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Palavra do Editor

EDIÇÃO 02 | ANO 01 | DEZEMBRO 2013

01 Palavra do Editor

A Revista Arca chega à segunda edição e,

ainda que não tenha sido de fácil elaboração por seu caráter literário, e porque dependemos da disponibilidade dos acadêmicos no envio dos textos, conseguimos concluí-la no prazo previsto, seguindo a ideia original de uma revista cem por cento cultural e totalmente acadêmica.

Para esta edição, a Arca traz um maior

número de textos nas páginas “Arcadianas”, ofe-

02 Bastidores 04 Letras em retrato 11 Por onde andei... 12 Crítica Literária 14 São João à Vista

rece ao leitor importante resgate da história em entrevista com a autora do Hino de São João da Boa Vista, professora Lucila Martarello Astolpho e em “LuzGrafia” os poemas do escritor Mário de Andrade e do poetinha Vinicius de Moraes, com lindas imagens.

“São João à Vista” e “Academia em Revis-

ta”, assim como na primeira edição, oportunizam ao sanjoanense conhecerem um pouco mais de sua cidade e a este Sodalício.

Espera-se que esta segunda edição chegue

ao maior número possível de pessoas e também nas escolas da cidade, como colaboração ao trabalho do professor.

18 Academia em Revista 21 Luz Grafia 22 Arcadianas 47 Luz Grafia 48 Aqui Aconteço... 62 Sopa de Letras 64 Afiando a Língua 66 Livros ARCA | 3

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Bastidores

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As estações do ano, quando bem defini-

das, dão o tom para que a natureza se apresente com galhardia.

Vivenciamos dias claros, ensolarados, com

poucas nuvens e muitas flores enfeitando a cidade e os nossos olhos. Convivemos com a chegada tardia das noites e com crepúsculos maravilhosos, o que nos motivou ofertar a você, leitor, essa beleza estampada na capa.

E, é em meio a este inspirador cenário

que vamos dando forma e fazendo a Revista Arca ganhar páginas, sob os cuidados daqueles que a tornam realidade: escritores desta “Casa de Letras”, na intenção de que, a cada edição, a revista se apresente como referência de cultura na cidade.

Esta segunda edição chega com o mesmo

e fiel propósito da primeira: enaltecer a língua pátria e a literatura nacional através de textos dos Acadêmicos.

Deixo aqui registrado o convite para que o

leitor continue a acompanhar os trabalhos da Academia de Letras de São João da Boa Vista.

Lucelena Maia

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Letras em Retrato Lucila Martarello Astolpho, sanjaonense, 82 anos, autora da letra do hino de São João da Boa Vista, logo no início de nossa conversa, diz: “É tão gostoso ter lembranças. Mas, quando jovem, eu dizia que não queria envelhecer! Nunca quis! De que adianta dizer isso agora!” Residindo há 10 anos no bairro Fonte Platina, na cidade de Águas da Prata, vizinha de São João, Lucila presenteou o bairro com um poema, enaltecendo a beleza que lhe encantou os olhos quando se mudou para lá. “Pedaço de chão sagrado que verte água de mina Lembrando metal precioso tem o nome de Platina A Serra da Mantiqueira num aconchego materno Envolve todo o pedaço num abraço quase eterno...” E foi entre verdes vales e montanhas e vizinhos queridos, como ela descreve, que nós a entrevistamos, para que Lucila Martarello Astolpho nos falasse um pouco mais da mulher de alma jovem e inquieta que enxergamos nela, até hoje. É a filha mais jovem do casal de Italianos. O pai era de Rovigo, a mãe de Pádua, ambas províncias da região de Vêneto. Lá se conheceram, ele moço, ela menina. Por coincidência aqui no Brasil se reencontraram. Casaram-se e tiveram 10 filhos, sendo Lucila a mais nova. E teriam mais irmãos, se o pai não tivesse morrido tão cedo, ela afirma. Tinha apenas dois anos quando ele morreu. O pai não queria ver os filhos lidando com a terra, que-

ria-os estudados e todos eles realizaram a vontade do patriarca. Ainda pequena, sentia falta da presença paterna porque via os colegas sendo buscados na escola pelo pai. O irmão mais velho supriu-lhe essa carência, dizendo que ela tinha sim, um pai: ele. Na inocência de menina, sentiu-se feliz porque passara a ter um pai. Estudou no Colégio Santo André, na 2ª turma. Era semi-interna. Fez escola normal e so-

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nhava cursar Direito, mas a mãe não deixou que saísse de São João. Nem com a interferência do Sr. Santos Lanzac, pai de Iara, sua amiga, sugerindo que as duas fossem para o Rio de Janeiro juntas, uma para estudar Medicina e a outra Direito. Definitivamente, a mãe não deixou, afirmando que ela seria professora. Dessa forma, sem chance de realizar o sonho naquele momento, Lucila estudou tudo o que pôde, em São João. Começou a namorar “Nenê”, como ela carinhosamente chama pelo marido Ulisses. Não faz questão de esconder que ele é sete anos mais moço que ela. Casaram-se. E lá se vão 53 anos. Tiveram os filhos Fernanda, Silvia, Flávia e Kiko. Sente-se acanhada de dizer que nunca se desentenderam. Ele é ainda um enamorado, de uma delicadeza com ela, inimaginável, afirma com brilho nos olhos. Continuou os estudos, depois de casada. Foi para Guaxupé cursar Pedagogia e depois foi para Piracicaba, fazer mestrado. Mas o sonho pelo curso de Direito não havia acabado e, na primeira oportunidade deu início a ele, em São João. Estava no 3º ano de Direito quando passou a ser Diretora da Faculdade, e só conseguia assistir às aulas nos intervalos das aulas que dava. A escola cresceu, as aulas aumentaram. Tinha muito serviço como diretora, o que lhe dificultava seguir com o curso de Direito. Desistiu, mas desta vez, porque ela decidira que seria assim. Aposentou-se como professora estadual, com 25 anos de trabalho. Ficou na faculdade UNIFEOB como professora e Diretora, num total de 34 anos. Quando lhe pergunto sobre seu envolvimento com a arte e com a Academia de Letras, ela diz que deixou de ser membro efetivo por falta de frequência, depois que se mudou para a Fonte Platina. “Tenho o diploma de fundadora!”, afirma

com satisfação. Foi uma das fundadoras junto com o Sr. Octávio Pereira Leite. “Ele era muito amigo da família”, faz questão de mencionar, “e não tinha carro”, por isso o levava para todos os lugares onde ele precisava ir. Trabalhava, incansavelmente, ao lado dele. Era ela quem o ajudava na organização das festas. Oualifica-o como uma pessoa muito agradável. Pergunto como era a Academia no início, afinal este ano a Instituição completa 42 anos. Lucila diz que, antes de a Academia ser fundada, existia a Sociedade Cultural de Debates, que ficava em cima, no Theatro, onde hoje é o Cine Beloca. Reuniam-se o Sr. Octávio Pereira Leite, o Sr. Roberto Almeida Junior e o Dr. Oliveira Neto para declamações, canto e música, sempre com um orador. Com o passar do tempo o Sr. Octávio Pereira Leite com o Sr. Octávio Bastos e o Sr. Milton Segurado quiseram constituir a “Casa de Letras” e trabalharam bastante para que isso fosse possível. No ano de 1971, fundaram a Academia de Letras de São João da Boa Vista. Entre os fundadores está Lucila Martarello Astolpho, que entrou para a Academia quando criaram as últimas cinco cadeiras, que completariam as 45. Era o ano de 1976. A sua cadeira era a de nº 44. Faz 10 anos que passou para a categoria Membro Correspondente, mas quando pode, ainda participa dos eventos. De qualquer forma, pelos jornais e pela televisão ela se atualiza dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pela Arcádia. Ultimamente, dá aula no curso de noivos em São João. Mas é só, apesar de gostar muito de gente e se sentir feliz em meio às pessoas. Não se pode falar de arte e cultura em São João, sem citar Lucila Martarello Astolpho e sua grande amiga, Dona Beloca, Gabriela de Oliveira Costa. Lucila diz que tinha 8 anos, quando o irARCA | 7

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Ernani de Almeida Paiva, Ademaro Prézia e esposa, Licínio Vita da Silva, Lucila Martarello Astolpho, Francisco Cozzupoli e esposa, Octávio Pereira Lleite, Najib, Maria Tereza do Val Simoni, Joaquim José de Oliveira Neto, José Simoni, Nege Além, Munir Moukarzel. (1987 - Unifeob)

mão morreu. Beloca, já uma senhora, não queria que ela visse o funeral, por isso a levou para sua casa. Lá deu brinquedos, passou cineminha e claro que Lucila adorou ficar ali. Assim começou a amizade delas. Beloca era política. Lucila gostava de declamar. Quando chegava caravana política era chamada pela amiga Beloca para fazer discurso e declamar. Quase todos os dias, a dona do “Fazendão” - como era conhecida Beloca - ia à casa de Lucila, mas nunca descia do carro. As duas conversavam ali, no carro dela. Sempre com invenções, Beloca idealizava grandes festas. Às vezes, trazia cantores de São Paulo e outros artistas, deixando Lucila in-

cumbida da realização. Com isso, possibilitou que ela aprendesse bailado espanhol com os Mexicanitos. Eles a ensinaram a tocar castanhola e a dançar. Rosita Del Campo, também veio à cidade para aperfeiçoar o bailado. Até hoje Lucila gosta de tocar castanhola. Naquela época, Beloca já idosa, tocava piano e Lucila, ainda moça, tocava castanhola. Não sabe identificar uma razão especial que tenha colaborado para que ficassem tão amigas, mas arrisca dizer que sempre gostou de conversar com pessoas mais experientes. Talvez isso explique o porquê não tinha a mesma amizade com “Veva” – quase da mesma idade que ela - como tinha com a

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Lour


eite,

Lourdes de Jesus, Francisco Maríngolo, Abelardo Moreira da Silva, Adélia Adib

mãe dela, Beloca, pessoa muito alegre e caridosa. Aquela que mandava e desmandava na cidade. Ri depois de afirmar o poder da amiga. “Foram tantas as festas que fizemos!” Lucila suspira. “Jamais vou me esquecer do Sonho de Fadas, acontecido em 23 de junho de 1952. Montou-se no palco um grande livro de cujas páginas saiam personagens das histórias infantis: O Gato de Botas, o Pequeno Polegar, Pinóquio; a Bela Adormecida, entre outros. Beloca mandou fazer caixas de bonecas. As bonecas saiam de dentro delas. Fabinho Noronha fez as músicas e as letras também”. Depois que se casou, Lucila foi deixando aos poucos de fazer os eventos, até porque a ida-

de também já pesava para Beloca e o seu ritmo não era o mesmo. Quando a amiga morreu, Lucila conta que não teve coragem de ir ao velório. Mas não quer falar da morte da amiga, e sim do quanto fizeram juntas enquanto ela vivia. Lucila lecionava na Vila Brasil e, naquele dia, viajaria para a casa da irmã, no Rio, quando o Sr. Octávio Pereira Leite lhe pediu para escrever uma poesia para a cidade ou uma crônica, como se fosse um hino. Como não teria tempo para atender à solicitação dele em casa, escreveu ali mesmo, dentro da classe. Dona Beloca foi à casa dela, como sempre fazia e, então, Lucila pediu à amiga que entregasse aquele papel que tinha em mãos para o Sr. Octávio. Ao atender seu pedido, Beloca ouviu do Sr. Octávio que, além do texto, precisava da música. Mais uma vez, a amiga colaborou indo até Fabinho Noronha e conseguindo dele a música, com certa tranquilidade, porque Lucila Martarello e Fabinho Noronha já tinham sido parceiros no Hino da Escola Joaquim José. Beloca colocou o material em um saquinho de leite e o entregou para o Sr. Octávio que, obviamente, retirou texto e música dali e colocouos em um outro envelope, lacrando-o e o fazendo chegar ao seu destino. Quando Lucila voltou de viagem a sobrinha Cristina informou-lhe que ela havia ganhado o concurso do Hino da Cidade. O que lhe foi de muita, muita surpresa e felicidade! Mas, o hino lhe trouxe inimizade de alguns senhores que igualmente participaram do concurso. Ela sofreu por isso, por conhecê-los e respeitálos, pelas pessoas distintas que eram. Apesar dos dissabores de ser hostilizada à época, Lucila sentiu-se feliz e fica até hoje, quando ouve os atiradores cantando o hino criado por ela e quando, em alguma palestra, a homenageiam tocando o Hino da Cidade. ARCA | 9

