Revista Neo Mondo Edição 62 | Mês de Junho

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www.neomondo.org.br

Ano 8 - No 62 - Junho 2014

Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida

R$ 16,00

DIA MUNDIAL

DO MEIO AMBIENTE Doutor Fantรกstico Drauzio Varella

Empresas

Eletronorte comemora conquistas

Esporte

Legado da Copa


8

Neo Mondo - Julho 2008

Neo Mondo - Julho 2008

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todos os animais Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano. Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam o melhor do espírito humano. Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais 6

Neo Mondo - Julho 2008

Neo Mondo - Julho 2008

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50 ANOS

A ÁRVORE LEVOU 50 ANOS PARA CRESCER. O HOMEM SÓ PRECISA DE 10 SEGUNDOS PARA DERRUBAR.

A NATUREZA JÁ COMEÇOU EM DESVANTAGEM. PRESERVE E AJUDE A EQUILIBRAR ESSE CENÁRIO. 5 DE JUNHO. DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.

Imagem cedida pelo Grupo Keystone.

10 SEGUNDOS


Seções

EDITORIAL

ÍNDICE

Oscar Lopes Luiz

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PERFIL

Presidente do Instituto NEO MONDO oscar@neomondo.org.br

Doutor Fantástico Médico, escritor, comunicador de sucesso

16 DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE Eletronorte comemora conquistas dos projetos de Responsabilidade Social Empresarial Empresa destinou cerca de R$ 15 milhões para diversas ações como fiscalização, programas e auditorias ambientais

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DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE No quintal do nosso mangue Considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, os manguezais contribuem para a biodiversidade, mas são menosprezados pelos projetos de conservação

LEGADO DA COPA Copa sim, mas o principal legado é o espetáculo esportivo Muito pouco restará pós-mundial além dos estádios, turismo e algumas poucas obras, a maioria inacabada

De um lado, mudanças climáticas e desmatamento. Do outro, desenvolvimento sustentável e conscientização. Questões aparentemente antagônicas, mas que se complementam para a preservação ambiental. É com este espírito renovador que a revista NEO MONDO publica sua edição especial do Dia Mundial do Meio Ambiente. O tema principal desta edição serão os mangues. Quando falamos em meio ambiente no Brasil, logo vêm à mente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, deixando de lado os importantes manguezais brasileiros que hoje representam a terceira maior área mundial. A NEO MONDO consolida seu pioneirismo ao aliar sustentabilidade e tecnologia com o novo aplicativo de Realidade Aumentada que traz informações sobre o mangue de forma inovadora. Esta edição também é especial porque celebra os oito anos da revista. E para comemorar, temos mais novidades: - Novo projeto gráfico, com um design orgânico, atual e clean, impressa em papel couchê com certificação (FSC Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal); - Novo portal de notícias, mais dinâmico e interativo. Pioneiro com o lançamento de um blog abastecido pelos próprios usuários, integrado às redes sociais; - Lançamento da revista online, com download completo no portal, além da versão impressa – hoje, com a maior circulação do segmento; - Única da área com Realidade Aumentada (RA), aliando tecnologia e informação à sustentabilidade. NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!

EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz

Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco

Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)

Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos

NEO MONDO INFORMA

Advogados confiam cada vez menos na Justiça

Acesse http://trinitymidia.com. br/meioambiente.html e faça o download do aplicativo gratuito na Google Play ou App Store. Depois de instalado, aponte a camera do seu tablet para a capa de NEO MONDO e SURPREENDA-SE!

Diretor de Tecnologia - Roberto Areias de Carvalho Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho - São Paulo - SP - CEP 05442-040

Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO

Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br

Direção de Arte: LabCom Comunicação Total Projeto Gráfico: LabCom Comunicação Total

Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2619-3054 / 98234-4344 / 97987-1331

Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575)

Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br

PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


Perfil

C

ena rotineira: Drauzio Varella entra no saguão do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), para mais uma visita a seus pacientes internados. Imediatamente, um grupo de pessoas o reconhece e iniciam-se os pedidos de autógrafo, fotos ou até mesmo um conselho médico. Quem presencia a cena, impressiona-se com sua timidez e constrangimento nestas situações. Mas quem tem o prazer de conviver com o profissional alto, sério, de fala mansa, sabe do desconforto genuíno em ocasiões como essa, quando faz questão de ressaltar que não é um astro de TV, mas sim um médico que se aproveita dos meios de comunicação em massa para contribuir, de alguma forma, para o esclarecimento da população em questões relacionadas à saúde. A carreira de escritor de sucesso, por outro lado, começou com a paixão pela leitura. Nota desta repórter que vos escreve: tive a satisfação de conviver por mais de 3 anos com o Dr. Drauzio Varella, por ser o profissional que tratou do câncer da minha mãe. Pediatra, ela sofria com a frieza e distanciamento dos médicos ao tratar de colegas. Após ler o livro o Médico Doente, em que Drauzio conta seu sofrimento ao se ver na condição de paciente grave ao ser acometido por uma febre amarela, identificou-se fortemente com a situação e pediu para conhecê-lo. Por ele e sua equipe, foi acolhida e tratada com carinho e atenção raros na oncologia. Além do médico competente, que não troca o exame clínico pela mais moderna tomografia, conheci um ser humano único.

FANTÁSTICO Por Eleni Lopes

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TV Globo/Zé Paulo Cardeal

DOUTOR

Médico, comunicador e escritor A exposição pública de Drauzio Varella causa uma certa controvérsia, especialmente entre os colegas médicos. Muitos o acusam de oportunismo, mas sem qualquer fundamento prático, talvez até com uma pontada de inveja por seu sucesso e reconhecimento como comunicador e escritor. Quando conduziu recentemente uma série no Fantástico sobre plantas medicinais, muitos o acusaram de estar advogando em prol das indústrias farmacêuticas, desconhecendo seu longo histórico em pesquisas com plantas amazônicas. Casado com a atriz Regina Braga, Drauzio Varella é médico cancerologista, formado pela USP. Nasceu em São Paulo, em 1943. Foi um dos fundadores do Curso pré-vestibular Objetivo, onde lecionou química durante muitos anos. Por 20 anos, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer, em São Paulo (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga. NEO MONDO - Junho 2014

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Perfil Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1986, sob a orientação do jornalista Fernando Vieira de Melo, iniciou campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção à AIDS, primeiro pela rádio Jovem Pan AM e depois pela 89 FM, de São Paulo. Tornou-se famoso ao participar das séries da Rede Globo, sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico. Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do Carandiru, onde também trabalhou como médico voluntário até a desativação do presídio, em setembro de 2002. Isso resultou no best seller Estação Carandiru, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti e inspirou o filme Carandiru. Atualmente, faz o mesmo trabalho na Penitenciária Feminina de São Paulo. É também autor de outros sucessos literários, como Por um Fio e O Médico Doente. Como seu tempo parece render mais que o dos simples mortais, faz pesquisas, participa de congressos internacionais, tem uma coluna quinzenal no jornal Folha de S. Paulo e ainda escreve artigos periódicos para outras publicações. Farmácia amazônica O potencial da biodiversidade brasileira na descoberta de novos fármacos a partir de plantas é imenso. Por isso, Drauzio Varella conduz, na Amazônia, região do baixo rio Negro, um projeto de bioprospecção de plantas brasileiras com o intuito de obter extratos para testá-los experimentalmente em células tumorais malignas e em bactérias resistentes aos antibióticos. Esse projeto, apoiado pela FAPESP, é realizado nos laboratórios da UNIP (Universidade Paulista), em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês. O trabalho teve início em 1995, quando ele e o colega Riad Younes decidiram começar uma busca pelo conhecimento de extratos de plantas e árvores em uma região que contém uma das maiores biodiversidades do mundo, até hoje sub-pesquisada. Além dos dois médicos, formam a equipe farmacólogos, biólogos, técnicos e mateiros. O trabalho foi o primeiro projeto de bioprospecção a solicitar autorização junto ao Ibama, e um dos poucos projetos autorizados a conduzir a extração nas áreas sob a responsabilidade do órgão governamental. Ainda de acordo com a autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, órgão que conta com representantes de vários Ministérios,

o projeto não visa nenhum lucro e as eventuais descobertas reverterão em divisas para a sustentabilidade da própria Amazônia. Estão previstas ainda pesquisas com plantas da Mata Atlântica. Trabalho árduo Em entrevista recente Drauzio contou o progresso do projeto pioneiro. “Conseguimos 2,2 mil extratos. Metade foi testada contra células malignas. Cento e noventa demonstraram alguma atividade. Vinte apresentaram bastante atividade. Separamos oito extratos para estudar profundamente. É um processo muito lento. O extrato é um chá. É preciso fazer exames de cromatografia e ressonância magnética para separar as frações”, explicou. “Aí temos que testar cada fração para ver qual delas é a responsável pela atividade. Essa fração é que vai em frente. Vai ser testada em animais, depois em humanos etc. É tudo muito complexo”. Na pesquisa, são avaliadas drogas contra os tumores mais comuns no Brasil: pulmão, mama, colo retal, cérebro e próstata.

LIVROS PUBLICADOS •

Aids Hoje: 3 volumes em colaboração com os médicos Antonio Fernando Varella e Narciso Escaleira.

