O que silencia; Aldo Jr.

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O que silencia

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O que silencia Aldo Jr.

O que silencia Aldo JĂşnior

Alternativa Books SĂŁo Paulo 2014

alternativa books


Copyright@2014 Aldo Jr. e Alternativa Books. Todos os direitos reservados. ISBN: 978-85-68125-00-7 Editor: Neto Bach Editoração: Alternativa Books Capa: Rafael Manfrere Foto: iStockphoto Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7- 5880

O48q Oliveira Jr., Aldo de. O que silencia / Aldo de Oliveira Junior - São Paulo : Alternativa Books, 2014.

96 p.: 11x 18cm.

ISBN: 978-85-68125-00-7

1.Literatura brasileira. 2. Poesia brasileira. I. Título.

CDD B869.1

Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura brasileira 2. Poesia brasileira Impresso no Brasil em julho de 2014

Alternativa Books Rua Francisco Escobar, 116, Imirim CEP: 02541-010 – São Paulo – SP. (11) 99590-7330 www.alternativabooks.com.br


Dedico esse livro a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, me motivaram a continuar escrevendo. Em especial aos amigos Rafael Manfrere e Marco Cardoso, por lerem absolutamente tudo o que já escrevi; ao amigo Neto por todo esforço nesse projeto; minha avó Dora, que me ensinou a amar os livros; minha querida família por todo o suporte e admiração; minha sogra, Vera, por mostrar tanto interesse e sempre oferecer suporte; e a minha inspiração de todos os momentos, Taís. Esse livro também é dedicado a todos que, assim como eu, escrevem para tornar os dias mais leves.

“These words I write keep me from total madness” Henry Charles Bukowski



Sumário

Descompasso 11 Ficha que cai

13

É sempre amor

14

Sem controle

16

O poeta chora no escuro

18

O que silencia

20

Eu não me autodestruo

21

Dez pras seis...

23

Poema angustiado

25

A arte de esperar em vão – eu

26

Epifania 28 Suas cores

31

Sou só eu

32

Vazio 34 Idas e vindas

36


Você 38 Os olhos dela

39

Instinto 41 Entrega –­ I

42

Amor de plástico

43

(aquela) noite...

46

Como se salvar em tempos modernos 51 Não tem...

53

Sufoco 55 O poeta

58

E essa agora?

60

A razão

62

Não há título

63

E eu aqui...

65

Incidentalmente

67

Desatino 70 No espelho do banheiro

71

Conflito? (não dá pra entender nada)

73

Um pedaço de vida

76


Madruga...

79

Nostalgia...

81

Confissão

84

A velha máquina de escrever

88

Entrega – II

90

Poeminha...

91

Pro silêncio...

92

Entrega – III

94



Descompasso

já vi coração bater de um bocado de jeito descompassado torto capenga vi coração que não bate coração que não vibra que não sente aflição nem aperto nem fica gelado de ansiedade mas nunca vi coração igual ao meu que acelera dispara e sofre de saudade sofre calado, miúdo que bate bem baixo, mas que se eu parar quietinho consigo ouvir 11


saudade sufoco saudade sufoco saudade sufoco no dia que ele nĂŁo bater mais assim morri pensando nela.

12


Ficha que cai

sufoco é se encontrar perdido em meio a tudo o que inventou e descobriu ser verdade. quando sua fantasia torna-se realidade é preciso estar preparado para ela. o que há dentro da sua cabeça pode não existir dentro da cabeça de mais ninguém. e por mais que pareça bom não é, pois ninguém faz um mundo sozinho.

13


É sempre amor

ela vai lá em casa, fica toda a vontade... se joga no meu sofá, abre as pernas e toma aquele vinho branco horrível. tem sido divertido eu finjo que não quero nada ela finge que não percebe rimos, bebemos, comemos, cantamos e vamos indo. depois, levemente inebriados, dormimos ela no meu sofá eu na minha cama. é uma relação de cristal cheia de alianças, 14


cumplicidade, carinho cuidado... frรกgil o suficiente para sabermos que, um passo mal dado pode quebrar isso tudo em segundos.

15


Sem controle

não, eu não tenho culpa se sem você as horas resolvem se arrastar, o sol resolve não sair, as noites ficam muito mais frias e o meu sorriso se esconde. nada disso está sob meu controle por mais que pareça que me pertença, não é meu. não sou eu quem comanda nada! tudo o que é meu vem de você meu sorriso, meu choro, minha alegria e minha tristeza. há algo que nos une e que me deixa a seu total dispor entregue, vendido preso a cada passo seu. 16


não há uma escolha que afete só um não há ação que exerça reação em só uma das partes o que houver aí haverá aqui sempre.

