Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Belas Artes
Nicole Soares de Souza Rio de Janeiro, 2013.
A LETRA ROMANA
O Império Romano foi decisivo no desenvolvimento do alfabeto ocidental, por criar uma escrita formal tão avançada e legível. Com aspecto e uso monumental, foi colocada a serviço da propaganda do governo. Esculpida de forma imponente nos altos das construções, o aspecto visual impressionava mesmo os iletrados que não podiam decifrar sua mensagem com enorme difusão em todas as partes conquistadas da Europa, já que muitas línguas ainda não possuíam um sistema próprio de escritura, o que resultou na forma de escrita mais usada até hoje.
Inicialmente, as letras romanas eram escritas ou esculpidas sem acabamentos terminais e com hastes de grossura regular; só gradualmente, com o aperfeiçoamento das ferramentas para trabalhar a pedra, é que se desenvolveram as chamadas serifas ou patilhas.
A escritura romana adotou três estilos fundamentais: a Capitalis Quadrata (maiúsculas quadradas romanas, originalmente cinzeladas em pedra), a Rustica (versões menos formais e mais rápidas em sua execução) e a Cursiva (modalidades de inclinação das maiúsculas). Destas três, vamos nos ater a que teve maior notoriedade, a Capitalis Quadrata (imagem ao lado), que não só foi uma letra lapidar, como também foi usada em documentos escritos sobre papiro ou pergaminho. Para gravar os tipos em pedra, os artesãos romanos primeiro pintavam os traços com um pincel mais ou menos largo segurado diagonalmente, sem o rigor de esquemas numéricos. Além disso, não existiam cânones universais para o desenho das inscrições.
Os Humanistas especulavam um sistema de construção racional por trás da beleza desses tipos. Mas no Império Romano não existiam padrões absolutos, nem regras obrigatórias para o desenho das inscrições – havia um certo padrão, mas influenciado
pela expressão individual, de acordo com quem executou o trabalho. Foram desenvolvidos esquemas de construção dos tipos romanos, inventando-se um padrão definitivo para a construção das letras:
Exemplo de construção da letra “A” retirado de uma apostila. É seguido o conceito de que a base seja um quadrado, mas adicionam-se ângulos e proporções exatas.
A COLUNA DE TRAJANO
Um dos mais antigos registros da escritura romana Capitalis Quadrata é o escrito presente na base da Coluna de Trajano, – construída no século II durante o império de Cesar Nerva Trajano Augusto Germanico Dacico em comemoração à vitória dos romanos sobre os Dácios – nela é possível visualizar a seguinte inscrição:
"O SENADO E O POVO ROMANO IMPERANDO CESAR NERVA TRAJANO AUGUSTO GERMANICO DACICO, PONTIFICE MÁXIMO, COM PODER TRIBUNÍCIO, CÔNSUL A 5ª VEZ, PAE DA PATRIA, OS AQUIFLAVIENSES TRATARAM DE FAZER À SUA CUSTA ESTA PONTE DE PEDRA".
Para os calígrafos da Renascença, essa imponente inscrição foi inspiração contínua; suas letras eram consideradas o mais requintado e elegante padrão das letras latinas, de uma clareza e um esplendor estético espetacular.
TRAJAN: A FONTE
Já situada na era digital, foi projetada para a Adobe a fonte Trajan; construída por Carol Twomblya em 1989, baseada no estilo romano presente nos escritos da Coluna de Trajano1. Um belíssimo tipo, que remete ao clássico e ao tradicional, sendo extremamente legível e elegante.
Devido a suas qualidades, passou a ser adotada em diversos meios no Design Gráfico. Por não conter caracteres minúsculos e uma variedade de símbolos, pode ser considerada uma fonte display, não podendo ser usada para grandes volumes de texto2. Por sua versatilidade, imponência e grandiosidade, devido às suas letras tradicionais capitulares densas e ao mesmo tempo muito limpas, o uso de Trajan é por vezes considerado excessivo em filmes e cartazes de Hollywood, sendo usado para representação de diversos gêneros: histórias épicas, como “O Gladiador” e “Thor”; ficções científicas, usando como exemplo “Minority Report” e “Star Wars”; romances, como “Titanic” e “Cidade dos Anjos” e até terror e suspense, como é o caso de “Possessão” e “Mama”.
Star Wars, Episódio IV: Uma nova esperança (1977)
Titanic (1997)
Mama (2013)
1
Existem várias fontes digitais que recriam a estética dos alfabetos usados no Império Romano. A fonte Hadriano é um alfabeto de versaletes da autoria do norte-americano Frederic W. Goudy, que imita uma Quadrata já tardia, realizada com pouca ortodoxia e ainda menos formalidade. Numerosas outras fontes modernas foram inspiradas nas formas da Capitalis Monumentalis romana; um dos mais belos exemplos contemporâneos é a Requiem, uma fonte de Jonathan Hoefler. 2
Em seu lugar, pode-se usar a fonte Times New Roman, – uma das fontes mais conhecidas e usadas no mundo – também inspirada nos tipos romanos, mas adaptada para obter letras minúsculas e uma infinidade de símbolos. Devido a sua simetria e legibilidade em tamanhos reduzidos, pode ser usada para texto corrido sem problemas (como é o caso desse próprio texto, em que foi adotada esta fonte).
AS LETRAS DOS ROMANOS, 1 - Paulo Heitlinger http://tipografos.net/escrita/letra-dos-romanos-1.html
AS LETRAS DOS ROMANOS: SERIFAS - Paulo Heitlinger http://tipografos.net/escrita/letra-dos-romanos-1B.html
A CONSTRUÇÃO DAS LETRAS ROMANAS - Paulo Heitlinger http://tipografos.net/escrita/letra-dos-romanos-3.html
TIPOGRAFIA&HISTÓRIA, UM ESTUDO SOBRE AS REVOLUÇÕES ESTÉTICAS NO DESENHO DA LETRA IMPRESSA - Naieni Ferraz Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Desenho Industrial, Habilitação em Programação Visual, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS)
TRAJAN, A FONTE DOS FILMES - Rafael Oliveira http://exvertebrum.wordpress.com/2008/02/15/trajan-a-fonte-dos-filmes/