Ano 7 - No 59 - Janeiro/Fevereiro 2014
2013
Exemplar de Assinante Venda Proibida
R$16,00
RETROSPECTIVA 12
Laje de Santos
Velho Chico
Vida em Abundância
Transposição parcial
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Círio de Nazaré 34
Devoção e Fé
Neo Mondo - Julho 2008
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Neo Mondo - Julho 2008
Neo Mondo - Julho 2008
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Orthomyxoviridae Organismo parasita que vive em associação com outro organismo do qual retira os meios para a sua sobrevivência. Normalmente o parasita prejudica o seu hospedeiro, podendo levá-lo à degradação e à morte, em um processo conhecido como parasitismo. É comum que o parasita morra com o seu hospedeiro.
Homo Sapiens Organismo parasita que vive em associação com outro organismo do qual retira os meios para a sua sobrevivência. Normalmente o parasita prejudica o seu hospedeiro, podendo levá-lo à degradação e à morte, em um processo conhecido como parasitismo. É comum que o parasita morra com o seu hospedeiro.
Imagens 4 Grupo Keystone Neo Mondo - Julho 2008
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Neo Mondo - Julho 2008
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Proteção e respeito a todos os animais 6
Neo Mondo - Julho 2008
Neo Mondo - Julho 2008
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32 páginas | 20,5 x 27,5 cm
Crianças criam! | ISBN: 9788566251005
Em um mundo marcado por brinquedos eletrônicos que funcionam a partir do botão power, que tal dar à criança o poder para construir seus próprios brinquedos? Imaginação acionada, materiais fáceis e disponíveis, fotos grandes mostrando o passo a passo e lá vem um divertido índio cara de pet, um charmoso robô que movimenta a boca, um teatro e suas marionetes e...diversão garantida! Do mesmo autor do consagrado livro FÁBRICA DE BRINQUEDOS, essa obra, além da proposta lúdica e divertida de criar brinquedos a partir de embalagens, tampinhas e outros materiais descartados no dia a dia, é uma excelente oportunidade para a criança experimentar a autonomia e o prazer de imaginar, criar, construir e brincar.
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Neo Mondo - Julho 2008
Crianças brincam! 32 páginas | 20,5 x 27 ,5 cm | ISBN:
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9788566251012
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As crianças vão se encantar com essa história bem-humorada sobre um reino distante onde há um castelo, um rei e um espelho. Mas diferentemente das outras histórias, esse espelho não é mágico - ele mostra apenas a realidade. E a realidade é que, um dia, o rei desse reino distante olhou-se no espelho e viu que seu belo umbigo havia desaparecido de sua barriga. Quem teria roubado o umbigo? Um grande mistério a ser descoberto pelos leitores. As alegres e coloridas ilustrações de Ricardo Girotto dão o toque mágico a essa história escrita por Márcio Thamos em que umbigos escondidos sob grandes barrigas e umbigos à mostra em barrigas que roncam de fome apresentam uma trama delicada sobre compreensão, respeito e solidariedade.
Informações: 11
2669-0945 | 98234-4344 97987-1335
Neo Mondo Neo Mondo - Julho 2008 Um olhar consciente
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Seções RETROSPECTIVA 2013 Ana Paula Balboni Laje de Santos
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Editorial RETROSPECTIVA 2013
22 Imagine Um planeta com vida
RETROSPECTIVA 2013
RETROSPECTIVA 2013
Velho Chico Transposição Parcial
28 34 Círio de Nazaré Devoção e fé
E 2014 já chegou, um ano em que o Brasil aumenta sua visibilidade internacional, especialmente devido à Copa do Mundo e as eleições presidenciais. E, mais do que nunca, a sustentabilidade está em pauta, seja nos discursos dos pré-candidatos, seja na discussão do legado do calendário esportivo, temas de nossas próximas edições. E, para celebrar o início deste novo ano, damos uma revisitada em temas que merecem sempre estar em pauta, como sustentabilidade marítima, educação e mudanças climáticas. Em nossa consagrada retrospectiva, que já está em sua sexta edição, lembramos o inestimável trabalho do Instituto Laje Viva e seus estudos com arraias ceriantos e tartarugas marítimas. Relembramos também o trabalho de pessoas que atuam em prol da vida animal e vegetal no planeta, entre outros destaques. Desejamos a todos os nossos leitores e parceiros um excelente 2014, repleto de vida, paz e união! NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
RETROSPECTIVA 2013
RETROSPECTIVA 2013
Banana is my Business Descontaminação da água
37 38 Pequena mas persuasiva A força publicitária da criança
Expediente
Publicação
Publisher: Oscar Lopes Luiz
Diretor de Relações Internacionais: Marina Stocco
Diretora de Redação: Eleni Gritzapis (MTB 27.794)
Diretora de Educação – Luciana Mergulhão (mestre em educação)
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Gritzapis, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Redação: Eleni Gritzapis (MTB 27.794), Rosane Araujo (MTB 38.300) Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Tradução: Fernanda Sgroglia Tel.: 55 11 99630-6887 10
Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
Diretor de Tecnologia – Roberto Areias de Carvalho Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Ministro Américo Marco Antônio nº 204, Sumarezinho – São Paulo – SP – CEP 05442-040 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2619-3054 / 98234-4344 / 97987-1331 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br
A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/000100, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.
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Retrospectiva 2013
VIDA QUE BROTA
DO MAR
NEO MONDO mergulha nas realizações de uma ONG que, em menos de uma década, privilegiou estudos e pesquisas com arraias, ceriantos e tartarugas, entre outras espécies
Acervo Pessoal
Da Radeção
Ana Paula, à frente da ONG, defende a Laje de Santos como patrimônio a ser preservado em ações oficiais em parceria com a sociedade
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Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
I
magina o encontro de pessoas bonitas, bem resolvidas e, acima de tudo, comprometidas – mais que isso, apaixonadas - com o meio ambiente, capazes de fazer surgir num cantinho que seja o paraíso terrestre – no caso, marinho. Sonho, utopia ou realidade? NEO MONDO foi conferir qual dessas alternativas é a que melhor traduz o que tem feito o Instituto Laje Viva, em seus 10 anos de existência. Nos dias 8, 9 e 10 de março, por exemplo, a ONG participou do Padi Dive Festival, na capital paulista, consagrado como “o mais importante evento de mergulho da América Latina”. Ana Paula Balboni, cofundadora e diretora-presidente do Instituto e coordenadora do Projeto Mantas do Brasil, ressalta “a acolhida e incentivo que recebemos da organização do evento - importantíssimos para que possamos mostrar os resultados dos trabalhos que efetuamos no PEMLS (Parque Estadual Marinho da Laje de Santos – N.R.) . É um importante canal de comunicação do Instituto Laje Viva com o público do mergulho. É também uma maneira de levar às pessoas conhecimentos acerca das arraias gigantes, animais que têm imenso carisma e apelo e que são verdadeiramente adorados por todos os mergulhadores”. Em sua 12ª. edição, neste ano, o Padi Dive Festival agregou reconhecimento ao Laje Viva. “O pessoal da loja montada ao lado do nosso estande na feira veio nos dizer: ‘ano que vem vamos pedir para nos colocarem próximos a vocês de novo, vocês são um verdadeiro chamariz...’. Foi uma participação muito divertida e positiva. O evento ficaria muito comercial sem a presença e o apelo das ONGs de preservação ambiental que estavam lá presentes, como o Meros do Brasil, o Sea Shepherd, entre outras iniciativas. A presença das ONGs enriquece o evento, acrescentando essa pegada ambiental que é, cada vez mais, preocupação do mergulhador”, avalia Ana Paula. Nessa entrevista concedida por e-mail a NEO MONDO, o Padi Dive Festival foi apenas o ponto de partida. O fio condutor de nossa conversa com a advogada, formada pela USP e pós-graduada em Direito Tributário - apaixonada pela vida marinha desde criança (Ana Paula descobriu o mergulho em 1998 e hoje é rescue diver, com mais de 600 mergulhos logados, a maioria deles em pesquisa) -, está em mostrar a nossos leitores a real ‘importância das coisas’ quando se trata de cuidar do planeta.
NEO MONDO: Foi daí que nasceu o Laje Viva, algo como um segundo passo? Ana Paula: Isso. Dez anos mais tarde, a sociedade civil, aqui representada por um segmento entre os mergulhadores, se organizou para trabalhar em conjunto com o Poder Público em prol da preservação do seu santuário. A Laje de Santos é nosso patrimônio
e continua sendo alvo da ação ilegal de pescadores. As ações do Poder Público são muito mais eficazes quando apoiadas e tomadas em parceria com a própria sociedade. É esse o papel do Instituto Laje Viva. Estudar a importância do local e municiar o Poder Público e a própria sociedade de informações científicas. NEO MONDO: E como isso se dá na prática: mediante parcerias? Ana Paula: Trabalhando de modo integralmente baseado em mão de obra voluntária é sempre difícil atingir as nossas próprias expectativas, assim como a dos outros em relação ao que é esperado que façamos. Mas o Instituto Laje Viva trabalha, até hoje, baseado em mão de obra voluntária. Infelizmente não são muitas as empresas brasileiras que patrocinam projetos e iniciativas como a nossa. O Projeto Mantas do Brasil está em fase de renovação junto à Petrobrás por meio da Petrobrás Ambiental, e com isso teremos meios de compor uma equipe profissional, realmente dedicada ao sucesso e ampliação do Projeto. Nesse momento eu acredito que venhamos a satisfazer e até mesmo a superar as expectativas em torno dos trabalhos com as mantas gigantes. NEO MONDO: Qual a aceitação que cada uma dessas duas instituições tão qualificadas e objetivas tem recebido das demais ONGs ambientalistas? Ana Paula: Aqui no Brasil esse tipo de organização de pessoas em prol de um
interesse comum ainda é um modelo muito novo, as pessoas demoram até mesmo a compreender. Há 10 anos os Operadores de Mergulho da Laje de Santos nos viam como concorrentes. Aos poucos, com a concretização e o resultado dos trabalhos, um a um foi virando nosso grande parceiro. Nós ajudamos a preservar o local que é fonte de sustento deles. Não existe concorrência, agora temos uma relação simbiótica. Eles são nossos parceiros na preservação, ajudam a preservar o que amamos e o que nos é mais caro, mantêm eterna vigilância para evitar a pesca ilegal. E nós estudamos o local, ajudamos a preservar e criamos ferramentas de comunicação capazes de mostrar as belezas do local à comunidade santista, paulista e brasileira, atraindo mais público de turismo de mergulho, que é o que os sustenta. O benefício de ambas as partes ficou claro com o passar do tempo. NEO MONDO: E como ficam governos e sociedade em geral? Ana Paula: Em relação ao governo, aqui representado pela Gestão da Unidade de Conservação em questão, a aceitação e os trabalhos em parceria não podiam ser melhores. O gestor da UC, José Edmilson de Araújo Mello Junior, demonstra compreender a nossa missão, assim como nós procuramos compreender a dele, e nos ajudamos e apoiamos em tudo o que é possível. Ele sabe que pode contar conosco e que somos movidos pela paixão que temos pela Laje de Santos.
