RUI REZENDE
ENCANTOS DE
TINHARÉ
bahia / 2011
RUI REZENDE ENCANTOS DE
TINHARÉ Textos de
Gal Meirelles
Canoa a vela - Cova da Onรงa / Sail canoe - Cova da Onรงa
Notícias dos encantamentos de Tinharé Encantos de Tinharé é um livro de fotografias que mostra as belezas do único município-arquipélago do Brasil, Cairu. O arquipélago de Tinharé – formado por vinte e seis ilhas das quais as mais representativas são Tinharé, Boipeba e Cairu – singulariza o relevo, a fauna e a flora do município cuja sede é a majestosa e pacata cidade de Cairu. As três ilhas, sendo as duas primeiras banhadas pelo Oceano Atlântico e a última localizada no canal do Rio Tinharé, caracterizam-se por paisagens específicas: praias recobertas por extensas áreas de coqueirais, imensos vales e bosques de mangues que formam recônditos estuários por onde, em todos os poros, a vida pulsa. A região, outrora habitada por índios Tupiniquim e Aimoré, na atualidade, recebe visitantes das mais variadas partes do mundo. Os influxos humanos são constantes e dinamizam com intensa rapidez a cultura e o panorama natural das localidades que compõem o arquipélago. Cairu – juntamente com as povoações de Ilhéus, Camamu e Boipeba – formava a capitania de São Jorge dos Ilhéus, até primeira metade do século XVIII, período em que a Coroa Portuguesa definitivamente destituiu o regime de capitanias hereditárias no Brasil. Todavia, por quase dois séculos, as ilhas do arquipélago de Tinharé – denominadas como vilas de baixo – foram responsáveis pela produção de víveres, a exemplo da farinha de mandioca que abastecia a cidade da Bahia, então capital da colônia e outras cidades do Recôncavo. As vilas de baixo eram tão prósperas e importantes para o desenvolvimento da colônia que mereceram especial atenção dos estrategistas militares da época: preocuparam-se que ataques de invasores europeus, como holandeses e franceses, pusessem em perigo a produção que alimentava a capital. Por conta disso, o Forte do Morro de São Paulo, monumental para o século XVII, foi ali edificado. Além do Forte, outras marcas históricas podem ser vistas tanto em Morro de São Paulo como nas demais localidades do município. São suntuosos casarões que sombreiam as estreitas ruas de Cairu: o antigo poderio econômico está nas platibandas e camafeus que emolduram telhados, janelas e portas de velhos sobrados. Pela vasta quantidade de igrejas católicas, com destaque para o Convento Franciscano de Santo Antônio, em Cairu, cuja construção se inicia em meados do século XVII, reside soberana a memória da religiosidade colonial. Assim, a memória histórica que uma visita ao município pode inspirar vai para além do conjunto arquitetônico: reside na fibra, na força e na fé do seu povo. Em todas as comunidades pulsam festejos católicos impregnados de elementos de religiões indígenas e africanas. Seja rezando, cantando ou tocando, a força da fé do povo de Cairu se estende aos mais recônditos povoados – de Gamboa a São Sebastião; de Morro de São Paulo a Boipeba. São folguedos, procissões marítimas, novenas, celebrações e louvores aos santos católicos, com destaque para São Francisco e São Benedito, e aos orixás afro-brasileiros, a exemplo de Iemanjá e “Mamãe Oxum”. Ao passo que destacamos festas e folguedos, também registramos momentos de trabalho, em especial atividades de pesca. Como não poderia ser diferente, condicionados pelos aspectos fisiográficos, os habitantes locais desenvolveram mecanismos de apropriação do espaço marinho visando a retirar dele a subsistência. Assim, além das atividades agrícolas que garantiram a importância das vilas de Cairu e Boipeba no período colonial, a pesca e a extração de crustáceos, mariscos e moluscos se constituíram como atividades basilares até a década de sessenta, período em que o movimento turístico se torna predominante. Nos dias atuais, mesmo a cadeia do turismo garantindo empregabilidade para habitantes do arquipélago e moradores adventícios originários de algumas partes do mundo, sobretudo nos distritos de Morro de São Paulo e Boipeba, as práticas de pesca ainda se fazem fun-
