PÓVOA
DE
LANHOSO
C I T Â N I A ,
C A S T E L O ,
E
S A N T U Á R I O
“Póvoa de Lanhoso: Citânia, Castelo e Santuário’’
Estudo contextual-urbanístico dos diferentes tipos arquitectónicos nas respectivas épocas. Local de estudo: Serra do Pilar, Vila da Póvoa do Lanhoso, Concelho de Braga. Equipa de Trabalho: Leila Cacilda Marlon Paiva Rui Costa Ferreira Orientação: Profª Carla Garrido
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto - História da Arquitectura Portuguesa - 2009/2010
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SUMÁRIO
Sumário
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Introdução
07
1. P ó v o a
09
de Lanhoso: Caracterização e Análise do Caso de Estudo
1.1 1.2
Localização e Enquadramento Urbano Estudo da Orografia Envolvente Ÿ Topografia Ÿ Hidrografia 1.3 Cronologia e Evolução Urbana
10 13 13 14 16
2. A C i t â n i a d e L a n h o s o e a E s t a ç ã o L u s i t a n o - R o m a n a
19
2.1 2.2 2.3 2.4
20 21 23 25
Enquadramento e Localização A Cultura Castreja e a Citânia de Lanhoso Planta de Reconstituição da Citânia de Lanhoso A Estrada Lusitano-Romana XVII
3. O C a s t e l o d a P ó v o a d e L a n h o s o
27
3.1 Enquadramento Histórico e Estudo do Tipo 3.2 Levantamento e Intervenções Realizadas pela D.G.E.M.N 3.3 O Recinto Defensivo e a Muralha do Castelo de Lanhoso Ÿ Quadro Comparativo: Castelo de Lanhoso / Castelo de Guimarães
28 30 35 35
4. O S a n t u á r i o d e N o s s a S e n h o r a d o P i l a r
38
4.1 4.2
Enquadramento Histórico e Localização O Percurso de Peregrinação e as Capelas Ÿ Levantamento do actual percurso Mariano de acesso ao santuário 4.3 A Igreja de Nossa Senhora do Pilar 4.5 Levantamento da Capela do 8º passo da paixão de Cristo
39 40 44 46 49
Considerações Finais
62
Bibliografia
64
Anexo Documental
66
CD com esta edição em formato PDF, icónofrafia, arquivos de trabalho em AutoCAD, levantamentos e outros materiais de trabalho conclusivos para esta edição.
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INTRODUÇÃO
A considerar o principal objectivo deste estudo – a caracterização e análise de um espaço territorial no âmbito do desenvolvimento prático da cadeira de história da arquitectura portuguesa- este trabalho procura desenvolver um caso particular de um conjunto arquitectónico e sua respectiva inserção urbana dentro do território português, que nos serve como ferramenta interdisciplinar e de reconhecido contributo num futuro momento que se refere ao trabalho profissional. Neste sentido, este trabalho procura desenvolver uma leitura territorial e urbana de Póvoa de Lanhoso e seu respectivo conjunto arquitectónico assente na Serra do Pilar, procurando perceber as diferentes épocas de ocupação humana neste território e suas actuais influências no espaço que lá permanece edificado. Deste modo, é inerente perceber a existência destas diferentes épocas como marcos temáticos e direcionais deste estudo de caso que acabam por organizar a leitura do território realizada pela equipa de trabalho. Assim, o trabalho procura abordar deste o estudo orográfico como factor potencial de desenvolvimento deste pequeno núcleo urbano, bem como sua cronologia histórica que remota desde o período pré-histórico com a Citânia de Lanhoso, passando pelas intervenções romanas, pelo período aúreo medieval com o Castelo de Lanhoso, até a chegada do românico com a implantação do Santuário de Nossa Senhora do Pilar com seu conjunto de capelas e Igreja como um grande e rico conjunto arquitectónico presente até os dias actuais. Para além disso, é objectivo deste estudo, para além da apresentação indicativa destes diferentes momentos da história portuguesa, estabelecer relações entre estes objectos de análise a outros exemplos que percorrem assentes no noroeste peninsular como forma de perceber a pertinência de cada caso estudado.
07
1. PÓVOA DE LANHOSO: CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DO CASO DE ESTUDO
P ÓV O A D E L A N H O S O : C A R A CT E R I Z A Ç Ã O E A N Á L I S E D O C A S O D E E ST U D O
1 1.1 L O C A L I Z A Ç Ã O E E N Q U A D R A M E N T O U R B A N O Situado na região do Minho, ao norte de Portugal, e posicionado geograficamente entre a margem esquerda do Rio Cávado e a margem direita do Rio Ave, o concelho da Póvoa de Lanhoso, local de encontro e apreciação deste caso de estudo, possui uma posição estratégica e privilegiada localização face aos relevantes maciços rochosos presentes na região. Destes, se destaca a Serra do Pilar como tema base deste trabalho, e a topografia marcante que circunda o concelho a formar assim as diferentes bacias hidrográficas. Além desta importante componente orográfica de localização do concelho, é importante localizar a presença dos concelhos de Braga, Guimarães, Fafe, Vieira do Minho e Amares como limites políticos deste território, sendo Braga, sede do distrito, que fica a 15 km, Guimarães a 18 Km e o Parque Nacional de Peneda Gerês a 30 km¹.
Neste sentido, a parte mais alta do monte é constituída por um imponente afloramento rochoso onde se implanta o castelo medieval roqueiro sobranceiro à vila de Póvoa de Lanhoso. A meia encosta, no caminho de acesso ao castelo, as obras de restauro realizadas pela D.G.E.M.N. acabaram por revelar a implantação de vestígios da ocupação de um povoado proto-histórico romanizado, denominado aqui de Citânia de Lanhoso, que se encontra sobranceiro a um pequeno vale fértil e bem irrigado, no qual confluem as ribeiras da Póvoa, Pereira e Pregal, pertencentes à bacia do Ave. Ainda no alto do monte, dentro das muralhas do castelo ergue-se o Santuário em devoção a Nossa Senhora do Pilar, com uma tortuosa via sacra desde o sopé do referido monte, pontuada por 10 capelas, uma igreja e um edifício de apoio aos romeiros, com um restaurante e uma estrutura que sustenta os sinos, conforme identificado no local³.
Esta situação privilegiada faz do Monte composto pela Serra do Pilar um local de passagem e paragem, bem como uma interessante reserva objectual de estudo, apresentando fragmentos importantes da história da arquitectura portuguesa que até hoje permanecem assentes no território e que compõem, com sua envolvente directa, uma sucessão de camadas que foram sendo sobrepostas ao longo das diferentes épocas, desde as primeiras ocupações castrejas até ao moderno traçado presente no ambiente contemporâneo. No que toca a tipomorfologia, a Vila da Póvoa de Lanhoso, de enquadramento urbano implantado no vale da Ribeira do Pregal e da Ribeira da Póvoa, possui uma forte vertente rural dada a sua posição geográfica. As edificações que compõem o perfil do tecido urbano estão, à excepção do centro da cidade, dispersas pelo território, sendo na sua grande maioria de uso residencial². Assim, o caso de estudo, com características rurais e de grande importância defensiva em outras épocas da sua história, assume-se implantado em esporão de altitude média, com cota máxima de 385m, no maciço montanhoso conhecido por Laje Grande, que divide as bacias do Rio Cávado e do Rio Ave.
¹ Fonte: Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso: http://www.mun-planhoso.pt/ ² Fonte: Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, gabinete de Urbanismo; ³ Fonte: D.G.E.M.N., O Castelo de Lanhoso, boletim nº 29, Lisboa, 1942
Acima: Imagem aproximada do caso de estudo. Serra do Pilar e sua componente arquitectónica. Imagem à partir da base do monte. Fonte: Arquivo da equipa de trabalho, 05/2010. À Esquerda: Mapa de localização do caso de estudo com orografia geral da Península Ibérica e aproximação aérea da região de Braga. O ponto em vermelho representa a localização do Monte da Serra do Pilar dentro da orografica apresentada no Conselho da Póvoa de Lanhoso; Fonte: http://maps.google.pt
À Direita, pág.11: Imagem panorâmica da Serra do Pilar a partir da Serra do Carvalho a sudeste, com a marcação dos principais montes e serras em sua envolvente bem como dos principais elementos naturais que compõem a orografia da região. Fonte: Arquivo da D.G.E.M.N. do ano de 1993. Abaixo, carta militar da região do Concelho da Póvoa de Lanhoso. Fonte: Biblioteca da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nº 57, 1963.
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Monte Grande
Monte de Calvos
Vale da Ribeira do Pregal e da Ribeira da Póvoa
Serra de Santo Tirso
Serra do Pilar
Serra de São Mamede de Penafiel
Vale da Lage Grande
Monte Vermelho
H I ST Ó R IA
Imagem panorâmica à partir da Serra do Carvalho. Consultar Carta Militar presente na página 12 com indicação planimétrica dos diferentes montes indicados nesta imagem.
