Neomondo 47

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NeoMondo

www.neomondo.org.br

Ano 5 - Nº 47 - Março/Abril 2012

Exemplar de Assinante Venda Proibida

R$8,00

um olhar consciente

água

sangue da TERRA

SEJA VOCÊ TAMBÉM TAMBÉM

POR POR UM UMDIA! DIA! (Vire (Vireaarevista revistaeesaiba saibacomo) como)


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Neo Mondo - Maio 2008


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à gua. Para a vida, o começo de tudo.

www.eletronorte.gov.br 6

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Para a Eletrobras Eletronorte, o começo de uma grande história. Da mesma água onde brota um sorriso tiramos a energia que move o mundo. Por isso, preservar esse recurso natural é um dos nossos maiores compromissos. Em cada empreendimento, milhares de horas de pesquisa e monitoramento orientam ações que vão garantir a qualidade e o uso consciente da água. Em cada reservatório, atividades de pesca, turismo, irrigação, abastecimento e até pesquisas em biotecnologia mostram que nossa parceria com a natureza está no caminho certo. Afinal, temos certeza que não dá pra imaginar o mundo sem um sorriso desses.

22 de março. Dia Mundial da Água.

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Seções

Editorial In MemoriaM

PERFIL 12 Aziz Ab’ Sáber Polêmica é com ele mesmo Meio ambiente Fundação Grupo Boticário Pessoas conscientes, natureza preservada

Vida dedicada à ciência

27 22 Rio+20 34 Severn Suzuki De quantas precisamos?

Rio+20

Especial Dia Mundial da Água

40 Ceticismo na Europa Déficit ecológico é altíssimo 46 Artigo Allan Lopes De beber e purificar Especial Dia Mundial da Água 48 Fórum Mundial da Água Na sua sexta edição reúne 70 países

Água Um direito de todos?

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Especial Dia Mundial da Água 7 dias de Solimões Natureza, drogas e pedofilia no coração da floresta amazônica

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Especial Dia Mundial da Água 54 ABC Paulista Poderá ficar sem água?

Prezado leitor, no momento em que fechávamos com a satisfação de sempre esta edição de NEO MONDO, ficamos sem a genialidade de Chico Anysio, multiartista, a quem rendemos nossas homenagens. O Brasil fica mais pobre no humor, assim como já ficara mais pobre nas Ciências da Terra, a especialidade do geógrafo Aziz Ab´Sáber, decano da categoria, a quem dedicamos matéria Especialíssima sobre o legado que deixa a todos que amam a natureza e lutam por preservá-la a mais intacta possível. Se não bastasse a matéria, republicamos o Perfil que fizemos com ele, em dezembro de 2010. Chico e Sáber, cada qual na sua área, foram críticos sociais de um País ainda em construção. Sem fazer concessões a práticas condenáveis, notadamente no âmbito de quem se reveste de autoridade, mas não a coloca a serviço do bem comum. Salomé, Justo Veríssimo estão aí para não nos deixar mentir, assim como negociações sobre a revisão do Código Florestal se arrastam e deixam de levar em conta o que Sáber propôs em seu lugar: o Código de Biodiversidade. Ideia que não foi levada na devida consideração em Brasília. Vale a pena ler e aprender com Sáber, da mesma maneira que aprendemos com Chico a rir das nossas mazelas, para poder corrigi-las. Sem o que o humor perde a razão de ser. Vale a pena conferir também cada uma das matérias e dos artigos que trazemos no caderno dedicado ao Dia Mundial da Água. E não poderíamos deixar de antecipar algo a nossos leitores sobre a Rio+20, que acontece em junho. NEO MONDO vai estar lá, dando a sua modesta, mas abalizada contribuição. Boa leitura a todos!

Coisas que eu vi 56 Artigo Márcio Thamos As águas do dilúvio

57 Humberto Mesquita Água Cinza

58 Artigo Dilma de Melo Silva Água, fundamental para a vida!

Reports in english 17 Profile - Aziz Ab’ Sáber Controversy is his middle name

Expediente Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius Zambrana Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585) Estagiário: Bruno Molinero Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Publicação Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437 Diretor de Relações Internacionais: Vinicius Zambrana Diretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Antônio Cardoso Franco nº 250, Casa Branca – Santo André – SP Cep: 09015-530 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br Neo Mondo - Março/Abril 2012

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todos os animais Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano. Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam o melhor do espírito humano. Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais 10

Neo Mondo - Julho 2008


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Perfil

é com ele mesmo

Quando o assunto é meio ambiente e impactos ambientais, Aziz Ab´ Sáber fala de cátedra sem poupar especialistas de fachada ou especuladores

Divulgação

Mauro Bellesa/IEA-USP

Sáber não se conforma: sua ideia do Código de Biodiversidades foi mal recebida em Brasília

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E

Gabriel Arcanjo Nogueira

le já disse que a COP 15 é uma farsa e que a Amazônia, assim como a Mata Atlântica, tende a crescer com o aquecimento global, e não virar deserto. Aziz Nacib Ab´ Sáber - professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), referência em meio ambiente e impactos ambientais -, aos 86 anos, completados em outubro, 70 deles mergulhado em estudos de Geografia (doutorado em 1956), é o Perfil desta edição. Natural de São Luís do Paraitinga, no Vale do Paraíba (SP), Sáber discorre com propriedade sobre um dos assuntos que está na ordem do dia no País: o Código Florestal. O pesquisador antecipa estudo, inédito, sobre “A história vegetacional do Planalto Paulistano”, em que detona a exploração imobiliária inescrupulosa com a conivência de prefeituras despreparadas. Houve tempos em que, na São Paulo de Piratininga, a vegetação predominante era de florestas tropicais, com bosquetes de araucárias em pequenas subáreas de florestas em colinas e terraços paulistanos. “Nos mapas desenhados em tempos coloniais foram reconhecidos pinheiros (araucárias) em São Miguel Paulista”, diz o estudo. Pensador incansável, a sabedoria que está presente desde as letras do seu sobrenome, Sáber faz questão de que seja compartilhada, com base em alguns de seus escritos mais recentes, para satisfação nossa e, com certeza, dos leitores de NEO MONDO.


Neo Mondo: Fala-se, escreve-se e ensina-se sobre biomas ou ecossistemas brasileiros. Como o senhor os classifica, ainda mais quando se discute no Brasil o Código Florestal com as implicações de uma reforma do texto legal? Aziz Ab´ Sáber: Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macrobiomas - Amazônia brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical - e de seus numerosos minibiomas, faixas da transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no Código Florestal tem que ser conduzida por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro, favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais: cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos; não têm qualquer ética com a natureza; não buscam encontrar modelos técnico-científicos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias “ecologicamente sustentáveis” é uma mania de cientistas irrealistas. Neo Mondo: O que o senhor considera, na revisão do Código, mais adequado à nossa realidade? Aziz Ab´ Sáber: Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos

Novas exigências do Código Florestal proposto têm caráter de liberação excessiva e abusiva... a biodiversidade animal será afetada de modo radical

essa ideia para Brasília e recebemos em resposta que essa era uma ideia boa, mas complexa e inoportuna. Agora, outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país. É necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras, sobretudo de países hegemônicos, venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia. Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza! Neo Mondo: A seu ver, o que está errado na elaboração do novo Código? Aziz Ab´ Sáber: O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro - a favor de classes sociais privilegiadas - diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território específico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Polícia Federal rural e o Exército Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que têm muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macrobiomas do país e os minibiomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domí-

nio morfoclimático e fitogeográfico do território. Para pessoas inteligentes, capazes de prever impactos, a diferentes tempos de futuro, fica claro que ao invés da “estadualização”, é absolutamente necessário focar o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país. A saber, as duas principais faixas de florestas tropicais brasileiras: a zonal amazônica e a azonal das matas atlânticas; o domínio dos cerrados, cerradões e campestres; a complexa região semiárida dos sertões nordestinos; os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além de nosso litoral e o pantanal mato-grossense. Neo Mondo: A classe política, bem como as demais envolvidas diretamente nessa revisão, tem feito corretamente a sua parte? Aziz Ab´ Sáber: Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rebelo - que a meu ver é bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologia - que atualmente na Amazônia brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília e diferentes membros do Executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de 50 a 60 camaradas, tendo à frente, em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos.

Código Florestal liberalizante, para Sáber, cria um cenário que impede o uso de terras em atividades agrícolas

Neo Mondo - Outubro 2010

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Perfil Acervo Pessoal

Cavalgada de fazendeiros em Marabá: exército paralelo mostra força superior à de governadores e prefeitos em plena Amazônia brasileira, na visão do cientista

Os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E alguém, a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Somente dois ciclistas meninos deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando, silentes, a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural. Neo Mondo: Que cena dantesca, não?! Aziz Ab´ Sáber: Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que “a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser”. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados. Sendo que alguns outros, vivendo em diferentes áreas do Centro-Sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os “seus negócios na Amazônia”... Ou seja, com loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais, ao fim de certo tempo, são libertados para brasileiros contumazes. E o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para reutilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominados por areias finas (siltização). 14

Neo Mondo - Março/Abril 2012

Neo Mondo: Que aspectos o senhor considera mais relevantes no processo? Aziz Ab´ Sáber: Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até 7,5 metros do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora está reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do país. Imagine-se que, para o Rio Amazonas, a exigência protetora fosse de apenas 7 metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos, rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica. Por desconhecer tais fatos, os relatores da revisão aplicam o espaço de 7 metros da beira de todos os cursos d´água fluviais, sem mesmo terem ido lá conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional. Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em 7,5 metros das florestas beiradeiras (ripário-biomas) e, depois, em preservação da vegetação de even-

tuais e distantes cimeiras. Sem poder imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. O que é lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres; lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas). Neo Mondo: O que mais surpreende a comunidade acadêmico-científica numa situação dessas? Aziz Ab´ Sáber: Já se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na região. O argumento simplista merece uma crítica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do Centro-Sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, por que na Amazônia a lei exige 80%? Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais com os 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição. Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as matas atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante - nos “mares de morros”, colinas e


várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, bem como parte da Serra da Mantiqueira - sofreu uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasil, falando de gente inteligente e bioética, não quer que se repita na Amazônia brasileira, em um espaço de 4,2 milhões de quilômetros quadrados. Neo Mondo: O senhor vê algum fio de esperança de que a revisão do Código seja aperfeiçoada? Aziz Ab´ Sáber: Os relatores do Código Florestal falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a “(re)florestamento” por espécies homogêneas, pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestamento. Este último, pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômicoempresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que eles procuram desconhecer que, para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re)organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários, no chamado Projeto Floram. Os eucaliptólogos perdem pontos éticos quando alugam espaços por 30

anos, de incautos proprietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados, reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo, criam um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucalipto ou pinus, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante. Neo Mondo: Que orientação o senhor daria aos responsáveis mais diretos por esse instrumento legal? Aziz Ab´ Sáber: Por todas as razões somos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do deputado Aldo Rebelo, que conhecemos há muito tempo e de quem sempre esperávamos o melhor. No momento somos obrigados a lembrar a ele que

cada um de nós tem que pensar na sua biografia e, sendo político, tem que honrar a história de seus partidos. Mormente em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais pdoeriam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários. Insistimos que, em qualquer revisão do Código Florestal vigente, deve-se enfocar as diretrizes nas grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste seco, com seus diferentes tipos de caatinga. Trata-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios administrados técnica e cientificamente por órgãos do Executivo federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. A Amazônia envolve conexões com 9 estados do Norte brasileiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico, os órgãos do governo federal - Ibama, Iphan, Funai e Incra - teriam que manter conexões om os diversos setores similares dos governos estaduais de norte a sul do Brasil. E assim por diante.

* Aziz Nacib Ab´Sáber nasceu em

* Presidente de Honra da Sociedade Brasi-

24/10/1924 em São Luís do Paraitinga (SP) * Cientista polivalente, recebeu, entre outros títulos, o de: • membro honorário da Sociedade de Arqueologia Brasileira • Grã-Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico • Prêmio Internacional de Ecologia de 1998 • Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente

leira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual já foi presidente * Representou a Academia Brasileira de Ciências (ABC) na Eco 92, no Rio de Janeiro

Mauro Bellesa/IEA-USP

De São Luís do Paraitinga para o mundo

* Entre suas Pesquisas, constam as de:

* Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FLCH - USP) * Professor honorário do Instituto de Estudos Avançados (IEA - USP) * Professor honoris causa da Unesp

• Domínios morfoclimáticos e fitogeográficos • Sertões do Nordeste • Estudos Amazônicos • Superfícies aplainadas no Brasil • Teorias dos refúgios • Revisão das pesquisas sobre “desertificação” na Campanha Gaúcha de Sudoeste • Por uma Educação Fundamental cruzada com Educação de Base Regional, para o Brasil como um todo

Especialista não poupa nem o relator, que considera neófito, nem o exército de fazendeiros

Fontes: Academia Brasileira de Ciências (ABC)/Wikipédia Neo Mondo - Março/Abril 2012

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Perfil

Neo Mondo: Do jeito que está, estaríamos na contramão da história? Aziz Ab´ Sáber: Enquanto o mundo inteiro propugna pela diminuição radical de emissão de CO2, o projeto, proposto na Câmara Federal, de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas. Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceberem os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, em que vêm sendo estabelecidas glebas nas quais se poderia realizar um desmate de até 80%, haverá um mosacio caótico de áreas dematadas e faixas interpropriedades estreitas e mal preservadas. Lembrando ainda que, nas propostas de revisão, alguns donos de propriedades com até 400 hectares teriam o direito de um desmate total em suas terras, vejo-me na obrigação de denunciar que, a médio e longo prazos, existiria um infernal caleidoscópio no espaço total de qualquer área da Amazônia. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, interglebas, ficarão à mercê do corte de árvores dotadas de madeiras nobres. E, além disso, a biodiversidade animal, certamente, será a primeira ser afetada de modo radical. Neo Mondo: O senhor tem algum trabalho específico sobre o maior centro urbano do Brasil, que é São Paulo? Aziz Ab´ Sáber: Sim, e nossa preocupação é a defesa intransigente das poucas florestas remanescentes nas porções centrais e intermediárias da metrópole paulistana. Sobretudo em relação ao caso da mata do Portal do Morumbi (Jardim Suzana), onde ocorrem florestas biodiversas em um espaço de 97 mil metros quadrados. E de onde, na borda da mata, funciona o Colégio Santa Maria do Morumbi, em um prédio projetado pelo saudoso arquiteto Oswaldo Bratique. 16

Neo Mondo - Março/Abril 2012

Neo Mondo: Como ficam as regiões periféricas da capital paulista? Aziz Ab´ Sáber: Há florestas das periferias de São Paulo (Metrópole Externa) dotadas de alguns espaços florestados, em que o problema reside em planejamento regional do estado e dos municípios da Grande São Paulo, para evitar uma conurbação caótica de imobiliaristas vinculados ao neocapitalismo e totalmente insensível ao futuro dos espaços ecológicos que restaram no sistema de colinas da região de São Paulo.

Soubemos de um desmate criminoso, pendente de ocupação de espaços florestados que existiam entre Alphaville e Granja Vianna. Se isso acontecer, em termos de imobiliarismo inicia-se a ampliação totalizante do mundo urbano sobre a natureza tropical atlântica que predominava nas colinas e interflúvios do Planalto Paulistano. Trata-se, mais uma vez, de projetos dinheiristas do imobiliarismo neocapitalista, observado muito de longe por prefeituras maldotadas de inteligência e capacidade de pensar o futuro.

“Terroristas do clima” Em meio ao agito internacional da Conferência do Clima, em Copenhague, em dezembro de 2009, Sáber ponderou sobre o evento: “Copenhague é uma farsa. Quando eu vi que levaram cerca de 700 pessoas do Brasil pra lá eu disse ‘meu Deus, essas pessoas não terão um segundo pra falar, nem nada’. Para mim, quando uma conferência passa de 1.000 pessoas na sala, elas ficam só ouvindo as metas e propostas dos outros. Não há espaço para debate ou questionamento. Além disso, os países levam metas irreais. Quando um país diz que vai reduzir 40%, por exemplo, não vai. Espertos são os países que levam metas baixinhas”. E não deixou por menos ao se referir à redução das emissões de CO2: “Não tenho a menor dúvida de que as causas não são tão perfeitas como eles pensam. Mas é fato que está havendo um aquecimento. Na cidade de São Paulo, no século passado, tinha 18,6 graus Celsius de temperatura média na área central. Hoje, tem entre 20,8 e 21,2 graus. Se a gente fizer a somatória de todas as cidades em São Paulo e as contas do desmate ocorrido no nosso território, veremos que com esses desmates o sol passou a bater diretamente no chão da paisagem. O clima urbano deve ser considerado, porque evidentemente esse clima tem certa projeção espacial, em algumas cidades mais em outras menos. “Há também que se considerar os efeitos das chamadas Células ou Ilhas de Calor, porque quando eu digo que a temperatura da cidade de São Paulo aumentou neste século, eu não falo do estado como um todo, nem mesmo da cidade. A temperatura medida na área central é uma, nos Jardins é outra e, lá onde eu moro, perto de Cotia, é outra”. Para ele, as “observações de que o aquecimento global vai derrubar a Amazônia são terroristas. Há um aquecimento? Sim, seja ele mediano seja vagaroso, mas, quanto mais calor, a tendência, no caso da Mata Atlântica e da Amazônia, é que elas cresçam e não que sejam reduzidas. Parece que essas pessoas, esses terroristas do clima nunca foram para o litoral (Baixada Santista - N.R.). A gente que observa o céu vê que as nuvens estão subindo e sendo empurradas para a Serra do Mar, levando mais umidade para dentro do território. Esses cientistas alarmistas não observam nada, não têm interdisciplinaridade. Na média, está havendo aquecimento, mas as consequências desse aquecimento não são como eles preveem. Mas essa é uma realidade não relacionada tão diretamente com a poluição atmosférica do globo e pode sofrer críticas sérias de pessoas com maior capacidade de observação”. Fonte: Terra Magazine


Profile

is his middle name When the subject is the environment and environmental impacts. Aziz Ab´ Sáber speaks of the Dean’s chair with no holds barred for the disguised specialists or speculators. Gabriel Arcanjo Nogueira

Divulgação

Mauro Bellesa/IEA-USP

Sáber does not agree: his idea of a Biodiversity Code was not well received in Brasília

H

e has Said that the COP 15 is a farce and that the Amazon, Just like the Atlantic Coastal Rainforest tends to grow with global warming, and won’t become a desert. Nacib Aziz Ab ‘Saber - professor emeritus at the University of São Paulo (USP), a reference in the environment and environmental impacts - aged 86, completed this month, 70 of them steeped in studies of Geography (Ph.D. 1956), is Profiled in this issue. Born in Sao Luis do Paraitinga, in Vale do Paraiba (SP), Saber talks knowledgeably on a subject that is at the top of the agenda in the country: the Forest Code. The researcher anticipates a study, as yet unpublished, on “The vegetation history of the Paulistano Plateau,” which he harshly criticizes the real estate business with the connivance of unscrupulous unprepared municipalities. There were times when, in the Sao Paulo of Piratininga, the dominant vegetation was of tropical forests, with clumps of pines in small subareas of terraced hills and forests in São Paulo. “In maps drawn in colonial times were recognized pines (Araucaria) in Sao Miguel Paulista,” says the study. A restless thinker, the wisdom that is present even in the letters of his surname, Saber is keen to share, based on some of his more recent writings, for to our satisfaction and of course, readers of NEO MONDO.