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Ela acompanhou de perto, também, a história da bandeira de São João e até fez poesia. Disse-nos ela, que houve um concurso em 1968 para se fazer a bandeira. Um professor do Instituto de Educação ganhou esse concurso, o nome dele era Alberto Carlos Araújo, que a criou com campo verde e uma faixa branca. Passado muito tempo, dona Beloca – vereadora nessa época e achando aquela bandeira feia - resolveu fazer outra com base no Brasão. Foi para São Paulo e a trouxe pronta. Ficou então denominada a Bandeira da Beloca, com coroa de cinco pontas, representando as fábricas, e o carneiro, Cordeiro do senhor. Poesia à Bandeira Para falar da bandeira em forma de saudação Nas asas da poesia busquei minha inspiração Bandeira de minha terra, cheia de graça e beleza Olhando assim, tu inteira, dentro da natureza

Lucila gosta de escrever poesia e sempre as fez para as filhas quando precisava chamarlhes a atenção. Ganhou o 4º lugar em Mogi Guaçu ao escrever uma poesia para jovens. Quando lecionou para professores no curso de educação profissional, resolveu escrever “Prece do orientador”. Fez o Hino da E.E. Cel Joaquim José e o Hino da UNIFEOB. Até mesmo o Dr. Maríngolo, pessoa querida da Academia de Letras, foi contemplado com uma poesia. Lucila escreveu, também, para Francisco Paschoal, professor de português, pessoa simples e muito inteligente. Escreveu ainda muitas poesias dentre elas para o Conjunto Renascer, Grupo da 3ª idade. Temas como: o tempo, a mãe e até seu cachorro Pami, que morreu com 21 anos, estão presentes em suas poesias. Escreveu sobre as mãos, para suas mãos. Ela as olha e não se conforma de vê-las velhas. Não se conforma de ter envelhecido.

No seu campo todo verde cortado por faixa branca É o rio Jaguari que passa beijando esta terra santa O azul que simboliza justiça, elogio, formosura Está bem localizado querendo dizer doçura Esta coroa em mural com cinco pontas erguidas Representa as fábricas desta cidade querida No alto o sol heráldico lembra o crepúsculo sem par Desta terra sanjoanense que não cansamos de amar No centro, cordeiro pascal simbolizando São João Padroeiro desta terra todo envolto em oração A Serra da Mantiqueira que temos a perder de vista Justifica sua alcunha São João da Boa Vista Quando a vejo desfraldada nas canoplas de um recinto Fico muito emocionada tão grande o amor que sinto Simples pedaço de pano, representando São João Parece que foi tecida com fibras do coração.

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“Esqueço às vezes que envelheceram Que o tempo vem entrando de mansinho Quando as surpreendo em gestos languidos Ou quando acariciam o rosto do netinho”

Já encheu cadernos e cadernos de poemas. No entanto, não lançou nenhuma obra. Mas sabe que deixará para São João, o Hino da Cidade e o seu bom nome. Ela afirma que filosofia é para se estudar sempre, por isso não para de ler. Ainda que não esteja esperando muito mais da vida, principalmente quando lembra dos amigos de sua idade. Os amigos já morreram. Olha o álbum de fotos e, um a um, aponta-os. Aos 82 anos, ao acordar a cada nova manhã, balbucia: Senhor, mais um dia...

Lucelena Maia Cadeira 13 Patrono Humberto de Campos

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Por onde andei... Chattanooga,

uma cidade em minha vida

Chattanooga é cidade de médio porte, localizada a sudeste dos EUA, no estado do Tennessee e cortada pelo rio que leva este nome. Região conservadora e muito religiosa. Constatei grande preocupação com a preservação histórica e com o espaço histórico, assim como na preservação dos costumes, das tradições, da importância de conhecerem suas origens, suas raízes, fossem elas nacionais ou locais, além de grande carinho pela cidadania e pelo ambiente natural. Local onde se travaram as últimas e definitivas batalhas da Guerra da Secessão. Dessa maneira, a história viva está lá, numa região que é um verdadeiro museu a céu aberto. Em cada canto da cidade e entorno encontram-se dezenas, centenas, talvez milhares de obeliscos, placas, monumentos marcando, lembrando, explicando, narrando através da escrita ou de áudios os fatos ali acontecidos, quais os soldados, os comandantes, daquelas batalhas, quais as derrotas e vitórias dessa guerra. Não há como esquecer! Não há como não saber!

Foto: José Marcondes

Maria Célia de Campos Marcondes Cadeira 11 Patrono Machado de Assis

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O poeta Mário de Andrade Nesta ocasião em que se comemoram os 120 anos de nascimento de Mário de Andrade, vale lembrar a sua produção poética, às vezes esquecida diante da grandiosidade de Macunaíma, da perfeição de seus contos, da amplitude de sua obra, de sua participação na Semana de Arte Moderna, ou da importância de sua atuação cultural. Além de escritor, crítico literário, crítico de arte, musicólogo, pesquisador e folclorista, ele foi um dos criadores do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e secretário de Cultura do município de São Paulo. Nesse cargo, não só implantou a Biblioteca Municipal, que hoje traz seu nome, mas também um novo modelo de acesso à educação e à cultura: biblioteca volante a percorrer os bairros da cidade, merenda nas escolas, parques infantis para os filhos das operárias. Tudo isso faz de Mário de Andrade um dos mais completos intelectuais brasileiros do século XX. Engana-se o leitor que o veja como poeta irreverente ou superficial, ofuscado pelo aspecto modernista de seus primeiros poemas. Tomemos como exemplo o poema “Inspiração”, que abre seu livro Pauliceia desvairada, de 1922:

São Paulo! Comoção da minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América!

São Paulo! Comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... [...]

Garoa do meu São Paulo, – Timbre triste de martírios – Um negro vem vindo, é branco! Só bem perto fica negro,

Por trás do feitio vanguardista do poema – sem rima, com métrica desigual e linguagem fragmentária –, seus versos descrevem São Paulo como uma cidade de contrastes: cinza X ouro, luz X bruma, forno X inverno, inverno X morno. Todo esse contraste, construído com elementos cromáticos e térmicos, gira em torno da figura do arlequim, eixo central da primeira estrofe. Por fim, o último verso deixa de lado a descrição física da cidade, para fazer uma sutil reflexão acerca da cultura brasileira, dividida entre o modelo europeu e a tradição local; eis o Brasil em busca de sua identidade cultural, exatos cem anos após a independência política. Vinte e três anos mais tarde, o poeta volta ao tema de São Paulo como cidade de contrastes. Agora, porém, substitui o arlequim pela corriqueira imagem de “cidade da garoa”. Substitui, também, a linguagem modernista pelo tradicional verso de sete sílabas, pela rica sonoridade dos segundos versos e pela pontuação convencional:

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Crítica Literária Passa e torna a ficar branco. Meu São Paulo da garoa, – Londres das neblinas finas – Um pobre vem vindo, é rico! Só bem perto fica pobre, Passa e torna a ficar rico. A descrição física da cidade, com neblina e caminhantes, ganha um inesperado contorno social, na medida em que estes são descritos a partir de uma visão embaçada pela neblina. Esta se presta a diluir as diferenças raciais e sociais, fazendo com que o negro fique branco, e o pobre, rico. Uma vez apagados os contrastes, o poeta, no verso final, terminará por clamar Garoa, sai dos meus olhos, assumindo a mesma relação crítica com o espaço que mantinha no poema anterior. Assim, a partir de uma imagem fundante (seja um arlequim, seja a garoa), Mário de Andrade propõe ao leitor uma reflexão acerca da realidade nacional, construída com total domínio dos recursos poéticos.

Beatriz Castilho Pinto Cadeira 31 Patrono Paulo Setúbal

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São João à Vista A Rua do Giz

Multicromo! Quando eu o usava em minhas aulas, na lousa, em meus mapas e esquemas, obtinha uma cor realmente forte e verdadeira! Os oceanos, rios e lagos ficavam azuis mesmo e as mon-

História do Ensino

tanhas de um marrom fortíssimo. As lavas vulcânicas, eu as exagerava, usando um giz vermelho, que encantava os alunos das quintas séries. A fábrica de giz ficava aqui em baixo, junto

Até hoje é difícil pegar em um giz e não me

lembrar de dois grandes professores, meus colegas do Instituto de Educação: Simão Cara e Hélio Ornellas Borges. Poderiam perguntar: - mas, por quê? Os outros professores não usavam o giz? Para quem frequentou o Instituto de Educação, lecionando ao lado destes saudosos professores, era sobejamente conhecida a sociedade, que ambos possuíam na fábrica de Giz Multicromo. Nada melhor do que professores fabricando, com perfeição, o objeto principal de uso no cotidiano da sala de aula – o giz! Pesquisavam, inventavam e fabricavam um material de primeira qualidade para as escolas! Um giz antialérgico, com uma fina camada de plástico, que contentava a todos os que usavam...

O giz colorido fazia jus ao nome da marca:

ao rio e a rua era conhecida como a “ rua do giz,” embora seu nome fosse rua da Liberdade. Eu me lembro de que muitas crianças vinham junto ao muro do quintal da fábrica à procura de tocos de giz, que escapavam dos tabuleiros de secagem expostos ao sol. E sempre os encontravam!

Prof. Simão e o Prof. Hélio estavam, fre-

quentemente, à frente da produção que, pela excelente qualidade, ganhou mercado exigente e amplo! Muitas vezes, em reuniões ou cursos para professores, que eu frequentava, fora de São João da Boa Vista, logo os companheiros iam dizendo:

-“ Eu uso um giz que é fabricado em sua

cidade!” Quando aqui cheguei, os dois professores e sócios já lecionavam no Instituto e foram de grande valia para o novato professor de geografia. O professor Simão Cara era professor efetivo de Trabalhos Manuais, porém, lecionou também

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desenho e matemática e como exigia de seus alu-

aos colegas, nos intervalos de aulas, junto ao bal-

nos!...

cão do ponto onde ficava seu Antônio Ganino. Lembro-me da famosa escadinha de abrir,

Este sempre queria ouvir mais e dizia: - “E

cuja madeira deveria ser serrada, lixada e encai-

daí, seu Simão”...? Dona Elza interrompia nossa

xada degrau por degrau pelos próprios alunos na

roda de risadas, dizendo: “ –Professores, os alu-

sala-oficina do Instituto. Só que, depois de pronta,

nos já entraram”!

os pequenos “ marceneiros” não tinham coragem

Simão Cara amava São João da Boa Vista,

de subir nem no primeiro degrau... Os mais esper-

embora fosse de Ouro Fino. Era comum encontrá-

tos davam uma passadinha ali, na esquina da rua

lo ali, na porta da antiga Casa Pernambucana, na

abaixo do Instituto e, na oficina do Gião, resolviam

esquina da Praça da Catedral, com seus amigos,

o acabamento da tal escadinha com a “mão do

na entrada das noites quentes de São João da Boa

gato”!

Vista, sempre com um bom “ papo”! O Prof. Simão sabia desta prática, porém,

Aposentado e pressionado pela família,

dentro de sua larga experiência com alunos, acei-

vendeu sua casa construída na rua Floriano Pei-

tava dizendo: - “ Que bem acabada, nota 8,0 pelo

xoto e foi morar em sua cidade de origem. Como

esforço em transportar o trabalho de um lado para

pretexto para estar ao menos uma vez por mês

outro!” Para outras não tão bonitas... nota 10,0!

nesta cidade, que ele tanto amou, não transferiu

Os alunos também entendiam...

seu pagamento da agência bancária daqui, vinha

O Homerinho Mollo, meu brilhante aluno da

buscá-lo enquanto pôde.

década de 60, fez uma escadinha com corrente la-

Faleceu há poucos anos e marcou o ensino

teral e tudo. Quando aluguei a antiga casa de sua

com sua longa passagem por São João da Boa Vis-

família e lá fui morar, recém-casado, encontrei, no

ta. Será que marcou mesmo?

quartinho dos fundos e esquecida, a tal escadinha, porém não tive coragem de usá-la...!