O Parque Estadual Marinho existe há 20 anos e seria algo como o irmão mais velho do Laje Viva, 10 anos mais novo. Mas, no caso, a experiência do ‘irmão caçula’ vem de bem antes de ter nascido. Maurício Andrade
NEO MONDO: O Instituto Laje Viva existe há 10 anos, e o Parque Estadual Marinho há 20 anos. Sem querer fazer qualquer ilação cabalística (momentos importantes a cada 10 anos), o que compete a cada uma dessas instituições fazer pelo meio ambiente? Os princípios e objetivos traçados vêm sendo cumpridos de modo satisfatório ou até mesmo têm superado as expectativas? Ana Paula: É importante ressaltar que até mesmo a proteção da área na qualidade de Parque Marinho foi uma resposta dada pelo Poder Público ao clamor de mergulhadores, cientistas e frequentadores da área. É a sociedade civil que exerce esse papel, o de apontar a importância das coisas para que o Poder Público exerça sua função. O Poder Público não reúne (e não acredito que isso mude num futuro próximo) condições de investigar a importância das coisas, a escala de valores da sociedade. Mas a sociedade tem condição, tem direito e tem dever de mostrar ao Poder Público: ‘isto é importante pra nós, precisa ser protegido de nós mesmos’. Foi isso o que ocorreu na criação do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos há 20 anos. A sociedade, baseada na opinião técnica de biólogos marinhos, apontou ao Poder Público a importância do local e a necessidade de proteger a área de nossa própria ação predatória.
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Retrospectiva 2013 NEO MONDO: O que é o Laje Viva, como e por que surgiu? Ana Paula: É uma ONG criada por mergulhadores amantes da Laje de Santos, com o intuito de proteger a Laje de Santos, pois a Laje é nossa, é patrimônio de todos. Os membros do Instituto sentem que o local nos dá tanto, tanto prazer, tanta alegria, tanta beleza, que, de alguma forma, precisávamos retribuir tamanha generosidade. Apesar de a Laje de Santos ser berçário, residência e abrigo de uma série de espécies ameaçadas de extinção, uma em especial é o foco de nossos esforços e estudos, no Projeto Mantas do Brasil, que estuda os hábitos migratórios e o comportamento da maior espécie de arraia do mundo, um dos maiores peixes dos nossos oceanos, a Manta birostris. NEO MONDO: Qual o alcance desse projeto até o momento? Ana Paula: Em 2010, com a efetiva colaboração do Instituto Laje Viva, essa espécie de gigante marinho foi recategorizada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN)
como “VULNERÁVEL À EXTINÇÃO”, ou seja, subiu um degrau na escala de ameaça rumo ao risco de extinção. É uma espécie de reprodução muito lenta. Cada fêmea consegue parir um único filhote a cada 3 anos, e estima-se que possuam algo como 14 anos de vida fértil, o que não garante muito mais do que 5 ou 6 bebês por fêmea ao longo da vida. Com uma reprodução tão lenta, a espécie simplesmente não suporta qualquer pressão de pesca. E é uma das espécies que compõe a chamada megafauna carismática, são verdadeiros atratores de turismo de mergulho no mundo todo. A população brasileira desses gigantes gentis, inteligentes e brincalhonas talvez seja a menor do mundo, e talvez mais próxima da extinção do que nós mesmos possamos imaginar. Então uma das principais bandeiras do Instituto Laje Viva é trabalhar pela sobrevivência dessa espécie tão fantástica. NEO MONDO: Quais as suas principais metas e realizações?
Maurício Andrade
O local nos dá tanto, tanto prazer, tanta alegria, tanta beleza, que, de alguma forma, precisávamos retribuir tamanha generosidade
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Neo Mondo - Março/Abril 2013
Ana Paula: Nossas principais metas são e serão sempre provar a importância do local e de sua preservação. Daí a importância dos projetos científicos, em especial o Mantas do Brasil. Hoje, acredito que nossa maior meta seja conferir efetividade às legislações de proteção recém-obtidas no Brasil e no mundo. O Brasil foi proponente, com o Equador, de uma medida de restrição ao comércio internacional de partes e derivados de arraias mantas, na Convention on International Trade of Endengered Species (CITES), que ocorreu em Bangkok, Tailândia, já aprovada e sancionada em 14 de março. Obviamente não fazia o menor sentido sermos proponentes de medida de restrição ao comércio internacional e continuarmos matando as arraias gigantes em nosso território. Países como Equador e Moçambique já possuíam suas legislações proibindo a matança desses gigantes, mas o Brasil ainda não possuía uma legislação de proteção dessa espécie. NEO MONDO: Como ficamos, então, no Brasil? Ana Paula: A conquista da legislação brasileira de proteção veio na esteira da CITES, pela Instrução Normativa Interministerial nº 02 de 13/03/2013, conjunta dos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, que proíbe a pesca e a captura de indivíduos da espécie no Brasil.
Maurício Andrade
A Manta birostris, gigante marinho, se caracteriza por ser gentil, inteligente e brincalhona; para preservá-la foi criado o Projeto Mantas do Brasil Temos plena consciência da importância da obtenção dessas legislações de proteção, mas também temos claro em mente que esse foi apenas o primeiro passo de muitos que precisam ser dados se quisermos garantir a sobrevivência dessa espécie de gigante marinho em nosso planeta. NEO MONDO: A ONG atua em parcerias e, nestas, quais as principais seja da esfera pública seja privada; o que compete a cada uma fazer; e como se dá na prática a importância de cada uma delas? Ana Paula: Sim, tivemos o patrocínio da Petrobrás para o livro fotográfico Laje de Santos, Laje dos Sonhos, que foi o primeiro veículo, a primeira ferramenta que pudemos criar para levar a Laje até as pessoas. Pudemos contar com patrocínios da Panco e da Eucatex, bem como apoio da Petrobrás, entre outras empresas, por meio de leis de incentivo à cultura, para a criação de um documentário sobre o local, que conta a história dos primórdios do mergulho no Brasil como pano de fundo, chamado Laje dos Sonhos; ficou belíssimo, uma verdadeira obra-prima da diretora Raquel Pellegrini com imagens subaquáticas do cinegrafista Clécio Mayrink, que é membro do Instituto. A pessoa diretamente responsável pela concretização desse sonho foi a produtora-executiva e diretora financeira do Instituto Laje Viva, Paula Romano. Esse
documentário é imperdível para os amantes do mergulho e tornou-se a segunda grande ferramenta de divulgação da importância da Laje de Santos. NEO MONDO: Você se considera otimista, realista ou pessimista com o que se conseguiu até agora? Ana Paula: Acho que sou realista. Se por um lado, fico muito feliz com os resultados já alcançados, por outro, não perco de vista o tanto que ainda há por fazer, por brigar, e essa briga é no sentido de fazer as pessoas acordarem pra realidade e para os problemas ambientais que enfrentaremos num futuro muito próximo. Parece que quanto mais fazemos, mais existe por fazer. Por exemplo, sem deixar de celebrar a vitória de termos obtido uma legislação de proteção das mantas gigantes no Brasil, sabemos o quanto ainda há por fazer, agora que temos a ferra-
menta na mão. É preciso conferir efetividade à legislação de proteção. Os pescadores precisam saber que a captura da espécie está proibida. Precisam saber que mesmo a pesca acidental (by catch) está proibida, ou seja, ainda que o animal estiver morto na rede, deve ser devolvido morto ao mar. Não pode ser trazido a bordo. E se os pescadores entenderem o porquê da proibição, se entenderem o quanto e o porquê essa espécie é tão vulnerável, há chances de a preservação ser mais efetiva. O envolvimento das comunidades de pesca que estão localizadas onde há visitas sazonais da espécie de manta gigante é um dos próximos passos do projeto Mantas do Brasil. NEO MONDO: Qual o feito mais relevante obtido até aqui? Seria a descoberta de nova espécie em 2008? Ana Paula: Entendo que dois fatos muito importantes estão interligados.
Entre as parcerias, a Petrobrás viabilizou o livro fotográfico Laje de Santos, Laje dos Sonhos e, com a Panco e a Eucatex, o documentário Laje dos Sonhos, que conta a história dos primórdios do mergulho no Brasil como pano de fundo. Além de belíssimos, são preciosas ferramentas de divulgação Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
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Retrospectiva 2013 Dra. Andrea Marshall
ainda é proibida) e a Ilha da Queimada Grande, em Itanhaém, onde a pesca é liberada mas a vida marinha praticamente esgotou-se. O PEMLS é aberto a visitação. Existe uma taxa simbólica a ser paga por visitante, e qualquer embarcação particular apta a navegar até lá (observando as normas da Marinha do Brasil) pode chegar, apoitar o barco ou fundear da maneira correta sem causar danos ao meio. Ou seja, visitantes podem passar um dia lindo nadando, mergulhando, tomando sol no paraíso.
Mergulhar junto a um desses gigantes marinhos é momento inesquecível, que Ana Paula, rescue diver, já experimentou O primeiro deles - e que realmente chamou a atenção do mundo para essa espécie - foi a descoberta de uma nova espécie em 2008, seguido da publicação do paper científico pela nossa parceira, brilhante cientista, Dra. Andrea Marshall, em 2009. Até então tudo era chamado de Manta birostris. Uma descoberta como essa é algo extraordinário, é como descobrir que um elefante havia passado despercebido no deserto até agora. É uma prova do quanto somos arrogantes em achar que já sabemos quase tudo, e nem mesmo em relação às espécies gigantes nós temos pleno conhecimento. Aliás, as descobertas não pararam por aí, pois a Dra. Andrea está perto de provar a existência de uma terceira espécie de manta gigante, no México. Nós, aqui no Brasil, temos suspeitas de avistagem de um animal dessa terceira espécie em Recife, capturada e esquartejada pelos pescadores, infelizmente. NEO MONDO: O mergulho é o principal meio de se chegar a tais resultados ou, na prática, se tem revelado o único? Quais são as outras atividades-meio? Ana Paula: O turismo de modo geral é o combustível desses resultados e, no nosso caso, em particular, o Turismo de Mergulho, que é um mercado crescente. O turismo possui uma força avassaladora. É em nome dos gigantescos recursos gerados por essa modalidade que os mais diversos países preservam 16
Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
seus sítios de interesse, como ruínas e edificações antigas. Agora os governos começam a perceber que a biodiversidade é outro atrator poderoso de público e de recursos. Moçambique, por exemplo, ficou privado de explorar o turismo riquíssimo gerado pelas visitas aos grandes animais. Enquanto a África do Sul, por sua vez, explora o safári ecológico no Kruger Park, Moçambique perdeu fortuna ao exterminar sua fauna durante sua guerra civil. Por outro lado, ainda possuem vasta fauna carismática marinha, que esperamos seja protegida e perenizada como recurso de turismo daquele país. NEO MONDO: Na área sob responsabilidade da ONG (seria restrita ao Parque Estadual?) o mergulho é livre ou reservado a especialistas de segmentos com foco na pesquisa científica? Há espaço para ‘aventureiros’, pessoas que curtem mergulhar pelo prazer da prática esportiva ou por ecoturismo? Ana Paula: O Instituto Laje Viva começou focado no PEMLS, mas os trabalhos cresceram e desbordam os limites geográficos inicialmente traçados. Queremos ampliar os estudos das arraias mantas para localidades no Sul do país. Queremos ampliar os estudos científicos para locais próximos, principalmente os que possamos utilizar para estabelecer comparações com a própria Laje de Santos, como o Arquipélago de Alcatrazes (onde a visitação
NEO MONDO: Fale um pouco das APAs, a importância e abrangência das principais delas e se as existentes dão conta do recado. Ana Paula: São Paulo é o estado pioneiro ao dividir o litoral paulista como um mosaico, estabelecendo regras de conduta que variam de local para local de acordo com a necessidade de preservação de cada um deles. E dessa maneira foram criadas três Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Marinhas: Litoral Norte, Centro e Sul. O PEMLS está localizado na APA Marinha Litoral Centro. Esta, por sua vez, está subdividida em três setores, entre eles o Itaguaçu, que é especificamente onde se localiza a Laje de Santos. O trabalho de educação ambiental e de fiscalização do uso correto desse mosaico é para ser desenvolvido ao longo de muito tempo pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Gestão do PEMLS. Um dos aspectos positivos é a criação de conselhos, que são ferramentas incríveis de participação da sociedade na gestão dessas APAs. É uma oportunidade de todos os segmentos e interesses opostos se reunirem, exporem seus anseios e necessidades e, assim, ajustarem condutas focando a sustentabilidade. O Instituto Laje Viva ocupa uma cadeira no Conselho Consultivo do PEMLS e outra no Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro, onde apresenta propostas e busca caminhos pela sustentabilidade junto aos demais setores de interesse nessas mesmas localidades. NEO MONDO: No contexto do que se faz no Brasil em preservação ambiental, vocês se consideram satisfeitos com as conquistas da área marinha, ou há muito o que fazer ainda e sempre?