Estação Carandiru (Companhia Prêmio Jabuti de 2000

Macacos (Publifolha): Faz parte da série Folha Explica

Nas Ruas do Brás (Companhia das Letrinhas): Literatura infantil; Prêmio Novos Horizontes da Feira Internacional do livro de Bolonha, Itália, e revelação de autor de literatura infantil na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2001.

De Braços Para o Alto (Companhia das Letrinhas): Literatura infantil, publicado em 2002.

Florestas do Rio Negro: Coordenou a elaboração do livro que, sob a editoria científica de Alexandre de Oliveira e Douglas C. Daly, reúne trabalhos de vários colaboradores sobre a biodiversidade botânica da região amazônica e foi indicado para o Prêmio Jabuti em 2002.

Maré – Vida na favela (Casa das Palavras): Co-autoria: Paola Berenstein, Ivaldo Bertazzo, Drauzio Varella, Pedro Seiblitz (imagens).

Por um Fio (Companhia das Letras): Publicado em 2004.

Borboletas da Alma (Companhia das Letras): Publicado em 2006.

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Letras):

O Médico Doente (Companhia das Letras): Publicado em 2007. •

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das

Globo / Zé Paulo Cardeal

Cabeça do Cachorro (Editora Terrabrasil): Drauzio Varella, Araquém Alcântara e Jefferson Peixoto; ensaio publicado em 2008.


Dia Mundial do Meio Ambiente

NO QUINTAL DO NOSSO

MANGUE Por Andreza Taglietti

Considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, os manguezais contribuem para a biodiversidade, mas são menosprezados pelos projetos de conservação

Q

uando se fala em ecossistemas ameaçados pela ação humana, logo vêm à mente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, que sofrem desmatamento acelerado. Menos lembrados são os manguezais, embora tenham importância crucial para a manutenção da vida na costa de forma geral. Considerados um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, contribuem para a biodiversidade de relevância mundial, asseguram a integridade ambiental da faixa costeira e são responsáveis pelo fornecimento dos recursos e serviços ambientais que sustentam atividades econômicas. O Brasil abriga a terceira maior área de manguezais do planeta (162 mil km2). Cerca de 26 mil km2 (cerca de 16% do total) estão distribuídos por 16 estados do território brasileiro, desde o Amapá até Laguna, em Santa Catarina, e são a base da biodiversidade no litoral. Em Pernambuco, existem cerca de 270km2, espalhados por Goiana e Megaó, Itapessoca, Jaguaribe, Canal de Santa Cruz, Timbó, Paratibe, Beberibe, Capibaribe, Jaboatão e Pirapama, Massangana e Tatuoca, Ipojuca, Macaraípe, Sirinhaém, Ilhetas e Mamucabas, Uma e Meireles e Persinunga. Na costa do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais chegam a ter 40 quilômetros de largura e suas árvores alcançam mais de 40 metros de altura. Apesar de sua importância, esse ecossistema é cada vez mais vulnerável a uma série de ameaças, tais como a perda e fragmentação da cobertura vegetal, a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, devido, sobretudo, à poluição e à mudanças na hidrodinâmica, o que tem promovido a diminuição na oferta de recursos dos quais muitas comunidades tradicionais e setores dependem diretamente para sobreviver. Outros fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do manguezal são: aterro e desmatamento; queimadas; deposição de lixo; lançamento de esgoto e de efluentes industriais; dragagens; 16

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construções de marinas; pesca predatória. Estima-se que 25% dos manguezais brasileiros tenham sido destruídos desde o começo do século 20. Além disso, muito dos que ainda existem são classificados como vulneráveis ou ameaçados de extinção. A situação é particularmente séria no Nordeste e no Sudeste, que apresentam um grande nível de fragmentação. Estimativas recentes sugerem que cerca de 40% do que foi um dia uma extensão contínua de manguezais foi suprimido. Hoje, no Brasil, a faixa mais ameaçada é a área conhecida como apicum, palavra de origem tupi que significa “brejo de água salgada”. Os apicuns ocorrem geralmente nas regiões onde as marés têm dificuldade em avançar na costa por encontrar terras elevadas. A água que chega a essas terras se evapora rapidamente e o chão acumula tanto sal que nele sobrevive apenas a vegetação rasteira. Ecossistema-chave Manguezais são inquestionavelmente considerados como uma das organizações mais produtivas do planeta. Na América Tropical, na qualidade de zonas úmidas, são reconhecidos como “ecossistemachave”, cuja preservação é crítica para o funcionamento de outros grupos maiores e mais diversos que se estendem além dos limites de um bosque de mangue. Desempenham importante papel como exportador de matéria orgânica para o estuário, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Cerca de 70% das espécies de peixes, moluscos e crustáceos pescados comercialmente no litoral brasileiro têm relação com os manguezais em alguma fase de sua vida. É nessa área que encontram as condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo para várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico e econômico. É comum a coleta dessas espécies que vivem enterradas

na lama para o comércio. A manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Esse ecossistema também serve de refúgio para aves migratórias. Os mangues do Maranhão e Pernambuco, e também os da região de Cubatão, no litoral paulista, recebem batuíras e maçaricos, aves típicas do norte do Canadá e Estados Unidos, que se recuperam ali após a longa viagem. A vegetação dessas áreas serve para fixar as terras, impedindo assim a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a costa. As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos. Constitui, ainda, importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas. Falta de projetos de preservação O manguezal é considerado, no Brasil, área de preservação permanente, incluído em diversos dispositivos constitucionais (Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais (leis, decretos, resoluções, convenções). Mas sua deterioração é também resultado da ausência de iniciativas, em escala nacional, que visem à sua preservação e ao uso sustentável. Durante muito tempo, os únicos trabalhos produzidos sobre o tema eram de cunho científico, com circulação limitada às universidades e com foco em regiões restritas. O primeiro mapeamento nacional foi feito apenas em 2008, pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Um projeto lançado há três anos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), batizado de Manguezais do Brasil, recebeu financiamento do PNUD, órgão das Nações Unidas que cuida do combate à pobreza e também lida com questões ambientais. Foram escolhidas cinco regiões na costa brasileira, no Pará, Maranhão, Piauí, Paraíba, São Paulo e Paraná, onde serão feitas experiências de gestão e preservação dos recursos. O mapeamento do ecossistema também será atualizado, em parceria com o Ibama e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Espera-se que a iniciativa ajude a preservar os berçários da vida do litoral brasileiro.

Erro conceitual Em outubro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou 32 modificações no Código Florestal. Determinou que os manguezais de todo o País passassem a ser Área de Preservação Permanente (APP) e também vetou os dois parágrafos da lei que permitiam a municípios e estados decidir sobre a proteção de manguezais e dunas. Os vetos da presidente Dilma Rousseff, no entanto, ao Código Florestal não incluíram o trecho da nova lei que tratava da carcinicultura, a técnica de criação de camarões em viveiros. Segundo especialistas, esta falha é desastrosa para o manguezal no Nordeste, que terá 35% de sua área suscetível a aterros para a implantação de fazendas de camarão. No texto aprovado pelo Congresso Nacional em setembro de 2012, que não sofreu interferência do executivo federal, a prática é permitida em até 10% na Amazônia e até 35% nas demais regiões, inclusive no Nordeste, em apicuns. Para especialistas em ecossistema, um erro conceitual possibilitou a abertura de uma “brecha” para parlamentares que defendiam os interesses dos carcinicultores. Devido a esta falha, a crescente conversão de apicuns em viveiros de camarão reduzirá a produtividade dos estuários. Um exemplo claro é quando consideramos o caso de crustáceos como os caranguejos, que fazem as tocas nestes locais, revolvendo o solo e trazendo nutrientes para a superfície. Quando a maré enche, esse material é transportado para o estuário, contribuindo

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Dia Mundial do Meio Ambiente

O MANGUEBEAT E A MANGUETOWN

O Porto do Capim é uma comunidade de baixa renda localizada às margens do rio Sanhauá, em João Pessoa, na Paraíba. São cerca de 350 famílias pobres vivendo sob condições precárias, morando em casas simples de alvenaria ou barracos de madeira à beira do mangue. Os moradores, em geral, trabalham em oficinas mecânicas e madeireiras próximas, ou como descarregadores de caminhão, entre outras ocupações. Muitos recebem o Bolsa Família, que, porém, não é suficiente para o sustento das famílias. Na comunidade não há posto de saúde, quadra poliesportiva ou equipamentos culturais. E a única escola pública atende apenas alunos da primeira à quarta série do ensino fundamental. A total ausência de opções de lazer e cultura e a necessidade de complementar a renda se traduzem numa triste realidade que acompanha o Porto do Capim há anos. Crianças e adolescentes passam horas coletando caranguejos-uçás e guaiamuns – outro tipo de caranguejo – nos mangues locais para depois vendê-los para a população da cidade. Durante o ano inteiro, eles armam a ratoeira pela beira do mangue para pegarem o guaiamum e depois comercializarem. Durante a andada do caranguejouçá, há muitas crianças dentro do rio. A andada é o período em que há o acasalamento e a desova dos caranguejos-uçás, o que os leva a ficarem mais tempo fora da toca, tornando-os presas fáceis. A cata desses crustáceos é proibida durante essa época.Os meninos também pegam os caranguejos para comer. Muitas vezes precisam levar alguma comida para casa. Mas Porto do Capim é uma amostra da realidade de um universo muito maior. E um problema também. A atividade em mangues é considerada uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o decreto presidencial 6.481, de 2008. Segundo o documento, nesse tipo de trabalho, crianças e adolescentes são expostos à umidade e excrementos, ferimentos ocasionados por caranguejos, perfurações e picadas de serpentes. Além disso, podem contrair doenças como rinite, resfriado, bronquite, dermatite, leptospirose e hepatite viral. Por isso, é importante reforçar a fiscalização da incidência de trabalho infantil nos mangues, para que as crianças sejam encaminhadas, por exemplo, ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras), ambos do governo federal.

