversando e trazendo suas experiências. Pela complexidade do problema, já conseguimos avançar. Há hoje vários protocolos de ações, como os Planos de bacia, os licenciamentos ambientais de Portos, plataformas de petróleo, ampliação de sistemas de saneamento, dentre outros” – apontou. Para o especialista, a atuação de controle precisa primar por um gerenciamento costeiro atuante, como nos casos dos mangues, que são berçários e base da cadeia alimentar de várias espécies marítimas. Ele explicou que o mangue caracteriza-se como um ecossistema costeiro, de transição entre os as águas do rio e mar e onde há abundância de vida. “Alguma regiões profundas do mar ou ainda muito distantes da costa podem ser considerados “desertos de vida” – comparou Oliveira, mostrando a importância de preservar esses ambientes.


limite O descaso com essas regiões costeiras, como ocorrido na Baixada Santista, onde o estuário, em tempos remotos, foi contaminado por produtos oriundos das indústrias do Polo Petroquímico de Cubatão, é um exemplo claro da interdependência entre o meio ambiente e a questão econômica. “Hoje, há uma séria dificuldade na questão do Porto de Santos (maior do país), que necessita de licença ambiental para a realização de dragagem” – disse ele. A dragagem é

necessária para a manutenção do calado do canal do porto, de modo a evitar o encalhe de navios de grande porte. “Com a contaminação do estuário, essa dragagem, que revolve essa terra no fundo do mar com os sedimentos contaminados, pode oferecer forte impacto ambiental. Daí a dificuldade de licenciamento” – explicou o gerente. O relatório do Greenpeace traz também o resultado de uma pesquisa sobre o conhecimento da população sobre os

problemas enfrentados pelos oceanos. O resultado é no mínimo triste pois, apesar de ter uma costa gigantesca, com mais de 8 mil quilômetros, a população mostrou desconhecimento e desinteresse pelo tema. Enquanto isso, o aquecimento global, a pesca predatória, a poluição, a falta de ordenamento costeiro e a diminuição da biodiversidade continuam a ameaçar uma das principais fontes de vida do planeta.

Relatório do Greenpeace indica quatro questões prioritárias: • criação e implementação de áreas marinhas protegidas; • crise do setor pesqueiro, com a pesca predatória e a captura incidental de espécies, agravada pela ausência de gestão no setor; • vulnerabilidade dos oceanos às mudanças climáticas; • ausência do Estado e governança na questão dos oceanos.

FALTA PROTEÇÃO O relatório “A Deriva” conclui que o mundo não está respondendo à altura o desafio imposto pela crise dos oceanos. Enquanto mais de 10% da superfície do planeta está protegida por reservas,menos de 1% do ambiente marinho conta com essa proteção. O Brasil também está longe do ideal. Apenas 0,4% do bioma marinho nacional encontra -se protegido por unidades de conservação (UC) federais, o que dá a percepção de um gigantesco abandono dos nossos mares. Os efeitos, como aponta o professor Christian Guy Caubet, especialista em direito

ambiental (entrevistado da nossa coluna Perfil), podem ser verificados na prática da sobrepesca, com esgotamento dos nossos recursos e inclusive com a exploração por barcos pesqueiros, com bandeiras de outros países, o que denota falta de controle de nossas autoridade e dificuldade de lidar com planejamentos de prazos longos. Eduardo Mazzolenis de Oliveira – gerente do Departamento de Tecnologia de Águas Superficiais e Efluentes Líquidos , disse que o estado de São Paulo saiu na frente na proteção dos mares. De fato, em abril

de 2008, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado anunciou a criação de três áreas de proteção marinhas: Litoral Centro, Litoral Norte e Litoral Sul, com exceção dos trechos de mar dos portos de Santos e de São Sebastião. “São Paulo possui uma Polícia Ambiental para a fiscalização e monitoramento do mar, o que é uma grande conquista”. – disse.

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Água

HIDROPIRATARIA

Denúncias recorrentes sobre tráfico de água doce na foz do rio Amazonas levam a crer que não são parte do imaginário fantástico dos que buscam defender a área. Artigo sobre hidropirataria em revista jurídica cobra as autoridades Antônio Marmo

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Amazônia ainda fica tão, tão longe do Sul Maravilha que as notícias sobre ela aqui ainda ganham contornos fantasiosos no imaginário comum. Pois não é que agora retomam-se denúncias recorrentes de que há um bom tempo vem ocorrendo o tráfico de... -suspense- ...sim, tráfico de água doce a partir da foz do rio Amazonas? Pois isso saiu nos jornais de lá e corre a Internet há 2 meses depois que uma Agência de Notícias da região mas com sede em Brasília resolveu repercutir a denúncia veiculada em um insuspeito veículo especializado em temas forenses, a revista Consulex, nº 310, de dezembro último. 42

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Em artigo intitulado “A Organização Mundial de Comércio e o mercado internacional de água”, a advogada capixaba Ilma de Camargo Pereira Barcellos (ler “Não é fantasia”, na página 12), de forma clara e sem juridiquês, fala em navios-tanque fazendo a captação no ponto em que o rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).

Notícia recorrente A Agência Amazônia, com sede em Brasília, dirigida por um amigo acreano, o jornalista Chico Araújo, também denunciou a prática há três anos, utilizando o termo “hidropirataria”. Agora Chico retoma o tema, reproduzindo o artigo da advogada, logo acatado pelos assinantes da agência entre os jornais amazônicos e também muito replicado na Internet. Para a revista Consulex, essa prática ilegal, no entanto, não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, uma vez que são considerados bens da União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio (CF, art. 20, III).


O MERCADO INTERNACIONAL DE ÁGUA Organização Mundial do Comércio, em declarações específicas, busca forçar a privatização internacional dos serviços ambientais, aí incluindo a venda de água, segundo especialista O trabalho divulgado pela revista Consulex não é centrado na denúncia da hidropirataria em si. Ele começa chamando a atenção para o fato de que “a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem tratado a água como mercadoria que merece regulamentação internacional. Elevar a água à categoria de mercadoria e submetê-la às regras do comércio internacional é expressão da realidade com que se trata o assunto”. Ilma entende que, desde a reunião realizada no Catar, em 2001, a Declaração de Doha incluiu nas leis do comércio todos os chamados “serviços ambientais”, os quais abrangem o fornecimento de água, o que pode significar mais uma iniciativa, no entender de Ilma, para forçar a privatização desses serviços. Assim, diz ela, “não é de se estranhar que a OMC tenha como pauta de discussões o comércio mundial de águas, pois se trata de um serviço essencial à Vida e altamente lucrativo nos últimos anos”.

Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. A Agência, consultada por NEOMONDO nem respondeu ao mail. Para a advogada Ilma de Camargo Pereira Barcellos, a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade. É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais.

Controlar os controles A Organização Mundial do Comércio administra regras comerciais internacionais, aí incluído o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que define as águas naturais, artificiais ou gasosas como sendo uma mercadoria negociável. Assim, o artigo XI do acordo proíbe especificamente o uso de controle de exportação para qualquer fim e elimina as restrições quantitativas sobre importação e exportações. De forma didática, Ilma explica que “se um País rico em água, como o Brasil, impusesse uma proibição ou até mesmo uma cota sobre as exportações do produto em grande volume por razões ambientais, essa decisão poderia ser questionada sob a ótica da OMC como uma medida comercialmente restritiva e uma violação das regras do comércio internacional”. A Associação Norte-americana de Livre Comércio (Nafta) também já declara a água como uma “mercadoria negociável”, classificando-a como um bem comercial, um serviço e um investimento.

Bolsões de água Só após essas premissas jurídicas sobre comércio exterior é que o artigo de Ilma passa então a informar especificamente sobre o transporte internacional de água, realizado através de grandes petroleiros que saem do pais de origem com petróleo e voltam com tanques especiais cheios de água doce. O líquido nos tanques petroleiros, claro, pode funcionar como lastro mas ele seria reaproveitado depois, ou como ela diz na entrevista abaixo, “uniu-se o útil ao agradável”. O primeiro país a permitir a exportação de água doce, com destino à China e ao Oriente Médio, é o Alasca, na informação da advogada. Dali saem navios-tanque carregando milhões de litros. Uma nova tecnologia já foi introduzida nesse transporte interoceânico: são os bolsões-de-água, water-bags, técnica já utilizada na Inglaterra, Noruega e EUA (Califórnia). O tamanho dessas bolsas, segundo Ilma, excede o de muitos navios juntos, com capacidade muito superior ao dos superpetroleiros. Tais bolsões podem ser projetados de acordo com a necessidade e quantidade de água, puxadas por embarcações rebocadoras convencionais. NEOMONDO pesquisou alguns sites sobre o tema e lá estão informações adicionais em inglês e com fotos. Perdidas no oceano As gigantescas waterbags, segundo os sites, não seriam, ainda, um método comum, usual de transporte de água mas um sistema que começa a chamar a atenção, comparando-se com os custos, digamos, de transportá-la por foguetes. Mais de uma companhia está começando a desenvolver o método, alegando que elas podem ser úteis em situações de desastres naturais (os recentes terremotos no Haiti e Chile, por exemplo), levando água fresca até as zonas sinistradas ou então em áreas sob forte estiagem. Essas bolsas são descritas como muito “semelhantes às usadas por fazendeiros americanos para estocar grãos.

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Medem cerca de 200 metros ou 2 campos de futebol e podem carregar até 35 mil toneladas do líquido (35 milhões de litros). São feitas de poliéster, costuradas com linha plástica, resistente.” Uma das companhias que teriam usado tais bolsões é a Nordic Water Supply, da Noruega. Comentando sobre a segurança destes equipamentos, um dos executivos da empresa comparou o sistema com os cintos-de-segurança dos carros ou seja, eles salvam vidas mas também têm seus riscos. Bolsões deste tipo desgarraram-se dos rebocadores em pleno oceano. Então elas foram equipadas com alarmes ou balizas eletrônicas luminosas -“homing beacon”para evitar colisões com navios e possibilitar sua localização. Nota da redação: Aparentemente o negócio do transporte de água só deu prejuízos pelo menos à empresa citada na ma-

téria. Na mesma pesquisa via Internet verificamos que a Nordic Water Supply teria decretado falência (banckruptcy) por volta de 2003, quando planejava desenvolver water-bags para até 100 mil toneladas. Ela ficou nesse mercado só cinco anos, tendo saído da lista de companhias ligadas à “Oslo Stock Exchange”. Não confirmamos se ela retomou as atividades posteriormente. Há outras empresas no ramo.

IMAGINÁRIO AMAZÔNICO? A notícia de que existiria um tráfico internacional de águas amazônicas surpreende mesmo jornalista escolado na região. Mas o histórico local sempre foi de predação. A primeira reação de quem já conhece a Amazônia é perguntar se uma informação tão esdrúxula -tráfico de água doce, hidropirataria- não estaria entre os surtos do imaginário sulista sobre a região, sempre abordada –há trabalhos acadêmicos sobre isto- como um mundo fantástico, de imensidões despovoadas e ainda fornecedora de notícias e documentários sobre o exótico. A denúncia-base, no entanto, não saiu em nenhuma publicação engajada na defesa daquela região. Com periodicidade quinzenal, a revista Consulex, instalada num daqueles endereços complicados de Brasília, busca destacar-se no cenário das publicações jurídicas pela análise de temas relevantes mas sem a aridez própria da linguagem técnica inerente ao Direito, isto é, sem juridiquês. De leitura agradável, a publicação se propõe a abordar assuntos nacionais e internacionais que implicam em análise jurídica, bem como da evolução doutrinária e jurisprudencial. Provocando a Marinha Mas a denúncia não encontrou guarida na grande imprensa do Sudeste. Por isso busquei contato com o Ministério da Marinha, em Brasília. A Marinha, através de sua assessoria 44

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de Comunicação, informou que sim, já tinha tomado conhecimento de tal noticiário. A tenente que me atendeu disse que a Instituição nunca foi “provocada” diretamente, e que eu teria sido o primeiro jornalista a contatar quem de direito. Mostrava-me com um pé atrás quanto à história. Ela teria encaminhado as questões ao Comando de Operações Navais e ainda aguardava uma resposta até o fechamento desta matéria. Mas pela Internet verifica-se que eu não fui o único a “provocar”, vale dizer, a entrar em contato com a instituição. No dia 3 de março último um internauta preocupado com o tema, Eduardo Fróes, também cobrava posição da Marinha. Ele teve uma resposta formal de um oficial da Inteligência, Marcelo Palma, dizendo que “o assunto constante de sua denúncia já foi informado aos órgãos competentes e que providências estão sendo tomadas, a fim de apurar a responsabilidade e coibir práticas ilícitas como as mencionadas na carta” Palma termina agradecendo “em nome de comandante e em meu nome a preocupação nacionalista de nos informar a respeito de tão importante assunto. Respeitosamente, CF(FN) Palma (Oficial de Inteligência).”

Marcelo Palma é do 1º Comando Naval, que fica no Rio de Janeiro. O problema ocorre 6 mil km longe, na foz do Amazonas. A “Amazônia azul” Em artigo especial publicado no site do Yahoo em 11 de março último, assinado por Danilo Almeida, a manchete dizia que “Marinha tenta superar defasagem para vigiar a Amazônia Azul”. Em contraste com a Amazônia verde, das matas, a azul estaria esparramada por 4,5 milhões de quilômetros quadrados da superfície marítima brasileira, uma riqueza incalculável; nos 55 mil quilômetros quadrados de bacias, a capacidade hídrica é pujante e a reserva de água doce é a maior do planeta. Enfim, um patrimônio inestimável para se tomar conta, uma vastidão a ser vigiada”, dizia o artigo. E prosseguia lembrando que “para quem almeja protagonismo entre as grandes potências, exercer soberania nesse terreno é lei. É o fator determinante por trás da retomada dos investimentos e dos planos de modernização da Marinha”. O artigo falava do reaparelhamento da Força, aí incluindo um caro submarino nuclear esperado para o longinquo 2.024, ao custo total de R$ 15 bilhões, dentro de um pacote frances que inclui mais 4 submarinos convencionais.


HIDRO OU BIOPIRATARIA? Há quem questione a viabilidade econômica do tráfico de água pela água. Pesquisadores acreditam que o interesse maior está em organismos aquáticos que vão com o líquido, peixes ou plantas Chico Araújo, da agência Amazônia, lembra que um artigo do jornalista Erick Von Farfan já tocava no tema da hidro-pirataria há seis anos atrás. Numa reportagem no site Eco21 Fartan lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce. Farfan ouviu Ivo Brasil, à época Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas -ANA. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, como a Marinha, ele aguardava -lembre-se, 6 anos atrás- uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. Ivo Brasil insistia que “são necessários amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, insistiu. Pela NEOMONDO, voltei a cobrar isso da agência dias atrás, perguntando se a “denúncia oficial” deveria chegar através do bispo do Amapá, do Comando da Marinha ou de quem? O mail não foi respondido. Claro, a mobilização fiscalizadora no local seria dispendiosa. A captação seria feita por petroleiros na foz do rio Amazonas ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico

tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área. Essa água, apesar de conter resíduos pesados, a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia. O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus Um processo de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável. Assim levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa A cola do Gurijuba Erick von Farfan, citando pesquisadores brasileiros, questionava também se sob o tal tráfico de água doce não se esconderia, na verdade, a prática de bio-pirataria, ou tráfico de organismos vivos aquáticos, a linha de raciocínio usada pelo professor do Departamento de Hidráulica da Uniersidde Federal do Paraná, Ary Haro para quem “o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso economicamente”.

Um navio petroleiro, segundo ele, armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou. Um outro colega de jornadas amazônicas, o jornalista Elson Martins, que morou longo tempo no Amapá, também mostrase surpreso com a denúncia de tráfico de água doce mas confirma a biopirataria. Ele diz que “a pirataria ali na foz do grande rio corre solta há seculos! Nem parece mais pirataria, mas sim prática legal”. “Eu não sabia do lance da água doce, mas não me surpreendo com o saque”, enfatiza Élson. O choramingão do Ludwig levou fortunas em madeiras do sul do Amapá, enquanto alegava prejuízo com seus dólares investidos numa fábrica de celulose. E pergunta: “já ouviu falar da cola do peixe Gurijuba? Japoneses e norte-americanos a exploram há décadas recolhendo toda a produção de pescadores da costa do Amapá. Ela contém uma cola poderosa que já sai pronta de uma bolsa na barriga do peixe. É usada em produtos com tecnologia de ponta, instrumentos farmacêuticos sofisticado e até em astronaves”. Exótico?. Para o Élson não há nada de exótico. Élson explica que é Belém a sede do saque e não no Amapá. Tudo ali é permitido e nossos caboclos não resmungam. Bah! Essa da água dói no saco!”. E aconselhava a procurar fontes em Belém pois no Amapá ninguém iria falar.

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Água

“NÃO É FANTASIA” Em entrevista a advogada Ilma Barcellos diz que a hidro-pirataria no Brasil não é novidade nem é notícia fantasiosa. O que ocorre é só omissão das autoridades.