NEO MONDO: O notável cientista Aziz Ab´Sáber (que foi Perfil de NEO MONDO, talvez numa das últimas entrevistas que concedeu à mídia impressa) tinha entre suas preocupações o avanço dos oceanos, para ele uma ameaça até mais real do que o aquecimento global para o futuro da civilização. Temas dessa envergadura estão na pauta de vocês, e em que medida é possível detectá-los nos trabalhos de campo realizados pela ONG? Ana Paula: As pessoas começam a se dar conta agora, muito tardiamente e de modo muito lento, na minha opinião, de que não é o ambiente que está sob ameaça. Não é nosso planeta que está sob ameaça. Tudo o que fizermos pelo ambiente não salva o planeta, salva a nossa existência. Nós é que estamos ameaçados, o nosso modo de vida está ameaçado pela maneira irresponsável como tratamos o ambiente. O aquecimento global e o avanço dos oceanos são sintomas de uma doença. É a doença que precisa ser combatida, e não os sintomas. E os sintomas dessa terrível doença não são apenas esses. Temos que lidar tam-
Acervo Laje Viva
Entre as ações do Instituto, a soltura de animais saudáveis a seu habitat é uma delas: ‘tudo é urgente’ bém com o esvaziamento dos nossos oceanos, sentido no mundo todo. Não existe tarefa mais ou menos urgente. Tudo é urgente demais porque já perdemos o bonde. A pequena parte da população que já se deu conta disso corre atrás do bonde que já passou, e a maioria ainda desconhece a questão por completo. A produção de alimentos é exemplo gritante. Estamos acabando com a vida nos oceanos, de onde tiramos nosso alimento. Ao esgotarmos os recursos marinhos numa pesca irresponsável - e caminhamos para isso a passos largos -, perceberemos na marra que as por-
ções de terra não são suficientes para o plantio da nossa comida. E nesse momento a humanidade vai à fome, com chances reais de guerras por água doce e alimento. Nossas ações de Políticas Públicas infelizmente estão na contramão da sustentabilidade. Enquanto países como o Equador proíbem a pesca de arrasto e a absurda prática do finning, nossas ações de política pública visam aumentar a frota pesqueira quando já estamos raspando o fundo. É preciso estudar mais, conhecer mais, acreditar mais na pesquisa, respeitar mais os resultados das pesquisas, no Brasil e no mundo todo. Acervo Laje Viva
Ana Paula: Não há como ficar satisfeita. Ainda engatinhamos. Já era hora de as pessoas pararem de ficar zangadas quando regras são estabelecidas acerca do uso da coisa pública. Já era hora de pararmos de ver as ações de proteção ambiental como restrições ao direito de cada um e vermos como a ampliação do direito de todos e de cada um lá na frente. O direito de cada pescador tem que ser regrado hoje para que esse mesmo pescador tenha peixe em sua mesa amanhã. Não é uma questão de restringir direitos, mas sim de perpetuar direitos, e não só para uns, mas para todos. Se preservarmos determinadas áreas que são berçários de vida marinha restringindo direitos naquelas áreas específicas, vamos gerar estoques pesqueiros que se desenvolverão em outras localidades e que continuarão a suprir nossos pratos. É hora de percebermos que o ajuste de condutas é necessário para garantir direitos, e não tirá-los, dos pescadores. Mas as resistências ainda são fortes, porque o nível de consciência das pessoas ainda fica muito aquém do que era de se esperar.
No Padi Dive Festival, o Laje Viva levou às pessoas “conhecimento sobre as arraias gigantes... adoradas por mergulhadores” Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
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Retrospectiva 2013
NEO MONDO: O que foi feito por vocês durante o evento?
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Ana Paula: Nosso estande recebeu excelente visitação durante os três dias de feira, boa oportunidade para nossa equipe explicar os projetos e os trabalhos de pesquisa, até mesmo com a entrega de fôlderes, além da exposição de imagens em LCD durante todo o tempo de abertura do evento. As imagens dos pesquisadores em trabalhos de campo, bem como as do documentário e de reportagens feitas com nossa equipe durante os trabalhos, impactaram positivamente os visitantes. Fizemos também uma palestra sobre nosso projeto Mantas do Brasil, levando os conhecimentos acerca da espécie de manta gigante ou migratória que nos visita sazonalmente (no inverno) ao público interessado. Significado todo especial para nós foi a presença de nosso importantíssimo parceiro, Michel Guerrero, presidente do Projeto Mantas Equador, com a palestra sobre os trabalhos desenvolvidos na Isla de La Plata, Parque Nacional Machalilla, Equador, que mostram avanços nesse país. Outra presença marcante foi a de Guilherme Kodja, com a aula do Instituto Laje Viva sobre as mantas gigantes, cujos conhecimentos sempre despertam grande interesse entre os mergulhadores. NEO MONDO: O Laje Viva tem alguma participação nos trabalhos realizados no Equador com as arraias gigantes? Ana Paula: Sim. Membros do Instituto têm participado das expedições científicas anuais ao Equador desde 2011
para estudo da Manta birostris. Em agosto vamos embarcar para nossa terceira participação consecutiva nos trabalhos junto ao Projecto Mantas Ecuador, capitaneado pelo biólogo marinho Michel Guerrero e pela Dra. Andrea Marshall. Esse tem sido nosso celeiro de observações e estudos sobre metodologias científicas a serem empregadas aqui. Antigamente, por exemplo, buscávamos obter uma estimativa do tamanho das arraias gigantes que visitam a Laje de Santos a cada inverno a partir de uma estimativa, uma comparação com o tamanho do corpo ou uma braçada de um mergulhador em relação ao comprimento de asa a asa de uma manta. A partir das observações dos trabalhos desenvolvidos no Equador, nosso diretor Ricardo Coelho desenvolve nossos próprios dispositivos de medição a laser. Esse estudo métrico procurará estabelecer uma relação entre o tamanho e a maturidade sexual de cada animal observado no bojo do projeto. Outra metodologia importante que será implantada em breve aqui em nossos estudos e que também foi testada inicialmente no Equador é o estudo de DNA a partir da coleta de muco da pele das arraias gigantes. O procedimento não invasivo tem-se mostrado eficaz nos estudos da Dra. Marshall no Equador, e pretendemos utilizar a mesma metodologia no Brasil. Para isso contamos com o biólogo responsável pelo projeto, Osmar José Luiz Jr, e o biólogo marinho Eric Joelico Comin cuida das observações de campo.
Acervo Laje Viva
NEO MONDO: Como avalia a participação do Laje Viva no Padi Dive Festival? Ana Paula: Nessa que é a maior feira de mergulho da América Latina, a acolhida e o incentivo que recebemos da organização do evento foram importantíssimos para que pudéssemos mostrar os resultados dos trabalhos que efetuamos no PEMLS. Trata-se de importante canal de comunicação do Instituto com o público do mergulho, e dessa maneira pudemos levar às pessoas conhecimentos acerca das arraias gigantes, animais de imenso carisma e apelo e que são verdadeiramente adorados por todos os mergulhadores. Nesta edição esse reconhecimento teve um toque especial. O pessoal da loja montada ao lado do nosso estande na feira veio nos dizer: “ano que vem vamos pedir para nos colocarem próximos a vocês de novo, vocês são um verdadeiro chamariz...”. Foi uma participação muito divertida e positiva. O evento ficaria muito comercial sem a presença e o apelo das ONGs de preservação ambiental que estavam lá presentes, como o Meros do Brasil, o Sea Shepherd, entre outras iniciativas. A presença das ONGs enriquece o evento, acrescentando essa pegada ambiental que é, cada vez mais, preocupação do mergulhador. Um dos aspectos mais incríveis que observamos quando participamos desse tipo de evento é o interesse das crianças pela preservação. Apesar de poucos pais levarem seus filhos até lá, o que é uma pena, as crianças ficam alucinadas pelos aspectos relacionados à Biologia dos animais, se interessam pelos projetos voltados à preservação e querem ouvir detalhes sobre o comportamento deles. Em especial as crianças gostam de ouvir sobre a capacidade de interação das espécies estudadas com as pessoas, dão muito valor a esse contato não destrutivo. Talvez seja o início de relações mais respeitosas do ser humano com as outras espécies que habitam o planeta, que não, NÃO estão aqui para servir aos nossos propósitos. Enquanto tivermos esse pensamentozinho egocêntrico, estaremos fadados a causar a extinção de inúmeras espécies e, assim, cavar nossa própria.
O apelo de ONGs na megafeira de mergulho fez o evento ultrapassar o lado comercial, numa ‘participação divertida’
Acervo Laje Viva
Momentos especiais e desafios Ana Paula descreve momentos marcantes de sua vida no Laje Viva. Como esse, muito especial, “no ano de 2006. Pra mim, o resgate da raia manta que chegou ao PEMLS enroscada em uma rede de pesca foi um momento para nunca esquecer, foi um marco pra mim. Estávamos no intervalo entre dois mergulhos quando outra embarcação chamou pelo rádio e informou que um mergulhador havia visto uma manta enroscada numa rede de pesca. Sabíamos que a chance de encontrarmos o animal em uma área tão grande era minúscula, mas tínhamos que tentar. Depois de muito tempo vagando debaixo d´água a esmo, por mais incrível que isso possa parecer, eu e meu dupla na ocasião, Edu Guariglia, fomos conduzidos, guiados, por duas raias chitas, para maior profundidade em local muito mais afastado do que o local onde estávamos. “E demos de cara com a manta enroscada, muito ferida, sangrando nos locais onde os cabos da rede já estavam cortando a carne do animal. Essa manta fêmea, muito dócil e visivelmente exausta, parou para que a socorrêssemos. Eu sentia ela tremendo de dor enquanto removia os cabos enterrados em sua carne. O jorro de sangue em profusão era assustador, e por um momento eu achei que não conseguiria, que aquilo era demais pra eu suportar. Mas eu jamais me perdoaria se tivesse falhado, então engoli o choro e trabalhei. Desenroscamos muita rede, cortamos muitos cabos grossos. Mas a manta, exausta e após perder muito sangue, não nadava mais. “Começamos a empurrá-la para que voltasse a nadar. Ela reagia por um instante, mas afundava de novo. Não desistimos dela, continuamos empurrando até que ela nadou rumo ao costão rochoso, onde o cinegrafista estreante Jean Marcel fez algumas imagens incríveis, para que nunca mais nos esquecêssemos. Aos poucos a manta recobrou as forças e saiu nadando rumo ao azul. Depois voltou, como que cumprimento a todos e dando um ‘adeus’ antes de desaparecer novamente no azul. Pagamos muito tempo de descompressão após termos estourado nosso tempo de
fundo, e nem sequer tínhamos ar o suficiente pra pagar toda a descompressão. Pra mim ficou o alívio de ter correspondido quando fui exigida. Ainda choro quando penso nesse animal e torço para que ela tenha tido vários filhotes por aí”. Noites e madrugadas no livro
Outro momento marcante, esse crucial, qual teria sido? “Sem dúvida foi a confecção e o lançamento do livro fotográfico Laje de Santos, Laje dos Sonhos. Foi um momento muito difícil. Advogados estão acostumados a lidar com prazos fatais, mas produzir uma peça processual e um livro tem uma diferença muito, muito grande, em especial pela quantidade de autores e fotógrafos envolvidos no livro, pois cada capítulo foi escrito por um especialista em sua área, cada um com seu próprio timing , todos personalidades muito marcantes. Além dos autores, participaram dezenas de fotógrafos, cada um com seu jeito de fazer as coisas. E meu trabalho não parou, então eu tinha atividades profissionais durante o dia e ocupava noites, madrugadas e finais de semana com o livro. “Foi um processo vivido muito intensamente por mim e pelo biólogo do Instituto, Osmar José Luiz Jr. Quando o livro finalmente foi para impressão, tive o ombro do professor Ivan Sazima pra chorar o que ele chama de Síndrome do Livro Findo. A gente simplesmente fica no vazio. Sai de um processo de aceleração total pra um vazio que não tem tamanho. Eu não sabia o que fazer com minhas noites e com minhas madrugadas, fiquei várias noites olhando pras paredes, literalmente. Claro que valeu a pena, mas foi tão sofrido que, quando chegou a vez do documentário, se não fosse a Paula Romano ter assumido pra ela essa responsabilidade, eu não teria tido coragem de assumir como fiz com o livro. São projetos meio kamikazes, a gente pare o ‘filho’ e morre em seguida”. Olhos atentos e treinados
E daqui pra frente, como fica? “O Projeto Mantas do Brasil está crescendo. Afinal, as mantas gigantes são do Brasil e não apenas da Laje de Santos.