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Profile NEO MONDO: We talk, we write and we teach about biomes or ecosystems within Brazil. How do you classify them, even when discussing the Forestry Code in Brazil with the implications of a reform of the legal text? Aziz Ab ‘Saber: Faces with the huge size of the territory and the actual situation that the macro-biomes are found in - the Brazilian Amazon, Brazilian Atlantic Costal Rainforest, the Cerrado of Central Brazil, the Araucaria Plateau and Mixed Prairies of Subtropical Brazil - and its numerous mini-biomes, strips of transition and remnants of ecosystems, any attempt to change the Forest Code has to be conducted by people who are competent and bio-ethically sensitive. To press for an ample liberation of the deforestation processes means being unaware of the Progressiveness of biotic scenarios, the different spaces of future time, so favoring in a naive and ignorant way the patrimonial wishes of social classes that only think about their personal interests in the context a country with great social inequalities: citizens of a privileged social class, who understand nothing of predicting impacts; have no ethics towards nature, do not seek to find technical and scientific models suitable for restoration of degraded areas, which could be in the Amazon or in the Brazilian Atlantic Rainforest, and elsewhere. People for whom the demanding the adoption of agricultural activities that are “ecologically sustainable” is a mania for unrealistic scientists. NEO MONDO: What do you consider, in the revision of the Code, the most appropriate for our reality? Aziz Ab ‘Saber: For many reasons, if there was a movement to improve the actual Forrest Code, which would have to involve the broader sense of a Biodiversity Code, taking into account the complex vegetation mosaic of our

New demands of the proposed Forest Codeare excessively liberal and abusive... biodiversity of fauna will be affected radically

territory. We sent this idea to Brasilia and received a response that this was a good idea, but complex and intrusive. Now, other people work on the sweeping and preposterous changes called the Forest Code. That is why we dare to criticize those who insist on generic arguments that are dangerous to the country’s future. It is necessary, more than ever, to prevent people from other lands, especially hegemonic countries, of having reason to say that it is proved that Brazil does not have the competence to manage the Amazon. That is, the reviewers of the current Forest Code would not have competence to manage the whole territory of Brazil. How sad! NEO MONDO: In your opinion, what is wrong in the drafting the new code? Aziz Ab ‘Saber: The first great mistake of those who currently lead the review of the Brazilian Forest Code - in favor of privileged social classes – refers to the so called state control of the ecofacts of its specific territory. Without remembering that the very delicate issues of progressive deforestation require joint actions of specific federal agencies, along with similar state agencies, a rural federal police and the Brazilian Army. Everything also connectedwith municipal authorities, who have much to learn from a new Code that involves all of the country’s macro-biomes and the mini-biomes that dot it, with special attention to the coastal strips, strips of contact between the core areas of each morpho-

climatic and phyto-geographical domain of the territory. For intelligent people, able to predict impacts at different times in the future, it is clear that instead of state control, it is absolutely necessary to focus on the physical and ecological zoning of all nature areas of the country. Namely, the two main tracts of Brazilian rain forests: the Amazon zone and the Atlantic Coastal Rainforests zone, and the area of savannas, grasslands and cerrados; the complex semiarid region of northeastern hinterlands, the uplands of pines and mixed grasslands of Rio Grande do Sul, as well as our coasts and the wetlands of Mato Grosso. NEO MONDO: The political class and the others directly involved in this review, have done their part correctly? Aziz Ab ‘Saber: It shall be necessary to remember the honorable reporter Aldo Rebelo - who I think is quite a novice in the field of ecological, spatial and futurology issues - which prevails currently in the Brazilian Amazon a true parallel army of farmers who in their area of expertise have more power than governors and mayors. What we saw in Maraba with the passage of farmers troops, along the Avenue of the Transamazonica, should be known of by Congress in Brasilia and various members of the Executive. From each of the regional farms passed a group of 50 to 60 buddies, headed on noble horses, by the farmer and his wife and children on beautiful horses. The groups passed by, sepa-

A liberal Forest Code, for Sáber, generates a scenario that prevents the use of land for agricultural activities

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Neo Mondo - Outubro 2008

Neo Mondo - Outubro 2010

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Acervo Pessoal

Farmers horse riding in Marabá: a parallel army displaying greater strength than that of governors and mayors in the Brazilian Amazon, in the scientist’s point of view

rated by a few minutes. Someone on foot, like a commander, controlling the passage of the cavalcade of farmers. Only two boys, who left their bikes on the curb overlooking, the passage of the troops in silence. No newspaper in newspaper, or elsewhere, reported on the frightening occurrence. Some of us could not cross the bridge to participate in a cultural event. NEO MONDO: What a gruesome scene, is it not? Aziz Ab ‘Saber: It will certainly be, supported by facts like these, which some Amazon landowners gave their message in terms that “the property is mine and I do with it what I want, however and whenever I want.” But nobody explains how they initially gained their huge initially forested areas. It being that some others living in different areas of the Brazilian Center-South, when asked how they became so rich, state that it was with “my business in the Amazon” ... That is, with illegal lots, sale of plots to unsuspecting people in places of difficult access, which at the end of a certain time, are released to the Brazilian offenders. It is a very unfortunate fact that nobody is researching for ways to reuse degraded land. Or require the governments to supply appropriate techniques to revitalize soils that have lost their nutrients and clays, which have become dominated by fine sand (silting).

NEO MONDO: What aspects do you consider most relevant in the process? Aziz Ab ‘Saber: Among the many chaotic aspects, derived from some arguments of the reviewers of the Code, there stands out the phrase that says it must protect vegetation of a river to up to 7.5 meters from the bank. A reduction of a fact which in itself was very wrong, which is now generically reduced to almost nothing compared to the great rivers of the country. Imagine that, for the Amazon River, the requirement was to protect only 7 meters, while for most of the streams and tributaries the same requirement shall be. It is saddening, the ignorance on the magnitude of river networks of the inter-tropical Brazilian territory. In traditional Amazonian language, the people themselves have acknowledged facts about the types of regional rivers. For them, there are, in ascending order: creeks, streams, rivers and “paras”. A final logical and pragmatic division, which is accepted by all who know the reality of the Amazon basin. By ignoring these facts the analysts of the review apply the space of 7 meters from the edge of all courses of river water, without even having been there to see the fantastic mosaic of rivers in the Region. But the worst is that the new proposed requirements of the Forestry Code have a character of excessive and improper liberation. We talk about 7.5 meters of forests at river

banks (riparian-biomes) and then on the preservation of any vegetation on distant summits. Without being able to imagine how much space is freed for any type of space occupation. This is unfortunate in terms of regional, rural and wild spaces planning, as regrettable as the generalizations forced by groups with special interest (large farmers). NEO MONDO: What’s the most surprising thing about the academic and scientific community in such a situation? Aziz Ab ‘Saber: It could be predicted that one day those interested in the Amazon area would again put on pressure by changing the percentage to be conserved in each of the properties in the region. The simplistic argument deserves a decisive and radical criticism. For them, in the center-south Brazil the rate of internal conservation of the forest vegetation is 20%, why does the law requires 80% in the Amazon? But nobody has the courage to examine what happened in the ecological areas of Sao Paulo, Parana, Santa Catarina and Minas Gerais with 20% conservation. In the highlands of the interior of São Paulo the sum of the deforestation reached scenarios of widespread dilapidation. These important areas, dominated by forests and pockets of savannas and grasslands, the only conservation area was the Serra do Mar, involving the Atlantic forests, Neo Mondo - March/April 2012

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Profile soils and water points of this remarkable scarp, was able to protect the ecosystems of the steep terrain of the region. The rest – in the “sea of hills”, hills and plains of the Middle Paraíba and Paulistano Plateau, as well as part of the Mantiqueira Mountain Range suffered a deplorable dilapidation. It’s what everyone in Brazil, speaking of intelligent people and bioethics does not want repeated, in the Brazilian Amazon, in an area of 4.2 million square kilometers.

rating the economy of small and medium landowners in the project called Floram. The eucalyptologists lose ethical points when they rent space for 30 years, from unsuspecting owners, preferring areas endowed with still fertile tropical soil, of the oxy-soils and avoiding areas of degraded bare hills, reduced to hypsometric trampled trails, similar to the prototype existing in the Paraíba High Plateau, in São Paulo. When leasing land from inexperienced owners, for use in 30 years, and knowing that the owners of the land can die when they complete the term. This fact creates a big problem for the legal heirs, and in the end a company cuts all the eucalyptus or pine trees, leaving myriad trunks on the ground of the area. This prevents its later use for agricultural activities. All this should be known by those that fiercely defend the liberalization of the Forest Code.

NEO MONDO: Do you see any glimmer of hope that the revision of the code is perfected? Aziz Ab ‘Saber: The annalists of the Forest Code say that in the very areas that have been deforested and degraded could be (re)forested “by a homogeneous species, they are thinking of eucalyptus and pine. Clear proof of their ignorance because they do not know the slightest difference between reforestation and forestation. The latter, intended by them, is a fact of economic interest - just business, which unfortunately does not intend to conserve biodiversity. As they seek to ignore that, for very degraded areas, a plan was made to (re)organize the remaining areas, under the focus of reinvigo-

NEO MONDO: What advice would you give those that are directly responsibility for this legal instrument? Aziz Ab ‘Saber: For all the reasons, we are obliged to criticize the persistent and repetitive arguments of Deputy Aldo Rebelo, who we got to know long ago and who we always expected the best. At the moment we are obliged to

remind him that each of us has to think about his biography and being political, has to honor the history of their parties. Especially in relation to the parties that call themselves leftListen Read phonetically and could never be involved in projects entirely directed to the personal interests of landowners. We insist that in any revision of the existing Forest Code, it should focus on the directives in the major geographic regions of Brazil, especially in areas that are of a very different nature form others, such as the Amazon and its very extensive tropical forests, the dry Northeast, with its different types of savanna. These are two opposite regions in relation to physiognomy and ecology, and also in their social and environmental conditions. When taking sides with the large areas managed by technical and scientific agencies of the Federal Executive, which connect specific institutions of the Brazilian government with similar state institutions. The Amazon involves connections with nine northern states of Brazil. Regarding Atlantic Tropical Rainforest, the federal agencies - IBAMA, Iphan, FUNAI and INCRA - would have to maintain connections with the various sectors like the state governments of north and south of Brazil. And so on.

* Aziz Nacib Ab´Sáber was Born on

* Honorary President of the Brazilian So-

24/10/1924 in São Luís do Paraitinga (SP) * Versatile scientist, he received, among other titles, that of: • Honorary member of the Brazilian Archeology Society • Grand-cross in Earth Sciences from the National Order of Scientific Merit • International Award in Ecology 1998 • Unesco Prize for Science and Environment

ciety for the Progress of Science (SBPC), of which he has been President * Represented the Brazilian Academy of Sciences (ABC) at Eco 92, in Rio de Janeiro

* Professor Emeritus, Faculty of Philosophy and Humanities, University of São Paulo (FLCH - USP) * Honorary Professor of the Institute of Advanced Studies (IEA - USP) * Honorary Professor of Unesp Source: Brazilian Academy of Sciences (ABC) 20

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Mauro Bellesa/IEA-USP

From São Luís do Paraitinga to the world

* Amongst his research are: • Morphoclimatic and phytogeographic fields. • Northeast hinterlands • Studies on the Amazon • The Brazilian plains • Theories of refuges • Review of research on desertification in the Southwest Campanha Gaucha. • For a Basic Education mixed with a Basic Education Fund, for Brazil as a whole.

The specialist does not spare the analysts, whom he considers naïf, or the army of farmers


NEO MONDO: As it stands, will we go against the flow of history? Aziz Ab ‘Saber: While the whole world calls for the radical reduction of CO2 emissions, the bill proposed in Congress, for the revision of the Forest Code advocates a process that will mean a wave of deforestation and uncontrolled emissions of carbon dioxide, a fact noted by many critics in several critiques and interviews. It seems very difficult for people not initiated in mapping scenarios to realize the effects of deforestation in the Amazon of up to 80% on farms in the forest. In any area of the Amazon territory, which has been divided into plots in which deforestation of up to 80% can take place, there will be a chaotic mosaic of deforested areas and narrow and poorly conserved strips between the properties. Remembering, further, that in the proposals of the review, some property owners with up to 400 hectares would be entitled to a total deforestation on their land, I am obliged to denounce that in the medium and long term, there would be an infernal kaleidoscope of the total space of any area in the Amazon. In this case, the edges of the remnants of the forest, between the tracts of land, shall be at the mercy of the cutting of trees whose wood is of good quality. More than this, the diversity of the fauna would be the first to be affected in a radical manner. NEO MONDO: Do you have any specific work on the largest urban center of Brazil, Sao Paulo? Azi Ab ‘Saber: Yes, and our greatest concern is the unyielding defense of the few remaining forests in central and intermediate portions of the metropolis. Especially in relation to the case of the forest of the Portal do Morumbi (Jardim Suzana), where there are bio-diverse forests in an area of 97 thousand square meters. Where, at the edge of the forest, in a building designed by the late architect Oswaldo Bratique there is the Santa Maria College of Morumbi, NEO MONDO: What is the situation of the peripheral regions of the state capital?

Aziz Ab ‘Saber: There are forests on the outskirts of Sao Paulo (External Metropolis) endowed with some forested areas, where the problem lies in regional planning of the state and municipalities of Greater Sao Paulo, to avoid a chaotic conurbation of real estate linked to neo-capitalism and totally ignores the future of green spaces remaining in the hills system of the region of São Paulo. We learned of a criminal deforestation, pending the occupation of forest

spaces that existed between Alphaville and Granja Viana. If this happens, in terms of real estate development, there shall begin the expansion of the urban world of a totalitarian nature, in the Atlantic Rainforest which predominated in the hills and between the rivers of the Paulistano Plateau. This is, again, a money making project of neo-capitalist real estate developers, observed at a distance by ignorant town halls with no ability to envision the future.

“Climate Terrorists” Amid the bustle of the international climate conference in Copenhagen in December 2009, Saber pondered about the event:

“Copenhagen is a farce. When I saw that they took about 700 people from Brazil there, I said, my God, these people will not have one second to speak or anything.” For me, when a conference is more than 1,000 people in the room, they only listen to the goals and proposals of others. There is no room for debate or questioning. Furthermore, the countries propose unrealistic goals. When a country says it will cut 40%, for example, it won’t. The countries that propose low goals are the clever ones. “ And he didn’t miss a chance to comment on the reduction of CO2 emissions:

“I have no doubt that the causes are not as perfect as they think. But the fact is that there is global warming. In Sao Paulo, during the last century, 18.6 degrees Celsius was the average temperature in the center of the city. Today it is between 20.8 and 21.2 degrees. If we add up all the area of the cities in Sao Paulo and the numbers of the deforestation that occurred in this area, we see that with this deforestation the sun began to beat directly on the ground. The urban climate should be included, because clearly this climate has a certain spatial projection, more in some cities, less in others. “We must also consider the effects of so-called Cells or Islands of Heat, because when I say that the temperature of the city of São Paulo increased in this century, I do not speak of the state as a whole, not even in the city. The temperature measured in the central area is one, the Jardins is another, and where I live, near Cotia, is another. “ For him, the “people who remarks that global warming will fell the Amazon are terrorists. Is there global warming? Yes, slowly or a little faster, but there is warming, the trend in the case of the Atlantic Rainforest and the Amazon, is that they grow and they are not reduced. It seems that these people, these terrorists, have never been to the coast (Santos – Coast of Sao Paulo). The people who look at the sky see the clouds are rising and being pushed to the Serra, taking more moisture into the country. These alarmist scientists do not notice anything, they are not interdisciplinary. On average, there is warming, but the consequences of this warming are not as they predicted. But this is a reality not so directly related to world atmospheric pollution and can suffer serious criticisms of people with greater capacity for observation. “ Source: Terra Magazine

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In Memoriam

Vida toda dedicada à ciência

Divulgação

Gabriel Arcanjo Nogueira *

“Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons; mas há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis” (Bertolt Brecht)

O

geógrafo Aziz Nacib Ab´Sáber - em cuja ficha de ingresso na Academia Brasileira de Ciências (13/04/1976) consta como profissão: Professor universitário e como área de especialização: Ciências da Terra - é um desses 22

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imprescindíveis por tudo o que pensou, pesquisou, ordenou, realizou e defendeu com ética e coragem em seus 87 anos de vida - 70 deles envolto em estudos de Geografia (doutorado concluído em 1957). Incansável em sua trajetória, mesmo apo-

sentado, era visto com frequência no campus da Universidade de São Paulo (USP), onde era professor honorário do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).