A advogada Ilma de Camargo Pereira Barcellos A revista encaminhou algumas perguntas à advogada Ilma Barcellos questionando justamente se não há algo fantasioso na denúncia. Veja abaixo as respostas: NEOMONDO: “tomamos conhecimento de seu artigo na revista Consulex (“A OMC e o mercado internacional de água”) e gostaríamos que nos brindasse com algumas considerações extras sobre o tema, seguindo as perguntas abaixo: O que a rodada Doha classifica, exatamente, como serviços ambientais e onde entra a água aí? ILMA: Tais serviços ambientais são classificados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, sigla em inglês), basicamente em três

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grupos: manejo de poluição; tecnologias e produtos mais limpos (bens mais eficientes no uso de recursos do que as alternativas já existentes); bens que contribuem para o manejo sustentável de recursos florestais, pesqueiros ou agrícolas. Resumidamente são aqueles provenientes da natureza, o ciclo hidrológico, abastecimento de água, aí incluindo tratamento de águas residuais industriais e urbanas, a diversidade biológica, as funções do solo, descontaminação e recuperação de áreas degradadas; transporte e gestão de resíduos sólidos e perigosos; resumindo: são águas residuais, eliminação de lixo e dejetos e saneamento e a proteção da biodiversidade. Porém a OMC apenas indica os tipos de serviços acima citados não definindo uma lista de tais serviços. Pelo que tenho lido, no meu ponto de vista, a finalidade da OMC em 2001 quando incluiu os serviços de água na rodada de Doha,na realidade a intenção era forçar a privatização dos serviços de água, que já era uma iniciativa altamente lucrativa em vários países. Até mesmo porque a água é matéria prima básica para praticamente tudo, carro, geladeira, computador, plástico, alumínio, móveis, roupas, indispensável para qualquer agricultura, lazer, e enfim, a própria vida. Sem mencionar a quantidade de “água virtual” incorporada na produção e comércio de alimentos e produtos de consumo que são exportados. Somando-se a estes fatores podemos citar os países ricos em petróleo e extremamente carentes de água potável. Se hoje, nós que vivemos num país com abundancia de água já pagamos no litro de água quase o mesmo valor de um litro de gasolina ou álcool, o que você acha, qual é a sua conclusão? NEOMONDO: Segundo o artigo, a

comercialização da água é negócio corrente no Mundo. Mas a novidade em seu trabalho é a denúncia de que águas brasileiras estão sendo “furtadas”, milhões de litros são levados sorrateiramente em naviostanques para a Europa e Oriente Médio. A notícia não é um tanto fantasiosa como muitas envolvendo a Amazônia? ILMA: Desculpe Antônio, mas a hidropirataria em nosso país não é uma novidade, nem tampouco se trata de uma notícia fantasiosa. O que ocorre é o silencio e a omissão das nossas autoridades. No site onde busquei tais informações eu vi o que o jornalista Erik von Farfan publicou (ver citações dele acima). Também o recentemente quando da publicação do meu artigo na Consulex o jornalista Chico Araujo, assim como você, também ficou curioso e contactou um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Amazonas. Ele também foi contactado por uma advogada de São Paulo que após ler o artigo lhe informou que, há 5 anos, fez sua tese de mestrado exatamente sobre o tema. Chico Araujo fora informado ainda que, o Departamento de Estado dos Estados Unidos encomendou em 2004 um relatório a uma consultoria independente, afirmando que em decorrência de a água ser o motivo de guerras regionais futuramente, o Rio Amazonas evidentemente faz parte deste cenário. NEOMONDO: No caso dos petroleiros, a água não funcionaria como “lastro”? Porque até agora autoridades policiais (Marinha, principalmente) não denunciaram ou coibiram? As tais bolsas transportadoras parecem bem fáceis de serem detectadas, são visíveis... ILMA: A água de lastro serve para manter a estabilidade e integridade


estrutural do navio em alto mar. Eles sempre foram carregados com água do mar. No entanto agora estão carregando tais navios com água doce, ou seja, uniram o útil ao agradável, por tais motivos já esclarecidos no artigo da Consulex. Conforme dito acima, acredito que muitas autoridades já têm conhecimento de tais fatos, no entanto, nossas autoridades em muitos casos preferem se omitir. Na época o dirigente da ANA alegou que para tomar providências junto à Marinha e Policia Federal precisava de amparos legais. Como, se ele era um dos diretores da ANA ( Agencia Nacional de Água), sendo ele responsável pela “outorga”, “cobrança” e “fiscalização”, de assuntos relacionados à água? Pelo pouco que entendo, para fiscalizar algo não precisa de nenhum tipo de denúncia. E se tais embarcações não tinham as devidas autorizações para tal,

pois sabemos que “a água é um recurso limitado, dotado de valor econômico”, porque não houve nenhum tipo de providencia? Com relação as bolsas para transporte de água, não tenho conhecimento do seu uso em nosso país. NEOMONDO: Se ainda não há legislação a criar mecanismos específicos para reprimir esse, digamos, “tráfico”, essa dita “usurpação” não é legal? E quem deve criar essas leis, o Brasil ou a OMC? ILMA: Conforme publicado no artigo, existem sim leis que proíbem tais atos e elas estão tanto na Constituição Federal, no art. 21, inciso XIX, que indica a competência da União para “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. No que tange à competência formal, o art. 22, inciso IV, determinou

a competência privativa da União para legislar sobre água, já na Lei 9.984 de 17 de julho de 2000, estão definidas as atribuições da ANA, que são de supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos, compete à ANA dentre outros, a fiscalização da água, controlando o mecanismo de gerenciamento das águas incluindo a outorga e cobrança. Existe também a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que regulamentou parcialmente o art. 21, inciso XIX, através da criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e outras, ou seja, leis existem, e muitas. Deus nos livre e guarde de algum dia a OMC legislar sobre tal bem ambiental.

A misteriosa Equa Water A Agência Amazônia, em outro artigo de Chico Araújo, conta a saga do empresário americano Jeff Moats. Ele também descobriu que vender água é um negócio lucrativo. Ele Investiu US$ 12 milhões para lançar uma nova marca de água mineral, a Equa Water. E adivinhem da onde vem essa água, pergunta Chico? A fábrica está sendo construída uma área de 1.500 hectares nos arredores de Manaus, no coração da Amazônia. Jeff quer extrair a água de um aquífero muito antigo situado 200 metros abaixo da superfície. A água desse aquífero tem o maior grau de pureza do mundo. O motivo está envolto por quartzo rosa, que atua como um guardião da pureza da água. A idéia é posicionar a marca como a mais pura dentre as águas da terra e explorar na comunicação jus-

tamente o mistério que envolve a Amazônia. Jeff irá construir sua marca com base em três pilares: pureza da água, design da garrafa (minimalista) e no branding, este último fundamental. Competirá com marcas já bem estabelecidas no mercado, entre as quais a Evian , a Tynant, a Fiji e a Vittel . Contudo, acredita-se, Jeff não terá muitos problemas para emplacar seu produto. A primeira vantagem é o exotismo da origem da água. Americanos adoram a Amazônia e, pelo menos na terra do Tio Sam, as chances de sucesso são boas. O mercado de água mineral cresce a uma taxa de 25% ao ano e já é um mercado que movimenta US$ 60 bilhões no mundo. Que tal você tomar a água mais pura, mais cristalina e mais misteriosa do mundo, conclui o amigo Chico Araújo?

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Meio Ambiente/Biocombustível

– energia limpa em discussão Série NEO MONDO discutirá prós e contras do que está sendo conhecido como “petróleo verde” Rosane Araujo

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partir desta edição, NEO MONDO traz uma série de reportagens sobre os biocombustíveis, tema que está em evidência nos noticiários e reuniões de governos do mundo inteiro. O potencial do Brasil para assumir a liderança no mercado de biocombustível mundial já foi motivo de comentários do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que em março deste ano declarou sua admiração pelas iniciativas brasileiras na área. O fato, porém, não modificou a resistência do País perante a mudança de sua matriz energética, ou seja, a gama de opções para geração de energia das quais dispõe. O governo americano prefere, por hora, investir no desenvolvimento de opções limpas em seu próprio território. Se o mercado externo ainda não se deixou seduzir pelos biocombustíveis brasileiros, por outro lado, internamente, a evolução é gradual, mas efetiva. Em 17 de novembro, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) realizou o primeiro leilão para atender à mistura B5, composta por 5% de biodiesel adicionado ao diesel comum, a qual começará a ser utilizada a partir de janeiro de 2010.

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Foram comercializados 575 milhões de litros de biodiesel, com preço médio ponderado de R$ 2,33 por litro. Desde o ano passado, o produto vem sendo adicionado ao diesel mineral em concentrações cada vez maiores. A mistura com 5% estava prevista para ser utilizada somente em 2013, mas o governo resolveu antecipá-la. “É um combustível menos poluente e mais gerador de empregos. Temos todas as razões do mundo para consagrá-lo. O Brasil pode se apresentar como um grande referencial mundial em conhecimento tecnológico e capacidade produtiva”, declarou o presidente Lula, por meio da Agência Brasil, ao anunciar a antecipação do B5, em outubro. Com o aumento da mistura, a demanda de biodiesel para 2010 é estimada em pelo menos 2,3 bilhões de litros, sendo que 1,8 bilhão de litros deverão ser feitos a partir de óleo de soja. A ideia do governo, porém, é investir em novas tecnologias para não depender exclusivamente da soja para a produção.

nhão manso, oleaginosa nativa com produtividade potencial três vezes maior do que a da soja. Tanto potencial tem gerado pesquisas e eventos. Nos dias 11 e 12 de dezembro, em Brasília, aconteceu o 1º Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso, promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM). O encontro, que reuniu pesquisadores, técnicos, professores e estudantes, colocou a necessidade de um estudo específico sobre a espécie. Já se sabe que o pinhão produz cerca de duas toneladas de óleo por hectare e leva de três a quatro anos para chegar à idade produtiva, que pode durar até 40 anos. Para se tornar uma fonte consistente de biodiesel, porém, necessita de modificações para que possa adaptar-se às diversas regiões do País e para que deixe de ser tóxico.

Alternativas não faltam Biodiesel produzido a partir de girassol, amendoim, mamona, algodão, canola e dendê já são uma realidade, mas a grande expectativa gira em torno do pi-

Importância do etanol As expectativas de crescimento no setor, entretanto, não são exclusivas do biodiesel. Segundo informações da Embrapa, dados conservadores apontam


BIOETANOL O cioetanol (etanol de lignocelulose) é um combustível renovável produzido a partir de resíduos agroindustriais (bagaço de cana). A milésima patente depositada pela Petrobras foi resultado do processo de fabricação de etanol de lignocelulose e marcou a entrada da Companhia na era dos biocombustíveis de 2ª geração.

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Meio Ambiente/Biocombustível

que se a matriz mundial fizer substituição da gasolina por etanol em 10%, o Brasil pode contribuir em até 50% com esta oferta, num período de 10 a 15 anos. Com tantas perspectivas positivas não é de estranhar que o tema dos biocombustíveis seja tão frequente. Mas o assunto não chega a ser unanimidade. Organizações humanitárias

acreditam que a produção de biocombustível destruirá lavouras e fomentará a pobreza nas regiões emergentes. Alguns ambientalistas também contestam a redução nas emissões de CO2, apontadas como uma das vantagens do biocombustível. Segundo eles, não estão sendo consideradas as emissões geradas por

fertilizantes e pesticidas utilizados nas colheitas, além dos custos com utensílios agrícolas, processamento e refinação, do transporte e da infraeestrutura para distribuição. Uma discussão complexa sobre a qual NEO MONDO não poderia ficar de fora. Acompanhe as próximas reportagens de série e fique informado!

O que são biocombustíveis Os biocombustíveis são produzidos a partir de fontes renováveis, como biomassa e produtos agrícolas, como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas e gordura animal. O biocombustível mais conhecido do brasileiro é o etanol: o álcool é encontrado nos postos de serviço desde a década de 1970. Ele é feito da fermentação dos açúcares de gramíneas e grãos como milho, cana-de-açúcar e sorgo. Recentemente, iniciou-se a produção do biodiesel. Origem Em sua edição especial sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, em junho de 2008, NEO MONDO lembra que o inventor do biodiesel é o engenheiro químico e professor universitário cearense, Expedito Parente.

Já na década de 1970, o estudioso apresentou o achado que foi batizado de pró-diesel, mas acabou perdendo a patente em 1990, por não ter sido utilizada. Já os primeiros carros movidos exclusivamente a etanol começaram a ser produzidos em 1978, por meio do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em 14 de novembro de 1975, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando atender as necessidades do mercado interno e externo. Os maiores produtores de etanol hoje são EUA, a partir do milho (46%); e Brasil, derivado da cana (42%).

Ricardo Stuckert/PR

Lula confere o mapa da biodiversidade brasileira, ao inaugurar instalações da Embrapa em Campinas, em 2008

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NeoMondo

www.neomondo.org.br

um olhar consciente

Ano 4 - Nº 36 - Julho 2010 - Distribuição Gratuita

Bons

ventos

Não perca na edição de julho de NEO MONDO, um especial sobre Energia Limpa. Trazemos em primeira mão as principais pesquisas na área científico-tecnológica como Bactérias Elétricas, Mini Usinas Bioenergéticas, Tecnologia Verde na Aviação, Energias Eólica e Solar e muito mais. Sua marca não pode deixar de estar presente nesta edição que mostra o verdadeiro caminho para a salvação do PLANETA. ACESSE NOSSO PORTAL – WWW.NEOMONDO.ORG.BR

RESERVA DE ESPAÇO - ATÉ 09/07

ENTREGA DE MATERIAL - ATÉ 13/07


Meio Ambiente/Biocombustível

Ampliação da porcentagem de utilização no diesel mineral e o surgimento de novas opções de matérias-primas fazem do biodiesel o assunto do momento Rosane Araujo

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“Mesmo na pior das hipóteses, a produção de biocombustíveis é melhor do que a gasolina. O nosso é melhor ainda”, afirmou o diretor do Departamento de Energia do Ministério de Relações Exteriores, André Corrêa do Lago, comparando a produção brasileira com a de outros países. Biodiesel e etanol ganharam tanto destaque que foram apresentados pelo governo como alternativas para a redução do efeito estufa durante os debates da 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15), realizada de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague (Dinamarca).

Em paralelo à discussão na COP 15, o governo divulga medidas visando promover um crescimento ainda maior do setor. Até março de 2010, setores do governo e da iniciativa privada ligados ao desenvolvimento do biodiesel brasileiro lançarão uma agenda conjunta para os próximos cinco anos visando ampliar a produção nacional. “Estão sendo desenvolvidas pesquisas com vários produtos, como semente de girassol, pinhão manso, óleo de dendê, canola e até cana-de-açúcar, mas ainda é importante se buscar outras fontes de biodiesel”, afirmou o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone,

Bruno Veiga / Petrobrás

a edição passada, NEO MONDO iniciou uma série de reportagens que discutirá diferentes aspectos dos biocombustíveis, aqueles que são produzidos a partir de fontes renováveis de energia. A matéria de abertura introduziu os conceitos e, nesta edição, a discussão atinge um dos personagens principais da história: o biodiesel. Desde que passou a ser utilizado na composição do diesel mineral, o biodiesel vem gradativamente virando um dos “queridinhos” dos órgãos ligados à produção de energia, ao lado do etanol.

Colheita de mamona - Cooperativa Terra Livre, no Rio Grande do Norte 52

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Diversidade de matérias-primas Segundo dados divulgados em novembro pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a soja ainda é disparada a principal matéria-prima utilizada para produção de biodiesel, representando 77,35%, seguida pela gordura bovina com 15,48%, o óleo de algodão com 4,29% e outros materiais graxos com 2,88%. A liderança, porém, é polêmica. No início deste ano, uma forte alta no preço do produto no mercado mundial, refletiu diretamente nos lucros dos produtores brasileiros, ameaçando acabar com as expectativas otimistas de crescimento do setor. Sua utilização também é criticada por autoridades que consideram antiético o uso de grãos passíveis de serem utilizados na cadeia alimentar humana ou animal para produção de biocombustível. O próprio presidente Luíz Inácio Lula da Silva já se demonstrou contrário à dependência da soja. “O país não pode continuar a depender apenas da soja. Perdemos 28 anos [desde que o biodiesel foi patenteado, em 1975]. Essa decisão já deveria ter sido tomada”, afirmou. A segunda matéria-prima do ranking, a gordura bovina, envolve outra polêmica: a pecuária é apontada como um dos principais fatores que impulsionam o desmatamento da Amazônia. Segundo o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, divulgado pela ONG Repórter Brasil, dos cerca de 199,7 milhões de bois contabilizados em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em todo o território nacional, 13% estavam no Mato Grosso. “Não por acaso, o estado também abriga o maior número de cabeças de gado no bioma amazônico: 17, 9 milhões”, cita o relatório. O trabalho também menciona a tese de doutorado ainda não defendida pelo pesquisador Bernardo Strassburg, da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, que cruzando dados oficiais concluiu que 69% do desmatamento da Amazônia no período de 1997 a 2006 ocorreu devido à pecuária. Finalmente, na terceira colocação do ranking de matérias-primas utilizadas para obtenção de biodiesel, está o óleo de algodão, com pequena participação.

Petrobrás

após participar da oitava reunião ordinária da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel, no dia 25 de novembro. Com a introdução, a partir de janeiro de 2010, do biodiesel B5 (5% de biodiesel adicionado ao diesel mineral), a demanda pelo produto certamente será ainda maior.

Laboratório de biodiesel da Petrobrás Biocombustível Em relação aos dois anteriores, o algodão é visto com bons olhos já que sua produção é dominada por pequenos agricultores, que podem aproveitar três subprodutos: a fibra, o óleo e a torta — utilizada como ração animal no lugar do farelo de soja. A única ressalva é quanto ao avanço deste cultivo de forma desordenada no cerrado, um bioma seriamente ameaçado. “Suas áreas planas, com alta incidência de sol e chuvas regulares, têm atraído grandes empreendimentos agrícolas, que aproveitam que as leis autorizam desmatamentos de até 80% da área de uma fazenda – na Amazônia, o limite é de apenas 20%”, alerta o relatório da Repórter Brasil. Outros materiais graxos O quarto item do gráfico de matériasprimas utilizadas na produção do biodiesel brasileiro é identificado como “outros materiais graxos”. Alguns destes materiais são: girassol, mamona, palma, macaúba e pinhão manso.

Apesar da pouca representatividade atual, esses itens têm merecido grande atenção de pesquisadores e produtores, já que poderiam solucionar alguns dos problemas apontados pelos críticos do biodiesel: podem ser cultivados por pequenos produtores, estimulando a agricultura familiar; não estão incluídos na cadeia alimentar humana nem animal. A mamona despontou, em 2005, como a grande esperança do Programa Nacional do Biodiesel, mas a produção usando apenas óleo de mamona mostrou-se inviável, já que pelos parâmetros da ANP, o biodiesel é muito viscoso e poderia danificar os motores. Recentemente, a Petrobrás Biocombustível informou ter concluído todo o processo tecnológico que permite à empresa produzir biodiesel a partir do óleo de mamona - dentro das especificações técnicas da ANP -, que estipula o limite de 30% do óleo de mamona em cada litro de biodiesel. Com a redução da expectativa da mamona, uma outra oleaginosa surgiu no

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Meio Ambiente/Biocombustível Divulgação

Congresso reuniu pesquisadores para definição de um programa de desenvolvimento do pinhão manso cenário das pesquisas, com grande potencial: o pinhão manso. Segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), desde 2005, a espécie está sendo plantada em áreas comerciais e experimentais, visando seu entendimento e aproveitamento para a produção de óleos. O órgão organizou nos dias 11 e 12 de novembro, em Brasília, o I Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso, que contou com cerca de 400 participantes debatendo sobre a oleaginosa. Os resultados dos trabalhos discutidos nos grupos especiais Tecnologia Agronômica, Industrial e Estudos Transversais servirão de base para a finalização do documento do programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação do pinhão manso a ser enviado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento até o final deste ano. “O Congresso se firmou como um importante fórum para tratar destas questões de avanço do conhecimento, do monitoramento e qualificação da expansão de áreas com pinhão manso e dos critérios para a ampliação da parceria público-privada no Brasil”, ressaltou Frederico Durães, chefegeral da Embrapa Agroenergia. O pesquisador da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, também participou do Congresso apresentando o tema “Recursos genéticos e aprimoramento do pinhão manso”. Após o evento, Bruno conversou por email com a reportagem de NEO MONDO. Confira a seguir suas conclusões. Neo Mondo: Em que nível está a pesquisa sobre o pinhão manso? Qual a sua expectativa a respeito? Bruno Laviola: O pinhão manso é uma oleaginosa que apresenta grande potencial para produção de biodiesel em diferentes regiões no 54

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país e isto se deve a algumas características da cultura, como: potencial de rendimento maior que as oleaginosas convencionais (por exemplo, a soja produz 500 kg/ha de óleo); cultura perene, não necessitando de renovação anual de plantio; cultura não alimentar, não apresentando concorrência direta com a agricultura de alimentos; os espaçamentos adotados permitem o cultivo de culturas intercalares na fase inicial de estabelecimento, permitindo a produção de energia e alimentos em uma mesma área; opção potencialmente interessante para agricultura familiar; possibilidade de diversificação das atividades agrícolas tradicionais em algumas regiões, sendo mais uma alternativa de renda; cultura pouco mecanizável e altamente dependente de mão-deobra, gerando emprego no campo. Por outro lado, o pinhão manso é uma espécie que não está domesticada, carecendo ainda do desenvolvimento de cultivares comerciais e sistema de produção que suporte o seu plantio em diferentes regiões produtoras de biodiesel no país. A Embrapa estruturou um projeto nacional em rede desde 2008, no qual são desenvolvidas várias ações de pesquisa com o pinhão manso, desde a implantação de bancos de germoplasma até trabalhos de nutrição mineral e adubação, densidade de plantas, podas, relações hídricas, controle de pragas e doenças, colheita, qualidade, entre outras. É um projeto completo, com 126 atividades de pesquisa distribuídas em todas as áreas da cadeia de produção da oleaginosa.