Momento de autografar o livro: ‘valeu a pena o processo tão sofrido’
Nesta nova fase que estamos renovando junto à Petrobrás o projeto prevê observações e envolvimento de comunidades desde o sul do país até o litoral sul do Rio de Janeiro, locais onde elas têm sido observadas sazonalmente. E além de o Projeto crescer em termos de extensão territorial, vai crescer em termos de conteúdo. No bojo do Projeto Mantas do Brasil está previsto o lançamento do Programa Cidadão Cientista, que capacitará os mergulhadores a participarem do Projeto através de um audiovisual. “É uma tendência no mundo inteiro os mergulhadores desejarem participar mais das atividades de pesquisa, e estamos implantando essa iniciativa aqui no Brasil. É um convite ao mergulhador para que deixe a postura passiva e passe a trabalhar efetivamente em prol da preservação e da ciência. No Padi Festival 2012 tivemos a ilustre visita do Sr. Jean-Michel Cousteau, que disse uma frase que ficou comigo. ‘Nós mergulhadores, somos poucos e somos os ÚNICOS OLHOS abaixo da linha d´água.’ Ele colocou em palavras um chamado que eu já trazia comigo. Acredito que no próprio ano de 2013 tenhamos condições de lançar esse Programa, instigando os mergulhadores a fazer esse papel e assumir a responsabilidade de sermos os ‘únicos olhos abaixo da linha d’água’. Que sejam olhos atentos, interessados e treinados”.
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Retrospectiva 2013
Osmar José Luiz Jr
Noeli Ribeiro
REGISTRAR PARA
Cerianto
Osmar José Luiz Jr
Maurício Andrade
Holacanthus ciliaris fase adulta
Caranguejo Aranha
Estrelas do mar 20
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Paula Romano
Paula Romano
Maria da toca
Garoupa verdadeira
Ana Paula Balboni Coelho
Paula Romano
PRESERVAR
Paula Romano
Golfinhos
Paula Romano
Mithrax
Paula Romano
Tartaruga verde
Paula Romano
Pomacanthus paru
Peixes borboleta
Miriquites
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Divulgação Fundação Grupo Boticário
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IMAGINE...
um planeta com vida Não seria difícil se a gente tentasse entender o que fazem pessoas sérias, ligadas a instituições idôneas, e se juntasse a elas por um mundo único de paz, sem ganância...* Da Redação **
Pedreiro-do-espinhaço, descoberto por equipe de pesquisadores, é parente do joão-de-barro
N
uma edição dedicada ao Dia Mundial do Meio Ambiente NEO MONDO procura dotar-se de otimismo realista ante cenários ‘apocalípticos’ e iniciativas que podemos classificar de ‘trabalho de formiguinha’, com o objetivo de mostrar à classe governante, principalmente, que um planeta vivo ainda é possível. Desde que medidas efetivas com base em estudos e pesquisas categorizados sejam tomadas. Antes que frustremos o autor do Apocalipse: “... vi quatro Anjos, postados nos quatro cantos da terra, segurando os quatro ventos da terra, para que o vento não soprasse sobre a terra, sobre o mar ou sobre alguma árvore. Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: ‘Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores’...”. E olha que nos anos 70-95 (provável época desses escritos) não se tinha notícia
de ensurdecedoras motosserras, possantes tratores, nem queimadas irresponsáveis. Mercúrio na atmosfera 1918 anos depois, recente pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela: o que antes seria apenas ameaça acaba de se concretizar - o desmatamento provocado por queimadas na região amazônica brasileira pode gerar agravante ainda desconhecido. O estudo, coordenado pela oceanógrafa Anne Hélène Fostier, docente do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, revelou que, além da destruição do bioma, as queimadas na região provocam elevadas emissões de mercúrio na atmosfera, elemento altamente tóxico aos seres vivos. Em sua edição 556, o Jornal do Campus, da Unicamp, traz a constatação, a nosso ver alarmante e desafiadora, e acrescenta: o trabalho demonstrou que são liberadas, anualmente, 12 toneladas de mercúrio com a queima da vegetação
* Conforme John Lennon. ** Com informações das Assessorias de Imprensa.
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e do solo superficial da floresta. Cálculo que leva em conta a taxa anual de desmatamento da região, estimada em 1,7 milhão de hectares no período entre 2000 e 2010. “O mercúrio emitido pela ação das queimadas pode ser transportado em escala local, regional ou mesmo global. Isso acontece porque o elemento possui um longo tempo de residência na atmosfera, onde permanece, em média, um ano. Durante este tempo, ele é capaz de ‘rodar’ todo o planeta, razão pela qual é considerado como um poluente global”, alerta a pesquisadora. Ela desenvolve estudos nesta área há mais de uma década. As primeiras investigações sobre o assunto foram realizadas no final dos anos de 1990 no Amapá. Já o último trabalho de campo na floresta, realizado em setembro de 2011, foi em uma estação experimental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), localizada no Acre.
Convenção de Minamata Menos mal que, em âmbito global, registra o Jornal do Campus, “a preocupação com o poluente impulsionou a assinatura de um tratado em fevereiro último. Conhecido como Convenção de Minamata, o acordo objetiva reduzir as fontes de emissão de mercúrio do planeta. O Brasil é um dos signatários desta convenção. Para entrar em vigor, o acordo necessita da aprovação de 50 países. O nome do tratado é uma referência ao desastre na cidade de Minamata, no Japão, que intoxicou, por meio do mercúrio na água, centenas de pessoas. A tragédia ocorrida na década de 1920 deu origem à Doença de Minamata, uma síndrome neurológica causada pela intoxicação com o elemento químico”. Hélène avalia: “A assinatura desta convenção internacional mostra o quanto a problemática das emissões de mercúrio na atmosfera continua sendo uma questão extremamente importante para a qualidade do meio ambiente”. A docente da Unicamp cita pesquisas internacionais que mostram uma multiplicação por três das concentrações de mercúrio na atmosfera no século passado em relação àquelas existentes na era pré-industrial. “Isso aconteceu devido a todas as emissões geradas pela ação do homem”, afirma.
Divulgação
Hélène pesquisa efeitos danosos das emissões de mercúrio há mais de uma década: 12 t/ano na região amazônica vira poluente global
Antoninho Perri – Ascom – Unicamp
Hélène adverte que, uma vez lançado na atmosfera, o mercúrio pode ir para o solo ou para os corpos aquáticos. Nos rios, lagos e oceanos o elemento nocivo passa por um processo de metilação, que o torna ainda mais tóxico. “A metilação acontece no meio ambiente por via biológica e transforma o mercúrio inorgânico em orgânico, principalmente em metilmercúrio, uma das formas mais tóxicas deste elemento. Quando o metilmercúrio é incorporado pela cadeia alimentar, os riscos de intoxicação são muito grandes. É uma ameaça, sobretudo, para as populações ribeirinhas, que encontram nos peixes a sua principal fonte proteínica”, diz a docente. Ainda de acordo com ela, qualquer processo que favoreça a incorporação de mercúrio na cadeia alimentar eleva os riscos imediatos de intoxicações para a população, tornando-se um problema local e regional.
A oceanógrafa, no laboratório em Campinas: o metilmercúrio, forma mais tóxica, incorpora-se à cadeia alimentar com grandes riscos de intoxicação
Lavagem de madeira O alerta de Hélène soma-se a gravíssima denúncia contida em relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) e da Interpol, segundo o qual o comércio criminoso de madeira ultrapassa US$ 30 bilhões e é responsável por até 90% do desmatamento tropical. O estudo, divulgado na Conferência Mundial sobre Florestas em Roma em setembro de 2012, relata mais de 30 formas de aquisição e lavagem de madeira ilegal que comprometem esforços de segurança, mitigação do clima e desenvolvimento sustentável, atesta o Pnuma. É o caso de se perguntar: aonde iremos parar se as autoridades do país e do exterior não agirem com o rigor que o caso merece? De acordo com o estudo conjunto do Pnuma e Interpol, de 50% a 90% da exploração madeireira
nos principais países tropicais da Bacia Amazônica, África Central e Sudeste da Ásia são realizados pelo crime organizado com consequências danosas no combate à mudança do clima e ao desmatamento, bem como na conservação da fauna e na erradicação da pobreza. Em todo o mundo, a extração ilegal de madeira já responde por entre 15% e 30% do seu comércio global, segundo o mesmo relatório. Depois de lembrar que as florestas do mundo capturam e armazenam dióxido de carbono e ajudam a mitigar a mudança climática, o estudo ressalva que o desmatamento, principalmente de florestas tropicais, é responsável por cerca de 17% de todas as emissões de CO2 causadas pelas pessoas — superior a 50% da causada em conjunto por navios, aviões e veículos de transporte terrestre.
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Esforço internacional O relatório conclui que, sem um esforço coordenado internacionalmente, madeireiros ilegais e cartéis vão continuar controlando operações de um porto a outro em busca de seus lucros, em detrimento do meio ambiente, das economias locais e até mesmo da vida dos povos indígenas. O Pnuma lembra que tanto o REDD quanto o REDD+ fornecem marcos legais nacionais e internacionais, incluindo acordos, convenções e sistemas de certificação, para reduzir a extração ilegal de madeira e apoiar as práticas sustentáveis. Mas, para que o REDD+ seja sustentado a longo prazo, os pagamentos aos esforços de conservação das comunidades precisam ser maiores do que os lucros provenientes de atividades que levam à degradação ambiental. “O financiamento para gerenciar melhor as florestas representa uma enorme oportunidade não somente para a mitigação da mudança do clima, mas também para reduzir as taxas de desmatamento, melhorar o abastecimento de água, diminuir a erosão do solo e gerar empregos verdes decentes no manejo de recursos naturais”, disse Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma. “A exploração madeireira ilegal pode, contudo, minar esse esforço, roubando as chances de um futuro sustentável de países e comunidades, caso as atividades ilícitas sejam mais rentáveis do que as atividades legais sob o REDD+”, acrescentou. Práticas sugeridas Para não ficar apenas na denúncia, o relatório sugere, entre outras práticas: • Aumentar as capacidades nacionais de investigação e operação por meio
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de treinamentos sobre crime ambiental transnacional. Centralizar todas as licenças de desmatamento em um registo nacional, o que poderá facilitar muito a transparência e investigação. Classificar regiões geográficas com base no grau de suspeita de ilegalidade e restringir o fluxo de madeira e produtos de madeira dessas áreas. Incentivar investigações de fraude fiscal com um foco particular em plantações e usinas. Reduzir a atratividade de investimentos em empresas florestais ativas em regiões identificadas como áreas de extração ilegal de madeira por meio da implementação de um sistema de classificação internacional da Interpol de empresas de extração, operação e compra em regiões com um alto grau de atividade ilegal.
