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Ano 8 - No 67 - Março/Abril 2015
Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida
R$ 16,00
...E O MAR VIROU SERTÃO
Dama das Artes Plásticas Tomie Ohtake
Cerrado Brasileiro 2ª Maior formação vegetal do pais
A água no planeta Recurso natural mais abundante
FAÇA O QUE E AJUDE NO Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à água potável. Mas, apesar do número alarmante, esse é um problema que tem solução. Para ajudar, você não precisa largar tudo e virar um voluntário, basta dar um propósito ao que já está fazendo, no trabalho, em seus momentos de lazer ou em uma viagem. Por que não levar filtros d’água para quem precisa? Um filtro pode proporcionar água limpa para 100 pessoas durante até cinco anos. Imagine milhões de pessoas fazendo isso, agora a onda começou.
AMA CAMINHO.
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Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015 Leve para todo o país as soluções que transformaram a sua comunidade.
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R$600 mil em prêmios Inscriçþes atÊ 31 de maio no site
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Tecnologia Social Fundo Rotativo SolidĂĄrio QR 6HUWmR %DLDQR Âż QDOLVWD GR 3UrPLR HP
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Gerar energia limpa e renovĂĄvel ĂŠ um compromisso da Eletrobras. A maior parte da energia elĂŠtrica produzida pela empresa vem de fontes assim.
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TambÊm graças ao programa,
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projetos utilizando Mais de tecnologia de painĂŠis fotovoltaicos estĂŁo em desenvolvimento no paĂs.
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É por isso que o trabalho da Eletrobras tem uma importância do tamanho do Brasil.
Seções
ÍNDICE 10
Perfil Tomie Ohtake A Dama das Artes Plásticas Brasileiras
14 18
Água é vida, é o recurso natural mais abundante
Artigo
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NEO MONDO - Março/Abril 2015
Um olhar sobre a água no planeta
A crise hídrica no Brasil 11 fatos que você precisa saber
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Especial Dia Mundial da Água
Água Momento de refletir e transformar O IBGE registra 305 etnias indigenas no Brasil
Meio ambiente As verdades por trás do Cerrado Segunda maior formação vegetal do pais
EDITORIAL Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
O Brasil vive hoje uma crise hídrica sem precedentes em sua história. No entanto, o problema não está restrito ao nosso país. Estima-se que cerca de 40% da população mundial viva hoje sob a situação de estresse hídrico, com oferta anual de água inferior a 1.700 metros cúbicos por habitante, limite mínimo considerado seguro pela ONU. E foi dentro do clima de alerta e conscientização pela preservação deste recurso indispensável para a vida no planeta que preparamos esta edição especial alusiva ao Dia Mundial da Água. Ainda, dando continuidade à nossa viagem pelos biomas brasileiros, abordamos o Cerrado, a segunda maior vegetação brasileira, berço do Aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea do mundo. E, mais uma vez, presenteamos os leitores, nas páginas centrais, com fotos do acervo do WWF-Brasil, registros especiais do Cerrado pelo fotógrafo Bento Viana. Por fim, esta edição presta duas importantes homenagens: a primeira a Tomie Ohtake, a grande dama das artes plásticas brasileiras, e a segunda a toda a população indígena brasileira, formada hoje por 305 etnias. Tenham uma ótima leitura! NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO Direção de Arte: LabCom Comunicação Total Projeto Gráfico: LabCom Comunicação Total Gerente de Mídias Sociais: Pablo Suarez
Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575) Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação) Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho São Paulo - SP - CEP 05442-040 Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2619-3054 98234-4344 / 97987-1331 Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br
PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. NEO MONDO - Março/Abril 2015
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Perfil
A DAMA DAS ARTES PLÁSTICAS BRASILEIRAS Tomie Ohtake começou a pintar aos 40 anos e ficou conhecida do grande público com as enormes esculturas que mudaram a paisagem urbana de São Paulo. NEO MONDO presta aqui uma homenagem a esta grande artista. Por Eleni Lopes
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omie Ohtake nasceu em 1913, em Kioto, no Japão. Veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos, para visitar um irmão que já morava aqui, e acabou ficando. Ela se impressionou "com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no Porto de Santos", conta a biografia da artista no site do Instituto Tomie Ohtake. Com a iminência da Segunda Guerra Mundial, permaneceu em São Paulo, onde se casou com o engenheiro-agrônomo Ushio Ohtake e teve dois filhos, o arquiteto Ruy e Ricardo Ohtake, 10
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diretor do Instituto Tomie Ohtake. Ficou viúva em 1961. O interesse por desenho vinha desde criança. Mas só aos 39 anos começou a fazer suas primeiras pinturas. Foi incentivada pelo pintor japonês Keisuke Sugano, que deu aulas quando de passagem pelo Brasil. "Quando comecei a pintar, já era muito evidente o meu espírito brasileiro, ou ocidental, portanto já distante da origem oriental, mas devo ter tido sempre, até hoje, influência da terra em que nasci e cresci", contou Ohtake à revista "ArtNexus", em 2005.
Muito discreta, raramente falava sobre a vida familiar ou pessoal. “Não tinha ateliê, nada. Empurrava a mesa da sala e achava um espaço para pintar” , relembrou numa entrevista à revista Brasileiros. Fez parte do então prestigioso grupo Seibi, que reunia artistas plásticos na zona sul de São Paulo (SP). Além de Tomie, aderiram ao grupo Flávio-Shiró, Minoru Watanabe, Manabu Mabe, entre outros conterrâneos – a associação só aceitava artistas japoneses ou descendentes. Nos anos 50 e 60, participou de salões nacionais e regionais, tendo sido premiada na maioria deles. Foi convidada a participar da Bienal de Veneza em 1972, pela própria instituição. Recebeu o Prêmio Panorama da Pintura Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
"O trabalho faz bem sempre" sobre as obras que planejava perto do seu aniversário de 100 anos, em 2013.
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Perfil A cara de São Paulo Tomie é uma das principais representantes das artes plásticas brasileiras. Sua obra abrange pinturas, gravuras e esculturas. Foi premiada no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1960; e em 1988, condecorada com a Ordem do Rio Branco pela escultura pública comemorativa dos 80 anos da imigração japonesa, em São Paulo. A seu respeito escreveu o crítico Clarival do
Prado Valladares: “De acordo com alguns críticos, a pintura de Tomie Ohtake corresponde a um dos pontos mais elevados do abstracionismo já produzido no Brasil.” Tomie se destacou também com o trabalho com esculturas de grandes dimensões em espaços públicos, sendo que na 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995, teve uma sala especial de esculturas. Atualmente, 27 de suas obras são públicas e estão em várias cidades brasileiras.
"Tudo o que tenho a dizer está dito
no meu trabalho. Nunca planejei de forma racional as minhas formas, elas simplesmente surgiam."
A paisagem da cidade de São Paulo tem hoje a cara de Tomie Ohtake. São criações dela as curvas coloridas das grandes esculturas que dividem os dois lados da via expressa da Avenida 23 de Maio (homenagem aos 80 anos da imigração japonesa no Brasil); os quatro painéis de 2 metros de altura por 15 metros 12
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de comprimento que representam as estações do ano no metrô Consolação; as ondas vermelhas de gesso da obra presa ao teto do Auditório do Ibirapuera; o arco vermelho de 3 toneladas e 12,5 metros de altura no Brooklin; e o painel de 23 metros de altura na lateral do prédio que leva seu nome em Pinheiros.
"Minha obra
é ocidental, porém sofre grande influência japonesa, reflexo de minha formação. Esta influência está na procura da síntese: poucos elementos devem dizer muita coisa."
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Especial Dia Mundial da Água
UM OLHAR SOBRE A ÁGUA NO PLANETA Água é vida, é o recurso natural mais abundante do planeta. Faz parte do dia a dia dos 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta. Nesta data especial, traçamos um panorama da situação hídrica. Por Eleni Lopes 14 14
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Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que, em 2030, a população global vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia. Água e energia estão entre os desafios globais mais iminentes, segundo a organização, e estão profundamente interligadas. Ainda de acordo com a entidade, atualmente, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada, 2,5 bilhões não melhoraram suas condições sanitárias e 1,3 bilhão não tem acesso à eletricidade. A situação é considerada inaceitável pela ONU. Outro agravante é que as pessoas que não têm acesso à água tratada e a condições de saneamento são, na maioria das vezes, as mesmas sem acesso à energia elétrica. No entanto, hoje o Brasil vive uma crise hídrica sem m precedentes na sua história. Apesar da ampla divulgação n na imprensa sobre a falta de água em São Paulo, esse não é um problema somente paulistano. Há uma crise de abastecime mento que já castiga ccinco das dez maiores regiões metropolilitanas do país. Nem ta ampouco é um flagelo brasileiro. Estima--se que cerca de 40% d da população global viva hoje sob a situ uação de estresse hídrico o. Essas pessoas habitam regiões ondee a oferta anual é inferio or a 1.700 metros cúbicos de água por habitante, limite mínimo o considerado seguro pela Organização o das Naçõess Unidas (ONU)). Um relató tório divulgado em fevereiro pela ON NU alerta: muitos paísees estão perto de enfrentar situações de desespero e conflito por falta d'água. Isso seria uma barreirra não só à saúde das populaç ações, mas
também ao crescimento econômico e à estabilidade política. Segundo os pesquisadores, daqui a apenas dez anos, 48 países não terão água suficiente para as suas populações. Isso atingiria quase três bilhões de pessoas. E até 2030, a demanda por água doce no planeta deverá ser 40% maior do que a oferta. O estudo aponta como a corrupção é um enorme ralo de dinheiro que chega a absorver 30% do que poderia ser usado sado em projetos de abastecimento e saneamento básico. O levantamento evantamento foi f feito em dez países, entre eles Bolívia, Canadá, Uganda, Paquistão e Coreia C do Sul. Mas as conclusões valem para o mundo inteiro. Corinne Wallace, uma das aut u oras a do relatório, explica que autoras a água deve ser uma prioridade dee para par a a indivíduos, in ndiiví indústrias, políticos, sociedade civil. “Tod do mundo mu m un nd do precisa prrec p e is i a fazer faaze a sua “Todo agora”. parte”, diz el eela. a. “E a hora raa é agora ra”.