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1
Ver Imagem da pág 11 Serra do Pilar
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g1 1
Carta Militar do Concelho da Póvoa de Lanhoso de 1963. Fonte: Arquivo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nº 57 0
12
50
100 kilômetros
Planta Base de estudo Orográfico Regional do Concelho da Póvoa de Lanhoso. Fonte: Arquivo da equipa de trabalho, 11/2009. 0
25
50
75
100
125
150
175
200
225
250
275
300
325
350
375 metros
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Bacia do Rio Cávado
DA
Monte Vermelho
Monte de Cuvelos
Serra de Santo Tirso
Laje Grande
Serra do Pilar
Serra da Encosta
Serra do Carvalho (2º plano)
H I ST Ó R IA
Vale da Ribeira de Vides
Pedra do Outeiro
Monte de Calvos
Vale do Ribeirão do Pontido
Serra do Pilar
Serra de Santo Tirso (2º plano)
Serra do Carvalho
SECÇÃO LONGITUDINAL 01
SECÇÃO TRANSVERSAL - 01
SL-01
B
1.2 E S T U D O D A O R O G R A F I A E N V O L V E N T E
TOPOGRAFIA: A - Rio Cávado
ST
-0
1
«O Entre-Douro-e-Minho constitui uma região natural com originalidade geomorfológica, resultante da natureza geológica dos seus diferentes terrenos, do relevo, do solo, das condições climáticas e do revestimento vegetal. Trata -se de uma região litoral, montanhosa e pluviosa que se inscreve, no ponto de vista litológico, no complexo Centro Ibérico, constituído pelas formações xisto grauváquicas, de tipo Plisch, interrompidas por importantes formações graníticas e estriadas por alinhamentos quartzíticos de direcção NO/SE e O/E.(...) Tratando-se basicamente de vales talhados no granito, possuem em geral um fundo largo e plano, de maturidade avançada, ladeado por vertentes muito inclinadas, por vezes abruptas, nas partes mais afastadas do talvegue. Estas características relacionam-se com a natureza da rocha e com o princípio da imunidade das escarpas graníticas 4.
SL-01
ST
-0
1
Serra do Pilar
B - Rio Ave
LOCALIZAÇÃO ESQUEMÁTICA
A
Neste sentido, a topografia da região é composta predominantemente por maciços rochosos que formam os diferentes vales, a escoar as águas para as duas principais bacias hidrográficas presentes no território: bacia do rio Cávado e bacia do rio Ave 5. O afloramento rochoso mais significativo, onde se situa o caso de estudo, possui o granito como principal composição física com uma cota máxima de 385m implantada numa região com altimetrias que variam entre os 300 e os 600m de altitude como podemos identificar nas secções para o estudo da área.
Acima: Perfis longitudinal e transversal da região da área de estudo e mapa de localização da Serra do Pilar em relação aos tramos dos Rios Cávado e Ave. À Esquerda: A - Imagem ilustrativa de um tramo do rio Cávado na próximidade à Ponte da Barca, ano de 2009; B - Imagem ilustrativa de um tramo do rio Ave na próximidade do Concelho de Vila do Conde, ano de 2009.
4 5
Martins, Manuela. O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 44. D.G.E.M.N., O Castelo de Lanhoso, boletim nº 29, Lisboa, 1942.
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1 Serra de S. Mamede de Penafiel
Serra de Santo Tirso
01
02
03
04
05
06
07
08
02
01
03
Serra do Carvalho
08 04
Monte de Calvos
05 07
06
Monte Grande
Serra da Encosta
1º Plano Visual 2º Plano Visual Ribeira do Pontido
HIDROGRAFIA: Como principais linhas hidrográficas que percorrem a região, sem dúvida o rio Cávado e o rio Ave exercem um importante papel de interesse neste caso de estudo dada a localização, na proximidade dos seus vales, de importantes acontecimentos que permeiam a história evolutiva da arquitectura portuguesa: desde a implantação dos primeiros povoados proto-históricos, passando pelas intervenções romanas de ocupação do território com seus eixos viários e posteriormente pela proximidade à implantação das primeiras comunidades medievais até aos dias actuais. O rio Cávado nasce na Serra do Larouco, a uma altitude de cerca de 1520 m, percorre os concelhos de Braga e Barcelos, desaguando o seu leito no Oceano Atlântico junto a Esposende, após um percurso de 135 km. Assim, a bacia hidrográfica do rio Cávado é limitada, a norte, pela bacia hidrográfica do Rio Lima e, a este e sul, pelas bacias do Rio Douro e do Rio Ave, possuindo uma área equivalente a 1600 km² e um escoamento anual de, em média, 2123 hm3. Estima-se que a bacia hidrográfica do rio Cávado apresente uma capacidade total de armazenamento de recursos hídricos na ordem dos 1180 hm3, em regime regularizado, valor que corresponde a q u a s e 3 0 % d o t o t a l e x i s t e n t e e m P o r t u g a l . O rio Ave, outro importante rio da região, nasce na Serra da Cabreira, concelho de Vieira do Minho, a cerca de 1200 m de altitude, no Pau da Bela e percorre cerca de 85 km até desaguar no Oceano Atlântico, a sul de Vila do Conde. A sua bacia hidrográfica tem uma área aproximada de 1390 km2, abrangendo 15 municípios. O rio banha sucessivamente os concelhos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde, abrigando como afluentes mais significativos o rio Este (margem direita) e o rio Vizela (margem esquerda). Entretanto, este recurso hidrográfico encontra-se bastante poluído, devido aos efluentes industriais e domésticos que desde há décadas contribuem para que, na prática, se tenha tornado um rio morto, apesar de ainda ter vida fluvial. Sua despoluição ainda não se encontra em fase final de execução. Para além destes, é importante ressaltar a importância dos afluentes que convergem para a bacia do rio Ave, tais como a Ribeira do Pontido e Ribeira de Frades, com nascentes na Serra de São Mamede de Penafiel e que, juntamente com a Ribeira do Pregal formam o vale da Ribeira da Póvoa que permeia a cota mais baixa onde se situa a actual implantação da Vila da Póvoa de Lanhoso. Neste sentido, é importante identificar a Ribeira do Pontido como importante recurso hídrico decisivo para a implantação das comunidades castrejas na encosta da Serra do Pilar, bem como seu manejo para o abastecimento da comunidade medieval assente no cume do monte em fases posteriores. 14
Nesta página: Imagens relativas à envolvente a partir do Castelo da Póvoa de Lanhoso a uma altitude de 385m. Arquivo de levantamento fotográfico da equipa em 10/2009.
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01 - Década de 80 (D.G.E.M.N.)
03
A
01
02
01 - Ano de 2010 (arquivo de levantamento) B
B’
C
C’
A’
1º Plano Visual
04
2º Plano Visual Ribeira do Pontido
02 - Década de 80 (D.G.E.M.N.)
SECÇÃO LONGITUDINAL - AA’
SECÇÃO TRANSVERSAL - CC’
SECÇÃO TRANSVERSAL - BB’
02 - Ano de 2010 (Arquivo de levantamento)
03 - Década de 80 (D.G.E.M.N.)
04 - Década de 80 (D.G.E.M.N.)
Nesta página: Imagens relativas ao monolítico granítico da Serra do Pilar que documentam, as transformações nomeadamente as da vegetação em um período de 30 anos. Arquivos D.G.E.M.N. da década de 80 e levantamento da equipe realizado em 05/2010.
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1 1.3 CRONOLOGIA E EVOLUÇÃO URBANA: O QUADRO DA OCUPAÇÃO NA PENÍNSULA IBÉRICA VS. O QUADRO DA OCUPAÇÃO DA SERRA DO PILAR:
QUADRO ETNOLÓGICO
LIMITES DOS PRIMEIROS REINOS
IDADE MÉDIA - ano 1114
IDADE MÉDIA - ano 1143
Península Ibérica a partir do século III a.C. Ocupação por povos nômades.
Ocupação Visigótica e sueva na península ibérica à partir de 409 d.C.
Dominios das irmãs Dona Teresa e Dona Urraca dentro da península antes da formação do condado Portucalense.
Formação do Condado Portucalense e domínios de reinados cristãos. Avanço da ocupação árabe a sul da península.
O QUADRO CRONOLÓGICO DE LEVANTAMENTO DE FACTOS HISTÓRICOS E EVOLUTIVOS DO TERRITÓRIO:
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IDADE DO FERRO - 411 a.C.
IDADE MÉDIA - SÉC. X/XI/XII e XIII
IDADE MODERNA - SÉC. XVII e XVIII
IDADE CONTEMPORÂNEA - SÉC. XX
Florescimento dos castros no noroeste peninsular. Possível período de assentamento da comunidade castreja de lanhoso.
Castelo de Lanhoso e vestígios da antiga fortaleza préromânica no ponto mais alto da Serra do Pilar.
Construção do Santuário Mariano em honra a Nossa Senhora do Pilar (1680-1724) a semelhança de Bom Jesus do Monte em Braga.
Construção da estrada de acesso ao Castelo de Lanhoso, preservação do sítio arqueológico castrejo e obras de restauro.