As paisagens que existem no mundo, consequências de processos que atuaram ao longo de bilhões de anos, foram tomadas emprestadas e devem ser devolvidas às futuras gerações Não custa lembrar, ainda mais uma vez, o legado do guerreiro: “Novas exigências do Código Florestal proposto têm caráter de liberação excessiva e abusiva... a biodiversidade animal será afetada de modo radical”. Cria-se, em suma, um cenário que impede o uso de terras em atividades agrícolas. O que não se restringe à Amazônia. Para Sáber, o texto em discussão no Congresso não considera o zoneamento físico e ecológico de regiões brasileiras, como a semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul (conhecidas como pampas gaúchos) e o Pantanal mato-grossense. DVD histórico Prova de sua vitalidade produtiva, Sáber deu às vésperas de encerrar, entre nós, a carreira nas Ciências da Terra. Ele levou à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da universidade e ao maior número de pessoas. Sáber era conselheiro e presidiu a entidade de 1993 a 1995. “Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, deixou escrito na dedicatória. Natural de São Luís do Paraitinga (SP), Sáber foi um dos mais importantes estudiosos da geomorfologia brasileira. Atuou também como pesquisador das áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia,

* Com informações da SBPC, jornal O Estado de S. Paulo e sites noticiosos

geologia, arqueologia e geografia. Morreu antes de ver publicada sua última obra, que será o terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, a ser publicado pela SBPC. Em 1997 e 2005, ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas e, em 2007, na de Ciências Exatas. Em 2001, recebeu o Prêmio para Ciência e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Entre tantas manifestações de apreço ao legado do laureado ambientalista, pioneiro na defesa das riquezas naturais do País, chama atenção a de Paulo Garreta Harkot, oceanógrafo e mestre em Saúde Pública. Ele foi um dos que destacaram, como traço marcante do geógrafo, a inquietude diante da busca de soluções para o bem coletivo, sobretudo quando o assunto dizia respeito aos riscos ambientais. Em conversa com NEO MONDO Harkot fala de sua relação com Sáber: “Conheci-o pessoalmente em 1987. Depois disso, esporadicamente e sempre que eu tinha uma atividade mais complexa para desenvolver - Paraíba, estados litorâneos brasileiros, mestrado, aulas etc. - procurava-o para trocar ideias e fundamentar minhas ações. Digo pessoalmente porque desde a segunda série do ginásio já havia ouvido falar nele. Sem contar que, depois de 87, acompanhava-o a distância cotidianamente”. Harkot é taxativo, quando avalia: “Uma lástima que muito raramente (Sáber) foi ouvido e teve suas recomendações acatadas pelo Executivo no que diz respeito à área ambiental”. Que esse oportuno lamento ecoe fundo, sobretudo nos arejados gabinetes de legisladores em Brasília e nas demais esferas do poder, assim como um dos pensamentos de Sáber, lembrados pelo oceanógrafo: “As paisagens que existem no mundo, consequências de processos que atuaram ao longo de bilhões de anos, foram tomadas emprestadas e devem ser devolvidas às futuras gerações”. Maria Claudia M.Kohler

Sáber foi Perfil de NEO MONDO (edição 38, Dezembro 2010, cuja íntegra reproduzimos a partir da página 12) e, generosamente, antecipou para nossos leitores um dos seus estudos inéditos: “A história vegetacional do Planalto Paulistano”, no qual se revelou crítico feroz da exploração imobiliária inescrupulosa com a conivência de prefeituras despreparadas. Este, apenas um pequeno sinal de sua luta constante: do saber compartilhado contra a ignorância opressora. Foi autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos. E, no instante em que o País ainda está às voltas com a discussão sobre um novo Código Florestal, lembramos que Sáber contrapôs o seu Código da Biodiversidade, para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais. Ideia mal recebida em Brasília porque seria “complexa e inoportuna”. Com o que não se conformou, lógico. Para ele, um dos grandes erros da revisão, levada a cabo no Congresso, do Código Florestal “a favor de classes sociais privilegiadas - diz respeito à chamada estadualização dos atos ecológicos de seu território específico”. Sáber colocou o dedo numa das feridas, ao denunciar: “atualmente na Amazônia brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos”. Ele se referia, com conhecimento de causa, ao que presenciou em Marabá: “... de cada uma das fazendas regionais passava um grupo de 50 a 60 cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, os filhos em cavalos lindos... nenhum jornal... noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural”. Em seu relato a NEO MONDO, Sáber diagnosticou: “Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que ´a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser’. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados... ou seja, com loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso...”. Para Sáber, “... o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para reutilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominados por areias finas”.

Harkot fundamenta suas ações em Sáber e é taxativo: “Uma lástima que não foi ouvido pelo Executivo” Neo Mondo - Março/Abril 2012

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In Memoriam

Reconhecimento acadêmico-político

Divulgação

Sáber deixou-nos todos um pouco órfãos ambientalmente, e sua morte, na manhã da sexta-feira, 16 de março, pegou de surpresa professores, pesquisadores, exalunos e colegas cientistas, bem como pessoas de outros segmentos. Rute Andrade, secretária-geral da SBPC, da qual Sáber era presidente de honra, lembrou em conversa com o Estadão que o mestre teve uma morte tranquila: “Ele acordou, fez café da manhã para toda a família, sentou-se em uma cadeira, falou ‘Ai’ e morreu”. Segundo ela, nos últimos meses o pesquisador visitava toda semana a SBPC por conta da realização do terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, ainda a ser publicado. Sobre o DVD com sua obra consolidada, que o próprio Sáber fez questão de levar à SBPC, a entidade considera que foi “um gesto de despedida, mesmo involuntariamente”. Rute lembra que ele ainda pediu para que o material seja distribuído a estudantes nos eventos da SBPC. “Será agora a nossa missão”, disse. “Acredito que Aziz era um caso raro de casamento entre ser cientista e ser humanista. Ao mesmo tempo em que ele tinha um conhecimento incrível não só de geografia, mas de várias áreas, ele tinha a perspicácia de fazer a relação desses assuntos com o cotidiano das pessoas”, afirmou.

Rute, da SBPC: houve um casamento perfeito do lado científico com o lado humanista

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Rute, que é bióloga ligada ao Instituto Butantan, teve contato com Sáber desde a pós-graduação, antes de trabalhar com ele na própria SBPC. A principal contribuição do cientista, segundo ela, foi catalogar a geografia e a vegetação do Brasil. “Ele era a pessoa que mais conhecia a geografia brasileira. Ele descreveu os biomas brasileiros de forma bastante didática”, disse a pesquisadora, ao destacar o trabalho que Sáber fez na Amazônia e na Caatinga. Para o geógrafo Manoel Fernandes, professor da USP, Sáber revolucionou a atuação dessa ciência no Brasil. “O Aziz influenciou tanto quem era da geografia física quanto da geografia humana”, afirmou. “Ele fez a geografia conversar com todas as outras áreas do conhecimento.” Na avaliação de Fernandes, Sáber era um geólogo completo, um “explorador disposto a conhecer lugares”, assim como um grande professor. “A coisa que eu mais gostava nele era o modo poético que ele tinha para falar de coisas complexas.” Nas aulas, “genial” A primeira vez que o professor aposentado José Bueno Pontes, de 75 anos, encontrou com Aziz foi em 1956. Na época, o geógrafo mais premiado do Brasil ainda não tinha doutorado - concluído no ano seguinte - e, aos 32 anos, era um dos professores mais jovens do curso de geografia. De acordo com Bueno Pontes, naquele tempo o curso era dividido em cátedras e Sáber era assistente do catedrático de geografia do Brasil Aroldo de Azevedo, um dos primeiros autores de livros didáticos de geografia no Brasil. Dentro da cátedra, as aulas de geomorfologia do Brasil eram dadas por Aziz. Mesmo jovem, Bueno Pontes, que era calouro do curso, afirma que Sáber já se destacava entre os demais docentes. “Ele era um grande conhecedor da natureza brasileira e tinha muita capacidade de comunicação, os alunos gostavam muito das aulas dele, principalmente as de campo. Ele era genial, mostrava tudo o que a gente estava observando, interpretava, a gente aprendia muita coisa”, contou.

Segundo o geógrafo, que depois fez parte de seu doutorado sob a orientação de Aziz e se tornou seu colega de departamento, a paixão do pesquisador do IEA era notável. “Ele mostrava que tudo tinha uma explicação, uma razão de ser, inclusive pela história geológica.” Bueno Pontes afirmou que seu último encontro com Sáber aconteceu, durante uma visita à casa do geógrafo, em Cotia (SP), para uma tarde de conversa. “Pessoa brilhante” Sáber recebeu homenagem em 2007, quando Celso Dal Ré Carneiro, geólogo, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e também ex-aluno de geomorfologia de Aziz, lançou em parceria com outros especialistas o livro A Obra de Aziz Ab’Saber. A publicação, com cerca de 600 páginas, reúne a produção acadêmica do cientista acompanhada de diversas avaliações de outros pensadores sobre os aspectos de sua obra. “Ele foi importantíssimo para a ciência brasileira e sua produção não se restringiu a apenas um assunto. Era uma pessoa brilhante. Além de ser um professor fantástico, um exemplo de caráter e integridade. Foi uma grande perda”, disse Carneiro. Entre outros títulos, Sáber recebeu o de Professor Honoris Causa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) por indicação da geógrafa Magda Adelaide Lombardo, professora da Unesp de Rio Claro. Aziz orientou parte do projeto de doutorado de Magda na USP. “Aziz foi um geógrafo que conheceu o Brasil e todos os seus rincões, um entusiasta da geografia. Sugeriu o tombamento da Serra do Mar, e por causa dele temos a Mata Atlântica preservada. Até o final da sua vida continuou produzindo muito e nos deixa um legado eterno para os alunos e professores de geografia”, afirmou. Magda disse que no seu último encontro com Sáber, no lançamento do livro em sua homenagem na USP, no segundo semestre do ano passado, ele estava com


a visão debilitada, por conta do diabetes. “Achei incrível sua humildade, ele estava quase sem enxergar e quis participar do evento. Chamou sua neta para compor a mesa de convidados. Foi uma cena marcante, pois simbolizou a transferência de seu conhecimento para outra geração.” Segundo Orlando Silva Barbosa, assessor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a última vez que o geógrafo passou pelo departamento foi há poucos dias antes de morrer. “Ele estava aqui no prédio, sempre circundava aqui, apesar de estar aposentado. Recentemente eu o encontrei em um restaurante aqui próximo. Ele dedicou a vida intensamente a esta universidade, assim que se aposentou, integrou o Instituto de Estudos Avançados, era uma pessoa ativa e solicitada por todos os meios científicos, e sua presença era uma constante”, afirmou. “Barril de pólvora” Carlos Joly, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em nota avaliou: “O impacto da publicação de seus primeiros trabalhos nas décadas de 60 e 70 foi enorme, foi como um barril de pólvora. Todo mundo leu, todo mundo discutiu. Sua obra influenciou o pensamento crítico de duas gerações de cientistas, na geografia, na ecologia, na zoologia, na botânica”. E ressalvou sobre a teoria dos refúgios: “muito controversa ainda”, “não

Convivência cidadã O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa, Marisa Letícia, divulgaram nota em homenagem ao cientista. “Aziz Ab’Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós. “Convivemos intensamente no Instituto Cidadania, no Governo Paralelo e, sobretudo, nas Caravanas da Cidadania. Juntos, percorremos todos os cantos do Brasil, conhecendo a diversidade do nosABr

Geraldo Alckmin ressaltou a importância da obra do cientista na defesa do meio ambiente

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Lula destacou o compromisso inabalável de Sáber com o povo brasileiro

há dúvida de que as florestas se retraíram durante os períodos glaciais, mas quanto elas retraíram é algo que precisa ser muito estudado ainda” .... “Mas só o fato de ele ter colocado isso na mesa na década de 70 foi uma centelha que despertou o pensamento científico sobre esse tema desde então”. Para Miguel Trefaut Rodrigues, do Departamento de Zoologia da USP, Sáber deixa um sentimento de “perda absolutamente irreparável para o nosso país. Era uma pessoa com visão macro do país, da nossa geografia, da ciência ... como poucas pessoas tinham. Deu uma contribuição que não será esquecida por gerações. Foi o primeiro geógrafo que entrou na história da formação das paisagens brasileiras ... E além de tudo era um sujeito de dignidade fora de série, sempre brigando pela justiça e pela coerência”.

Raupp, da Ciência e Tecnologia: “ideias muito à frente do senso comum, desafiadoras e provocantes”

so país e do nosso povo. A presença do professor Aziz, com sua inteligência e sabedoria, transformou essa experiência em algo extraordinário... Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos.” O governador de São Paulo Geraldo Alckmin também se manifestou em nota: “O geógrafo Aziz Ab’Saber, professor emérito da Universidade de São Paulo, dedicou sua vida à pesquisa e ao conhecimento. Reconhecido mundialmente, Aziz Ab’Saber deixou uma obra importante em diversas áreas das ciências humanas, utilizando-a em prol da proteção do meio ambiente. É com grande pesar que transmito os sentimentos às comunidades acadêmica e científica e a todos os seus familiares, admiradores e amigos”. “Lucidez irrequieta” Em nota, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antonio Raupp considerou: “Em razão da oportunidade de seus estudos, da acuidade de suas ideias, da extensão de sua obra e da longevidade de sua vida profissional, Aziz Ab’Saber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia.

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In Memoriam

obra dele. Foi uma figura de importância absolutamente inestimável. Fazia uma coisa rara entre os cientistas, que era atuar como um interlocutor eficiente entre a ciência e a política, mantendo sua credibilidade nas duas áreas. Ele tinha uma visão do Brasil que poucas pessoas tinham. Conhecia o Brasil como ninguém, andou pelo Brasil, escreveu sobre o Brasil...”.

Izabella, do Meio Ambiente, reconhece no geógrafo influência na vida acadêmica

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“Amigo e colaborador” O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) divulgou nota na qual afirma que perdeu “um grande amigo e colaborador”. Para o MST, “o povo brasileiro perdeu um dos seus mais brilhantes estudiosos da área ambiental e da geografia de nosso território. Estudioso e crítico da realidade, o professor Aziz se notabilizou por suas contribuições

para que pudéssemos conhecer melhor as enormes riquezas naturais de nosso país e seus biomas”. Além disso, segundo o MST, “o professor Aziz condenava a exploração privatista predatória da natureza, voltada para o lucro fácil para grandes empresas, enquanto deixava o passivo do desequilíbrio para toda a sociedade”. Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, reconheceu que a morte de Sáber foi não apenas uma grande perda para a comunidade científica, mas para todo o país e para a agenda do desenvolvimento. “Foi um grande nome para todos e me influenciou muito na vida acadêmica”, disse durante evento no Rio de Janeiro. Para João Paulo Capobianco, exsecretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Sáber “era uma fonte absolutamente básica, primária e obrigatória para todo mundo envolvido com a questão ambiental no Brasil. Uma pessoa de enorme conhecimento. Foi uma liderança fundamental no desenvolvimento da pesquisa científica e da formação de uma mentalidade conservacionista no Brasil. Não tem como estudar ecologia ou meio ambiente no Brasil sem consultar a

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“Aziz era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum, e também desafiadoras e provocantes até mesmo para o melhor pensamento estabelecido. “Bom exemplo dessa característica de Aziz Ab’Saber foi seu posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, não para repetir clichês ou acentuar antagonismos, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade - avanço que um dia o Brasil certamente consolidará. “O lamento pela morte de Aziz equivale ao privilégio de ter podido conviver e partilhar com ele momentos e situações importantes para a construção da vida científica brasileira”.

Para o MST, “o professor Aziz condenava a exploração privatista predatória da natureza”

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Fundação Grupo Boticário

Meio Ambiente

PESSOAS CONSCIENTES, natureza preservada Fundação Grupo Boticário vai além dos fóruns da ciência e pesquisa, em busca do equilíbrio para manter a vida de todas as espécies Gabriel Arcanjo Nogueira

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ão 1.282 iniciativas apoiadas pela instituição; cerca de 1 mil hectares de áreas naturais preservadas em localidades de 3 estados do Sul-Sudeste (613 nascentes protegidas em uma delas); e duas parcerias em andamento com estados do Norte e Nordeste. Assim a Fundação Grupo Boticário atua de modo inovador e pioneiro na gestão sustentável de propriedades. “Temos consciência de que estamos contribuindo de maneira efetiva para a conservação da natureza e, mais do que isso, formando pessoas com essa consciência. Queremos promover o equilíbrio, quere-

mos manter a vida de todas as espécies.” Quem diz é Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, com a certeza de quem visualiza o alcance socioambiental dos seus projetos, a exemplo do Oásis. Além das iniciativas que recebem o apoio financeiro da Fundação, Malu considera relevantes as duas reservas particulares do patrimônio natural que sustenta e o fato de colaborar para manter vivo o debate sobre tema que deve estar na ordem do dia de quem leve a sério a saúde do planeta. “Queremos sensibilizar a sociedade sobre a importância da conservação, para a ma-

nutenção da vida tal e qual a conhecemos”, afirma. Ela acredita que pela dimensão do Brasil é necessário que muitos sigam essa linha de raciocínio e atuação, que vem de 20 anos atrás, quando “conservação da natureza ainda era algo do meio científico apenas e nem se falava em mudanças climáticas”. Legado promissor A diretora-executiva vê a Fundação como a menina dos olhos do Grupo, ao avaliar que nela está “a principal expressão da política de investimento social privado do Boticário e, assim, por meio dela

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Jose DAmbrosio

Meio Ambiente o Grupo contribui para a preservação da natureza no País e deixa um legado para esta e para as próximas gerações”. Entre as suas preocupações, que se traduzem em prioridades, está a da necessidade de formar opinião pública favorável à conservação e compartilhar conhecimento e informação para que a sociedade se sinta preparada para também defender a causa ambiental. O recado de Malu tem endereço certo: “O que buscamos, daqui para frente, além de todo o trabalho de apoio a projetos, proteção de áreas naturais e da biodiversidade, é realmente engajar pessoas e empresas, pois os grandes mo-

vimentos só acontecem quando há trabalho conjunto. Estamos rumando para uma tomada de decisão importante, pois o caminho que escolhemos agora traçará o futuro da humanidade. Certamente, o planeta continuará existindo, com ou sem a nossa presença”. Ela lembra ainda que as ações específicas da Fundação têm como premissa atender as demandas de conservação da biodiversidade de toda a sociedade, em linha com os objetivos globais de proteção ambiental (a exemplo das convenções da ONU sobre Diversidade Biológica e sobre Mudança do Clima), na qual se insere o Projeto Oásis.