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Especial Dia Mundial da Água
Panorama A água é um elemento composto por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O), formando a molécula de H2O. É uma das substâncias mais abundantes em nosso planeta e pode ser encontrada em três estados físicos: sólido (geleiras), líquido (oceanos e rios) e gasoso (vapor d’água na atmosfera). Cerca de 80% de nosso organismo é composto por água. Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontra-se coberta por água. No entanto, menos de 3% deste volume é de água doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras (geleiras polares e neves das montanhas), restando uma pequena porcentagem de águas superficiais para as atividades humanas. A água está distribuída no planeta Terra da seguinte forma:
97,5% da disponibilidade da água do mundo está nos oceanos. 2,5% de água doce e está distribuída da seguinte forma: 29,7% aquíferos; 68,9% calotas polares; 0,5% rios e lagos; 0,9% outros reservatórios (nuvens, vapor d’água etc.). O Brasil é um país privilegiado com relação à disponibilidade de água. Detém 53% do manancial de água doce disponível na América do Sul e possui o maior rio do planeta (o rio Amazonas). A água doce disponível em território brasileiro está irregularmente distribuída: aproximadamente, 72% dos mananciais estão presentes na região Amazônica, restando 27% na região Centro-Sul e apenas 1% na região Nordeste do país.
Reaproveite água em casa Por Instituto Akatu Evitar o desperdício de água é importante não apenas nos momentos de crise. Adotar um estilo de vida e uma produção com uso racional da água é necessário não só hoje, como sempre. Isso porque as crises de água e energia que brasileiros têm enfrentado não são apenas resultado da seca. Há diversos outros fatores como problemas na estrutura de distribuição, desmatamento e desperdícios no agronegócio, na indústria e no uso residencial. O desperdício de água deve ser combatido com ajuda de todos: governo, indústria/agronegócio e população. De acordo com o Instituto Akatu, as residências, apesar de serem responsáveis por um percentual baixo do gasto
total de água (10,6%), também podem contribuir para que esse recurso não se esgote, pois o ganho de escala é significativo. Para ilustrar: se todos os moradores do Brasil fecharem a torneira ao escovar os dentes, a água economizada durante um mês equivalerá a um dia e meio do volume de água da queda nas Cataratas do Iguaçu! No entanto, existem riscos em atitudes que parecem inofensivas como acumular água em vasilhames reaproveitados, em piscinas descobertas ou em beber água da chuva. Conheça, a seguir, dicas do Instituo Akatu de como reutilizar a água com segurança:
1. Use a ág gua do aquário para regar as pla antas as as Vai limpar o aquário? Pois use a água “velha” para outras finalidades, como regar o jardim. A água do seu aquário pode ser uma fonte rica em nitrogênio, essencial para a fotossíntese, além de fósforo e potássio, que fortalecem as plantas, agindo como fertilizantes. Mas lembre-se: as plantas não se dão bem com água salgada ou sem controle de pH. E se estiver muito suja no aquário, utilize só um pouco da água misturada com água limpa. 2. Enquanto a água do chuveiro esquen squenta, encha o balde Seu chuveiro tem aquecimento a gás? Deixar correr para o ralo a água do banho enquanto esquenta pode desperdiçar uma grande quantidade de água limpa. Use um balde para coletar a água limpa que ainda não chegou à temperatura ideal. 3. Colete a água enquanto toma banho Colete também a água que respinga enquanto você toma banho de chuveiro. Essa água pode ser reutilizada para dar descargas, lavar o próprio banheiro ou as áreas externas, como quintais e varandas. Em um ano, uma família pode reutilizar água suficiente para usar a descarga diariamente durante quase 5 meses. Você pode também coletar a água utilizada para lavar as mãos em um pequeno recipiente e acumular o líquido em um balde, para usar nas descargas. 16
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4. Colete a água da chuva, mas não a beba Construir uma cisterna em casa ou usar algum recipiente para coletar a água da chuva é uma ótima dica para economizar. É importante que o recipiente esteja bem tampado, para evitar a proliferação de mosquitos que propagam doenças como a dengue. Nada de tampas soltas, lona, madeiras ou telhas. A água da chuva pode ser utilizada para descarga, limpeza do quintal, do carro e do chão de casa, por exemplo. Porém, não é apropriada para consumo humano ou de animais, pois a água da chuva traz resíduos da atmosfera – fervê-la simplesmente não adianta. Se passa pelo telhado e pela calha antes de cair no recipiente onde será armazenada, é ainda pior. O período máximo de armazenamento da água da chuva é de quatro dias, pois é uma água com muitos resíduos orgânicos. 5. A água do preparo das refeições é nutritiva, reaproveite! Quando se está cozinhando, um dos segredos para consumir água com consciência é seguir as receitas à risca. Para cozinhar macarrão para uma pessoa, por exemplo, você não precisa de uma panela totalmente cheia de água, assim como não há necessidade de muita água para preparar legumes no vapor. Além disso, se usar a quantidade adequada, você vai preservar melhor os nutrientes dos alimentos. E, em alguns casos, a água pode até ser usada novamente. Se você cozinhou legumes e sobrou água, reutilize-a para fazer sopas, ou espere que esfrie e regue as plantas. 6. Gelo derretido deve ser aproveitado Se precisar descongelar a geladeira ou o congelador, remova as placas de gelo e reutilize essa água para regar as plantas e o jardim. E se por acaso derrubar cubos de gelo no chão, coloque-os num recipiente para depois reaproveitar a água. Já quando comprar um saco de gelo, use-o com inteligência: não o deixe derretendo no tanque ou no chão, e sim ponha-o dentro de um balde, para depois reutilizar a água que derreter. 7. Na pressa, descongele alimentos usando um balde com água Se não puder se planejar ou usar o micro-ondas, a comida congelada pode ficar de molho na água, usando uma tina ou uma bacia – e essa água pode ser reutilizada para lavar a louça ou regar as plantas. Descongelando na bacia ao invés de em água corrente, você economizará em um ano, uma quantidade de água equivalente a 300 lavagens de louça, abrindo a torneira apenas para molhar e enxaguar. 8. A água da máquina de la ava ar deve ser re ea apro ov vei eita tad da a A água que sai da máquina de lavar roupa pode ser aproveitada direcionando o cano de despejo da máquina para um balde. A cada ciclo de uma máquina de cinco quilos são gastos 145 litros. Essa água pode ser coletada e usada na descarga dos vasos sanitários, para lavar o quintal ou o carro. E veja que prático: essa água já vem com um pouco de sabão! Esse reaproveitamento da água da lavadora de 5kg gera uma economia de água suficiente para reduzir em 5% o consumo mensal de uma casa. O segundo enxague da máquina, “a água do amaciante”, mais limpa, pode abastecer a próxima lavagem.
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11 FATOS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A CRISE HÍDRICA NO BRASIL Por NQM Comunicação
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á um ano quase não se falava em crise hídrica e hoje não passa um dia sem que o assunto seja pauta em pelo menos um veículo da mídia brasileira. Mas, o que aconteceu de lá para cá para essa mudança radical? Será que a problemática não deu sinais de que estava chegando? Para entender melhor esse contexto, especialistas da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que atua há 25 anos na proteção da biodiversidade brasileira, elencaram 11 fatores que influenciam a questão da crise da água no Brasil. De rios voadores à água virtual!
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1. A crise da água é apenas em São Paulo Não, a escassez de recursos hídricos não é um problema exclusivo da maior cidade brasileira. Tanto que, enquanto só se falava em São Paulo, os níveis dos reservatórios do Rio de Janeiro estavam ainda piores. Agora, Belo Horizonte também já sinalizou que, se a seca continuar, precisará racionar água. Como essas três capitais estão no Sudeste, pode parecer que a crise está restrita a essa região, o que também não é verdade. O Sul do país está sendo considerado como ‘livre da crise’, mas já passou por situação parecida em 2006, quando uma estiagem atingiu o Paraná, ocasionando falta de água para milhares de pessoas. A seca chegou até mesmo a Curitiba, cidade reconhecida como capital ecológica do país. Isso nos leva a refletir se estamos tratando o problema atual de forma isolada, quando deveríamos agir e pensar em âmbito nacional. E na sua cidade, que tal verificar como a situação está?