17
2. A CITÂNIA DE LANHOSO E A ESTAÇÃO LUSITANO ROMANA
A C IT Â N IA D E LA N H O S O E A E STA Ç Ã O L U S ITA N O - R O MA NA
2
03
02
Citânia de Lanhoso
01
Área do Sítio Arqueológico Castros em Lanhoso Esquema Defensivo Ribeira do Pontido
2.1 L O C A L I Z A Ç Ã O E E N Q U A D R A M E N T O U R B A N O
O Castro da Póvoa de Lanhoso, ou ,como se referem diversos autores, a Citânia de Lanhoso, constitui-se por vestígios de um povoamento proto-histórico romanizado, presente na bacia do médio Cávado (Manuela Martins, 1999, 56). Situado a meia encosta do Monte da Serra do Pilar (Latitude: 41°35'9"N; Longitude 8°16'47"W) a uma altitude de 385m, o povoado encontra-se voltado a um pequeno vale fértil e bem irrigado, no qual confluem as ribeiras da Póvoa, Pereira e Pregal, pertencentes à bacia do Ave, com a sua implantação assente no maciço montanhoso conhecido como Laje Grande, que divide as bacias do Cávado e do Ave. O povoamento, embora referenciado desde finais do séc. XIX, foi sobretudo dado a conhecer por Carlos Teixeira, a partir das escavações que aí realizou nos anos 30 e 40 deste século (Manuela Martins, 1999,56) e é constituído por um conjunto de alicerces de cinco casas, dispondo-se em pequenos socalcos, com plantas circulares, com um diâmetro de aproximadamente 4,5m, e rectangulares, sendo a espessura das paredes de 0,40m (D.G.E.M.N., 1994). Observam-se ainda restos de pavimentos lajeados e, na vertente Este, restos de uma fortificação que deveria rodear a plataforma onde se encontram as estruturas. Ainda, como descreve Manuela Martins, é totalmente impossível definir quantas muralhas possuiria o povoado. De facto, este encontra-se bastante alterado pelas construções existentes na vertente, pelas terraplanagens para a construção dos parques e ainda pela densa mata que cobre o cabeço6. Como percurso cronológico, realizado pela DGEMN, podemos indicar o seguinte desenvolvimento na ocupação Serra do Pilar: Calcolítico / Bronze Inicial - O espólito arqueológico aqui identificado, nomeadamente o cerâmico, indica uma seqüência da ocupação humana iniciada neste período; Idade do Ferro - Continuação da ocupação Humana; Época Romana - Fim da ocupação castreja e início da tomada estratégica do monte como território de defesa e de paragem: estação lusitano-romana; Século XVII - Construção do Santuário mariano e da via de peregrinação que acompanha as capelas dos passos; 1938 - Abertura de estrada de acesso ao Santuário da Senhora do Pilar e ao Castelo, que corre pela vertente Este do monte e aparecimento dos vestígios castrejos; 1938/1939 - Escavações Arqueológicas por Carlos Teixeira7; 1942/1943 - Trabalhos pequenos de intervenção pela DGEMN; 1988 - Escavações que demonstraram uma grande destruição dos níveis arqueológicos mais antigos, perturbados por sucessivas reocupações. 6 7
MARTINS, Manuela. O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 44. TEIXEIRA, Carlos. Notas arqueológicas sobre o Castro de Lanhoso, Porto, 1940.
20
Acima: Mapa de localização da Citânia de Lanhoso e Esquema estratégico de defesa. imagens: 01. Estrutura do Castro de Lanhoso Reabilitada. 02: Vestígios castrejos na encosta do Monte da Serra do Pilar pertencentes às comunidades castrejas da Citânia de Lanhoso. 3: Imagem da DGMN, do Castro de Lanhoso à norte em1970.
01
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O QUADRO EVOLUTIVO CASTREJO E A ROMANIZAÇÃO:
via XVII
via XVIII via XIX
PRINCIPAIS
NÚCLEOS
DE
POVOAMENTO
QUADRO
DE
INFLUÊNCIA
DOS
NÚCLEOS
POLÍGONOS
¹DistribuiçãodossítioseachadosromanosdocursodomédioCávadoeáreadeinfluênciaedomínioestratégicosegundo Manuela Martins. (in: Martins, Manuela. O Povoado Proto-Histórico e a Romanzação da Bacia do Médio Cávado. U n i v e r s i d a d e d o M i n h o , B r a g a , 1 9 9 0 , p á g . 2 3 5 )
APROXIMAÇÃO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CONSELHO DE BRAGA
ESTRATÉGICOS
DE
DEFESA
R O M A N I Z A Ç Ã O
E
I N T E R V E N Ç Õ E S
Região de Braga
Núcleos de povoamento na proximidade
Brácara Augusta
Possível área de influência
Póvoa de Lanhoso
Possível perímetro estratégico do Castro de Lanhoso
Vias Romanas Secundárias Via Romana Principal (XVII)
Cartografia base¹
2.2 A C U L T U R A C A S T R E J A E A C I T Â N I A D E L A N H O S O
A cultura castreja encontra-se cronologicamente entre cerca do ano 500 a.C e o ano 500, período que corresponde a uma altura de inúmeras aculturações por povos celtas, os celtibéricos ou os túrdulos, sendo a escolha do sítio uma peça fundamental para a implantação do povoado, que se fazia consoante a topografia e na proximidade de vales férteis que possibilitassem a caça mas, também, modos arcaicos de agricultura e pastorícia. Com o advento da Idade do Ferro e o florescimento dos castros no Noroeste Peninsular, segundo Mário Jorge Barroca, assistimos a um dos momentos áureos e de maior personalidade do habitat fortificado, onde a estrutura peculiar dos seus povoados constitui uma das melhores formas para definir essa cultura. Na área do médio Cávado foram cartografados, segundo Manuela Martins, 45 povoados fortificados, sendo parte integrante deste número a Citânia de Lanhoso. Com a sua presença estratégica na encosta do Monte da Serra do Pilar, percebe-se que o povoado, voltado a NE, estabelece uma importante relação com a envolvente o que lhe confere importantes recursos naturais oriundos do vale assente na Laje Grande, bem como notável presença defensiva com o monolítico à rectaguarda e uma extensa visibilidade e isolamento em relação à proximidade com os povoados existentes principalmente na Serra de Sto Tirso, São João de Rei e Monte Vermelho. Neste sentido, ao observar a orografia da região, conforme podemos confirmar no primeiro capítulo deste trabalho, Martins defende a existência de alguns polígonos de defesa. Tais polígonos, para além de se estabelecerem através da posição estratégica de implantação dos castros, deveria admitir também a possível leitura , de forma mais abrangente, à topografia envolvente aos assentamentos.
Povoados castrejos Citânia de Lanhoso Brácara Augusta Via Romana Brácara-Chaves (XVII) Limites do Concelho da Póvoa de Lanhoso
Sendo assim, a equipa defende que faria sentido perceber a Serra de Santo Tirso e a Serra do Carvalho, em primeiro plano, e a Serra de São Mamede de Penafiel e o Monte Vermelho, em segundo plano, como limites claros destas tais linhas que poderiam vir a traçar um polígono de defesa para a Citânia de Lanhoso, restando, com isso, apenas o vale da Laje Grande como espaço de maior atenção defensiva, sendo esta, juntamente com a favorável tropografia na encosta oeste da Serra do Pilar, uma possível estratégia de implantação da comunidade castreja de Lanhoso. 8
MARTINS, Manuela. O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 235.
21
A C IT Â N IA D E LA N H O S O E A E STA Ç Ã O L U S ITA N O - R O MA NA
2 QUADRO GEOGRÁFICO E A IMPLANTAÇÃO CASTREJA DE LANHOSO:
1 - Moderno-aluviões actuais 2 - Praias antigas e terraços fluviais
Povoados castrejos
3 - Silurica-carneanas. Xistos andaluzicos
Citânia de Lanhoso
4 - Silurica-carneanas. Peliticos e quartzo
Brácara Augusta
5 - Granitos calco-alcalino
Via Romana Brácara-Chaves (XVII)
6 - Granito alcalino
Mapa geológico do curso do médio Cávado e implantação dos sítios arqueológicos (in: Martins, Manuela. O Povoado Proto-Histórico e a Romanzação da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág.49)
Limites do Concelho da Póvoa de Lanhoso
Aproximaçãoda área de influência do concelho de Braga e marcação da região de implantação das principais comunidades castrejas presentes na envolvente directa à da Citânia de Lanhoso.
PERÍODO CALCOLÍTICO - Posicionamento estratégico de defesa castreja
Castro em Friade
Castro de S. João de Rei SÉCULO XX - Ruinas do povoado castrejo e abertura de vias de acesso ao santuário
Castro de Lanhoso
Secção transversal na Serra do Pilar. Paralelo entre a reconstituição topográfica com a implantação das primeiras comunidades castrejas e a inserção da estrada de acesso ao Santuário de Nossa Senhora do Pilar construída no século XX. Ver mapa comparativo na página 23.
22
01 - Vestígio castrejo após escavações na encosta da Serra do Pilar.
02 - Reconstituição de uma habitação castreja. Altura média de 1,60m até a possível cobertura.
PÓVOA DE LANHOSO: CITÂNIA, CASTELO E SANTUÁRIO H I ST Ó R IA
Planta de reconstituição do perfil original do terreno de assentamento da comunidade castreja. Implantação do Castro de Lanhoso Escala: 1:500
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P O RT U G U E SA
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2009 / 2010
Sítio arqueológico da Citânia de Lanhoso Via de acesso ao Castelo de Lanhoso (1939)
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A C IT Â N IA D E LA N H O S O E A E STA Ç Ã O L U S ITA N O - R O MA NA
2 QUADRO VIÁRIO ROMANO NO NOROESTE PENINSULAR: Limites do Concelho da Póvoa de Lanhoso Via Romana XVII Bracara-Chaves Hidrografia Regional Serra do Pilar Póvoa de Lanhoso Cidades Romanas
50
0
100 km
Via romana XVII. Mapa de localização da via principal de ligação Bracara Augusta - Aquae Flaviae em relação aos concelhos existentes na actualidade e à hidrografia regional.
01 Mapa geral das vias romanas no noroeste peninsular e marcação em vermelho da via romana XVII (Bracara Augusta - Aquae Flaviae)
24
Carta da Lusitânia romana segundo Hubner. Indicação de rios, povoações e traçado conjuntral das vias
02
Imagens da possível hipótese de ligação da estrada romana XVII ao Castelo de Lanhoso, atravessando a citânia castreja. Imagens da utilização do canal viário como roteiro de peregrinação mariano. 01 - 05/2010; 02 - déc. de 80 (D.G.E.M.N.)