Neo Mondo: Você acredita que a longo prazo os biocombustíveis poderão substituir os combustíveis fósseis?Qual sua previsão de quando isso possa acontecer? Bruno Laviola: Como a cada ano são descobertas novas reservas de petróleo é muito difícil estabelecer um prazo com precisão para o fim destas energias não-renováveis. Porém, a cada ano o consumo no mundo aumenta e é certo de que as reservas de petróleo vão se esgotar. Os biocombustíveis surgem como uma opção a curto prazo no sentido de postergar o fim das energias não-renováveis e a longo prazo como uma opção para substituir estas fontes. No Brasil o consumo de álcool já está equiparando ao consumo de gasolina e a tendência é que o Brasil passe a consumir mais álcool que gasolina. Neo Mondo: O Brasil é apontado como uma futura potência na produção de biocombustíveis. Você concorda? Por quê? Bruno Laviola: O Brasil é um dos únicos países que pode expandir a agricultura de energia sem competir com a agricultura de alimentos. No futuro, o país será o maior produtor de energias de biomassa e alimentos do mundo. Temos atualmente cerca de um quarto das reservas de água doce do planeta, temperaturas adequadas ao crescimento das plantas o ano todo e uma área para expansão agrícola de mais de 65 milhões de hectares, o que permite ao país expandir a agricultura de alimento e energia sem competição e sem gerar pressão sobre as áreas de florestas e de preservação ambiental.

Matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel 4,29%

2,88%

15,48% 77,35%

Óleo de Soja Gordura Bovina Óleo de Algodão Outros Materiais Graxos Mês de referência: Outubro/2009 Fonte: ANP


A EFEX IDIOMAS é uma consultoria de línguas que atua há 20 anos no mercado de “Business English Coaching”, cursos, treinamentos, traduções e versões. Cursos e “Coaching” - Business English O Inglês é a língua oficial do mundo dos negócios, da tecnologia e da ciência e a porta de entrada para o ciberespaço, para a música, para o turismo e para o desenvolvimento profissional e acadêmico. Os profissionais da EFEX IDIOMAS são nativos ou possuem fluência nativa na língua inglesa, além de anos de experiência acadêmica ou em “business”, o que garante resultados sólidos e duradouros. Nossa equipe é proativa e dinâmica, buscando sempre recursos inovadores e confeccionando materiais customizados para atender as necessidades específicas de cada aluno. Além dos materiais tradicionais, utilizamos poderosos recursos multimídia e virtuais, contamos com uma metodologia testada na prática e profissionais qualificados para fornecer ao aluno uma sólida experiência de aprendizado e um contato significativo à cultura dos países de língua inglesa. Também oferecemos aulas de espanhol e português para estrangeiros. e-Learning - Aulas Online Fazer aulas individuais quando e no local que você deseja, eliminando a necessidade de se deslocar, já explicaria a lógica do “e-learnig” (aprendizado

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COP 15

Projeções Estudo pioneiro, sob coordenação geral de Jacques Marcovitch, da FEA/USP, reúne 11 instituições de pesquisa Gabriel Arcanjo Nogueira

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comunidade acadêmico-científica do Brasil, em boa hora, traz sua contribuição para que os impactos das mudanças climáticas sejam menos desastrosos, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, como Amazônia e Nordeste, em que as perdas agrícolas podem ser expressivas em praticamente todos os estados que formam essas regiões do País. Há risco de a economia brasileira sofrer um baque de R$ 719 bilhões a R$ 3,6 trilhões em 2050, caso nada seja feito para reverter a situação que se afigura sinistra. Se não bastasse, a confiabilidade no sistema brasileiro de geração de energia elétrica ficaria ainda mais comprometida, em cerca de 30%. O alerta está no estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil (EMCB), ou Economia do Clima, lançado em 25 de novembro, com o objetivo de integrar projeções sobre diferentes setores. A iniciativa, pioneira, de um consórcio de 11 instituições que formam a

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nata das voltadas a pesquisa no País *, tem a coordenação geral do professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Jacques Marcovitch, e a coordenadoria técnica de Sérgio Margulis e Carolina Dubeux, esta responsável pelo lado operacional do projeto. Marcovitch, ex-reitor da USP, é autor do livro Para Mudar o Futuro – Mudanças Climáticas, Políticas Públicas e Estratégias Empresariais, e presidiu o Conselho Consultivo do projeto. Margulis é economista líder de meio ambiente do Banco Mundial. Impactos esperados De acordo com Carolina, “as projeções alimentaram modelos de alguns setores da economia que traduziram em termos econômicos os impactos esperados em cada setor, de acordo com duas possíveis trajetórias do clima futuro desenvolvidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

(IPCC, em inglês) – os cenários A2 (altas emissões) e B2 (baixas emissões)”. São trajetórias que, “baseadas em hipóteses sobre o comportamento futuro da economia global, nos permitem simular o comportamento futuro da economia brasileira compatível, na medida do possível, com as mesmas hipóteses do IPCC para a economia global”. A coordenadora técnica do estudo esclarece: “Os cenários então gerados para a economia brasileira são chamados no estudo de cenário A2-BR, simulado sem mudança do clima e com mudança do clima, segundo cenário climático A2 do IPCC; e cenário B2-BR, também simulado sem mudança do clima e com mudança do clima, segundo o cenário climático B2 do IPCC. Eles representam trajetórias futuras da economia brasileira, caso o mundo se desenvolva globalmente segundo as premissas (econômicas) do IPCC do cenário climático A2 e do cenário climático B2”.


Sinistras O que o estudo leva em conta

• modelos climáticos desenvolvidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe

• o horizonte do ano de 2050 - problemas climáticos associados ao aquecimento global são de longo prazo

• setores cruciais, entre eles, agricultura, energia, uso da terra e desmatamento, biodiversidade, recursos hídricos, zona costeira, migração e saúde

• cenários de emissões altas (A2) e baixas (B2)* Fonte: Economia do Clima (EMCB)

Amplo debate A representatividade do estudo é inegável, assim como o seu alcance. Com apoio do governo britânico, a Economia do Clima está disponível para consulta pública pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), porque “pretendemos que seus resultados sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira”, diz Carolina. Criado em 2000, o FBMC é presidido pelo presidente da República e composto por 12 ministros de Estado, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), representantes da sociedade civil, entre outros. A Academia Brasileira de Ciências (ABC), por sua vez, sedia o conselho consultivo do estudo, composto por representantes do governo, sociedade civil e da comunidade científica, entre eles o embaixador extraordinário para Mudança do Clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Sérgio Serra;

Wilton Júnior

Carolina sugere que os resultados do estudo sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira

o presidente do Ipea, Márcio Pochmann; o coordenador do CPTEC/Inpe, Carlos Nobre; o coordenador do Fórum Paulista de Mudanças Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann; o coordenador geral de mudanças globais do clima do Ministério de Ciência e Tecnologia, José Miguez;

* A gabaritada equipe interdisciplinar é formada pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ,) Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

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COP 15

e o membro do conselho deliberativo do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, José Goldemberg (IEE/USP). Um ano todo perdido As perspectivas macroeconômicas que o estudo apresenta não podem ser ignoradas por quem pretenda levar o País e o planeta a sério. Carolina chama atenção para as mais relevantes: • Estima-se que, sem mudança do clima, o PIB brasileiro será de R$ 15,3 trilhões (reais de 2008) no cenário A2-BR em 2050, e R$ 16 trilhões no cenário B2-BR. Com o impacto da mudança do clima, estes PIBs reduzem-se em 0,5% e 2,3% respectivamente. • Antecipados para valor presente com uma taxa de desconto de 1% ao ano, estas perdas ficariam entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões, o que equivaleria a jogar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos. • Com ou sem mudança do clima, o PIB é sempre maior em B2-BR do que em A2-BR. “Isto quer dizer que na trajetória mais limpa do cenário B2-BR, a economia cresce mais, e não menos. Em ambos cenários, a pobreza aumenta por conta da mudança do clima, mas de forma quase desprezível.” • Haveria uma perda média anual para o cidadão brasileiro em 2050 entre R$ 534 (ou US$ 291) e R$ 1.603 (ou US$ 874). O valor presente em 2008 das reduções no consumo dos brasileiros acumuladas até 2050 ficaria entre R$ 6 mil e R$ 18 mil, representando de 60% a 180% do consumo anual per capita atual. Perspectivas regionais A coordenadora do projeto lembra que “as regiões mais vulneráveis à mudança do clima no Brasil seriam a Amazônia e o Nordeste”. E detalha: • Na Amazônia, o aquecimento pode chegar a 7-8°C em 2100, o que prenuncia uma alteração radical da floresta amazônica – a chamada “savanização”. Estimase que as mudanças climáticas resultariam em redução de 40% da cobertura florestal na região sul-sudeste-leste da Amazônia, que será substituída pelo bioma savana.

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País pode perder até R$ 3,6 trilhões, em 2050, se nada for feito para reverter os impactos das mudanças climáticas

• No Nordeste, as chuvas tenderiam a diminuir 2-2,5 mm/dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados da região. O déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte, favorecendo assim um retrocesso à pecuária de baixo rendimento. • O declínio de precipitação afetaria a vazão de rios em bacias do Nordeste, importantes para geração de energia, como a do Parnaíba e a do Atlântico Leste, com redução de vazões de até 90% entre 2070 e 2100. • Haveria perdas expressivas para a agricultura em todos os estados, com exceção dos mais frios no Sul-Sudeste, que passariam a ter temperaturas mais amenas. Perspectivas setoriais No que diz respeito aos diversos segmentos, o quadro exige atenção redobrada, para que o apocalipse não se efetive. Recursos hídricos - Os resultados projetados seriam alarmantes para algumas bacias, principalmente na região

Nordeste, com uma diminuição brusca das vazões até 2100. Energia - Perda de confiabilidade no sistema de geração de energia hidrelétrica, com redução de 31,5% a 29,3% da energia firme. Os impactos mais pronunciados ocorreriam nas regiões Norte e Nordeste. No Sul e no Sudeste os impactos se mostrariam mínimos ou positivos, mas neste caso não compensariam as perdas do Norte e do Nordeste. Agropecuária - Com exceção da cana-de-açúcar, todas as culturas sofreriam redução das áreas com baixo risco de produção, em especial soja (-34% a -30%), milho (-15%) e café (-17% a -18%). A produtividade cairia em particular nas culturas de subsistência no Nordeste. Zona costeira - Considerando o pior cenário de elevação do nível do mar e de eventos meteorológicos extremos, a estimativa dos valores materiais em risco ao longo da costa brasileira é de R$ 136 bilhões a R$ 207,5 bilhões.

ABr

Estudo aponta também soluções, como a de desestimular a pecuária na Amazônia em até 80% com o carbono a US$ 450/ha


Perdas e ganhos Um aspecto chama atenção por suas peculiaridades. O crescimento da área plantada - de 17,8 milhões a 19 milhões de hectares -, segundo o estudo, não causaria substituição de áreas destinadas às culturas de subsistência em nenhuma região brasileira nem pressionaria o desmatamento da Amazônia, mas nas regiões Sudeste e Nordeste poderia afetar florestas e matas dos estabelecimentos agrícolas, caso as políticas para o setor não sejam implementadas adequadamente. No Centro-Sul, principalmente, pode ocorrer exposição de grandes concentrações populacionais a altos níveis de poluição atmosférica, caso não seja adotado o sistema de colheita mecanizada. Outro é a taxação de carbono, que, na estimativa do estudo, o impacto de uma taxação entre US$ 30 e US$ 50 por tonelada de carbono reduziria as emissões nacionais entre 1,16% e 1,87% e resultaria em uma queda no PIB entre 0,13% e 0,08%. Já no setor energético, tomando-se como referência o Plano Nacional de Energia 2030, o potencial estimado de redução de emissões seria de 1,8 bilhão de toneladas de CO2 acumuladas no período 2010-

2030. Com uma taxa de desconto de 8% ao ano, o custo estimado seria negativo, ou seja, haveria um ganho, ou benefício, de US$ 34 bilhões em 2030, equivalentes a US$ 13 por tonelada de CO2.

é garantir que a matriz energética mantenhase “limpa”, investir nas muitas opções de eficiência energética altamente rentáveis e garantir que o crescimento do PIB nacional também seja gerado de forma “limpa”.

Prioridades de ação O estudo recomenda ainda que, em vista de os custos e riscos potenciais da mudança do clima para o Brasil serem ponderáveis e pesarem mais sobre as populações pobres do Norte e Nordeste, “políticas de proteção social nestas regiões devem ser reforçadas”. Nesse sentido, “é possível e necessário associar metas ambiciosas de crescimento com a redução de emissões de gases de efeito estufa, para assegurar acesso a mercados que favoreçam produtos com baixa emissão de carbono em seu ciclo de vida”. Além disso, “a mudança do clima deve integrar as políticas governamentais do setor ambiental (como incluir emissão ou sequestro de gases do efeito estufa no processo de licenciamento), tanto no caso da agenda marrom (poluição) quanto no da agenda verde (setor rural e afins) – setores de transportes, habitação, agricultura e indústria”. Ponto de honra, para nossos pesquisadores,

Estancar desmatamento já! Para os autores do estudo, no presente - para não dizer “pra ontem” -, a principal recomendação é estancar o desmatamento da Amazônia. Não fosse por outros motivos, porque essa prática nefasta “gera significativas mudanças do clima local e regional e resulta em uma perda projetada de até 38% das espécies e de 12% de serviços ambientais em 2100”. A par dessa medida, o País tem de aumentar o conhecimento técnico sobre o problema, com o desenvolvimento de modelos climáticos, modelos que traduzam as mudanças esperadas do clima em impactos físicos nos diversos setores da economia, alternativas de mitigação e adaptação mais eficientes. Soma-se a esse quesito a necessidade de investir em pesquisa agrícola de ponta, em particular na modificação genética de cultivares. E, ainda, mas não o menos importante, desenvolver mais estudos para quantificar natureza e riscos de eventos extremos para além de 2050 e 2100.

Fontes limpas de energia entre as adaptações sugeridas

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estudo não se furta a apresentar soluções pontuais, para não ficar restrito a um “muro de lamentações”. No caso da agricultura, Carolina considera que “as modificações genéticas seriam alternativas altamente viáveis para minimizar impactos da mudança do clima, exigindo investimento em pesquisa da ordem de R$ 1 bilhão por ano”. E lembra que a irrigação também foi investigada como alternativa de adaptação, mas “com razões benefício-custo em geral menores”. Em relação à energia, a Economia do Clima aponta que seria preciso instalar uma capacidade extra para gerar entre

162 TWh (25% da oferta interna de energia elétrica em 2008) e 153 TWh por ano (31% da oferta interna de energia elétrica em 2008), de preferência com geração por gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo de capital da ordem de US$ 48 bilhões a US$ 51 bilhões. Na zona costeira, o custo de ações de gestão costeira e outras políticas públicas (14 ações recomendadas) somariam R$ 3,72 bilhões até 2050, ou cerca de R$ 93 milhões por ano. Além dessas adaptações possíveis, o estudo mostra a viabilidade de oportunidades de mitigação, que envolvem aspectos cruciais. Entre eles:

* o desmatamento, em que - a um preço médio de carbono na Amazônia de US$ 3 por tonelada, ou US$ 450 por hectare, se desestimularia entre 70% e 80% a pecuária na região; e ao preço médio de US$ 50 por tonelada de carbono, seria possível reduzir em 95% essa autêntica praga de nossos tempos; * em biocombustíveis, a substituição de combustíveis fósseis poderia evitar emissões domésticas de 92 milhões a 203 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2035, e exportações de etanol acrescentariam de 187 milhões a 362 milhões de toneladas às emissões evitadas em escala global.

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Há 10 anos, os Doutores Cidadãos utilizam a figura do palhaço para levar doses de preciosos remédios a hospitais e asilos públicos e filantrópicos: arte, alegria e cidadania. Todos os participantes são voluntários e recebem um amplo treinamento para visitar gratuitamente os pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde. Este programa sociocultural faz parte da ONG Canto Cidadão, que também desenvolve outras atividades de sensibilização e ação cidadãs. Para manter e ampliar o trabalho, o grupo realiza atividades em ambiente corporativo, como apresentação de eventos, palestras, oficinas e outras. Saiba mais sobre os Doutores Cidadãos e os outros programas sociais do Canto Cidadão em www.cantocidadao.org.br. Doutores Cidadãos. Há dez anos fazendo graça de graça.

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COP 15

Catástrofre

Jurássica Alerta máximo na COP 15: emissões de CO2, embora em queda desde 2008, são as maiores em 2 milhões de anos Gabriel Arcanjo Nogueira

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ercada de expectativas, entre elas a vigília do Greenpeace na capital dinamarquesa e a decisão, de última hora, do governo da China - um dos principais emissores ao lado de Estados Unidos, União Europeia e Índia - de também comparecer com uma meta voluntária ambiciosa de redução em 45% das emissões de gases do efeito estufa -, a 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU), de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague, traz, no mínimo, um alerta máximo. E com participação brasileira. O mundo vai ter de se desdobrar, para exigir que os grandes emissores de dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4) sejam contidos, para evitar uma catástrofe biológica como a que exterminou dinossauros há milhões de anos. A situação da humanidade, em seus diversos ecossistemas, é preocupante (ver quadro). Tanto que, mesmo com as emissões de CO2 diminuindo em 2008, todavia elas são as maiores em pelo menos 2 milhões de anos. Os números são do balanço anual feito por cientistas ligados ao Global Carbon Project, de acordo com matéria publicada na Sala de Imprensa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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O estudo, divulgado originalmente pela revista Nature Geoscience, tem entre seus autores Jean P. Ometto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe. Procurado por NEO MONDO, o pesquisador reservou espaço em sua intensa agenda de final de ano para esclarecer alguns aspectos do assunto que está na ordem do dia em tempos de conferência sobre o clima. Métricas e regras Ometto lembra que a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Alterações Climáticas (cuja sigla em inglês é UNFCCC, de United Framework Convention on Climate Change) “resulta de um acordo internacional de centenas de países buscando métricas e regras para o enfrentamento das questões associadas às alterações climáticas”. O que se pretende, então, é construir um esforço internacional, sem precedentes, para tentar estabelecer ações, em nível global, em relação a um problema que atinge a humanidade como um todo. Perguntado sobre que mundo é possível esperar pós-Copenhague, o especialista destaca alguns aspectos que considera importantes, partindo do princípio de que serão negociações intensas: “É difícil imaginar que as nações lá representadas selem

um grande acordo. O importante é a evolução nas negociações e o estabelecimento de metas tangíveis e factíveis pelas nações em relação às emissões de gases de efeito estufa. É importante também lembrar que a questão atmosférica é crítica, mas não é a única com a qual devemos nos preocupar. As mudanças ambientais globais são muito mais amplas e têm importância regional diferenciada”, avalia. Kyoto não morreu O pesquisador entende que o Brasil, ao assumir metas voluntárias de redução de emissões de gases do efeito estufa, se reveste de importância política muito grande, por não ser obrigado pelas regras do Protocolo a assumi-las. “A questão é que o Brasil propôs reduzir emissões sobre projeções de emissões futuras (até 2020). Isto ilustra a complexidade das negociações e o que cada país está colocando na mesa”, sintetiza o agrônomo com doutorado em Ciência Nuclear na Agricultura. Há quem considere o Protocolo de Kyoto morto. Não é, porém, o caso de Ometto. Mesmo porque o documento foi proposto com um período de vigência determinado, 2012. O pesquisador do Inpe entende que “o desafio da Conferência das Partes em Cope-


Por que é tão preocupante?