Malu: contribuição efetiva na conservação da natureza e conscientização de pessoas

”Um incentivo de que todos precisavam” centros iriam ficar tão povoados e que as propriedades rurais seriam tão importantes assim na produção da água. Acho que o Projeto Oásis vem corrigir esta visão distorcida, fazendo justiça com os agricultores, remunerando todos pela valiosa prestação de serviços ambientais para a sociedade”. O sitiante acredita que pelas características do projeto, que abrange em geral pequenos e médios produtores, pode falar por si próprio e pelos vizinhos: “A iniciativa é plenamente sustentável da maneira como está sendo conduzida pela prefeitura e seus parceiros. Vale muito a pena a gente perder um pouco de terra hoje e ganhar um planeta melhor para todo um futuro. Se a gente não parar para pensar e agir hoje, com certeza estamos entrando em um caminho sem volta, e quem vai pagar são nossos filhos e netos”.

Envolvimento geral Em sua propriedade Satio conta com o envolvimento de quem pode-se dizer que é seu braço direito: “Protejo 9 minas e para isso conto com a ajuda de meu caseiro. Desde o início da iniciativa expliquei tudo para ele, tudo que os técnicos da prefeitura ha-

preservadas, ecossistema equilibrado: “com parceria tudo fica mais forte” Neo Mondo - Outubro 2008 28Satio, 9 minas

viam me dito eu passei para ele, que desde o início também compreendeu os objetivos do projeto e hoje é também um grande defensor do Oásis. Ele cuida com carinho das mudas plantadas e está sempre de olho na conservação das minas”. O fato de o sitiante ressaltar a importância do envolvimento geral de seus parceiros de dentro e de fora da propriedade é particularmente significativo: “Vejo que a prefeitura vem realizando um bom trabalho na busca de sempre mais participação dos produtores. O projeto já está sendo executado na minha bacia (Pirapó), na do Rio Tibagi e Ivaí. Acho que isto já é um sucesso coletivo. Nesse tipo de iniciativa, que visa o bem comum, não podemos falar em sucesso de um ou de outro. Fico bastante orgulhoso, no bom sentido, de fazer parte deste projeto que na minha opinião tinha quer ser copiado por todos os municípios brasileiros”. NEO MONDO endossa essa visão, que vem de baixo para cima, por ser de alguém que vive o dia-a-dia da terra. Satio é sábio quando resume: “Com parceria tudo fica mais forte”. Fundação Grupo Boticário

Satio Kayukawa, nos 14,5 alqueires de sua propriedade em Apucarana (PR), preserva 9 minas na Bacia Hidrográfica do Rio Pirapó. Participante do Projeto Oásis, desde o início nesse município, em 2009, por ver na iniciativa “uma ideia muito boa”, agora fala dos resultados alcançados: a quantidade de água aumenta regularmente, e mesmo nos tempos de seca não há diminuição significativa; a recomposição da mata nativa traz de volta muitos bichos que haviam sumido do sítio; e mesmo sem poder tirar uma lenha sequer, por ser área de preservação, ou nela plantar lavouras, os ganhos ambientais compensam. Consciente de que faz, e bem, a sua parte, Satio não tem dúvida: “O Oásis foi um incentivo de que todos os produtores precisavam. Especialmente na década de 90, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Ministério Público pegaram muito pesado com os pequenos agricultores, que foram tratados de certa forma como os vilões da história, quando na verdade não eram. Muito da degradação foi estimulada durante a própria política de colonização do Estado, em prol do desenvolvimento e da produção. No passado não existia a noção do que era ambientalmente correto. Não se tinha a visão de hoje, de que os grandes

Neo Mondo - Junho 2011

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Bento do Sul, técnicos da prefeitura municipal criaram a metodologia inicial, usando como base o modelo adotado em Apucarana; mas essa metodologia será aperfeiçoada com a nossa contribuição”, afirma o coordenador de Estratégias de Conservação. Ganhos significativos Ferretti enumera entre os ganhos mais significativos do Oásis – o primeiro deles, fundamental, na sua avaliação – a mobilização de proprietários de terra para a proteção de áreas naturais. “No decorrer do projeto percebe-se que eles passam a dar mais valor às suas áreas protegidas, corrigindo eventuais falhas iniciais de uso da propriedade”, garante. O que, para o coordenador de Estratégias de Conservação, se deve a que o Oásis estimula a busca constante da melhoria dos serviços ambientais em cada propriedade participante do projeto. Outro ganho de sua aplicação é que “ao divulgar os conceitos, objetivos, metodologia e resultados, contribui-se para maior compreensão da sociedade sobre a importância da conservação da natureza”. Que não se pense que tudo é fácil na empreitada. “O fato de o Projeto Oásis prever o reconhecimento dos proprietários que historicamente conservaram suas áreas na-

Jose DAmbrosio

Bem-estar das pessoas André Ferretti, coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário, explica aspectos práticos do Oásis, entre eles o da sua metodologia, ao lembrar que hoje está a pleno vapor em três localidades: Região Metropolitana de São Paulo, Apucarana (PR) e São Bento do Sul (SC); há um outro em fase de implantação, em Brumadinho (MG); e mais duas parcerias já firmadas em Palmas (TO) e Baturité (CE). O Oásis funciona no sistema pagamento por serviços ambientais (PSA), que “em linhas gerais é uma forma de pagar e recompensar aqueles que ajudam a garantir um serviço ambiental e a manter o bem-estar das pessoas que dele se beneficiam”, diz Ferretti. Já a metodologia do projeto foi pensada pela Fundação “para calcular quanto cada proprietário de terra recebe por conservar as áreas naturais de mananciais em sua propriedade, que deixa claro o que está sendo valorado e quais práticas estão prejudicando a pontuação da propriedade. A metodologia desenvolvida inicialmente para São Paulo foi adaptada para poder ser aplicada em Apucarana de acordo com a realidade deste município paranaense. O modelo de cálculo ambiental para Apucarana foi simplificado e foram incluídos também critérios de manejo agrícola. Em São

Ferretti: metodologia iniciada em São Paulo, disseminada em outros estados e em constante aperfeiçoamento

turais por meio de premiações financeiras – ou seja, pelo pagamento em dinheiro pelos serviços ambientais prestados – gerou, inicialmente, um pouco de desconfiança por parte deles; superada, porém, com o tempo”, diz Ferretti. Ele lembra ainda que há parcerias bem distintas nas ações em andamento, entre elas a institucional da Secretara Municipal do Verde e do Meio Ambiente, em São Paulo, onde a Fundação executa o projeto; e as das prefeituras e secretarias municipais de Apucarana e de São Bento do Sul, ambas executoras do projeto com a parceria da Fundação.

Projeto Oásis, mecanismo inovador organizações não-governamentais ou particulares – devem ser reconhecidos pela conservação de suas terras, uma vez que os serviços ecossistêmicos gerados em suas propriedades beneficiam toda a sociedade”. Na prática, uma das formas de reconhecimento é a destinação de recursos financeiros para serem investidos principalmente na manutenção ou na melhoria da oferta dos serviços ambientais fornecidos pelas áreas naturais protegidas. E é exatamente isso que o Projeto Oásis prevê: os donos das propriedades selecionadas estabelecem contrato em que se comprometem a conservar suas áreas naturais; em troca, recebem apoio técnico e financeiro para o manejo voltado a essa conservação. A Fundação garante que seu trabalho sistemático se traduz também em ações e estratégias, entre as quais o apoio a projetos

de pesquisa que forneçam informações para a proteção de espécies e ecossistemas, principalmente aqueles que possam trazer subsídios ao manejo das unidades de conservação; a criação e manutenção de duas reservas privadas (na Mata Atlântica e no Cerrado). Para a Fundação, “a conservação de áreas naturais por meio do mecanismo de PSA é um esforço complementar a outras estratégias de conservação, como a criação de unidades de conservação (UCs). Dessa maneira, o Projeto Oásis ou outros projetos de PSA podem ser um esforço complementar a um Sistema de Unidades de Conservação ou ainda uma forma de estabelecer corredores de biodiversidade entre duas ou mais áreas protegidas. Os atores envolvidos nos projetos de PSA tornam-se aliados na conservação das suas áreas, estimulando que outros proprietários da região também participem da iniciativa”. Fundação Grupo Boticário

Coerente com sua missão de “promover e realizar ações de conservação da natureza”, a Fundação Grupo Boticário leva a ciência literalmente ao campo, por conservar espécies de ecossistemas – “chave para a manutenção da vida na terra” – e respeitar a diversidade biológica, mantida em áreas naturais que ajuda a preservar. Entre suas iniciativas ganha força o Projeto Oásis, que na essência “é um mecanismo inovador de pagamento por serviços ambientais (PSA), que valoriza quem realmente protege a natureza. Os serviços ambientais são os benefícios gerados pelo funcionamento dos ecossistemas naturais, como a produção de água doce, produção de oxigênio e regulação do clima. A estratégia de pagamento por serviços ambientais parte do pressuposto de que os protetores de áreas naturais – sejam eles governos,

A produção de água doce e de oxigênio, bem como a regulação do clima, resultam em corredores de biodiversidadeA Neo Mondo - Setembro 2008


Fundação Grupo Boticário

Meio Ambiente

Ambientalista e programa israelense inspiram criador A Fundação Grupo Boticário conta que numa época em que ainda havia pouca discussão sobre ações de proteção à natureza, e mesmo as ideias de responsabilidade social eram muito pouco conhecidas e aplicadas, Miguel Krigsner (fundador do Boticário e presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário e também presidente do Conselho Curador da Fundação) já mostrava interesse e sensibilidade pela preservação da natureza. Inspirado por palestras do ambientalista José Lutzemberg e um programa desenvolvido em Israel pela KKL, de recuperação de áreas e plantio de árvores naquele país, Krigsner começou a concretizar o desejo de fazer algo pela natureza brasileira. O empresário buscou consultoria na Universidade Federal do Paraná, que indicou o então professor de Engenharia Florestal, Miguel Milano, para participar das discussões. Era 1990, e o Boticário, à época um grupo adolescente, nos seus 13 anos de vida, de início pretendia plantar uma árvore para cada um ou dois produtos vendidos em suas lojas. Milano e Krigsner perceberam que a fórmula seria inviável a médio prazo. Foi

quando se desenvolveu o modelo do que se tornou, naquele mesmo ano, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza – hoje, Fundação Grupo Boticário. Criou-se de imediato um mecanismo para apoiar financeiramente projetos de terceiros e, aos poucos, incluíram-se outras ações de conservação ambiental. Em vez de plantar árvores, passou-se a dedicar à conservação da natureza, num trabalho constante para que o patrimônio natural brasileiro seja preservado em sua integridade para esta e futuras gerações. Exemplo vem de casa Ao Boticário não se aplica a máxima: “em casa de ferreiro o espeto é de pau”. Longe disso, a sustentabilidade está incorporada ao seu modelo de gestão corporativa de tal modo que a própria sustentabilidade do Grupo se integra ao seu mapa estratégico. Conceito e prática sustentáveis caminham juntos nos processos decisórios, operacionais e na sua cadeia de valor, nesta incluídos fornecedores, colaboradores, Conselho de Administração, franqueados e outros parceiros de negócios, chegando à sociedade.

Miguel Krigsner, à frente do Grupo e da Fundação, com interesse e sensibilidade socioambiental

Entres outras iniciativas, o Boticário desenvolve o Programa de Gestão de Sustentabilidade para Fornecedores, capacitando-os de acordo com as estratégias do Grupo; cuida dos investimentos na Fundação, de modo a elevar o nível da consciência ambiental nas pessoas – o que significa um ganho de valor incalculável porque se forma uma corrente que chega ao consumidor e se difunde a outros grupos de pessoas; e destina recursos ao investimento social privado, que lhe permite aplicar parte de seu faturamento no uso voluntário e planejado de recursos em projetos de interesse público, a maior parte deles direcionada à Fundação.

ATIVO AMBIENTAL Em seu balanço ambiental o Grupo Boticário registra expressivo rol de ativos, entre eles: • mais de 11 mil hectares protegidos em suas reservas particulares de patrimônio natural (RPPNs) • U$ 11,2 milhões doados a 1,28 mil iniciativas de cerca de 450 instituições no País • viabilização da descoberta de 42 novas espécies de plantas e animais e do estudo de quase 170 espécies ameaçadas de extinção; 414 unidades de conservação beneficiadas • mais de 200 participantes no Projeto Oásis em Apucarana (PR), São Bento do Sul (SC) e São Paulo (SP) • cerca de 1 ml hectares preservados nessas localidades e 613 nascentes protegidas em Apucarana • Bio&Clima – Lagamar, polo de pesquisas nos litorais paranaense e Sul paulista • coordenação do Observatório do Clima • membro-fundador do Fórum Curitiba sobre Mudanças Climáticas • Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, cuja 7ª edição acontece em setembro de 2012, em Natal (RN) • Estações Natureza, exposições interativas direcionadas ao público urbano ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Fonte: Fundação Grupo Boticário

SERVIÇO – Para saber mais sobre as iniciativas e ações ambientais da Fundação Grupo Boticário, bem como inscrição, análise e seleção de propostas, acesse www.fundacaogrupoboticario.org.br/PT-BR

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Neo Mondo - Março/Abril 2012


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Neo Mondo - Outubro 2008

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Vai ficar cada vez mais difícil.

Evite o desperdício. 22 de março. Dia mundial da água.

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Rio+20

Nick Wiebe/Reprodução Revista Ecológico

De quantas SEVERN SUZUKI ainda precisamos?

A canadense, em dois tempos: ativista desde cedo, agora com suporte acadêmico: falta coerência entre o que se fala nas conferências e o que se faz nos países


Há desafios crescentes que a humanidade precisa encarar, entre eles a sucessão de crises: a energética, a da falta de alimentos; a economia verde, o conceito de sustentabilidade... Gabriel Arcanjo Nogueira *

GPS da sustentabilidade

Nilson Carvalho

O consciente coletivo parece desejar que o planeta saia dessa para melhor. E acordos internacionais, a exemplo da Agenda 21, as-

sinada há 20 anos por 175 países, serviriam como GPS para indicar o melhor caminho a seguir por governos, empresas, organizações não governamentais e cidadãos para dar conta dos temas fixados, entre eles a luta contra a pobreza, o combate à desertificação e à seca, a proteção dos oceanos e dos mares, bem como dos recursos hídricos. De lá para cá, o quanto evoluímos – ou não – no trato da questão socioambiental? NEO MONDO dá a sua contribuição, nas próximas páginas, para que a bandeira verde tremule firme sem perder o ímpeto que a sobrevivência da humanidade merece. Ao menos o número de países participantes – chamados estados membros – é maior: 195 na Rio+20 (ver Objetivo e temas). Se não se pode perder de vista os temas de duas décadas atrás, especialistas aconselham que não se deve deixar de levar em consideração que o mundo passa por momentos distintos daqueles vividos em 1992, que colocam a necessidade de discutir a fundo novas prioridades. Ao participar do programa Repórter Eco (TV Cultura), a coordenadora do Escritório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), no Brasil, Cristina Montenegro, foi enfática ao lembrar que se a humanidade quer fazer algo para salvar o planeta, tem de encarar esses desafios: “O que é mais importante de pensar na conferência Rio+20 é que o mundo está saindo de uma série de crises, que é a energética, a financeira, a de produção de alimentos, que estão no contexto internacional, e como é que pode ser visto o desenvolvimento dentro deste contexto”.

gias que nós temos, não tínhamos; há atores globais tão claramente constituídos, entre eles a sociedade civil global, empresas globais, problemas globais – isto tudo torna a Rio+20 um evento único de convergência”. Belinky e Montenegro contribuíram para a definição da agenda do encontro que terá dois temas principais. Um deles é economia verde. Montenegro explica: “Quando a gente fala em economia verde, o conceito que está por trás disso é a nova economia. É uma economia que provoca o crescimento econômico, com geração de emprego, mas com mais eficiência no uso dos recursos naturais e que gere menos emissões de gás de efeito estufa”. Governança para a sustentabilidade é o outro grande tema da conferência, assim definido por Montenegro: “É você coordenar ações, você racionalizar recursos, não ter sobreposições de papéis entre, por exemplo, um governo estadual, um governo federal, um governo municipal, de maneira que você possa juntar essas forças”. Belinky lembra outro fator decisivo na discussão dos temas: “A gente tem uma legislação comercial internacional, cujo descumprimento impõe sanções. Nós temos legislações ligadas a questões militares, mas não temos nada parecido com isso no que diz respeito a articular questões ambientais, sociais e econômicas no rumo da sustentabilidade”. Divulgação

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esde que a canadense Severn Suzuki, então com 12 anos, impressionou o mundo com sua mensagem em defesa do meio ambiente (ver “O impacto na Eco 92”), cresce a expectativa de que acordos internacionais saiam do papel e se tornem realidade. A canadense faz a parte dela. Passados 20 anos, segue na militância de ativista ambiental (depois de se formar em Ecologia e Biologia Evolutiva pela Universidade de Yale, Estados Unidos), ao participar de palestras pelo mundo, mantendo alta a bandeira do ambientalismo. Seu público-alvo são estudantes e trabalhadores de instituições públicas e privadas, atentos à maneira como fala com desenvoltura sobre temas socioambientais na defesa de valores, alguns já esquecidos. A canadense sempre desafia as plateias a assumir responsabilidades individuais e coletivas em defesa do meio ambiente. Severn desenvolve muitos projetos ambientais, bem como participa de diversas expedições científicas, e já integrou o Painel Especial de Aconselhamento de Kofi Annan, ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Conjunto da sociedade

Montenegro quer economia verde com crescimento econômico, geração de emprego, respeito aos recursos naturais e menos emissões de gás de efeito estufa

Aron Belinky, do Instituto Vitae Civilis, por sua vez, alertou: “A Rio+20 não é Eco, ela é desenvolvimento sustentável, é a ideia de que a gente precisa trabalhar o social, o ambiental, o econômico, o cultural, o político. A conferência deste ano é o conjunto da sociedade, e o grande peso que ela tem é que acontece num momento da sociedade totalmente diferente do que era 20 anos atrás. Era uma época sem internet, como a temos hoje; a gente não tinha o conhecimento do planeta como a gente tem hoje; as tecnolo-

Belinky propõe trabalhar o social, o ambiental, o econômico, o cultural e o político num evento único de convergência rumo à sustentabilidade

* Com informações da Agência Brasil e sites www.uncsd2012.org; www.rio20.info. Neo Mondo - Março/Abril 2012

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Rio+20 O impacto na Eco 92 “Olá, eu sou Severn Suzuki Represento aqui na ECO a Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 e 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir. Vanessa Sultie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu. Foi através de muito empenho e dedicação que conseguimos o dinheiro necessário para virmos de tão longe, para dizer a vocês adultos que têm que mudar o seu modo de agir. Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo, estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Eu estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o Planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados. Eu tenho medo de tomar sol por causa dos buracos na camada de ozônio. Eu tenho medo de respirar este ar porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando. Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que recentemente pescamos um peixe com câncer... e agora temos o conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e extintos dia após dia... Eu sempre sonhei em ver grandes manadas de animais selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas e hoje eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso... Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade??? Tudo isso acontece bem diante dos nossos olhos e mesmo assim continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções. Sou apenas uma criança e não tenho todas as soluções, mas quero que saibam que vocês também não têm... Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio... Vocês não sabem como salvar os peixes das águas poluídas... Vocês não podem ressuscitar os animais extintos... E vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram e onde hoje é um deserto... SE VOCÊS NÃO PODEM RECUPERAR NADA DISSO, POR FAVOR PAREM DE DESTRUIR!!! Aqui vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos, mas na verdade vocês são mães e pais, irmãos e irmãs, tias e tios e todos também são filhos... Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas (1992) e ao todo somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade.