Será que existe alguma rua na cidade com seu nome?

Prof. Simão Cara era uma pessoa alegre, amiga, gostava de contar estórias de suas caçadas e pescarias, que fazia junto com o Dr. Paulo Sandeville. Exagerava nos lances e gestos ao narrá-las

João Baptista Scannapieco Cadeira 17 Patrono Francisco Paschoal

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Música, divina música!

Mas não é qualquer música. Tem que

emocionar! E o que me deixa imensamente feliz é perceber uma São João cada vez mais musical. A música popular tem seu lugar garantido com tantos cantores e instrumentistas. No começo do século XX, muitas eram as fazendas que tinham sua própria corporação musical. Eram tantas, que havia até premiação para a melhor banda! Bons tempos!!! Hoje, sinto um prazer enorme quando chego à tarde no Theatro, mais exatamente no subsolo, onde fica a Amite e encontro inúmeros músicos ensaiando... Sons maravilhosos de violinos, viola, violoncelo e contra-baixo... alunos da Camerata “1º Movimento”.

Às quartas-feiras, quando vou à antiga

Estação de Trem, onde fica também a Academia de Letras, na chegada ouço sons maravilhosos de mais violinos que ensaiam no hall de entrada... Pode haver coisa mais linda? Caminho um pouco e ouço os corais ensaiando: Elohim, Boca Livre e o infanto juvenil Vozes de São João.... Depois o som da orquestra Jazz Sinfônica que utiliza todo o es-

paço da antiga estação de trem. Bom demais! Riqueza inigualável, pois esses cursos são gratuitos, toda a população tem livre acesso. Basta querer aprender.

Pela manhã passo pelo CLAC - “Centro

Livre de Arte e Cultura” - e mais música... piano, bateria, sopro, canto etc... É a parceria CLAC | Prefeitura, numa harmonia que deu certo.

Nosso Theatro Municipal, monumento his-

tórico e patrimônio público, já é “quase” centenáARCA | 18

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do piano, a sanjoanense Guiomar Novaes também se apresentou. O Thetaro viveu seu esplendor até a década de 1940, quando começou sua fase decadente e transformou-se em cinema.

Na década de 1980, foi tombado pelo Con-

dephaat e restaurado, retomou à suas atividades culturais em 2002. Hoje, vive novamente seu apogeu. Temos espetáculos o ano todo e dentre eles, destaco a Semana Guiomar Novaes, já em sua 36ª edição e a Semana Assad, na 3ª edição, além de festivais de teatro e de dança.

Aos domingos, a Banda Dona Gabriela, fun-

dada por dona Beloca na década de 1940, apresenta-se na Praça Joaquim José e casais dançam tranquilamente ao som de sua música, enquanto crianças se divertem com seus balões coloridos.

Todas as quintas-feiras, no terminal rodovi-

ário urbano, um grupo com sanfona, violão e pandeiro, toca na plataforma durante a tarde e muitos rio. Em 2014 completará 100 anos, e passou por

passageiros aproveitam o tempo de espera para

vários momentos memoráveis, quando grandes

cantar e dançar.

companhias de teatro vieram até a cidade e tantos

outros grupos musicais se apresentaram...

São João da Boa Vista com sua riqueza e diversida-

de cultural!

Entre eles, na década de 1920, apresen-

Não há lugar melhor para se viver!!! Salve

tou-se a ópera Cavaleria Rusticana de Mascagni e depois na década de 1930, Villas Lobos trouxe sua música moderna e brasileira. E ainda tantos outros espetáculos maravilhosos vindos das grandes

Neusa Maria Soares de Menezes Cadeira 30 Patrono Euclydes da Cunha

cidades, por aqui se apresentaram. A grande dama ARCA | 19

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Academia em Revista Foi em um ano antes de 1985 que o saudoso Confrade Licínio Vita da Silva compareceu em minha Banca Advocatícia solicitando adminículo para uma petição de manifestação em um processo no qual a Arcádia era Ré, processo esse ajuizado por um preterido a ocupar uma das cadeiras eleito que havia sido, mas que não havia tomado posse na data determinada. Tratava-se de um caso “sui generis” na Academia. O Autor da ação visava a ser integrado mesmo não havendo comparecido ao ato solene de posse, motivando sua “actio” ao fato de haver sido obrigado a se ausentar da cidade por questões familiares. O Confrade Licínio, sabedor de que essas “questões familiares” haviam sido alvo de processo judicial de execução de pensão alimentícia sob pena de prisão administrativa e que eu me encontrava no patrocínio de indigitada demanda, buscou subsídios que possibilitassem a contestação do Sodalício à argumentação apresentada pelo autor da pendenga. Imbuído do senso de justiça, proporcionei informações não sigilosas ao solicitante, ao mes-

mo tempo em que redigi em rascunho (ainda em forma datilográfica) um arrazoado desmistificando a argumentação do então Autor da ação, esclarecendo ao juiz da causa o porquê da ausência na tomada de posse. A causa estava sendo patrocinada por um causídico da cidade de Piracicaba, outorgado mandado pelo então Presidente Octávio Pereira Leite, que desconhecia tal nuança e, lastreado em referido rascunho, contestou de forma magistral, levando a Academia à vitória da ação. Tempos depois de vencido o pleito, tive a subida honra de receber a visita do Presidente Pereira Leite, do sempre lembrado Palmyro Ferrante e o de saudosa memória, Licínio, convidando-me a formar fileiras no Colegiado de Letras. Surpreso e muito, sem ter o que dizer ante tão honroso convite, solicitei-lhes tempo para pensar, argumentando que não reunia competência para unir-me a tão famosos letrados. Em vão. Aos 20 de setembro de 1985 fui diplomado tendo como receptor o Confrade Francisco Maríngolo, que bondosamente, enalteceu qualidades das quais nunca havia me creditado. Seguiu-se de então que abracei o cometi-

Ant Maríngolo,

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Antônio de Pádua Barros, Ernani Paiva, Wildes Antônio Bruscato, Clineida A. Junqueira Jacomini, Oswaldo Silveira, Teófilo Ribeiro de Andrade Filho, Palmyro Ferranti, Francisco Maríngolo, Nege Além.

mento permeando razão e emoção, participando dos atos e ações de nossa alterosa Academia. Acreditem. Devo ter-me esmerado a tal ponto que fui guindado ao cargo máximo instigado por Palmyro, Licínio, José Edgar, Maríngolo, Reverendo Cordeiro, Munir Moukarzel, Nege Além, Padre Luizinho, havendo sido eleito Presidente desta Nobre Casa de Letras, quando Pereira Leite chegou-se a mim, já quase trôpego pelas agruras da vida, com uma solicitação: “Wildes, não deixe a Academia morrer.”. Coadjuvado por uma Diretoria eficiente, trabalhadora, disposta e arrojada, ajustamos o Estatuto trazendo-o para ser consentâneo à época, demos início aos estabelecidos certames de poesia, conto e crônica tão em evidência nos atuais dias, promovemos reuniões literomusicais, reavivamos a Página Literária junto ao periódico “O Município”, ativamos reuniões bissemanais da Diretoria, aos sábados, nas dependências de meu escritório, buscamos auxilio junto à edilidade para cópias reprográficas necessárias às atividades aca-

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dêmicas, modificamos a cobrança da participação financeira de mensal para anual, conduzimos à categoria de Membros Correspondentes aqueles que não participavam da vida acadêmica sem qualquer justificativa, conclamamos novos valores para ocuparem as cadeiras que assim vagaram, enfim, preocupamo-nos em não deixar a “Academia morrer” como pedido pelo Pereira Leite. Hoje, apesar de contra a vontade “ex vi” das vicissitudes que me rodeiam pouco poder colaborar nas atividades acadêmicas, sinto-me ufano em verificar que o trabalho desempenhado por aquela Diretoria proporcionou aos digníssimos sucessores uma senda alvissareira que tem sustentado e, muitíssimo bem, os desígnios da Academia de Letras de São João a Boa Vista.

Wildes Antônio Bruscato Cadeira 02 Patrono Ruy Barbosa

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LuzGrafia Coisa mais Linda

Coisa mais bonita é você, assim Justinho você, eu juro Eu não sei por que você Você é mais bonita que a flor Quem dera a primavera da flor Tivesse todo esse aroma de beleza Que é o amor Perfumando a natureza numa forma de mulher Porque tão linda assim Não existe a flor Nem mesmo a cor não existe E o amor Nem mesmo o amor existe E eu fico um pouco triste Um pouco sem saber Se é tão lindo o amor Que eu tenho por você

Vinicius de Moraes Foto Silvia Ferrante

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Arcadianas A Arte de Escrever e dar Vida aos Pensamentos Escrever é uma arte, entretanto muitos estudantes saem das escolas secundárias completamente despreparados para o exercício dessa arte. Infelizmente, a forma com que é ensinada a gramática, de forma fria e imposta sendo uma ordem de que se não fizerem o certo tudo estará errado, o estudante aprendiz muitas vezes desanima, e passa a ver as regras como obstáculos intransponíveis. Ora, a grande regra, a regra das regras, é agradar. Daí a afirmação de Moliere – “Se o que agrada não está de acordo com as regras, então é porque as regras estão mal feitas.” Não que a gramática é inútil e que as regras são prejudiciais, mas, como afirma Paul Reboux – “há um mínimo de obrigações que convém em arte, observar.” Mas que o excesso de regrinhas induz o estudante ao desânimo, isso é verdade. Em todo mundo, há grandes escritores que desconhecem as profundezas da gramática. É a prática contínua que se aperfeiçoa a técnica de escrever. A arte é mais inspiração do que teoria, e se, para seu aprimoramento, se fizer mister obedecer a certas regras, que essas regras sejam, então simples e claras. É como se diz – “Gramática pouca, exercícios muitos.”

Então as escolas deveriam investir mais na escrita, tudo deveria ser escrito, de punho. Conhecer o pensamento do aluno, com trabalhos, poemas, poesias, pesquisas sobre história, artes em geral. Conhecer a história de cada pensador, de cada herói, de cada campeão, de que todas as grandes conquistas e vitórias foram à custa de muita luta, muito estudo, muito exercício, muita dedicação, muita disciplina. Através da arte de escrever, grandes manifestações ocorreram na história da humanidade que, através da escrita, em todas suas formas possíveis, puderam produzir transformações e alcançar a liberdade de viver com dignidade, igualdade e fraternidade, educando almas, e dando oportunidade de uma vida como deve ser vivida, aos fracos e oprimidos pelo poder que sempre existiu. Um dos grandes exemplos, no Brasil, foi o grande escritor, poeta, liberal e pensador Antonio Frederico de Castro Alves, que ficou conhecido como o poeta dos escravos, pois lutou grandemente pela abolição da escravidão. Além disso, era um grande defensor do sistema republicano de governo, onde o povo elege seu presidente através do voto direto secreto. Castro Alves cursou direito na Faculdade de Recife e teve grande participação na vida política da Faculdade, nas sociedades estudantis, onde desde cedo teve reconhecido o seu talento e ganhou admiração de todos, pelos versos, poesias, as quais transmitiam de forma cristalina e linda, seus pensamentos e ideias, considerados mais tarde como os poemas mais lindos do Brasil. Assim, lutando sempre contra as desigualdades, ganhou fama, admiração e adeptos, en-