Fotos: ABr

Protocolo de Kyoto é de 1997: • meta para 2012 era reduzir em 5% as emissões em relação às de 1990 Relatório da ONU * é de 2007: • emissões de CO2, N2O e CH4 podem aumentar em 4% a temperatura da Terra antes da virada do século • Especialista quer um pós-2012 mais rigoroso ** * Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), cujo trabalho mereceu o Nobel da Paz ** Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, que participou do relatório

Fonte: Pesquisa NEO MONDO

nhague é construir um acordo que substitua (o de Kyoto) a partir de 2012. O Protocolo foi (e está sendo) muito importante para definir prioridades, identificar falhas e lacunas que devam ser contempladas para atingir o objetivo maior que é a redução das emissões”. Ometto diz ainda que “é importante lembrar que a Convenção, com base nos relatórios científicos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), reconhece que há um problema ambiental (climático) no planeta e busca, na esfera política, encontrar os mecanismos, globais, para atenuar ou mitigar este problema”. Alternativas verdes Ometto destaca, entre as possibilidades brasileiras de oferecer ao mundo alternativas de energia limpa, que “qualquer iniciativa que reduza a quantidade de carbono emitida para a atmosfera é bem-vinda”. Mas faz ressalvas quanto ao etanol, por exemplo, que para ele “não é a salvação do planeta”. Isto porque, analisa, “apesar de ser um combustível renovável, ainda há uma quantidade de carbono associado à sua produção. O importante é, tecnologicamente, alterarmos a forma de nos locomovermos. Neste momento teríamos que

Brasil precisa se desvincular da imagem negativa quanto às emissões por desmatamento, causado por queimadas, como estas em São Félix do Xingu, no Pará

melhorar eficiência dos motores de combustão interna e caminharmos para transportes que utilizem outra forma de energia (como elétrica, hidrogênio)”. O cientista explica também que “o aço verde nada mais é que a utilização de carvão

vegetal, oriundo de reflorestamento, na produção do aço (substituindo o carvão mineral, não renovável)”. Trata-se, pois, de uma proposta de se utilizar algo que a natureza renova “rapidamente”, ao invés de utilizar algo que a renovação ocorre em milhões de anos.

Questão atmosférica é crítica, mas não única; mudanças ambientais são mais amplas com importância regional diferenciada

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COP 15

Mudança de consumo Ometto ressalta um aspecto importante quando se trata de agir positivamente em relação às mudanças climáticas: “Devemos buscar a mudança nos padrões de consumo e trabalhar para uma economia de baixo carbono, com o que estas iniciativas contribuem, mas não solucionam”. Nesse sentido, a (re)ação tem de atingir todos os níveis sociais. “De forma geral, a iniciativa privada é movida pelos mecanismos de mercado, mas deve-se lembrar que políticas de incentivos governamentais (como redução de impostos) são muito efetivas nas respostas deste setor. Os consumidores, por sua vez, devem atuar primeiro, individualmente, alterando seus padrões de consumo e observando práticas de bom convívio com os

bens naturais (exemplos simples, como não lavar a calçada, reduzir uso de carro, replantar margens de rios são muito importantes). Além disso, a força do consumidor define os rumos das indústrias, se, por exemplo, exigir produtos com menor impacto no ambiente, com selo de origem sustentável ou, mesmo, menor uso de insumos e produtos químicos”, conclui o pesquisador. Mundo dividido Até o fechamento desta edição, a COP 15 confirmava que a divisão do mundo é mais multifacetada do que possa parecer, na constatação de jornalista que cobre o evento: há ricos, com maior poder de influenciar nas negociações, seguidos pelos classe média, pobres e desesperados. Neste caso, Mal-

divas é exemplo de país que está entre os de menor poder de influência na conferência, na ponta debaixo da tabela. Maldivas corre o risco de desaparecer por causa do aumento do nível do mar e, até mesmo por isso, espera grandes cortes de emissões dos países ricos, mas se propõe a ser totalmente neutro em carbono até 2020. A China, maior poluidor atualmente, e os Estados Unidos, historicamente o maior emissor de poluentes, na ponta de cima da tabela, anunciam cortes que vão de 17% a 45% na sujeira que produzem, até 2020. Em que pese tanta disparidade, na quinta-feira, 10 de dezembro (a conferência abriu na segunda-feira anterior), já se dava como certo que o texto de um acordo poderia ser anunciado ainda naquela semana.

Agronegócio na pauta brasileira

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a parte do Brasil, a importância do agronegócio parece unir governo e entidades empresarias ao menos no debate do assunto. Sérgio Serra, embaixador extraordinário do Itamaraty para Mudanças Climáticas,

quer que o agronegócio seja eficaz em três pontos fundamentais: recuperação de pastagens; plantio direto; e integração de pecuária e agricultura. O recado foi dado ainda antes de viajar para a COP 15.

Foto: Lau Polinésio

Fórum da Abag reuniu lideranças da iniciativa privada, do governo e do meio científico: desmatamento tem de passar de ameaça a solução

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Em São Paulo, durante o 17o. Fórum da Associação Brasileira de Agribusiness, em 3 de dezembro - quando o tema foi Copenhague e o Agronegócio Brasileiro -, 130 pessoas, entre lideranças do agronegócio, empresários e representantes do governo e de instituições de ensino e pesquisa, deixaram claro que se dispõem a fazer a sua parte para que o maior vilão das mudanças climáticas no País seja contido: o desmatamento. Carlos Clemente Cerri, um dos debatedores, é realista: “Temos uma possibilidade incrível pela frente. O Brasil pode sair muito mais rapidamente do que os outros países do ranking dos emissores. Se reduzirmos o desmatamento, aumentarmos a produção de biocombustíveis e substituirmos o plantio convencional pelo plantio direto, podemos mitigar e deixar o Brasil em posição de destaque”. Opinião de peso para quem é engenheiro agrônomo e pesquisador da relação entre agricultura, clima e meio ambiente, ao falar


Fotos: Greenpeace

Jovens de várias partes do mundo fazem vigília em Copenhague em defesa do planeta; um dos recados tem endereço certo: “salve a Amazônia!”

sobre Emissões de gases do efeito estufa no Brasil e opções de mitigação pela agricultura, pecuária e silvicultura. Cerri, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (USP), está entre as maiores autoridades mundiais em sua especialidade. Cenário de incertezas Para Carlo Lovatelli, presidente da Abag, “apesar do cenário de incertezas que paira sobre a COP 15, acreditamos que ao menos um acordo seja alinhado entre os países para o futuro na questão da redução do efeito estufa”. Se o cenário é incerto, Lovatelli está convicto de que “o Brasil tem grandes possibilidades para assumir um papel de liderança nesse processo”. Isto porque, lembra, dispõe de matriz energética limpa (mais de 40%) e pratica a moratória da soja, desde 2006, agora citada como referência de negociação pelas mais importantes ONGs do mundo.

O presidente da Abag diz que só falta ao Brasil “se desvincular da imagem negativa quanto às emissões por desmatamento, e tenho certeza de que venceremos esse desafio também”. O Fórum Abag contou também com a participação de Marcos Sawaya Jank ( Perfil desta edição de NEO MONDO), presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica); Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); e Rodrigo Lima, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). Estabelecimento de metas e prazos para a redução das emissões de gases do efeito estufa; combustíveis de baixo carbono; metodologias para calcular a emissão e sequestro de gases do efeito estufa; mecanismos de redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação das Florestas (Redd) e Mercado de Carbono predominaram entre os assuntos abordados.

De comum, nas apresentações, a redução do desmatamento como questão de honra para um país que se pretenda afirmar entre os mais influentes do planeta. Custo - investimento Moutinho, do Ipam, ao falar sobre Mudanças Climáticas, Redd e Mercado de Carbono, esclareceu: “O custo estimado para que o desmatamento brasileiro tenha um fim está entre US$ 7 bilhões e US$ 18 bilhões até 2020”. O que, lembra, “deve ser encarado como investimento, pois pesquisas apontam que a preservação da floresta amazônica poderá render entre US$ 70 bilhões e US$ 110 bilhões nos próximos 10 anos com negociações de crédito de carbono”. Moutinho revelou que há na Amazônia 47 bilhões de toneladas de carbono armazenadas. E constata: “Não estamos ganhando nada com isso; precisamos do reconhecimento internacional pelos esforços que estamos fazendo”.

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Kristian Buus/Greenpeace

COP 15

Empurrando com a barriga Líderes mundiais deixam a desejar, frustrando pessoas que avançam no conhecimento de alternativas saudáveis ao planeta Gabriel Arcanjo Nogueira

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impressão que fica - passados dois meses do encerramento da 15a. Conferência do Clima (COP 15) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Copenhague, Dinamarca - é a de que os líderes mundiais empurraram com a barriga a oportunidade de costurar um acordo mais ousado no que diz respeito à fixação de metas e soluções para resolver o dilema do aquecimento global com a máxima urgência possível. Paralelamente à COP 15, porém, milhares de pessoas, entre empresários, cientistas, pensadores, pesquisadores, executivos e representantes de ONGs avançaram em seu papel cidadão de buscar alternativas viáveis para tornar a vida no e do planeta mais qualificada. O próprio secretário-executivo do encontro, Yvo de Boer, segundo informações da BBC Brasil, citadas pela Agência Brasil de Notícias, considerou que o acordo (que ele chama de “carta de intenções”) resultante ao final da Conferência ficou aquém das expectativas. E não economizou palavras para se manifestar. “Temos que ser honestos sobre o que temos. O mundo sai de Copenhague com um acordo. Mas, claramente, as ambições precisam subir significativamente se quisermos manter o mundo a 2 graus Celsius”, afirmou referindo-se ao aumento da temperatura global aceito pelos signatários do documento. De Boer, que era secretário da Convenção do Clima da ONU (renunciou em meados de fevereiro), sugeriu que se trabalhe para torná-lo “real, mensurável e 66

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verificável”. Encerrada na madrugada de 19 de dezembro de 2009, a COP 15 teve a participação de 192 países, que não conseguiram fechar um acordo vinculante sobre as emissões de gases do efeito estufa (ver quadro “Aspectos do acordo”). Não obstante, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, classificou o acordo como “um começo importante”, com a ressalva de que precisa transformarse em tratado com valor legal já em 2010. No fim deste ano, acontece no México a COP 16, precedida de reunião preparatória na Alemanha. Negociações devem acontecer nesse intervalo de tempo, como acena De Boer: “Vamos tentar chegar a um acordo obrigatório com valor legal até a COP 16”. “Reféns dos EUA” Já em Brasília, dois dias depois do encerramento da COP 15, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu os jornalistas para afirmar que o Brasil “fez mais do que qualquer um esperava” na Conferência do Clima. De acordo com a Agência Brasil de Notícias, Lula apontou os aspectos que teriam contribuído para que não se chegasse a um acordo formal em Copenhague, como os pontos sugeridos pelos países ricos de redução dos valores no fundo de ajuda aos países pobres; a verificação dos limites para redução de emissão de CO2; e a intenção de considerar a China como país desenvolvido. Lula lembrou que Bolívia e Venezuela deixaram o evento por conta de seus delegados, que votaram contra a proposta dos paí-

ses em desenvolvimento. “Se a gente tivesse negociado um mês antes, teríamos feito um acordo. Fizemos o melhor projeto, mas os países não evoluíram porque estavam reféns da proposta americana”, ponderou. O presidente brasileiro considerou insuficiente o valor fixado como ajuda aos países pobres e sugeriu: “Queremos que os governos assumam a responsabilidade de dar dinheiro com o aval do Tesouro. Se o mercado quiser contribuir, é lucro”, disse. Lula, crítico à posição dos Estados Unidos na COP 15, e mesmo antes dela, referindo-se à não-ratificação do Protocolo de Kyoto, avaliou como positivo o acordo fechado entre China, Índia, África do Sul, Brasil e Estados Unidos, mas lembrou que a solução global tem de ser legitimada por todos os países. Na visão do presidente brasileiro, “até o próximo encontro, no México, nós deveremos fazer um acordo e todo mundo concordar para que a gente possa, então,


definir uma política mundial para que se trabalhe o desaquecimento global”. Lula espera que as metas brasileiras apresentadas em Copenhague - redução das emissões nacionais de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9%, até 2020 - sejam consolidadas com força de lei. E avisou: “Já não é mais a vontade do presidente Lula. Agora, quem quer que governe este país vai ter de cumprir”. Humanidade em perigo Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace no Brasil, entende que os líderes do mundo fracassaram na COP 15. Isso porque “mostraram sua incapacidade de colocar interesses particulares – especialmente econômicos – acima das necessidades da humanidade. Eles falharam em evitar o caos climático. Em 2009, o mundo enfrentou uma série de crises e, com certeza, a maior delas é a crise de liderança”.

Para o Greenpeace, o acordo não é justo, ambicioso nem legalmente vinculante porque “milhões de pessoas que dependiam de uma decisão ambiciosa, que de fato controlasse o aquecimento global, foram abandonadas à própria sorte”. O ideal, para o Greenpeace, é que se chegasse a um acordo com força de lei, “justo e ambicioso, para controlar as mudanças climáticas”. A ONG enfatiza que “os países desenvolvidos, que têm a maior responsabilidade, precisam cortar em 40% as emissões de gases-estufa em relação a 1990 até 2020. Os países emergentes também precisam fazer mais, com redução da taxa de crescimento de suas emissões. É preciso zerar o desmatamento das florestas tropicais e criar um mecanismo que financie ações de adaptação e mitigação nos países pobres. Sem nada disso, o mundo sai da COP 15 deixando o presente e o futuro da humanidade em perigo”.

Greenpeace/Rodrigo Baleia

Kumi Naidoo, do Greenpeace Internacional, durante a grande Marcha pelo Clima: o que houve em Copenhague foi um crime

Carolina sugere que os resultados do estudo sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira

Marcelo, do Greenpeace Brasil: sem corte das emissões de gasesestufa, qualquer esforço de adaptação é insuficiente

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COP 15

A chance de mudar o mundo era uma em um milhão; o que se produziu foi um entendimento de omissões

“Perseguidos pela vergonha” O diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo, que esteve à frente da grande Marcha pelo Clima em Copenhague, é duro em relação ao que aconteceu durante a COP 15: “A cidade de Copenhague foi palco de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, disse. “Presidentes e primeiros-ministros tiveram uma chance de uma em um milhão de mudar o mundo para sempre e impedir que o clima entre em colapso. Produziram apenas um entendimento cheio de omissões.”

Lula, na reunião que definiu documento com mais 4 países: não se evoluiu mais por haver “reféns da proposta americana”

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mou que o acordo de Copenhague representava a esperança de uma conclusão feliz de negociações que estão apenas começando. Afinal, segundo ele, conseguir um acordo com valor legal é ‘difícil’ e toma tempo”. Marcelo argumenta: “A questão é que o aquecimento global não espera as vontades e as dificuldades enfrentadas pelos políticos. A justificativa não convence suas vítimas. Longe dos corredores acarpetados de Copenhague, Washington, Genebra, Pequim e Brasília, as populações mais vulneráveis do planeta vão sofrer pela inação desse grupo”.

Ricardo Stuckert/PR

Repúdio é claro O mais grave, para Marcelo, é que esses líderes deixaram de cumprir seu objetivo mais essencial, que seria evitar os efeitos perigosos das mudanças climáticas. O diretor-executivo do Greenpeace no Brasil apresenta as suas razões: “Esse ´acordo de Copenhague´ (ver quadro “Para ajudar a entender o fracasso”) é fraco e não representa nem um começo do que é necessário para controlar as alterações no planeta. Muitos países da América Latina, da África e pequenas ilhas se recusaram a se associar ao texto, em uma clara demonstração de repúdio”. De acordo com Marcelo, “o tal ‘acordo’ determina que os esforços devem ser feitos para manter o aumento da temperatura em menos de 2°C e coloca algum dinheiro na mesa para começar a ajudar os países mais pobres a se adaptarem ao aquecimento global. Mas falha em seu cerne, ao não determinar uma meta ambiciosa de corte das emissões de gases-estufa. Sem isso, qualquer esforço de adaptação é insuficiente”. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama é alvo preferencial do Greenpeace, por sua atitude, ao fim da COP 15: “Depois de abandonar a conferência, (Obama) afir-

A sociedade, ao contrário dos políticos, fez a sua parte, lembra o Greenpeace, ao cobrar com propriedade a ida de seus presidentes para lá, para que assumissem posições corajosas. “Eles foram, mas cumpriram apenas metade de seu papel”, constata Marcelo. O diretor-executivo da ONG no Brasil reitera suas críticas e faz um apelo: “A reunião de cúpula terminou da mesma maneira que começou, sem metas ambiciosas de corte de emissão, sem recursos financeiros para longo prazo e sem um texto consensual, com força de lei, que assegure seu cumprimento junto à comunidade internacional. Temos de seguir em frente. Não apenas com marchas nas ruas, mas engajando o setor privado, o movimento social e os governos locais para transformar nossa comunidade e criar mais pressão política nos nossos governantes. Afinal, não podemos mudar a ciência, mas podemos mudar os políticos”. Pouco efeito prático Para Marcos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), “a enorme expectativa de que a COP 15 marcasse uma mudança radical na atitude dos países no enfrentamento das ameaças das mudanças climáticas a longo prazo”, de fato, resultou numa retumbante frustração “de todos os que dela participaram e da sociedade global”. O cientista avalia que ante o que se esperava - “algum tipo de acordo vinculante com clareza do caminho a seguir para limitar o risco do aquecimento global” -, o que se decidiu na Conferência do Clima é pífio. “Sem o estabelecimento de metas quantitativas de redução de emissões, pouco efeito terá o princípio geral de que o aumento da temperatura global não deve ultrapassar 2oC ou 1,5oc”, afirma. Não obstante, Marcos Nobre acredita que se deva destacar o papel do Brasil em Copenhague, até mesmo pelo fato de ter ido à COP 15 com metas para reduzir suas emissões. O que, para o pesquisador titular do Inpe, é importante. Positivo também que “não podemos esquecer que temos muitos pesquisadores no Brasil estudando (o aquecimento global), e no campo científico estamos bastante avançados”. E, mesmo nas ações políticas, há o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que na visão do cientista deve promover as ações de combate e preparar o Brasil para a nova realidade climática.


