Exposição Rui Chafes - Carne Misteriosa

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Belas Artes

Exposição: Rui Chafes - Carne Misteriosa Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Nicole Soares de Souza Rio de Janeiro, 2013.


Em exibição no MAM - Museu de Arte Moderna, a exposição “Carne Misteriosa” com curadoria de Marcio Doctors, exibe 87 obras do artista Rui Chafes, que tem sua primeira mostra individual no Brasil. Por ocasião do ano de Portugal no Brasil, Doctors nos apresenta a obra e as inspirações de um dos escultores portugueses mais importantes da atualidade. A exposição pode ser contemplada tanto de baixo quanto de cima, o que induz diferentes olhares do expectador. Ao chegar à exposição depara-se com grandes esculturas suspensas e mais sete salas – estas contam também com esculturas sobre elas – abrigando esculturas menores, além de projeções, gravações e fotografias. Mudando de perspectiva pode-se subir ao andar de cima e, do alto, observar melhor as esculturas antes vistas de baixo, além de vislumbrar alguns textos do curador sobre o teto de certas salas. Uma das coisas que mais impressionam em suas esculturas é a admirável leveza que elas transmitem, apesar do material com que foram confeccionadas, – a escultura ao lado é composta de duas bolas de ferro sobre uma malha também de ferro e pesa cerca de 400kg – segundo o artista: “Há escultores a quem interessa o material. A mim, não. Para mim, isso (aponta para uma escultura) não é ferro: é uma nuvem de fumaça.” “Um sopro dolorosamente suave”, 2001.

Rui Chafes é um grande admirador do romantismo alemão, que inspira suas obras, – muitas de suas esculturas levam versos do poeta alemão Novalis (1772-1801) em seus títulos – ele diz: “Não acredito que os objetos existam, a única existência é a das ideias. [...] Uma forma sem um sentido é uma casca vazia e não me interessa”. Na sala seis, a instalação “O silêncio de...” exemplifica muito bem a maneira desprendida com que Chafes lida com a forma e a materialidade. A obra consiste – até o momento – em 40 caixinhas de aço que guardam papéis em cinzas de seus escritos produzidos a cada ano. O conceito é reforçado com a explicação do próprio artista:


“Se escrever pode ser um ato de libertação, queimar as palavras também o é [...] Depois ela virá a transformar-se em pólen que, levado pelo vento, espalhará a floração das memórias e dos segredos”.

“O silêncio de...”, 1964-2012.

A exposição cumpre plenamente a proposta de unir “o ferro e as palavras” e ainda vai além; ela as desmaterializa, assim como Chafes o faz. A aproximação com o expectador é feita de uma forma muito íntima e reflexiva, – efeito propiciado pela disposição das obras e divisão dos espaços, que torna o entendimento da exposição algo crescente e organizado – de modo que, à medida que se percorre cada espaço, este se vê completamente envolvido pela atmosfera criada com as obras e as ideias do artista, vivenciando o processo de chegar ao local um tanto alheio a tudo aquilo e deixá-lo totalmente absorto em cada um dos conceitos de uma forma bem clara. ***


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