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trando de forma definitiva como um dos maiores gênios da literatura brasileira. Não é por acaso que o dia 14 de março (dia do nascimento de Castro Alves) é o dia nacional da poesia. Este dia é dedicado a ele, que encontrou na poesia a linguagem perfeita para manifestar seus sentimentos. Em sua poesia O POVO AO PODER, notamse a sua força e visão retratada por ele nos versos pesados gravados em 1864, como se pode observar nos trechos abaixo – .... A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor É o antro onde a liberdade Cria águias em seu calor! Senhor! ...pois quereis a praça? Desgraçada da populaça Só tem a rua de seu... Ninguém vos rouba os castelos Tendes palácios tão belos... Deixai a terra ao Anteu. Na tortura, na fogueira... Nas tocas da inquisição Chiava o fero na carne Porém gritava a aflição. Pois bem...nesta hora poluta Nós bebemos a cicuta Sufocados no estertor, Deixai-nos soltar um grito Que topando no infinito Talvez desperte o Senhor. (trecho) ...Irmãos da terra da América, Filhos do solo da cruz, Erguei as frontes altivas, Bebei torrentes de luz... Ai! Soberba populaça,

Rebentos da velha raça Dos nossos velhos Catões, Lançai um protesto, ó povo, Protesto que o mundo novo Manda aos tronos e às nações. Então, pode-se concluir que a escrita é uma das formas mais eficientes e fortes de manifestação, comunicação para atingir um objetivo, principalmente se o objetivo for comunitário. Através dos tempos, pode-se notar nos versos musicados, nas crônicas de bons jornais, nos livros de uma forma geral, a própria Bíblia, Novo Testamento, que uma alma ao escrever pode atingir milhões de outras almas e transformar o mundo sempre em melhor. Para concluir, gostaria de citar um pensamento da grande escritora Cora Coralina: “ Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido a vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”

João Batista Rozon Cadeira 05 Patrono Visconde de Taunay

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Um caso de

Anacoluto Anacoluto, anástrofe, hipérbato, sinédoque, metonímia, sinalefa são nomes que ficaram adormecidos no fundo de minha memória e fazem parte de uma época de estudos (terceira ou quarta série ginasial), sem muita importância pratica em minha vida. Quando foi, numa situação de rotina, que eu precisei de algum desses estranhos vocábulos para resolver qualquer problema? Lembro-me da figura tímida e simpática do nosso professor de português, Francisco Mariano Franco de Carvalho (nunca mais tive noticia dele), esforçando-se ao máximo para incutir em nossas mentes rebeldes aqueles ensinamentos teóricos e distantes de nossos interesses outros. Eu, particularmente, sempre gostava quando o professor nos pedia redações. Escrevia contos incríveis, crônicas improváveis, atrevendo-me até a “cometer” alguns sonetos. Mas a gramática me enchia de tédio! Que me interessava saber que não devia usar a ênclise com verbos no gerúndio preposicionado ou particípio passado? Que me adiantava o conhecimento das múltiplas funções do “que”? Que coisa mais chata! Por ser considerado pelo paciente mestre um aluno razoável na matéria, fui por ele convencido de que, para escrever bem, eu deveria estudar gramática. Então decorei regras e mais regras, muitas das quais – como já disse – tomaram mo-

radia cativa em algum recanto sombrio de meu cérebro. De vez em quando, algumas delas saltam do tal recanto e acabo aborrecendo alguém lá no meu trabalho, pois fico com a mania de comentar erros de gramática, nas correspondências redigidas por colegas e que eu tenho de assinar. Dia desses, por exemplo, caiu-me às mãos memorando em que o funcionário-redator (excelente conhecedor da seção de cobrança, mas nada preocupado com as questões da língua pátria) escreveu: “o sacado alega que os títulos acima foram prorrogados seus vencimentos...” Interrompi a leitura, intrigado com a estranha construção, mas em instantes aflorou-se à lembrança a explicação do Prof. Francisco: “anacoluto, do grego, na = não, mais acolouthon = acompanhado; não consequente, não coerente, figura de linguagem em que um termo de oração vem solto, sem relação sintática com os outros termos; interrupção ou mudança de construção já começada, por outra de nexo diferente”. -Não é possível! Finalmente, um anacoluto, um belo exemplo prático de anacoluto, bradei exultante. E saí mostrando para um e para outro a raridade: -Vejam aqui! Um anacoluto! Os colegas se entreolhavam desconfiados. Anacoluto era uma palavra desconhecida para todos. Quem haveria de se lembrar de insólito vocábulo?!... Em pouco tempo esmorecia-se o meu júbilo e tive de me convencer, desapontado, de que minha descoberta redundara totalmente inútil. O

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anacoluto que voltasse para os porões dos meus pobres conhecimentos... Mas Betinho, o autor inconsciente do exemplo raro da oração que merecia ser citada ao lado do clássico “os leprosos caem-lhes os cabelos”, encontradiço no capitulo das gramáticas dedicado a essas figuras, ficou meio intrigado com meu entusiasmo. Moço de pavio curto, desconfiado da própria sombra, tomou a correspondência de minhas mãos, num repelão, rasgando-a em muitos pedaços, De dedo em riste, advertiu-me: -Não quero complicação pro meu lado. Já

me chamam de subversivo, de agitador e de não sei lá mais o quê. E agora me vem você com essa? Que me peçam explicações. E sabe do que mais? Enchendo o peito, arrematou: -Anacoluto é a “vó”!!!

Antonio “NINO” Barbin Cadeira 27 Patrono Érico Veríssimo

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Divagando sobre a Mineiralidade Viajar para Minas Gerais é mesmo uma “viagem”! Estivemos por aquelas bandas, eu e meu marido, no mês de setembro de 2011, e pudemos desde cedo verificar algumas diferenças primordiais neste, que é um Estado de sonhos e aventuras. A começar pelas estradas que eu tinha lembrança de serem as piores do mundo, estão ótimas, muito bem cuidadas em sua grande maioria. Pedágio? Tem sim, e vários. Mas os preços... Quanta diferença dos daqui de SP. Lá, todos por onde passamos custaram R$1,30 pode? Em compensação a gasolina, Deus me livre e guarde; tinha posto vendendo o combustível a R$3,07. Meu Jesus Cristinho! Percebemos que os mineiros gostam de viajar perigosamente, pelo menos foi a impressão que tivemos, já que as estradas são à beira de precipícios enormes e sem nenhuma proteção. É voo certo se não prestar atenção! Observamos o verde exuberante por todos os lados. Afinal era primavera, lindo, lindo, lindo! Vimos também cupinzeiros tão alto quanto um homem adulto. Flores em profusão e muito coloridas enfeitam ainda mais aquela terra. Só pela beleza que sua natureza exala por ARCA | 28

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todos os lados, já daria para compreender o porquê de Minas Gerais ser um dos grandes polos de artistas desse país; a inspiração está no ar, constantemente. Imaginem um Estado que tem em seu “currículo” escritores como: Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Alves, Darcy Ribeiro, Fernando Sabino, Guimarães Rosa, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos, Rubem Fonseca e tantos, tantos outros... Suas cidadezinhas, principalmente as históricas, têm ruas estreitas, ladeiras enormes e pedras lisas e irregulares como calçamento. Se não estiver com o sapato ideal, é tombo na certa, ou pé virado e dolorido pelo resto da viagem. E igrejas... Meu Deus como há igrejas naquele lugar. A impressão que dá é que existem muito mais igrejas que fiéis. A comida é farta, variada e saborosa. E os doces? - Santinho da gula me protegei! Ah! E como se não bastasse, haja cachaça pra aquecer os corações. Tem de toda cor, marca, cheiro e sei lá, gosto? (É que eu, particularmente não gosto...) Outra coisa que descobrimos é que Minas está demolindo o Brasil. Isso mesmo, demolindo! Por onde se passa tem alguém vendendo móveis de madeira de demolição, artesanato feito de material de demolição e uma infinidade de coisinhas que foram tiradas de material de demolição. No geral o povo é gentil e hospitaleiro. O problema é que algumas das cidades turísticas ARCA | 29

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mais famosas viraram um caos. Trânsito infernal por aquelas ruazinhas minúsculas, gentes por todos os lados querendo lhe entregar um papelzinho de propaganda de pousadas, lojinhas, restaurantes. Homens feitos se estapeando para serem seus guias, olhar seu carro, comprar o ticket da Zona Azul pra você. Uma Babel total! Uma pena! Daí, para fugirmos dessa loucura fomos para o Santuário de Caraça, na Serra da Canastra. - “Gentem”, que lugar! Enfim a paz que sonhávamos! Um lugar tranquilo, com muito verde, muitos bichos, muita comida boa. Dizem que os jacus estão em extinção. Só se for do outro lado do mundo, porque em Caraça, tem muito jacu dando sopa, são bandos inteiros fazendo uma barulheira danada. Não passam despercebidos de jeito nenhum. Isso sem contar os outros milhares de pássaros de todos os tipos, cantos e tamanhos que circulam por lá. São ticoticos, papagaios, beija-flores, joãos-de-barro, bente-vis, sabiás, sanhaços e mais um monte que não saberia dizer os nomes. Lindos, coloridos e cantantes. Muitos caxinguelês, aqueles esquilinhos brasileiros, tão lindinhos, miúdos e esfomeados. Passam o dia comendo. Ao anoitecer, os monges levam para o pátio da Igreja, uma bandeja com carnes e ossos e chamam: - Guará, Guará... Nisso sobe a escadaria um lobo Guará de pelagem dourada e patas pretas, muito elegante e arisco em seu caminhar, olha para os lados e nos brinda com sua presença. Come sem se importar com as centenas de flashes que disparam contra ele, para registrar o momento precioso.

Na noite seguinte ele volta acompanhado. Mas o outro lobo, espera sua vez de comer. Um respeita o outro, é uma cena e tanto. De repente vemos uma figurinha desengonçada subindo a escadaria para pegar comida, pasmem, é um gambá. Daqueles pretos com a faixa branca nas costas. Só que esse é brasileiro e tem um nome pra lá de exótico: jaritataca. Pensamos que o lobo fosse atacá-lo, que nada; o baixinho entra, pega sua porção com suas mãozinha que parecem humanas, senta-se sobre seu traseiro e come como se estivesse mesmo sido convidado para tal banquete. As pessoas se encantam e chegam muito perto para tirar suas fotos. Ele nem se abala, como todo bom gordinho, continua comendo sem parar. Aventuramo-nos por algumas trilhas, na verdade, duas. Uma delas nos levou a uma cachoeira, que por causa da seca, estava quase sem água. A outra nos levou quase ao céu, literalmente. Primeiro porque a gente quase morre pra subir, e depois quando chega ao local, a sensação é de estarmos mesmo muito perto da casa do Pai. É uma pedreira e tanto pra subir. Haja preparo físico e fôlego. Vi que estou mal das duas coisas. E, quando pensei na descida que teria que enfrentar, lamentei não saber voar de asa delta... Ia simplificar bem a minha vida, ou o que restou dela. Nos corredores do Mosteiro cruzamos com todo tipo de pessoas dos mais variados estados e países. Pesquisadores/observadores de pássaros com câmeras daquelas de me deixar boquiaberta, e mais uma parafernália de equipamentos; veem de todos os cantos do mundo. Dessa vez eram

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alemães e americanos que estavam lá a observar nossas riquezas voadoras. Um casal de japoneses, a Chíndia e o Hugui, moradores do Canadá e apaixonados pelo Brasil, a ponto de aprenderem nossa língua, e tocarem, pasmem, o nosso “Chorinho”, nos chamou atenção! Ela no violão, e ele, num cavaquinho minúsculo. Com muitas partituras, que ela chamava de “particulares”, tocavam com muito carinho e respeito, coisas de quem gosta, mesmo. O “Chorinho” que citei acima pode não ter nascido naquele Estado, porém, Minas é a “mãe” de músicos consagrados. Vejam vocês: Beto Guedes, Lô Borges, Milton Nascimento (que nasceu no

Rio, mas se considera mais que mineiro), Paulinho Pedra Azul, Flávio Venturini, João Bosco, Tavito, Tunai, Clara Nunes, Anna Carolina, Samuel Rosa (Skank), Fernanda Takai, Ceumar e outros muitos outros... Minas Gerais é mágica! Se voltaria para lá? Ô! Correndo!