Usina de ideias em feira verde O assessor da Unica lembra que biocombustíveis já chegaram a ser vistos internacionalmente como “salvadores da pátria”, num primeiro momento, e depois como inimigos. Para Luiz Amaral, não se trata de uma coisa nem de outra. A iniciativa privada faz a sua parte, com investimentos em pesquisas, desenvolvimento de tecnologias e de produtos alternativos. “A economia verde já faz parte de uma agenda social, e se tivesse saído um acordo vinculante da COP 15, se poderia avançar mais”, acredita. Gigantesco desfile Para usar uma linguagem dos tempos carnavalescos, se a COP 15 fosse um gigantesco desfile de escolas sob o enredo único “Salvem o planeta antes que seja tarde”, o quesito fixação de metas e definição de regras comuns faria as do primeiro grupo serem rebaixadas, já que o sentimento de frustração com os que deveriam estar na linha de frente foi total. Embora as expectativas do setor sucroenergético não fossem otimistas, Luiz Amaral não contava que chegar a um acordo promissor fosse tão complicado. Já no quesito apresentação de ideias, o encontro mundial sobre o clima foi positivo, na visão do espe-

cialista. Para ele, a economia verde já faz parte da agenda social, e a tendência, daqui para a frente, é evoluir em parcerias produtivas e amadurecimento de contatos anteriores à COP 15. No que depender da Unica, a cruzada para fazer o maior número de pessoas - físicas e jurídicas - entender a importância do papel dos biocombustíveis na qualidade de vida terrestre está no caminho certo. “O que temos feito é vencer mitos e clarear as verdades”, sintetiza Luiz Amaral. Niels Andreas

Luiz Fernando do Amaral, assessor de Meio Ambiente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), considera que a COP 15 representou momento único de, em eventos paralelos, se apresentar e discutir ideias, propostas de busca de alternativas em energias limpas, por exemplo. A Unica levou uma missão de cinco especialistas a Copenhague e participou de encontros, entre eles a Bright Green Expo, organizada pela Confederação Dinamarquesa das Indústrias. Nessa feira, que reuniu mais de 10 mil visitantes interessados em conhecer novas tecnologias, foi apresentada a versão experimental da Usina Virtual, projeto multimídia da Unica, em que se demonstraram as fases de produção de açúcar, etanol e bioeletricidade. “O etanol não é nenhuma bala de prata”, compara o mestre em Economia das Relações Internacionais, “mas é hoje a única solução comercialmente viável para o transporte, por não exigir tecnologias caríssimas.” Em Copenhague se avançou, de acordo com Luiz Amaral, no sentido de resolver mitos e mostrar o quanto esse tipo de energia limpa é competitivo, sem representar o risco que se lhe atribui de fazer da Amazônia extenso canavial ou ameaça à produção de alimentos.

Luiz Amaral, da Unica: economia verde está na agenda social; faltou o acordo vinculante

Aspectos do acordo

Para ajudar a entender o fracasso

• aprovado sem unanimidade, contrariando exigência da ONU*

• 120 chefes de Estado

• prevê ações para segurar o aumento da temperatura global em 2oC • não define redução de emissões de gases-estufa • prevê a criação de um fundo emergencial de US$ 30 bilhões até 2012 • acena com possibilidade de recursos para financiamentos de longo prazo de até US$ 100 bilhões até 2020

colocaram prioridades domésticas acima de um compromisso global

• quem vai pagar mais caro são os mais pobres e vulneráveis

• acordo foi costurado por 30 dos quase 200 países integrantes da Convenção do Clima

* Por ser um documento resultante de encontro entre EUA, Brasil, África do Sul, Índia e China, não é reconhecido por Sudão, Bolívia, Venezuela, Nicarágua, entre outras nações

• chefes de Estado deixaram a

Fonte: ABr com BBC Brasil

Fonte: Greenpeace

COP 15 sem falar à Imprensa

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Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

COP 15

Sancionada em 29 de dezembro de 2009, a Lei 12.187 representa avanço, mas requer mecanismos para sua efetivação Gabriel Arcanjo Nogueira

Presidente Lula: consolidadas com força de lei, metas brasileiras comprometem governos no futuro

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Lei 12.187/09, que institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC), representa “grande avanço no que se refere à aceitação pelo país de metas de redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE), já que o Brasil sempre defendeu a posição de que os países industrializados é que deveriam apresentar tais metas. “O compromisso, ainda que voluntário, de reduzir até o ano de 2020 as emissões do país em, no mínimo, 36,1% (pode chegar a 38,9%), foi muito bem recebido durante a COP 15, quando o Brasil demonstrou liderança e comprometimento com as discussões sobre as mudanças climáticas. “No entanto, para que a meta brasileira seja atingida, vários pontos ainda precisam ser definidos, entre eles as

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ações a serem adotadas e como elas serão financiadas, bem como quanto cada setor precisará reduzir. “A própria Lei 12.187/09 reconhece a necessidade de elaboração de planos setoriais de mitigação e de adaptação, de forma a delinear quanto cada setor precisa reduzir para que a meta se concretize. A previsão é de que os planos setoriais sejam estabelecidos por meio de decreto do Poder Executivo”. A avaliação é de Natascha Trennepohl, advogada e professora, especialista em regulação jurídica do mercado de carbono, com diversos artigos e livros publicados sobre Direito Ambiental. Para ela, “a lei não apresenta apenas a meta voluntária de redução, dispondo também sobre os princípios, os objetivos e os instrumentos da PNMC”. Na-

tascha acentua a importância desses instrumentos, entre eles o Plano Nacional sobre Mudança do Clima - apresentado durante a COP 14, na Polônia - e o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima - instituído pela Lei 12.114/09. Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), esse fundo é para captar recursos de apoio a projetos e financiamento de empreendimentos voltados a ações de mitigação e adaptação, lembra a especialista (ver quadro “Composição do Fundo”). Na lei, a meta de diminuição na emissão de gases do efeito estufa - até 2020, projeção entre 36,1% e 38,9% - é a mesma apresentada pelo Brasil durante a Conferência do Clima, realizada em dezembro em Copenhague (Dinamarca). O detalhamento de como o país a


Mercado de carbono Ponto de destaque na Lei 12.187/09, para a especialista, é a menção ao mercado de carbono. Natascha cita o artigo 4º, que dispõe que a Política Nacional estimulará o desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE); e o 9º, que menciona a operacionalização do MBRE em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e entidades de balcão organizado. Estas serão responsáveis pelas negociações de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), mais conhecidas como ‘créditos de carbono’. “Vale lembrar que a BM&F Bovespa já realizou dois grandes leilões de créditos de carbono, obtidos a partir de projetos em aterros sanitários da cidade de São Paulo. Cada leilão arrecadou mais de 30 milhões de reais”, lembra, para acentuar: “Um ponto importantíssimo daqui pra frente é a regulação do mercado de carbono no Brasil. Para isso, podemos usar alguns exemplos positivos de outros sis-

temas, como o europeu, o japonês e até mesmo o norte-americano”. Sancionada em 29 de dezembro de 2009, ainda na esteira da COP 15, a lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima traz três vetos presidenciais ao texto original aprovado no Congresso Nacional (ver quadro “Os vetos presidenciais”). A importância da matéria mereceu uma edição extra do Diário Oficial da União. Expectativa do decreto De acordo com a Agência Brasil (ABr), da Empresa Brasileira de Comunicação, e a Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a nova lei prevê a edição de um decreto, ainda em 2010, para estabelecer a cota de cada setor da economia no esforço de redução das emissões. Os vetos foram negociados entre os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e do MMA, Carlos Minc. A expectativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a efetivação das metas brasileiras ultrapassa os limites de seu mandato, conforme NEO MONDO já havia registrado em sua edição de fevereiro. Vale reiterar aqui: consolidadas com força de lei, cumprir essas metas “não é mais a vontade do presidente Lula. Agora, quem quem quer que governe este país vai ter de cumprir”.

Iryna Verbitska

alcançará será fixado por meio de decreto presidencial, em que estarão especificadas as iniciativas que cada setor da economia deverá tomar. Para Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, “não basta ter metas numéricas, é preciso ter os instrumentos que vão garantir que elas sejam atingidas”.

Para Natascha, “ponto importantíssimo daqui pra frente é a regulação do mercado de carbono no Brasil” Natascha explica que o parágrafo único do artigo 12 da Lei 12.187/09 prevê que a projeção de emissões para o ano de 2020 e o detalhamento das ações de mitigação sejam tratados em decreto - que “ainda não existe”, ressalva. “Antes que ele possa ser promulgado, é necessário que se conclua o segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, pois há a previsão na PNMC de que esse inventário servirá de base para a projeção de emissões e para a definição das ações de mitigação”.

Composição do Fundo • A Lei 12.114/09 dispõe sobre os recursos do fundo • Provenientes de doações de entidades nacionais e internacionais, públicas ou privadas • Podem ser decorrentes de acordos e convênios celebrados com órgãos e entidades da administração pública

Os vetos presidenciais • O primeiro deles, solicitado pela Advocacia Geral da União, trata da proibição de contingenciamento de recursos para o combate às mudanças climáticas. • Também foi acatada pelo presidente Lula a sugestão do Ministério de Minas e Energia de vetar o artigo que prevê o paulatino abandono do uso de fontes energéticas que utilizem combustíveis fósseis. • O último ponto vetado abrange itens do artigo 10 da lei, em especial o que limita os estímulos governamentais às usinas hidrelétricas de pequeno porte. De acordo com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o governo também quer estimular as de médio e grande porte, pois o País não pode prescindir da energia proveniente delas para o seu desenvolvimento. Fonte: ABr/Ascom MMA

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COP 15

Divulgação

Já não é mais a vontade do

presidente Lula. Quem quer que governe este país vai ter de cumprir Para o ministro Carlos MInc (na foto, em coletiva durante a COP 15), é preciso fixar instrumentos que garantam cumprimento das metas

“Propostas aquém do que o mundo precisa” Andrew Kerr/WWF

WWF defende metas ambiciosas e ações para fechar os escapes de emissões Não é por falta de alerta que os cuidados com o clima não devam ser tomados com mais seriedade pelos governos. O WWF Brasil, um dia antes de encerrar-se em Copenhague a COP 15, informou que uma análise confidencial da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas confirma que as atuais promessas de redução de emissões nas economias desenvolvidas e algumas das emergentes colocam o mundo, na melhor

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das hipóteses, no rumo de três graus centígrados de aquecimento - provavelmente mais do que isso. “A dura mensagem que chegou aos líderes mundiais reunidos em Copenhague é de que as propostas em discussão – especialmente aquelas feitas pelos países industrializados – estão bem aquém daquilo que o mundo precisa”, disse Keith Allott, coordenador de mudanças climáticas do WWF-Reino Unido.

Furos de escape “Essa avaliação, que data de apenas três dias atrás ( 15 de dezembro de 2009 - N.R. ), está baseada na visão muito otimista contida nas promessas de redução de emissões. Essa visão supõe que os imensos furos por onde escapam as emissões ainda estão longe e que todos os compromissos voluntários de redução serão cumpridos”, disse Allot. “Precisamos de ações urgentes para fazer com que as emissões mundiais tomem um rumo capaz de manter o aquecimento bem abaixo do limiar aceito de dois graus centígrados, de forma a evitar os riscos inaceitáveis de mudanças climáticas catastróficas”, completou. “É uma questão de matemática simples: precisamos de metas muito ambiciosas para os países desenvolvidos e de novos apoios financeiros para ajudar os países desenvolvidos a terem um crescimento com baixo carbono, bem como de ações para fechar os vários escapes de emissões que tornam os atuais compromissos de redução ainda mais frágeis do que eles parecem à primeira vista.


Neo Mondo - Setembro 2008

A


Diculgação

Cultura, Lazer e Arte

e a arte que grita Artista conhecido mundialmente pela beleza das obras e pelo ativismo ambiental organizou o “Grito Brasil Salva Amazônia” no início de setembro Rosane Araujo

P

oucas pessoas no Brasil apresentam trajetória tão consistente na defesa do meio ambiente como o escultor Frans Krajcberg. Naturalizado em 1954 e no país há 61 anos, o artista que nasceu na Polônia tem coração brasileiro e ainda hoje, aos 88 anos, de idade milita em favor das belezas naturais do país.

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“Todos nascemos em algum lugar e eu prefiro dizer que nasci, antes de tudo, neste planeta. Assim, deixo em segundo plano a referência de países e fronteiras, mas devo enfatizar que foi no Brasil que a natureza me causou um grande impacto e, com o passar dos anos, permitiu a transformação da minha revolta em arte”, declara no material de divulgação do “Grito:

Seminário Brasil Salva a Amazônia”, um manifesto organizado por ele em conjunto com a Associação Hoteleira de Nova Viçosa, cidade no extremo sul da Bahia, onde vive há mais de 30 anos. O evento aconteceu nos dias 3 e 4 de setembro e contou com a participação dos atores Cristiane Torloni e Vitor Fasano, da artista plástica Bia Dória, além do governa-


Revolta como matéria-prima É fácil entender o que impulsiona a alma revoltada de Krajcberg. Se hoje ele presencia as barbáries do homem contra a natureza, no passado, viu cenas terríveis durante a Segunda Guerra Mundial, na qual serviu pelo exército soviético. Sua própria família foi dizimada durante a guerra, não tendo hoje nenhum parente vivo. Uma de suas memórias mais marcantes é a de um campo de concentração na Hungria, no qual viu o que seria uma montanha de lixo, mas que, ao chegar perto, notou tratar-se de uma pilha de corpos.

Eu estou revoltado com a passividade que existe nesse país. E não só do povo, mas dos intelectuais desse país

Anos depois, ele veria cena semelhante, já em terras brasileiras, em suas viagens pela Amazônia: seis índios mortos, pendurados em uma árvore, com centenas de urubus ao redor. Fotografou aquela imagem aterradora de olhos fechados. “Essas fotos estão guardadas em Paris, porque duas vezes foram policiais na minha casa, no Rio, querendo que eu as entregasse. Essa foi a cena mais cruel que já vi na minha vida e passei 4 anos e meio na guerra”, relembrou. A violência contra os índios é outro grande problema que aponta como consequência do desmatamento cometido pelo homem. “Quando se fala em fogo e queimadas, só se pensa nas árvores. E os habitantes? E os índios que são queimados? Não são só árvores, são seres humanos e os verdadeiros habitantes deste país”, esbraveja. Sua chegada no Brasil, que tanto defende, aconteceu em 1948, uma viagem recomendada pelo artista plástico e seu grande amigo Marc Chagall. Desembarcou no Rio de Janeiro, sem dinheiro e sem falar nada de português e, após algumas noites dormindo ao relento, mudou-se para São Paulo onde trabalhou como operário no Museu de Arte Moderna, na primeira Bienal de São Paulo e como auxiliar do pintor Alfredo Volpi.

Após a experiência paulista, mudou-se para o Paraná, onde trabalhou como engenheiro de uma indústria de papel. Não demorou muito para abandonar o emprego e se refugiar na mata paranaense, onde começou a ter contato direto com desmatamento e queimadas. Na década de 60, o artista chegou a instalar-se em uma caverna, no estado de Minas Gerais, onde criou suas primeiras esculturas e descobriu os pigmentos naturais que usa até hoje nas obras. Foi em 1972, na baiana Nova Viçosa, porém, que construiu sua morada: uma casa a 12 metros do chão, suspensa em um tronco de pequi de quase 4 metros de diâmetro. No sítio Natura, Krajcberg encontrou espaço e inspiração para as obras que o consagraram mundialmente. Na pequena cidade de cerca de 35 mil habitantes, ele também levantou a bandeira da preservação. “Já enfrentamos algumas lutas em defesa dos manguezais e fizemos manifestações contra a construção de uma estrada”, lembra a amiga Lu Araujo. Tanta militância assustou alguns moradores. “Ele é muito fechado e algumas pessoas tinham medo de falar com ele. O Grito pela Amazônia ajudou a quebrar essa parede, aproximou-o da comunidade”, garante Lu. Foto: Cadorj

dor da Bahia, Jaques Wagner, e de outros políticos, acadêmicos e representantes da comunidade local. “A primeira ideia era fazer um evento para homenagear o Krajcberg, mas ele não quis, pediu que fizéssemos um manifesto em favor da natureza, então, mudamos toda a concepção do seminário”, contou Lucenilde Araujo, membro da Associação Hoteleira e amiga do escultor. A mudança de foco, segundo ela, foi compensadora. “A comunidade teve grande participação e mostrou que não está preocupada somente com as questões locais”, avalia. O próprio Krajcberg também fez um balanço positivo do evento. “Foi um sucesso, a gente viu que toda a região foi mexida. Pudemos ver que não é um vazio, que não é todo mundo que está dormindo, não querendo ver a realidade. A realidade está lá e cada vez mais pessoas estão conscientes que a saúde do planeta está em perigo”, disse. Apesar do otimismo em relação aos ecos do Seminário, o experiente ambientalista não alimenta ilusões. “Se oficialmente esse assunto não for tratado, é bem claro que o Brasil vai virar uma caatinga”, opinou. E se pela Amazônia ainda é possível gritar, ele acredita que não se pode fazer o mesmo por outros biomas. “Na última viagem que fiz em um pequeno avião, pude perceber que os manguezais estão na beira do rio, entrando um pouco tudo está destruído. Na Bahia, não tem mais nada, toda a Mata Atlântica de lá e de Minas Gerais foi destruída. Até hoje, nas estradas de Minas, só se vê caminhões de carvão. Eu me pergunto: onde há ainda florestas para fazer carvão?”, questiona. No lugar da Mata Atlântica, ele ressalta que estão sendo plantados eucaliptos. “O Brasil é um paraíso de plantar eucaliptos. Todo mundo sabe que eles bebem toda a água doce, potável. E mesmo assim cada vez mais aumenta a plantação”, pondera, inconformado.

Em novembro de 2008, a exposição Natura reuniu obras de Krajcberg na Oca, no Parque do Ibirapuera. Foi sua maior exibição na capital paulista

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Wikimedia

O governador da Bahia, Jaques Wagner, ao lado de Frans Krajcberg, durante o Grito pela Amazônia

é lamentável. Eu não tinha noção que a gente não tem liberdade nenhuma. Não temos uma defesa. Fico impressionado que tudo está a favor das pessoas que me roubaram. Se eu tivesse uns dez anos menos, eu sairia de lá, mas não é fácil nessa idade ter que fazer uma mudança tão radical”, desabafa. Mesmo decepcionado com tanta injustiça, ele mantém a personalidade generosa. Ofereceu, como doação à cidade de São Paulo, 30 esculturas de madeira pertencentes a seu acervo, além de 40 obras fotográficas que registram a destruição da natureza. O projeto da prefeitura é disponibilizar o material no Pavilhão Krajcberg, espaço de 1.650m² que pretende construir no Parque do Carmo, na zona leste da cidade, que também ofereceria projetos de conscientização ambiental. O artista participou do lançamento da pedra fundamental do Pavilhão no dia 9 de agosto, mas, como não recebeu qualquer cronograma das obras, tem dúvidas sobre sua continuidade. “Até hoje não tem sinal de que vão começar, só houve o lançamento da peFoto: Mateus Pereira

O fervor com que defende seus ideais também encanta e desperta seguidores. “Eu descobri o verdadeiro sentido da vida depois que conheci Krajcberg. Passei a compreender que devemos nos posicionar, escolher um caminho a ser seguido, olhar para o nosso semelhante e nos conscientizar do nosso papel enquanto seres humanos e profissionais”, afirmou a jornalista Renata Rocha, que planeja fazer uma biografia completa e bilíngue (francês e português) do artista. No campo das artes, porém, sua batalha parece solitária. São poucos os artistas de expressão da atualidade que utilizam o tema da degradação do meio ambiente pelo homem. “No século 20, a arte ignorava completamente as barbáries que o homem praticava, estava completamente dominada pelo mercado e as galerias só lançavam artistas que o mercado estava a favor. Nós estamos no século 21 e as artes plásticas nem tiveram coragem de abrir a porta e entrar neste novo século. A fotografia é a única arte que entrou, de uma forma impressionante. É essa arte que está mostrando cada vez mais a realidade que foi desconhecida e o perigo que o planeta está passando”, acredita. Entretanto, suas queixas não incluem somente a classe artística, já que vê o tema como um assunto global. “Pode colocar que eu estou dizendo isso: eu estou revoltado com a passividade que existe nesse país. E não só do povo, mas dos intelectuais desse país”. Seu descontentamento inclui também a justiça brasileira. Recentemente, ele sofreu uma tentativa de envenenamento por parte de um trabalhador de sua própria casa e teve dinheiro e objetos roubados. “Queriam me matar com veneno, a sorte é que eu provei, mas não gostei do cheiro, senão já estaria morto. Me roubaram todo o dinheiro que tinha para construir o museu ecológico e muitos objetos. E a justiça

O ator Victor Fasano, Krajcberg, a atriz Cristiane Torloni e a artista plástica Bia Dória durante o evento

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Foto: Mateus Pereira

Cultura, Lazer e Arte

dra fundamental. Acham que vão começar no ano que vem, mas isso sem dúvida vai ser tarde, tenho outros compromissos e vou ser obrigado a abandonar”, disse se referindo ao comprometimento que fez junto ao Museu Guggenheim de Nova Iorque, nos Estados Unidos, de que, caso as obras não fossem utilizadas pelo governo paulista até novembro deste ano, seriam disponibilizadas para compra por parte do Museu. O mais irônico no episódio é que, enquanto o Guggenheim demonstra interesse em pagar pelo trabalho de Krajcberg, o governo paulistano não se apressa em agilizar a infra-estrutura para receber o material que recebeu como doação. “Se eu estivesse vendendo, eles teriam mais interesse”, acredita. Fatos como este alimentam a crença do artista de que o tema da defesa do meio ambiente só está sendo levado com seriedade fora do país. Enquanto o Espaço Krajcberg, localizado no Jardim Botânico de Curitiba, no Paraná, depois de anos “abandonado”, segundo ele, está fechado para reforma, o Museu que leva o seu nome, localizado em Paris, recebe visitas e eventos para conscientização ambiental com tanta frequência que chegou a ser estudada sua transferência para um espaço maior. “A preocupação internacional é enorme sobre a saúde do planeta e a sobrevivência do homem. O tema Amazônia é mais internacional do que nacional. No Brasil, estão acontecendo coisas que nunca houve e ninguém pergunta: por que está acontecendo isso?”, afirma indignado. Se ninguém pergunta, Krajcberg o faz por meio de suas obras. Mais do questionadora, sua arte grita, um grito de SOS pelo planeta.