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Neo Mondo - Março/Abril 2012

Sou apenas uma criança, mas sei que esses problemas atingem a todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único mundo rumo a um único objetivo. Eu estou com raiva, eu não estou cega, e eu não tenho medo de dizer ao mundo como me sinto. No meu país geramos tanto desperdício, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora e nós, países do Norte, não compartilhamos com os que precisam, mesmo quando temos mais que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las. No Canadá temos uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV. Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou: ‘Eu gostaria de ser rica, e se fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho...’. Se uma criança de rua que não tem nada, ainda deseja compartilhar, por que nós, que temos tudo, somos ainda tão mesquinhos??? Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio, eu poderia ser uma criança faminta da Somália ou uma vítima da guerra no Oriente Médio ou ainda uma mendiga na Índia... Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso que a Terra seria. Na escola, desde o jardim da infância, vocês nos ensinaram a sermos bem comportados. Vocês nos ensinaram a não brigar com as outras crianças, resolver as coisas da melhor maneira, respeitar os outros, arrumar nossas bagunças, não maltratar outras criaturas, dividir e não sermos mesquinhos... ENTÃO POR QUE VOCÊS FAZEM JUSTAMENTE O QUE NOS ENSINARAM A NÃO FAZER??? Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências e para quem vocês estão fazendo isso. Nos vejam como seus próprios filhos, vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer. Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes ‘Tudo vai ficar bem, estamos fazendo o melhor que podemos, não é o fim do mundo...’, mas não acredito que possam nos dizer isso. Nós estamos em suas listas de prioridades??? Meu pai sempre diz: ‘Você é aquilo que faz, não o que você diz’. Bem, o que vocês fazem nos faz chorar à noite... Vocês adultos dizem que nos amam... Eu desafio vocês: por favor, façam com que suas ações reflitam as suas palavras... Obrigada.”


O que esperar da Rio+20 “É uma iniciativa para abrigar povos indígenas do mundo inteiro aqui no Rio de Janeiro durante a Rio+20 e para que a gente possa ter um lugar para debater a economia verde e o desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo vai servir para que a gente possa mostrar a força cultural dos povos indígenas do Brasil. O projeto é uma iniciativa indígena brasileira, que é conectada com os índios da África, das Américas, da Ásia”, afirmou Terena. Segundo ele, a montagem da “oca eletrônica” será uma das grandes novidades. “Essa oca, que foi uma sugestão dos índios navajos, dos Estados Unidos, é uma inovação, já que mistura uma oca tipicamente brasileira com conteúdo eletrônico. Ali haverá iniciativas voltadas à tecnologia da informação e também terá o objetivo de fazer a transmissão online da conferência aqui do Rio de Janeiro”, disse. Na aldeia, haverá ainda profissionais indígenas, como enfermeiros e advogados, para atender os participantes

da conferência, caso haja necessidade. Além disso, estão programadas cerimônias espirituais tradicionais, durante todos os dias da Rio+20. ABr

É possível que um dos impactos positivos na Rio+20 seja a presença de indígenas, do País e do exterior, que estarão numa aldeia formada por pelo menos quatro ocas a ser montadas no Rio Centro, para discutir questões ligadas a esses povos e que dizem respeito à humanidade. Segundo o articulador indígena para a conferência, Marcos Terena, o espaço deverá chamar-se Kari-oca 2, nome que remete aos moradores da cidade do Rio de Janeiro, os cariocas, e cujo significado original, na língua indígena tupi, é “casa do homem branco”. Na aldeia haverá duas ocas com redes para abrigar 80 pessoas, uma “oca eletrônica” e uma grande oca com capacidade para 500 pessoas, onde serão feitas as discussões. Terena e um grupo de indígenas estiveram no Rio de Janeiro para definir a área exata em que a aldeia será montada. A ideia é que o espaço ocupe o Autódromo de Jacarepaguá, próximo aos locais das conferências oficiais das Nações Unidas.

Terena pensou na Kari-oca 2 como “um lugar para debater a economia verde e o desenvolvimento sustentável”

Economia verde A Comissão de Representação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), por sua vez, quer incluir as lideranças comunitárias nas discussões da Rio+20. A proposta foi feita pela deputada Aspásia Camargo (PV), membro da Comissão Nacional de Organização da Rio+20. “Já que a Rio+20 é economia verde e erradicação da pobreza, e o Brasil está propondo uma economia verde inclusiva, eu acho que é bom a gente começar pelas áreas da cidade que precisam de intervenções mais urgentes e que estão com problemas graves de infraestrutura e urbanização precária”, disse. A deputada destacou o fato de as comunidades carentes se mostrarem muito receptivas à ideia de serem feitos planos de desenvolvimento sustentável nessas localidades. “Nós tivemos uma primeira etapa na Rocinha. Já é um esforço enorme de discussão”, avalia. Ela lembrou a existência de muitos movimentos verdes dentro de algumas favelas. Trata-se, segundo a deputada, de

movimentos organizados que estão ganhando impulso nas comunidades. Apontou, entretanto, carências, especialmente nas áreas de saneamento básico e coleta de lixo. “E nós queremos que eles saibam que a conferência é para eles. Eles vão ser beneficiados pelas discussões e têm de dizer o que pensam.” Por isso, acrescentou, a ideia de comunidades sustentáveis tem que estar na agenda da Rio+20. Aspásia defendeu que o governo brasileiro se aprofunde em questões importantes para o futuro da população, como a infraestrutura verde. “Nós temos que trabalhar com a ideia da infraestrutura, que é uma das coisas mais caras em que você tem que investir e que envolve, basicamente, saúde, transporte, construção civil em geral e energia. Isso tem que ser pensado com uma visão verde porque representa um extraordinário impacto de investimentos, quase como o new deal (novo pacto) verde”. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) reforça a proposta new deal verde. O projeto busca

direcionar os esforços de recuperação das economias à garantia da sustentabilidade na formação de uma nova configuração econômica e produtiva global. Aspásia informou que outra coisa em que o estado do Rio de Janeiro está trabalhando diz respeito à contabilidade verde. “É todo tipo de mensuração dos impactos negativos e das compensações que podem acontecer se houver um sistema financeiro e fiscal que favoreça.” Citou como exemplos a serem inseridos na chamada contabilidade verde os indicadores econômicos e o Produto Interno Bruto (PIB). Ela lembrou ainda que o Rio já tem uma Bolsa de Valores verde, cujo projeto foi lançado em dezembro do ano passado. Trata-se de um mercado de ativos ambientais, cujo objetivo é promover a economia verde no estado. Entre os ativos que serão comercializados na Bolsa Verde, estão créditos de carbono e ações de reflorestamento. O início de operação estava previsto para abril deste ano.

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Rio+20

Já o governo brasileiro está consciente de que o crescente engajamento da sociedade civil nas discussões a serem apresentadas na Rio+20 “é fundamental para que o próprio conceito de desenvolvimento sustentável ganhe mais densidade”. A avaliação foi feita pelo ministrochefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ao instalar em fevereiro o encontro Diálogos Sociais rumo à Rio+20, organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES/PR),

no auditório do Palácio do Planalto. Foi o primeiro de quatro encontros mensais, que devem ocorrer até o fórum internacional. “A atuação forte e decisiva da sociedade na elaboração da agenda da Rio+20 é parte constitutiva do desenvolvimento, que, para nós (governo), implica em eliminar as desigualdades, com mais justiça social e uso responsável dos recursos naturais”, segundo Carvalho. “Estamos de braços dados, governo e sociedade, no esforço para que a Rio+20 seja bem-sucedida”, acrescentou.

ABr

Encontros mensais

Gilberto Carvalho defende mais densidade para o conceito de sustentabilidade

Conceito padrão posto em xeque O teólogo e filósofo brasileiro Leonardo Boff aborda com frequência temas ligados a meio ambiente, seja em livros de leitura obrigatória seja em artigos que vão fundo nas questões. O pensador mostra-se crítico severo do conceito padrão de sustentabilidade. É dele a análise que segue, publicada originalmente por Escritos em Rede : “Os documentos oficiais da ONU e também o atual borrador para a Rio+20 encamparam o modelo padrão de desenvolvimento sustentável: deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. É o famoso tripé chamado de Triple Botton Line (a linha das três pilastras), criado em 1990 pelo britânico John Elkington, fundador da ONG SustainAbility. Esse modelo não resiste a uma crítica séria. “Desenvolvimento economicamente viável: na linguagem política dos governos e das empresas, desenvolvimento equivale ao Produto Interno Bruto (PIB). Ai da empresa e do país que não ostentem taxas positivas de crescimento anuais! Entram em crise ou em recessão com consequente diminuição do consumo e geração de desemprego: no mundo dos negócios, o negócio é ganhar dinheiro, com o menor investimento possível, com a máxima rentabilidade possível, com a concorrência mais forte possível e no menor tempo possível.

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“Quando falamos aqui de desenvolvimento, não falamos de qualquer desenvolvimento, mas daquele que realmente existe, ou seja, o desenvolvimento industrialista/capitalista/consumista. Este é antropocêntrico, contraditório e equivocado. Explico-me. “É antropocêntrico, pois está centrado somente no ser humano, como se não existisse a comunidade de vida (flora e fauna e outros organismos vivos), que também precisa da biosfera e demanda igualmente sustentabilidade. É contraditório, pois, desenvolvimento e sustentabilidade obedecem a lógicas que se contrapõem. O desenvolvimento realmente existente é linear, crescente, explora a natureza e privilegia a acumulação privada. É a economia política de viés capitalista. A categoria sustentabilidade, ao contrário, provém das ciências da vida e da ecologia, cuja lógica é circular e includente. Representa a tendência dos ecossistemas ao equilíbrio dinâmico, à interdependência e à cooperação de todos com todos. Como se depreende: são lógicas que se auto-negam: uma privilegia o indivíduo, a outra o coletivo; uma enfatiza a competição, a outra a cooperação; uma a evolução do mais apto, a outra a co-evolução de todos interconectados. “É equivocado, porque alega que a pobreza é causa da degradação ecológica. Portanto: quanto menos pobreza, mais desenvolvimento sustentável haveria e

menos degradação, o que é equivocado. Analisando, porém, criticamente, as causas reais da pobreza e da degradação da natureza, vê-se que resultam, não exclusiva, mas principalmente, do tipo de desenvolvimento praticado. É ele que produz degradação, pois dilapida a natureza, paga baixos salários e gera, assim, pobreza. “A expressão desenvolvimento sustentável representa uma armadilha do sistema imperante: assume os termos da ecologia (sustentabilidade) para esvaziá-los. Assume o ideal da economia (crescimento), mascarando a pobreza que ele mesmo produz. “Socialmente justo: se há uma coisa que o atual desenvolvimento industrial/ capitalista não pode dizer de si mesmo é que seja socialmente justo. Se assim fosse não haveria 1,4 bilhões de famintos no mundo e a maioria das nações na pobreza. Fiquemos apenas com o caso do Brasil. O Atlas Social do Brasil de 2010 (IPEA) refere que cinco mil famílias controlam 46% do PIB. O governo repassa anualmente 125 bilhões de reais ao sistema financeiro para pagar com juros os empréstimos feitos e aplica apenas 40 bilhões para os programas sociais que beneficiam as grandes maiorias pobres. Tudo isso denuncia a falsidade da retórica de um desenvolvimento socialmente justo, impossível dentro do atual paradigma econômico. “Ambientalmente correto: o atual tipo de desenvolvimento se faz movendo uma


Objetivo e temas Em seu site oficial, a Rio+20 se define como fórum de um processo intergovernamental dirigido pelos Estados-Membros das Nações Unidas com a participação plena do Sistema ONU e Major Groups, sendo que diversas reuniões lideradas pelos Estados-Membros estão em andamento para discutir seu objetivo e seus temas. Ressalta que se trata de evento no mais alto nível, com a presença de Chefes de Estado, Chefes de Governo e outros representantes, sendo que dela resultará a produção de um documento político focado. E condiciona a eficácia do engajamento dos EstadosMembros na Rio+20 à qualidade das preparações regionais e nacionais que irão contribuir para o processo global. Entre outras informações de extrema utilidade, o site coloca à disposição das pessoas o esboço zero do documento

O Futuro que Queremos (Janeiro de 2012), em que se nota o que de mais relevante seus organizadores pretendem debater no evento. Entre outros tópicos: • a reafirmação dos princípios da Eco 92 • o balanço do que foi feito nos últimos 20 anos e o que resta a ser feito • o chamado à ação dos “grupos de ponta” no cenário internacional • o terceiro capítulo é todo dedicado à Economia Verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza • propostas de estrutura institucional e organizacional ao desenvolvimento sustentável

Fonte: www.rio.info

Para lembrar

avanços na produção de baixo carbono, na utilização de energias alternativas, no reflorestamento de regiões degradadas e na criação de melhores sumidouros de dejetos. Mas reparemos bem: tudo é realizado desde que não se afetem os lucros, nem se enfraqueça a competição. Aqui a utilização da expressão ‘desenvolvimento sustentável’ possui uma significação política importante: representa uma maneira hábil de desviar a atenção para a mudança de paradigma econômico, necessária se quisermos uma real sustentabilidade. Dentro do atual paradigma, a sustentabilidade é ou localizada ou inexistente”. Divulgação Alexandre Monteiro

guerra irrefreável contra Gaia, arrancando dela tudo o que for útil e objeto de lucro especialmente para aquelas minorias que controlam o processo. Em menos de quarenta anos, segundo o Índice Planeta Vivo da ONU (2010), a biodiversidade global sofreu uma queda de 30%. Apenas de 1998 para cá houve um salto de 35% nas emissões de gases de efeito estufa. Ao invés de falarmos dos limites do crescimento, melhor faríamos se falássemos dos limites da agressão à Terra. “Em conclusão, o modelo padrão de desenvolvimento que se quer sustentável é retórico. Aqui e acolá se verificam

Para Leonardo Boff, no atual paradigma a sustentabilidade ou é localizada ou inexistente

Em 1992, no Rio de Janeiro, representantes de quase todos os países do mundo reuniram-se para decidir que medidas tomar para conseguir diminuir a degradação ambiental e preservar a existência de outras gerações. A intenção, nesse encontro, era introduzir a ideia do desenvolvimento sustentável, um modelo de crescimento econômico menos consumista e mais adequado ao equilíbrio ecológico. A Carta da Terra, documento oficial da Rio 92, elaborou três convenções (Biodiversidade, Desertificação e Mudanças Climáticas), uma declaração de princípios e a Agenda 21 (base para que cada país elabore seu plano de preservação do meio ambiente). Dos 175 países signatários da Agenda 21, 168 confirmaram sua posição de respeitar a Convenção sobre Biodiversidade. Fonte: Arquivo NEO MONDO

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Rio+20

na EUROPA Déficit ecológico é altíssimo, e comissário aconselha caminhar na direção de uma economia verde e inclusiva Camila Turriani Bertoldo, de Viareggio (Itália), Especial para NEO MONDO

A © European Union

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) acontece em um período histórico de crise econômico-financeira e de déficit ecológico altíssimo, e por isso é vista pela Europa como um evento importantíssimo, principalmente para as futuras gerações. As expectativas, entretanto, são baixas, e o ceticismo ainda prevalece.

O comissário europeu para o meio ambiente, Janez Potocnik, pede o esforço e a vontade de todas as partes em se moverem na mesma direção

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Quem se recorda das negociações da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima em 2005, em Montreal, no Canadá, talvez se lembre de algumas vozes que diziam: “Hoje nós salvamos o mundo”. As coisas não andaram tão bem assim, e na verdade em eventos como esse a propaganda otimista costuma ser maior que os fatos concretos. Na Europa, ao fechamento desta edição, são poucos os que realmente creem numa mudança eficaz. Melhor dizendo, organizações governamentais, sim; sociedade civil, não. O comissário europeu para o meio ambiente, Janez Potocnik, disse durante reunião do conselho diretivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Unep) em Nairóbi, em fevereiro, que a Rio+20 pode fazer uma grande diferença na vida de milhões de pessoas. “O resultado poderá ser traduzido em benefícios tangíveis e concretos para todos os países. Ir em direção a uma economia verde e mais inclusiva será a chave para atingir o sucesso. Mas, para isso, é necessário o esforço de todas as partes e a vontade de todos de se mover na mesma direção”, afirmou. As palavras do comissário europeu resumem o espírito com o qual foi concluído o encontro, em que ministros do

ambiente de numerosas nações aceitaram sair da Rio+20 com um pacote de ações concretas que permitam enfrentar os desafios climáticos e ambientais de todo o globo. E confirmaram ainda que a conferência no Rio de Janeiro será uma ocasião única para enfrentar tais desafios – não só ambientais mas também econômicos e sociais – no contexto do desenvolvimento sustentável. Tecnologia verde Algumas organizações pensam diversamente do comissário europeu. Para Enrico Brugnoli, diretor do departamento Terra-Ambiente do Conselho Nacional de Pesquisa italiano (CNR), as declarações finais em eventos como a Rio+20 são sempre muito relevantes do ponto de vista técnico-cientifico, mas o resultado político é frequentemente muito fraco. Segundo o diretor, é preciso


mudança de filosofia de desenvolvimento econômico, uma mudança de política energética“, concluiu. Para que isso aconteça, reforçou Brugnoli, é preciso modificar substancialmente o ritmo de crescimento e de utilização de combustíveis fósseis, bem como aumentar o uso de energia renovável. Para ele, a estrada é bastante clara. O protocolo de Kyoto, por exemplo, muitas vezes se revelou uma arma inócua com efeito paliativo. Muitas multinacionais preferiram reflorestar que investir em tecnologia verde. Mas é o nível de emissão carbônica que deve ser alterado, mesmo porque, como revela o diretor do CNR italiano, nenhum sistema florestal poderá ignorar a crescente emissão de CO2 na atmosfera. Ele entende que a atenção na Rio+20 deve ser redobrada para que as intenções não fiquem só no papel.