PÓVOA DE LANHOSO: CITÂNIA, CASTELO E SANTUÁRIO H I ST Ó R IA
via XVII
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via XIX
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2009 / 2010
via XVII
Limites do Concelho da Póvoa de Lanhoso Via Romana XII Bracara-Chaves
Miliários
Hipótese de ligação com a Citânia de Lanhoso Póvoa de Lanhoso
Exploração Vilas Romanas Tesouros Povoados castrejos
Bracara Augusta
via XVIII
Aproximação da área de influência do Concelho de Braga e principais influências da romanização.
Aproximação da área de influência do Concelho de Braga. Delimitação da área de estudo.
2.4 A E S T R A D A L U S I T A N O - R O M A N A X V I I:
De entre as várias marcas deixadas pela ocupação romana no território, talvez uma das mais importantes seja a necessidade de ligar as diferentes cidades de implantação romana, ligando assim não somente estes novos territórios urbanos, mas constituindo também uma tentativa de intervir culturalmente nos povoamentes ocupados ao percorrer o seu traçado e evolução na conquista da península ibérica. Neste sentido, o caso de estudo insere-se na área abrangida pelas vias referidas no Itinerário de Antonio: a via XVII (BRACARA-ASTURICA por Chaves); a via XVIII (BRACARA-ASTURICA- pela Serra do Gerês e por Orense) e a via XIX (BRACARA-LUCUS) por Ponte de Lima e Tuy . 8
Neste sentido, o traçado da via XVII, que sairia de Braga por Gualtar, em direcção a NE, seguindo pela vertente Sul da Serra do Carvalho, segundo Manuela Martins, parece coincidir pontualmente com o percurso da estrada actual Braga-Chaves. As inúmeras estações e vestígios referenciados demonstram uma intensa ocupação, sendo a proximidade da região em relação a Bracara Augusta e as vias que saíam da cidade um importante dado no que diz respeito ao favorecimento destas ocupações, bem como das características geomorfológicas e hídricas existentes . 9
Imagens pág.24
Hipótese de ligação com a Citânia de Lanhoso Via Romana XVII segundo Manuela Martins
Com isso, supõe-se como hipótese de ligação ao traçado desta via um caminho que, acompanhando as curvas de nível do Monte da Serra do Pilar, estabeleceria a conexão entre o povoado conquistado alí assente, denominado Estação Lusitano-Romana, que estaria situada, segundo D.G.E.M.N. na estrada para o Castelo da Póvoa de Lanhoso, provando assim a necessidade de ocupação do cume do monte como ponto importante na estratégia defensiva. Neste sentido, a equipa de trabalho admite que a necessidade da tomada estratégica do monte pelos romanos e a conseqüente romanização da comunidade castreja a Este da Serra do Pilar teria como uma de suas marcas principais a implantação deste caminho que facilitaria a chegada à cota mais alta do monte, bem como o domínio e culturalização do povoado. Para além disso, ao perceber a proximidade com a via principal romana de nº XVII, como propõe Manuela Martins, poderia se pensar a ligação a vila romana nas proximidades do actual concelho da Póvoa de lanhoso, conectando-a assim ao troço da referida via principal (Bracara Augusta - Aquae Flaviae). Não obstante, a estrada construída no séc. XVIII para acesso ao santuário mariano representaria um marco na utilização deste canal viário já desenhado noutra altura pelos romanos. 8 9
MARTINS, Manuela. O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 44. TEIXEIRA, Carlos. Notas arqueológicas sobre o Castro de Lanhoso, Porto, 1940.
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3. O CASTELO DA Pテ天OA DE LANHOSO
O C A ST E L O D A P ÓV O A D E L A N H O S O
3
Castelo de Lanhoso
Castelo de Lanhoso Esquema Defensivo Ribeira do Pontido
3.1 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E ESTUDO DO TIPO:
O Castelo de Lanhoso é um dos mais imponentes castelos roqueiros portugueses no que diz respeito a sua implantação, como indicado por diversos autores¹. Erguido no alto do maior afloramento granítico português, apresentava, nos tempos medievais, um acesso difícil e ímpar entre os nossos castelos. Os muros do Castelo de Lanhoso apresentam, segundo descrito por Mário Jorge Barroca², quatro fases distintas: uma pré-românica, outra proto-românica, uma terceira da Baixa Idade Média e, por fim, a reconstrução levada a cabo pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Ainda segundo Barroca, «a fase mais antiga, pré-românica, encontra-se representada por um aparelho de construção não-isódomo, com silhares de dimensões muito diversas e ostentando múltiplos «cotovelos», entalhes rectangulares para a articulação com outros silhares. Algumas dessas pedras apresentam almofadado, num ou noutro caso acompanhados de «cotovelos». O almofadado de Lanhoso, que inclui alguns silhares de dimensões reduzidas, não deve resultar do reaproveitamento de materiais romanos, provenientes do castro que se implantava a meia encosta, mas antes ser a conseqüência de revivalismos classicistas que então se verificam. A planta definida por este aparelho, indicada ao lado, concorda em quase toda a extensão com o perímetro do actual castelo, mas na fachada principal, onde se ergue a Torre de Menagem, tinha uma organização distinta. Essa fachada, voltada a Leste, possuía originalmente três torreões eqüidistantes. Deles apenas sobreviveram dois - o Norte reduzido ao seu alicerce e o Sul parcialmente embutido na Torre de Menagem. A Torre de Menagem veio destruir esta organização e plantar-se sobre o torreão central, destruindo-o na sua quase totalidade. Apenas são visíveis ténues vestígios, de difícil identificação já que se procedeu ao desmonte dos seus cunhais. Na base destes três torreões pré-românicos desenvolve-se, ainda hoje, uma larga sapata que acompanha o contorno dessas construções, não se desenvolvendo muito em altura. Nas restantes zonas o castelo pré-românico devia acompanhar quase todo o perímetro actual, como nos garante a existência de trechos do mesmo tipo de aparelho junto da base dos muros. Apenas no arranque do muro do Norte ele erguia-se um pouco mais recuado, conforme se pode documentar pelos alicerces sobreviventes. Também o torreão direito, que defende e esquadra a porta de acesso era um pouco mais largo do que se pode ver hoje, depois dos trabalhos de restauro. No pátio interior, desenvolviam-se construções de que restam pilares adossados ao plano Norte da muralha, onde se podem observar dois curiosos relevos pré-românicos»
Castelo de Lanhoso
Fases proto-românica e posteriores Fase pré-românica Afloramento granítico
¹ Sobre o Castelo de Lanhoso veja-se D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; Leonídio de Abreu, O Castelo de Lanhoso, Silva Minhota, Braga 1956, 143-146; Fernando Castelo Branco, Castelo da Póvoa de Lanhoso, Mensário das Casas do Povo, Ano XVI, 181 julho 1961, 14-16; Manuel Artur Norton, O Castelo de Lanhoso, Actas do I Congresso dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa 1982, 108-114. ²BARROCA, Mário Jorge. Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), Portugália, Nova Série, Vol. 11-12, 1990/1991. Porto, 1940
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Análise do aparelho de reconstrução do torreão leste segundo Mário Jorge Barroca.
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QUADRO DE RECONSTITUIÇÃO DAS DIFERENTES FASES DO CASTELO DE LANHOSO:
1ª FASE 0
1
2
3
4
5
2ª FASE 10 metros
0
1
2
3
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3ª FASE 10 metros
0
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4ª FASE 10 metros
0
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3
4
5
10 metros
FASE PRÉ-ROMÂNICA
FASE PROTO-ROMÂNICA
REFORMA ROMÂNICA ENTRE SÉC. XVII-XVIII
REFORMA CONTEMPORÂNEA - SÉC. XX
Representada por um aparelho de construção nãoisódomo com silhares de dimensões diversas e a presença de três torreões eqüidistastes na fachada voltada a leste e desenvolvimento de construções em seu pátio interior.
Período da intervenção do bispo D.Pedro de Braga (1070-1091). Reforma respeitando a planta da fortaleza pré-românica e ignorando ainda a torre de menagem, a integrar assim o castelo à coroa defensiva da cidade episcopal de Braga.
Introdução da Torre de Menagem junto antigo torreão centra como último reduto defensivo, modificando a estrutura da fachada leste. Fortaleza inserida como sede de uma pequena unidade territorial (Terras), mostrando a influência da nobreza local.