Silvia Tereza Ferrante Marcos de Lima Cadeira 09 Patrono Raul de Leoni

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Um Samaritano Funcionário de pouco tempo de serviço, casado e pai de um filho menor, era difícil a Antunes viver do pequeno salário do Banco. Nas aperturas, que não eram raras, recorria a empréstimos bancários, ou a particulares. As taxas de juros eram proporcionais às necessidades momentâneas de cada cliente - quanto maior a pindaíba, maior a exigência e a taxa cobrada. Um dia, bem endividado, o Antunes resolveu analisar friamente a situação e decidiu eliminar todas as compras supérfluas e valorizar cada centavo que lhe caía nas mãos, antes sempre abertas a quaisquer gastos. Falou à mulher, a respeito. - Ora, Antunes, muito boa decisão. Como sempre, você pode contar comigo - concordou ela. Horas extras, férias acumuladas, licençasprêmio, tudo era convertido em dinheiro, e este depositado na mesma hora em sua conta. O poupar, com o tempo, tornou-se uma obsessão, a ponto de ele restringir até as despesas com a alimentação e o vestuário. Pagas as dívidas, o saldo da poupança crescia a cada mês, e ele sorria de contente. - Agora, sim, me estou sentindo um homem seguro e independente! Como velho costume na Agência, sempre havia entre os funcionários a troca de gentilezas, ou melhor, a troca de avais, quando necessitavam empinar papagaios. ARCA | 32

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E vinha um desafio: - Procuro um colega “macho” para avalizar esta promissória. - Quem procura, acha. Pois já o encontrou. Dê cá o título. Também estou empinando um papagaio, e o vento anda favorável, desde a mudança de Gerente da Caixa. Chumbo trocado não dói. O Antunes também recorrera muitas vezes a essa forma de expediente. Agora, com o saldo disponível bem alto em sua conta de poupança, inteligente e perspicaz, teve uma sublime ideia e logo tratou de pô-la em prática: - A partir de hoje - confessou exultante à mulher - quero ser ”Um Samaritano” e socorrer os colegas necessitados com o dinheirinho amealhado à custa de nosso suor e privações. Espero reaver centavo por centavo todos os juros que paguei e muito mais. Daí em diante, passou a não avalizar títulos, nem de seus melhores amigos. Se algum insistisse, ele se desculpava muito e aproveitava a ocasião para oferecer a sua humanitária e financeira ajuda. E sempre acrescentava: - O dinheiro é da herança que a patroa recebeu. A notícia espalhou-se depressa. Na sala do almoxarifado, nos fundos da Agência, após encerrado o expediente interno, os mais necessitados se reuniam em torno da mesinha do Antunes, e cada qual chorava as mágoas e fazia o pedido de empréstimo, sem nenhum sigilo, ou constrangimento. Não durou muito, houve denúncias. Um Inspetor baixou na Agência, especialmente para apurar o caso do funcionário que resolveu, com recursos próprios, fazer concorrência ao próprio Banco onde trabalhava, criando uma carteira de pequenos empréstimos. Como punição, foi o Antunes transferido para agência em cidade distan-

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te, onde judas perdeu as botas. -Transferência? Ora, bolas! De jeito nenhum. Meu honrado negócio rende bem mais que o salário do Banco e não estou sujeito a nenhum patrão, nem a horário e nem mesmo ao pagamento de impostos. Fico aqui, e o Banco que vá às favas. Demitiu-se na hora. No escritório em sua casa, a clientela aumentou a olhos vistos, constituída não só de bancários como de particulares. A princípio, havia certa honestidade nas transações com os colegas. Não obstante os bons resultados, a constante procura de empréstimos levou-o a aumentar ainda mais a taxa de juros. A ganância, a galope, entrou a influir nele e o tornou insensível até à desgraça alheia, quando previa o menor risco de perder um centavo do seu precioso capital. II Os anos passaram. O Antunes a cada dia mais rico e ganancioso. Já velho, desde muito andava doente de corpo e de espírito. Quase todas as enfermidades, se diagnosticadas a tempo, os medicamentos conseguem curá-las, ou pelo menos proporcionam alívio às dores e bem-estar ao paciente. A pior doença na velhice é a própria velhice, dizem. Mas a do Antunes parecia não ter mais cura. Era o sangue da velhice desde muito contaminado do amarelo ouro da usura a correrlhe nas veias. Infeliz, não lhe restou nem ao menos o conforto da família unida. A mulher o abandonou havia anos. O filho viajou, em busca de emprego, para as bandas de Minas, onde se casou, por lá ficou e nunca deu notícias. Uma noite, o Antunes abriu o cofre, como sempre costumava fazer antes de deitar-se. Bem acomodado na antiga poltrona, deixou-se esquecer em profunda veneração ao Dinheiro -- o seu único deus - cujas “bênçãos” apenas contribuíam

para torná-lo cada dia mais ganancioso e miserável. Já era tarde, fazia noites que dormia mal. Assim mesmo, retirou com indizível prazer um maço de cédulas da gaveta. Sem pressa, fartou-se de tocá-las e admirar e devolveu-as ao cofre. Os olhos, em seguida, embeberam-se nos maços de cheques e promissórias de suas vítimas, e ele entrou a folheá-los. Então, pareceu-lhe ouvir vozes conhecidas como que os lamentos dos próprios devedores que, com seus títulos, ali também estavam trancafiados à mercê da insaciável gana de um homem sem alma. Num relâmpago, reviveu cenas de humilhações a tantos clientes que não puderam saldar as dívidas nos prazos ajustados. Sem mesmo saber se estava desperto, ou a viver momentâneo pesadelo, o Antunes apertou com as mãos a cabeça e gritou, chorando: - Meu Deus! O que fiz de bom em toda a minha vida? Só juntei dinheiro! Vivo só, sem família nem amigos! Perdoe-me, meu Deus! O remorso não poupa a ninguém, especialmente os que não souberam viver e ainda tornaram desgraçadas as vidas de semelhantes. A cabeça atordoada, levantou-se trôpego, foi em direção à despensa e apanhou um galão de álcool. Num gesto de desvario, ou remissão, despejou o líquido dentro do cofre e riscou um palito de fósforo. E desandou a gargalhar, a gargalhar e a saltar qual louco, ao ver as labaredas crescerem e, em instantes, reduzir a pequenos montes de cinza o único deus a quem adorava e do qual se havia tornado escravo.

Nege Além Cadeira 35 Patrono Casimiro de Abreu

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Aquele abraço

genro nas caçarolas, o incitaram na exploração de aromas e temperos. A despensa bem abastecida da residência foi fundamental para o apuro nos ofícios de fazer e servir.

O sopro foi forte o suficiente para trazer aos

Nativo deste torrão de tantos talentos, o

sânjicos a Confraria Olga, um restaurante peque-

menino crepuscular cresceu nos antiquíssimos

no, íntimo, que atendia vinte comensais nas noites

bairros do Rosário e Pratinha.

de sexta e sábado. A vocação inequívoca foi, aos

O gosto pela arte culinária sempre existiu,

poucos, perdendo os timbres amadores. Essa lapi-

mas dele nunca decorreu nenhuma pretensão pro-

dação derivou muito de saudáveis apontamentos

fissional. Mais velho de três irmãos, Muriel Filho,

críticos dos clientes. Pastas frescas —com o pedi-

ainda criança, ia às panelas para saciar sua fome e

gree do gênio cantineiro Carlão Cardo—, peixes e

a dos dois caçulas. A necessidade do primogênito,

frutos do mar compunham a linha mestra da carta

que via os pais saírem cedo na busca do sustento

de prazeres da casa. E o deleite vinha na simpli-

da prole, fez com que aprendesse a se virar no tri-

cidade de um fettuccine ao azeite sob generosas

vial da refeição cotidiana.

porções do essencial grana padano. E vinha tam-

Na adolescência, a proximidade com a co-

bém no requinte de um robalo grelhado no molho

zinha como meio de vida aconteceu intensamen-

cítrico acompanhado de farofa de pão com trio de

te: o pai, nos anos 1990, foi proprietário de uma

cogumelos.

rotisseria na rua Getúlio Vargas, a Sabor & Cia.

ciclo da Confraria.

Entregas em domicílio e compras de ingre-

Rupturas vieram: fim do chamego e fim do

dientes eram as atribuições dele no estabeleci-

Vida que segue. E seguiu no O Grotto,

mento da família. À época, fissurado por rodeios,

aconchegantemente instalado na belíssima Pou-

Muriel não quis saber de trocar as montarias pelo

sada do Bosque. Consolidado na cena gastronô-

fogão.

mica de Sanja, Muriel tocou o empreendimento Vinte e poucos anos e o namoro com uma

por seis meses. O fechamento prematuro sucedeu

garota cuja família era habitué da boa mesa foi o

devido ao conflito do funcionamento da taberna

estímulo para ver a comida sob uma ótica mais so-

com a agenda de eventos do local.

fisticada. Os sogros, percebendo a habilidade do

A carteira assinada no Spaço fluiu positiva-

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mente nas experiências gerenciais e no convívio inspirador com Dona Salma e Fábio Perez.

O labor com essa

dupla tão competente no engenho do bem nutrir acabou. E rematou com a proposta de um Big empresário: Rafael Antonelli. O guaçuano supermercadista

ater-

rissou nestas margens do Jaguaribotando pra quebrar. Vultosos investimentos num mega centro de compras revitalizaram uma área degradada da cidade. E no entorno da loja os negócios pululam: banco, lotérica, café, fast-food, perfumaria, farmácia e... a Vila.

Martinho da Vila e Zeca Pagodinho são

símbolos de brasilidade, de informalidade. São ícones da alma botequeira, do jeito despojado de bem receber. Sobre esse conceito, Rafael e Mu-

essa mescla de opções, o Sertanejo, um acepipe em que o pão francês abraça dignamente a linguiça artesanal, o queijo, o tomate e a rúcula.

E quem ama esse pé da Mantiqueira tam-

bém deve se sentir abraçado. Abraçado pela capacidade realizadora de Rafael Antonelli e pelo instinto criativo do chef Muriel Filho.

Saúde!

riel—com o perdão da rima pobre— engendraram a Vila do Zeca, um bar que oferece croquete, pastel, polenta e cachaças de responsa. Uma tasca ajeitada com toques ecumênicos que tem ainda hambúrguer caseiro, bruschettas, cervejas importadas e um sanduba que simboliza à perfeição

Lauro Augusto Bittencourt Borges Cadeira 20 Patrono Castro Alves

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Faça!

ples telefonema a uma pessoa carente a um bolo para uma criança pobre. Mas faça! De uma

Depois que vivenciamos perdas, importantes, que marcam nossas vidas, tendemos a filosofar, reformular e dar novos rumos e sentidos às nossas vidas. Quando sabemos da morte de alguém rico, famoso, tido como o mais feliz dos humanos...porém frágeis diante da inexorável morte, isso mais ainda nos ocorre. Foi o caso do Michael Jackson, agora do Steve Jobs, que trazia no próprio nome a palavra trabalho ao qual tanto se dedicou... E os cânceres então? Ver um Gianechini careca, um Apolo dos nossos dias, nos dá um arrepio de horror! E o que fazer então, diante das ocorrências funestas de nossos dias, tidos como promissores, cheios de descobertas, progressos nas ciências e tão deprimentes nos relacionamentos? O que pensar diante de tantas mulheres sinônimos de peitos e bundas tão somente? Como encarar netos matando avós, pais denunciando filhos, pais e mães matando seus rebentos, pessoas usando de seus poderes para ameaçar, corromper e comprar benesses?

Fazer! O quê? O bem. Esse bem pode ser

múltiplo e variadíssimo: de uma visita ou um sim-

palavra dita ou ouvida. Mas faça! De um favor recebido com o quase esquecido “obrigado!” a outro, prestado, sem esperar reconhecimento. Mas, faça! De um presente caro a uma simples e singela lembrança.

Mas,

faça! De um elogio sincero a uma reprimenda necessária. Mas, faça! Esses inúmeros “des” que escrevi poderiam ser acentuados nos dois sentidos: Dê de si mesmo e acentuados no sentido de ressaltados, im-

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portantes. O acento pode ter caído; mas seu sentido, não. Mas as pessoas relutam

se a vida não tivesse fim e a vida após a morte não existisse!