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Doutor das Pedro Martinelli, fotógrafo da Amazônia, é pós-graduado em mato pelos irmãos Villas Bôas

O primeiro índio fotografado em 1973, ao sair da pesca: “Nós levamos três anos para fazer contato, adiando ao máximo a catástrofe”

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edro Martinelli é um dos poucos brasileiros que conhecem a Amazônia, não por ouvir falar e ler ou por meio de estudos de gabinete. Ele documenta a região e seu povo desde 1970, quando, aos 20 anos, foi enviado pela sucursal paulista do jornal O Globo para fotografar a expedição dos irmãos Villas Bôas, Cláudio e Orlando, sertanistas que, com o irmão Leonardo, idealizaram o Parque Nacional do Xingu (hoje Parque Indígena do Xingu), fundado em 1961 - a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Informação Científica, Tecnológica e Ecológica (1996) , é fotógrafo independente desde 1994 e tem inúmeras reportagens publicadas nos 78

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principais periódicos do País. Reconhecidamente, um dos maiores fotógrafos brasileiros. Os Villas Bôas foram responsáveis por sua “pós-graduação em mato”, como Pedrão costuma dizer. Pedrão é como todos chamam esse descendente de italianos, criado em Santo André, no ABC, em São Paulo, em uma família de oito irmãos. Desde o início, em 1967, na sucursal do jornal Gazeta Esportiva - quando revelou a primeira foto e se apaixonou pela profissão -, sua carreira voou. Trabalhou no Diário do Grande ABC em Santo André até 1970 e foi para a sucursal paulista de O Globo, onde ficou até 1975. Fez de tudo, desde cuidar dos linotipos até aprender a fotografar e revelar.

“Cheguei na redação indicado por um amigo do Diário do Grande ABC, o Chicão. Nove da manhã, o chefe, que se chamava Garini, cortou um pedaço de jornal que estava lendo e falou: ‘senta e escreve’. Eu tinha trabalhado em cartório, fiz curso de datilografia, era bom nisso.” Foi assim que Pedrão se tornou rádio-escuta, não havia vaga para fotógrafo. Rádio-escuta é a pessoa que ficava ouvindo rádio e gravando os noticiários. “Acontece que eu mais fotografava do que gravava noticiário. Trabalhei bastante, e cinco meses depois O Globo tinha mandado dois fotógrafos para a Amazônia; nenhum deu certo, ninguém queria ir, com medo de malária, da mata. Eu fui, e pronto”.


Especialista em Amazônia Assim Pedrão começou a se especializar em Amazônia. Ficou em O Globo até 1975, trabalhou depois no Palácio do Governo de São Paulo e foi para a revista Veja em 1976, onde ficou até 1983, como fotógrafo e depois editor de fotografia. Entre 1983 e 1994 foi diretor de serviços fotográficos do Estúdio Abril. Pediu demissão para dedicar-se à documentação da Amazônia. “A primeira coisa que eu fiz foi ver se encontrava o índio que tinha fotografado em 1973. Até então ninguém sabia me dizer se eles estavam vivos, principalmente o que havia saído na foto de primeira página. Fiquei 20 anos tentando, as informações eram muito escassas, só sabia que eles haviam sido transferidos para o Xingu. Logo depois do contato, a estrada passou, morreu 70% da população, acho que ficaram vivos 76. Para impedir a extinção, a Funai os transferiu para o Xingu”, conta. Em 1994, com seu projeto pessoal elaborado durante anos, Pedrão comprou Divulgação

Pedro Martinelli

expedição de contato com os índios gigantes, os Kranhacãcore (homem grande da cabeça redonda), como os inimigos Txucarramães os chamavam. Hoje são os Panará. A frente de atração era chefiada pelos irmãos Claudio e Orlando Villas Bôas, cuja missão era fazer o contato com os índios que estavam no rumo da rodovia Cuiabá--Santarém. “Fui para ficar um mês e acabei ficando três anos”, conta. “Encontrei meus mestres Villas Bôas, que tinham uma concepção contra a construção de estrada, a favor de manter os índios isolados, enfim...”. Ficou três anos no rio Peixoto de Azevedo (divisa de Mato Grosso e Pará) até fazer contato com os índios. “O contato foi em abril de 73.” Quando ninguém esperava, sai do meio da mata um índio gigante: ”Estava pescando e apareceu no fim da tarde, inteirinho, maravilhoso”, lembra. A foto do primeiro contato foi publicada na primeira página de O Globo, em 11 de fevereiro de 1973, depois que as partes íntimas do índio foram retocadas por ordem do censor que ficava na redação.

No mato, todo dia Então tudo começou. Mas Pedrão não era um iniciante em mato. “Eu já conhecia a Mata Atlântica em Santo André, desde menino caçava com meu pai, na Serra do Mar, que ficava do lado da minha casa. Meu pai fechava o açougue às 3 horas, e a gente ia para o mato todo dia. Eu tinha adoração pelo mato, a Mata Atlântica, deslumbrante, mas com um olhar de caçador, não de ambientalista, não tinha noção do tamanho da encrenca que estava por acontecer. Em 1970, eu queria conhecer a Amazônia”. Na época da ditadura, os militares começaram a construir estradas: Cuiabá--Santarém, Transamazônica, Perimetral Norte. Foi quando O Globo escalou Pedrão para cobrir a

Pedro Martinelli: quase 40 anos de Amazônia, um trabalho inestimável

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Pedro Martinelli

Cultura, Lazer e Arte

O mesmo indio, quase 40 anos depois : “Fiquei amigo dele; hoje os Panará entendem perfeitamente o meu papel”

um barco para fazer seu primeiro livro Amazônia povo das águas. Foi atrás dos Kranhacãcore com um antropólogo norteamericano, conhecedor da língua deles que, de certa forma, salvou a sua vida. “Eu fui o primeiro que participou do contato e voltou na aldeia 20 anos depois. Cláudio e Orlando se aposentaram e nunca mais voltaram. Os mais velhos me reconheceram, e foi uma loucura, o pajé os instigava pra me matarem.” Isto porque culpavam Pedrão, um membro da expedição de 1973, por todo o mal que aconteceu a eles depois do contato. “Mas o antropólogo Steve (Pedrão recorda-se apenas do nome – N.R.) foi contornando, na língua deles, calmo. Foi colocando minha história. Dormi na aldeia; foi dramático, 80

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acordei e pensei: estou vivo, então não me matam mais. Porque o lance é matar à noite, é clássico no Xingu: dão uma casa pra dormir e matam de borduna, muitos brancos morreram lá assim”, diz Pedrão. Ponte no lugar de aldeia Teve início, então, uma grande relação com aqueles índios. “Levei as fotos, eles viram parentes que tinham morrido, foi muito dolo-

roso”, diz. Para o encontro, Pedrão encontrou um índio amigo da antiga expedição: “Fomos numa caminhonete e andamos até a antiga aldeia”. Encontraram terra arrasada.” Onde era aldeia tem ponte de concreto; fotografei tudo e liguei para Merval Pereira, então diretor do Globo, que nos anos 70 era colega repórter. Quando consegui falar, ele disse: ‘Vem para o Rio agora’. Ficaram loucos com o material, o jornal não tinha nunca voltado. Fizeram uma série de matérias, e ganhamos o Prêmio Esso de Informação Jornalística”. Em 1998, foi realizada uma grande exposição no Sesc Pompéia com o lançamento do livro Panará a volta dos índios gigantes. Compareceram seis índios, fizeram uma linda dança durante três dias. Entre eles, o índio gigante fotografado há 35 anos. De camiseta pólo, sapatos, não é mais um índio gigante; hoje ele é o seu Euclides. As contas do que se perdeu Desde 1970, Pedro Martinelli começou a fazer as contas de tudo que se estava perdendo. “Muita gente que fala em sustentabilidade não conhece mato, não tem idéia da perda. Hoje saiu uma notícia de que desmatamos 36 % menos que no ano passado. São burocratas de escritório que ficam tomando banho de luz fluorescente na frente do computador a vida inteira, nunca falaram com caboclo, nunca dormiram mais de uma noite no mato”, avalia. Pedrão se enfurece porque suas contas não batem com as oficiais. “Na minha conta, eu juro, quando vi a estrada chegando, nos anos 1970, as primeiras derrubadas, pensei que a Amazônica se acabaria em 20 anos. Posso ter errado, mas se continuar assim, em 20 anos não vai haver mais nada”, profetiza. Segundo Pedrão,nos últimos cinco anos a qualidade de vida piorou muito: “ A questão não é nem ambiental; o problema é a degradação humana que a Amazônia está sofrendo. Trabalhei para um especial da revista Veja e fiz a parte de Manaus inteira em quatro dias. Toda a periferia. Não dá para explicar, é egoísta pensar em árvore, preservação de mato, de bicho, com o ser humano naquelas condições”.

Problema maior é a degradação humana... Se nada for feito, (região) não dura mais 20 anos; como falar em sustentabilidade?


Em Belém as pessoas moram em cima do esgoto, em palafitas Pedrão enfatiza: “Se falta esgoto em São Paulo, imagine em Belém e Manaus. Vou a Belém há quase 40 anos. Desde que construíram o Hilton Hotel, há 25 anos, até hoje, tem esgoto passando em frente. Duvida disso? Você pega um táxi e vai até o Porto da Palha, a 10 minutos do Hilton, na Avenida Beira Rio, você vai ver ser humano no pior estado.Você não imagina! O problema não é só deste governo, é de vários. Isso que eu falei na boca de um sociólogo fica interessantíssimo, jamais ele falará de saneamento básico, de esgoto, da degradação humana. Continuam falando uma linguagem que não existe. E daqui a pouco, vão falar o que mais?”. Fossa olímpica Para Pedro Martinelli, antes de salvar a Amazônia, as pessoas deveriam cuidar do rio Tietê, que passa no nosso quintal. “A raia olímpica da USP é de esgoto. Onde estão sentados os grandes cérebros do País, a 200 metros do rio Pinheiros, ao lado existe uma favela. Eu pergunto: há alguma assistente social fazendo trabalho naquela favela? Este país precisa de assistente social, para ensinar a cuidar de verme, tratar de saneamento. Porque há muitos trabalhos em favelas que ensinam a mexer em computador, mas não a defecar na fossa. Sim, deve haver aula de teatro, de música, mas não há fossa séptica.Esgoto, saneamento básico, estas são as palavras necessárias. Assim estaremos dando um passo enorme”, alerta. “No mato, para ver televisão a pessoa tem de matar uma paca, vender tartaruga.

Uma tartaruga vale R$ 5 , que é o preço de um litro de óleo diesel na Amazônia. Duas horas de TV consomem um litro de óleo diesel, ou seja, uma tartaruga. Cinco horas de TV valem uma paca. Para começar a discutir sustentabilidade, é preciso discutir qual a alternativa para o caboclo comprar o diesel dele e continuar a ver televisão sem vender tartaruga nem matar paca”, afirma. Todo o trabalho de Pedrão na documentação da Amazônia nunca foi financiado: ”Nem um litro de gasolina, nenhuma passagem de avião, ninguém me hospedou por conta. E também ninguém me questionou até hoje; só o caboclo poderia me questionar, mas não”. Enquanto grelha uma abobrinha na chapa, Pedrão , que em seu blog coloca estas e muitas outras histórias preciosas de sua vida profissional, diz que tem vontade mesmo é de falar sobre comida.”Sempre cozinhei, desde pequeno; todos os oito irmãos aprenderam a limpar casa, passar roupa e cozinhar - a nossa primeira grande lição de vida”. E a comida da Amazônia? Pedrão diz que está na moda,mas esta é mais uma frente de dilapidação do patrimônio de índios e caboclos: “Neguinho vai lá, usa a pimenta deles, a idéia deles, vota, faz um prato bonitinho para o mundinho fashion, mas o retorno, a contrapartida é zero”. Ele pergunta: como arrumar o mundo sustentável para esse homem da Amazônia? “Eu comprei ingresso na poltrona vermelha, numerada, vou sentar e assistir de camarote.”

Livros de Pedro Martinelli O livro Panará a Volta dos Índios Gigantes (1998) conta toda a história do contato, a transferência para o Xingu e a mudança para o Rio Iriri, onde os Panará estão desde 1994. Você pode encontrar a obra no site www.istitutosocioambiental.org Pedro Martinelli publicou ainda Casas Paulistanas (São Paulo, 1998), Amazônia o Povo das Águas (com exposição individual no Museu de Imagem e do Som, São Paulo, 2000), Mulheres da Amazônia (com exposição no Museu da Casa Brasileira, São Paulo 2004) e Gente X Mato, São Paulo 2008. Estes dois últimos podem ser adquiridos com o próprio autor no seu site www.pedromartinelli.com.br

Lição de Orlando Villas Bôas

“Durante a longa permanência entre os índios, a única contribuição que talvez lhes tenhamos dado foi mostrar aos civilizados que o índio brasileiro não é um selvagem agressivo e destruidor. Nós trouxemos a notícia de que eles constituem uma sociedade tranqüila, alegre. Ali, ninguém manda em ninguém. O velho é dono da história; o índio, dono da aldeia; e a criança, dona do mundo. Nesse tempo todo em que vivemos perto deles, nunca assistimos a uma discussão, a uma desavença na aldeia ou a uma briga de marido e mulher. Se a criança faz alguma coisa que o pai desaprova, ele não a repreende. Apenas a tira de onde está e a leva para outro lugar. É admirável, também, o respeito que os pequenos têm pela natureza, valor que adquirem observando o comportamento dos mais velhos. O chefe, ou cacique, é o líder cultural da aldeia. Ele goza de muitas prerrogativas, mas deve observar uma série de restrições: não pode falar alto, nem rir ou fazer gestos bruscos, por exemplo. Sua função não é impor regulamentos nem determinar tarefas, mas estabelecer uma ligação entre a comunidade e os pajés que se reúnem todas as tardes para conversar, fumar e deliberar sobre o bom andamento da tribo. O cacique não participa da conversa. Apenas ouve o que está sendo dito e na manhã seguinte, segurando o arco numa das mãos, dirige-se ao povo que se junta diante de sua maloca para escutar as recomendações dos pajés e, em seguida, colocá-las em prática. Supostamente os pajés nunca erram porque não têm outra preocupação além de ficar zelando pelo bem-estar da comunidade. Quando colocamos a possibilidade do diálogo entre os diferentes povos e culturas como horizonte a ser alcançado, precisamos logo esclarecer que ele pressupõe que os povos estejam fortalecidos e seguros (quanto à questão de suas terras; quanto à sua identidade étnica e nas suas relações com ‘os outros’)”. www.expedicaovillasboas.com.br/ portal/orlando-villas-boas.html

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Cultura, Lazer e Arte

Sociedade tem de assumir

soluções Livro de Lester Brown, recém-lançado no Brasil, soa como alerta geral Da Redação

O

s dados apresentados pelo eco-economista norte-americano Lester Brown, do Earth Policy Institute, um dos mais notáveis pensadores mundiais da sustentabilidade, são impressionantes. Em seu livro Plano B 4.0 Mobilização para salvar a Civilização, lançado em São Paulo em outubro, o autor convida a sociedade a tomar parte no processo de construção da economia de baixo carbono e aponta caminhos e recursos já disponíveis para governos, organizações e indivíduos. Um plano ambicioso, para alguns impossível, ele reconhece. Mas não é. “O Plano B oferece uma visão de como pode ser o futuro, um mapa de como ir daqui até lá e um cronograma para cumprir o percurso. Não se baseia no pensamento convencional, até porque foi ele que nos colocou no meio dessa confusão. Pelo contrário, adota um jeito diferente de pensar, uma nova mentalidade, para nos tirar da presente situação”, esclarece. Segundo Brown, no concorrido evento de lançamento, “a pergunta não é quanto vai custar se fizermos isso e aquilo pela mudança climática. A pergunta é: quanto custará se não fizermos nada? O planeta continuará existindo, mas a civilização, não sabemos”.