2. Sem floresta não vai ter água, mas o poder público talvez pense que sim A proteção das florestas nativas nas regiões de mananciais, nas margens dos rios e reservatórios é essencial para a produção de água. Sem cobertura florestal, a água não consegue penetrar corretamente nos lençóis freáticos, causando diminuição na quantidade. Mais do mesmo? Todos sabem disso? Em 2012, grande discussão foi levantada quando o Código Florestal foi revisto. As alterações aprovadas implicaram na redução das Áreas de Proteção Permanente previstas em lei para as margens de rio dentro das propriedades rurais: as matas ciliares (aquelas que protegem as margens dos rios) agora devem ter 15 metros, metade do que era obrigatório antes. Especialistas da área ambiental foram veementemente contra, pois apontavam para a importância da conservação dessas áreas que influenciam a produção de água. Mas, mesmo assim o projeto foi aprovado. Durante as discussões para aprovação do novo código, processo que durou 13 anos, instituições de proteção ao meio ambiente como a Fundação Grupo Boticário, a SOS Mata Atlântica e a The Nature Conservancy investiram em ações na ordem inversa, garantindo a conservação de áreas-chave para a produção de água em diversas regiões. Investiram no Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), iniciativa que premia financeiramente proprietários de terra que conservam a mata nativa em suas propriedades, protegendo as nascentes, além do exigido por lei.
3. Falta de infraestrutura e investimento Às vezes, costumamos deixar algumas atitudes para a última hora, quando se está "com a corda no pescoço". Nesse caso, não foi diferente. Obras importantes como a construção do Sistema São Lourenço, previsto para 2011, traria água do interior até a Grande São Paulo. As obras começaram apenas em 2014 e têm previsão de ficar prontas em 2017. Isso quer dizer que, se tivessem começado em 2011, provavelmente teriam sido entregues em 2014, quando a crise estava se intensificando. Outro ponto importante é que, segundo o Plano Metropolitano de Água III da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a empresa não investiu nem 37% do previsto em obras.
4. Um mar de desperdício Presente na cadeia produtiva de qualquer insumo, o desperdício é dura realidade também na distribuição e no consumo de água. Estima-se hoje que em torno de um quarto da água tratada é perdida no trajeto entre as represas e as torneiras. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 110 litros por dia são suficientes para atender às necessidades de uma pessoa. Parece bastante, mas não é tanto assim. A cada dois minutos no banho, consumimos em média 12 litros de água. Se você é daquelas pessoas que gosta de refletir sobre os problemas do mundo num longo banho, saiba que se demorar 16 minutos terá consumido em torno de 96 litros. Isso sem contar o que usamos para escovar os dentes, dar descarga, lavarmos as mãos, cozinhar, lavar a roupa, além de matar a sede. Quando colocamos na ponta do lápis, percebemos a importância de cada um economizar ao máximo na sua rotina diária.
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5. Racionar por quê? Mesmo sem muita cobertura da mídia em anos anteriores, em 2014 muito já se falava em falta de água e em uma possível crise hídrica bastante grave. Apesar disso, o racionamento oficial pelos órgãos competentes não aconteceu. Por quê? Será que interesses políticos influenciaram as tomadas de decisão relacionadas à crise hídrica? Mais uma dúvida sem resposta exata para os tantos questionamentos que envolvem a situação. Independente das razões, o fato é que essa atitude piorou ainda mais um cenário já bastante complicado.
6. Com a palavra, São Pedro: falta chuva, sim, mas não é de hoje Claramente a falta de chuva é um fator importante na equação da crise. Mas não veio tão de repente assim. Desde 2012, e principalmente no ano seguinte, a quantidade de chuvas foi caindo vertiginosamente. E muitas pessoas sabiam disso. O relatório 20–F da Sabesp, de 2012, afirmava que há anos observava-se a redução nos níveis pluviométricos. Diversas instituições ambientalistas também alertavam sobre a falta das chuvas, fruto de mudanças climáticas e desmatamentos que prejudicam o ciclo da água. Mesmo assim, quase nada foi feito. Por isso, não podemos apenas culpar São Pedro por ter sido econômico demais nas chuvas ou por errar na pontaria.
7. O clima muda sem pedir permissão A poluição e os Gases do Efeito Estufa (GEEs) que jogamos na atmosfera diariamente, têm alterado o clima e, consequentemente, as chuvas. Ainda não temos condições de saber exatamente os reais efeitos das mudanças climáticas, mas já estamos sentindo os efeitos extremos, com grandes secas em algumas regiões e fortes tempestades em outras, bem como os resultados para nossas vidas. As mudanças climáticas, que comprovadamente foram aceleradas pela ação do homem, tornam o clima irregular. Dessa forma, mesmo os especialistas acabam tendo dificuldade em prever quando, onde e quanto vai chover.
8. A água virtual que vai embora do país Você já ouviu falar em água virtual? É um conceito muito interessante criado pelo professor britânico John Anthony Allan, que calcula a quantidade de água utilizada na produção de bens de consumo. Leva em consideração não apenas a água contida no produto, mas a que foi usada em todas as etapas do processo de fabricação. Por exemplo, na produção de uma xícara de café são utilizados cerca de 140 litros de água. Para a produção de um quilo de carne de gado, esse número chega a 15 mil litros de água. Essa quantidade astronômica de água, na maioria das vezes, nem fica para o consumo do brasileiro, pois o país é o maior exportador de carne bovina do mundo. De acordo com dados da Unesco, se somarmos todas as commodities que o Brasil exporta, enviamos ao exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce por ano, o equivalente a 45 milhões de piscinas olímpicas.
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9. Rios voadores regulam chuva em todo o país Na natureza, tudo está interligado buscando um equilíbrio. Apesar de não parecer, mas um ecossistema a cerca de três mil quilômetros de distância pode ser fundamental para garantir a produção de água em outro. No caso do Brasil, existe o fenômeno chamado ‘rios voadores’: grandes massas de vapor de água se formam no Oceano Atlântico – na altura do litoral nordestino - e ao chegarem à região amazônica aumentam de volume ao incorporar a umidade evaporada pela floresta. Levadas pelas correntes de ar em direção ao Sul do país, são importantes para a formação de chuvas em diversas regiões, como a Sudeste. Portanto, o aumento no desmatamento da Amazônia, que após quatro anos em queda voltou a subir em 2013, pode reduzir os índices pluviométricos em outras regiões.
10. O Brasil tem uma imensa caixa d’água Da mesma forma que temos a caixa d’água em nossas casas para garantir que não haja falta, o Brasil também possui uma região essencial para que o recurso continue sendo produzido. É o Cerrado, que ocupa 22% do território nacional e concentra oito das 12 bacias hidrográficas do país (67%), além de possuir alta concentração de nascentes de rios que abastecem outras regiões brasileiras (veja matéria especial sobre o Cerrado nesta edição, a partir da página 30). Apesar da sua importância, esse é o segundo bioma mais ameaçado do país e sofre com as pressões da agricultura e principalmente da pecuária e das queimadas não naturais. Além disso, o Cerrado possui menor porcentagem de unidades de conservação de proteção integral, tendo apenas 8,21% do seu território legalmente protegido, sendo apenas 2,85% de proteção integral. Vale lembrar que não estamos fazendo nossa tarefa de casa: esse índice é muito abaixo da meta com a qual o Brasil se comprometeu com a ONU, em 2010, ao se tornar signatário das Metas de Aichi. O compromisso diz que, até 2020, o país deve ter 17% de áreas terrestres de grande importância ecológica protegidas por meio de sistemas estruturados de unidades de conservação.
11. “Águas, são muitas, infindas” Esse é um pequeno trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando à corte portuguesa a incrível quantidade de água que o recém-descoberto Brasil tinha. Realmente somos um país privilegiado, com a maior reserva de água doce do mundo. Possuímos a maior bacia hidrográfica do planeta (Amazônica), bem como a maior planície alagável do mundo (Pantanal), entre outros recordes de água doce. O Brasil é referência em água no mundo. Porém, é preciso conservação, tecnologia e interesse político para que esse recurso seja revertido em benefício para os brasileiros. É necessário que aprendamos com a natureza a busca pelo equilíbrio. Nenhum desses onze fatos deve ser encarado de modo isolado ou como se fosse mais importante que os demais. Todos estão interligados e fazem parte de um contexto que nos trouxe até a maior crise hídrica da história, porque descuidamos de nosso patrimônio natural. O problema da água existe, mas a realidade sobre o que o causou e sobre como revertê-lo também está aí.