Todos sabem, mas parecem se esquecer

em tomar a atitude cer-

ou teimam em não se lembrar por ser mais cômo-

ta. Lembro-me agora

do e fácil, que a única coisa certa nessa vida é a

daquela anedota em

morte; e que já começamos a morrer assim que

que, mesmo se afogando um birrento

nascemos.

Na semana de Finados, todos se lembram

e teimoso sujeito

de sair, passear, curtir a vida, comer, beber... Al-

ainda levantava

guns ainda vão reverenciar seus mortos dando a

seus braços e

eles flores, que eles mesmos não aproveitarão,

fazia um sinal

não sentirão seus perfumes, nem verão suas lin-

com os dedos.

das cores...mas que representam a nós outros que

É que em vida

ficamos vivos, uma maneira singela de nos lem-

ele teimava em

brarmos de quem foi tão amado. E se nós deixar-

chamar alguém

mos de fazer essas coisas pequenas, mas que ain-

de piolhento e

da significam muito e simbolizam o amor, como

mesmo debaixo

será o mundo de amanhã? É o mínimo que pode-

d’água mostrava

mos fazer para repassar às gerações mais jovens

como se mata esse

os verdadeiros valores, os que têm valor e que

inseto. Quantos há

ficam ao final das contas, das canseiras e da vida,

que, mesmo doen-

enfim!

tes, à beira e espera da morte ainda não aceitam uma vida cristã, xingam, blasfemam e fazem tudo como

Clineida Andrade Junqueira Jacomini Cadeira 43 Patrono Rubem Braga

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As Cinco Fases do Fracasso Matrimonial Durante minha longa vida, venho observando a decadência, cada vez mais acelerada, da instituição familiar. Atualmente, se consultarmos o titular do Cartório do Registro Civil, vamos saber que, na média, acontecem mais divórcios do que casamentos. Creio que essa situação lamentável é fruto da falta de compromisso e comprometimento do casal. Explico-me: o compromisso é a decisão, livremente tomada, pelos dois cônjuges, de manter a sua união matrimonial sólida, até que a morte os separe. E o comprometimento é tudo aquilo que cada um deve fazer para que o seu compromisso seja mantido. Ouvi, certa vez, de um sacerdote celebrante de um casamento, que o amor conjugal é como um vaso de flores. Para que essas flores permaneçam vivas, com suas cores vibrantes e seu perfume penetrante, é necessário um cuidado diário. Deixá-las ao sol, quando for necessário, trazê-las para a sombra quando o sol estiver muito forte, colocar um pouco de terra de boa qualidade, de vez em quando, adubar essa terra regularmente e, principalmente, nunca deixar faltar água. Como eu disse, no início deste texto, venho observando o que acontece com o casal, se

não cuidam, com determinação e carinho, do seu amor mútuo. Numa primeira fase do casamento, eles são amantes. Sem o cuidado necessário, dentro de algum tempo, entram na segunda fase: passam a viver como irmãos. Continuando sem cuidar do seu “vaso de flores”, começa a terceira fase: passam a viver como sócios. Depois de mais algum tempo, se tornam adversários. Mais algum tempo, nessa situação, e explode a quinta fase: tornam-se inimigos! E aí vem a separação e o divórcio, com todo o cortejo de sofrimentos que os acompanham sempre. Nenhum casal se separa de repente. Às vezes, parece que um casal vive bem e, quando explode a separação, as pessoas se espantam: “Que coisa! O Fulano e a Beltrana se davam tão bem e, agora, se separaram!!” Conversa fiada! Na verdade, ninguém notou que estavam passando pelas Cinco Fases da decadência matrimonial. Portanto, é preciso que os casais cuidem do seu amor diariamente, sem descanso, sem desânimo, sem cessar. É indispensável usar o “adubo” da compreensão, a “terra boa” da aceitação e a “água” do perdão, para que sua união continue sólida. Assim, chegarão às Bodas de Prata, às Bodas de Ouro e mais além, num convívio também amoroso com seus filhos, filhas, genros, noras e netos, até que Deus os leve para a vida eterna.

Antônio de Pádua Barros Cadeira 29 Patrono Raimundo Correa

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Lyra, Edu Lobo e Toquinho, entre outros. Morreu em 1980, na banheira de sua casa, no Rio de Janeiro. Foi antes de tudo um apaixonado, e conseguiu viver como tal. Para Carlos Drummond de Andrade, ”Vincius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural.” Quando deixa a poesia em segundo plano para se dedicar à música popular brasileira, para viver nove casamentos, para atravessar a vida viajando,Vinicius está exercendo o poder que Drummond descreve:”Foi o único de nós que teve a vida de poeta”. Para Vinicius, a poesia, a música e o amor são inseparáveis, como mostra esse poema:

O Poetinha,

Vinicius de Moraes Nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Cursou a Faculdade de Direito da Rua do Catete e a Universidade de Oxford, onde estudou língua e literatura inglesas. Em 1941 entrou para o Itamarati, assumindo em 1946 seu primeiro posto diplomático, de vice-cônsul em Los Angeles. Poeta, cronista e dramaturgo, em 1953 conheceu Antonio Carlos Jobim e iniciou um apaixonado envolvimento com a música brasileira, tornando-se um de seus maiores letristas. A lista de seus parceiros musicais é vasta, incluindo além de Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque, Carlos

São demais os perigos dessa vida Pra quem tem paixão principalmente Quando uma lua chega de repente E se deixa no céu, como esquecida E se ao luar que atua desvairado Vem se unir uma música qualquer Aí então é preciso ter cuidado Porque deve andar por perto uma mulher... Uma coisa surpreendente em Vinicius é que ele não envelheceu. Hoje esse jovem completa cem anos e essa atemporalidade está descrita nas palavras do poetinha: “Eu morro ontem Nasço amanhã Onde há espaço Meu tempo é quando” Vania Gonçalves Noronha Cadeira 24 Patrono Vinicius de Moraes

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Histórias do Nicolino

O sonho Theóphilus é o nome dele! PhD em Economia, Administração de Empresas e Direito. Sua alcunha, cultura ambulante, era propícia e adequada, porquanto viajava pelo mundo representando sua Empresa em Paris, Londres, Roma, Frankfurt, Nova York, Hong Kong e outros centros econômicos de destaque no mundo dos negócios. Reuniões, palestras, comemorações, posses de governos e quejandos, lá estava Theóphilus dando o ar de sua presença para fechar substanciosos negócios em favor de sua Empresa. Dir-se-ia que nossa personagem vivia mais voando do que em terra. A família era visitada por facebook e oralmente por telefone. Hortência, seu cônjuge, cuidava com esmero do casal de filhos, Sofia e Demóstenes. Uma labuta incessante. Natação, inglês, escola, igreja, era a rotina diária dos três. No entanto, Hortência se desvencilhava dessas atividades com galhardia, sempre à espera do marido a quem muito amava. Na ordem social, a família desfrutava das benesses dos escolhidos de Deus: mansão em condomínio fechado em bairro nobre da capital

paulista; sócios dos melhores clubes da cidade; frequentavam os restaurantes mais sofisticados; vários empregados domésticos, hajam vista jardineiro, motorista, cozinheira, faxineira, personal trainer, enfermeira, dama de companhia e quejandos, mas sempre sob a vigilância atenta e eficaz de Hortência. A felicidade se estampava cotidianamente no sorriso dos membros daquela família abençoada. Nada, absolutamente nada, poderia enodoar a perfeição daquele lar. Entretanto, o Capeta não dorme! Theóphilus começou a saturar-se da vida que levava. Reuniões, reuniões e mais reuniões; palestras, palestras e mais palestras; coquetéis, coquetéis e mais coquetéis; hotéis, jantares, grandes negócios. Enfim, uma vida abstrata, longínqua do mundo dos mortais. Ato contínuo, o tédio apossou-se do espírito abstrato de nosso heroi. Ele queria algo mais real, mais palpável, mais terra-a-terra! Vibrava, in tótum, quando assistia aos programas alusivos ao campo. Aquilo, sim, era real, era vida, era a felicidade. O Capeta não dorme! Theóphilus, incontinenti, entrou em contato com Juquinha, seu assessor predileto, e pediulhe que comprasse uma fazenda em região privilegiada do Estado de São Paulo. Quinze dias após, Juquinha, sempre efi-

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ciente, comunicou-lhe a aquisição de magnífica propriedade no interior do Estado. As medidas necessárias tomadas, verbi gratia, concretização dos últimos negócios, despedida dos amigos, licença da Empresa, passagem de regresso ao Brasil e um breve telefonema para a esposa. Alguns dias depois, já de malas prontas, beijava amorosamente Hortência, abraçava com carinho Sofia e Demóstenes, e partia para a fazenda. Era a ressurreição. De manhã, quatro horas, ao lado da janela do quarto. Rim-rom, rim-rom, rim-rom; Quáchi, quáchi, quáchi; U u u UU, u u u UU; Moon, moon, moon. Burricos, sapos, galos e vacas eram os músicos daquela orquestra celestial! Nossa personagem se levantava, e, depois do café e higiene matinais, saía para a varanda da casa, espreguiçava-se e, em altos brados, olhando para o céu: - É a sinfonia do universo chamandome para a VIDA! Quando se reunia com os empregados da fazenda para uma churrascada, sua felicidade se exacerbava. Os caipiras esbanjavam flatulências e disputavam sonoridade e odor. Quanta naturalidade, quanta pureza. Nos dias chuvosos, pisando o barro, exultava com esta sentença; - Estou amassando a matéria prima da criação divina. Quão esplendoroso este momento! É a comunhão com o Criador! Certa feita, foi almoçar com alguns amigos

em um restaurante da roça. Havia encomendado uma leitoa à puruca e um frango caipira. Lá chegando, a tabaroa os recebeu com a notícia de a leitoa ter sido servida àquela família àquela mesa. Tinham chegado antes. Conformaram-se com o frango. Os amigos caipiras, alegres sempre, elogiavam a comida com a expressão: Isso tá bão por bosta! Theóphilus admirava tanta naturalidade! Vendo algumas aves negras pousarem numa árvore próxima, dizia-se surpreso com o fato de galinhas voarem. Havendo insistido várias vezes nesse estranho espetáculo, a tabaroa, nervosa, interveio: - Não é galinha, não. É ARIBU! Durante quatro meses, nosso heroi permaneceu magnetizado pelos encantos da natureza. Sentia-se ADÃO no paraíso. O capeta é insistente! Num sábado de manhã, a campainha da mansão onde ficaram Hortência, Sofia e Demóstenes tocou. Abrindo a porta, Hortência, surpresa, deparou com Theóphilus: - Já de volta, amor? Por quê? - Porque aquilo tudo é coisa de TONTO!

Vedionil do Império Cadeira 41 Patrono Lima Barreto

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A Capelinha Sempre se perguntava Por que ainda existia A capelinha vazia Que a tanta gente encantava. A história que se sabia É que ela ressuscitava Dois irmãos, que um dia Rezando uma reza brava Feita de versos ferinos Tornaram-se dois assassinos. Eram na terra temidos Homens de ódios profundos E de rancores imundos Naqueles tempos já idos Tornaram-se mais desunidos Talvez por alguma herança Juraram-se mútua vingança E se fizeram bandidos. Unidos então pela morte Vagam até hoje aos gemidos Em noite de lua forte. Uma menina pequena Morava na Santa Maria Foi acender uma vela Rezar uma novena Na solitária capela.

No seu cabelo lourinho Usava um lindo véu Enquanto que de mansinho Chegou a noite no céu Com ela o vento que venta Tantas histórias inventa Fez o lume da vela Triste morte na capela O fogo matou a menina Iluminando seu véu Triste na sua cina Brilhando entrou no céu. Hoje dizem que dança A menina num fino véu Em noite de lua mansa. Para acabar com aquela História mal assombrada A menina é venerada Naquela estranha capela Lá na beira da estrada.