Intervenções pela D.G.E.M.N. para reconstituição dos cubelos e arco da porta de entrada, dos laços da muralha e restauro da Torre de Menagem. Verifica-se a diminuição do cubelo à direita do portal de entrada e a alteração do alinhamento da fachada a norte.
trabalhos de restauro. No pátio interior, desenvolviam-se construções de que restam pilares adossados ao plano Norte da muralha, onde se podem observar dois curiosos relevos pré-românicos»
ESTUDO DAS POSSÍVEIS VOLUMETRIAS DO CASTELO DE LANHOSO
O Boletim da DGEMN³ sobre a historiografia do edifício, regista que no último quartel do século XI o Castelo de Lanhoso sofreu uma importante reforma, de que nos restam vestígios nos seus muros e uma inscrição revelando a intervenção do Bispo D. Pedro, de Braga. Esta inscrição, apesar do lacolismo do seus texto, revela-se de grande importância pois permite datar a reforma. Foi gravada num silhar na parede leste do torreão que ladeia pela esquerda a p o r t a d e a c e s s o , e n e l a s e p o d e l e r :
CASTELO DE LANHOSO - Axonométricas à face sul do aparelho:
PETRUS AEP (iscopu) S
1ª FASE
2ª FASE
3ª FASE
4ª FASE
CASTELO DE LANHOSO - Axonométricas à face norte do aparelho:
1ª FASE
2ª FASE
3ª FASE
Representação volumétrica em 3D das 4 fases evolutivas da fortificação elaborada segundo Mário Jorge Barroca
4ª FASE
Ela assegura-nos, segundo Barroca, a intervenção do Bispo D. Pedro, o restaurador da Diocese de Braga, que se manteve à frente dos destinos diocesanos entre 1070 e 1091. Esta referência, ainda segundo o autor, «torna-se importante não só por nos testemunhar o empenho do Bispo de Braga nos destinos de uma fortaleza erguida junto do seu arco urbano, e que lado a lado com outras integrava a coroa defensiva da cidade episcopal, mas também por permitir datar a técnica de contrução. O silhar onde o Bispo mandou gravar o testemunho da sua presença sobreviveu até aos nossos dias por um feliz acaso. Da sua reforma sobreviveram escassas fiadas de pedras e, logo ao lado do silhar epigrafado, iniciava-se o desmonte provocado pelos séculos de abandono. Assim, o silhar epigrafado assinala o fim da zona original e ao seu lado arranca a reconstrução da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais . No entanto, as fotografias publicadas no boletim do seu restauro asseguram-nos que ele se conserva in situ. O aparelho de construção dessa reforma apresenta características que não permitem que seja associado ao Pré-Românico. A primeira fiada de pedras da intervenção dos fins do século XI teve como preocupação regularizar a linha superior desses silhares e as fiadas que se seguem obedecem a um aparelho de construção pseudo-isódomo». Por isso, a intervenção do Bispo D. Pedro deve ser classificada, segundo Barroca, como Proto-Românica. Alguns sillhares apresentam mesmo o característico desvio das juntas verticais, que nem sempre são paralelas entre si. A reforma do Bispo D. Pedro no Castelo de Lanhoso respeitou a planta da fortaleza Pré-Românica, ignorando ainda a Torre de Menagem, que apenas seria incluída em Lanhoso com a reforma românica, nos fins do século XII ou mesmo já no século XIII, quando a fortaleza já era cabeça de Terra*. ³ D.G.E.M.N., . Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN nº29 de 1942. 4 BARROCA, Mário Jorge. Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), Portugália, Nova Série, Vol. 11-12, 1990/1991. Porto, 1940 * TERRAS: As Terras eram unidades territoriais com uma área muito menor que as civitaes, e que tinham à frente dos seus destinos militares um castelo de que era tenente um elemento da nobreza local. O advento desta nova organização seria, acompanhado de perto pelo fim do 1º Condado Portucalense, que se encerra em 1071 com a Batalha de Pedroso, onde o conde D. Nuno Mendes encontra a morte. Este momento, conforme José Mattoso teve a oportunidade de sublinhar, marca o fim da influência condal e o início da ascenção dos Infanções. Se como escreveu Carlos Alberto Ferreira de Almeida, as civitates eram um modelo de governo territorial essencialmente condal, a nova organização em terras corresponde à crescente influência da nobreza local, dos Infanções, e afirma-se como um modelo essencialmente senhorial. José Mattoso, Ricos Homens, Infanções e Cavaleiros. A Nobreza Medieval Portuguesa nos séculos XI e XII, Lisboa, 1982, 244; Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Arte da Alta Idade Média, História da Arte em Portugal, 2. Lisboa 1988, 150-151.
29
O C A ST E L O D A P ÓV O A D E L A N H O S O
3 3.2 LEVANTAMENTO E INTERVENÇÕES REALIZADAS PELA D.G.E.M.N.:
As intervenções que se seguem no Castelo roqueiro pela D.G.E.M.N. entre 1938 e 1939, documentadas no Boletim nª 29 de 1942, realizaram escavações que promoveram a reconstituição dos dois cubelos da entrada, a consolidação e reconstrução dos laços da muralha e do arco da porta do Castelo, o restauro da Torre de Menagem, a reparação e consolidação dos vestígios de antigas construções descobertas no pátio de armas bem como a limpeza e arranjo geral do monte com a construção da estrada de acesso principal e a escavação dos vestígios castrejos na vertente do monte a NE¹. Além disso, as benfeitorias promovidas vieram de encontro à possibilidade de tornar o edifício como um museu que pudesse contar a história do Castelo em Lanhoso, bem como apresentar a sua leitura face ao território adjacente e aos diversos achados que remontam às origens da ocupação humana no Monte do Pilar.
4 1
1 2
6
5
2
3
4
3
CASTELO DE LANHOSO - Situação actual
CASTELO DE LANHOSO - Situação actual
Planta da D.G.E.M.N. (ver imagens pág. 31)
Planta da D.G.E.M.N. (ver imagens abaixo) 0
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2
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¹ Sobre o Castelo de Lanhoso veja-se D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; Leonídio de Abreu, O Castelo de Lanhoso, Silva Minhota, Braga 1956, 143-146; Fernando Castelo Branco, Castelo da Póvoa de Lanhoso, Mensário das Casas do Povo, Ano XVI, 181 julho 1961, 14-16; Manuel Artur Norton, O Castelo de Lanhoso, Actas do I Congresso dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa 1982, 108-114.
Ilustração 3D da volumetria do Castelo de Lanhoso. Cubelos da entrada e Torre de Menagem restauradas pela D.G.E.M.N.
LEVANTAMENTO DA ICONOGRAFIA ANTERIOR E/OU DURANTE AS OBRAS DE RESTAURO:
1
1
1
Imagens das obras de intervenção do D.G.E.M.N. entre 1938 e 1939 no Castelo de Lanhoso.
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2
3
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PÓVOA DE LANHOSO: CITÂNIA, CASTELO E SANTUÁRIO H I ST Ó R IA
PLANTA PELO NÍVEL TÉRREO
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4
PLANTA PELO NÍVEL SUPERIOR DA MURALHA
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PLANTA PELO NÍVEL SUPERIOR DA TORRE
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LEVANTAMENTO DA ICONOGRAFIA POSTERIOR AO RESTAURO:
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Imagens actuais do Castelo de Lanhoso após a intervenção do D.G.E.M.N .Arquivo da equipa, 10/2009.
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ALÇADO NORTE
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SECÇÃO LONGITUDINAL
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Imagem da escada de acesso ao actual piso superior da Torre de Menagem. Reconstrução da D.G.M.N.. Arquivo da equipa, 10/2009.
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SL AL
AO
ST AL
AO
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ALÇADO NASCENTE
ALÇADO POENTE
Imagem Torre de Menagem do castelo restaurada pela D.G.M.N. na década de 80, e que funciona actualmente como museu do castelo. Arquivo da equipa, 10/2009. 0
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SECÇÃO TRANSVERSAL
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3
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Reconstituição da topografia original do monte da Serra do Pilar Comunidade castreja da Citânia de Lanhoso Ruínas do aparelho defensivo existentes Hipótese de reconstituição da muralha
FASE PRÉ-ROMÂNICA
Planta de reconstituição do possível limite da muralha do Castelo da Póvoa de Lanhoso Escala: 1:2000
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Projecção da via de acesso ao castelo (séc.XX) Perfil da via nova de acesso dentro do possível perímetro defensivo Ruínas do aparelho defensivo existentes Hipótese de reconstituição da muralha
SÉC. XX - RESTAURO PELA D.G.E.M.N.
Planta de referência da análise à partir dos elementos pré-existentes e vestígios da muralha antiga. Escala: 1:2000
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QUADRO COMPARATIVO: CASTELO DE LANHOSO / CASTELO DE GUIMARÃES:
CASTELO DE LANHOSO
CASTELO DE GUIMARÃES
Planta da D.G.E.M.N. com restauro no séc. XX
0 1 2
3 4 5
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20 metros
Planta da D.G.E.M.N. Vestígios dos séc. XI e XII
0 1 2
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2
3.1 O RECINTO DEFENSIVO E A MURALHA DO CASTELO DE LANHOSO:
O Castelo de Lanhoso, erguido no alto do maior afloramento granítico português, apresentava, já nos tempos medievais, um acesso difícil e ímpar entre os nossos castelos. Face a essa posição estratégica de defesa de seu aparelho, a escadaria, talhada no próprio afloramento, estreita e sinuosa que possibilitava um único itinerário de acesso e que era facilmente controlado a partir das defesas que coroavam o afloramento vem a nos ilustrar sua relação entre o recinto defensivo e a envolvente¹.
1
A recuperação feita pela D.G.E.M.N., do qual fazem parte também o sítio arqueológico da Citânia de Lanhoso com os castros a encosta leste do Monte, os vestígios da muralha antiga medieval, a Igreja em honra de Nossa Senhora do Pilar e seu conjunto de capelas desde o sopé do monte que ilustram a trajetória da paixão de Cristo, um restaurante (antiga pousada dos romeiros), nos permite lançar a hipótese de um possível recinto defensivo para além das muralhas do Castelo como parte integrada do sistema implantado para a fortificação. Neste sentido, a equipe procurou identificar os vestígios existentes da muralha medieval como sendo uma possível porta de entrada para o recinto defensivo e estabelecer, a partir dela, a definição do que poderia vir a ser o perímetro da muralha original.