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Especial Dia Mundial da Água
ESTUDO BUSCA REDUZIR DESPERDÍCIO DE ÁGUA EM IRRIGAÇÃO Por Agência USP
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o Programa de Pós-graduação em Sistemas Agrícolas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa avaliou o consumo de água de um canavial e as relações com as variáveis micrometeorológicas. O principal objetivo do trabalho do engenheiro-agrônomo Daniel Nassif foi estudar o consumo hídrico da cana, separando o consumo de água em evaporação e transpiração, relacionando-o com os fenômenos meteorológicos e simulação dos processos envolvidos. Os resultados apontam que o uso de água é elevado, mas pode ser reduzido a partir de estimativas de consumo. Atualmente, no Brasil, o etanol é um produto com grande potencial comercial e sua demanda está aumentando muito. O preço do açúcar está em alta e mudanças climáticas poderão interferir, dependendo da região, na matéria-prima desses 22
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produtos, a cana-de-açúcar. Em regiões como o Centro-Oeste e Nordeste, o clima não é muito favorável e, por isso, torna-se essencial a irrigação nos canaviais. Na região Sudeste, apesar de não ser essencial, em um ano como o de 2014, a irrigação tornou-se interessante, para ajudar a reduzir a perda de produção da cana. Porém, a forma como é realizado o processo de irrigação tem resultado em algum desperdício de água e, portanto, a diminuição dessa utilização em excesso é necessária. Consumo hídrico Para analisar o consumo hídrico da cana-de-açúcar, Nassif utilizou diferentes técnicas de estudo. O projeto teve orientação de Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas. A proposta do projeto foi verificar a quantidade necessária de água
em um canavial, para tentar reduzir a utilização desse elemento no processo de irrigação. “A partir da análise dos dados, foi possível afirmar que o uso da água nos canaviais pode ser reduzido e, com base nas simulações realizadas em laboratório pode-se predizer a demanda de água de um canavial de acordo com as condições climáticas e características do solo, por exemplo”, reforça o autor da pesquisa. A pesquisa foi desenvolvida na fazenda Areão, em área experimental da Esalq, e foi utilizado um pivô central de irrigação. Entre os resultados obtidos, destaca-se que é possível reduzir o uso de água pela irrigação em canaviais, evitando o desperdício. “O maior benefício da pesquisa foi o aumento no conhecimento do consumo de água pela cana, com intuito de avaliação da real necessidade de irrigação da cultura”, conclui Nassif.
Preservação de recursos naturais Por Conselho de Informações sobre Biotecnologia Para preservar recursos naturais como água, solo, florestas e biodiversidade, o uso de tecnologia na agricultura é fundamental. É necessário, no entanto, fazer com que essas tecnologias cheguem facilmente aos agricultores que mais
precisam delas. Para tanto, instituições públicas, privadas e os governos devem se unir para disseminar o conhecimento atual sobre as mais modernas técnicas agrícolas.
Água O uso inteligente da água é a base da manutenção da vida no planeta Terra. Um estudo do Water Resources Group p mostra que a agricultura é responsável por cerca de 70% da água consumida no planeta ou 3,1 bilhões de m³. O restante é formado por consumo industrial (800 milhões de m³) e doméstico (600 milhões de m³). Sem ganhos de eficiência, a agricultura irá consumir cerca de 4,5 bilhões de m³ em 2030. Este aumento, somado à elevação do consumo industrial para 1,5 bilhão de m³ e doméstico para 900 milhões de m³, fará com que o total chegue a 6,9 bilhões de m³. Dar aos agricultores acesso às tecnologias que permitem o uso mais eficaz da água disponível (irrigação por gotejamento, sementes transgênicas etc.) é uma maneira inteligente de caminhar em direção à sustentabilidade. Biodiversidade Ao permitir que a agricultura produza mais na mesma área, diminui-se a necessidade de novas terras para plantações e, consequentemente, a derrubada de florestas para tal fim. Entre as tecnologias que oferecem esse ganho estão o plantio direto, a irrigação por gotejamento, o rodízio de culturas e as sementes transgênicas. A preservação de áreas verdes também é fundamental no combate ao aquecimento global. Segundo estudo publicado na revista Sciencee, as florestas são responsáveis pela captura de mais de 10% do gás carbônico emitido por diversas atividades humanas. Solo Para tornar realmente sustentável o uso do solo a longo prazo, é preciso utilizar em larga escala as modernas técnicas agrícolas que minimizam o impacto, a exemplo do plantio direto, da rotação e do consórcio de culturas, das sementes transgênicas, entre outras. No Brasil, dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura revelam que o uso da técnica diminuiu em cerca de 90% a erosão do solo e, em aproximadamente 80% a perda de água em um período de 17 anos nas culturas de milho e soja.
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Cultura
CERRADO O BERÇO DAS ÁGUAS ACERVO DO WWF-BRASIL FOTÓGRAFO BENTO VIANA
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ACERVO DO WWF-BRASIL FOTร GRAFO BENTO VIANA
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Edison Luís Zanatto
Meio ambiente
AS VERDADES POR TRÁS DO CERRADO
Visto como um tipo de vegetação pobre e como uma fronteira, o bioma abriga uma das maiores biodiversidades brasileiras Da Redação
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cerrado, segunda maior formação vegetal brasileira, estende-se por uma área de aproximadamente 2 milhões de km², abrangendo 12 estados brasileiros: Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Pará e Rondônia, além do Distrito Federal e de aparecer em manchas em Roraima e no Amapá. O bioma detém um terço da biodiversidade brasileira, 5% da fauna e flora mundiais (estima-se que 10 mil 30
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espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam na região) e é o nascedouro das águas que formam as bacias hidrográficas Amazônica, do Rio São Francisco e do Paraná/Paraguai. Além disso, sob o solo de vários estados do Cerrado, está o Aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo. O clima é típico das regiões tropicais, com duas estações climáticas bem definidas: uma seca, entre abril e setembro, outra chuvosa, entre outubro
e março. O solo, característico de savanas tropicais, é deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, fazendo assim com que sua paisagem abrigue plantas com aparência seca, pequenas árvores de troncos retorcidos e curvados, além de folhas grossas e esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores de porte médio, chamadas de Cerradões.
Malene Thyssen Divulgação
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
JJoão oão ão An Ant A nttonio nio io de d Lim ma Esteves es
Cerrado Animal Seguindo a linha de sua vegetação, a fauna do bioma é pouco conhecida. Mesmo assim, apresenta números impressionantes. Existem cerca de 161 espécies de mamíferos, 837 espécies de aves (40 lugar em diversidade no mundo), 150 espécies de anfíbios (80 lugar em diversidade no mundo), 120 espécies de répteis, no mínimo, além de uma grande concentração de invertebrados, na qual predomina o grupo dos insetos. Entre os vertebrados, o destaque fica para os animais de maior porte, como a jibóia, a cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, o urubu-comum, o urubu-caçador, o urubu-rei, as araras, os tucanos, os papagaios, os gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o veado campeiro, o cateto, a anta, o cachorro-do-mato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, a onça-parda e a onça-pintada. Conheça as características de alguns deles:
O ipê-amarelo, árvore típica do cerrado brasileiro
Cerrado Florestal Apesar de ainda pouco conhecida, a flora do cerrado é uma das mais ricas do mundo. Estima-se que existam 10 mil espécies de plantas, sendo 3.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e 7.000 do herbáceo-subarbustivo. Em termos de riqueza de espécies, este bioma é superado apenas pela flora da floresta Amazônica e da Mata Atlântica. Entre as plantas, destacam-se as famílias das Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), das Gramíneas (Poaceae) e das Compostas (Asteraceae). Uma das características do bioma é a heterogeneidade de sua distribuição, havendo espécies endêmicas em cada região do Cerrado.
1. Sucuri verde (Eunectes murinus): chamada também de Anaconda, vive em áreas alagadas do Cerrado. É a maior e mais conhecida sucuri brasileira, tendo a fama de ser uma cobra enorme e perigosa. 2. Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla): é um animal que não tem dentes e que, portanto, utiliza sua língua longa e pegajosa para facilitar a captura de alimentos. Tem em seu cardápio formigas, cupins e larvas de besouros, chegando a comer cerca de 30.000 insetos por dia. É um animal solitário, que se aproxima de outros da mesma espécie somente na hora do acasalamento e da amamentação. 3. Veado Campeiro (Ozotoceros bezoarticus): um veado campestre que mede cerca de 1 metro de comprimento. Tem a pelagem dorsal marrom, com barriga, contorno da boca e círculo ao redor dos olhos brancos. Possui uma galhada com três pontas e cerca de 30 cm de altura. 4. Urubu-rei (Sarcoramphus papa): é uma ave de rapina da família Cathartidae, que tem sua caça proibida no Brasil, pois é considerada uma ave importante na limpeza do meio ambiente. NEO MONDO - Março/Abril 2015
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Meio ambiente 5. Lobo-guará: (Chrysocyon brachyuruss): é o maior mamífero canídeo nativo da América do Sul. A sua distribuição geográfica estende-se pelo sul do Brasil, Paraguai, Peru e Bolívia, estando extinto no Uruguai e na Argentina. É considerado espécie ameaçada de extinção no Brasil.
Formações de arenito do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães vistas do mirante da “Cidade de Pedra”
João Antonio de Lima Esteves
Cerrado Social O aparecimento de pessoas na região data de pelo menos 12 mil anos. Grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais começaram a povoação no bioma. No entanto, o aumento no número de habitantes foi lento. Há cerca de 40 anos esse panorama mudou. Um grande número de pessoas começou a migrar para a região por causa das novas políticas econômicas instaladas nas décadas de 60 e 70. Atualmente, vivem no bioma cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros, principalmente por causa do desenvolvimento desigual, segundo análises realizadas pelo Laboratório de Processamento de Imagens da Universidade Federal de Goiás. Apesar dos dados negativos em relação ao desemprego, à falta de habitação e à poluição, algumas das áreas onde a agricultura comercial conseguiu se desenvolver mais intensamente apresentaram avanços significativos em termos de desenvolvimento humano, com diminuição dos índices de pobreza e aumentos importantes do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Por outro lado, algumas áreas de ocupação mais recente mostram uma tendência ao acentuamento na concentração de renda na mão de poucos.