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A reestruturação econômica dos Estados Unidos após a guerra foi feita em meses. Podemos reestruturar a economia mundial mais rápido do que imaginamos, afirma. “Salvar a civilização não é um esporte de espectadores, cada um tem sua parte” (ler “Para implementar o Plano B”). Um mundo que gasta US$ 1 trilhão por ano está simplesmente fora de sincronismo com a realidade ao não responder às ameaças mais sérias ao nosso futuro. Perto disso, o orçamento do Plano B, de US$ 187 bilhões por ano, será um gasto razoável para salvar a civilização. Uma proposta principal do Plano B é taxar menos o trabalho e mais as emissões de carbono, via imposto de renda, e para isso é necessária a participação política de cada cidadão, pressionando seus representantes. “Os acordos internacionais talvez sejam obsoletos em pouco tempo’’, diz Brown. “Como alcançar as crianças em diferentes culturas? Não temos tempo de educar uma geração, sugiro que se eduquem vereadores, deputados.” Única alternativa No Plano B, Brown propõe a estabilização do clima e da população, a erradicação da pobreza e a restauração dos suportes naturais da natureza. “Trata-se de um plano ambicioso, mas é também a nossa única alternativa. Estamos nos aproximando da Conferência de Copenhague, que focará em apenas um desses problemas: as mudanças climáticas. Ao publicar esse livro, pretendemos alcançar uma mobilização global, algo em que o mundo todo se envolva, não um país ou um grupo de países”. O livro é uma coedição de Ideia Sustentável e idealização da New Content, com o apoio do Bradesco, e foi lançado quase simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos. Graças ao modelo adotado de edição patrocinada, será possível produzir uma tiragem impressa para doação a bibliotecas, escolas, universidades e ONGs; os conteúdos estão disponibilizados para download gratuito (ler “Para implementar o Plano B”). Os pontos principais do Plano são os seguintes, segundo Brown: • Visão de futuro O Plano B estrutura-se a partir da urgência de impedir o aumento das concentrações atmosféricas de CO2, reverter o declínio na segurança alimentar e encurtar a lista de estados

Brown citou as Olimpíadas de 2016 no Rio como uma oportunidade de se fazer pesquisas para limpar o ar, fechar fábricas e reduzir o uso de automóveis apenas no período

falidos ou em falência. Ao estabelecer o objetivo de cortar em 80% a emissão de carbono até 2020, não perguntamos que tipo de corte seria politicamente viável. Em vez disso, perguntamos quanto e quão rápido temos de reduzir as emissões de carbono se quisermos ter uma chance decente de salvar a camada de gelo da Groenlândia e evitar uma elevação do nível do mar politicamente desestabilizadora. Com quanta rapidez temos de cortar carbono se desejarmos salvar pelo menos as maiores geleiras do Himalaia e do Platô Tibetano, cujo gelo derretido irriga as plantações de trigo e arroz na China e na Índia? No plano da energia, nosso objetivo é fechar todas as termelétricas a carvão até 2020, substituindo-as amplamente por fazendas eólicas. Na economia do Plano B, o sistema de transporte será eletrificado com base em uma ampla mudança para os carros híbridos, carros elétricos e vias férreas de alta velo-

cidade. Já as cidades serão projetadas para pessoas, não para automóveis. • A verdade ambiental O mercado faz várias coisas bem, mas uma das coisas que não faz é incorporar impactos indiretos da queima de combustíveis fósseis. Por exemplo, ele não inclui o custo da mudança climática no preço da energia gerada pelo petróleo ou no preço da gasolina. Assim os preços seriam muito mais altos do que são e seriam preços honestos, os verdadeiros. Quando compramos um galão de gasolina nos EUA, pagamos pela extração do petróleo, o transporte desse petróleo para uma refinaria, a produção da gasolina e, então, o transporte da gasolina para uma estação servil. Nós não pagamos o custo da mudança climática. Se reestruturarmos os impostos, abaixando o imposto de renda e aumentando a taxação de atividades ambientalNeo Mondo - Junho 2010

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Cultura, Lazer e Arte

Planeta permanecerá, não a civilização... temos de educar legisladores; e que cada um faça a sua parte

mente destrutivas, podemos levar o mercado a dizer a verdade ambiental. Ao fazermos isso, a economia energética começará – muito rapidamente – a reestruturar-se e responder aos sinais de preço do mercado. Essa é a medida mais importante que podemos tomar para nos mover em direção a uma economia de baixa emissão de carbono. Enquanto isso, precisamos subsidiar o desenvolvimento das fontes renováveis de energia – eólica, solar e geotérmica – com impostos atraentes. • Acordo climático global Acordos climáticos, negociados internacionalmente, não dão certo. A razão para isso é simples: nenhum governo concorda em fazer mais do que os outros países se dispõem a fazer, e o resultado disso é um acordo com padrões mínimos. O próprio Protocolo de Kyoto é um exemplo. Deveríamos ter-nos afastado dele com algumas metas de cortes de emissões dramáticas, mas não o fizemos. Concordamos que os países industrializados cortassem as emissões em torno de 7%, e o fato é que a maioria deles não está nem perto de conseguir isso e, portanto, não alcançarão a meta. Acredito que não temos tempo para continuar negociando novos acordos climáticos para reduzir as emissões de carbono. Por isso, temos de pensar em uma maneira de diminuir drasticamente as emissões de carbono, como apontamos no Plano B: 3.0. Se quisermos ter uma chance decente de salvar a civilização, teremos de cortar as emissões de carbono em algo em torno de 80% até 2020. Isso soa ousado, mas está começando a gerar uma mobilização como em tempos de guerra para reestruturar a economia energética dos EUA e mudar a matriz.

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Entre os 20 maiores países na lista de Estados em falência, quase todos vêm perdendo a corrida entre produção de comida e crescimento populacional. Cerca de metade depende de uma corda de salvamento do WFP (programa de ajuda alimentar da ONU)

Para implementar o Plano B Informe-se, leia a respeito dos problemas. O livro pode ser baixado da internet gratuitamente do website: www.bradesco.com.br/rsa <http://www. bradesco.com.br/rsa> Escolha um assunto de seu interesse, como reestruturação tributária, proibição de lâmpadas ineficientes, desativação de termelétricas a carvão, ou a luta por sistemas viários adequados para pedestres e ciclistas em sua comunidade. Ou ainda una-se a um grupo que esteja trabalhando para a estabilização da população mundial. O que poderá ser mais excitante e gratificante do que se envolver pessoalmente no esforço de salvar a civilização? Você pode preferir prosseguir por conta própria, mas poderá também organizar um grupo de pessoas com identidade de pensamento. Você poderá começar a conversar com as pessoas para escolher um tema ou temas que orientem seus trabalhos. Comunique-se com os políticos em quem você votou, na câmara municipal ou nas assembléias legislativas. Ao lado dos temas que tenha selecionado como objetivo, existem dois de extrema importância: a reestruturação tributária e as prioridades fiscais. Escreva ou mande e-mails para seus representantes acerca da necessidade de reestruturar os tributos, reduzindo-os sobre a renda e aumentando os impostos ambientais. E, acima de tudo, nunca subestime o que você pode fazer.


Cultura, Lazer e Arte

É eco e não é chato

Filmes como Avatar provam que é possível refletir sobre os problemas socioambientais sem cair no bocejo Heloisa Moraes

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que acontece quando se mistura romance, ficção, mensagens ecológicas e cenários de tirar o fôlego? A resposta todo mundo sabe. Avatar, que segue na liderança das indicações de melhor filme para o Oscar 2010, mexeu com os alicerces do mundo inteiro por uma série de motivos. Alguns alegam que o enredo é ingênuo, previsível e infantil e conta principalmente com a grande ajuda de uma propaganda benfeita. Outros defendem a genial criação de mundo, raça e cultura completamente nova, além do apelo sustentável e da mensagem socialmente correta que parecem reforçar o lembrete de uma realidade na qual nós, humanos, andamos meio desesperados em busca de uma solução planetária. Apesar da divergência de opiniões, todos admitem a beleza surreal proporcionada pela tecnologia de ponta, desenvolvida especialmente para o filme, e os assustadores US$ 2 bilhões de bilheteria mundial, alcançados apenas 46 dias após a estreia (18 de dezembro de 2009). A cifra, que corresponderia à maior bilheteria da história se não fossem considerados os reajustes inflacionários, é uma resposta do argumento consistente em que a fórmula “algo valioso + líder ganancioso + civilização invasora = guerra”, bem conhecida no mundo inteiro, apenas muda de lugar. A iminente e necessária harmonia

com o meio ambiente, pregada por povos indígenas desde o início dos tempos, é a versão nova de uma velha história que todo mundo já conhece. Em Avatar não é diferente. Quando humanos descobrem a existência de um minério valiosíssimo em Pandora, uma das luas de um gigante gasoso fictício que orbita Alpha Centauri, a terceira estrela mais brilhante do céu vista a olho nu, cientistas, pesquisadores, mercenários e robôs se dirigem ao planeta para começar a exploração que possibilitará a sobrevivência da Terra, cujos recursos naturais foram esgotados em 2154, ano em que a ação dramática é ambientada. No entanto, o povo nativo Na’vi não pretende sair do local de onde vive, que considera sagrado, para deixá-lo à mercê da destruição humana. Para tanto, corpos geneticamente modificados de humanos e Na’vis, conhecidos como avatares, são remotamente controlados para facilitar a interação com o meio ambiente (constituído de diferentes espécies animais e vegetais, além de gases tóxicos aos humanos) e a infiltração na tribo nativa, que revelará detalhes importantes para aqueles interessados apenas na exploração dos recursos locais. O diretor James Cameron afirmou ao jornal Telegraph que Avatar se trata de “uma ampla metáfora, nem tanto sobre política, como muitos poderiam supor, mas sobre como tratamos a natureza”.

De fato, a mensagem pacifista-ecológica ecoa o mito do bom selvagem de Rousseau, que afirmava que os problemas do homem decorriam dos males que a sociedade havia criado e que não existiam no estado selvagem. O enredo, que reúne o romance conquistador de Titanic (1997), o choque de civilizações de Aliens: O Resgate (1986) e as máquinas ciborgues de Terminator (1984), todos filmes dirigidos por Cameron, tem tudo para ficar ainda mais complexo e profundo em futuras sequências. “Faz sentido pensar o filme como o potencial início de uma saga, com outros filmes mostrando episódios desta grande história”, declarou ao site Collider. Avatar nos mostra uma realidade que só na ficção poderia existir. Será verdade? Levando em conta a premissa de que o ser humano é a espécie que se adapta com mais facilidade, é curioso e um tanto contraditório perceber o desinteresse de mudar velhos hábitos. A necessidade do trabalho de formiga no qual cada um faz a sua parte existe, mas mais que isso, é preciso refletir e aplicar conhecimentos e ideias que possam, de fato, fazer a diferença – e não guardá-las debaixo da cama. Para isso, inspiração não falta. Acompanhe abaixo uma seleção de filmes e documentários que despertam uma consciência mais socialmente justa e ecologicamente correta. NeoNeo Mondo - Setembro 2008 Mondo - Junho 2010

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Divulgação

Cultura, Lazer e Arte

Enredo ingênuo, previsível e infantil de Avatar é compensado pelo apelo sustentável e mensagem socialmente correta

2012

Wall-e

Geólogos, pesquisadores e especialistas descobrem que a atividade incomum de erupções solares começa a esquentar rapidamente o núcleo da Terra, como um verdadeiro micro-ondas gigante. Uma série de desastres naturais é desencadeada e coincide com referências à cultura Maia e à data final do Calendário de Contagem Longa Mesoamericano, que possui ciclos de 5.125 anos e encerra-se no dia 21 ou 23 de dezembro de 2012. O mais desesperador, no entanto, é a constatação de que os governos do planeta não estão preparados para isso. Políticos importantes passam a comprar entradas de US$ 1 bilhão para as arcas construídas, destinadas a salvar uma parte da população de terremotos, megatsunamis e vulcões ativos, que provocam o deslocamento da crosta terrestre e a inversão dos polos magnéticos. A destruição da civilização humana é assustadora e se resume na frase proferida pelo presidente dos Estados Unidos no início do filme: “O mundo como conhecemos está para mudar dramaticamente em breve”. Os efeitos especiais que aumentam as proporções catastróficas chocam, mas o filmecatástrofe se mantém otimista até o final.

O ganhador do Oscar 2009 de melhor animação conta a história de um robô processador de lixo deixado para trás pela humanidade, que viaja por tempo indeterminado no espaço. Durante 700 anos, Wall-e (acrônimo para “Waste Allocation Load Lifters - Earth-Class”, em português, “Levantadores de Carga para Alocação de Lixo - Classe Terra”) foi o único responsável pela limpeza de um mundo soterrado pelo lixo – já que todos os outros robôs não resistiram às condições inóspitas e acabaram deixando de funcionar. A graça fica por conta da consciência e da personalidade que Wall-e adquire nesse período, o que o faz colecionar objetos, fazer amizade com uma barata e até se apaixonar pela robô EVA (Examinadora de Vegetação Alienígena), que passa pela Terra à procura de exemplares vegetais vivos. Isso significaria que a vida no planeta é novamente possível e os humanos já podem voltar. A história de amor e os diálogos escassos cativam quem assiste e relembra a necessidade de enfrentar o problema, e não acumulá-lo em pilhas de lixo.

EUA, 2009 / 158 min

EUA, 2008 / 98 min

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2012: filme catrástrofe se mantém otimista até o final Divulgação

Para Wall-e, robô de personalidade, nova vida na Terra é possível


O dia em que a terra parou

Uma verdade inconveniente

A readaptação do filme de 1951, dirigido por Robert Wise, foi causa e consequência da mudança do cerne da história: o que ameaça o planeta, agora, não é mais a corrida armamentista, e sim os danos que a humanidade causou no meio ambiente. Em meio ao caos provocado pela chegada de esferas alienígenas, uma cientista tenta se aproximar de Klaatu, o alien em forma de homem, para entender o motivo de estarem aqui. A ideia de que o planeta Terra não é nosso e que uma civilização evolui apenas quando está próxima da destruição são os pontos principais do filme, que se mantém otimista e crente à capacidade humana de mudar.

O documentário produzido e narrado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore é essencialmente uma versão em película da apresentação de slides que vem exibindo desde 1978 sobre a sistemática destruição do meio ambiente por conta do aquecimento global. O filme não tem intenção de tornar os fatos mais confortáveis, mas justamente o de conscientizar de que nossas ações podem sim acabar com o planeta em pouco tempo e de alertar sobre comportamentos. Seu conteúdo desperta o senso de urgência de que governos, empresas e pessoas precisam mudar hábitos e padrões para que a Terra seja poupada. E nós também.

EUA, 2008 / 103 min

EUA, 2006 / 100 min

A Última Hora (The 11th Hour)

O dia em que a terra parou: otimista, apesar de tudo Divulgação

O dia depois de amanhã

Narrado e produzido por Leonardo DiCaprio, o documentário contou com a colaboração de mais de 50 políticos, cientistas e líderes mundiais, dentre eles o físico Stephen Hawking, o líder soviético Mikhail Gorbatchev e a ativista Wangari Maathai para discutir sobre aquecimento global, desmatamento, entre outros temas que preocupam o mundo inteiro. Além de propor soluções para estes problemas por meio da tecnologia, responsabilidade social e conservação, o filme também defende que o aquecimento global, uma das questões mais importantes de toda a humanidade, deve conscientizar e mobilizar as pessoas para lutar por um futuro sustentável. Através de um belo mosaico de imagens, gráficos e trilha sonora, o filme foca na importância do último momento, no qual acontece a mudança, e torna impossível deixar a sala de cinema ou de casa impassível perante o destino do planeta.

Entre cenários apocalípticos e pósapocalípticos, Roland Emmerich nos dá um show de efeitos especiais e cenários cataclísmicos - consequências claras do efeito estufa e do derretimento das calotas polares. Apesar da previsão de que isso se refletiria no mundo séculos mais tarde, a corrente marítima Norte-Atlântica se altera e começa a resfriar drasticamente países do hemisfério norte. Com a aproximação de uma era glacial, milhões de sobreviventes começam a rumar para o sul. Nesse meio tempo, um pai atravessa o país para buscar o filho, preso em uma Nova York já congelada. O enredo, embora pareça girar especialmente em torno da catástrofe e do ufanismo americano, choca pela destruição e principalmente pela grande probabilidade de ser um processo que já está acontecendo, uma verdadeira bombarelógio climática.

EUA, 2007 / 95 min

EUA, 2004 / 124 min

Divulgação

Avatar, ambientado em 2154, “é uma ampla metáfora sobre como tratamos a natureza”; diretor Cameron acena com sequências

Uma verdade inconveniente: a sistemática destruição do meio ambiente Divulgação

O dia depois de amanhã: bomba-relógio climática Divulgação

Não há como ficar impassível depois de assistir ao A Última Hora

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Cultura, Lazer e Arte

Arte pela

Vida

A mostra Beauty for Ashes - Das cinzas à Beleza é um chamado à paz mundial Gabriel Arcanjo Nogueira Foto: Eric Lehrer

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Duda Penteado: paulistano da gema e multimídia na “procura incessante da expressão maior do artista”

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artista plástico Duda Penteado é quem se pode qualificar de predestinado, que não foge a entrar de cabeça e alma no seu dom mais precioso. Filho de pai economista e professor universitário, da Universidade de São Paulo (USP), e mãe pedagoga, supervisora de Educação na capital paulista, o cidadão nova-iorquino é paulistano da gema. Um de seus projetos mais recentes, a mostra Beauty for Ashes - Das cinzas à Beleza, chega em 2010 a São Paulo, cidade em que passou toda a infância e juventude, para corrigir a milenar expressão “nenhum profeta é bem recebido em sua terra”. Duda escolheu Nova York para morar, mas a sua obra transcende qualquer limite, mesmo o da arte pela arte. A preocupação social de sua pintura e dos murais que o notabilizaram é a maneira


A pintura Beauty for Ashes, inspirada no imortal Guernica, de Picasso, permite releitura em diferentes contextos sociais

Foto: Charles Flores

que encontrou para se envolver em temas como a paz mundial, a sustentabilidade do planeta, a formação de cidadãos. O artista plástico se sente à vontade no ateliê, como nas ruas, ou num auditório em palestras e nas oficinas e workshops para crianças e adolescentes. Na adolescência, por sinal, o seu processo criativo já estava arraigado. O que, para ele, foi como um oásis para as inquietações e buscas. “Meus interesses foram cada vez mais se ampliando, não só no espaço da linguagem visual, pintura, desenho, escultura, mas também cinema, poesia e teatro, na procura incessante da expressão maior do artista”. Concretizado o gosto pelo desenho e pela pintura em cursos e ateliês, mais tarde, já na universidade, estudou Comunicação. A paixão por filmes e pela mídia eletrônica acabou por permear seus trabalhos artísticos, avalia.

Guernica revisitado Duda Penteado lembra que se mudou para Nova York há 10 anos, não sem antes participar de exposições coletivas pelo Brasil. No início de setembro, em evento no Sesc Pinheiros, em São Paulo, deu a largada para mais um de seus projetos de arte urbana no País, voltado a crianças e adolescentes de bairros periféricos da capital paulista. Ele explica: “A mostra Beauty for Ashes - Das cinzas à Beleza é uma releitura do quadro Guernica, de Pablo Picasso, em que me inspirei depois de ver de perto a queda das torres gêmeas do terraço em que me encontrava, no ateliê”. O impacto fez o artista desenvolver, em 2002, o trabalho (de início, uma pintura) que traz uma escultura com destroços do World Trade Center. Depois de passar por Nova York e Vitória (ES), a

mostra chega no ano que vem a São Paulo e ainda será levada a Espanha, Porto Rico, China e Índia. “Em cada região é feita uma releitura da obra, com base na realidade de cada local”, diz. A escultura mede 45cmx45cm e traz as palavras Love, Hope and Faith - Amor, Esperança e Fé, bem como os horários em que o edifício foi atingido. Preocupação ambiental Aquecimento global é outro tema que preocupa o artista em seus projetos. Nature is love on earth (mural de 50mx30m) é um deles, focado na paz mundial. “Este, feito com crianças e adolescentes do Brooklyn, em Nova York, também pretendo trazer ao Brasil com o apoio da CITYArts, entidade organizadora dos projetos no Estados Unidos e que há mais de 40 anos envolve crianças e adolescentes na criação da arte pública”, afirma.