Divulgação

renovar o political commitment e criar um acordo que force as diversas nações a trabalhar pelo meio ambiente. “Entendo que os estados em forte crescimento econômico não queiram bancar os custos do ambiente, mas é importante que a comunidade internacional pague integralmente essa conta. O Brasil, por exemplo, que está crescendo enormemente, também deve se esforçar para frear a desmatamento e usar mais a tecnologia verde. É claro que o momento de crise econômico-financeira internacional que estamos vivendo não ajuda. E este é um aspecto político. Do ponto de vista cientifico, creio que se deva seguir o filão das novas tecnologias verdes, zero carbon emission, energia renovável, enfim sempre no maior respeito ao ambiente”, disse. “As acentuadas mudanças climáticas podem diminuir de ritmo só com uma

Brugnoli, do Conselho italiano de Pesquisa, defende que a comunidade internacional pague a conta do meio ambiente; e o Brasil não desmate e use a tecnologia verde

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Rio+20

Expectativas do WWF Itália As questões ambientais sempre foram consideradas com grande atenção e respeito pelos países europeus. NEO MONDO conversou com o ambientalista do Fundo Mundial para a Natureza - World Wide Fund for Nature (WWF) Itália, Gianfranco Bologna, diretor cientifico da organização. Ele revelou suas expectativas para a Rio+20 e fez considerações sobre a saúde ambiental do mundo. Confira os principais pontos da entrevista.

Divulgação

O limite sustentável do planeta Gianfranco Bologna entende que a Terra não suporta mais tamanha pressão causada pelo ser humano. O período que vivemos demonstra claramente a ligação extraordinária entre déficit econômico e déficit ecológico. Para ele, é urgente uma mudança de rota. A capacidade regenerativa das reservas naturais em metabolizar a poluição humana – seja ela líquida, sólida ou gasosa – estaria chegando ao fim, de acordo com o ambientalista. O documento produzido pelo International Council for Science, chamado Planet Under Pressure (Planeta sob pressão), que será apresentado no final de março em Londres, deverá provar esta tese. Bologna revela ainda que a comunidade cientifica começa a aceitar a ideia da criação de um novo período geológico, que iria da Revolução Industrial aos nos-

Bologna, do WWF, entende que estamos diante de uma situação única que não deve ser desperdiçada, com “eficiência e suficiência caminhando juntas”

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sos dias. São dois séculos e meio que evidenciariam como a intervenção da espécie humana é equivalente às grandes forças geológicas que modificaram o planeta. “Os efeitos causados pela queda de um meteorito sobre a Terra, 65 milhões de anos atrás, podem ser comparados aos efeitos causados pelas ações da nossa espécie sobre os sistemas naturais. E infelizmente a parte da sociedade economicamente mais frágil é que mais sente os efeitos dessa mudança”, conta. O aumento de períodos de seca em algumas partes do planeta, da Austrália aos Estados Unidos, da Europa à África do Sul, é uma demonstração disso. Segundo Bologna, uma significativa mudança nos grandes ciclos da natureza, como o ciclo do carbono, do nitrogênio etc., poderá provocar devastadores efeitos sobre a espécie humana. “Nós estamos modificando incrivelmente equilíbrios dinâmicos que nos permitiram tornarmo-nos 7 bilhões de habitantes sobre a Terra”, diz. Sobre a Rio+20 “Cada país tem seu governo e suas problemáticas. Será muito difícil que no Rio se escreva uma carta válida, porque não se escreverá seguramente sobre como é necessário modificar a economia. O texto inicial feito até agora é muito fraco, por ser genérico, muito superficial, que não enfrenta os problemas”, define Bologna. Para o estudioso, é importante que sejam criados objetivos com targets bem precisos, como propõem alguns países sul-americanos. Exemplo disso seria a criação de um parâmetro sobre o uso da água. Se se pensa que uma xícara de café, desde o cultivo dos grãos até que a bebida chegue ao bar, gasta no seu percurso cerca de 100 litros de água; ou que para se obter um quilo de carne é preciso cerca de 15 mil litros de água, a matéria não pode deixar de ser uma das prioridades da Rio+20. “A conferência no Rio é uma ocasião única que não deve ser desperdiçada, visto o momento histórico que estamos atravessando e a presença de todos os países do mundo; certamente não teremos um tratado revolucionário, mas temos que encontrar um meio termo.”

Green Economy Não se trata nesse aspecto de simplesmente investir em tecnologia mais virtuosa para o ambiente, mas reformular a economia. Bologna sugere uma reforma fiscal, na qual se tribute o consumo das reservas naturais. “Não podemos pensar que a solução para estes problemas seja somente a eficiência, utilizando menos matéria-prima e energia para a produção de bens ou de serviços, porque se com isso aumenta o número de consumidores, a vantagem da produção eficiente acaba sendo anulada. Portanto, quem consome deve consumir menos, apenas o suficiente. Eficiência e suficiência devem caminhar juntas”, recomenda. As perspectivas para as gerações futuras não são muito boas. Segundo o diretor do WWF, continuar neste ritmo não levará a uma vida tranquila no futuro, quando se preveem um aumento de refugiados famintos e uma situação cada vez mais difícil de sobrevivência do gênero humano. “Não podemos perder tempo. Fenômenos de alteração climática e ambientais, antes previstos para daqui a 50, 60 anos, poderão acontecer daqui a 15 anos”, alerta. Amazônia a perigo A Amazônia, definida por alguns cientistas como um dos pontos críticos da Terra, não escapa à análise do ambientalista. As mudanças no uso do solo da floresta amazônica podem acelerar um processo de seca e desertificação, que condicionaria equilíbrios climáticos em outras partes do planeta, num pernicioso efeito cascata. “Hoje nós somos quase 7 bilhões de pessoas no mundo, existem populações que vivem na beira de rios, mares e lagos; bastaria que o nível do mar se elevasse de um metro e meio para afogar toda essa gente”, avalia. Para ele, a classe politica mundial não pode perder esta ocasião, e o slogan da Rio+20, “O futuro que queremos”, não poderia ser uma síntese melhor.


Especial Dia Mundial da Água

Um direito de todos? Bruno Molinero, de Palma de Mallorca (Espanha), Especial para NEO MONDO

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dia 22 de março não é feriado, as empresas continuam a pleno vapor e o trânsito das cidades simplesmente não é afetado pela data. Mas nesse dia é comemorado o Dia Mundial da Água. Sabe o que você tem a ver com isso? Muita coisa. Embora a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha declarado que o planeta conseguiu reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso à água potável, atingindo um dos Objetivos do Milênio (ODM) três anos antes do estipulado, mais de 10% da população mundial ainda não têm acesso a fontes de água potável. Isso quer dizer que 600 milhões de pessoas não podem beber um copo d’água livre de contaminação. Para discutir essas e outras questões, aconteceu entre os dias 12 e 17 de março, na cidade francesa de Marseille, o 6º Fórum Mundial da Água. Esse é o maior evento voltado para o tema, em que cerca de 20 mil pessoas se reúnem para encontrar saídas para os principais problemas que envolvem esse recurso. Com o tema “Tempo para Soluções”, a edição deste ano teve um debate acirrado. Em julho do ano passado, a Assembleia Geral da ONU declarou o acesso à água potá-

vel e ao saneamento básico como um direito humano essencial, em uma votação realizada na sede da entidade, em Nova York. A decisão foi tomada por 122 votos a favor e 41 abstenções, informa a ONU em sua página na internet. Não houve voto contra, apesar de 29 países terem se ausentado da votação. Mesmo assim, organizações como a Anistia Internacional e a WASH United mostram preocupação com os efeitos da decisão. E decidiram levar o tema ao Fórum Mundial. Grupo Azul O problema é que antes de cada Fórum acontecer, as autoridades redigem uma espécie de rascunho com os temas da reunião. O documento do 6º Fórum até faz referência ao reconhecimento da água como um direito básico, mas, segundo essas instituições internacionais, deixa margem para que os Estados decidam por conta própria se estão obrigados a efetivar realmente esses direitos. O medo de alguns países é que pessoas privadas de água e saneamento possam exigir responsabilidade de seus governos por essa situação. Mas nem todos pensam da mesma maneira. Um grupo de países conhecido como Grupo Azul, formado por Brasil, Espanha

e outros Estados, defende a promoção do direito humano à água e ao saneamento. “Meu governo tem um compromisso firme com a iniciativa do direito ao acesso à água potável e ao saneamento. Por ele, a Espanha vai apresentar no Fórum o chamado Grupo Azul, criado em 2011 e cujo objetivo é impulsionar o direito humano à água potável e ao saneamento”, afirmou Gonzalo de Benito, secretário de Estado para Assuntos Exteriores da Espanha. Embora os países do Grupo Azul e seus simpatizantes sejam maioria, o debate no Fórum não foi fácil. Países de peso, como Reino Unido e Canadá, não são favoráveis às medidas. O Reino Unido, por exemplo, nunca assinou uma declaração que assegure o direito à água e ao saneamento. Mas, para que o direito à água potável seja realmente concretizado, não bastam os Fóruns e as discussões sobre o tema. A Anistia Internacional, por exemplo, aponta como fundamental a participação da população. Segundo ela, só assim os Estados poderão ser pressionados a respeitar esse direito. Viu? Essa discussão, o 22 de março e o 6º Fórum Mundial da Água têm tudo a ver com você. Neo Mondo - Março/Abril 2012

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NEO MONDO e ECOVOXTV‌

Surge uma nova parceria!


Humberto Mesquita

Jorge Bodanzky

Jornalista, Editor de jornalismo nas televisões: TV Excelsior, TV Bandeirantes, TV Tupi, Sistema Brasileiro de Televisão. Escritor com duas obras publicadas: “Tupi, a greve da Fome” e “Santa Brígida”. Apresentou os programas Pinga Fogo (TV Tupi), Xeque Mate (TV Bandeirantes) e Isto é Brasil (SBT). Sócio Proprietário do Eco Clube Mesqtenis. Escreveu para as revistas O Cruzeiro e Realidade. É articulista nos sites Vote Brasil, El Theatro e Revista Neomondo.

Cineasta, estudou arquitetura e artes plásticas na Universidade de Brasília. Atuou como câmera e fotógrafo. Cursou o Instituto de Cinematografia em Ulm. A partir de 1970, produziu e dirigiu inúmeros documentários (Tristes Trópicos, A Igreja dos Oprimidos) e os filmes Iracema uma Transaamazônica, Os Mucker e Terceiro Milênio, No meio do rio entre as Árvores, entre outros, tendo recebido prêmios nacionais e internacionais. Atualmente é Diretor da TV Navegar.

A ECOVOXTV surge por iniciativa de dois talentos: Humberto Mesquita e Jorge Bodanzky. A criação deste espaço na comunicação digital veio preencher a ausência da interatividade entre o meio e a sociedade em geral. Voltada para a responsabilidade SOCIOAMBIENTAL, busca viabilizar a conscientização e a manifestação com relatos e indagações da população. Com a ideia de conscientizar um “projeto de vida limpa“, os idealizadores dessa webtv buscam envolver de forma abrangente os conflitos atuais como: violência, drogas e vícios em geral, abominando práticas racistas e preconceituosas. A sua programação será direcionada para a liberdade de expressão e dirigida para uma ampla interação com o público, fazendo-o participar das grandes decisões que envolvam a sociedade. O portal da ECOVOXTV abrigará produções de outros empreendimentos voltados para a sustentabilidade. Esta mídia estará interagindo com muitos organismos internacionais, buscando nessa convivência o desenvolvimento de novas ideias. Estará presente em todas as campanhas que tenham esse significado e partilhando das ações em favor das minorias submetidas à arrogância dos “donos do mundo”.

ECOVOXTV é isso. Sua bandeira é a sustentabilidade. Seu lema é uma vida limpa.


De Beber e Purificar N

a quinta-feira (22/03) se comemorou o Dia da Água. A data é uma ótima oportunidade para honrarmos esse bem tão precioso em nossas vidas. A água assume várias funções e significados profundos que podem nos ajudar a conhecê-la e compreendê-la melhor e assim, reciprocamente, nos conheceremos mais. A molécula H2O e suas associações com outros elementos do planeta, como o magnésio, ferro, cloro e zinco, constituem o aspecto mais denso da água. Ela é responsável por 2/3 da superfície da Terra e por 70% do nosso corpo. É o elemento fundamental da vida e por isso mesmo a sua presença é o indicador de existência ou sua ausência de vida em outros planetas. Qualidade e bom uso em casa Usamos a água no chuveiro e nas torneiras, a bebemos e com ela nutrimos nosso corpo. No entanto, esta água precisa de duas coisas básicas: qualidade e bom uso. No quesito qualidade devemos, em primeiro lugar, tentar não sujar a água. É importante evitar jogar óleo de cozinha nos canos e ele-

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mentos não biodegradáveis ralo abaixo, por exemplo. Nas boas práticas é sempre bom lembrar de fazer um uso racional deste líquido precioso, consertando vazamentos, diminuindo o tempo de banhos, ensaboando as louças com a torneira fechada e banindo de vez práticas como a “vassoura d’água” (usando a água para limpar calçadas, quintais etc.). Por sua vez, a água destinada à ingestão demanda uma qualidade um pouco maior, e aqui temos um grande desafio a vencer. De um lado, a água mais saudável é a mineral, pois a que vem da torneira possui muito cloro, flúor e algumas outras substâncias químicas que podem ser prejudiciais ao longo do tempo. Na maioria das vezes a água que sai da torneira tem um baixo pH, que a torna mais ácida e ainda mais prejudicial ao corpo. Por outro lado, a água mineral desequilibra o ecossistema do qual ela é retirada. Afinal, quando retiramos a água de um lugar ela deixa de nutrir os ecossistemas por onde passaria. Rios deixam de existir, ou diminuem de tamanho, as matas ciliares perdem vigor e, assim, todas as plantas e animais em volta sofrem direta e indiretamente. Além disso, na maioria das vezes, a

água mineral é transportada em garrafões de plástico que, quando aquecidos sob o sol, por exemplo, podem liberar substâncias tóxicas provindas do plástico, como a dioxina. Isso tudo sem contar a contaminação do ar feita pelos veículos que transportam os garrafões da fonte até a sua casa. A solução para este problema está em alguns filtros que, além de removerem partículas e bactérias, também retiram flúor, cloro, metais pesados e demais substâncias tóxicas da água da cozinha. De quebra, ainda elevam o pH para um nível mais alcalino, tornando o consumo possível e ajudando a manter o corpo mais saudável. Se estes filtros ainda forem aplicados ao chuveiro, haverá um cuidado melhor e mais natural com a pele e os cabelos, que ficarão mais belos e fortes sem a necessidade de tantos produtos químicos. Sentimentos vitais A água também simboliza os nossos sentimentos, pois ela, bem como as emoções, é o veículo para a manifestação da vida. Assim como acontece com a água, também poluímos nossas emoções e sentimentos pu-


Allan Lopes

seu galão de água, caixa d’água, filtro, garrafa, copo ou caneca com que você se hidrata, ou na garrafinha de corrida ou academia, ou mesmo na sua própria caixa d´água - ou em tudo isso junto. Assim você incentiva que a água seja uma mensageira destas qualidades em você e em todos os que nela tocarem.

ros com todo tipo de bobagens. Desde a preocupação com a aceitação por outras pessoas até circunstâncias e experiências que nos afrontam e nos diminuem emocionalmente. Geralmente revidamos essas situações de forma colérica ou simplesmente “engolimos o sapo”, sem tentar buscar uma solução válida e que traga crescimento e aprendizado. Ao contrário de deixarmos o medo - o maior poluidor de nossas emoções e sentimentos - habitar nossos pensamentos e definir nossas ações, devemos expressar o amor que nos liberta e nos purifica destas toxinas emocionais. O amor é o contrário do medo, e o medo é o contrário da vida. Afinal, não há vida plena onde há medo, e não há medo onde há amor. Querer, sentir e executar o amor é tarefa bela de se dizer e difícil de se concretizar, mas vale a pena quando tentamos realizá-la. Minha sugestão: encontre ou ligue para alguém que você ama e expresse seu amor em ações, palavras e sentimentos. Não precisa ser amor romântico ou erótico, pode ser o amor por uma amiga, filho, ou pai e mãe. Tente e tenho certeza que isso somará em sua felicidade. Esta tentativa é também chamada de coragem. A palavra

coragem significa agir com o coração, ou agir com amor. Portanto, seja corajoso, ame, despolua, purifique e consagre o seu interior. Portadora de mensagens A água também possui uma faceta mensageira, função original do elemento Ar. Ela tem a capacidade de levar mensagens de onde esteve, do que presenciou e até mesmo de e para onde vai. Em seu magnífico trabalho o Sr. Masaru Emoto, que executou experiências com a água, conclui que ela armazena memórias de felicidade, harmoniza frases, músicas, orações e exposição a lugares e equipamentos eletrônicos. As mensagens da água nos dizem para cuidarmos mais de nós mesmos, de nossos sentimentos, de nosso próximo e de nosso planeta. Também nos mostra a nossa parcela de responsabilidade, pois nossos sentimentos não são apenas nossos, mas transmitidos na água por todo o planeta. Para colocar esses aprendizados em prática, escreva em um pano, papel ou plástico os sentimentos que você mais quer que sejam purificados e aprimorados em sua vida. Depois disso, cole-os ou coloque-os sobre

Energias superiores A água pode ser o veículo dos deuses, do fogo e do espírito. Afinal, no nosso dia-a-dia estamos acostumados a ter a água como mensageira das energias superiores. Todos nós já vimos, em algum momento, águas bentas, águas fluidificadas, água de benzedeira, águas de cheiro, florais, Água Diamante, Água Hexagonal, Garrafada e mais uma grande série de águas que podem trazer curas ou alívios para nosso corpo, espírito e alma. Você mesmo pode fabricar a sua água energizada, deixando-a em seu local de meditações ou orações durante o tempo em que faz suas práticas. Depois é só tomar ou espalhar o líquido pela casa. As águas energizadas possuem um efeito muito benéfico sobre a casa e consequentemente sobre todos os seus moradores e frequentadores. E, como sabemos, a casa é uma poderosa aliada para atingirmos nossos objetivos e metas, além de conquistarmos a felicidade plena em nossas vidas. Desejo que o purificado Dia da Água se prolongue em sua vida. Seja Feliz! * Publicado originalmente em www.personare.com.br/revista

Allan Lopes Geobiólogo, autor do projeto Geosounds Melodias para a Terra, fundador e presidente do Instituto Brasileiro de Geobiologia (IBG) E-mail: allanlopes@allanlopes.com.br http://www.personare.com.br/quemsomos/colaborador/57/allan-lopes Neo Mondo - Março/Abril 2012

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Especial Dia Mundial da Água

6th Water World Forum / Christophe Taamourte

O brasileiro Benedito Braga presidiu os trabalhos: a água como elemento básico para o desenvolvimento e a produção de bens

Natureza, drogas e pedofilia no coração da floresta amazônica Gabriel Arcanjo Nogueira*

Sexta edição do Fórum Mundial da Água reúne 70 países em busca de iniciativas que garantam uma gestão eficaz dos recursos hídricos do planeta Da Redação

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Soluções

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e 12 a 17 de março, cerca de 400 membros institucionais de 70 países estiveram reunidos em Marselha, na França, durante o 6º Fórum Mundial da Água. Realizado a cada três anos pelo Conselho Mundial da Água, ele é o principal evento global sobre o assunto e tem como objetivo construir comprometimentos técnicos e políticos para a conservação, planejamento e gestão da água em todo o planeta. O tema desta edição foi “Tempo de Soluções”, e o evento procurou incentivar os representantes dos países participantes a avançarem de um patamar teórico para a apresentação de soluções práticas.