17


O poeta chora no escuro

enquanto uns dormem, tantos outros sonham e alguns, com sorte, amam... o poeta está calado. se chega o dia e todos acordam, o poeta se fecha. tranca-se em seus sentimentos enquanto todos os outros falam dos seus aos quatro ventos. depois que o dia passa e todos voltam às suas casas, o poeta persegue seu sonho. busca olhares, observa movimentos, revira a memória em busca de lembranças ainda latentes. 18


volta pra casa e se deita. e ao comeรงar a escrever, apaga todas as luzes.

19


O que silencia

o mundo para enquanto te espero chegar, sorrir, responder, respirar. meus momentos mais barulhentos são seus momentos de silêncio. ouço o coração a milhão, a cabeça a mil, completamente inquieto, tudo é confusão. eu não me acostumo com o seu silêncio e não sei conviver com meu barulho. diga! nem que seja o que eu não quero escutar mas diga... ... é sua voz que me fará silenciar. 20


Eu não me autodestruo

eu não me autodestruo isso é autopunição, é penitência é a maneira mais doentia e mais dolorosa de encarar os fatos da vida, encarar os erros, as mentiras, as dores, as promessas não cumpridas. no fundo de cada copo e de cada garrafa, lá está a salvação no último gole, a certeza da confissão. quando tudo acaba e sobram cascos, cinzas, bitucas, farelo... quando a luz se apaga e a porta se fecha quando me dou conta de que nada passou, que nada adiantou, reencontro-me com a dor e tenho certeza que ainda preciso resolver minha vida 21


ĂŠ essa a hora que mais machuca ĂŠ nessa hora que mais aprendo, que me arrependo e sigo tentando aprender novamente. errante... mas seguindo em frente.

22


Dez pras seis...

tem alguma coisa querendo sair de dentro de mim, mas eu não consigo saber o que é. e aí fico assim sem conseguir ficar quieto, balançado o pé roo as unhas, coço a cabeça levanto pra tomar água e acabo pegando um café. sento-me de volta à mesa e não consigo mais ter paciência, ter vontade, ter coerência, ter qualidade. a cabeça dói, o estômago esfria sinto algumas palavras socando minha barriga... não respiro. o tempo se arrasta, o trabalho não anda, o expediente não acaba 23


e nĂŁo chega o final de semana e nĂŁo chega o final de semana e nĂŁo chega... o final... de semana.

24


Poema angustiado

é o dia que não começa e quando começa não acaba é a tarde que nunca chega e quando chega passa voando e traz a noite que dura dias horas que voam quando deveriam arrastar e arrastaram quando deveriam voar dia que dura semana semana que dura um mês mês que dura um ano e um ano que dura um século um século que não sei mensurar isso tudo é o medo que me dá só de pensar em ter que esperar para te encontrar

25


A arte de esperar em vão – eu

a gente não consegue mesmo se acostumar com certas coisas. na maioria das vezes são coisas pequenas que crescem, inflam, incomodam e passam a machucar, apertar, espremer, macerar e aí dilacera... arranca um pedaço pequeno a cada segundo... ...num minuto te tirou quantidade significativa de sentimento, de autoestima, de sanidade, de paciência e assim, no final de um dia, de todo resquício de esperança. vem com a chuva, mas não vai embora com ela... 26


nem quando o sol ressurge e as plantas secam... isso continua ali e precisa ser expulso de qualquer maneira. aí você respira fundo, resigna-se. olha em volta, engole o choro, mastiga as palavras que poderiam machucar alguém, cala-se por alguns instantes, corre prum pedaço de papel e rabisca... rabisca e escreve um sentimento que te devora à toa, ou que você alimenta à toa. a arte de esperar em vão é ainda mais vã quando não sabemos o que estamos esperando.

27


Epifania

resolvi escrever para me sentir vivo de novo estou sufocado, desesperado, semimorto, completamente lúcido, amarrado dentro de mim mesmo. a maldita jaula física que limita nossos dias, nossa maneira de viver a vida e nos acorrenta a uma sociedade de semelhantes diferenças sutis que nos fazem um só aglomerado de corpos, cabeças não pensantes, mentes hibernantes, caminhando todos os dias pra lugar nenhum tentando encontrar coisa alguma. porque acordei de madrugada e vi meu corpo estendido, imóvel na cama, cansado, fodido e frustrado por ter de 28


fazer o que todos fazem numa luta incessante por um sucesso parcial e controlado, um triunfo dos outros, uma vitória de todo mundo que joga o mesmo jogo, luta a mesma luta. porque estou preso e se gritar ninguém vai ouvir e se alguém ouvir não vai entender porque gritar não é maneira de manifestar indignação, mas sim, de manifestar loucura para uma sociedade doente que se julga sã para julgar os insanos. resolvi escrever para anestesiar a dor que eu sinto, o medo que acua, o fracasso que persegue, a vergonha que derruba, o presente que me negam, o passado que me condena. o santo, o demônio o bonito e o feio a falta de futuro o brinde dos enfermos 29


o comeรงo do desespero coletivo ao descobrir que o sono que vivemos tende a ser o nosso fim.

30


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