Desmonte de gestão Se não bastassem esses alertas todos, NEO MONDO registra o lançamento do livro Conservação da natureza e eu com isso?, durante o VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Natal. A iniciativa é da Fundação Brasil Cidadão e de ambientalistas que criticam o “desmonte da gestão ambiental” do país. Segundo um dos organizadores do livro, José Truda Palazzo, da Rede Marinho-Costeira e Hídrica do Brasil, ainda vigora por aqui o discurso de que “a natureza atrapalha o progresso e as espécies da fauna atrapalham as obras desenvolvimentistas”. Truda avalia que “o país vive uma política
deliberada de desmonte da gestão ambiental, o que inclui o desmonte das Unidades de Conservação”. Gravíssimo, não é mesmo? E que, por isso, “estamos tentando contribuir para despertar a cidadania para a conservação da natureza no Brasil”. Com artigos de mais de 10 autores, a obra tem ênfase nas UCs, mas também discute temas como a transposição do rio São Francisco, a perda da biodiversidade, geração de emprego e renda de UCs e proteção de espécies ameaçadas. Segundo Truda, este é o primeiro lançamento de vários que serão feitos no Brasil. “Esperamos que os gestores públicos e a juventude possam atuar e abram a cabeça para se mobilizarem”. O Brasil conta com 312 UCs federais, número que salta para mais de 1 mil UCs se forem contadas as estaduais e municipais. “A implementação delas [UCs] é baixíssima e há uma enorme quantidade das áreas de uso múltiplo onde existe pouquíssima gestão, onde o pescador pesca de maneira predatória, o madeireiro desmata e o Estado está ausente. Falta fiscalização e proteção do patrimônio público natural, que é de todo mundo”, defendeu Truda.
Reprodução
Com o sugestivo nome de Carbono Verde: Comércio Negro o relatório detalha: o comércio ilegal, correspondente a um total de US$ 30 bilhões a US$ 100 bilhões por ano, dificulta a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (Iniciativa REDD) — uma das principais ferramentas para catalisar a mudança ambiental positiva, o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e a redução de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a Interpol observou crimes associados ao aumento da atividade criminosa organizada, como a violência, assassinatos e atrocidades contra os habitantes das florestas indígenas.
Livro da Fundação Brasil Cidadão denuncia ‘falta de fiscalização e proteção de patrimônio público global’
‘Brachycephalus tridactylus’ (3 dedos), imponente descoberta de 1,5 cm
‘Formiguinha’ descobre aves, anfíbio... O ‘trabalho de formiguinha’, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, já foi tema de outras matérias de NEO MONDO. Nesta edição, dedicada ao Dia Mundial do Meio Ambiente, trazemos a nossos leitores algo que se assemelha a encontrar oásis nos caminhos de quem se perdeu no deserto. São descobertas que comprovam a seriedade de iniciativas pró-meio ambiente e que saciam, mais do que a sede do corpo, a sede de conhecimento, de compromisso. São oásis que lavam a alma. A Fundação acredita que é preciso ter paixão pela natureza. Identificação essa que motivou a bióloga Bianca Reinert a superar as inúmeras adversidades que se apresentaram ao longo de sua carreira. Descobridora de duas novas espécies de aves, entre elas o emblemático bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), a pesquisadora investiu muito mais do que apenas o seu tempo até o pequeno animal cruzar seu caminho. “Desde 1995, quando encontrei o bicudinho-do-brejo, tenho dedicado minha vida a ele”, conta. Em 1991, Bianca iniciou um período de pesquisas de campo em áreas úmidas naturais, os brejos do litoral do Paraná, que mudaria a sua vida. Em uma faixa com cerca de 30 quilômetros entre Matinhos e Pontal do Paraná, a pesquisa se estendeu por quatro anos e estava prestes a ser finalizada quando, em 1995, o simpático bicudinho foi avistado pela primeira vez. “No momento que o vimos, sabíamos que havia algo diferente”, diz. A descoberta teve um significado muito especial para a bióloga, pois fechava um longo ciclo. “Nosso trabalho em campo foi realizado de forma autônoma a partir de um grande esforço financeiro e pessoal e descobrir uma nova espécie foi muito simbólico”, revela. Apaixonada pela nova ave, sua dedicação à conservação da natureza foi além dessa descoberta. Junto a outros colegas “apaixonados pela natureza”, como ela própria diz, comprou uma área na região de Guaratuba, no Paraná. O objetivo era transformá-la em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com um centro de pesquisas, o que conseguiu tornar realidade em março de 2009.
Apoio fundamental O apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário foi fundamental e, três anos depois, Bianca pôde tocar o projeto, o que possibilitou ações mais efetivas para conservar a espécie. Depois de um período de coleta de dados sobre a ave e seu habitat, foi identificada a presença de uma planta exótica invasora no local, a braquiária-d’água (Brachiaria subquadripara), que prejudicava a sobrevivência do bicudinho-do-brejo. Essa planta, trazida da África para ser utilizada como pasto, se alastrou pela região, destruindo espécies nativas. A bióloga descobriu ainda outra espécie, o macuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis), na região metropolitana de Curitiba. Foi em 1998, próximo de onde hoje fica a barragem do Rio Iraí. Quando avistou a ave na região, logo percebeu que se tratava de um macuquinho, o que causou estranhamento, pois a espécie não tinha sido avistada naquele habitat. Após capturar um indivíduo para estudo, percebeu-se que se tratava de nova espécie. “As mulheres têm uma percepção bastante aguçada na observação e isso rende belos frutos na pesquisa de campo”, reflete Bianca ao lembrar das conquistas de sua carreira. Ao menos para a bióloga, a superação propiciou que exercesse a mais feminina das características: a sensibilidade. Família do joão-de-barro Também com apoio da ONG outra nova espécie de ave foi descoberta em uma das regiões mais pesquisadas do país, a Serra do Cipó, localizada na região sul da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, a apenas 50 quilômetros da capital mineira. O Cinclodes espinhacensis, pássaro que é da mesma família do joão-de-barro, tem como nome popular pedreiro-do-espinhaço. Ele foi avistado pela primeira vez em 2006 e foi oficialmente reconhecido na revista internacional de ciência IBIS. O estudo que originou a descoberta foi realizado por Anderson Chaves, Fabrício Santos, Guilherme Freitas, Lílian Costa e Marcos Rodrigues, todos pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o apoio da Fundação.
Entre suas características, segundo os pesquisadores, a Cinclodes espinhacensis lembra, parcialmente, o joão-de-barro, porém com uma tonalidade mais escura (marrom-chocolate), e possui a cauda longa. Além disso, existem diferenças notáveis na coloração da plumagem em relação ao Cinclodes pabsti, o parente mais próximo que vive nas Serra Geral, entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Eles explicam que o pássaro é relativamente grande e busca por insetos andando pelo solo. Ele possui grande capacidade de voo, o que permite buscar alimentos a longas distâncias, bem como explorar muito os afloramentos rochosos dos campos rupestres que ocorrem nas serras mais altas da região, onde aproveita dos córregos desses lugares. Hoje a pesquisa abrange um estudo ecológico com uma população do pedreiro-do-espinhaço. Para monitorar as aves, os pesquisadores contam com o apoio de um recurso tecnológico chamado radiotelemetria, no qual transmissores instalados nos animais permitem localizar os indivíduos à distância através de ondas de rádio. O projeto que originou a atual pesquisa limitava-se no início ao estudo de uma outra espécie da mesma família, o joão-cipó (Asthenes luizae), que foi descoberto pela ciência também nos campos rupestres da Serra do Cipó em 1990. “Utilizamos esta tecnologia para caracterizarmos como vive esta nova espécie, onde ela ocorre de fato e o que fazer para conservá-lo, já que ele já nasce para a ciência ameaçado de extinção. Este projeto atualmente vigente, apoiado pela Fundação Grupo Boticário, visa ao estudo de ambas as espécies: o joão-cipó e pedreiro-do-espinhaço”, explica a pesquisadora Lílian Costa. Guilherme Freitas, outro pesquisador responsável pela descoberta, afirma que a Cinclodes espinhacensis foi observada pela primeira vez nos arredores de um casebre de madeira localizado no alto da serra, no meio do Parque Nacional da Serra do Cipó. “Depois, um indivíduo foi visto e fotografado nos arredores do alojamento do Alto do Palácio, localizado também no alto do Parque Nacional, mas às margens da rodovia, onde estávamos alojados para realização das pesquisas do Laboratório de Ornitologia”, afirma. Neo Mondo - Junho 2013
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Divulgação Fundação Grupo Boticário
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Bianca: vida dedicada ao bicudinho-do-brejo, entre outras espécies, com percepção aguçada e sensibilidade
Lilian explica que a partir daí foram realizadas várias expedições e diversas populações de Cinclodes espinhacensis foram encontradas, sempre nas áreas mais altas da Serra do Cipó. “Coletamos várias informações relativas à coloração de plumagem, morfometria, vocalizações, comportamento, sequências de DNA, e as comparamos as relativas às outras espécies da família. Todas as pistas levantadas levaram à mesma conclusão: de que haviam diferenças significativas nos indivíduos da Serra do Cipó”, destaca. Guilherme Freitas também ressalta a importância de contar com apoio qualificado em pesquisas. O da Fundação Grupo Boticário foi essencial nos trabalhos em equipe dos quais participou. “A Fundação tem contribuído muito ao longo desses anos com as pesquisas dessas e outras aves especiais dos campos rupestres. A parceria com o Laboratório de Ornitologia da UFMG é fundamental, pois os recursos são necessários para estudar estas aves, geralmente em locais de acesso difícil, principalmente quando empregamos alta tecnologia, como a radiotelemetria”, ressalta. Por meio das iniciativas de conservação da natureza apoiadas pela ONG em diversas regiões do Brasil, já foi possível descrever mais de 40 novas espécies de animais e plantas. Em 22 anos de atuação, US$ 11,8 milhões foram doados para 1.324 iniciativas de 456 instituições de todo o país. Anurofauna comparada Não é só em pesquisas com aves que a Fundação Grupo Boticário tem obtido
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resultados. Uma nova espécie de anfíbio anuro (rãs, pererecas e sapos) foi descoberta na Reserva Natural Salto Morato (PR), localizada no bioma Mata Atlântica, o mais ameaçado no Brasil. O Brachycephalus tridactylus foi encontrado em fevereiro de 2007 e, em junho deste ano, foi oficialmente declarado como uma nova descoberta no artigo da revista internacional Herpetologica. O estudo que originou a descoberta foi realizado pelo biólogo Michel V. Garey e recebeu apoio da ONG por meio de parceria com o Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGECO) da Universidade Federal do Paraná. O objetivo da pesquisa foi comparar a anurofauna (diversidade de rãs, pererecas e sapos) de três diferentes estágios sucessionais de vegetação (Capoeira, Capoeirão e Mata primária) da Floresta Atlântica da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário. No total, foram registradas 42 espécies pertencentes a nove famílias. Porém, cinco delas foram encontradas em outros ambientes que não fizeram parte da amostragem e nesse grupo está o sapo Brachycephalus tridactylus. Essa nova espécie, que só ocorre no alto da Reserva Natural Salto do Morato (acima de 900 m de altitude), é caracterizada por possuir coloração alaranjada, pequeno tamanho (menor que 1,5 cm) e apenas três dedos nos membros anteriores, por isso do nome B. tridactylus (três dedos). Para Michel V. Garey, essa descoberta é muito importante. “Primeiramente
porque avança no conhecimento dos anfíbios no Brasil. Outro ponto importante é que essa espécie ocorre na Mata Atlântica, bioma extremamente ameaçado pelo desmatamento”, explica. Brachycephalus tridactylus é a segunda nova espécie descoberta na Reserva Natural Salto Morato. Em 1994, os pesquisadores Mário de Pinna e Wolmar Wosiacki encontraram a espécie de peixe Listrura boticario durante projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário. O artigo que descreve o peixe foi publicado em 2002. Esta espécie, do grupo dos siluriformes, o mesmo ao qual pertencem os bagres, pintados e mandis, foi descrita com base em um único exemplar encontrado em uma poça marginal a um rio de corredeira na Floresta Atlântica, na Reserva Natural Salto Morato. Em seus 2.253 hectares, a Reserva Natural Salto Morato protege a rica biodiversidade e também tem um centro de pesquisas com alojamento e laboratório para oferecer suporte aos pesquisadores. Mais de 80 pesquisas já foram realizadas no local, incluindo teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização, em assuntos diversos como biologia e ecologia de espécies de fauna e flora, análise do manejo da Reserva, visitação, trilhas, ecoturismo, bem como os que diretamente embasam as ações de manejo do patrimônio natural da Reserva. Por meio das iniciativas de conservação da natureza apoiadas pela Fundação, dentro da Reserva Natural Salto Morato e em diversas outras regiões do Brasil, já foi possível descrever mais de 40 novas espécies de animais e plantas. Em 21 anos de atuação, US$ 11,7 milhões foram doados para 1.306 iniciativas de 456 instituições de todo o país. No mundo, existem mais de 6,7 mil espécies de anfíbios, e o Brasil é o país com maior diversidade do mundo. Estima-se que o país tenha cerca de 946 espécies, sendo que no Paraná são conhecidas mais de 120 espécies de anuros. Apesar desta grande diversidade, tem-se pouca informação sobre eles. De acordo com o pesquisador Michel V. Garey, esta é uma das grandes dificuldades em se pesquisar os anfíbios anuros. “Não conhecemos quase nada sobre os hábitos dessas espécies, que inclusive podem ter muita importância, até mesmo farmacológica, e que nós desconhecemos”, afirma.