Maria Cecília Azevedo Malheiro Cadeira 40 Patrono Monteiro Lobato

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Essa Aurora

Um dia hão de nos ver, qual quero e quis, andando pelas ruas de mãos dadas: eu, como o namorado mais feliz, tu, como a mais feliz das namoradas... E, às tardes, nós, num banco, vis-a-vis, trocaremos carícias prolongadas, ouvindo as aves, vendo um chafariz, e as flores se entreabrirem nas ramadas. Que eu tenha rimas a dizer-te à hora em que a nós raie, esplêndida, essa aurora, que tenhas tu, a dar-me, essa ternura.

Olhos Tristes

Olhos magoados de um gentil semblante no fundo azul de olheiras lacrimosas, contai-me a causa do pesar cruciante que assim desbota desse rosto as rosas. Contai-me por que vejo a todo instante fulgir em vós, quais pérolas mimosas duas lágrimas puras, cintilantes como gotas de aliofar caprichosas. Contai-me por que vejo-vos tristonhos, como abismados em longínquos sonhos, - sonhos de amor, miragens vaporosas . . .

E, enquanto muitos, presos de rancor, dirão, nos vendo: Um caso de loucura! Hão de os deuses dizer:- Um grande amor!

Não me oculteis vosso pesar cruciante, olhos magoados de um gentil semblante no fundo azul de olheiras lacrimosas!

(in memoriam) Fábio Noronha Cadeira 17 Patrono Francisco Paschoal

(in memoriam) Francisco Roberto de Almeida Júnior Cadeira 03 Patrono Alphonsus de Guimarães

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O Poema e o Poeta Brindo com o copo vazio, O conteúdo está em mim. Não troco sorrisos, nem lágrimas, Mas brinco de esculpir palavras. Finjo que são aladas, que voam. Que têm a liberdade que não tenho.

Não o conceito de liberdade, Pois que esta não tem graça, Mas aquela que é utópica, Que é tão distante,

Que não se alcança. Que vale mais pelo anseio, Pelo desejo que querer, Do que pelo prazer de ter.

Não ocupa os sonhos, Nem mesmo ilusões, É caos absoluto, São cores mesclando-se, Na gênese da criação. ARCA | 44

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E isto, pouco importa o que é, Pois o saber é limite, Enquanto o poema, É rei mendigo, Andante de tantos caminhos, De trilhas distantes. E qual graça existe nisto? É toda graça desconhecida, É divina, pois que se perde, Não é encontro, pois é fuga. Momento eterno, Em meio ao passageiro. Beija flor de luz, Anjo guerreiro, Arco dourado, Espada solar. No espinho de uma rosa, Feri-me, vi o sangue preguiçoso, Vi-me vivo, e assustei.

Gilberto Brandão Marcon Cadeira 06 Patrono Mário Quintana

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Descabidos... ... São os dias, nas grandes cidades.

olhares perdem-se no asfalto, sobra cansaço, escasso são os minutos,

Estejam limpos, nublados, chuvosos ou ensolarados nada muda, pessoas apressadas, buzinas disparadas, trânsito infernal, estômago digerindo mal,

não se tem segurança E, o trânsito continua um insulto... Os dias nas grandes cidades não se encaixam,

come-se prato frio, passam-se horas a fio dentro da condução que leva ao trabalho.

são repetitivos, solitários, cansativos, suados...

Tempo esgotado, sorriso foge dos lábios, problemas amontoam-se, não se caminha fácil,

Enquanto uns vão, outros vêm, no ônibus, no metrô, no carro, no trem.

Lucelena Maia Cadeira 13 Patrono Humberto de Campos

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Foto: Silvia Frrante

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Mário de Andrade “Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte”.

LuzGrafia Foto: Silvia Ferrante

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Aqui Aconteço... Palestra Profª Dra. Angela Olinto

No dia 22 de julho, na sede da Academia

de Letras, às 19h, a Chefe do Departamento de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Chicago - um dos mais importantes centros acadêmicos do mundo - Profª Doutora Angela Olinto, palestrou para acadêmicos, visitantes e interessados sobre os Mistérios Cósmicos: O Universo Escuro e as Partículas mais Energéticas. Durante uma hora e meia e de forma simples para que os presentes acompanhassem sem dificuldades suas explicações. Ela informou sobre as grandes descobertas tecnológicas das últimas décadas que possibilitaram avançar no conhecimento do Universo. Através de Datashow ela explorou os mistérios deste Universo Escuro e os raios cósmicos de mais alta energia que desafiam nossa imaginação, nesta aventura cósmica de perguntas à natureza. ARCA | 50

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Chá Literário

120 anos de Mário de Andrade

Para comemorar o Dia do Escritor e os 120

anos de Mário de Andrade, a Academia de Letras realizou no dia 25 de julho o tradicional Chá Literário, às 17h. Os coordenadores do evento foram os Acadêmicos: Beatriz C.C. Pinto, Maria José Gargantini Moreira da Silva e José Osório de Azevedo Jr. Numa exposição bastante detalhada, os três acadêmicos apresentaram o mundo, vida e obra desse grande artista que foi Mário de Andrade.

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Posse do novo acadêmico João Batista Gregório

O Sr. João Batista Gregório tomou posse em 10 de agosto de 2013, ocupando a cadeira de nº 37, Patrono Menotti Del Picchia. Este escritor de crônicas espirituosas com receitas culinárias tem feito sucesso e conquistado leitores. Ele escreve semanalmente para o jornal “O Municipio”. Nessa mesma data, o Acadêmico Correspondente Ademir Barbosa de Oliveira lançou o livro “Mistério Antigo”. Noite solene pela posse do novo acadêmico e festiva pelo lançamento do livro de renomado escritor da cidade que alcança leitores de todas as classes sociais sanjoanense.

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Outorga da Medalha Constitucionalista

O Movimento Constitucionalista de 1932, foi um brado à liberdade e à democracia, pois os sentimentos e os desejos dos paulistas permaneceram vivos na alma de cada um, mesmo após o silêncio dos canhões. A Medalha Constitucionalista foi criada pelo Decreto 29.896, de 10 de maio de 1989 e assim diz seu artigo 1º: A Medalha Constitucionalista será outorgada pela Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, e se destina a galardoar pessoas que por seus méritos e relevantes serviços prestados, tenham se tornado dignas de especial distinção. É uma Comenda Emérita definitiva, pois perpetuará a gratidão e o reconhecimento, para todo o sempre, dos que cumpriram esta jornada cívica para com aqueles que, hoje e no futuro, continuarem abraçando os mesmos ideais de democracia, liberdade e amor à legalidade pelos quais se bateram os heróis e Veteranos de 32. Nessa data, 21 de setembro de 2013, na sede da Academia de Letras, os parceiros – Sra. Neusa Maria Soares de Menezes , Presidente do 7º Núcleo de Correspondência dos Veteranos de

1932 – MMDC – “Soldado Maria Sguassábia” e o Cel. PM Mário Ventura, Presidente da Sociedade dos Veteranos de 32 - MMDC condecoram valentes cidadãos que se dedicaram a construir uma sociedade melhor, mais digna, mais solidária. Professores, historiadores, mestres e operadores do Direito, que solidificaram seu amor pela pátria, pela justiça, cultuando cidadania e ética. Também jovens que trabalham pela conquista de valores morais na política e no esporte, ainda representante do exército brasileiro, simbolizando todos os valentes soldados que tombaram durante a luta. Parabéns aos agraciados pela conquista de importante comenda: Professora Adélia Jorge Adib Nagib; Vereador Fernando Bonaretti Betti; Reitor Francisco de Assis Carvalho Arten; Dr. Heitor Siqueira Pinheiro; Historiador e Professor João Baptista Scannapieco; Professor José Márcio Carioca; Sr. Udo Frederico Nali Matielo; Conselheiro Sidney EstanislauBeraldo; Prefeito Municipal Vanderlei Borges de Carvalho; Subtenente Vanderlei Soares e a Presidente da Academia de Letras, Sra. Lucelena Maia. ARCA | 53

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Cordel na Academia A Literatura de Cordel é uma das mais ricas tradições culturais do Brasil. Clássicos da literatura universal e novas histórias em textos ricamente ilustrados e de grande beleza poética, escritos por João Gomes de Sá e Varneci Nascimento foram apresentados neste projeto durante os três dias em que eles permaneceram na cidade. Em visitas que fizeram às escolas, universidades e palestras os temas foram: O que é Cordel?; Viagem pelo Cordel Brasileiro; Cordel na Sala de Aula e De Repente – O Repente. O evento começou no dia 15 e encerrou-se no dia 17 de agosto. João Gomes de Sá – Alagoano. Professor. Formado em Letras pela Universidade Federal de Alagoas e em Pedagogia ( supervisão, administração e orientação educacional) pela UNIFAC/ Botucatu-SP.Faz fusão entre a arte de ser educador e poeta. Cordelista com palestras e oficinas, em centros culturais, escolas e feiras de literatura sobre as Manifestações de Cultura Espontâneas; sobretudo o Cordel Brasileiro. Varneci Nascimento – É de Banzaê – BA. Graduado em história pela Universidade Estadual da Paraíba, é autor de mais de 200 obras escritas em Cordel sobre as mais variadas temáticas.A secretaria de cultura do Estado da Bahia lançou de sua autoria o livro JORGE AMADO O AMADO DO ARCA | 54

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BRASIL, pelo qual recebeu uma carta de agradecimento da escritora Zélia Gattai. Participa da coleção Clássicos em Cordel com os livros Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis, em cordel, lançado em 2008, selecionado para feira de Bolonha em 2009 e comprado para Biblioteca Nacional e ainda o livro Escrava Isaura, em cordel, lançado em 2011. Adão Fernandes – Repentista do CE, com vasta experiência e participações em programas de rádio e no “Arraial de São Paulo” e 100 anos de Gonzagão. Tem CDs gravados. João Doutô - Repentista de PE, com participações em festivais e em eventos governamentais. Participou também dos 100 anos de Gonzagão e do “Arraial de São Paulo” na Tenda do Cordel. ARCA | 55

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XXI Concurso Literário de Poesia e Prosa A premiação aconteceu no dia 28 de setembro de 2013, no auditório Edgar Alonso, na UniFae. A Acadêmica Silvia Ferrante foi a coordenadora desse Concurso e ela nos fala da noite de premiação: “Foi uma grata missão e uma imensa responsabilidade coordenar esse conceituado Concurso Literário em sua XXI edição. Recebemos inscrições de 25 Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, sendo que o estado de São Paulo teve o maior número de cidades inscritas seguido pelos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. De Xangri-Lá, no Rio Grande do Sul a Ananindeua, no Pará as pessoas escreveram e nos honraram com suas participações. Nossa cidade participou com 100 trabalhos, o que nos deixou imensamente felizes. Também recebemos neste ano a inscrição de 7 países: Suíça, Portugal,Romênia, Alemanha, Bélgica, Itália e Moçambique. Isso demonstra a plena confiança que esse Concurso alcançou não apenas em nossas terras, mas em terras de além mar. A grande maioria das inscrições foi efetuada pela Internet, mas ainda recebemos algumas inscrições via correio. Foram 219 Prosas e 339 Poesias. A faixa etária mais concorrida nas duas categorias foi de 19 a 39 anos, somando um total de 301 inscrições. A Academia de Letras acreditando em sua

missão de divulgar nossa Língua respira aliviada sabendo que mais uma vez cumpriu sua missão. Agradeço imensamente a confiança depositada em mim, por nossa Presidente Lucelena Maia. Agradeço a generosidade de nossos jurados: Carmem Lia Batista Botelho Romano, Gilda Magalhães Nardoto, Luiz Antonio Spada, Jorge Gutemberg Splettstoser, Lauro Augusto Bittencourt Borges, Vedionil do Império. Agradeço ainda o cuidado de nosso Patrono Antônio “Nino” Barbin, na revisão ortográfica dos textos selecionados e seu carinho com esse Concurso, a dedicação de nossa assistente de secretaria Graziele Moreno, ao palestrante da noite José Carlos Sibila Barbosa e ao meu queridíssimo esposo, Julio Lima, esteio e parceiro de minha vida em todos os momentos. Um muito obrigado super especial a todos os pais e professores que incentivaram suas crianças e jovens a nos encaminhar seus trabalhos. Um evento desse porte só se faz com essas parcerias, de nossa equipe e de vocês escritores que nos enviaram seus trabalhos, a quem agradecemos a confiança e respeito. Foram 558 trabalhos aceitos e vários outros desclassificados por não cumprirem algumas regras. A Língua Portuguesa agradece, e nós amantes das letras, também!”