Cerrado Econômico Na economia, o destaque fica para a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir, principalmente, a partir de 1960. Naquela época, o Cerrado sofreu uma forte expansão da fronteira agropecuária, estimulada por políticas de crédito nacionais e internacionais voltada para exploração de grãos e de carnes. Em 1970, novas políticas de desenvolvimento, o surgimento de novas tecnologias e investimentos em infraestrutura ajudaram na geração de uma nova dinâmica econômica, que resultou na abertura e ocupação de grandes áreas de Cerrado através da expansão da agricultura comercial. Ainda por causa das novas tecnologias, as produções de grãos começaram a aumentar. Um exemplo é a soja. A região Centro-Oeste aumentou em quase 900% sua produção, chegando, hoje, a produzir 50% da soja de todo o Brasil e 13% da soja de todo o planeta. Outros exemplos no Cerrado são: o milho (20% da produção nacional), o arroz (15% da produção nacional) e o feijão (11% da produção nacional). Na pecuária, o Centro-Oeste detém mais de um terço de todo rebanho bovino nacional e cerca de 20% dos suínos. Por outro lado, a expansão da fronteira agropecuária e a evolução tecnológica de agricultura no Cerrado fizeram com que a absorção de mão de obra ficasse cada vez menor. Em 1985, por exemplo, as áreas da agricultura mais evoluídas tecnologicamente geravam praticamente quatro vezes menos emprego que as áreas ainda não incorporadas à economia de mercado. Sem atividades no campo, a população começou a migrar para as cidades, que também não conseguiram receber e empregar todo o contingente de migrantes. Hoje, as áreas de agricultura comercial consolidada no Cerrado ainda são aquelas onde há menor disponibilidade de empregos por área utilizada.
Estrada no Cerrado João Antonio de Lima Esteves
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Problemas biológicos A vasta riqueza biológica que o Cerrado possui acaba trazendo problemas para o ecossistema. Inclusive, é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. A caça e o comércio ilegal de animais é um deles, o que acaba fazendo com que grande parte dos animais esteja ameaçada de extinção. Outro problema é a atividade garimpeira na região que acaba contaminando os rios com mercúrio e contribui para seu assoreamento, além de favorecer o desgaste dos solos, que também sofre com outro problema: a erosão. O manejo pouco cuidadoso do mesmo tem ocasionado perdas expressivas desse precioso recurso natural. Segundo estimativas do WWF, para cada quilo de grãos produzido no Cerrado, perdem-se de 6 a 10 quilos de solo por erosão. O meio aquático também é afetado pela agricultura. Há um grande consumo de água para irrigação, o que, na maioria das vezes, acaba gerando um desperdício excessivo desse bem. O resultado disso é o número crescente de conflitos pela água entre agricultores, e entre uso agrícola e uso urbano da água em muitos estados.
Desmatamento e Degradação O Cerrado, assim como todos os biomas brasileiros, sofre com a destruição de sua paisagem. Avaliações recentes apontaram uma perda entre 38,8% (segundo dados da Embrapa Cerrado) e 57% (segundo dados Conservação Nacional) na cobertura vegetal nativa da região. A diferença nos dados apresentados está diretamente ligada à grande dificuldade de se mapear os diferentes ecossistemas do bioma, principalmente na diferenciação de pastagens naturais e pastagens plantadas. Outro dado, também da Conservação Internacional, apontou que a taxa de desmatamento no bioma, até o ano de 2004, era de 2,6 hectares por minuto, ou seja, 111 mil hectares por mês. Parte da razão dessa destruição está ligada ao efeito do desenvolvimento das agriculturas em larga escala. A abertura de estradas também resultou no desmatamento de boa parte do bioma. Uma contradição disso tudo é que, mesmo com esses números alarmantes, o Cerrado é um dos biomas mais desamparados e esquecidos em termos de proteções legais. Até 2003, menos de 2% de sua área encontrava-se protegida em unidades de conservação de uso sustentável. Além disso, o Cerrado não é considerado Patrimônio Nacional na Constituição Federal, diferentemente da Amazônia, da Mata Atlântica, da Zona Costeira e do Pantanal.
Mapa da ecorregião do Cerrado Os limites da ecorregião mostrados em amarelo
Imagens: NASA
Fontes: • Almanaque Brasil Socioambiental - ISA 2008 | • Mundo de Sabores: www.mundodesabores.com.br • Portal Brasil: www.portalbrasil.net | • WWF Brasil: www.wwf.org.br NEO MONDO - Março/Abril 2015
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Curiosidades A ocupação do Cerrado iniciou-se no século XVIII com a mineração, que se desenvolveu num rápido ciclo de exploração intensiva. O Cerrado é uma região com algumas peculiaridades: conta apenas com duas estações climáticas bem marcadas (seca e chuvosa) e tem uma rica biodiversidade associada a uma aparência árida, decorrente dos solos pobres e ácidos. Somando-se as áreas da Espanha, França, Alemanha, Itália e Inglaterra, chegamos ao espaço ocupado pelo Cerrado. Por não ser considerado “Patrimônio Nacional” pela Constituição Federal, diferentemente da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira, a
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tarefa de conservar o Cerrado é ainda mais difícil e debilitada. As árvores do Cerrado são responsáveis por cerca de 80% do carvão vegetal consumido no Brasil. O Cerrado possui um grau de endemismo (exclusividade) altíssimo e é uma das regiões de maior diversidade do planeta, mesmo sendo um bioma pouco conhecido e estudado. Das 837 espécies de aves registradas no Cerrado, 759 se reproduzem na região e o restante são aves migratórias. O Cerrado é uma das regiões do Brasil com o maior número de insetos. Apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies
de cupins, 1.000 espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas. O Cerrado abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul: Platina, Amazônica e São Francisco, sendo assim considerado o “berço das águas”,
Receita Típica do Cerrado Frango com Pequi* Ingredientes
Preparo
1 frango caipira picado e sem pele 12 caroços de pequi 1 cebola média picada 4 dentes de alho amassados com sal 1 colher de sopa de óleo 1 litro de água Salsa, cebolinha e pimenta-de-cheiro
1O 2O 3O 4O 5O 6O
Ponha óleo na panela; Assim que o óleo esquentar, coloque a cebola para dourar; Depois disso, acrescente o alho com o sal e o frango; Deixe refogar bem e acrescente o pequi; Adicione a água aos poucos; Quando a água estiver toda na panela, acrescente a pimenta e o cheiro verde, e deixe cozinhar por mais ou menos 30 minutos; 7O Se necessário, adicione mais água; 8O Quando o frango estiver bem cozido, está pronto para servir.
Observação Só se come a camada amarela e macia que envolve o caroço do pequi. A parte interna da fruta é cheia de espinhos e, ao se morder com força, pode acabar machucando a boca. *O pequi (Caryocar brasiliensee) é uma árvore nativa do cerrado brasileiro, cujo fruto é muito utilizado na cozinha do nordeste, do centro-oeste e do norte de Minas Gerais. NEO MONDO - Março/Abril 2015
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Filipe Matos Frazao / Shutterstock.com
Especial dia do índio
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População indígena no Brasil
MOMENTO DE REFLETIR E TRANSFORMAR por Andreza Taglietti
O IBGE registra 305 etnias e uma população indígena de 897 mil habitantes, correspondendo a 0,47% da população brasileira. Vive-se, hoje, a maior ofensiva contra a política indigenista da história
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ock in Rio. Setembro de 2013. Palco Mundo. 18h30. Encontro da banda brasileira de heavy metal Sepultura e do grupo francês de percussão pós-industrial Tambours du Bronx. Com uma misteriosa referência à Usina de Belo Monte no telão e imagens de índios do Alto Xingu em lutas sagradas, o show começou furiosamente com a faixa Kaiowas (do disco Kaos a.D., do Sepultura, de 1985). A plateia reagiu fervorosamente o tempo todo. Eram as tribos do rock num rito indígena. Criado em 1961, o Parque do Xingu, primeira reserva indígena do país, sempre dependeu de personalidades para uma conscientização pública de sua existência e significado - Sepultura, Sting, Cao Hamburger, irmãos Villas-Bôas, Afonso Pena, Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, Marechal Cândido Rondon. Encravados em uma zona de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, os atuais 27.974 km² do Parque superam em 25% o território de Israel e guardam, como no polêmico Estado do Oriente Médio, uma cultura igualmente digna e privilegiada – a cultura indígena. Em suas 18 aldeias, o Parque abriga cuicuros, calapalos, nauquás, matipuís, meinacos, auetis, uaurás, iualapitis, camaiurás, trumaís, txicãos, suiás, jurunas, caiabis, metotires, mencragnontires e crenacarores.
