Envolto - Ensaio fotográfico na Floresta da Tijuca

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O CONCEITO

D

iante da proposta de se realizar um ensaio fotográfico na Floresta da Tijuca – parte do Parque Nacional da Tijuca, no município do Rio de Janeiro – me vi ante o desafio de retratar através do enfoque da paisagem; de encontrar detalhes não mais nas coisas diminutas e do olhar próximo, mas sim em vistas, em recortes mais amplos do que a minha zona de conforto até então me proporcionara e me surpreendi em captar não só o retratado, mas também o seu contexto e seu entorno que também se faziam parte do meu contexto e entorno. As vistas passaram a ser abordadas como modos de ver. Aqui busco elucidar as sensações, as impressões, a fascinação, o deslumbre e as interações com a floresta, do impulso de contemplar e refletir sobre a importância daquele lugar, das experiências

que ele pôde me proporcionar. Me estabeleci então no ato de parar e olhar para cima, de admirar o céu, constatar com calma o meu entorno, ver beleza nos detalhes e acima de tudo notá-los, captá-los e contemplá-los dentro de um cenário – exercício que o plano aberto me possibilitou. A nossa rotina não nos permite ter essa oportunidade, esse intervalo para olhar de diferentes ângulos, de enxergar novas perspectivas, nem sequer de sossegar nesse tempo que não dá trégua, que não espera ninguém. Nos tons de verde, azul e marrom vi se formar uma paleta de cor harmônica e reconfortante, tudo isso banhado pela luz e o calor do sol. Parte da história por trás da visualidade do ensaio se revela na sensação de calma, no cheiro, nos sons, no toque e na temperatura que me despertaram esse estado de suspen-

são e de inércia que integraram parte do processo de criação e execução do ensaio. Eu, enquanto visitante de primeira viagem neste lugar tão lindo, rico, encantador a até um tanto místico, me vi rodeada de conforto. Envolvimento me remete a abraço, do sentimento de se sentir envolto pela floresta e sua natureza, natureza esta que foi construída pela mão humana, – tendo em vista que a floresta foi replantada – o que de forma alguma retira a validade de seu “natural” e sim me aproxima e me torna mais familiarizada com essa natureza. O estado padrão da subjetividade contemporânea é o abandono, a falta de interação substancial, a relação com o outro acontece à distância reforçando ainda mais o muro entre o sujeito e o outro, impedindo que se vejam como


semelhantes e parte de uma mesma sociedade, de um todo. O abraço com sua naturalidade e espontaneidade se tornaram um tanto raros, e o valor atribuído a ele e a atenção dada por mim aos seus efeitos e benefícios passaram a ser notados com mais especificidade. O abraço está sendo abordado aqui como uma suspensão do tempo, pois remete ao conforto da vida intrauterina que precede a capacidade de noção do tempo, onde a temporalidade e suas consequências não são conhecidas. Uma vez abraçada pela floresta, identifico a oportunidade para uma pausa, um incentivo a descontinuar o ritmo em que me encontro e contemplar, congelar o tempo, me perceber envolvida de acontecimentos importantes, atribuir o meu valor pessoal – individual e coletivo – aos simples eventos da floresta e suas diversas possiblidades, me descobrindo como parte deles e de sua natureza. Como disse Roland Barthes “a subjetividade absoluta só

é atingida num estado, um esforço de silêncio”. E nessa interação, a floresta não é passiva, eu sinto e observo a floresta e ela me observa de volta.


O ENSAIO

































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