“A problemática da água vai além do acesso ao recurso. Precisamos entender a água como um elemento básico para o desenvolvimento e é isso que pretendemos trazer para a comunidade internacional”, afirmou o presidente do Fórum, Benedito Braga, em entrevista concedida à Rádio ONU. Uma das maiores autoridades sobre recursos hídricos no mundo, o brasileiro é vice-presidente do Conselho Mundial da Água. Na opinião dele, o evento busca mudar a visão de que o recurso é importante somente para consumo direto e para diluição de efluentes. “Sem querer desprezar a importância destes temas, há muito mais a resolver. A água é também um elemento fundamental para produzir alimentos, gerar energia e desenvolvimento”, disse. Além do presidente, outros 250 brasileiros participaram do Fórum, representando 40 instituições públicas e privadas. Eles integraram o Pavilhão Brasil, uma área destinada à apresentação de soluções técnicas e boas práticas desenvolvidas em solo brasileiro. Boa parte do grupo também esteve presente no painel “A Caminho da Rio+20”, que sinalizou as principais questões sobre a água a serem levadas à Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontece em junho. A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, foi um dos interlocutores do painel. Na opinião dela, as discussões do Fórum vão convergir para uma agenda comum e para o aprimoramento do diálogo sobre a importância da água para o desenvolvimento

sustentável. “Temos dois temas muito importantes: água e floresta, que nos coloca alinhados com a cooperação internacional”, disse. Segundo declarou a ministra, a presidente Dilma Rousseff avalizou a sugestão da Agência Nacional de Águas (ANA), pela qual o Brasil deveria candidatar-se a sediar o 8° Fórum Mundial da Água, em 2018. O próximo encontro, em 2015, vai acontecer na Coreia do Sul. Um raio-x da oferta de água no país Durante o Fórum Mundial, a ANA apresentou como solução de monitoramento da eficiência no abastecimento o Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água, um diagnóstico sobre a situação da oferta e produção de água nos 5.565 municípios brasileiros. O trabalho, divulgado em 2011, consolidou estudos desenvolvidos no período de 2006 a 2009. O levantamento apontou que 55% dos municípios brasileiros podem sofrer com falta d’ água até o ano de 2015. Desse universo, 84% necessitam de investimento para adequação dos sistemas utilizados, enquanto 16% precisam de novas alternativas para o abastecimento. Para avaliar as necessidades dos municípios até 2015, o levantamento considerou as demandas urbanas, a disponibilidade hídrica dos mananciais, a capacidade dos sistemas de produção de água e os serviços de coleta e tratamento de esgotos. As regiões Norte e Nordeste foram apontadas como as mais deficitárias. Na comparação entre a oferta de água e a demanda do recurso, apenas 35% dos muni-

cípios da região Norte foram classificados como “satisfatórios”. A precariedade dos sistemas existentes é o principal problema da região. Cerca de 59% dos municípios requerem ampliação do sistema de abastecimento atual, enquanto 6% pedem novo manancial. No Nordeste, a situação é ainda mais complexa: apenas 26% das sedes municipais foram classificadas como “satisfatórias” e somente 18% da população que vive na região são atendidos por esses sistemas. Isso indica que a grande maioria da população é atendida por sistemas deficitários. Destes, 60% requerem ampliação e 14% necessitam de novos mananciais. Os estados do Maranhão e do Piauí são os que têm maiores problemas nos sistemas atuais, enquanto Paraíba e Pernambuco são os que necessitam de mais investimentos em novos mananciais. Nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, 50% das sedes municipais apresentaram condições satisfatórias. No estado de São Paulo, esse índice chega a 64%. Apesar do número expressivo de municípios nessas condições, apenas 29% da população do estado vivem nesses locais. O restante, cerca de 71%, está localizado em municípios que necessitam de investimentos. Diferente da situação encontrada na região Nordeste, no estado de São Paulo, a oferta de água superficial é elevada, porém muitos mananciais são afetados por problemas de qualidade de água, provocados pelos grandes aglomerados urbanos. Além de apresentar o panorama atual da oferta, o Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de água indicou a necessidade de investimento no setor na ordem de 22 bilhões de reais.

Resultados da etapa de Avaliação Oferta/Demanda - 2015 Avaliação dos Mananciais e Sistemas Produtores Região Geográfica

Sedes Municipais

Satisfatórios

Requer Ampliação de Sistema(1)

Requer Novo Manancial(2)

Número

%

Número

%

Número

%

449

156

35

266

59

27

6

1.794

462

26

1.068

60

248

14

466

260

56

168

36

38

8

Sudeste

1.668

932

56

647

39

83

5

Sul

1.188

692

59

407

35

75

6

2.502

45

2.556

46

471

9

Norte Nordeste Centro-Oeste

Total Brasil

5.565

(3)

(1) Ampliação de sistemas existentes pressupõe manter os mananciais atualmente utilizados. (2) Investimentos em novos mananciais implicam necessariamente investimentos em novos sistemas de produção (3) Sedes municipais sem informação: 36 Fonte: Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água

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Divulgação

Especial Dia Mundial da Água

7 dias de

Solimões Natureza, drogas e pedofilia no coração da floresta amazônica Bruno Molinero Especial para NEO MONDO

N

a Amazônia, um rio é muito mais do que água correndo. Ali, o rio é veia, é sangue e é vida. Curumins de comunidades ribeirinhas viajam durante mais de quatro horas de barco para ir à escola, enquanto botos, tucuxis e peixes-boi se entrelaçam com o rastro dos recreios. Em um lugar em que a discussão por mais estradas e caminhões não faz sentido, açaizeiros fazem trânsito nas margens e são as castanheiras que verticalizam o horizonte. Nessas estradas amazônicas, o único barulho vem dos milhares de estrelas refletidas na água.

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Foi por essa paisagem que eu e meu companheiro de viagem, o também repórter Mateus Luiz de Souza, decidimos caminhar. Ou melhor, navegar. Em sete dias, percorremos os mais de 1.600 km do rio Solimões, desde Manaus até a cidade de Tabatinga, na tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru. DIA 1 Acordamos às 6 horas e arrumamos todas as nossas coisas. O plano era o seguinte: chegar cedo ao porto e pegar a lancha que levaria apenas dois dias até

Tabatinga. Nosso objetivo desde o começo era chegar à fronteira o mais rápido possível. Estávamos em Manaus e, àquela hora, as primeiras pessoas saíam de casa para trabalhar. Os ônibus começavam a tomar as ruas e o calor já era insuportável. Por sono ou por acreditar que tínhamos muito tempo, decidimos caminhar até o porto. Numa chegada cinematográfica de mau gosto, assim que pisamos na margem vimos nossa lancha ganhando o rio, já a alguns metros de distância. Fizemos o que nos restava: ficamos alguns minu-


o rio e nos deixasse o mais próximo possível do destino. Compramos passagens para um barco em direção à cidade de Tefé, na metade do caminho. Mas não um barco qualquer. Passaríamos dois dias em um dos famosos e folclóricos recreios. Recreio é um barco relativamente grande e com um vão central, em que as pessoas amarram suas redes. Além de demorar o mesmo tempo da lancha perdida para chegar apenas até a metade do caminho, teríamos que amargurar duas madrugadas numa rede no meio da Amazônia. É claro que não tínhamos uma rede na mala. Mas esse era o menor dos problemas. Comprar uma rede é relativamente fácil no porto de Manaus. Como o barco não tem ganchos, compramos também pedaços de corda para amarrar nossas futuras camas no teto do recreio. Foi uma das cenas mais patéticas. Nós, dois homens barbados, demoramos mais de 40 minutos para pendurá-las. Finalmente o barco saiu. Depois de acordar cedo e quase perder a viagem, testei a rede pela primeira vez e dormi. Perdi o Encontro das Águas, a cena do recreio deixando Manaus para trás e se embrenhando pela mata e as crianças da cidade correndo para acompanhar o curso da embarcação que afasta cada vez mais.

tos vendo o barco partir. Sim, perdemos a lancha. Mas também ganhamos a primeira lição da viagem: a pressa paulistana é incompatível com o lugar. A solução era encontrar outra maneira de chegar a Tabatinga. Não demoramos muito. Para chegar lá, seria necessário vencer todo o rio Solimões. Desde Manaus, quando ele e o rio Negro protagonizam o incrível Encontro das Águas e formam o rio Amazonas, até o lugar em que o Solimões entra em território brasileiro. Portanto, decidimos pegar um outro barco que subisse

DIA 2 Dormir em um recreio não é nada fácil. É praticamente impossível encontrar uma posição confortável na rede. Seus vizinhos se mexem durante a noite, e um chute sempre sobra para a sua cabeça. Pensando no calor amazônico, não levamos cobertores e sofremos com o frio da madrugada. O barco, claro, é completamente aberto. Isso sem falar no costume de apagar todas as luzes às 20 horas. Sem relógio, decidimos dormir nesse horário e acordamos às 3 horas, ainda escuro, achando que já era hora do café da manhã. De manhã, a cena é de tirar o fôlego. Árvores de todos os tipos, pequenas casas que abrigam uma ou duas famílias e pássaros de todas as cores povoam as duas margens. O cheiro é de mato. De vez em quando, um boto coloca a barbatana para fora a fim de respirar. O barco vai devagar e produz ondas simétricas que se chocam com os infinitos galhos e troncos que boiam na água.

A comida é relativamente tranquila. A parte boa é que o refeitório tem ar condicionado, o que o transforma na parte mais concorrida. Depois do almoço, uma menina de Manaus puxou conversa. “Você não é daqui, né?”. Quando contei que era de São Paulo e que estava fazendo uma reportagem na região, ela disse: “Eu percebi. Vocês demoraram muito para amarrar a rede”. E depois deu uma risada gostosa. DIA 3 Último dia de barco. Talvez, pior do que dormir seja tomar banho dentro do recreio. O lugar é minúsculo e mais parece uma estufa. A parte boa é a água gelada, que alivia o calor que faz durante o dia. Balançando de um lado para outro e sem um lugar para apoiar o sabonete e o xampu, tomar uma ducha se transforma em desafio. Se o banho não fosse a única maneira de retirar o suor que gruda na pele, poucos enfrentariam a experiência. Chegamos a Tefé no meio do dia. Depois de tanta água, era bom pisar em terra firme de novo. Os outros passageiros desembarcavam de tudo: roupas, comida e até motos saíam de dentro do barco e ganhavam as ruas da cidade. Tefé tem 60 mil habitantes e um número impressionante de motocicletas. Com colete amarelo, os chamados mototáxis estão por toda parte. Mas nós precisávamos ir à fronteira. Conversamos com pessoas no porto e descobrimos que de Tefé não saem barcos para Tabatinga. A única maneira seria pegar uma lancha até Santo Antonio do Içá e depois outra até nosso destino. Ou então embarcarmos em algum avião. Passar dois dias cercados de água não é fácil. Mesmo um pouco mais cara, a ideia do avião era fantástica. Até porque seria um desses famosos teco-teco, que voam baixo e costumam carregar apenas carga. Ou seja: mais uma aventura. Porém, não é nada fácil fugir do rio. Entramos em uma enorme lista de espera para pegar o voo e só conseguiríamos embarcar em duas semanas. A solução foi encontrar um hotel e se contentar com a passagem para Santo Antonio do Içá. A parte ruim é que o barco sairia apenas em dois dias. A boa é que finalmente dormiríamos em uma cama.

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Especial Dia Mundial da Água

DIA 5 Acordamos cedo para não perder a lancha. Afinal, não podíamos cometer o mesmo erro duas vezes na mesma viagem. Porém, a lancha é muito diferente de um recreio. Como as viagens costumam durar apenas 12 horas, não há espaço para pendurar redes ou local para tomar banho. A embarcação é repleta de bancos, como se fosse um ônibus. Por excesso de pessoas, fui obrigado a ficar na parte detrás do barco. Essa área normalmente é aberta e com assentos improvisados, sem lugar para apoiar as costas. Nesse dia, o vento estava muito forte e, somado à velocidade da lancha, transformava os fundos do barco em um pequeno ciclone. Por conta disso, minha passagem voou e foi engolida pelo rio Solimões. Assim como no recreio, as lanchas também oferecem almoço. Mas a vida na rede e no recreio é mais divertida. Por conta do tempo, todos começam a conversar e não é incomum desembarcar com um novo melhor amigo. A relação nos barcos rápidos é mais fria. Há pouca conversa e todos esperam ansiosos para chegar ao destino. Nós chegamos a Santo Antonio do Içá durante a noite. O porto é um dos mais feios entre os que vimos pelo caminho.

Divulgação

DIA 4 O mercado público de Tefé impressiona. Frutas amazônicas se misturam com cabeças de gado e peças de roupa. É como se fosse uma 25 de Março paulistana às margens do rio. Mas não é pelo mercado que a cidade é famosa. Tefé abriga o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, criado em 1999. Uma das reservas ecológicas mais importantes do país, o Mamirauá tem uma área de 3,5 milhões de hectares destinados à preservação e à pesquisa do bioma amazônico. Por ser muito grande, populações ribeirinhas vivem dentro da reserva. Protegida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a área promove ao mesmo tempo conservação da natureza e melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. Se você não é cientista nem pretende desenvolver um estudo dentro do instituto, ainda pode visitar a reserva. A pousada flutuante Uacari oferece pacotes de 3, 4 e 7 noites, com visitas à reserva, contato com a população ribeirinha e diversas opções de trilha. É uma das poucas oportunidades de acordar, abrir a janela do seu quarto e dar bom-dia para um jacaré. Para maiores informações, visite o site: www.uakarilodge.com.br.

“Comprar uma rede é relativamente fácil... demoramos mais de 40 minutos para pendurar nossas camas no teto do recreio”

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Assim que desembarcamos, ouvimos histórias de um incêndio que ocorrera dias antes. Uma central elétrica no meio da floresta pegou fogo e metade da cidade estava sem luz. Claro que o hotel onde iríamos nos hospedar ficava na zona apagada de Santo Antonio. A cidade era um breu. Sem a luz das motos era impossível enxergar a um palmo de distância. Mesmo as estrelas e a lua, que clareavam o céu, não ajudavam muito. Com isso, a cidade tinha tons sinistros. Árvores ganhavam contornos fantasmagóricos. Os poucos pedestres caminhavam calados, como se seguissem para um enterro às escuras. Ao chegar ao hotel, tudo estava iluminado à luz de velas. Era uma casa grande, repleta de quartos. Pelos cantos, esculturas de animais amazônicos que, iluminados pelas chamas, pareciam nos seguir com olhares. Para acabar com o clima de filme de suspense, decidimos ir a uma festa. Dois paulistanos numa balada em Santo Antonio do Içá. A cena é quase dantesca. Quando chegamos, uma fila de garotas de minissaia desfilava pelo palco e dançava ao ritmo de funk carioca. Era um concurso entre as meninas da cidade, a maior parte delas menores de idade, de quem


“A pressa paulistana é incompatível com o lugar em que o rio é veia, é sangue, é vida... cresce uma nova fauna dentro de nós”

rebolava mais. Ali, meninas de 14 anos oferecem sexo. Meninas de 20 anos já estão casadas e com filhos. Conhecemos a Maria nessa festa. Com traços indígenas muito fortes e apenas 14 anos nas costas, ela disse ter se apaixonado por nós. Enquanto víamos homens do Exército levar meninas para fora da boate, Maria insistia para que fôssemos a outro lugar. Dizia já ter estado com vários homens e que, por ela, se casaria e viria morar em São Paulo. DIA 6 Talvez pela cerveja barata ou pelo cansaço de estar no coração da floresta amazônica, dormimos todo o dia. O domingo em Santo Antonio do Içá é um grande marasmo. Salvo por algumas motocicletas que desafiam as leis da física ao transportar seis pessoas ao mesmo tempo, nada se move na cidade. Compramos finalmente nossa passagem para Tabatinga. A lancha sairia no dia seguinte pela manhã. Ao voltar para o hotel, encontramos alguns policiais militares de

Manaus que foram transferidos para Santo Antonio. Seus rostos eram de desolação. “Não aguentamos mais ficar aqui. A cidade é muito pequena, nada acontece. Acho que já conhecemos todas as mulheres daqui”, contou um deles, que foi abandonado pela mulher ao ser transferido. Eles contaram que policiais militares atuam na região por conta do tráfico de drogas. O rio Solimões é a maior entrada de cocaína do país. A droga vem da Colômbia e entra de barco, para depois ser distribuída pelo Brasil. “O problema é que ela entra em barcos pequenos. Quando fazemos uma ronda com a lancha da polícia, as voadeiras com cocaína escutam de longe e se escondem em algum afluente. Quando passamos, elas continuam seu curso tranquilamente.” DIA 7 Acordamos mais cedo do que todos os outros dias. O medo de perder a lancha para Tabatinga era grande. Quando subimos no barco, o peito ficou pesado.