2
Ao percebermos a implantação actual do castelo face ao santuário, se lança a hipótese de se ter havido a sul do castelo uma comunidade medieval aproveitaria o topo do monte para sua fixação. Além a própria estrada de acesso ao castelo construída no século XX a acompanhar ao máximo as curvas de nível, nos permite auferir a possibilidade e a confirmação da extensão mais a sul do possível recinto defensivo. Por outro lado, a unidade deste possível recinto não seria totalmente edificada face a implantação estratégica do castelo no cabeço do monte permitindo assim tirar o máximo de proveito das suas encostas mais íngrimes. Com isso, a porção a oeste e a norte seria definida pelo perfil natural do terreno (ver pág. 30 e 31) e, somente a sul, na porção mais frágil do aparelho defensivo é que se implantaria a muralha de facto, como nos mostram os vestígios alí assentes. Um outro ponto de partida para a hipótese que pode ser feita entre o Castelo de Lanhoso e o Castelo de Guimarães no que diz respeito ao recinto defensivo e a posição da torre de menagem.
2
3
¹ Sobre o Castelo de Lanhoso veja-se D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; Leonídio de Abreu, O Castelo de Lanhoso, Silva Minhota, Braga 1956, 143-146; Fernando Castelo Branco, Castelo da Póvoa de Lanhoso, Mensário das Casas do Povo, Ano XVI, 181 julho 1961, 14-16; Manuel Artur Norton, O Castelo de Lanhoso, Actas do I Congresso dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa 1982, 108-114. ²BARROCA, Mário Jorge. Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), Portugália, Nova Série, Vol. 11-12, 1990/1991. Porto, 1940
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2
4 3 5
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Reconstituição do recinto defensivo natural Castelo de Lanhoso e Praça de Armas Igreja de N. Sra do Pilar Vestígios da muralha antiga medieval Capela do 9º passo Pousada/restauração Capela do 8º passo
A
Planta da implantação actual do Castelo de Lanhoso
A Torre de Menagem, segundo Mário Jorge Barroca², tinha a proposta de se estabelecer no interior do pátio da fortificação, se implantando como símbolo do poder e último reduto defensivo, mostrando a maior inovação do castelo românico³. A Torre de Menagem implantava-se num dos pontos de cota mais alta do castelo, erguendo-se em altura por forma a ser possível o tiro directo para o exterior, sem prejuízo da presença do pano de muralha. Adoptando desde cedo a planta quadrangular, possuía o andar térreo sem aberturas e a porta rasgada no primeiro andar, como se consegue perceber claramente nos perfis de reconstituição do castelo realizadas pela D.G.E.M.N*. (ver página 32 e 33). O acesso, realizava-se sempre por intermédio de uma escada móvel de madeira que, em caso de perigo, podia ser retirada a partir do interior da construção, isolando-a. Por vezes, nas zonas fronteiras à face da Torre de Menagem onde se abre a porta de acesso, é possível encontrar os testemunhos dos apoios dessa estrutura móvel de acesso, mas que não é o caso do castelo em estudo4. Dado este fator de alteração estratégico no aparelho defensivo do Castelo de Lanhoso, percebe-se que, ao colocá-lo em comparação com o Castelo de Guimarães, a fazer a máxima aproximação da escala entre os edifícios, podemos supor que, como acontece em Guimarães, onde a Torre de Menagem se situa numa posição central à fortificação face o perímetro defensivo da muralha, no caso de Lanhoso haveria também esta centralidade da Torre de Menagem face ao perímetro defensivo, principalmente ao verificar as condições de sua implantação que acabou por destruir e modificar a estrutura pré-românica ali existente para estabelecer a nova ordem do aparelho na era medieval. Se os vestígios do Castelo de Guimarães, que remontam ao final do século XI e inícios do século XVII já apresentam esta nova organização para o castelo românico, que em sua origem era concebido para uma defesa pacífica e com uma estrutura de poucas soluções que permitissem um ataque eficiente em caso de cerco e confiava na espessura e altura dos muros para resistir aos assédios, em Lanhoso a reforma românica introduz-se de maneira gradual, tirando o máximo de proveito da escarpa do monolítico granítico, como podemos perceber nas imagens da página 37, mas introduzindo ainda os temas desta nossa organização do aparelho românico com a sua reforma na baixa idade média.
³ BARROCA, Mário Jorge. Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), Portugália, Nova Série, Vol. 11-12, 1990/1991. Porto, 1940¹ Sobre o Castelo de Lanhoso vejase 4 Idem * D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; Leonídio de Abreu, O Castelo de Lanhoso, Silva Minhota, Braga 1956, 143-146; Fernando Castelo Branco, Castelo da Póvoa de Lanhoso, Mensário das Casas do Povo, Ano XVI, 181 julho 1961, 14-16; Manuel Artur Norton, O Castelo de Lanhoso, Actas do I Congresso dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa 1982, 108-114.
36
Projecção da via de acesso ao castelo (séc.XX) Hipótese do perfil defensivo contruído Ruínas do aparelho defensivo existentes Hipótese do limite defensivo natural
SÉC. XX - RESTAURO PELA D.G.E.M.N.
Planta de referência da análise à partir dos elementos pré-existentes e vestígios da muralha antiga. Escala: 1:2000
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Capelas do Santuário Mariano
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Igreja de Nossa Sra do Pilar
Torre de Menagem do Castelo
Torre de Menagem do Castelo
Torre de Menagem do Castelo
Entrada da Muralha Medieval
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Hipótese do limite defensivo natural Imagem da escarpa natural do monolítico a leste da Serra do Pilar. Arquivo D.G.E.M.N. década de 80.
Imagem da escarpa natural do monolítico a norte da Serra do Pilar. Arquivo D.G.E.M.N. década de 80.
Imagem da escarpa natural do monolítico a oeste da Serra do Pilar Arquivo D.G.E.M.N. década de 80. (abaixo, imagem actualizada do mesmo ponto de vista em 05/2010).
A
Imagem da escarpa a oeste da Serra do Pilar Arquivo da equipa. 05/2010
37
4. O SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DO PILAR
O SA NT U Á R I O D E N O S SA S E N H O RA D O P I LA R
4
Complexo do Santuário
Igreja e Santuário Roteiro mariano Ribeira do Pontido
4.1 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E LOCALIZAÇÃO:
01
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Segundo o Boletim da D.G.E.M.N. nº 29 de 1942, é atribuído à André da Silva Machado, «um comerciante que enriquecera no Pôrto em negócios de grosso trato a transformação do monte de Lanhoso em um lugar de aprazimento e de fé, onde os rudes povos da vizinhança pudessem encontrar alguns dos benefícios materiais e espirituais de quem tam carecida se achava a sua existência humana». Este homem, detendo-se freqüentemente em Braga, por ocasião das suas visitas à terra natal, havia presenciado com admiração, e talvez auxiliado com avultadas esmolas, os trabalhos pouco antes intentados por uma confraria bracarense, com o fim de converter em grande e atraente santuário certa ermida que no alto do Monte-Espinho edificara 186 anos antes o arcebispo D. Martinho da Costa. Construído entre os séculos XVII e XVIII, em parte com a utilização das pedras encontradas na época das ruínas do Castelo de Lanhoso, o antigo santuário mariano, que na sua forma original tem como partido construtivo assemelhase à obra religiosa do Bom Jesus de Braga, como indicado pela D.G.E.M.N., funciona actualmente como um santuário católico com culto dominical. Com o início das intervenções da D.G.E.M.N. ocorridas durante a década de 40 para a reconstrução do castelo e a incersão da via de acesso ao cume do monte na Serra do Pilar, é clara a alteração sofrida pelo percurso implantado durante meados dos século XVIII que deixa em parte de priorizar o peão, a passar a priorizar a chegada automóvel ao castelo. Neste sentido, cabe aqui perceber a importância do roteiro mariano em Bom Jesus do Monte de Braga que, por sua dimensão e abrangência regional, acabou por deixar o percurso implantado em Lanhoso num possível segundo plano como roteiro alternativo de peregrinação na região. Além disso, como podemos identificar com a visita ao local, a flagrante alteração do canal viário de romaria dá-se ao sopé do monte, na proximidade a actual estrada nacional que liga Braga a Chaves, com a alteração do seu perfil (imagem 01) e que, por outro lado, na proximidade à capela do 5º passo, procura implantar um pequeno viaduto (imagem 02) que estabelece a permanência do percurso até a referida capela sem perder completamente sua morfologia original; decisão esta fundamentada pela possível dificuldade em aceder ao monte naquele tramo da via e também por permirir que, com a diferença de cotas, se pudesse perceber ao alto da nova estrada tanto o conjunto de capelas quanto o conjunto castrejo existente no local. SÉC. XX - RESTAURO PELA D.G.E.M.N. D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; www.monumentos.pt
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Planta de referência da análise à partir dos elementos pré-existentes e vestígios da muralha antiga. Imagem da principal faixa de alteração do percurso
Imagem da introdução de um pequeno viaduto no percurso
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SANTUÁRIO DE N. SRA DO PILAR - Implantação geral actual segundo levantamento da D.G.E.M.N. Roteiro mariano após intervenção da D.G.E.M.N.
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4 4.2 O PERCURSO DE PEREGRINAÇÃO E AS CAPELAS:
As capelas dos Passos, diferentemente do que ocorre em Bom Jesus do Monte em Braga não seguem os 14 Passos oficiais da Paixão de Cristo, procurando colocar novas cenas e deixando outras em falta¹. Neste sentido, o santuário é composto por uma Via Sacra de onze capelas, sendo nove correspondentes às capelas dos Passos desenvolvidas ao longo de uma calçada que serpenteia a encosta do monte, culminando com a chegada na igreja, próximo ao antigo edifício do ermitão e da antiga pousada de romeiros, utilizada na actualidade como ponto de restauração de apoio ao peregrinos.