Um estilo musical muito interessante e cheio de ideias inovadoras surgiu no Recife por volta dos anos 1990: o Manguebeat (algo como “ritmo do mangue”, “batida do mangue”). Uma mistura de rock, hip hop e música eletrônica, quase uma música de contestação, para protestar sobre o descaso sofrido pela cultura local, a desigualdade entre as pessoas e também sobre o abandono sofrido pelo mangue. Apesar das raízes do Manguebeat existirem desde a década de 70, com discos do guitarrista Robertinho de Recife, o estilo foi associado à figura do músico Chico Science (1966-1997), que era vocalista da banda Nação Zumbi, em atividade até os dias de hoje. Mesmo depois da morte de Chico Science, o movimento continua vivo e forte, sempre ligado ao seu papel social e representado por bandas como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Sheik Tosado e Eddie. Inclusive, muitas homenagens foram prestadas a esse ritmo tão especial, como é o caso da estátua do caranguejo - animal símbolo do movimento - construída na rua da Aurora, bairro do Recife.

PROJETO MANGUEZAIS DO BRASIL O Projeto Manguezais do Brasil foi criado pelo Ministério do Meio Ambiente com o objetivo de melhorar a capacidade do Brasil de promover a efetiva conservação e uso sustentável dos recursos em ecossistemas manguezais, baseado no fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e na designação de áreas de preservação permanente a todos os manguezais do Brasil. O projeto é executado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que, para cumprir tal objetivo, busca elaborar uma estratégia de gestão de áreas protegidas para a conservação efetiva de uma amostra representativa dos ecossistemas manguezais no Brasil.

UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS MANGUEZAIS Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal sem lhe causar prejuízos ou danos, entre elas: • Pesca esportiva e de subsistência, evitando a sobrepesca, a pesca de pós-larva, de juvenis e de fêmeas ovadas • Cultivo de ostras • Cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias) • Criação de abelhas para a produção de mel • Desenvolvimento de atividades turísticas, recreativas, educacionais e pesquisa científica

Para celebrar a riqueza deste ecossistema, a revista NEO MONDO desenvolveu um aplicativo especial de Realidade Aumentada, em que você terá a oportunidadede se surpreender com o equilíbrio existente nos mangues. Acesse http://trinitymidia.com.br/ meioambiente.html

Antonio Cícero/FotoArena/AE

Lixo, caranguejos e urubus O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado. No passado, as manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e a química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal. Nessas regiões, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e as frequentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios. Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a matéria orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição. O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas da linha do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHAM NA CATA DE CARANGUEJOS

Divulgação

para a manutenção da cadeia alimentar do estuário e dos mares. Além disso, os apicuns, da forma como está no novo Código Florestal, não são considerados Área de Preservação Permanente (APPs), apenas o mangue. Mas o manguezal não é só a floresta de mangue - é nos apicuns que se espraia a água no estuário, na maré alta. Com a ocupação deles, essa água vai invadir as áreas habitadas.

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ATÉ A ÚLTIMA

GOTA Olivia Alonso | Valor

Represa Jaguarí - Sistema Cantareira

Por Lilian Mallagoli

São Paulo vive a maior crise hídrica dos últimos 84 anos. Ainda que a falta de chuva tenha contribuído, poluição, vazamentos, falta de planejamento e a cultura de abundância são causas determinantes para esse panorama

D

os 43,6 milhões de habitantes do estado de São Paulo, 9,8 milhões, ou mais de 22%, recebem água do reservatório do Sistema Cantareira. Em maio, sua capacidade chegou a apenas um dígito pela primeira vez na história: 9,2%, segundo a Companhia de Saneamento Básico (Sabesp). Um ano antes, esse índice era de 60%. A taxa em constante declínio passou a ser acompanhada diariamente pela população, como em uma contagem regressiva. Chegando a zero, como será o abastecimento? O que houve para o estado mais rico do Brasil perder o controle sobre um dos seus principais reservatórios em um período tão curto? De fato, choveu menos no sistema formado principalmente pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A média histórica de chuvas é de 259 mm em janeiro e, este ano, foram registrados 87 mm. Nunca choveu tão pouco desde o início da medição, há 84 anos. Especialistas afirmam, contudo, que a chuva não pode ser a única culpada. Outros países passam por estiagens e seus cidadãos não ficam sem água potável. “O fenômeno meteorológico ocorrido faz parte dos ciclos naturais de variação da frequência e intensidade das precipitações que não podem ser ignorados nos projetos dos sistemas de abastecimento de água, que devem ter capacidade para atender os usuários”, divulgou em seu blog o engenheiro e consultor em saneamento e meio ambiente Julio Cerqueira Cesar Neto, um dos maiores nomes na área. “A seca no Cantareira se deve à ausência de investimentos pelo governo estadual (Sabesp) em novos mananciais para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) após a conclusão do próprio Sistema Cantareira, há 30 anos, período no qual a população aumentou de 12 milhões para 22 milhões de habitantes”, completou. Pelo ralo O Brasil é o quarto maior consumidor de água no mundo, atrás da China, Índia e Estados Unidos. Pode-se dizer que o País tem posição de vantagem – concentra 12% da água doce do globo, mas apenas

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www.ulbra.br/gravatai

Volume morto Em março, a Sabesp iniciou obras de R$ 80 milhões para a captação do “volume morto”, água que fica no fundo do reservatório, abaixo dos tubos que puxam e mandam água para as estações; serão 200 bilhões de litros retirados dos 400 bilhões existentes. Começou a ser usado em 15 de maio, quando o nível do sistema pulou de 8,2% para 26,7%. Porém, chegou a 25,7% no dia 19, mesmo depois de ter chovido no sistema. Técnicos afirmaram que a chuva não recuperaria a água porque o solo, totalmente seco, a absorveria no primeiro momento. Até o chão tem sede.

FERNANDO DE NORONHA: PROBLEMAS NO PARAÍSO Também em março, foi anunciado que a ilha de Fernando de Noronha sofria a pior seca dos últimos 50 anos. A região estava sem chuva desde junho de 2013, o que secou seu principal açude, e os mais de 3 mil habitantes e turistas estavam sujeitos a cortes de água e sobreviviam com o que vinha da única usina dessalinizadora do local, que transforma água do mar em potável, insuficiente para todos. A prefeitura dividiu o território em oito áreas, e cada uma passou a receber água a cada nove dias. Houve protestos e o bloqueio da única estrada da ilha. Com produção de 27 m3 por hora, a água da dessalinizadora é distribuída por caminhões-pipa nos 17 km da ilha. A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) propôs então uma obra emergencial de ampliação, com custo de R$ 4,7 milhões, que permitiria a dessalinização de 60 m3 por hora, e que acabaria com o problema. A obra tem previsão de ficar pronta em setembro. Mas talvez São Pedro seja mais amigo do administrador-geral de Noronha do que do governador de São Paulo: do fim de março a 15 de abril, choveu 240 mm na ilha, o correspondente a 85% da média para todo o mês.

Açude do Xaréu

Marcelo Jorge Loureiro

a cidade abriga a Disneylândia.

Divulgação

3% da população mundial. Porém, boa parte dessa água está em regiões remotas, e áreas urbanizadas são consideradas propensas a enfrentar escassez e exigem mais planejamento e ação, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Ainda que haja bacias em volta da capital, a água tem péssima qualidade devido ao esgoto não tratado e lançado diretamente em rios próximos. Esses rios também correm para o interior, espalhando poluentes. A saída é buscar o bem em regiões ainda mais distantes. Técnicos estimam que entre 20% e 25% de toda a água produzida no estado não chega a ser consumida por ninguém: simplesmente se perde em vazamentos nas tubulações. A quantidade parece razoável quando comparada à média brasileira de 40%, mas está longe das de outros países: 10% na Europa e Estados Unidos e 8% no Japão. Um levantamento da Sabesp mostrou que o sistema de abastecimento tem mais de trinta anos de uso. Para atualizar essa rede, é preciso investimento, os custos podem se tornar incalculáveis quando se considera a interrupção de circulação e a quebra das vias. Trazer água de cada vez mais longe pode ser o meio mais barato de prover abastecimento, mas é também o mais atrasado e, agora, o menos possível. Assim, o primeiro passo para economizar é evitar o desperdício e reeducar a população brasileira acostumada à abundância. É necessário trocar equipamentos hidráulicos antigos: os vasos sanitários, por exemplo, foram projetados para eliminar 20 litros de água por descarga; em 1982, uma norma passou a recomendar seis litros. Em larga escala, o reúso da água é a melhor solução para a crise. É possível tratar a água usada no chuveiro ou na máquina de lavar para usar em carros e quintais. Pode-se também purificar o que vai para o esgoto; apesar de soar anti-higiênica, a técnica funciona e leva água potável para as torneiras. Os 3 milhões de habitantes de Orange County, na Califórnia (EUA), bebem dessa água há décadas, além dos turistas que visitam o local e que não são poucos:

Estação de Dessalinização

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Reuters | Paulo Whitaker

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Dia Mundial do Meio Ambiente

BOA NOTÍCIA: BALEIA JUBARTE SAI DA LISTA DE ANIMAIS EM EXTINÇÃO O aumento da população da baleia jubarte fez com que o animal saísse da lista de espécies ameaçadas de extinção. O anúncio foi feito pelo Ministério do Meio Ambiente, no final de maio. De acordo com a ministra da pasta, Izabella Teixeira, foram contabilizados 15 mil exemplares, enquanto, na década de 1980, o total era de apenas 500 espécies vivas. A definição de rotas das embarcações para evitar colisões, a criação do santuário das baleias no Brasil e da Unidade de Conservação de Abrolhos também foram importantes para preservar a espécie. O Instituto Baleia Jubarte e a Petrobras receberam uma menção honrosa por conta dos serviços prestados à proteção da espécie.

desA ArME ME-se

iStockphoto/Thinkstock

NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias; busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências positivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais carentes, das crianças e adolescentes, dos idosos, das plantas, dos animais. Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem! 24

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Dia Mundial do Meio Ambiente - Coral Sol

ÁGUA É UM RECURSO NOVA AMEAÇA ESSENCIAL NOS MARES Por Eleni Lopes

ESPERANÇA PARA A GRANDE BARREIRA DE CORAIS DA AUSTRÁLIA

Coral-sol, espécie originária do Oceano Pacífico, espalha-se pela costa brasileira e ameaça a biodiversidade marinha

À

primeira vista, parece encantador por sua semelhança com um girassol. No entanto, uma espécie de corais originária do Oceano Pacífico, conhecida como “coral-sol”, está matando corais nativos da costa alterando a biodiversidade marinha no Brasil. Apontada como uma das maiores ameaças aos ecossistemas costeiros do Brasil, a bioinvasão pelo coralsol começou pela Baía da Ilha Grande, já se espalhou por todo o litoral fluminense e parte da Baía de Todos os Santos e interfere de forma brutal nos ecossistemas destas regiões. Ambientalistas lutam para evitar a reprodução da espécie, que pode se tornar uma ameaça à biodiversidade marinha. Na Bahia, os ambientalistas também se preocupam com a proximidade entre o coral e os manguezais, o que pode prejudicar, inclusive, a pesca na região. Bioinvasão

O coral-sol é uma espécie de coral que pertence ao gênero Tubastraea. Espalha-se por profundidades que vão de 50 centímetros a 15 metros. No Brasil, tais corais constituem

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uma ameaça, pois são agressivos a espécies nativas, como o coral-cérebro (Diploria labyrinthiformis), que só existe no Brasil. O coral-sol foi levado à Baía de Ilha Grande na década de 1980, aderida às plataformas de petróleo. Nesse ambiente encontrou um lugar perfeito para sua reprodução, pois não havia predadores para essa espécie exótica. No entanto, esse coral é muito prejudicial à fauna local, pois, além de expulsar as espécies nativas, não abriga algas simbióticas que produzem oxigênio, reduzindo drasticamente a produção primária do ambiente. A bioinvasão pelo coral-sol foi considerada uma das maiores ameaças aos recifes e costões rochosos do Brasil no encontro de elaboração de um Plano Nacional de Ação (PAN Corais) para a conservação dos ambientes coralíneos. Inclusive, foi criado, recentemente, o Projeto CoralSol, uma iniciativa socioambiental do Instituto Brasileiro de Biodiversidade que atua em pesquisa, monitoramento e remoção do bioinvasor marinho coralsol no litoral brasileiro. A iniciativa ainda conduz estudos e ações de educação ambiental, principalmente na Baía da Ilha Grande, e desenvolve ações para sensibilizar o público em geral sobre a problemática de bioinvasões marinhas.

Estudo conduzido pela Escola de Biologia Marinha da Universidade James Cook, na Austrália, mostra que o “caranguejo peludo de coral” (Cymo melanodactylus) tem virtudes profiláticas contra o branqueamento da grande Barreira de Corais do país. O branqueamento, ou a perda de pigmentos e de algas associadas aos tecidos dos corais, é o principal sintoma de uma doença mortal presente em todo o perímetro Indo-Pacífico. A pesquisa aponta que os caranguejos não erradicam a doença, cujos mecanismos continuam sendo pouco conhecidos, mas contribuem para retardá-los. A Grande Barreira de Corais da Austrália é uma imensa faixa de corais composta por cerca de 2.900 recifes, 600 ilhas continentais e 300 atóis de coral, situada entre as praias do nordeste da Austrália e Papua-Nova Guiné, com 2.300 quilômetros de comprimento, com largura variando de 20 km a 240 km. Nas três últimas décadas, perdeu mais da metade de seus corais devido às tempestades, às mudanças climáticas e aos efeitos devastadores de uma estrela do mar que se alimenta de corais.

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Dia Mundial do Meio Ambiente

ÁGUA É UM RECURSO TECNOLOGIA EM PROLESSENCIAL

DA CONSERVAÇÃO Por Eleni Lopes

ESPÉCIES MAIS AMEAÇADAS

Aplicativo inédito possibilitará a qualquer pessoa auxiliar no monitoramento da fauna atropelada nas rodovias do Brasil

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erca de 450 milhões de animais são atropelados todos os anos nos quase dois milhões de quilômetros das estradas brasileiras, segundo estimativas de pesquisadores. Porém, em virtude dos diferentes métodos utilizados para monitoramento dos atropelamentos, esse número pode ser ainda maior. Para criar um banco de dados atualizado, integrado e mais preciso, a Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (FUNDECC) e o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG), lançaram o URUBU Mobile, aplicativo inédito que possibilitará a qualquer pessoa auxiliar no monitoramento da fauna atropelada. Os dados coletados pelos usuários serão validados e armazenados em uma plataforma unificada. O aplicativo é uma ferramenta do Projeto Malha, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, com apoio da

Tetra Pak, TSCA/Funbio e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). De acordo com o pesquisador Alex Bager, coordenador do trabalho das equipes de pesquisa, “o Projeto Malha deu origem ao Sistema Urubu, teve um investimento total de mais de R$ 3 milhões, envolvendo o desenvolvimento tecnológico e pessoal em 20 unidades de conservação, bolsas de mestrado, pessoal de desenvolvimento, entre outros. No total, o projeto envolve mais de 60 pessoas em todo o Brasil.” Segundo Bager, a ideia é envolver governo, pesquisadores, gestores de unidades de conservação e população para participarem do projeto. “O sistema pode ser utilizado em qualquer rodovia. O foco inicial em Unidades de Conservação foi uma forma de testar o protocolo, o sistema e outros segmentos, mas agora o Urubu e as suas funcionalidades já podem ser utilizadas em todo território”, explica. URUBU Mobile, aplicativo

Dados de rodovias no entorno de Campo Grande Fonte Programas Antas e Tatu-Canastra Programas Antas e Tatu-Canastra Nome científico % Atropelamentos Cerdocyon thous 24.9 Euphractus sexcinctus 22 Myrmecophaga Tridactyla 11.8 Tamandua Tetradactyla 10.5 Hydrochoerus Hydrochaeris 9.1 Dasypus novemcinctus 7.1 Tapirus terrestris 3.1 Procyon cancrivorus 2.6 Cervidae 1.4 Nasua nasua 1.2 Pecari tajacu 1 Cabassous unicinctus 0.8 Chrysocyon brachyurus 0.7 Leopardus pardalis 0.6 Dasyprocta 0.4 Didelphis albiventris 0.4 Lycalopex vetulus 0.4 Coendou prehensilis 0.3 Leopardus colocolo 0.3 Galitics cuja 0.2 Outros 1.1

Nome Vulgar Cachorro-do-mato Tatupeba Tamanduá-bandeira Tamanduá-mirim Capivara Tatu-galinha Anta Mão-Pelada Veado Guaxinim Cateto Tatu-de-rabo-mole Lobo-guará Jaguatirica Cutia Gambá Cachorro-do-campo Ouriço Gato-do-mato Furão

COMO COLABORAR Para enviar as informações, será necessário baixar o aplicativo URUBU Mobile que estará disponível no Google Play, inicialmente apenas para Android, e fazer um cadastro no sistema. Ao visualizar um animal atropelado na estrada, bastará tirar uma foto e mandar pelo próprio sistema do aplicativo. No momento do registro, o sistema já grava a data, hora e local (via GPS) da imagem. Uma vez enviada, a foto será analisada por um gestor que fará a identificação do animal.