Falar hoje sobre índios no Brasil significa explorar uma diversidade de povos. O IBGE registra 305 etnias e uma população indígena de 897 mil habitantes (dados do Censo de 2010), correspondendo a 0,47% da população brasileira. O levantamento também revelou que 572 mil (63,8 %) vivem na área rural e 517 mil (57,5 %) moram em terras indígenas oficialmente reconhecidas. São povos que já habitavam esse espaço há milhares de anos, muito antes da invasão europeia. Os indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil. O Norte é o responsável pelo maior número de indivíduos 305.873 - aproximadamente 37,4% do total. O estado com maior concentração é o Amazonas, representando 55% do total da região. O Nordeste conta com cerca de 25% da população e possui na Bahia o maior agrupamento de indígenas. Depois vem o Centro-Oeste e, dentro deste universo, Mato Grosso do Sul totaliza 56%. Ainda de acordo com o Censo 2010, o povo Tikuna, residente no Amazonas, em números absolutos, foi o que apresentou a maior quantidade de falantes (46.045) e, consequentemente, a maior população. Em segundo lugar, em número de indígenas, ficou a comunidade dos Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul e, na terceira posição, os Kaingang da região Sul do Brasil. NEO MONDO - Março/Abril 2015
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Especial Dia do Índio
João Bittar - portal.mec.gov.br/
Transformação, expansão e legislação Os índios vivem no Brasil a polêmica da demarcação de terras - condição essencial para se resolver os demais problemas que afetam as populações indígenas, sejam esses temas isolados ou não. E o buraco é mais embaixo – vive-se, hoje, a maior ofensiva contra a política indigenista da história brasileira, com propostas de revisão de demarcações e da legislação que regula a área, com ações no Congresso, na mídia e junto a setores do governo. Enfrentamento com fazendeiros no Mato Grosso do Sul; hidrelétricas e rodovias em áreas indígenas (Belo Monte e Transamazônica, por exemplo); confrontos com sojicultores no Norte; conflitos com grileiros no Nordeste e rixas com pequenos produtores no Sul formam esse cenário, no qual se destaca o forte crescimento do agronegócio, que exige sempre novas terras para cultivo. O governo Dilma Rousseff até agora não definiu como vai agir em relação à questão, mas, ao mesmo tempo, não sinalizou que apoiará propostas como a de transferir para o Congresso Nacional o poder de demarcar terras indígenas, defendidas atualmente pela
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bancada ruralista. Segundo especialistas, a legislação indigenista brasileira é avançada e elogiada no exterior. Revogá-la colocaria o Brasil na incômoda companhia das nações que reprimem minorias como os curdos, o que daria ao País o “Nobel de genocídio”. Além disso, de acordo com pesquisadores e antropólogos, a demarcação não se realiza por si só. Também exige, em outro momento, uma política de uso dos recursos de maneira adequada, assessorada pelo Estado de forma lúcida, para que não sejam devastados ou utilizados inadequadamente. Nos últimos 30 anos, muitas terras foram regularizadas, povos que estavam sob violento assédio, cerco, ameaça, conseguiram se estruturar mais. Dados demográficos recolhidos pelo IBGE mostram uma expansão da população indígena. O contingente de brasileiros que se considerava indígena aumentou 150% na década de 90. O ritmo de crescimento foi quase seis vezes maior que o da população em geral. O percentual de indígenas em relação à população total brasileira saltou de 0,2% em 1991 para 0,4% em 2000, totalizando 734 mil pessoas.
Vamos brincar de índio ✓ Nomes de bairros, cidades e rios de origem indígena: Jundiaí, Mooca, Anhangabaú, Ipanema, Uberaba, Mairiporã, Bangu, Grajaú, Itapemirim, Ibirapuera, Tuiuti, Guarujá e Paraná. ✓ Os pratos típicos da culinária brasileira de origem indígena: pirão, beiju, pipoca. ✓ Palavras de origem indígena incorporadas pela à Língua Portuguesa: açaí, caipira, canoa, mandioca, uirapuru, arapuca, caju, pipoca, tapioca, canga.
É importante lembrar que essas áreas não são apenas destinadas aos indígenas e não pertencem a eles. São terras da União. Em grande parte são reservas ambientais e santuários ecológicos desrespeitados: Xingu, a área ianomâmi, algumas regiões da fronteira do Javari, Rio Negro. As poucas partes preservadas são frequentemente habitadas por indígenas, e só estão protegidas porque são terras indígenas ou porque existe terra indígena no entorno. Extensas regiões do País estão sendo destruídas. No Sul do Brasil, os conflitos envolvem pequenos proprietários rurais. No Norte e no Nordeste, frequentemente os índios brigam contra garimpeiros, grilagens, obras do governo, grandes propriedades, latifúndios muitas vezes desocupados. No Amazonas, no Pará, no Acre, em Mato Grosso, Rondônia e Goiás, há estudiosos que se dedicam a localizar povos para tentar protegê-los e evitar a destruição dos locais onde vivem. Tribos digitais É desejo de todo índio é fazer parte da modernidade. A população brasileira ainda o associa ao estereótipo de 500 anos atrás. Para muitos brasileiros, em pleno século XXI, não podem usar roupas e nem ter óculos de sol ou aparelhos celulares. Estar inserido em um ambiente moderno e digital não significa abdicar de sua origem nem das tradições e modos
de vida próprios. Trata-se apenas de uma interação consciente com outras culturas. Mesmo usando os gigabytes, os índios mantêm suas tradições. Na verdade, a tecnologia ajuda a disseminar e reforçar essa identidade em um mundo cada vez mais global e, ao mesmo tempo, profundamente segmentário no que diz respeito à cultura, à ancestralidade, à origem étnica, a partir das quais os direitos econômicos, sociais, culturais contemporâneos se articulam e se fundamentam. As ferramentas de última geração são aliadas até na hora de vender os produtos feitos nas aldeias. Mas fazer parte de uma sociedade moderna tem um preço. Ou melhor, um pedágio. Revoltados com a construção da Rodovia Transamazônica (BR-230), há cerca de dez anos, os índios da etnia Tenharim cobram pedágio na região Humaitá, no sul do
Tudo começou com o Marechal Rondon Nascido no Mato Grosso, Cândido Mariano da Silva Rondon foi o idealizador do Parque Nacional do Xingu, quando mentor e diretor do Serviço Nacional de Proteção ao Índio (SNPI), meio século antes da saga dos irmãos Villas-Bôas. Militar, Rondon começou a “desenhar” um novo interior em 1892, valorizando seus moradores, os donos do CentroSul brasileiro, que não eram outros senão as tribos caiamos, terenas, guaicurus e bororos (a mãe do Marechal era descendente desta última). Levou as linhas telegráficas do Rio de Janeiro a Cuiabá – onde tinha se formado professor – e de Cuiabá ao Acre, recém-incorporado ao País. Cândido Mariano da Silva Rondon – reconhecido em 1939 pelo IBGE como “Civilizador do Sertão” – abriu estradas onde ninguém passava, levou notícias entre o sertão inóspito e a civilização e demarcou áreas que protegeram os indígenas durante décadas. Descobriu o rio Jurema e inspecionou as fronteiras do sul com a Argentina e o Uruguai e também com as colônias europeias no norte, nas Guianas. Em 1913, o presidente americano Theodore Roosevelt o acompanhou pelo rio Amazonas porque sabia que com ele descobriria “outro mundo”. Foi um precursor como quase nenhum outro. Rondon, considerado “Grande Chefe” pelos índios silvícolas e “Marechal da Paz” pelos índios civilizados, só em 1956 – dois anos antes de morrer – recebeu a maior homenagem de todas por parte dos brancos: o então Território do Guaporé foi rebatizado e até hoje é denominado Estado de Rondônia. Atrás dele, chegaram os irmãos Villas-Bôas.
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Especial Dia do Índio Amazonas, como forma de compensação pela chegada da rodovia, uma vez que não foram criadas alternativas para minimizar os impactos sobre a terra indígena Tenharim Marmelos. O clima é tenso desde dezembro de 2013. Os conflitos entre indígenas e a população se intensificaram após o desaparecimento de três homens, vistos pela última vez no dia 16 de dezembro de 2013, quando passavam de carro no quilômetro 85 da Rodovia Transamazônica. Moradores acusam os índios de os terem sequestrado em represália à morte do cacique Ivan Tenharim. A polícia instaurou inquérito para apurar os desaparecimentos. Os índios estão isolados nas aldeias. Impedidos de cobrar o pedágio e impossibilitados de se deslocar até a cidade, dependentes da assistência do governo federal. A Fundação Nacional do Índio (Funai) tem distribuído cestas básicas e medicamentos. O Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM) entrou com ação na Justiça Federal para responsabilizar a União e a Funai por violações aos direitos humanos das etnias Tenharim e Jiahui. O órgão alega que a construção da Rodovia Transamazônica, que passa dentro das áreas indígenas, provocou danos permanentes nas comunidades. O governo precisa encontrar uma nova forma de compensação para os impactos da obra. Assim, os índios não retomariam os bloqueios. Armadilhas Os problemas da população indígena não são causados apenas por agentes externos. É importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e se reelaboram com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem europeia e africana. As comunidades indígenas também vêm enfrentando problemas concretos e desafiadores, tais como drogas, depressão e alcoolismo. Este fatores fazem com que a taxa de mortalidade dos índios brasileiros seja três a quatro vezes maior do que a média nacional brasileira não-indígena. Vários estudos traçam o
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Os irmãos Villas-Bôas Orlando, Cláudio e Leonardo. De uma família de onze filhos, pai fazendeiro de café, os três tiveram de interromper os estudos na adolescência, depois que o pai ficou doente, vendeu a fazenda e trouxe todos para São Paulo (SP). No ano de 1941 o pai morreu e, cinco meses depois, a mãe. Os três deixam o casarão que a família ocupava no bairro de Pinheiros, alugam uma casa menor para os irmãos e vão para uma pensão na Vila Buarque, bairro no centro de São Paulo. Nada mais os prendia à cidade e decidiram juntar-se à Marcha para o Oeste, projeto de ocupação do interior criado pelo governo Getúlio Vargas, em 1943. Na primeira tentativa de alistamento, foram rejeitados por serem muito urbanizados. Pouco tempo depois, Cláudio e Leonardo foram ao interior de Goiás para fazer uma nova tentativa, dessa vez passando-se por sertanejos analfabetos e acabaram sendo aceitos. Orlando, mais velho dos três, então com 29 anos, largou o emprego em São Paulo pouco depois para juntar-se aos irmãos. O objetivo inicial da expedição de vanguarda Roncador-Xingu, braço da Fundação Brasil Central, da qual tomaram parte, era abrir caminho e desbravar as áreas mostradas em branco nas cartas geográficas brasileiras. De início, os índios eram vistos como obstáculos a serem superados. No entanto, os Villas-Bôas, à frente da expedição, preferiram conduzir o contato com as tribos da região de forma pacífica e foram tocados por sua riqueza cultural. Entenderam logo que era necessário garantir-lhes algum isolamento e iniciaram os esforços que culminariam na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, primeira terra indígena homologada pelo governo brasileiro. Foi justamente durante as negociações para a criação do parque que Leonardo teve que se afastar da expedição por ter se envolvido com uma índia da tribo Kamayurá, fato que chegou ao conhecimento da imprensa e causou escândalo na época. O mais jovem dos irmãos Villas-Bôas morreria pouco depois, em 1961, aos 43 anos, devido a problemas cardíacos. Cláudio e Orlando ainda se dedicariam à questão indígena até a morte, o primeiro em 1998 e o segundo em 2002. Para saber mais sobre os irmãos Villas-Bôas, assista Xingu (direção de Cao Hamburger, 2012).