1
A Via Sacra inicia-se a partir de um terreiro fronteiro à encosta norte, onde se encontra uma capela de construção recente. Em seguida, encontra-se uma outra capela de grandes dimensões, conhecida como Capela do Senhor do Horto, correspondendo ao 1º Passo com a representação de Jesus no Horto das Oliveiras, seguida de mais oito capelas: a do 2º Passo onde Jesus é condenado, a do 3º passo com Jesus preso à coluna, a 4º com a figuração do Senhor da Cana Verde, a do 5º passo com Jesus sendo levado a Herodes, a do 6º com Verónica a enxugar o rosto de Jesus, a do 7º onde Jesus é despojado das vestes, e a do 8ºpasso, onde Jesus é pregado na Cruz.
2
Esta penúltima capela, sendo a única implantada com uma tipomorfologia diferente das demais, ao possuir uma planta em forma de um hexágono perfeito (ver levantamento na pág.), e possuindo ainda uma relação directa com o eixo visual principal ao cume do monte, na seqüência castelo/igreja/capela, nos suscitou como partido de trabalho para o exercício, auferir sobre a sua forma e implantação em relação ao conjunto arquitectónico existente ao realizar o seu levantamento . Além disso, é de se notar a presença, a preceder a igreja, de uma última capela alpendrada com a representação de Cristo e uma Samaritana junto a um poço que poderia simbolizar o baptismo que anuncia o final do percurso mariano*. No que diz respeito a tipologia construtiva do conjunto arquitectónico, podemos indicar, segundo levantamento da D.G.E.M.N., que as capelas dos passos e a capela de construção recente apresentam planta quadrangular, com excepção da referida capela do 8º Passo, de planta hexagonal, que todas possuem a mesma lógica construtiva, sendo esta assente através de uma alvenaria em massa simples e com coberturas em coruchéu escalonado de pedra. Nos alçados podemos identificar que as pareces possuem reboco e pintura a branco, com pilastras toscanas nos cunhais, percorridas por embasamento de pedra, e remate em cornija, com gárgulas de canhão nos vértices. Ainda no alçado principal, se assenta um porta de verga recta na capela de construção recente, e nas dos Passos 2, 3 e 4, e nas restantes, constitui-se em arco pleno. No interior das diferentes construções, é encontrado rebocado pintado a branco com imagens e figuras alusivas à paixão de Cristo moldadas em argila*. A capela alpendrada de planta rectangular é encerrada por grade de ferro forjado. Sua estrutura, diferentemente das demais, possui alvenaria em massa simples e cobertura em telhado de quatro águas, sustentado por 4 colunas, duas delas embebidas no grosso pano murário da fachada posterior, assentes em murete rebocado e pintado de branco, com abertura lateral e frontal. Sua fachada posterior encontra-se adossado ao tanque d’água conferindo também a singularidade em relação às demais. Em seu interior, há a presença de um arco pleno rasgado no grosso pano murário, revestido a azulejos monocromos a azul com painéis representando paisagens, a enquadrar um nicho concheado que ergue-se sobre o poço baptismal*. ¹ D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; * Sobre o Santuário da Serra do Pilar.Ficha sobre o Santuário da Serra do Pilar extraída do site oficial www.monumentos.pt
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Eixo do perfil visual entre o conjunto arquitectónico Castelo de Lanhoso e Praça de Armas Igreja de N. Sra do Pilar Capela do 9º passo Muralha medieval e entrada do final da romaria Pousada/restauração Capela do 8º passo
Planta de implantação actual do conjunto arquitectónico no alto da Serra do Pilar.
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01 - Capela de construção recente; 02 - Capela do Senhor do Horto (1º passo); 03 - Capela do 2º passo; 04 - Capela do 3º passo; 05 - Capelo da 4º passo; 06 - Capela do 5º passo; 07 - Capela do 6º passo; 08 - Capela do 7º passo; 09 - Capela do 8º passo (única com planta hexagonal. Ver levantamento pág.) 10 - Capela do 9º passo (única com fonte adjacente); 11 - Igreja de Nossa Senhora do Pilar.
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Planta do percurso de peregrinação actual e localização do conjunto de capelas até a Igreja de N. Sra do Pilar.
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INÍCIO DO PERCURSO MARIANO
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Legenda do Percurso
Sentido do percurso mariano Linha construtiva do levantamento
01 - Capela de construção recente; 02 - Capela do Senhor do Horto (1º passo); 03 - Início da via do século XVIII; 04 - Capela do 2º passo; 05 - Desnível entre a via do sév XVIII e a estrada actual; 06 - Reconstituição castreja; 07 - Subida na via do séc. XVIII; 08 - Capela do 3º passo; 09 - Subida na via do séc. XVIII; 10 - Ruínas castrejas na proximidade do viaduto; 11 - início do viaduto por baixo da estrada actual; 12 - Túnel do viaduto por baixo da estrada actual; 13 - Encontro da via do séc.XVIII xom a estrada actual; 14 - Capela do 4º passo;; 15 - Subida pela escada talhada no rochedo; 16 - Entrada pela muralha antiga medieval; 17 - Vista da parte interior da muralha; 18 - Vista do Monte Grande; 19 - Capela do 5º passo; 20 - Capela do 6º passo; 21 - Capela do 7º passo; 22 - Capela do 8º passo; 23 - Fosso d’água atrás da capela do 10º passo; 24 - Capela do 10º passo; 25 - Igreja de Nossa Senhora do Pilar (capela do 11º passo);
FINAL DO PERCURSO MARIANO
Percurso realizado no santuário de Nossa Senhora do Pilar em 05/2010.
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01 - Capela de construção recente; 02 - Capela do Senhor do Horto (1º passo); 03 - Capela do 2º passo; 04 - Capela do 3º passo; 05 - Capelo da 4º passo; 06 - Capela do 5º passo; 07 - Capela do 6º passo; 08 - Capela do 7º passo; 09 - Capela do 8º passo (única com planta hexagonal. Ver levantamento pág.) 10 - Capela do 9º passo (única com fonte adjacente); 11 - Igreja de Nossa Senhora do Pilar.
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Planta do percurso de peregrinação actual e localização do conjunto de capelas até a Igreja de N. Sra do Pilar.
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Planta de implantação actual da igreja de Nossa Senhora do Pilar.
4.3 A IGREJA DE NOSSA SENHORA DO PILAR: A igreja, implantada na proximidade ao Castelo de Lanhoso, marca o final da Via Sacra de peregrinação, possuindo uma tipologia de planta longitudinal composta por nave e uma capela-mor mais estreita de formato rectangulares e uma sacristia, também em forma rectangular, adossada a oeste do plano de implantação da capelamor. Estes volumes, como podemos identificar no levantamento das imagens e no corte de representação do edificado, estão assentes no cabeço do monte de forma escalonada, de dominante horizontal e com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor e uma na sacristia. Os alçados foram planeados em cantaria de granito com aparelho de fiadas regulares e juntas tomadas, a se perceber, na composição da fachada principal voltada a sul com uma empena rematada por cornija sob beiral, juntamente com a cruz no vértice e, nos extremos, a localização dos pináculos piramidais. As fachadas laterais da igreja apresentam remate em merlões, com gárgulas de canhão, dando-lhe um aspecto fortificado e militar¹ lembrando aqui que parte da igreja fora construída com peças das pedras da ruína do castelo antes de sua reabilitação pela D.G.E.M.N¹. O Portal principal da igreja de Nossa Senhora do Pilar é precedido por uma larga escadaria, apresentando verga recta e definido por duas pilastras toscanas, sendo ladeado por janelas de verga também recta encimadas por cornija rematada por frontão de volutas, interrompido por urna que se prolonga em coluna galbada, unindo-se à edícula através de um nicho com imagem pétrea do orago, ladeado por aletas e rematado por frontão circular. Neste mesmo plano, na porção inferior entre a edícula e o portal, encontram-se outras duas janelas de morfologia semelhante às outras*. O seu interior segue com nave rebocada e pintada de branco com tecto em abóbada de berço, em caixotões de pedra sobre cornija ritmada por mísulas e pavimento soalhado com passadeira central, em pedra. Lateralmente dispõem-se dois confessionários, pias de água benta a ladear as portas travessas, dois púlpitos com base rectangular, sobre modilhões e guardas plenas de madeira policroma pintada com motivos florais. Seguem-se duas capelas retabulares à face, com retábulos inscritos em arcos plenos. Do arco triunfal pleno, integrado em parede revestida a azulejos historiados, azuis e brancos, se abrem lateralmente dois nichos em arco de volta perfeita com imagens. A capela-mor é revestida a azulejos figurativos, azuis e brancos, iluminada por dois janelões do lado da Epístola e uma porta para a sacristia ladeada por janelão, no lado do Evangelho, com pavimento de pedra. No rectábulo-mor de talha policroma a branco e dourado, com marmoreados a castanho, de planta convexa e três eixos, o central definido por dois pares de colunas coríntias que sustentam espaldar contracurvado coroado por urnas e festões. Ao centro surge tribuna com fundo azul com trono expositivo de cinco degraus sustentando resplendor. Os eixos laterais, com fundo azul apresentam mísulas sustentando imagens, encimadas por sanefas. A oeste da igreja encontra-se um antigo edifício pertença dos ermitães, desenvolvendo-se na sua fachada norte uma torre sineira, com três ventanas em arco pleno, com balcão sustentado por cachorros de pedra*.