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Dados da região da Estação Ecológica do Taim Projeto Estrada Viva – CBEE Espécies de grande porte

Percentual

Myicastor copypus Hydrochaeris hydrochaeris Cerdocyon thous Procyon cancrivorus Oncifelis geoffroyi Pseudalopex gymnocercus Lontra longicaudis

41 27 15 6 4 4 2

Espécies de médio porte

Didelphis albiventris Conepatus chinga Tupinambis meriane Phynops hilarii Euphractus sexcinctus Galictis cuja Nothura maculosa Outros Espécies de pequeno porte

Helicops infrataeniatus Cavia sp. Agelaius ruficapillus Trachemys dorbigni Philodryas patagoniensis Lutreolina crassicaudata Guria guria Furnarius rufus Acanthochelys spixii Outros Lista geral Espécie Helicops infrataeniatus Myocastor coypus Didelphis albiventris Cavia sp. Hydrochaeris hydrochaeris Agelaius ruficapillus Trachemys dorbigni Conepatus chinga Tupinambis meriane Philodryas patagoniensis Cerdocyon thous Phrynops hilarii Outros

Percentual 31 18 15 12 8 5 5 7

Nome vulgar Rato-do-banhado Capivara Cachorro do mato Mão-Pelada Gato-do-mato-grande Cachorro-do-campo Lontra Nome Vulgar Gambá Zorrilho/Jaratataca Teiú Cágado-de-barbilhão Tatu Furão Ave

Percentual

Nome vulgar

44 11 10 10 7 4 4 3 3 6

Cobra-d’água Preá Pássaro-preto Tartaruga Cobra-verde Cuíca Alma-de-gato João-de-barro Cágado-preto

Percentual

Nome vulgar

23 9 8 6 6 5 5 5 4 3 3 3 21

Cobra-d’água Ratão-do-banhado Gambá Preá Capivara Pássaro-preto Tartaruga Zorilho Teiú Cobra-verde Cachorro-do-mato Cágado-de-barbilhão

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Empresas

Eletronorte comemora conquistas dos projetos de Responsabilidade Social Empresarial

Empresa destinou cerca de R$15 milhões para diversas ações como fiscalização, programas e auditorias ambientais, implantação de ISO 14001 e na recuperação de áreas degradadas

Por Andreza Taglietti

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om 40 anos de existência, a Eletronorte é a mais nova empresa regional do sistema Eletrobras e passa por um momento de transformação diante do cenário de infraestrutura e preservação do meio ambiente no Brasil. Sua atribuição é gerar e fornecer energia elétrica a nove estados da Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Adicionalmente, fornece energia a compradores das demais regiões do País por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN). Os 3.800 funcionários da Eletronorte desenvolvem ações direcionadas à inserção social das comunidades amazônicas. Em 2012, a Eletrobras Eletronorte destinou cerca de R$ 15 milhões para diversas ações, como fiscalização, programas e auditorias ambientais, implantação de ISO 14001 e na recuperação de áreas degradadas em alguns trechos de linhas de transmissão. Em 2013, deu-se continuidade ao Plano Diretor de Responsabilidade Social Empresarial da Eletrobras Eletronorte, que define cinco eixos de projetos sociais, sendo três estruturantes e dois transversais: estruturantes - Geração de Trabalho e Renda; Educação, Cultura e Esporte; e Direitos Humanos e Cidadania; transversais - Gênero e Diversidade; e Meio Ambiente. Atualmente, a concessionária detém conhecimento em vários segmentos, como florestas, rios e povos da região. Desenvolve ainda pesquisas científicas e trabalha com a educação e cultura local. Todos os programas e ações existentes são orientados pelas diretrizes da Eletrobras e das políticas públicas promovidas pelo Ministério de Minas e Energia. Dimensão ambiental Em 2013, a Eletrobras Eletronorte destinou atenção especial às comunidades indígenas Parakanã, Waimiri Atroari e ao Programa São Marcos, desenvolvendo ações, por meio de programas de apoio, como forma de compensar os impactos ambientais e sociais causados por seus empreendimentos.

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Centro de Pesquisa e Proteção de Mamíferos Aquáticos

Empresas

Preservação do Patrimônio Cultural e Arqueológico Em conformidade com as normativas do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), visando a preservação do patrimônio cultural e arqueológico, a Eletronorte

Mário Vilela © Funai

Programa Waimiri Atroari

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Programa Parakanã

www.eletrobrasamazonas.com/

CONHEÇA AS PRINCIPAIS INICIATIVAS

Em convênio com a Funai e com duração de 25 anos, os programas Waimiri Atroari e Parakanã (mais detalhes abaixo) surgiram da necessidade de minimizar e compensar os impactos provocados pelas obras das Usinas Hidrelétricas de Balbina (Amazonas) e Tucuruí (Pará), respectivamente, na vida dessas comunidades. Têm como princípio básico o resgate cultural e a melhoria das condições de vida e de relacionamento das comunidades indígenas com a sociedade brasileira. Envolvem ações de educação, saúde, apoio à produção e proteção ambiental, possibilitando o resgate das tradições, das terras e da dignidade dos indígenas. O Programa Parakanã é uma ação indigenista dirigida aos Awaete-Parakanã, habitantes da Terra Indígena Parakanã com 351.000 hectares, na bacia do rio Tocantins, hoje com mil pessoas e quinze aldeias. Em 2013, o programa recebeu o investimento de R$ 5.851.449,61. Em 2013, o Programa Waimiri Atroari completou 25 anos, mantendo a terra indígena Waimiri Atroari livre de invasões. São 2.585.611,96 hectares, onde 1.668 habitantes, distribuídos em 30 aldeias, vivem tradicionalmente, mantendo sua cultura. Em 2013, a iniciativa recebeu o investimento de R$ 5.772.510,26. Por conta disso e de uma equipe de indigenistas mantida pela estatal, os Waimiri aumentaram sua população de 370 para 801 índios e, de um decréscimo de 25% ao ano em 1988, passaram a crescer 7%, com saúde, educação e, melhor, com as suas tradições mantidas. Mediante Termo de Compromisso com a Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), a empresa desenvolve ações em decorrência da implantação da Linha de Transmissão 230 kV Boa Vista / Santa Elena, no estado de Roraima. Aproximadamente cinco mil pessoas das etnias Macuxi, Taurepáng e Wapixana, habitantes de 42 aldeias, fazem parte do Programa Indígena São Marcos. Em 2013, o programa recebeu o investimento de R$ 960.321,10.

Programa São Marcos A Terra Indígena São Marcos é formada por cerca de cinco mil pessoas das etnias Macuxi, Taurepáng e Wapixana, divididas em 44 aldeias. A principal atividade econômica é a pecuária, mas destaca-se também o plantio da mandioca, milho, feijão e melancia, esta última exportada para o Caribe por algumas comunidades. O Programa São Marcos teve início em 1998 com os levantamentos preliminares para a interligação elétrica Brasil-Venezuela. O acordo de compensação pela utilização da terra indígena para a passagem da linha de transmissão garantiu, num primeiro momento, a terra de fato, pois, apesar de homologada, encontrava-se invadida por 104 fazendeiros. • Centro de Pesquisa e Proteção de Mamíferos Aquáticos A Eletronorte, hoje, financia o Centro de Pesquisa e Proteção de Mamíferos Aquáticos (CPPMA), cujo objetivo é preservar animais ameaçados de extinção, como o peixe-boi, boto vermelho e as tartarugas. Caçadores durante anos mataram esses animais sem se preocuparem com a sustentabilidade da espécie. Para otimizar os esforços em prol da conservação e pesquisa dos mamíferos aquáticos da Amazônia, a Eletrobras Amazonas Energia, com o incentivo de pesquisadores do Inpa/MCT, criaram em 1985, o Centro de Preservação e Pesquisa dos Mamíferos Aquáticos, situado na Usina Hidrelétrica de Balbina, no município de Presidente Figueiredo (Amazonas). O Centro, mantido pela Eletrobras Amazonas Energia, atua em parceria com o Inpa/MCT, Ibama, Universidade Federal do Amazonas – Ufam e, atualmente, também recebe incentivos da Ampa (Associação Amigos do Peixe-boi).

Ruy Sposati/Imprensa

promoveu o levantamento e o resgate dos sítios arqueológicos e culturais detectados nas áreas de servidão de linhas de transmissão nos processos de licenciamento ambiental. Há hoje um processo de negociação com as instituições responsáveis pela guarda e curadoria dos acervos resgatados, para transferência deste material. A empresa também desenvolve estudos junto à comunidade acadêmica da região para a preservação do patrimônio cultural e arqueológico. Na região de Balbina, foram descobertos sítios arqueológicos que os técnicos da Eletronorte fazem questão de preservar e que são parte do projeto elaborado e sustentado pela concessionária. Alguns dos objetos de estudo dos arqueólogos estão expostos no museu próximo à usina.

Projeto Mandalla Trata-se de um programa de inclusão produtiva nos municípios de Miranda do Norte (PA Cigana Santa Catarina e Quilombo Joaquim Maria); Matões do Norte (Palmeiral I e Alto da Cruz) e Peritoró (Sítio Serraria e Rocinha). A iniciativa faz parte de um protocolo de intenções assinado em maio de 2011, entre Eletrobras Eletronorte e respectivas prefeituras desses municípios. Além do Mandalla, o protocolo prevê ações de piscicultura, ateliê de costura e a construção de um mercado do produtor. O projeto beneficia famílias de agricultores familiares que vivem no “linhão”, ou seja, nos terrenos sob as linhas de transmissão. Programa Waimiri Atroari Impactos Provocados • Inundação de 30.000 hectares da terra indígena Waimiri Atroari. • Relocação de duas aldeias da área do reservatório para outra parte da terra indígena, com reflexo nas áreas de uso de outras aldeias existentes. Ações Mitigadoras • Reconhecimento da legitimidade da ocupação dos índios Waimiri Atroari na área inundada e da necessidade de compensação financeira aos impactos ambientais e sociais provocados.