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Cultura, Lazer e Arte

Fotos: CITYArts

O mural Nature is love on earth, em Nova York: crianças e adolescentes do Brooklyn envolvidos na arte pública sob supervisão do artista (de costas)

Multimídia, Duda escreve o livro Deconstructing Beauty for Ashes, sob orientação do Dr. Carlos Hernández. A obra deve sair em 2010, pelo Jersey City Museum, abordando, entre outros assuntos, os caminhos da arte e da educação num mundo globalizado. Doutor em Psicologia, Hernández escreve no livro sobre o futuro da educação, a globalização e o papel das artes como veículo de reflexão sobre os novos caminhos do mundo atual. Para Duda, “a arte e a educação influenciam as atitudes das pessoas, seja na sua individualidade seja na coletividade frente a questões como a preservação do meio ambiente e a paz mundial”.

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O que diz a crítica Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA - Seção Brasil), começa por indagar: “É possível extrair beleza das cinzas?”. E não tem dúvida quanto à resposta: “Positiva para o artista plástico Duda Penteado”. Isto porque, em Beauty for Ashes , “propõe a interação de distintas linguagens, como mural conceitual, vídeo, instalação, escultura, painel interativo, performance, palestra e outras possibilidades de ações que envolvam o público”.

Arte e educação influenciam as pessoas frente a questões como a preservação do meio ambiente

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O especialista destaca “as cores fortes, a presença das torres no centro da obra e as imagens revisitadas do artista espanhol, como as faces gritando, os barcos esticados e erguidos e o clima de desespero, que predominam como mecanismos de expressão”. D´Ámbrosio ressalta: “O mais significativo em todo esse processo, porém, está nos elos que Penteado vê entre a arte e a educação, buscando a inclusão social pela arte, principalmente de jovens e bairros periféricos de grandes cidades. Num mundo globalizado como o contemporâneo, as fronteiras vão progressivamente se diluindo perante a força do encantamento da produção plástica, seja pela paixão sobre um assunto seja pelo repúdio a qualquer tipo de violência”. Ao lembrar que “a proposta do artista de desdobrar as cinzas em beleza inclui necessariamente o encontro com estudantes universitários e o diálogo e a discussão sobre preocupações comuns” e que, por isso, “talvez o ponto essencial seja causar um deslocamento


interno de cada indivíduo contra o conformismo (Poucos sentimentos podem ser piores que uma aceitação passiva da injustiça do mundo ou da agressividade do ser humano)”, D´Ambrosio nos convida à reflexão: “A arte de Duda Penteado se realiza pelo poder de cada um de questionar, pensar e explorar seu movimento interior. Isso se dá pelo estímulo da produção plástica de modo geral, em que o belo, com toda a sua relatividade, pode vicejar de modo cada vez mais visceral, interdisciplinar e interativo, numa realidade em que o coletivo pensar contemporâneo convive de maneira indagadora com a solidão romântica do criar”. Foto: Fernanda Brito

Trajetória internacional • Duda Penteado retomou seus estudos e ampliou os conhecimentos em Nova York. • Foi assistente no estúdio Brand X Editions, no Soho, onde trabalhou em projetos de Chuck Close, Helen Frankenthaler, Kenny Sharf, entre outros. • Estudou com a mestra e impressora Sheila Marbain, uma das precursoras do processo de Silk Monotype e colaboradora de grandes nomes da Pop Art, como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg. Fonte: Duda Penteado Duda em destaque Em 1999, inicia as exposições do projeto Elemental Fossils, com apresentações nos Estados Unidos e em universidades e espaços culturais no Brasil, resultando em parcerias de governos e embaixadas e projetos socioculturais. Em 2003, é homenageado como artista de destaque no lançamento do livro Beauty for Ashes; recebe a “Chave da Cidade” de Jersey City por seu trabalho social com jovens e comunidade e atividades culturais. Em 2005, o projeto Beauty for Ashes começa em Washington. De 2006 a 2008, este projeto é levado a Espanha, Brasil e outras partes dos Estados Unidos. Em 2009, é o primeiro brasileiro, selecionado entre 60 inscritos, a inaugurar mural em Nova York, o Nature is love on earth - em sua 272a. edição e o quinto maior da história da CITYArts na cidade. A partir de 2010, o Beauty for Ashes irá para China, Índia, Porto Rico, entre outros países. Fonte: Duda Penteado

No Sesc Pinheiros, em São Paulo, autor e convidados (à esquerda) com a escultura Beauty for Ashes, na apresentação do projeto; o mesmo nome da exposição no Jersey City Museum (à direita) Foto: Fernanda Brito

Foto: Eric Lehrer

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Cultura, Lazer e Arte

Lição de

Aos 30 anos, pintor supera obstáculos de toda ordem com apoio da família Da Redação

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odrigo Brandão Monteiro vive numa casa florida, onde reinam três mulheres: a mãe Etiane, a enfermeira Márcia e a colaboradora Léia. A casa é térrea e sólida, simples e acolhedora. De sua varanda, é possível ver,

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num plano mais baixo, o mar de casas recém-construídas num bairro classe média de Atibaia que se expande. Mais além, recortando o horizonte, a Serra da Mantiqueira e a famosa Pedra Grande, um dos pontos turísticos do município,

que atrai os amantes da asa-delta. Ao sentar-se em frente à casa, ele pode sentir a brisa que, refrescando o calor deste veranico setembrino atípico, recende a jasmins. Os portões fechados não impedem a vista de um local aprazível, um


Divulgação

quintal com piscina e árvores, flores em vasos ou no chão. Quem chega pode subir até a varanda pela escada rente ao muro do jasmineiro ou pela rampa encostada ao coberto pela Tumbergia arbustiva. Conhece? Não, mas é roxa e alegre, como as orquídeas amarelas, rosadas, lilases... na janela da frente, sete vasos de Kalanchoes, popularmente conhecida como “flor da fortuna”, plantadas em vasinhos pintados por Rodrigo. Rodrigo, hoje, tem 30 anos e é artesão com uma peculiaridade: pinta com a boca. Nasceu prematuro, após apenas seis meses de gestação. “Com 910 gramas de peso”, segundo a mãe Etiane. Isso causou uma paralisia cerebral que, se o limitou fisicamente, não o impediu de ser um empreendedor, ter esperança e buscar seu próprio espaço no mundo. Expressivo, inteligente e brincalhão, percebe-se nele reflexos dos cuidados da família e, particularmente, da mãe, artista plástica formada em Comunicação Visual que, além de assumir a condução do lar em tempo integral, também administra a empresa idealizada pelo filho, a Pintando com a Boca-ME. Os dias são corridos para Etiane: três vezes por semana vai com Rodrigo à fisioterapia – Márcia, a amiga e enfermeira particular, os acompanha; no trato da casa, é auxiliada por Léia, que também cuida da alimentação; todos os dias leva o marido, engenheiro que trabalha na capital, até a rodoviária; e tem tempo, ainda, para os hobbys: jardinagem e decoração – quem os visita percebe que faz isso muito bem! Desde o ano de 1998, a família que antes morava no bairro paulistano de Moema, está radicada em Atibaia – cidade menor e, supostamente, menos problemática que a metrópole. No censo de 2000, a contagem foi de 111.300 habitantes. Hoje, a estimativa é de 140.000. No dia-a-dia, todos participam e dão apoio a Rodrigo, que mantém sua oficina nos fundos da casa, no espaço que antes era reservado para a churrasqueira. A base do trabalho é um vaso de barro comum: “primeiro é dada uma demão de tinta branca, depois se coloca massa nos buracos para deixá-lo bem liso, sem imperfeições; então lixamos, lavamos, passamos outra camada de pintura, um

Rodrigo Brandão trabalha auxiliado por sua mãe

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Cultura, Lazer e Arte

Rodrigo inova nas artes plásticas com garra e apelo social

impermeabilizante por dentro e, por fim, o desenho”, conta Rodrigo. “Todos participam”. E tem um detalhe: para que crianças e pessoas alérgicas possam manusear os kits sem perigo, tudo é à base de água, não é tóxico. Rodrigo conta que há dez anos, quando decidiu se dedicar à arte, foi o pioneiro neste tipo de trabalho no Brasil, fez muitos cursos – para aperfeiçoar a técnica e para estabelecer as bases de seu empreendimento – e se dedicou muito. No início, pintava como uma maneira de se exercitar e distrair; começou a vender porque as pessoas viam e gostavam; depois, a partir de divulgação, vendeu muito por telefone e, em 2005, abriu a loja virtual (www.pintandocomaboca.com.br) que recebe cerca de 20 visitas por dia. O sítio foi montado por ele mesmo com a ajuda de Márcia, observando apenas o manual de instruções pra isso. Estabeleceu também parcerias com lojas de Atibaia, que vendem sua arte, e recebe encomendas de empresas que pedem

brindes personalizados de final de ano e para outras ocasiões festivas. Seu produto principal são os vasos e kits de brinquedos educativos, que promovem o gosto e o respeito pela natureza, com a proposta de trabalhar e valorizar a ecologia. Um dos mais interessantes é o conjunto de vaso acompanhado de pá e garfo de jardinagem, com saquinho de terra e sementes de mini-girassóis, que vem com instruções de plantio. Já expôs em vários lugares, participou de eventos televisivos, como o Teleton (SBT), e tem obras fora do país. Até por volta de 14 anos, a paralisia cerebral não impedia Rodrigo de participar de cursos na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), onde concluiu o ensino fundamental. Então, começou a apresentar um quadro de distonia geral, o que mais o enfraqueceu fisicamente. Já em Atibaia, o Telecurso 2000 o ajudou a concluir o ensino médio. “As aulas eram pela TV, mas as provas tinham de ser realizadas em Itatiba (cidade vizinha)”, conta Rodrigo.

Em 2006, entrou na FAAT (Faculdades Atibaia) para cursar jornalismo. Mas, devido à deficiência, frequentou apenas uma semana. “Ele tinha que ficar sentado e isso impediu a continuidade. Era muito cansativo”, observa Márcia, que também prestou vestibular e entrou no curso com ele, que queria fazer o curso e alguém precisava acompanhá-lo. A deficiência de Rodrigo permite que ele fique pouco tempo sentado. O que já era um problema com a paralisia cerebral, ficou pior com a distonia. Distonia é uma síndrome que provoca espasmos musculares e impede a articulação correta dos músculos ( ver Box). Para controlar, além da fisioterapia, Rodrigo faz aplicações de botox a cada seis meses. O que custa cerca de 5 mil reais – cada aplicação – e é reembolsado com demora e dificuldades pelo plano de saúde. Ao se mudarem para Atibaia, o pai continuou trabalhando em São Paulo e a mãe passou a frequentar as reuniões na câmara municipal, para discutir as dificuldades de acessibilidade encontradas na cidade: calçadas esburacadas e estreitas, postes em locais que impedem a circulação de cadeirantes, falta de rampas de acesso a locais públicos, etc. “Foi uma batalha muito árdua, até que decidi me afastar, por falta de perspectiva de vitória e ausência de sensi-

O principal trabalho de Rodrigo: motivos florais em vasos de barro

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bilidade dos interlocutores. A única coisa que melhorou foram os ônibus”, informa Etiene. “Quando melhoram uma coisa, sempre outra fica por fazer. Aqui arrumaram algumas calçadas, mas os postes continuam obstruindo o caminho, os orelhões também estão mal posicionados”, emenda Rodrigo. Andar pelas ruas do centro de Atibaia é mesmo uma aventura, não só para os cadeirantes, mas também para idosos, crianças ou pessoas que possuam outros tipos de dificuldades motoras, permanentes ou não. Além do relatado acima, há pedras soltas no calçamento, excesso de utilização de paralelepípedos – que estão mal conservados – e, mesmo nos espaços culturais – como museus e o entorno da igreja histórica, restaurantes e bares – isso acontece (constatado por esta reportagem quando esteve na cidade no dia 03/09/2009). Quem quiser conhecer melhor o Rodrigo e o seu trabalho, pode acessar a página www.pintandocomaboca.com.br ou ligar para (11) 4413-4343.

Paralisia cerebral A paralisia cerebral é causada por lesões do sistema nervoso central adquiridos em vida – infecção do cérebro (encefalite), icterícia grave do recém-nascido ou trauma de crânio – ou congênitos – que afetam o cérebro antes do nascimento, como infecções na mãe ou na criança durante a gravidez ou problemas genéticos. Pode causar desordens de aprendizagem, de visão, de audição e da fala. Há quatro tipos básicos de paralisia cerebral: a espástica – que dificulta os movimentos devido ao endurecimento dos músculos – é a mais comum entre as formas de PC, atingindo 50% dos afetados; a discinética ou atetóide – que provoca movimentos involuntários e descontrolados – que afeta cerca de 20% dos deficientes; a atáxica – que dificulta a coordenação e o equilíbrio do paciente; a mista – caracterizada pela combinação de diferentes sintomas.

Em cada mil crianças nascidas, de 1 a 2 podem apresentar o problema. Os fatores de risco podem ser: nascimento prematuro; baixo peso ao nascimento (menos de 1,5 Kg); infecções ou outras situações que causem problemas no fluxo de sangue para o útero ou para a placenta, devido a complicações na gravidez. Tratamento: A maioria das crianças com paralisia cerebral pode beneficiar-se da fisioterapia e da terapia ocupacional. Algumas precisam de muletas e apoios para ficar de pé e andar. Mas, como as formas apontadas cima, os tratamentos também variam e, muitas vezes, a cirurgia (ortopédica e para liberação dos tendões) pode ser necessária. A utilização de remédios por via oral e aplicações intramusculares também podem ocorrer.

Distonia A Distonia pode causar espasmos musculares involuntários, prejudicando movimentos e posturas, em partes ou na totalidade do corpo: distonias focais – afetam uma pequena parte do corpo, como os olhos, pescoço ou mão; distonias segmentares – quando atingem duas partes vizinhas, como o pescoço e um braço; hemidistonia – atingem todo o corpo e são as formas mais raras; os primeiros sintomas podem ocorrer na infância ou na adoles-

cência, geralmente na forma de contrações distônicas em um ou ambos os pés, inicialmente durante o andar e, após um tempo, também durante o repouso. A evolução é lentamente progressiva e, após um tempo, várias outras partes do corpo são afetadas, o que causa intensa dificuldade motora. Nos casos mais avançados, há dificuldade para andar e os pacientes necessitam ajuda para a maioria das atividades diárias.

Tratamento: Os médicos podem, dependendo do caso, ministrar remédios por via oral, realizar cirurgias ou optar pelo tratamento com aplicação da toxina butolínica (botox), que possui ação bloqueadora da contração muscular – também utilizada no tratamento de algumas formas de tremores e a espasticidade decorrente da Esclerose Múltipla e dos Acidentes Vasculares Cerebrais.

Para outras informações, entre em contato com: www.aacd.org.br www.cruzverde.org.br

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Cotidiano

NEOMONDO INFORMA Acompanhe aqui, em cada edição, as novidades mais quentes sobre o que está acontecendo no mundo Da Redação

Sem reciclagem, sem dinheiro No total, o Brasil perde cerca de R$ 8 bilhões por ano quando deixa de reciclar. A estimativa é do Relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em maio, que constata a perda de inúmeros benefícios econômicos e ambientais quando resíduos recicláveis são encaminhados para aterros e lixões nas cidades brasileiras. O levantamento serviu de estímulo à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que instituiu um grupo de trabalho entre o Ipea e os Ministérios para avançar no Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos. O projeto, associado à coleta de lixo e ao cooperativismo dos catadores, propõe instituir pagamen-

to por produtividade e acréscimos compensatórios graduados com o intuito de aumentar a renda dos catadores, melhorar

a organização das cooperativas e incentivar a reciclagem no país. - com informações de CicloVivo

iStockphoto

O novo projeto de reciclagem pode trazer até R$ 8 bilhões por ano, além dos benefícios ambientais

Deu branco Que todos os telhados e coberturas sejam pintados de branco, a fim de refletir mais luz solar e absorver menos calor. Essa é a proposta do vereador Antonio Goulart (PMDB), apresentada na forma

de Projeto de Lei 615/2009 na Câmara Municipal de São Paulo. Essa ação se fundamenta na campanha One Degree Less, que pretende estimular a pintura de telhados com cores claras para

Telhados branquinhos viram aliados no combate ao aquecimento global refletindo raios solares

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diminuir um grau Celsius da temperatura da terra e, assim, reduzir o aquecimento global. O programa, lançado no Brasil, também conta com o apoio da fabricante de tintas Sherwin-Williams, que está lançando uma tinta inteligente capaz de regular o conforto térmico no ambiente. A Metalatex Eco Telha Térmica pode ser usada em telhas de barro, cimento e fibrocimento e promete deixar o imóvel mais fresco no verão e manter a temperatura interior no inverno. Segundo pesquisador da Lawrence Berkley National Laboratory (CA, EUA), cerca de 25% da superfície de uma cidade consiste de telhados. A monitoração de 10 edifícios na Califórnia e na Flórida demonstra que o uso de tetos “frios” (pintados de branco) poupa de 20 a 70% do uso anual de energia de resfriamento.

- com informações de CicloVivo e Revista Sustentabilidade


Cerco fechado para a má distribuição de energia elétrica iStockphoto

Adeus, barquinhos Com o objetivo de salvar o mercado pesqueiro global, será preciso retirar cerca de 13 milhões de barcos das águas e retreinar mais de 20 milhões de trabalhadores nos próximos 40 anos. Isso é o que aponta um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em maio. Segundo informações da UNEP (Programa Ambiental das Nações Unidas, em português), 30% da pesca oceânica já entrou em colapso e produz menos de 10% de sua capacidade. Se a pesca mantiver o ritmo atual, todo o estoque de peixes pode se tornar não econômico para exploração e até se extinguir.

- com informações do Planeta Urgente De olho no desperdício de energia: sim, é possível melhorar a distribuição de energia

Como identificar e corrigir perdas na transmissão de energia elétrica de um modo eficiente e rápido? Um software desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Elétrica do campus de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista (Unesp) parece ser a resposta. Poupando tempo e trabalho braçal, o programa levanta e calcula uma série de informações – de transformadores de energia dimensionados acima da capacidade necessária até o desvio ilegal de energia, popularmente conhecido como “gato” –, o que permite posterio-

res manobras de correção e melhoramento do sistema. O principal objetivo é reduzir o índice brasileiro de perda de energia - atualmente, cerca de 18% da eletricidade produzida se perde no caminho entre a usina geradora e as tomadas dos consumidores. Como consequência, as companhias de distribuição também irão poupar o custo de contratação de equipe técnica e dinamizar os resultados, já que o programa mostra resultados em algumas horas e pode ser aplicado periodicamente.

- com informações da Agência Fapesp

Bruno da Silva Lessa

Agora é sério: para dar fôlego à reprodução de peixes, será preciso dar um sumiço em milhões de barcos

Tudo limpo até 2016 O presidente do Instituto Trata Bra- ses tipos de evento e tal quadro precisa de sil, Raul Pinho, afirma que nenhuma das investimento para ser revertido. 12 cidades-sede da Copa (com exceção de Brasília) tem condições sanitárias para es- - com informações da Agência Brasil

Wikipédia

Entrando para a lista de soluções para a Copa do Mundo de 2014, o secretário municipal do Meio Ambiente Carlos Alberto Muniz prometeu que, até a ocasião, a Lagoa Rodrigo de Freitas estará despoluída e completamente limpa. A Lagoa, um cartão-postal da zona sul do Rio de Janeiro, faz coro à resolução de melhorar o esgotamento sanitário da região metropolitana da Baixada Fluminense e o saneamento de Santa Cruz e Campo Grande, na zona oeste do Rio, até os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Segundo ele, o investimento da cidade em projetos de saneamento básico totaliza R$ 1,5 bilhão.

Preparativos para Copa e Olimpíadas incluem diversos projetos de saneamento básico

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