damentais para a região. Guaraiubas, vermelhos, dentões, robalos, carapebas, peixes e mariscos das mais variadas espécies, geram o sustento de muitos moradores e, regados a leite de coco com azeite de dendê, deliciam turistas e visitantes. As condições de navegabilidade foram determinantes para os processos econômicos e culturais que marcam a história de Tinharé. Através dos canais marítimos que circundam as ilhas, é escoada a produção agrícola e marinha e garantida a entrada de mercadorias que chegam de outras cidades. O mar, ao invés de limite, estabelece-se como espaço de troca e alarga as fronteiras das ilhas. Assim, desde os primevos habitantes, foram estabelecidas rotas de confluências marítimas. As marcas de tais processos saltam aos olhos dos visitantes, quer sejam nas atividades de trabalho – entre as quais se encontram a produção de embarcações de diversos portes e materiais, como canoas e saveiros de madeira, lanchas e barcos de fibra, dentre outros – quer seja nos serviços de saúde e educação. Se de um lado estão margeadas pelo oceano e pelos estuários, por outro as ilhas são circundadas por variados ecossistemas: mata atlântica, restingas, campos litorâneos e matas ciliares em geral. A complexidade destes ecossistemas e os condicionantes de solo restringem as atividades agrícolas. A agricultura local é de base familiar: destacam-se mandioca e frutas. No que tange à produção de insumos agrícolas, o foco do município centra-se nas três palmeiras que caracterizam a vegetação da Costa do dendê: piaçava, coco e o próprio dendê. As palmeiras, originárias do continente africano, foram introduzidas pelo colonizador e encontraram condições tão propícias na região que se tornaram vegetação predominante, respondendo pela renda de centenas de famílias. A produção do azeite de dendê em Cairu é artesanal e ocorre apenas em algumas fazendas. A parte mais significativa do dendê colhido no arquipélago é comercializada para fábricas de azeite nos municípios circunvizinhos. Os vastos coqueirais garantem alta produtividade em áreas costeiras, os frutos podem ser vendidos verdes, para consumo de água ou secos, para a extração do leite de coco. Além destes insumos, diretamente relacionados com a culinária da Bahia, no arquipélago, é possível destacar ainda a produção de piaçava que, vendida por arroba, serve para a confecção de vassouras, coberturas de casas e quiosques. Os aspectos culturais e históricos colocam Cairu em lugar de destaque para o turismo cultural, mas a maioria dos visitantes busca, nas magníficas praias de Tinharé, momentos de lazer e descanso. O encanto das paisagens inebria os olhos e convida ao distanciamento dos labores da vida urbana: areias alvas, coqueiros em festas, múltiplas tonalidades de céus e mares, festividades nas cores de piscinas naturais, tudo conduz para tornar o município-arquipélago um dos recantos mais afáveis e convidativos do litoral brasileiro. Trabalho, festas, praias, bichos e construções estão aqui registrados, revelando um rico patrimônio brasileiro que singulariza o arquipélago de Tinharé. Foram muitos os caminhos – mar, terra e ar – vários os ângulos e as possibilidades para a composição do projeto Encantos de Tinharé. Deste modo, as imagens aqui apresentadas mostram cores, saberes, belezas e movimentos impregnados na espontaneidade e no entusiasmo dos moradores de Cairu, Boipeba, Garapuá, Cova da Onça, Galeão, Torrinhas, Tapuias, Canavieiras, Trem, Barcala, Morro de São Paulo, Gamboa, Alves e Batateira, bem como na graça da paisagem de cada lugar. O livro que lhes chega às mãos, concretiza-se, principalmente, pelo empenho e colaboração das gentes retratadas e de outras muitas que se mantiveram nos arredores.