Este seria o último trecho que percorreríamos no rio Solimões. A água barrenta do rio contrastava com o nascer do Sol. O rio Solimões é um rio de águas brancas, ou seja, um rio com muitos nutrientes. Por isso, a vida em suas águas é abundante. A quantidade de peixes, mamíferos e mosquitos impressiona. Nosso percurso até Tabatinga foi como o caminho de um rio de água branca. Cheio de curvas, sinuosidades e nutrientes. A última surpresa aconteceu a poucos quilômetros de Tabatinga. Depois do pôr-do-sol mais laranja da minha vida, a gasolina da lancha acabou. A viagem, que normalmente duraria 12 horas, levou 16 horas para ser terminada. Ao pisar no porto de Tabatinga, sentíamos um misto de alívio e felicidade. Alegria por não ter pego um avião em Tefé, por ter perdido a lancha em Manaus, por ter aprendido a amarrar uma rede e por percorrer toda a extensão de um dos rios mais importantes do nosso país. Os nutrientes dessa viagem foram mais do que suficientes para crescer uma nova fauna dentro de nós.

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Especial Dia Mundial da Água

ABC paulista pode ficar sem abastecimento até 2015 Novas fontes são necessárias para evitar a falta d´água em uma das regiões mais populosas do estado

Sabesp

Da Redação

A Estação de Tratamento do ABC, localizada na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul, beneficia 1,4 milhão de pessoas


A

ssim como a capital, os municípios paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema dependem do desenvolvimento de um novo manancial até o ano de 2015 para evitar a falta d’ água. A conclusão faz parte do estudo Atlas Brasil, coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e que traça um panorama sobre o abastecimento urbano em 5.565 municípios do país. As cidades citadas estão entre as 74 do estado de São Paulo que necessitam de novos mananciais devido à insuficiência das disponibilidades hídricas atuais. Outras 154 requerem adequação do sistema de produção de água. Atualmente os quatro municípios do ABC são abastecidos de diferentes formas pelos sistemas integrados da Cantareira, do Rio Claro e do Rio Grande. O Atlas Brasil propôs algumas medidas para que esses sistemas possam suprir a demanda de água, entre elas o aproveitamento do Braço do Rio Pequeno da Represa Billings (Sistema Rio Grande), a renovação da Outorga do sistema Cantareira, prevista para 2014 e reversões da Bacia do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira. O estudo defende ainda a necessidade de soluções integradas entre todos os sistemas de abastecimento, o que exigirá do poder público uma atuação estratégica para viabilizá-las. Investimento na redução de perdas Se as previsões não são as melhores, resta aos municípios procurar alternativas para garantir o abastecimento de água a seus cidadãos. Santo André, cidade com cerca de 667 mil habitantes, é a única da região na qual os serviços de distribuição de água, coleta de esgoto, gestão de resíduos sólidos, drenagem urbana, gestão ambiental e gestão de riscos ambientais (defesa civil) são centralizados. O responsável por todos esses serviços é o Serviço Municipal de Saneamento Ambiental (Semasa). Segundo informou a Assessoria de Comunicação do órgão, atualmente a cidade não enfrenta problemas no abastecimento, porém, devido às previsões para os próximos anos, o Semasa vem trabalhando em conjunto com a Sabesp em busca de novas fontes que possam contribuir para o abastecimento.

Do total de água consumido na cidade, 74% vêm do Sistema Rio Claro e 20% pelo Rio Grande, dois dos principais sistemas que abastecem a região metropolitana de São Paulo e que demandam novos investimentos. Os outros 6% da água são produzidos localmente, pelo Semasa, com captação no manancial do Pedroso (na bacia da Represa Billings) e tratamento na Estação Guarará. Segundo as projeções do órgão, a cada ano o consumo de água na cidade cresce cerca de 5%. Para compensar o crescimento da demanda, a alternativa tem sido reduzir o volume de perdas, que hoje representam cerca de 26,5%, um dos melhores índices do País. Para manter a excelência nessa área, o Semasa vem trabalhando em diversas frentes. Uma das principais é o programa Caça-Fraudes, que visa combater os chamados “gatos” no consumo de água, buscando flagrar irregularidades em hidrômetros comerciais, residenciais e industriais. O projeto tem financiamento do governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e soma um investimento de R$ 3,7 milhões. A ação teve início em fevereiro de 2011 e está prevista durante 30 meses, período no qual serão realizadas cerca de 36 mil vistorias em residências com suspeita de irregularidades. Quem for pego tentando fraudar pode ser multado em até 5 mil FMP (Fração Mínima de Parcelamento), o que corresponde a aproximadamente 11.850 reais. Outras iniciativas do Semasa para redução de perdas incluem a instalação de válvulas redutoras de pressão, troca de hidrômetros, varredura eletrônica para detecção de vazamentos não visíveis, utilização de água de reúso e investimentos para aumentar a agilidade nas manutenções em redes e ligações, evitando assim o desperdício causado por vazamentos. Segundo o órgão, porém, para que essas iniciativas sejam eficazes, a colaboração dos munícipes também é peçachave. “A educação da população é de suma importância para a formação de uma base que exija uma prestação de serviços de melhor qualidade. Condutas corretas no uso dos recursos naturais disponíveis, tanto individuais quanto coletivas, também são imprescindíveis”, afirma o Semasa em comunicado. Neo Mondo - Março/Abril 2012

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Marcio Thamos

Mitologia clássica:

as águas do dilúvio

O

soberano Júpiter estava decidido a acabar com a raça humana – depois conceberia uma geração melhor, mais digna de respirar o ar da vida e que, de boa vontade, soubesse cultuar os deuses imortais. Assim, ordena a Éolo, o rei das tempestades, que prenda os ventos que dispersam as nuvens e solte apenas os que ajuntam nos céus os nimbos carregados e sombrios. Rebenta sem demora o estupendo temporal. Rompendo os ares em contínuos aguaceiros, a estrondosa chuvarada já não para de jorrar – chuva grossa, violenta, chuva imensa, um infinito e torrentoso chuvaréu. Mas à ira de Júpiter não bastam as águas que do céu despencam. Pede ainda ajuda ao poderoso irmão senhor dos mares. E Netuno, convocando os rios todos, lhes ordena que engrossem suas correntezas e se lancem desenfreados sobre as terras. De imediato eles partem – caudalosos, excessivos, transbordantes. Depois, o próprio deus azul agita as fortes ondas e faz com que se elevem extraordinariamente. Em seguida, vibrando contra as praias seu terrível tridente, sacode as terras, e as terras tremem por toda a parte, abrindo novos caminhos para as águas que se espalham. Perdeu num instante o lavrador o trabalho de um ano inteiro. Nos campos inundados já não se veem plantações, rebanhos já não se veem. A assombrosa torrente tudo arrasta consigo – pedras, plantas, homens, animais. Casas e edificações são der-

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rubadas, e as que restam de pé são encobertas pela enchente. Descendo a correnteza, pelos fundos vales, vão lutando contra as águas o tigre e o leão; nadam juntos, lado a lado, o lobo e o cordeiro. Onde ainda há pouco brincavam delicadas ovelhinhas, agora, desajeitadas, passeiam pesadas focas; os peixes se confundem entre as copas das árvores, e os golfinhos trombam nos troncos que deparam de repente. As aves, já exaustas e sem ter onde pousar, uma a uma, vão tombando do alto do céu. Em pouco tempo, somem as florestas, desaparecem os montes, o mar já não tem praias. As terras todas ficaram submersas. A bela região da Fócida, na Grécia, paisagem montanhosa e inspiradora, tornou-se então um vasto e fundo lago. Ali, numa pequena barca, navega a esmo o nobre filho de Prometeu e, junto com a terna esposa, vem aportar no alto do Parnaso. Deucalião e Pirra são – só eles! – o exemplo que restou de toda a espécie humana. Ao ver os dois assim perdidos, rodeados pelas águas, Júpiter, sabendo o quanto eram bons e piedosos, decidiu cessar a inundação. Também Netuno refreou a fúria dos mares e ordenou que se amansassem os rios. O céu de novo contemplou a terra e a terra outra vez mirou o céu. Baixando as águas, eles descem a montanha e sem demora se dirigem ao oráculo de Têmis, ansiosos por saber o que fazer. No sagrado edifício manchado de musgos, aproximam-se, respeitosos, do altar onde nenhum fogo ardia e numa prece lastimosa indagam

à deusa se poderiam de algum modo repovoar esse mundo agora tão triste. A resposta que recebem os deixa perplexos: — Saiam do templo cobrindo a cabeça, desatem as vestes e joguem para trás os ossos da grande mãe. Passado longo tempo, nada ousavam fazer, temendo ambos cometer alguma impiedade, até que Deucalião enfim quebra o silêncio inquietante: — Se pesarmos bem as palavras, talvez não haja nenhum mal no que ordena o oráculo: a mãe comum, a mãe de todos nós, é a terra, e, me parece, seus ossos são as pedras... Deixam então os altares e, fazendo o que a deusa mandara, por sobre os ombros vão lançando pedras enquanto caminham. As que são arremessadas pelo marido, caindo no chão transformam-se em homens, e as que a esposa atira, tocando o solo tornam-se mulheres. Eis a origem, como se vê, de nossa forte raça, disposta sempre ao trabalho e imbuída de constância.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. E-mail: marciothamos@uol.com.br


w

Coisas que eu vi

ÁGUA CINZA,

Humberto Mesquita

uma grande solução

A

água é a peça mais importante nesse quebra-cabeça que se chama Planeta Terra, porque toda e qualquer forma de vida aqui está relacionada com este recurso natural. Muito se fala a respeito das reservas de água do mundo e segundo as estatísticas mais respeitáveis existe um milhão, trezentos e oitenta e seis quilômetros cúbicos de água na terra, e permanecem constantes nesses últimos milhões de anos. Só que dessas reservas, 97,5% constituem mares e oceanos, e os restantes 2,5% de água doce, sendo que dessa minúscula parte grande quantidade está congelada nas calotas polares e nas geleiras. O pouco que resta para o consumo diário sofre processo de degradação pela ação nociva do homem que já conseguiu obstruir a chegada de água potável a algumas regiões do planeta. Nesses últimos 50 anos triplicou o uso da água no mundo, e hoje muitos paises africanos sofrem com a falta de água. A previsão é de que mais de 200 milhões de africanos sofrerão com a escassez de água em 2025. Nesse mesmo ano, 3 bilhões de pessoas viverão em países com completa falta de água, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Hoje sabemos que a água potável salva mais vidas que todas as instituições médicas do mundo e ao mesmo tempo essa mesma água, sendo contaminada, é responsável por 80% das doenças do Planeta. Tudo isso nos leva a uma reflexão mais profunda a respeito da necessidade de medi-

das que devam ser adotadas para se economizar o precioso líquido. As campanhas são intensas e todas no mesmo sentido da conscientização de todos para o risco do fim da água boa que possa abastecer as populações. Todo esforço é importante, mas nós queremos aqui abordar um método que está sendo disseminado no mundo inteiro que é o aproveitamento da chamada água cinza, aquela proveniente de chuveiros, banheiras, lavatórios, máquinas de lavar e até mesmo das piscinas. Ela difere da água negra usada em sanitários ou pias de cozinha que podem conter algum tipo de coliforme fecal ou bactérias com potencial patogênico. Essa água cinza pode ser coletada e reutilizada na casa em outras formas, para fins que exigem qualidades não potáveis, como irrigação dos jardins, lavagem de veículos e na irrigação de campos agrícolas e pastagens. Para viabilizar tal procedimento e reutilizar a água de uma residência ou centro comercial é importante separar a água cinza da negra, com a instalação de um equipamento de tratamento capaz de fornecer um sistema de irrigação adequado e direcionado. As águas cinzas podem ser esterilizadas nas residências a partir da instalação de dois tipos de tratamento: o primeiro é a irrigação por infiltração subterrânea, onde as águas não passam por nenhum tratamento específico; apenas os sólidos suspensos devem ser retidos e a água é armazenada corretamente

e bombeada para a irrigação. O outro processo é a irrigação superficial, onde as águas cinzas de reúso devem ser tratadas, envolvendo basicamente filtragem para retirada de odores e esterilização. O mais certo é instalar esses procedimentos ainda na fase da construção da casa ou do edifício para se planejar o que há de mais correto. O reúso da água cinza é muito importante sob o ponto de vista ambiental porque num plano maior diminui a demanda por novas estações de tratamento de água e esgoto, além dos proveitos econômicos pela redução dos gastos de água. No Brasil esse procedimento é ainda incipiente, mas em cidades como Tóquio, o reúso das águas é obrigatório para prédios grandes com potencial de reúso de 100 metros cúbicos por dia. Os Estados Unidos e a Austrália também adotam uma rigorosa política de reúso da água. O Brasil tem buscado essa fórmula no laboratório Casa Autônoma de Arquitetura Sustentável, que mantém uma pesquisa para o reúso das águas. A grande verdade é que o mundo acordou para a necessidade de se buscar medidas que possam proteger o meio ambiente, definindo novas regras em favor de uma vida mais limpa e mais sustentável.

Jornalista, Escritor e Editorialista. Apresentador de TV e Rádio. Neo Mondo - Março/Abril 2012

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ÁGUA,

fundamental para a vida N

este mês de março celebramos o Dia Mundial da Água, um dos elementos básicos do universo, ao lado do ar, terra e fogo. Esperamos que a celebração deste ano contribua para melhor compreensão de sua importância e preservação. Todas as formas pelas quais a água se apresenta em nosso planeta: rios, córregos, lagos, cachoeiras, nascentes, lagoas, extensões marinhas e águas pluviais possuem seus protetores nas diferentes modalidades de religiosidade tradicional ligadas aos cultos da natureza, consideradas como entidades guardiãs dessa forma de energia vital. Nas religiões de matriz africana temos: Olokun, Oxun, Iemanjá, e na de matriz indígena: Iara, Janaina. Em muitas religiões é considerada como purificadora, tendo papel central, como no islamismo, xintoísmo, judaísmo, cristianismo, sendo usada em rituais de iniciação, batismo e renovação. Em alguns casos em cerimônias fúnebres o corpo deve ser lavado antes do enterro. Antes de qualquer prática ritual, no candomblé, o praticante deve tomar um banho para purificar-se e só depois pode entrar no espaço sagrado. No continente sul-americano existe um sítio arqueológico ainda não explicado pela ciência: as Linhas de Nazca, um con58

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junto de geoglifos antigos localizado no deserto de Nazca, no sul do Peru - foram designados como um Patrimônio Mundial pela Unesco no ano de 1994. E teriam sido feitos pelos povos da civilização Nazca que aí habitavam no período de 400 a 600d.C. Uma nova interpretação para essas linhas foi divulgada recentemente. Os arqueólogos Johny Isla e Markus Reindel pesquisaram o tema ao longo de cinco anos e chegaram à conclusão de que, vistas do alto, as linhas formam figuras bem definidas e teriam como objetivo fazer um culto à água. Os cientistas observaram que Nazca fica numa planície desértica, porém cortada por três rios, o que poderia ser entendido como um privilégio. Daí, os estudiosos viram que alguns desenhos de trapézio apontavam para o lado das nascentes desses rios e outros para o encontro das águas. Os desenhos geométricos poderiam indicar o fluxo de água ou estarem ligados a rituais para pedir água Os cientistas acharam, ainda, relíquias das civilizações da região, o que daria a entender que as linhas teriam sido feitas com uma finalidade específica, ou seja, ser um local de encontro para festividades e cerimônias nas quais a presença da água seria imprescindível.

Em 1985 outro arqueólogo, Johan Reinhard, publicou estudos sobre os achados arqueológicos da região concluindo que o culto às montanhas e outras fontes de água predominou na religião e na economia de Nazca, dos mais antigos aos tempos mais recentes, afirmando que as linhas e as figuras eram parte das práticas religiosas que envolvem o culto a entidades associadas com a existência de água. Outras civilizações existentes em nossa América: Maias, Aztecas e Incas também tiveram relacionamento muito próximo com a água, sendo mesmo conhecidas como “sociedades hidráulicas” (como Egito e Mesopotâmia), pois sabiam como utilizar os recursos hídricos para a prática da agricultura. Ao visitar Machu Picchu, uma das surpresas do visitante é verificar que existe - ainda hoje - água corrente nas casas onde residiam os Incas. Esperamos que este dia 22 de março de 2012, criado pela Organização das Nações Unidas em 1992, desperte em nós uma reflexão sobre o tema. Nesse dia a ONU também divulgou um importante documento: a Declaração Universal dos Direitos da Água, contendo uma série de medidas, sugestões e informações que servem para despertar a consciência ecológica da população e dos governantes para a questão da água.


Dilma de Melo Silva

Declaração Universal dos Direitos da Água Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta.Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem. Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia. Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a conti-

nuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam. Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras. Art. 6º - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo. Art. 7º - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.

Art. 8º - A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado. Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social. Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto. E-mail: disil@usp.br Neo Mondo - Março/Abril 2012

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Este é um movimento de cidadania e cuidado com o meio ambiente que vai levar milhares de andreenses às ruas com um único objetivo: recolher todo o lixo reciclável. Seja você também catador por um dia e ajude a limpar sua cidade: Santo André, dia 15 de abril. Tão importante quando o lixo que vamos retirar é a co consciência do lixo que não devemos jogar. Inscreva-se no site

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Neo Mondo - Outubro 2008


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