mapa do consumo de bebidas alcoólicas por populações indígenas e da correlação alcoolismo-violência. De acordo com a Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind Amazonas), a presença de bebidas alcoólicas tem deixado espaço para a ocorrência de crimes como violência doméstica, suicídio, homicídio e envolvimento com narcotráfico. O acesso
às aldeias é facilitado, principalmente, em cidades fronteiriças onde há fragilidade na fiscalização. Soma-se a este quadro o aumento das doenças sexualmente transmissíveis. Índices preocupantes de uma pesquisa do Ministério da Saúde (MS) mostram o crescimento de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como sífilis e Aids,
Nina B / Shutterstock.com
Mario? Que Mario? O primeiro deputado federal brasileiro de etnia indígena foi Mario Juruna. Nascido numa aldeia xavante do Mato Grosso, ficou famoso na década de 70 ao percorrer os gabinetes da Fundação Nacional do Índio, em Brasília (DF), lutando pela demarcação de terra para os índios, portando sempre um gravador “para registrar tudo o que o branco diz” e constatar que as autoridades, na maioria das vezes, não cumpriam a palavra. Foi eleito deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT - 1983-1987), representando o estado do Rio de Janeiro. Sua eleição teve uma grande repercussão no País e no mundo. Foi o responsável pela criação da Comissão Permanente do Índio no Congresso Nacional do Brasil, o que levou o problema indígena ao reconhecimento formal.
em aldeias indígenas. Em 2012, mais de 45 mil pessoas de aldeias remotas ou de localidades de difícil acesso no Amazonas e Roraima passaram por testes médicos. Cerca de 18,59% dos índios avaliados apresentaram resultado positivo para a sífilis. O número representa um índice elevado da doença, até mesmo comparados à estatística da população geral do País. Também foram estudadas as áreas do Leste de Roraima, Alto Rio Negro, Médio Solimões, Vale do Javari e terras indígenas próximas à Manaus. Já o vírus HIV, causador da Aids, é encontrado com menor frequência, porém também deixa as autoridades em alerta. Enquanto o índice de soropositivos na população geral do País é de 0,6%, entre os povos indígenas os dados chegam a 3,4% em aldeias do Alto Rio Negro. A prevalência da doença em indígenas gestantes também preocupa: 0,08% das futuras mães de todas essas tribos possuem a doença e, sem tratamento adequado, podem transmití-la para os bebês. Fatores internos e externos são os causadores dessa vulnerabilidade indígena para as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como a ocupação ilegal de não indígenas e o turismo. Como fator interno foram apontados o desconhecimento sobre esse tipo de doença, o consumo de álcool, a restrição ao uso de preservativos, a presença de comunidade indígena em centros urbanos e as festividades com a participação de não indígenas. Outro fator alarmante é a resistência destes povos ao uso de métodos para prevenir as DSTs, além da própria falta de conhecimento em relação às alternativas. Atualmente, o Ministério da Saúde realiza prevenção diferenciada com povos indígenas. As ações são feitas respeitando as especificidades de cada cultura. A abordagem e o aconselhamento são pensados e trabalhados nas aldeias dentro da peculiaridade de cada etnia. Os resultados obtidos devem ser enfrentados de acordo com a ética da medicina ocidental, mas o modo como cada etnia entende essas doenças também está nos planos de ações. O tratamento nos casos de diagnóstico de sífilis é realizado na própria aldeia e tem início imediatamente após a confirmação da doença. Os portadores de HIV são removidos para centros do Sistema Único de Saúde (SUS), em municípios próximos das aldeias onde vivem.
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O planeta ainda tem muita água, mas menos de 1% dela está disponível para o nosso consumo. Por isso, não adianta só esperar pela chuva. Faça sua parte. Evite o desperdício.
Dia 22 de março, Dia Mundial da Água.
NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Pesquisadores descrevem cinco novas espécies de invertebrados marinhos
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m um artigo publicado na edição de janeiro da revista Zootaxa, pesquisadores brasileiros descreveram cinco novas espécies de ascídias, invertebrados marinhos que, em sua maioria, formam colônias permanentemente submersas. Quando o estágio larval desses animais termina, estes se fixam em superfícies como pedras, conchas e cascos de navios naufragados e perdem a capacidade de locomoção. A partir daí, a melhor proteção que têm contra predadores é a produção de substâncias químicas. São esses compostos naturais, somados à ampliação do conhecimento taxonômico sobre o grupo, que atraem os pesquisadores – uma vez que podem abrir caminho para a produção de novos medicamentos e pesticidas, entre outros produtos. Até agora, cerca de 120 espécies de ascídias haviam sido descritas a partir de exemplares encontrados no Brasil. As cinco novas espécies foram localizadas na costa da Bahia – uma delas também foi encontrada na costa do Espírito Santo – por uma equipe do
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Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para realizar a análise taxonômica das amostras, os pesquisadores receberam apoio da FAPESP, por meio do projeto temático "Investigação do potencial biotecnológico e metabólico de organismos marinhos para processos de biorremediação e produção de substâncias com atividades antivirais, antileishmania e anti-inflamatória", coordenado por Roberto Gomes de Souza Berlinck, professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC/ USP). Em todo o mundo, são conhecidas cerca de 3 mil espécies de ascídias, 20% delas pertencentes à família Didemnidae, como os exemplares descobertos no litoral brasileiro. Das cinco novas espécies, quatro são do gênero Didemnum (D. aurantium, D. flammacolor, D. lambertae e D. longigaster) e uma do gênero Diplosoma (D. citrinum), sendo que esta última também foi encontrada no Espírito Santo.
União Europeia propõe corte de 40% de emissões de gases estufa até 2030
A
União Europeia (UE) deu a largada rumo ao acordo do clima de Paris no final de fevereiro, ao tornar-se o primeiro bloco a colocar na mesa sua proposta de redução de gases de efeito estufa para o novo tratado global, a ser implementado em 2020. Um documento divulgado pela Comissão Europeia detalha a visão dos 27 países sobre o novo regime climático e diz o que os europeus estão dispostos a fazer. A chamada Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida (INDC) da UE chega um mês antes do prazo informal dado pelas Nações Unidas para os países desenvolvidos apresentarem seus números. Traz também um avanço ao propor que o novo acordo, que os europeus já estão chamando de Protocolo de Paris, tenha força de lei internacional. Porém, ainda faz pouco para colocar o mundo na trajetória segura de limitar o aquecimento global no fim deste século a 2°C, objetivo almejado pelos membros da Convenção do Clima da ONU, com base nas recomendações da ciência. A INDC europeia propõe reduzir as emissões dos 27 países
do bloco “em pelo menos 40%” até 2030 em relação aos níveis de 1990, sem a compra de créditos de carbono de fora. Segundo o documento da Comissão Europeia, isso colocaria a UE numa trajetória “economicamente viável” de cortar 80% das emissões até 2050, permitindo uma chance “provável” de ficar dentro do limite de 2°C. Na linguagem estatística do IPCC, o painel do clima da ONU, “provável” significa uma chance de pelo menos 66%. “Os europeus merecem crédito por terem sido os primeiros a fazer o anúncio, mas sua oferta está aquém do que seria uma contribuição justa ao esforço mundial de redução de emissões”, diz Mark Lutes, analista sênior de clima do WWF, uma das organizações integrantes do Observatório do Clima. “Estamos dizendo que o mundo precisa reduzir a zero as emissões de queima de combustíveis fósseis e chegar a 100% de energia renovável até 2050; e a proposta europeia não chega lá.” No entanto, ressalta Luttes, os europeus deixaram a porta aberta para revisões periódicas dos compromissos a partir de 2020, algo que o Brasil tem defendido nas negociações.