Reprodução UN Photo
Planeta superestressado pede socorro Francisco] nutria para com todas as criaturas’; ‘dava-lhe o doce nome de irmãos e irmãs, de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus’. Recolhia dos caminhos as lesmas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no inverno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que aí pudessem crescer todas as ervas, inclusive as daninhas, pois ‘elas também anunciam o formosíssimo Pai de todos os seres’ ”. Em sua rica produção literária Leonardo publicou pela editora Vozes, em 2009, A oração de São Francisco pela paz. A paz sem ganância, sugerida na abertura desta nossa matéria. ‘Dado de ciência’ Já no artigo escrito há pouco tempo o teólogo prossegue: “... notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente daquele da modernidade. Nesta, o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domina. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso um laço de consanguinidade nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós. São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os yanomamis ou os andinos, que se sentem parte da natureza, do que dos filhos e filhas da modernidade técnico-científica, para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada. “Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência intelectual; ela nos trouxe incontáveis comodidades. Mas não nos fez mais integrados e felizes, porque colocou em segundo plano, ou até recalcou, a inteligência emocional, ou cordial, e negou cidadania à inteligência espiritual. Hoje se faz urgente amalgamar estas três expressões da inteligência, se
Achim Steiner, do Pnuma: madeira pirateada rouba chances de futuro sustentável em países e comunidades
quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que têm nelas o seu nicho: a reverência, o respeito e a convivência pacífica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida”. ‘Homem de outro século’ Na conclusão de seu artigo Leonardo lembra: “Francisco viveu esta síntese entre a ecologia interior e a ecologia exterior, a ponto de São Boaventura chamá-lo de ‘homo alterius saeculi’ ‘um homem de um outro tipo de mundo’; hoje diríamos: de outro paradigma. Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. O Francisco de Roma dever-se-á fazer o portador dessa herança sagrada, legada por São Francisco de Assis. Ele poderá ajudar toda a humanidade a fazer a passagem deste tipo de mundo que nos pode destruir para um outro, vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cósmica, de ternura e de amor incondicional”. Reprodução
É possível até que das fumaças brancas do Vaticano, anunciando a eleição do papa Francisco, surjam também sinais de esperança ecológica. Isso se for realizado o desejo do teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, que já no título de um de seus mais recentes artigos publicados em escritos_em_rede questiona: “Papa Francisco, promotor da consciência ecológica?”. Leonardo descreve o contexto em que surge a figura do bispo de Roma, Francisco, como aquele em que “cresce mais e mais a consciência de que entramos numa fase perigosa da vida na Terra. Nuvens escuras nos ocultam as estrelas-guias e nos advertem para eventuais tsunamis ecológico-sociais de grande magnitude. Faltam-nos líderes com autoridade e com palavras e gestos convincentes que despertem a humanidade, especialmente as elites dirigentes, para o destino comum da Terra e da Humanidade e para a responsabilidade coletiva e diferenciada de garanti-lo para todos”. Daí que, para o teólogo, o papa recém-eleito “poderá desempenhar um papel de grande relevância. Ele explicitamente se religa à figura de São Francisco de Assis. Primeiramente pela opção clara pelos pobres, contra a pobreza e pela justiça social, opção nascida inicialmente no seio da Igreja da libertação latino-americana em Medellin (1968) e Puebla (1979) e feita, segundo João Paulo II, patrimônio da Igreja Universal. Esta opção, bem o viram teólogos da libertação, inclui dentro de si o Grande Pobre que é nosso planeta superestressado, pois a pisada ecológica da Terra foi já ultrapassada em mais de 30%”. Em sua análise Leonardo trata a questão ecológica na perspectiva do poverello d’Assisi: “... como devemos nos relacionar com a natureza e com a Mãe Terra? E’ neste particular que Francisco de Assis pode inspirar Francisco de Roma. Há elementos em sua vida e prática que são atitudes-geradoras. Vejamos algumas.Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam ‘o terníssimo afeto que [São
Leonardo alerta: “pisada ecológica da Terra foi já ultrapassada em mais de 30%” Neo Mondo - Junho 2013
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Retrospectiva 2013
Mitos e realidade na transposição parcial do
Prevista para estar concluída em dezembro de 2012, o grande trunfo social da obra seria garantir água a 12 milhões de pessoas em 390 municípios do semiárido brasileiro Da Redação
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ma obra gigantesca, que ainda pode entrar para a história do Brasil como redentora de uma dívida social do País para com seus habitantes em estados da região Nordeste, é também uma das que sofre críticas mais severas de brasileiras e brasileiros que vivem por lá. Até greve de fome de bispo já marcou a polêmica em torno do ambicioso projeto, que, segundo a Agência Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação EBC), é “uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento. A previsão era que a obra estaria pronta até o fim de 2012. O projeto ligará as águas do rio às bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, a fim de garantir água para cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco, do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. “A obra está dividida em duas partes. O Eixo Leste, com 220 km, prevê a construção de canal, estações de bombeamento, reservatórios, túneis e aquedutos entre os mu-
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nicípios de Monteiro e Floresta, ambos na Paraíba. No Eixo Norte, que tem 402 km, o trabalho será realizado entre as cidades de São José de Piranhas (PB) e Cabrobó (PE)”. Em meados de fevereiro de 2013, ainda de acordo com a Agência Brasil, o Ministério da Integração Nacional (MI) estava “concluindo um processo que levanta suspeitas de inconformidade em medições feitas em cinco dos 14 trechos de obras de integração do Rio São Francisco. Neste momento, quatro desses processos iniciados em maio de 2012 - estão em fase de conclusão na consultoria jurídica do ministério. Um já foi concluído. “A previsão é que, até abril, todos os processos tenham sido encaminhados ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União. De acordo com o ministério, foram encontradas até o momento inconsistências em medições nos contratos de obras e serviços nos trechos 1, 2, 9, 10 e 11. Para cada lote foi aberto um processo no ministério.
“Os indícios de irregularidades foram identificados durante levantamento feito pelas empresas supervisoras. Os cinco processos abertos têm por base a lista de retificações apresentadas a partir desses trabalhos”. Estudiosos e especialistas de vários setores apontaram, entre os principais equívocos do ambicioso empreendimento (que leva o pomposo nome de Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional), o alto custo (R$ 8,5 bilhões, em valores corrigidos) e a baixa abrangência territorial e populacional: apenas 5% do território e 0,3% da população do semiárido brasileiro. Mais grave ainda, estragos ao ecossistema regional já se fizeram sentir, entre eles, perda da biodiversidade, assoreamento, salinização. Para esses críticos, mais correto teria sido investir na recuperação do Velho Chico, que vem num processo de anos de degradação.
Comunidades X multinacionais Narciso tenta ser sucinto ao falar da transposição: “Para começar o custo é astronômico, e com esse dinheiro daria para resolver uma infinidade de pequenas necessidades: cisterna, pequenos açudes, reflorestamento, assistência técnica e creditícia, entre outras. O projeto da transposição corta inúmeras aldeias indígenas e quilombolas, destruindo a vida dessas comunidades. As multinacionais já compraram as melho-
res terras nas imediações da passagem das águas... Claro, muita gente terá trabalho temporário nas obras da transposição, e haverá certo progresso por onde ela passa”. A dura constatação de Narciso, em 2013, é que o cenário não mudou para melhor no
Nordeste, antes pelo contrário: “Estamos, mais uma vez, em plena seca. Então, não dá para plantar árvores, mas para plantar ideias. Ou resolvemos o problema da seca ou animais continuarão morrendo, pessoas sofrendo fome/doenças e alimentos escasseando”. ABr
O catarinense Narciso Cechinel já viajou por esse mundo de Deus, aí incluídos estudos superiores na Europa, e vive no Nordeste brasileiro há 40 anos. Nessa região o sociólogo e professor de cidadania é conhecido por trabalhos em ONGs. Não por acaso um de seus filhos se chama Vandré, homenagem ao poeta e cantador que melhor do que ninguém soube cantar com todo vigor o quanto o nordestino é potencialmente rico de cultura, de princípios e ao mesmo tempo pobre ao ser explorado por potências internas.
Comunidades quilombolas, segundo sociólogo, também estariam ameaçadas pelo projeto da transposição
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Narciso, sociólogo com 40 anos de vivência nos problemas nordestinos, avalia que a contratação de mão de obra temporária é um dos poucos ganhos da gigantesca obra
É desse jeito que ele procura chamar a atenção e despertar a consciência de brasileiras e brasileiros ao redigir o trabalho “Plantando Árvores e Ideias ou a Volta da Asa Branca”,escrito no Sertão de Pajeú. Para Narciso, “o semiárido é viável”, desde que respeitados os direitos básicos de sua população. Ele explica: “O sertão/semiárido com seu sol, sua poeira, sua sede, sua fome, suas mortes, suas lágrimas, suas doenças, suas saudades, sua fé, sua esperança é viável. Essa é a ideia que precisamos plantar, começando pela cabeça das pessoas que vivem no semiárido. Não é verdade que as ideias movem e transformam o mundo? Já era sonho de Dom Fragoso (Crateús– CE): ‘Conscientizar o povo do campo para que descubra sua dignidade, se organize e ande com seus próprios pés... para que lute pela justiça e pelos seus direitos’. “As pessoas do semiárido, pelo simples motivo de cidadania, têm direito à terra, à água, ao trabalho, à segurança alimentar e outros direitos. Quem mora nas brenhas do sertão não deve ser lembrado (a) só em época de eleição para comprar seu voto ou no tempo da seca para receber esmolas. É preciso formar a consciência crítica/política da gente sertaneja, combatendo assim o tráfico de votos, fruto de quem vende, e o banditismo eleitoral, fruto de quem compra o voto. Que tal uma CPI sobre o tráfico de votos? Os políticos não vão dar um tiro no próprio pé. Sobraria pouco político com ficha limpa...”