• •

Gestões institucionais visando à identificação e demarcação da terra Waimiri Atroari. Indenização das benfeitorias e roças dos índios Waimiri Atroari existentes na área de influência do reservatório de Balbina e financiamento para reconstrução de novas aldeias e roças. Reconstrução dos postos de apoio da Funai para assistência aos índios. Financiamento de estudos ambientais e antropológicos que culminaram com a proposta de criação do Programa Waimiri Atroari. Compromisso com o financiamento e metas do Programa Waimiri Atroari para atividades de apoio aos índios, com duração prevista de 25 anos. Financiamento da demarcação da terra indígena Waimiri Atroari com uma área de 2.585.611 hectares.

Programa Parakanã Impactos Provocados • Inundação de 38.700 hectares da terra indígena Parakanã e 56.968 hectares desmembrados para utilização pelo Getat/Incra no reassentamento de colonos atingidos pelo reservatório da UHE Tucuruí. • Recolocação de duas aldeias da área do reservatório para outra área demarcada, constituindo uma nova terra indígena Parakanã. Ações Mitigadoras • Reconhecimento da legitimidade da ocupação dos índios Parakanã na área inundada e da compensação financeira pelos impactos ambientais e sociais provocados. • Financiamento do Programa Parakanã em convênio com a Funai, visando à remoção das aldeias atingidas pelo reservatório de Tucuruí. • Gestões institucionais, visando à identificação e à demarcação da terra indígena Parakanã, com uma área de 351.697,41 hectares. • Financiamento de estudos ambientais e antropológicos que culminaram com a proposta de criação do Programa Parakanã (1986). • Compromisso com o financiamento e metas do Programa Parakanã para atividades de apoio aos índios, com duração prevista de 25 anos. NEO MONDO - Junho 2014

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Esporte

Muito pouco restará pós-mundial além dos estádios, turismo e algumas poucas obras, a maioria inacabada

COPA SIM, MAS O PRINCIPAL LEGADO É O ESPETÁCULO ESPORTIVO Por Eleni Lopes

ANDRE DURAO / Shutterstock.com

“A

Estádio do Maracanã 36

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Copa será uma grande oportunidade para acelerar o crescimento e fundamental para o desenvolvimento do nosso Brasil”, disse, em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E com esta frase foi criada a expectativa sobre o legado que o maior evento futebolístico do mundo iria deixar para o País. Quatro anos depois, em um jantar pré-Copa com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff reclamou do peso dos principais dirigentes da Fifa: “Tirem Blatter e Valcke das minhas costas”, disse, ao defender que obras são para o País, não para a Copa. Na ocasião, ressaltou ainda que o legado do Mundial fica para o povo brasileiro: “Porque ninguém vem aqui assistir à Copa e leva consigo na mala aeroportos, portos, obras de mobilidade urbana, nem tampouco estádios”. E acrescentou, em clima pré-eleitoral: “todos nós vamos juntos torcer pela vitória da nossa Seleção, a hora em que a onça for beber água este País vai endoidar com a Copa e o Brasil vai vencê-la”. Hoje, bola rolando nas 12 arenas, a situação comprova que muito pouco restará pós-mundial além dos estádios, turismo e algumas poucas obras, a maioria inacabada. “A Copa é, basicamente, uma grande festa. Foi um erro associar o torneio a obras de infraestrutura que deveriam ter sido feitas há muito tempo para o Brasil continuar crescendo. Ao final, criou-se uma expectativa econômica que não pode ser atendida”, resumiu, em entrevista recente, Pedro Trengrouse, consultor da ONU para o Mundial e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

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Esporte

Danilo Borges e Gabriel Fialho/Portal da Copa

Expectativa olímpica O legado da Copa já era motivo de preocupação desde a Rio+20. Georg Kell, diretor-executivo do Pacto Global da ONU, adiantou, na ocasião, que megaeventos esportivos têm um histórico grave de abusos financeiros, desvios de recursos, favoritismos e propinas. “A corrupção é uma força corrosiva no mundo. Tira dos pobres e dá a quem já tem muito”, alertou. O diretor-executivo do braço da ONU para empresas também comentou sobre um projeto que estava sendo desenvolvido pelo Pacto Global: um manual para que empresas patrocinadoras de grandes eventos esportivos saibam como garantir que seus recursos sejam usados de maneira transparente e socialmente responsável. Se tivesse sido concretizado, o documento seria extremamente importante se lembrarmos o caso da Grécia. Arena Corinthians

Aeroporto Manaus

Aeroporto JK em Brasília

Ana Araújo-Faquini/ Portal da Copa

O país entrou em grave crise pela dívida adquirida durante a Olimpíada de 2004. O próximo megaevento no Brasil são as Olimpíadas no Rio, em 2016, e as expectativas renascem. Em Barcelona, na Espanha, e Londres, na Inglaterra, os jogos ajudaram as cidades a vivenciar experiências extremamente bem-sucedidas e exemplares. A cidade espanhola, por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1992, passou a permitir que moradores e turistas desfrutassem de suas praias. A construção da Vila Olímpica e de um novo porto deram início à recuperação da costa antes degradada. Além disso, houve a revitalização dos bairros baseada em novas áreas de centralidade, foram construídos novos eixos viários para desafogar o trânsito, o aeroporto de Barcelona cresceu e se modernizou, novos hotéis chegaram e a cidade entrou no mapa turístico mundial. Londres, sede das Olimpíadas de 2012, também aproveitou a ocasião para recuperar de forma social, ambiental e física uma de suas últimas reservas de terrenos: uma área industrial abandonada e degradada no distrito de Stratford, região leste da capital. A transformação começou com a descontaminação dos terrenos, a maior operação desse tipo já realizada no Reino Unido. Quatro anos de trabalho e R$ 230 milhões foram investidos na limpeza de 2 milhões de toneladas de solo contaminado por resíduos tóxicos. Houve ainda cuidado com a reutilização da infraestrutura esportiva – há arenas que podem ser totalmente transportadas para outras cidades -, a construção de uma nova estação de trens e metrô que facilitou a mobilidade da comunidade. Desta forma, para 2016, o maior desafio é a inclusão social efetiva e real, não somente através do esporte, como também por meio da educação de qualidade, saúde e transporte público. É esperar para ver.

Danilo Borges/ Portal da Copa

Dois relatórios recentes, da agência Moody’s e da consultoria Capital Economics, chamam a atenção para o pequeno peso em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dos gastos potenciais dos turistas e investimentos em infraestrutura ligados ao evento. “Mesmo os aportes em aeroportos, redes de transporte e infraestrutura urbana não chegam a 0,5% do PIB. Depois de décadas de escasso investimento nessas áreas, não é isso que vai aliviar os gargalos estruturais da economia brasileira”, disse Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics para Mercados Emergentes. A possível herança do campeonato traz opiniões divergentes. Para o setor brasileiro de turismo, as expectativas foram atendidas com a ampliação da malha aérea, promoção doméstica e internacional, facilitação na expedição de vistos para estrangeiros e a contratação de trabalhos de curta direção. “O legado da Copa do Mundo para os empresários do turismo, vai ser o de imagem. Se fizermos uma Copa em que não tenhamos muito problemas, mesmo com passeatas, faremos com que os 600 mil turistas esperados pelo Governo Federal percebam que temos um bom atendimento, bons serviços e queiram voltar ao Brasil, além de encorajar as pessoas que conhecerão o País através da televisão”, disse presidente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Alexandre Sampaio.

Arena Pernambuco

LEGADO ALEMÃO EM TRANSPORTE Faltando três semanas para o começo da Copa do Mundo de 2006, no dia 28 de maio, a chanceler Angela Merkel e seu ministro de Transportes partiram da cidade de Leipzig rumo a Berlim, na Alemanha, a bordo de um trem de alta velocidade. Anteriormente, o trecho de 200 quilômetros era feito em mais de duas horas, mas com o novo ICE (sigla para um dos modelos de trem de alta velocidade alemão), o tempo de viagem caiu para uma hora e meia. Ao chegar a Berlim, a chanceler e o ministro inauguraram a Hauptbahnhof, a estação central da cidade, a principal obra de um pacote de 10 bilhões de euros que foram usados para modernizar a malha ferroviária alemã. A Berlim Hauptbahnhof recebeu mais de meio milhão de pessoas por dia durante a Copa de 2006, e foi um dos pontos mais visitados da Alemanha. Com 1,2 mil trens passando por lá diariamente, é hoje uma das maiores estações da Europa. Sem a Copa do Mundo de 2006, a estação teria ficado pronta pelo menos dois anos depois. O torneio serviu de incentivo para antecipar as obras. Berlin Hauptbahnhof

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Thomas Wolf | www.foto-tw.de

Marcus Desimoni/Portal da Copa

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Jua Pita/Inframerica

Mineirão

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Esporte Rodrigo Lima/ NITRO/ ME/ Portal da Copa

Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins)

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

GRU Airport/ Portal da Copa

Novo terminal do Aeroporto Internacional de Guarulhos

Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

A revista britânica The Economist publicou, em maio, nova crítica à Copa do Mundo no País. “A Copa do Mundo deveria exibir o amadurecimento do Brasil como líder global. Ao contrário, as preparações mostraram o improviso pelo qual o país é quase tão famoso quanto seus jogadores”, diz o texto. Entre as obras atrasadas, a revista cita a infraestrutura de mobilidade urbana: o novo terminal do aeroporto de Guarulhos, o aeroporto de Belo Horizonte e a Arena Corinthians, que receberá apenas 40 mil torcedores no jogo antes da estreia na Copa, bem menos que os 68 mil esperados para a abertura no dia 12. Outra crítica da revista é em relação aos acidentes no estádios, que mataram mais operários do que na África do Sul. Sobre os estádios, a matéria cita um estudo da consultoria KPMG, mostrando que entre os 20 estádios mais caros do mundo, dez estão no Brasil. “O maior elefante branco, em Brasília, pode acabar custando 2 bilhões de reais, quase o triplo do estimado. Após a Copa é improvável que algum dia atraia um público grande, pois a cidade não possui um bom campeonato.”