Praia do Encanto - Quarta Praia - Morro de S達o Paulo / Encanto Beach - Fourth Beach - Morro de S達o Paulo
Morro de S達o Paulo
Por iniciativa de Diogo Luís de Oliveira, a partir de 1628, erigiu-se a Forte do Morro de São Paulo, como aporte militar de resguardo da capital e segurança das vilas produtoras de alimentos no sul do estado. O projeto inicial de um complexo com seis fortificações ficou parcialmente edificado um século depois, em 1730, sob o comando do Visconde de Sabugosa.
By initiative of Diogo Luis de Oliveira, from 1628, it was erected the Forte do Morro de São Paulo as military guard for protection of the capital and security of food-producing villages in the state’s south. The initial design of a complex with six fortifications was partially built a century later, in 1730, under the command of Visconde de Sabugosa.
Piscinas naturais - Primeira Praia - Morro de S達o Paulo / Natural pools - First Beach - Morro de S達o Paulo
Piscinas naturais - Primeira Praia - Morro de S達o Paulo / Natural pools - First Beach - Morro de S達o Paulo
Iemanjá é o orixá feminino das águas cultuado pelo povo Egbá, de origem iorubana. Para as religiões afro-brasileiras é a divindade que habita os mares para quem, anualmente, são realizadas oferendas. Na região, o presente de Iemanjá mais antigo ocorre na ilha de Boipeba, de onde barcos enfeitados partem levando adeptos para perfumarem as águas em saudação a vaidosa rainha do mar.
Iemanjá is the female orixá (deity) of the waters worshiped by the Egbá’s people, from iorubana origin. For African-Brazilian religions she is the deity that inhabits the seas and for whom, each year, are made offerings. In the region, the oldest Iemanjá’s offerings occur in the Boipeba island, where decorated boats sail taking adepts to perfume the waters in honor of the queen of the sea.
Entrega do presente de Iemanjá - Boipeba / Offering delivery to Iemanjá - Boipeba
Manguezal do Panã - Garapuá / Paña’s mangrove - Garapuá
ENCANTOS DE
TINHARÉ REALIZAÇÃO
INVENTOART CONSULTORIA E PROJETOS FOTOGRAFIAS
Rui Rezende PESQUISA E TEXTO
GAL MEIRELLES PROJETO E CONSULTORIA CULTURAL
JÚLIO MARQUES COORDENAÇÃO EDITORIAL, PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO E CAPA
P55 COMUNICAÇÃO / ANDRÉ PORTUGAL E MARCELO PORTUGAL TRATAMENTO DE IMAGENS
MARCOS FERRAZ PRODUÇÃO E CURADORIA
IANE REZENDE TRADUÇÃO
OPPORTUNITY TRANSLATIONS PILOTO HELICÓPTERO
eduardo DOS SANTOS FONSECA PILOTO AVIÃO
RINAILE SILVEIRA MARINHEIROS
UBIRACI VIERA (BIRA), PEDRO SANCHES E JUVÊNCIO JÚNIOR IMPRESSÃO E ACABAMENTO
IPSIS GRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
R358 Rezende, Rui Encantos de Tinharé./ Rui Rezende. Texto de Gal Meirelles. – Salvador : P55 Edições, 2011. 144p. : il. ISBN: 978-85-89655-72-9 1.Fotografia – Bahia. 2.Tinharé – Fotografias. 3. Meirelles, Gal – Texto. I.Título. CDD 779.8142
As fotografias presentes nesta publicação não sofreram nenhuma manipulação digital, apenas correções de cor, densidade e contraste indispensáveis para fotografias digitais. © Copyright, Rui Rezende, 2011. Direitos desta edição reservados Nenhuma parte pode ser duplicada ou reproduzida sem a expressa autorização. www.ruirezende.com.br / ruirezende@ruirezende.com.br Este livro foi produzido e impresso em outubro de 2011.