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Em seu trabalho Narciso cita Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão”. Bicicleta sem roda Pesquisadores apontam a “extinção inexorável” do rio São Francisco. É o caso do professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, que reuniu 100 especialistas e publicou o livro Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação (Andrea Jakobsson Estúdio). A obra, recém-lançada (fevereiro de 2013), é citada no blogspot “Meu Velho Chico um rio pede socorro”, de João Carlos Figueiredo. Figueiredo se define “poeta, pensador, espeleólogo, montanhista, mergulhador, fotógrafo amador, amante da Natureza, e agora canoísta, gosto da vida como ela é, repleta de surpresas e relacionamentos, às vezes complexos, outras, deliciosamente simples e diretos, como devem ser o amor e a amizade. Navegar é preciso... nas águas do velho Chico! Quero percorrer seus caminhos, reviver suas lendas... proteger o seu povo... defender suas águas...”. Vale a pena conferir como ele descreve o intenso e extenso trabalho desses pesquisadores: “É equivalente a dar oito voltas na Terra - ou a andar 344 mil quilômetros -
a distância percorrida por pesquisadores durante 212 expedições ao longo e no entorno do Rio São Francisco, entre julho de 2008 e abril de 2012. O trabalho mapeia a flora do entorno do Velho Chico enquanto ocorrem as obras de transposição de suas águas, que deverão trazer profundas mudanças na paisagem. Mais do que fazer relatórios exigidos pelos órgãos ambientais que licenciam a obra... “Em 556 páginas e quase três quilos de textos, mapas e muitas fotos, a publicação é o mais completo retrato da Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil e extremamente ameaçado. O título do primeiro dos 13 capítulos, assinado por Siqueira, é um alerta: “A extinção inexorável do Rio São Francisco”. “- Mostro os elementos de fauna e da flora que já foram perdidos. É como uma bicicleta sem corrente, como anda? E se ela estiver sem pneu? E se na roda estiver faltando um raio, e quando a quantidade de raios perdidos é tão grande que inviabiliza a bicicleta? Não sobrou nada no Rio São Francisco. Sinceramente, não sei o que vai acontecer comigo depois do livro, mas precisava dizer isso - desabafa o professor da Univasf. - Queremos que o livro sirva como um marco teórico para as próximas décadas. Vou provar daqui a dez anos o que está acontecendo. “Ao registrar o estado atual do Rio São Francisco, o pesquisador estabelece pontos de comparação para uma nova pesquisa, a
Adalberto Marques MI
Um dos trechos concluídos em 2012 é o do canal e barragem em Cabrobó (PE) com as obras executadas pelo Exército
ser feita no futuro, medindo os impactos dos usos do rio. Além do desvio das águas, há intenso uso para o abastecimento humano, agricultura, criação de animais, recreação, indústrias e muitos outros. Desaguam no Velho Chico milhares de litros de esgoto sem qualquer tratamento. Barramentos - sendo pelo menos cinco de grande porte em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó - criam reservatórios para usinas hidrelétricas. Elas produzem 15% da energia brasileira, mas têm grande impacto. Alteraram o fluxo de peixes do rio e a qualidade das águas, acabaram com lagoas temporárias e deixaram debaixo d’água cidades ou povoados inteiros, como Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Sobradinho. “Com o fim da piracema, uma vez que os peixes não conseguiam mais subir o rio para se reproduzir, o declínio do número de cardumes e da variedade de espécies foi intenso. Entre as mais afetadas, as chamadas espécies migradoras, entre elas curimatá-pacu, curimatá-pioa, dourado, matrinxã, piau-verdadeiro, pirá e surubim. “Não foram as barragens as únicas culpadas pelo esgotamento de estoques pesqueiros do Velho Chico. Programas de incentivo da pesca, que não levaram em consideração a capacidade de recuperação dos cardumes, aceleraram a derrocada da atividade. Espécies exóticas, introduzidas no rio com o objetivo de aumentar sua produtividade, entre elas o bagre-africano, a
carpa e o tucunaré, se tornaram verdadeiras pragas, sem oferecer lucro aos pescadores. “A região do São Francisco, que já foi considerado um dos rios mais abundantes em relação a pescado no país, precisa lidar com a importação em larga escala de peixes, sobretudo os amazônicos, para suprir o que não consegue mais fornecer. Uma das espécies mais comercializadas na Praça do Peixe, a 700 metros do rio, é o cachara (surubim) do Maranhão ou do Pará. Nos restaurantes instalados nas margens do Rio São Francisco, o cardápio oferece tilápias cultivadas ou tambaquis importados da Argentina. A mudança provocada pelo homem tanto nas águas do Velho Chico quanto na vegetação que o circunda foi drástica e rápida. Tendo como base documentos históricos disponíveis, entre eles ilustrações de expedições de naturalistas importantes, como as do alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, é possível ver a exuberância do passado. Um desenho feito há 195 anos mostra os especialistas da época deslumbrados com árvores de grande porte, lagoas temporárias, pássaros em abundância. Ou seja, uma enorme biodiversidade, que hoje não existe mais. “Menos de dois séculos depois, restam apenas 4% da vegetação das margens do Rio São Francisco. Desprovidas de cobertura verde, elas sofrem mais com a erosão, que assoreia o rio em ritmo acelerado. Os solos apresentam altos índices de saliniza-
ção e os açudes ficam com a água salobra. Aumentam as áreas de desertificação. O Velho Chico está praticamente inviável como como hidrovia. Espécies foram extintas e ecossistemas estão profundamente alterados. “Diante da expectativa da ‘extinção inexorável do Rio São Francisco’, o livro ressalta a importância de gerar conhecimento científico. Não apenas os pesquisadores precisam se debruçar mais sobre o bioma como também o senso comum criado sobre a Caatinga a empobrece. Por isso o título do livro optou por «Caatingas», no plural, chamando a atenção para sua enorme diversidade. “- O processo que levará ao fim do Rio São Francisco não começou hoje. Basta olhar a ilustração para ver o que aconteceu em tão pouco tempo, menos de 200 anos. A imagem nos mostra um bioma surpreendente: o tamanho das árvores, a diversidade de animais, a exuberância - ressalta Siqueira. -Observamos que ocorre um efeito em cascata. Tanto que, se algo não for feito agora, de forma veemente, o impacto do aquecimento global na Caatinga, que é o local mais ameaçado pelas mudanças climáticas, será dramático”. Vandré, o cantador, fez “versos com certeza... não separa dor de amor”. É dele uma verdade que nos parece absoluta: “... a vida não muda mudando só de lugar”. Que esse verso não seja profético em relação ao Velho Chico.
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Cada pessoa pode plantar árvores e ideias NEO MONDO, coerente com seu slogan “Um olhar consciente”, selecionou trechos do trabalho de Narciso pelo que representam de prático no cotidiano nordestino. Confira a seguir: “Todas as pessoas que amam o semiárido são responsáveis pelo plantio dessas ideias. Mais de perto as associações rurais, os sindicatos, as cooperativas, etc. Também as escolas, as emissoras de rádio, publicações locais, etc. A religião pela sua ligação entre os fieis e Deus que pode plantar ideias com facilidade total, já que às vezes Ele não manda a chuva...
Cobertura Vegetal Um módulo rural deve ter uma área de mata permanente, outra para o cultivo, outra para o pastoreio. Qual seria então a área ideal para um módulo rural? O que diriam os (as) agricultores (as), o MST, o INCRA? Temos aqui um probleminha: o minifúndio. Mas no sertão também há o latifúndio... O fantasma da desertificação ameaça o semiárido. É preciso convencer o (a) agricultor (a) a evitar qualquer tipo de queimada. Queimar é crime. A mata está sendo usada para a cozinha, para a cerca, para a churrascaria, para a padaria, etc.. Andando pelas estradas encontra-se vários caminhões com lenha, estacas, carvão, etc. Alô poderes legislativos (municipal, estadual e federal) é preciso leis severas para evitar o desmatamento.
Reflorestamento/arborização. Alô agricultores (as) prefeituras, estados e governo federal: não basta cessar o desmatamento. É urgente reflorestar/arborizar. É preciso plantar árvores em cada palmo de terra do campo e da cidade. Onde há arborização sente-se a diferença de temperatura. O clima é agradável porque tem árvores, arbustos, etc. Pessoas, animais e o planeta ganharão com isto. Existem muitas organizações, departamentos, projetos, institutos, universidades, etc Temos capacidade para esse trabalho junto com os (as) agricultores (as) e com experiências exitosas, (ASA, Centro Sabiá, Caatinga, etc.) Mas é preciso reconhecer: é um pingo d’agua num oceano de sêca. “Os (as) agricultores (as) conhecem bem as diversas árvores que suportam a estiagem e fornecem alimento para o gado. É preciso juntar o saber empírico com a visão científica que órgãos de pesquisa podem fornecer, facilitando a preparação de sementes/mudas. Cada município ou pelo menos cada região do sertão precisa ter um campo de fornecimento de sementes/mudas e acompanhamento técnico. Plante essa ideia e as árvores, para salvar o sertão”. ABr
Guardar água (cisterna, barragem, açude, etc.). Sempre ouvi dizer que o problema não é bem falta de água. Ela “chove” abundante durante alguns meses e vai quase toda embora. O certo então é guardá-la . Deixá-la ir embora e depois trazê-la de volta é insensatez, para não dizer burrice./ transposição. Pelo que cada módulo rural/ familiar deve ter uma cisterna com pelo menos 50 mil litros. Essas de plástico, de 15 mil litros é piada ou enrolação... Um
módulo rural deve ter também um pequeno açude ou barreiro, barragem subterrânea, etc. Enfim deve ser retida a água que cai numa propriedade, para não ter que ir buscá-la depois!
“... o semiárido é viável”, desde que sejam respeitados os direitos básicos de sua população, entre eles o acesso a terras férteis
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Devoção e fé
Fotos: Ascom Basílica Santuário de Nazaré
Anualmente, milhões de fíeis se reúnem, em Belém do Pará (PA), na maior manifestação religiosa católica do Brasil, o Círio de Nazaré Da Redação
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cada ano, em Belém do Pará (PA), milhões de fiéis de todas as idades, etnias e classes sociais, muitos de olhos marejados e mãos estendidas, se reúnem pelas ruas da capital paraense em torno de um mesmo objetivo: homenagear Nossa Senhora de Nazaré. Relatos de fé, vitórias, conquistas, superações e solidariedade marcam os mais de 200 anos de história do Círio
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de Nazaré, a maior manifestação religiosa católica do Brasil e um dos maiores eventos religiosos do mundo. Celebrada, desde 1793, no segundo domingo de outubro, o Círio atrai, a cada ano, mais e mais devotos. Em 2012, mais de dois milhões de pessoas se reuniram em torno da corda do Círio, em uma caminhada de 3,6 quilômetros, com várias paradas, para homenagear a Santa. E, em
2013, é esperado um novo recorde. Por sua grandiosidade, o Círio de Belém foi registrado, em setembro de 2004, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial. A introdução da devoção à Senhora da Nazaré, no Pará, foi feita pelos padres jesuítas, no século XVII. A origem da procissão está ligada à lenda da descoberta da
imagem de Virgem de Nazaré. Em 1700, às margens do igarapé Murucutú, o caboclo Plácido José de Souza encontrou a imagem de Nossa Senhora. Ele levou a estátua para sua cabana, mas, no outro dia, ela não estava mais lá. Plácido a achou novamente no igarapé onde a havia encontrado no dia anterior. Este é considerado o primeiro milagre da Virgem de Nazaré. Assim, o Círio refaz há mais de dois séculos o caminho da imagem. O local onde Plácido a encontrou é hoje a Basílica de Nazaré. Assim, na noite de sábado, uma procissão a velas, chamada de transladação, leva a imagem da Basílica de Nazaré para a Catedral da Sé, no centro histórico de Belém,
próximo de onde ficava a cabana de Plácido. Na manhã de domingo, acontece a principal procissão quando a imagem sai da Catedral da Sé e segue para a Basílica de Nazaré, onde a imagem da Virgem fica exposta para veneração dos fiéis durante 15 dias. O termo “Círio” tem origem na palavra latina “cereus” (de cera), que significa vela grande de cera. Além da procissão de domingo, o Círio agrega várias outras manifestações de devoção, como a trasladação, a romaria fluvial e diversas outras peregrinações e romarias. A festa tem ainda vários eventos e comemorações, que duram cerca de quatro semanas.