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Estádio Nacional em Brasília

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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes

Brasil e BID firmam convênio para medir efeito estufa na Amazônia Advogados confiam cada vez menos na Justiça

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nota dos advogados brasileiros para a justiça no País, medida pelo Índice de Confiança dos Advogados na Justiça (ICAJ/Fundace), caiu 3,4% em 2014, em comparação com o mesmo período de 2013. Em uma escala que vai de 0 a 100, a avaliação final foi 30,8 contra 31,9 no ano passado. O resultado é o pior desde 2011, quando a pesquisa começou a ser feita em nível nacional e segue abaixo no nível de confiança de 50 pontos. O índice (ICAJ/Fundace) é desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de

O Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da Universidade de São Paulo (USP). O ICAJ/Fundace é composto por sete indicadores que avaliam a percepção sobre eficiência, honestidade, morosidade, facilidade de acesso, custo para a solução de litígios, falta de igualdade no tratamento das partes e perspectiva de futuro da justiça. Foram entrevistados 684 advogados de todas as regiões brasileiras e com atuação em diversas áreas do direito como trabalhista, penal, civil, previdenciário etc.

ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Clelio Campolina e a representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, Daniela Carrera Marquis assinaram um convênio que garante um investimento de US$ 2,3 milhões para o Programa Amazon Face, projeto que avaliará os efeitos do aumento de gás carbônico sobre o ecossistema da Floresta Amazônica.

De acordo com o professor assistente David Montenegro Lapola, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no projeto Amazon Face, um sistema de torres distribuídas em forma de círculo aspergirá um ar com concentração elevada de gás carbônico em determinadas regiões da floresta. Em seguida, os cientistas verificarão a reação das plantas, desde as folhas mais altas às raízes mais profundas.

Famílias rurais do agreste de Pernambuco passam a ter acesso à água

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amílias residentes em comunidades rurais dispersas nos municípios de Exu e Ouricuri, no Sertão do Araripe, agreste de Pernambuco, começam a ter acesso à água no terreiro de suas casas. Trezentas cisternas já foram instaladas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) nos dois municípios, no âmbito do programa Água para Todos coordenado pelo Ministério da Integração Nacional. Ao todo, 2,7 mil famílias serão contempladas.

Famílias de Araripina e Ipubi, municípios situados na mesma região, serão as próximas a receber os equipamentos. A demanda de Araripina é de 1.443 reservatórios. Já Ipubi tem prevista a instalação de 600 cisternas. Na atual etapa do programa Água para Todos, Pernambuco receberá 13 mil cisternas por meio da 3ª Superintendência Regional da Codevasf, sediada em Petrolina. Esta etapa abrange 37 municípios do sertão e de parte do agreste do estado.

Brasil está menos solidário

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studo britânico World Giving Index 2013 – Uma visão Global das Tendências de Doação mostra que o Brasil passou do 83° para 91º lugar, classificando-o como a nação menos generosa da América do Sul, ao lado da Venezuela. Os dados foram encomendados pela organização britânica Charities Aid Foundation (CAF) ao instituto de pesquisa Gallup World Pool

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e é considerado o mais abrangente do mundo no que diz respeito à doação. Sobre o Brasil, o relatório revela que 23% dos brasileiros afirmaram ter doado dinheiro para organizações sociais, o que representa queda de 1% em relação ao ano anterior, e que 42% ajudaram desconhecidos, 2% a menos do que o registrado no relatório de 2012.

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NEO MONDO INFORMA Brasil investe em energia eólica

Sustentabilidade é mais relevante para trabalhadores de países emergentes

E

studo realizado pela consultoria Bain & Company com funcionários de diversos segmentos da indústria mostra que, em países emergentes, a sustentabilidade é mais importante para os entrevistados, pois questões como poluição, segurança e trabalho infantil são mais evidentes. De acordo com o levantamento, nessas nações, são geralmente as empresas que assumem o protagonismo da questão.

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De acordo com o levantamento, 43% dos entrevistados de países em desenvolvimento disseram que os funcionários têm uma influência considerável sobre compromissos de sustentabilidade das empresas em que trabalham, contra 25% em mercados desenvolvidos. Para a realização da pesquisa, foram ouvidos cerca de 750 funcionários de diversas indústrias no Brasil, China, Índia, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.

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Rio Grande do Sul, despontando como um dos estados que mais contribui com o crescimento da energia eólica na matriz elétrica brasileira, será também o detentor do maior empreendimento da América Latina no segmento. O Complexo Eólico Campos Neutrais – empreendimento da Eletrosul e parceiros em implantação nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí – está recebendo investimentos de aproximadamente R$ 3,5 bilhões. O Complexo Eólico Campos Neutrais reúne três grandes parques: Geribatu, Chuí e Hermenegildo somando 583 megawatts (MW) de capacidade instalada – suficiente para atender ao consumo de 3,3 milhões de habitantes. Uma notícia recente chamou a atenção: o Brasil gerou, em fevereiro, 7,8% a mais de energia eólica do que o registrado no mesmo mês de 2013, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Dos 734 megawatts (MW) gerados a partir do

vento pelas 91 usinas desse tipo em operação no país, 71% (ou 521 MW médios) têm origem no Nordeste. A Região Sul está em segundo lugar, com 28% de participação na geração (203 MW médios). Desde fevereiro de 2013, foram agregadas mais 12 usinas eólicas às 79 que operavam no Sistema Interligado Nacional. Com isso, a capacidade total instalada desse tipo de fonte energética apresentou crescimento de 17,3% no período, chegando a 2.250 MW. O Nordeste foi a região brasileira que apresentou maior crescimento anual da capacidade instalada para essa fonte energética: 1.461 MW – um salto de 20,2% em comparação a fevereiro de 2013. Os estados com maior participação na geração média em fevereiro são o Ceará (243 MW médios), o Rio Grande do Sul (150 MW médios), o Rio Grande do Norte (143 MW médios), a Bahia (105 MW médios) e Santa Catarina (50 MW médios).

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NEO MONDO INFORMA Abertas as inscrições para dois importantes prêmios de sustentabilidade Reuters/Sarah A. Hnutie

Ave usa algodão com pesticida para fazer ninho e elimina ameaça parasita

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ientistas desenvolveram um método curioso para ajudar pássaros ameaçados nas Ilhas Galápagos a se defender contra uma ameaça parasita, de acordo com matéria recente da agência Reuters. Os tentilhõesde-Galápagos - pássaros famosos por terem inspirado Charles Darwin a criar a teoria da evolução por seleção natural - são frequentemente ameaçados por larvas de moscas parasitas que matam os filhotes nos ninhos. Os pesquisadores colocaram bolas de algodão com um suave pesticida perto de onde os pássaros faziam seus ninhos. Os pássaros pegavam pedaços do algodão com

os bicos e os incorporavam aos ninhos, matando as larvas de moscas sem prejudicar os filhotes. A descoberta foi publicada na revista “Current Biology”. O pesticida escolhido foi a permetrina, geralmente usado para tratar piolhos em pessoas. Ele também é capaz de matar a espécie de mosca Philornis downsi, aparentemente introduzida involuntariamente por pessoas nas Ilhas Galápagos. Essa espécie tem sido responsabilizada pelo declínio dos tentilhões-de-Galápagos, incluindo duas espécies ameaçadas.

França cria a maior área protegida do mundo

O

governo da Nova Caledônia, um arquipélago pertencente à França, situado na Melanésia, sudoeste do Pacífico, anunciou oficialmente a criação de uma Área Marinha Protegida (AMP) de 1,3 milhão de quilômetros quadrados – equivalente a três vezes o território da Alemanha. A área protegida, chamada Parque Natural do Mar de Corais, engloba ambientes marinhos extremamente ricos em biodiversidade, já declarados desde 2008 como Patrimônio Mundial da Humanidade. Nos próximos meses, um comitê de gestão será estabelecido com a missão de elaborar um plano de manejo do parque

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em até três anos. O plano determinará os diferentes usos permitidos em cada área do parque. Jean Christophe, da ONG Conservação Internacional (CI), vem apoiando vários países insulares do Pacífico em seus esforços de conservação e enfatiza que a área da nova AMP abrange formações geológicas únicas, como montes marinhos e bacias sedimentares, além de um dos maiores recifes de corais do mundo. Entre as ameaças presentes na região, estão a pesca ilegal, o crescente trânsito de embarcações para a Austrália e as perspectivas de mineração e exploração de petróleo em alto mar.