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¹ D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; * Sobre o Santuário da Serra do Pilar.Ficha sobre o Santuário da Serra do Pilar extraída do site oficial www.monumentos.pt Imagens desta página: À Esquerda: 01 - Alçado principal da igreja seiscentista de Nossa Senhora do Pilar; 02 - Idem (relação com o Castelo de Lanhoso); 03 - Aproximação da escadaria lateral. A Direita: 04 - Traseiras da Igreja e relação com o conjunto de capelas e Castelo de Lanhoso; 05 - Idem; - Sinário de apoio à Igreja.
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Perfil longitudinal da igreja e sua comunicação com a envolvente.
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Planta do levantamento fotográfico do exterior da igreja. Arquivo de imagens de 05/2010.
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Acima: Iconigrafia exterior da Igreja. As duas fileiras de imagem abaixo registam o edifício dos ermitãos. As imagens em cinzento referem-se ao levantamento da D.G.E.M.N. na década de 40.
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Planta de Levantamento segundo a Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso Escala: 1:500
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Acima: Iconografia interior da Igreja. Abaixo e a direita imagens de pormenor do tecto em abóboda de berço em caixotões de pedra.
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Planta do levantamento fotográfico do interiro da igreja. Arquivo de imagens de 05/2010.
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Planta de implantação actual da capela do 8º passo.
4.4 LEVANTAMENTO DA CAPELA DO 8º PASSO:
A Via sacra organizada por André Machado nos primórdios da ocupação religiosa do monte e revisitada com este trabalho possui, como momento de excepção uma única capela com tipologia em planta formada por um hexágono que, segundo conseguirmos conferir através do exercício de levantamento, possuem todos os lados de mesma dimensão. Esta capela, que se refere ao 8º passo da paixão de Cristo, onde Jesus é despojado de suas vestes e crucificado, possui como componente construtiva, à semelhança das demais capelas do santuário, uma alvenaria em massa simples com coberturas em coruchéu escalonado de pedra. Os seus alçados estão rebocados e pintados a branco, com as pilastras toscanas m pedra se localizando aos cunhais do hexágono, sendo ainda percorrida por um embasamento de pedra e remate em cornija, com gárgulas de canhão nos vértices. A fachada principal é rasgada por porta em arco pleno possuindo ainda no interior um acabamento em reboco e pintura brancos, com imagens alusivas à paixão de Cristo. Além disso, a posição estratégica da capela em relação as demais e à Igreja de Nossa Senhora do Pilar, confere a ela uma singularidade quer seja pela porção visual que consegue abranger através do início na implantação na laje da Serra do Pilar, quer seja pela diferente tipologia e por suas dimensões que em nada se assemelham ao conjunto de capelas existentes no percurso mariano de peregrinação.
¹ D.G.E.M.N., Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN 29 de 1942; * Sobre o Santuário da Serra do Pilar.Ficha sobre o Santuário da Serra do Pilar extraída do site oficial www.monumentos.pt
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Planta do levantamento iconográfico da capela. Arquivo de imagens de 05/2010.
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Planta de implantação com levantamento realizado pela C.Municipal da Póvoa de Lanhoso em 2009
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Perfil longitudinal da capela com relação à envolvente. Imagem a partir do interior da Igreja de N. Sra do Pilar.
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alçado norte. ESC. 1:50
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secção longitudinal pela porta de acesso. ESC. 1:50
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secção transversal pela janela leste. ESC. 1:50
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Registro do levantamento do percurso de peregrinação e das paredes da igreja de N. Sra do Pilar.
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Registro do levantamento da capela do 8º passo da paixão de Cristo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Com um início conturbado, dado ao reduzido número de elementos e atraso na formação do grupo, a formalização e familiarização com o tema e as imensas dúvidas em relação aos caminhos que eram pertinentes a serem seguidos acabaram por debilitar, numa primeira fase, a concretização deste trabalho ser, com o passar do período, vencida pela busca da equipa de ir ao encontro de métodos de trabalho que pudessem transformar, da maneira mais simples possível, a comunicação do caso de estudo «Póvoa de Lanhoso: Citânia, Castelo e Santuário». O objectivo que inicialmente era o de estudar o castelo como edifício/obra arquitectónica, alterou-se dada nossa primeira visita ao terreno, onde conseguirmos perceber a dimensão da qualidade que poderia vir a ser acrescentada a este estudo a identificação não só do monte Serra do Pilar mas, também, de sua componente de tipos arquitectónicos, para além do desapontamento com a imagem que anteriormente formulamos d o castelo, que nesta primeira visita, a partir do sopé do monte, provou ter uma monumentalidade que vai diminuindo conforme nos aproximamos do aparelho roqueiro. Com o decorrer da nossa investigação, percebemos que o Castelo de Lanhoso é importante pela sua localização, pela sua geografia e pela sua história, passando a ser o nosso objecto de estudo não somente o castelo e todo o seu contexto arquitectónico e geográfico, mas também tentar explicar porque um edifício relativamente modesto no lugar certo e na hora certa, em diferentes fases e por diferentes motivos, teve tanta importância no talhar da historia de Portugal. Tendo como foco o castelo, traçamos varias metas e percursos temáticos com base nas informações recolhidas na Vila da Póvoa de Lanhoso e junto à D.G.E.M.N., umas com ramificações mais profundas entre outras menos importantes que, em alguns casos, nos serviram de cerne para o lançamento de sementes de trabalho que pudessem vir de encontro com o que estava a ser estudado na parte teórica da cadeira de História da Arquitectura Portuguesa. Embora não possamos dizer que o tempo foi curto, nenhum tema é exaustivamente estudado, ficando assim muito ainda por desenvolver. Contudo, de uma forma geral conseguimos atingir, ou ao menos nos introduzir aos principais objectivos a que nos propusemos com o desenvolvimento deste exercício. A maior dificuldade que tivemos foi sempre no campo da concretização/concertação das informações de trabalho, dado que desde o início havia à nossa disposição uma imensidão de recursos que nos pudessem orientar por vários caminhos. Daí, o impulso de continuar a pesquisar em vez de tratar a informação que já tínhamos percorreu a trajetória da maior parte desta edição, para além de percebemos que a falta de rítimo constante entre os diferentes integrantes da equipa, que por sua vez estavam a frequentar períodos diferentes nesta faculdade acabou por acrescentar um vetor da dificuldade da conjugação dos diferentes horários para além dos problemas técnicos gerais a todo trabalho. Esse foi um trabalho que com os seus altos e baixos nos deu uma enorme satisfação de o fazer, e o encerramos com a consciência de que mais poderia ter sido feito mas, também, que muito foi conseguido principalmente na leitura das diferentes fases de ocupação do monte da Serra do Pilar e sua relação com as tipologias arquitectónicas das diferentes épocas, que puderam clarificar alguns dos temas debatidos em aula. Agradecemos ainda o cuidado e atenção dispensados pelos funcionários do departamento de urbanismo do Concelho da Póvoa de Lanhoso, que nos forneceram as bases cartográficas actuais para a realização deste trabalho, com o levantamento topográfico da cidade e do Castelo de Lanhoso, aos funcionários da Biblioteca da FAUP pela disponibilidade e prestatividade na ajuda a recolha de iconografias e mapografias antigas, para além dos recursos bibliográficos presentes neste volume, e à orientação cuidadosa da Profª Carla Garrido pela ajuda no lançamento e delimitação das bases e temas deste trabalho.
Equipa Póvoa de Lanhoso maio de 2010
Leila Cacilda Marlon Paiva Rui Costa Ferreira
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BIBLIOGRAFIA:
D.G.E.M.N., . Castelo de Lanhoso, Boletim da DGEMN nº29 de 1942. BARROCA, Mário Jorge. Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), Portugália, Nova Série, Vol. 11-12, 1990/1991. Porto, 1940 José Mattoso, Ricos Homens, Infanções e Cavaleiros. A Nobreza Medieval Portuguesa nos séculos XI e XII, Lisboa, 1982, 244; Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Arte da Alta Idade Média, História da Arte em Portugal, 2. Lisboa 1988, 150-151. Leonídio de Abreu, O Castelo de Lanhoso, Silva Minhota, Braga 1956, 143-146; Fernando Castelo Branco, Castelo da Póvoa de Lanhoso, Mensário das Casas do Povo, Ano XVI, 181 julho 1961, 14-16; Manuel Artur Norton, O Castelo de Lanhoso, Actas do I Congresso dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa 1982, 108-114. MARTINS, Manuela. O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia do Médio Cávado. Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 44. TEIXEIRA, Carlos. Notas arqueológicas sobre o Castro de Lanhoso, Porto, 1940. D.G.E.M.N., O Castelo de Lanhoso, boletim nº 29, Lisboa, 1942. D.G.E.M.N., Castelos medievais de Portugal, Lisboa, 1942. GIL, Júlio., Os mais belos Castelos e Fortalezas de Portugal (Fotografia de Augusto Cabrita) MONTEIRO, João Gouveia. Os Castelos Portugueses dos finais da Idade Média: presença, perfil, conservação, vigilância e comando.
http://nmpl.avedigital.pt (orografia) http://purl.pt (biblioteca digital do Ministério da Cultura) http://monumentos.pt (D.G.E.M.N.) http://www.mun-planhoso.pt/ http://purl.pt Biblioteca da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nº 57, 1963. Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, gabinete de Urbanismo
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