Apesar de o Círio de Nazaré de Belém ser o mais conhecido, o Círio mais antigo do Brasil data de 8 de setembro 1630 na cidade de Saquarema, no Rio de Janeiro. Procissões semelhantes são realizadas em várias outras cidades do Pará e do Brasil. As mais famosas são o Círio de Soure, o Círio de Vigia, além das procissões realizadas em Castanhal, Breves e em outras cidades paraenses. A cidade do Rio de Janeiro realiza a procissão no mês de setembro, em Copacabana. Brasília, Manaus e Macapá são algumas capitais onde o Círio de Nazaré foi introduzido por paraenses que moram em outros estados.
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Fé e solidariedade O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é experiência de fé, mas é também fonte de solidariedade.
passa por uma triagem. Tudo é vendido para empresas e grupos e a renda é dividida igualmente entre os catadores.
O lixo recolhido durante as romarias do Círio de Nazaré se transforma em renda para famílias de catadores da capital paraense. Em 2012, foram recolhidos mais de 770 toneladas de lixo durante as procissões; sendo cerca de 400 toneladas de materiais recicláveis.
Além disso, grande parte da arrecadação da Festa é investida nas Obras Sociais da Paróquia de Nazaré (Ospan). Milhares de pessoas são beneficiadas anualmente em seus projetos de atendimento médico e odontológico, distribuição de sopa, creches infantis e iniciativas para o desenvolvimento da comunidade, como o programa de inserção no mercado de trabalho e o programa adolescente trabalhador.
Todo o material que pode ser reciclado é levado até um galpão localizado no bairro de Val-de-caes, em Belém, onde
Símbolos da tradição O Círio de Nazaré é cercado de objetos e rituais simbólicos. Conheça, abaixo, os principais:
As crianças, tradicionalmente vestidas de anjos
A corda, espaço de pagamento de promessas dos romeiros e pesa aproximadamente 700 quilos, de puro sisal torcido. Foi incorporada à celebração em 1868.
As novenas, ciclos de orações realizadas durante as semanas que antecedem a festividade, por devotos que realizam pequenas romarias pelas casas de vizinhos.
O manto, sempre com uma conotação mística, relatando partes do evangelho. A cada procissão, há sempre um novo manto envolvendo a figura de Nossa Senhora. Sua confecção é feita com a ajuda de doações, quase sempre anônimas.
O almoço com a família, realizado no domingo da procissão, como um ato de comunhão. Tradicionalmente é composto de Pato no Tucupi e Maniçoba, pratos tradicionais da região.
Os carros de promessas ou dos milagres, que recolhem os ex-votos ilustrativos das graças alcançadas pelos fiéis.
Os brinquedos feitos de miriti, uma palmeira típica do Norte do Brasil.
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Bananas is my business Da Redação
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oucos, ao longo da história, foram mais maltratados do que a casca de banana. A cena é repetitiva: alguém vem andando – geralmente um mocinho bem-apessoado, embora variantes do quadro sejam bem-aceitas – quando ela surge no meio do caminho. E aí, tombos burlescos dignos de comerciais de pomada anti-inflamatória se tornam quase obrigação. Pois a maior inimiga dos distraídos recebeu sua carta de alforria e foi liberta da condição de vilã. A responsável por isso é a pesquisadora Milena Boniolo. Doutoranda da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Milena descobriu que é possível descontaminar água poluída com metais pesados, utilizando, para surpresa geral da nação, a casca de banana. E ainda de um jeito barato. O processo é bastante simples. Antes de tudo, colocam-se as cascas sob o sol para que elas possam secar. Depois, inicia-se o processo de moê-las. Quando o resultado é um pó bem fino, chega a hora de passá-lo por uma espécie de peneira, para que fique homogêneo. Só depois é misturado à água contaminada. Com isso os metais se unem ao pó de banana, permitindo sua extração. “Por meio de alguns testes, descobri moléculas específicas na casca de banana que possuem cargas elétricas negativas. Elas têm afinidade pelas cargas positi-
vas dos metais”, conta Milena. Para cada 100 ml de água contaminada, utilizam-se cerca de 5 mg do pó de casca de banana. Todas as pesquisas foram feitas com contaminação por urânio. Mas, segundo a pesquisadora, outros metais pesados como cádmio, níquel, crômio e chumbo também podem ser removidos. “É importante dizer que as cascas de banana não são queimadas antes de se fazer o pó. Se fosse assim, qualquer coisa teria o mesmo efeito”, diz. Um dos problemas da nova técnica é a porcentagem de purificação. Nos testes, em média 65% dos metais pesados foram removidos da água. Quando questionada sobre a eficiência do projeto, Milena já tem a resposta na ponta da língua. “De que adianta uma remoção de 100% em um milésimo de segundo se o processo é caro?”. E outra: o índice de descontaminação de 65% é o mínimo obtido em um processo. De acordo com a pesquisadora, é possível elevar essa porcentagem repetindo a purificação inúmeras vezes, até chegar próximo à descontaminação desejada. Mas repetir o processo significa torná-lo demorado – o que pode inviabilizar o projeto em escala industrial. Contudo, os testes em maior escala ainda não foram feitos. “Quando as indústrias me procuram, elas imaginam que é só chegar e instalar.
Na verdade, preciso de uma oportunidade para testar tudo isso em escala industrial antes de sair ‘vendendo’ a ideia”, conta. Por enquanto, o certo é que as cascas de banana têm um grande potencial. Mas, para viabilizar economicamente o processo, são necessários mais testes. Apesar dos inconvenientes, as cascas de banana resolvem outra grande questão por tabela. É claro que a contaminação da água por metais pesados gera um grande desequilíbrio ambiental, ocasionando sérios danos ao ecossistema. Contudo, a solução proposta pela pesquisadora para esse desequilíbrio propicia saídas para outro impasse: o problema do lixo. “Ao trabalhar com as cascas de banana, tratamos dois problemas de uma só vez: despoluímos a água com as cascas que iriam parar no lixo. Assim temos o chamado desenvolvimento sustentável”, diz orgulhosa. Apenas na Grande São Paulo, cerca de 4 toneladas de cascas de banana são simplesmente descartadas por ano. Como é um produto praticamente sem valor econômico agregado, algumas empresas já até se disponibilizaram a doar suas cascas para Milena. Com isso o volume de lixo orgânico diminui. E pode, inclusive, gerar renda e agregar valor a um produto que antes era sinônimo de lixo. E de vilão. Isso sim é desenvolvimento sustentável. Neo Mondo Neo -Mondo Janeiro/Fevereiro - Setembro 2008 2014
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criança sempre ocupou um lugar de destaque entre os apelos publicitários. Ao lado de filhotinhos de animais, mulheres esculturais e celebridades, o uso da imagem da criança é uma daquelas fórmulas que resistem ao passar dos anos. Criança é quase sempre sucesso de público e de crítica. Os comerciais com crianças não estão apenas entre os mais comentados pelo público geral, mas também entre os mais premiados em festivais de publicidade por todo o mundo. Quando o anunciante quer reduzir praticamente a zero o risco do seu investimento, ele aposta no poder das crianças. No intervalo publicitário da transmissão da final do futebol americano - o Super Bowl - onde 30 segundos custam facilmente alguns milhões de dólares, o apelo da imagem da criança é um dos mais presentes. Recentemente, a água mineral Evian comprovou a força da criança na publicida38
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de. Com um comercial repleto de bebês fazendo esportes radicais, a marca conquistou a simpatia instantânea de milhões de americanos. O sucesso foi tão grande que o vídeo passou a ser um dos mais vistos no Youtube. Muitos dos clássicos da publicidade brasileira são protagonizados por crianças. Quem não se lembra da campanha dos mamíferos da Parmalat? Veiculada há quase 15 anos, a campanha é ainda recordada com facilidade pelos brasileiros. Não é para menos. Na época, a empresa viu suas vendas crescerem 20% e despontou entre as três principais marcas de alimentos no Brasil. O sucesso da campanha também motivou novas idéias e promoções para a Parmalat. Em 1997, a empresa lançou a promoção “Mamíferos de Pelúcia”, responsável pela distribuição de mais de 15 milhões de bichinhos de pelúcia pelo País. Já em 2007, foi a vez da campanha “Mamíferos crescidos”, que
reuniu as mesmas crianças, agora bem mais crescidinhas. O poder da criança na publicidade é tão grande que ela pode não só vender produtos, como também eleger candidatos. Ainda nos anos 60, a campanha vitoriosa de Lyndon Johnson para a presidência dos Estados Unidos marcou a história da propaganda política com um filme estrelado por uma criança. O objetivo do filme era muito simples: alertar a todos sobre a intenção do candidato adversário de usar armas nucleares no Vietnã. No filme, vemos uma garotinha contando lentamente as pétalas de uma margarida. De repente, surge uma voz grave dando início a uma contagem regressiva para o lançamento de um míssil. Ao final, ouvimos o estrondo de uma explosão nuclear, e vemos o “cogumelo atômico” refletido nos olhos da garotinha. A criança é também uma das principais fontes de humor na propaganda.
Rafael Pimentel Lopes
s persuasiva: ária da criança Sempre com um ponto de vista muito próprio, a criança é com frequência a responsável por aquele comentário engraçado que marca o comercial. Na Alemanha, um comercial recente da Mercedes mostra um diálogo entre um garoto e o futuro padrasto num restaurante. Ao perceber que o homem é dono de uma Mercedes, o garoto diz: “O negócio é o seguinte: ou você vai me levar e buscar na escola todos os dias, ou pode esquecer namorar a minha mãe!”. Para produzir o efeito cômico desejado no comercial, a criança é normalmente representada de algumas formas bastante típicas. Uma das mais usadas é a criança precoce, aquela que é um mini-adulto, e que entende das coisas mais até do que os próprios pais. A campanha do E-trade, um dos sites mais populares para investimentos no mercado de capitais, mostra crianças acompanhando os seus investimentos
na Internet e dando dicas para adultos usando o jargão financeiro. Mostrar uma criança se comportando de modo diferente do esperado sempre chama atenção. Um comercial de sucesso do Sustagen Kids faz exatamente isso. Ao invés de mostrar uma criança esperneando no supermercado para ganhar um chocolate, a propaganda mostra a criança gritando para ganhar brócolis. Outro produto que já retratou a criança de modo curioso é o Gatorade Kids. A marca criou paródias de momentos marcantes de vários esportes, usando crianças para reproduzir cenas, como um “vôo” de Michael Jordan em direção à cesta ou o famoso soco no ar quando Pelé comemorava um gol. É claro que o uso da imagem da criança na publicidade não é necessariamente garantia de sucesso. No entanto, inúmeros exemplos comprovam seu grande potencial. Além de fortalecer a publicidade,
a criança ajuda a entender o que é a boa publicidade. Porque criança é como boa publicidade: espontânea, cheia de vida, e não precisa se esforçar para ser percebida. Desde bem pequena, a criança alcança com facilidade aquele que é o primeiro objetivo de toda peça publicitária: chamar atenção. É por isso que a publicidade recorre tanto à imagem da criança. Afinal, a publicidade precisa conseguir exatamente o que o choro de um bebê consegue: mobilizar as pessoas em poucos segundos. Publicitário da Jung von Matt, em Berlim Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School E-mail: rafael.lopes@jvm.de Neo Mondo - Janeiro/Fevereiro 2014
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