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Poetinha: Poesia, Música e Paixão

Músicas: Chega de Saudade Eu Não Existo Sem Você Eu Sei Que Vou Te Amar

Centenário de Vinicius de Moraes

Garota de Ipanema: Minha Namorada

Evento Literomusical Coordenação Geral: Vânia Noronha Direção e Texto: Maria Célia de C. Marcondes Vídeo “Revivendo Vinicius”: Neusa Menezes Theatro Municipal de São João da Boa Vista 20 de Outubro de 2013 Domingo | 18h

Músicas Infantis Pela Luz dos Olhos Teus Poeta Aprendiz Primavera Samba da Benção Se Todos Fossem Iguais a Você Tarde em Itapuã

PROGRAMA Participação: Coral da Escola Estadual Pe. Josué Silveira Mattos Acadêmicos: Antônio “Nino” Barbin Beatriz C. Pinto Carmen Lia Romano Lauro Borges Lucelena Maia Luiz Antônio Spada Maria Célia de Campos Marcondes Sérgio Meirelles Oliveira Silvia Ferrante Sônia Quintaneiro Vânia Noronha

Poemas: Elegia ao Primeiro Amigo O Desespero da Piedade O Mosquito O Passarinho Operário em Construção Receita de Mulher Soneto da Fidelidade Soneto da Separação Ternura

Crônicas: Libelo Para uma Menina com uma flor ARCA | 58

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Praça Sérgio Vieira de Mello

Homenagem à Comunidade dos Países de

Língua Portuguesa com a nomenclatura da bonita Praça no bairro Riviera de São João, perpetuando o nome do herói brasileiro Sérgio Vieira de Mello que junto com as tropas da ONU libertou o povo Timorense das garras da Indonésia.

Hoje a República Democrática de Timor

Leste “Chora” o seu herói morto em atentado no Iraque quando “lutava” pela paz mundial em 2003.

O “Projeto Andorinhas”, em parceria com o

Departamento de Cultura de São João da Boa Vista, Poder Legislativo e Academia de Letras dedicam esta grande homenagem a esse herói mundial, brasileiro, morto aos 55 anos, com descerramento de placa com os nomes de algumas autoridades da cidade de São João, entre os quais, os da presidente e do vice-presidente da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Sra. Lucelena Maia e Sr. Antonio Carlos Rodrigues Lorette.

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5º Concurso “Redação na Escola” “O Livro”

O 5º Concurso “Redação na Escola” teve recorde de inscrições neste ano de 2013. Das possíveis 232 inscrições, 212 foram os trabalhos inscritos. A duração deste Concurso é de quase um ano inteiro, seja para a escola seja para a Academia de Letras. No mês de fevereiro dá-se início a ele e em novembro ele é finalizado. Sequoia Empreendimentos Imobiliários foi a patrocinadora de 2013, assim como a Sociedade Esportiva Sanjoanense e a E.E Cel. Joaquim José foram os apoiadores. A comissão julgadora deste ano foi formada por 32 membros, entre acadêmicos e amigos da Academia de Letras, e eles estiveram presentes em dois momentos: na 2ª fase e na fase de Defesa Oral. Contou-se com brilhante trabalho da coordenadora e acadêmica Neusa Menezes e o eficiente desempenho da assistente de secretaria Grazielle Moreno. Mas, principalmente, com professores e alunos dispostos a mostrarem o melhor de si. ARCA | 62

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Sopa de Letras Dom Pedro Fui Eu! Entrei para o Grupo Escolar Antonio dos Santos Cabral em 1960, mesmo ano de inauguração de seu novo prédio, lá perto do cemitério. Já estava com oito anos e era, portanto, o mais velho da classe. Naquele Sete de Setembro de 1960, a Escola caprichou em seu desfile inaugural e saiu com vários carros alegóricos, cada um representando passagens importantes de nossa história: Havia carro com Pedro Álvares Cabral e os índios, carro com Tiradentes e sua forca, carro da Proclamação da República, com Marechal Deodoro da Fonseca e na “comissão de frente” estava eu, como o Imperador D.Pedro I, na principal alegoria sobre a Independência do Brasil. Fui escolhido dentre vários outros candidatos, por ser o maiorzinho da turma e foi a meu lado, sentada numa poltrona, a Mara Lucia, personificando a Princesa Leopoldina. Ela foi escolhida por ser a mais gordinha e por ter cabelos longos, os quais foram repartidos ao meio e amarrados em forma de um coque, penteado conforme uma foto da Princesa Real. À sua frente, uma pequena escrivaninha, onde ela fingia escrever a famosa carta endereça-

da ao real esposo que, segundo a história, serviu de impulso para D.Pedro dar o célebre grito de “Independência ou Morte!” O desfile foi longo, pois os carros alegóricos já saíram prontos do Pátio da Escola, atravessando toda a Avenida João Osório, até chegar à Avenida Dona Gertrudes. Ali, foram-nos dadas as instruções finais: a mim caberia levantar a espada (de papelão) e o chapéu (também de papelão, recoberto com feltro verde) e gritar: “Independência ou Morte!”. Essa encenação deveria acontecer defronte à Praça Joaquim José, onde sempre foi montado o palanque com as autoridades. Naquela época, o desfile de 7 de Setembro atraía toda a população da cidade. Era uma coisa bonita de se ver e as famílias inteiras vinham à Avenida, na maior alegria, lotando as calçadas de gente. Aqueles que moravam na própria Avenida, enfeitavam suas janelas com bandeiras e podiam assistir ao desfile “de camarote” (tinha uma inveja danada deles!). Normalmente, nesses eventos, minha mãe ficava em casa preparando o almoço de feriado, mas dessa feita, ela foi, pois seu filho caçula seria personagem principal do desfile, né! Então, naquele dia, minha família toda estava por ali, em algum ponto da Avenida à espera de nossa Escola.

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Lembro-me que meu nervosismo era tanto que mal conseguia parar-me em pé naquela carreta que deslizava bem devagar pela Avenida. Tremia que nem vara verde e logo no início acometeu-me uma vontade louca de fazer xixi. Falei para a “Leopoldina” que não ia aguentar mais e ela respondeu-me, brava: “Segura aí, Gregório... Pelo menos até chegar ao palanque!”. Mas que nada! Chegando próximo à sede do Palmeiras FC. mijei com vontade e gosto! Aliviado, olhei para as calças (de um branco impecável e muito justas), completamente molhadas na frente e atrás. No desespero, sem saber o que fazer, joguei a espada para a Mara Lucia e disse: “Te vira, Leopoldina!” Desci da carreta e me enfiei no meio da multidão. Com o chapéu do imperador (parecia uma canoa), tapando a frente das calças, atravessei a Avenida e subi a Rua “Do Feijão Queimado” em prantos de vergonha. Como minha casa estava fechada, fiquei sentado na área da frente, esperando a volta de meus familiares, vestido de D.Pedro, todo mijado. Nunca passei tanta vergonha em minha vida e até hoje odeio esse personagem de nossa gloriosa história.

Depois fiquei sabendo que chegando ao palanque, a “Princesa Leopoldina”, num arroubo heroico, levantou-se, tomando da espada e bradou, ela mesma, a famosa frase: “Independência ou Morte!” Ninguém entendeu nada... Em homenagem à corajosa Imperatriz, vou ensiná-los a fazer uma antiga e deliciosa receita denominada de: QUINDIM DE PRINCESA Ingredientes: 5 ovos; 3 gemas; 100 gramas de coco ralado seco ou 200 gramas de coco ralado fresco; 2 e ½ xícaras (chá) de açúcar; 1 colher (sopa) de margarina e 50 gramas de queijo ralado. Modo de preparo: Bater os ovos e as gemas com um garfo e passar na peneira; em seguida misturar os ovos, coco, açúcar, margarina e o queijo. Despejar a massa em forminhas de quindins untadas com margarinas e polvilhadas com açúcar. Deixar descansar por uns 10 minutinhos e assar em Banho Maria, na temperatura média.

João Batista Gregório Cadeira 37 Patrono Menotti Del Picchia

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Afiando a Língua ANFIBOLOGIA, é nome de quê?

expressiva e mesmo, equivocada.

Uma frase pode ser ambígua por alguns

motivos, dentre eles, a presença de uma palavra polissêmica, como nesta frase de uma determinada marca de relógio: “Relógio que atrasa não adianta”, em que se percebe, propositalmente, o

Muitas vezes nos surpreendemos com cer-

tos mecanismos que a língua nos permite, para “nos pregar e pregarmos peças”. É o que ocorre quando usamos da anfibologia de maneira proposital, ou até mesmo, involuntária.

Mas, afinal, o que é isso? Esse processo

linguístico, mais conhecido por “ambiguidade” e, por alguns linguistas, jocosamente chamado de “torcicolo da língua”, ocorre quando há “um falar e dois entenderes”.

Em outras palavras: dizemos que um enun-

ciado apresenta ambiguidade quando é possível atribuir a ele mais de um sentido, mais de uma interpretação. Pode ser considerada tanto um defeito, quanto uma qualidade do texto e é muito utilizada nas poesias, nas peças publicitárias, no humor, tornando a mensagem mais interessante,

uso da palavra “adianta” como a responsável pela ambiguidade. Outra possibilidade seria a ordenação sintática inadequada, como em: “Prefira alimentos que informam que não têm colesterol no rótulo”. Pena que seja só no rótulo...

Há casos, em que o responsável pela am-

biguidade é o uso inadequado de um pronome com mais de um referente, como no seguinte exemplo:

“Vi Pedro beijando sua mãe na esquina”, o

que poderia até provocar um caso de polícia.

É importante ressaltar que, muitas vezes, a

ambiguidade só é detectada pelo leitor do texto, já que para o autor não se torna perceptível. Em tempos de informação on-line, temos visto vários exemplos de ambiguidade, em que talvez pela urgência de se passar as informações não se notam as deficiências de um texto.

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Mais alguns exemplos encontrados: “Can-

tor apanha até a morte de PM”.

“Campanha contra violência do governo

do estado de São Paulo entra em nova fase”.

Cartazes afixados no mural de uma igreja:

Aviso aos paroquianos:

“Não se esqueçam do bazar beneficente”!

É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que têm em casa. Tragam seus maridos!”

Outro:

“Para todos aqueles que têm filhos e não

sabem, temos na igreja uma área especial para crianças.”

É! Acho que ainda não vimos de tudo nes-

ta vida!

Veja a seguinte manchete, recentemente

veiculada em um jornal de circulação nacional:

“Pais encontram filho sequestrado pela

internet”. Está certo que se encontra de tudo na internet. Mas daí, para conseguir trazer um filho de volta por este meio de comunicação, já é pedir demais...

Maria José Gargantini Moreira da Silva Cadeira 39 Patrona Clarice Lispector

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Livros Sei que muitos estão cansados de me ouvirem, convidando-os para conhecerem a obra de Altair Martins, escritor do Rio Grande do Sul. A sua técnica é surpreendente. A beleza “plástica” que dá ao texto e o conteúdo sensível à nossa realidade humana, faz com que não sejamos o mesmos após frequentarmos suas páginas.

Existem livros que merecem ser reeditados. A profundidade das idéias , a transcendência e a universalidade das suas exposições caracterizam essa necessidade de serem lidos e relidos. Para nossa sorte o livro VIDA de Paulo Leminsky foi relançado pela Companhia das Letras. Sua primeira edição foi em 1990. Trata-se do olhar de um poeta sobre a vida e a obra de quatro personagens que influenciaram sua formação humana: Cruz e Souza, Basho, Jesus e Trotski. O autor justifica a sua escolha dos biografados: “quatro modos de como a vida pode se manifestar”.

Um conto metafórico e poético sobre a evolução de um ser na compreensão da vida e da morte.

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