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s inscrições para a 7ª edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável estão abertas até 6 de outubro de 2014 e podem ser realizadas pelo hotsite www.premioodebrecht.com/ brasil/. Estudantes de cursos de graduação de todo o Brasil podem participar e inscrever seus projetos, sendo que pelo menos um dos integrantes do grupo de autores deve ser aluno dos cursos de engenharia (qualquer engenharia), agronomia ou arquitetura. O projeto deverá conter os elementos de uma proposta de engenharia alternativa de solução tecnológica ou inovação que se mostre viável em sua execução, ou já com dados de testes ou de aplicação que demonstrem esta viabilidade. A iniciativa tem como objetivo estimular a geração de conhecimento sobre temas relacionados à contribuição das engenharias, arquitetura e agronomia para o desenvolvimento sustentável, além de difundi-los junto à comunidade acadêmica brasileira e à sociedade. Serão cinco trabalhos premiados com R$ 60 mil reais, sendo que o autor, ou grupo de autores, orientador e instituição de ensino ganham R$ 20 mil reais cada. Os estudantes autores dos projetos classificados também serão convidados a participar de processos seletivos para vagas nos negócios da Organização Odebrecht. Desde sua criação, o Prêmio já contou com mais de 450 projetos inscritos no Brasil e reconheceu um total de 30 trabalhos, concedendo R$ 1,8 milhão em premiações. Outra premiação cujas inscrições também estão abertas é Prêmio ECO, realizado pela Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio) desde 1982, para reconhecer práticas empresariais sustentáveis. As informações sobre inscrições, regulamento e o processo de julgamento estão no site www.premioeco.com.br. Os cases podem ser inscritos até 15 de agosto, e a cerimônia de premiação será em dezembro. A iniciativa contempla duas modalidades de projetos. A ELIS (Estratégia, Liderança e Inovação para a Sustentabilidade) analisa cases de empresas que

incorporam a sustentabilidade em toda a sua gestão. Já Práticas de Sustentabilidade, que se subdivide nas categorias “Produtos ou Serviços” e “Processos”, avalia trabalhos pontuais. Podem candidatar-se empresas de todo o País, públicas, privadas ou de economia mista e de todos os portes. Para analisar os projetos, a Amcham contará com um júri formado por 50 integrantes, entre eles consultores, gestores, pesquisadores de universidades e especialistas na área. Para a 32ª edição da premiação, a Amcham traz como novidade o reconhecimento de “Destaque do ano”, que será atribuído a uma empresa de grande porte, vencedora na modalidade ELIS. A escolha será feita a partir da avaliação de cinco jurados e da pontuação. Outra novidade do Prêmio é a reestruturação dos critérios da modalidade ELIS baseada no conceito ESG (Environmental, Social and Governance, em português, Meio ambiente, Social e Governança), que passa a avaliar a governança para sustentabilidade. Além disso, foram estabelecidos pesos e questões diferenciadas por setor para avaliação das empresas de grande porte na modalidade ELIS. No total, serão oferecidos onze prêmios, sendo cinco para a modalidade ELIS e três para cada uma das duas categorias da modalidade Práticas de Sustentabilidade. O Prêmio Eco também disponibiliza a todos os participantes um feedback da avaliação, com o objetivo de contribuir para a melhoria dos projetos. Ao final da edição, as empresas recebem um gráfico com as notas em cada um dos quesitos julgados, comparando-as com as médias e as notas mais altas obtidas em seu segmento e em sua modalidade. Além disso, todos os participantes poderão receber, mediante encomenda, relatórios de diagnóstico personalizados, feitos pela Amcham em parceria com uma instituição de ensino de renome, a ser divulgada. Esses documentos terão análise de pontos fortes e fracos, além de sugestões de melhoria.

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NEO MONDO INFORMA Conservação de jaguatiricas é preocupante

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Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos, orienta a população sobre um tipo de câncer que está ligado a dois fatores presentes em cidades de todo o Brasil: cigarro e bebida alcoólica. Embora não seja amplamente divulgado, o câncer de cabeça e pescoço pode atingir boca, garganta, laringe (cordas vocais), nariz, seios nasais e ao redor dos olhos e tem uma incidência marcante entre os brasileiros. O câncer de cavidade oral, conhecido como câncer de boca, já é o quarto tipo mais frequente entre homens

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das regiões Sudeste e Nordeste, sem considerar os tumores de pele não melanoma. De acordo com o estudo “Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil”, realizado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), neste ano estimam-se 11.280 novos casos de câncer de cavidade oral em homens e 4.010 em mulheres. Além de 6.870 casos de câncer de laringe em homens e 770 em mulheres. O desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço está ligado a diversos fatores, como ingestão de bebida alcoólica, fumo, infecção pelo vírus HPV (sexo oral sem proteção) e exposição à radiação solar. A maior incidência recai sobre fumantes e indivíduos que fazem uso constante de bebida alcoólica. Por outro lado, os casos ligados ao HPV ocorrem entre homens e mulheres jovens, não necessariamente usuários de álcool e cigarro. Os sinais e sintomas do câncer de cabeça e pescoço podem incluir o aparecimento de um nódulo, uma ferida que não cicatriza, dor de garganta que não melhora, dificuldade para engolir e alterações na voz ou rouquidão. Entretanto, estes sintomas também podem ser causados por outras condições clínicas. Portanto, ao notar qualquer um desses sintomas, é importante consultar-se com um médico. “O diagnóstico deste tipo de câncer geralmente ocorre quando a doença já está em estágio avançado, reduzindo as chances de cura. A falta de informação e a demora para buscar o atendimento adequado são fatores decisivos para o insucesso do tratamento”, diz Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. Conheça o trabalho do Instituto Oncoguia e acesse o conteúdo completo sobre câncer de cabeça e pescoço em www.oncoguia.org.br.

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conservação. “O Parque Estadual da Serra do Mar tem 315 mil hectares e sofre com a caça ilegal, então o maior problema que eu vejo é a redução da quantidade de indivíduos pela falta de alimento, pois as pessoas caçam e eliminam as presas naturais das jaguatiricas, como roedores, tatus, aves, gambás e macacos”, destaca. Segundo o Plano de Ação Nacional (PAN) de Conservação dos Pequenos Felinos, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), outras pressões que a jaguatirica sofre além da caça são as alterações de habitat e conflitos com atividades antrópicas como expansão agrícola, silvicultura e queima de pastagens.. A jaguatirica, também chamada de gato-maracajá ou maracajá-verdadeiro, é um felino de pequenomédio porte que habita regiões de Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal onde existe cobertura vegetal mais densa. É o terceiro maior felino das Américas, ficando atrás apenas da onça-pintada e do puma. Haroldo Palo Jr

Instituto Oncoguia promove conscientização sobre câncer de cabeça e pescoço

jaguatirica (Leopardus pardalis), felino com poucas populações remanescentes na Mata Atlântica, está sendo estudada no Parque Estadual da Serra do Mar (SP). A espécie foi escolhida para estudo por ser predador de topo de cadeia alimentar, desempenhando importante papel na manutenção dos ecossistemas. Outro fator que levou a pesquisá-la foi o fato de estar fortemente associada à cobertura vegetal, sendo consequentemente muito sensível a perdas do seu habitat. Além disso, a espécie consta na lista nacional dos animais ameaçados de extinção. A conservação da jaguatirica está sendo avaliada num projeto realizado pelos pesquisadores Fernando dos Santos Fernandez e Patrícia Mendonça, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com financiamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O Parque Estadual da Serra do Mar foi a região escolhida para o projeto, porque a unidade de conservação (UC) está localizada dentro da maior área contínua preservada de Mata Atlântica do Brasil e também é a maior área de proteção integral desse bioma. Segundo os pesquisadores, provavelmente nesse parque esteja uma das maiores populações de jaguatiricas ainda existentes na Mata Atlântica. “Fazemos captura, marcação e recaptura fotográfica (visualização por meio de armadilhas fotográficas). A primeira vez que você detecta um bicho é como se o estivesse capturando e quando o detecta novamente é como se o estivesse recapturando. Assim, estimamos o tamanho populacional das jaguatiricas na região”, explica o pesquisador Fernandez. Esse método não invasivo é eficaz e possibilita o estudo de felinos identificáveis individualmente pelo seu padrão de manchas nos pelos. De acordo com o pesquisador, foram encontrados cerca de 160 felinos, um número que indica a necessidade de ações efetivas de conservação. Para Fernandez, um grande fator de ameaça aos felinos é a caça ilegal de animais dentro da unidade de

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Instituto NEO MONDO Soluções para o terceiro setor. Núcleos REVISTA NEO MONDO MARKETING CORPORATIVO Posicionamento da marca no mercado com Responsabilidade Socioambiental EDUCAÇÃO Elaboração de cartilhas, livros e projetos educativos socioambientais e corporativos

ASSESSORIA DE IMPRENSA Jornalismo especializado nas áreas: Sustentabilidade e Corporativo WEB Criação de animações gráficas para composição de livros, desenvolvimento de versões digitais de publicações impre esssas e de projetos especiais para a eventos e feiras, utilizand do realidade aumentada (R RA)), além de aplicativos de usso geral para celulares e table ets.



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