Corporate Knights divulga as 100 empresas globais mais sustentáveis de 2015
A
Corporate Knights, publicação canadense especializada em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, divulgou, no início do ano, a sua tradicional lista The Global 100, que contempla as empresas com as melhores práticas de sustentabilidade corporativa. A publicação seleciona empresas de todos os setores com base em 12 indicadores principais. São eles: energia, emissões de carbono, consumo de água, resíduos sólidos, capacidade de inovação, pagamentos de impostos, a relação entre o salário médio do trabalhador e o do CEO, planos
de previdência corporativos, segurança do trabalho, percentual de mulheres na gestão e o chamado "bônus por desempenho". Quem lidera o ranking é a empresa americana Biogen, do ramo de biotecnologia. Segundo a Corporate Knights, a Biogen se destaca por fazer um consumo mais eficiente de energia do que a maioria das 171 empresas do setor, além de empreender esforços notáveis para reduzir o gasto com água. Atualmente, a empresa consome 66% menos água do que em 2006. Apenas uma companhia brasileira integra a nova edição: a Natura, na 44a posição.
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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Conheça os 50 primeiros colocados no ranking da Corporate Knights: Rank
Empresa
País
Indústria
Pontuação
1
Biogen Idec
Estados Unidos
Biotecnologia
73,5%
2
Allergan
Estados Unidos
Farmacêutica
72,8%
3
Adidas
Alemanha
Têxtil. Vestuário e Artigos de Luxo
72,6%
4
Keppel Land
Singapura
Gestão Imobiliária e Incorporação
71,3%
5
Kesko
Finlândia
Alimento e Varejo
70,0%
6
Bayerische Motoren Werke (BMW)
Alemanha
Automotiva
69,2%
7
Reckitt Benckiser Group
Reino Unido
Produtos domésticos
68,8%
8
Centrica
Reino Unido
MultiUtilidades
68,5%
9
Schneider Electric
França
Equipamentos elétricos
68,4%
10
Danske Bank
Dinamarca
Bancos
68,4%
11
Tim Hortons
Canadá
Hotéis e Lazer
68,2%
12
Outotec
Finlândia
Construção e Engenharia
67,8%
13
Novo Nordisk
Dinamarca
Farmacêutica
67,6%
14
L'Oréal
França
Produtos de Uso Pessoal
66,8%
15
BT Group
Reino Unido
Telecomunicação
66,8%
16
Marks & Spencer Group
Reino Unido
Varejo
66,6%
17
Dassault Systemes
França
Software
66,6%
18
Johnson & Johnson
Estados Unidos
Farmacêutica
66,2%
19
Enagas
Espanha
Gás
66,0%
20
Storebrand
Noruega
Seguros
66,0%
21
Commonwealth Bank of Australia
Austrália
Bancos
65,8%
22
Unilever
Reino Unido
Produtos Alimentares
65,7%
23
Atlas Copco
Suécia
Máquinas
65,4%
24
StarHub
Singapura
Serviços de Telecomunicação Wireless
65,3%
25
Koninklijke Philips Electronics
Holanda
Conglomerados Industriais
65,2%
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NEO MONDO - Março/Abril 2015
Rank
Empresa
País
Indústria
Pontuação
26
Coca-Cola Enterprises
Estados Unidos
Bebidas
65,2%
27
Statoil
Noruega
Petróleo, Gás e Combustíveis
65,2%
28
Kone
Finlândia
Máquinas
65,1%
29
Teck Resources
Canadá
Metais e Mineração
65,0%
30
Galp Energia
Portugal
Petróleo, Gás e Combustíveis
64,5%
31
Neste Oil
Finlândia
Petróleo, Gás e Combustíveis
64,4%
32
Syngenta
Suíça
Química
64,0%
33
Nokia
Finlândia
Tecnologia
64,0%
34
City Developments
Singapura
Gestão Imobiliária e Incorporação
63,7%
35
Vivendi
França
Telecomunicação
63,6%
36
POSCO
Coreia do Sul
Metais e Mineração
63,4%
37
TELUS
Canadá
Telecomunicação
62,9%
38
Sigma-Aldrich
Estados Unidos
Química
62,9%
39
Henkel
Alemanha
Produtos de Uso Doméstico
62,7%
40
Electricité de France
França
Engenharia Elétrica
62,6%
41
Westpac Banking
Austrália
Bancos
62,2%
42
Crédit Agricole
França
Bancos
61,7%
43
Novozymes
Dinamarca
Química
61,5%
44
Natura Cosméticos
Brasil
Produtos de Uso Pessoal
61,5%
45
Samsung Electronics
Coreia do Sul
Equipamentos e Semicondutores
61,4%
46
DNB
Noruega
Bancos
61,4%
47
Ecolab
Estados Unidos
Química
61,2%
48
Legrand
França
Equipamentos Elétricos
60,8%
49
General Mills
Estados Unidos
Produtos Alimentícios
60,8%
50
Eisai
Japão
Farmacêutica
60,5%
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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Aulas do Edukatu sobre sustentabilidade e consumo consciente são oferecidas gratuitamente
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omo falar de consumo consciente em uma aula de Educação Física? Ou como levar para a sala um plano de aula que estimule a curiosidade dos estudantes? Estas respostas já foram encontradas pelos professores que utilizam o Edukatu, rede gratuita e aberta de aprendizagem para consumo consciente, promovida pelo Instituto Akatu em parceria com a Braskem. Com apenas um ano e meio, a rede já foi utilizada por mais de 1.500 professores de todo o Brasil. “A plataforma traz diversas propostas para serem usadas em sala de aula e fora dela, nas saídas de campo, e por qualquer disciplina. O melhor é que as atividades podem facilmente serem adaptadas à realidade de cada escola. A ideia é incentivar professores a usarem estes temas em sala, a desenvolverem projetos e, ainda, conhecerem-se e trocarem experiências”, afirma Silvia Sá, gerente de educação do Instituto Akatu. A série "Consciente Coletivo" é um dos materiais do Edukatu mais utilizados e elogiados pelos professores. O conteúdo, composto por uma cartilha e dez animações em vídeo, traz de forma simples e divertida reflexões sobre os problemas gerados pelo ritmo atual de produção e consumo. O professor José Marcos dos Santos, de Coruripe (AL), conta que desde que conheceu o Edukatu tem
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NEO MONDO - Março/Abril 2015
usado esse material em sala de aula. “O que me deixa encantado e me inspira ainda mais é a forma como são tratadas as questões envolvendo a natureza, consumo consciente e sustentabilidade”, comenta o professor. A atividade mais admirada pelos alunos de José foi o plano de aula "Comer e aprender", com textos, jogos e sugestões para promover o debate sobre alimentação saudável. “Eles gostaram muito e se envolveram como nunca!”, comemora. Conheça algumas atividades da rede: Para ter acesso completo a plataforma, basta cadastrar-se em edukatu.org.br •“Consciente Coletivo”, uma cartilha e uma série de dez animações com reflexões sobre os problemas gerados pelo ritmo de produção e consumo de hoje: bit.ly/consciente-coletivo • "Comer e aprender", com sugestões para promover o debate sobre alimentação saudável: bit.ly/ comer-e-aprender • "O ciclo da água", com ideias para estimular a análise desse recurso e refletir sobre o seu consumo: bit. ly/ciclo-da-agua • Documentário “Entre Rios”, para fomentar um debate sobre os rios do lugar em que cada um vive: bit. ly/doc-entre-rios
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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Programa Água Brasil lança estudo sobre Pegada Hídrica
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Programa Água Brasil lançou a publicação “Pegada Hídrica das Bacias Hidrográficas”. O estudo traz os resultados do uso dos recursos hídricos pelas atividades econômicas mais relevantes nas sete bacias hidrográficas onde o Programa atua: rio Lençóis (SP), córrego Cancã e ribeirão Moinho (SP), rio Longá (PI), rio Peruaçu (MG), córrego Guariroba (MS), ribeirão Pipiripau (DF) e igarapé Santa Rosa (AC). O cálculo da Pegada Hídrica é um indicador que expressa o consumo de água envolvido na produção dos bens e serviços que consumimos. O método permite que as empresas, os órgãos públicos, assim como a população em geral, entendam o quanto de água é necessário para a fabricação de produtos ao longo de toda a cadeia produtiva. Desta forma, os segmentos da sociedade podem quantificar a sua contribuição para os conflitos de uso da água e a degradação ambiental nas bacias hidrográficas em todo o mundo. A publicação, resultado de um estudo nacional, busca contribuir para o entendimento da Pegada Hídrica dessas atividades econômicas e apontar caminhos para o uso mais responsável da água. Espera-se que os diversos atores (indivíduos, comunidades, instituições de pesquisa, poder público, comitês, consórcios, agências de bacias) compreendam a importância da gestão mais eficiente, sustentável e participativa do uso da água nessas regiões para que esta iniciativa possa ser replicada em outras bacias. Os resultados do estudo servirão também para apoiar a população e os poderes público e privado nas localidades a repensar o uso deste recurso em suas atividades e no planejamento futuro - um cálculo que se faz urgente e necessário frente à maior crise hídrica da história do Estado de São Paulo.
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O Programa Água Brasil é uma iniciativa do Banco do Brasil com a organização ambientalista WWF-Brasil, a Agência Nacional de Águas e a Fundação Banco do Brasil pela conservação dos recursos hídricos. O download da publicação pode ser feito na página da WWF-Brasil na Internet.