A Reinvenção dos Ismos

Page 1

A REINVENÇÃO DOS ISMOS NA MAMADA POLÍTICA Marx à Luz de Sócrates e Reis

João Barcelos

Dou início a este encontro com uma pergunta: O que fere mais a humanidade na sua realidade comunitária? Senhoras e senhores, entre os Séculos 20 e 21 vivenciamos o assentamento de um olhar filosófico carreando características a representar ações embasadas em pensamentos na maioria das vezes presos a si mesmos e desdenhando da diversidade social... Digo diversidade social, porque quando se trata de Poder não existe diversidade, existe a ótica fascista do exercício do mando por células políticas sem amparo no querer do Povo. Chegado ao Poder, não raro..., o Partido (com participação ou não de seus aliados) faz do Estado a sua célula de expansão e nela reinventa a elitização da Política proclamando “nós e os outros” como bandeira.


Que filosofia é esta do “nós e os outros”? É a perspectiva que personaliza o mais nefasto dos “ismos”: o integralismo, que se encontra à Esquerda e à Direita. Sim, à Esquerda, quando o projeto é unicamente a tomada do Poder para uma Política de mando absoluto; e à Direita, quando o projeto é perpetuar a Elite do mando tradicional entre senhores e escravos. Este fascismo integralista é executado com uma hipocrisia política: com e para o Povo...! Também, e não raro, é a personalização do Poder na figura do político maior do Partido, e então, o Estado torna-se refém de políticas privadas que obstruem as políticas públicas que deveriam atender as demandas comunitárias. Isto é: Tudo é feito para eternizar a elite que tomou o Poder. Eis aqui o quadro que denomino “mamada política”, porque à Esquerda e à Direita são as elites que sobrevivem com qualidade de vida enquanto o Povo, que vive miseravelmente, forja as riquezas por elas esbanjadas. Karl Marx percebeu isso nos seus estudos sobre a Política e a Divisão de Classes, já Sócrates, foi mais fundo ao estabelecer as premissas para o diálogo necessário às políticas públicas republicanas, e, Manuel Reis, ensina como as classes sociais devem proceder para vivenciarem tal diálogo no campus da Política para não permitirem o abuso no e do Poder, porque a “mamada política” só acontece quando o abuso no e do Poder é permitido pela maioria que constitui o Povo-Nação. E então, devemos observar que a Pessoa é responsável, sim, pelo Poder e pelas Políticas Públicas, porque o Voto em sufrágio universal republicano permite-lhe exercer a vigilância, individual ou coletiva. Se a Pessoa não exerce o seu direito fundamental à Cidadania é porque lhe foi roubado ditatorialmente, ou comprado..., a mesma situação que é raiz da corrução corporativa acobertada com os ´ismos´ políticos. Diante disto, senhoras e senhores, não existe retórica que consiga defender o fascismo integralista que fomenta o “nós e os outros”, hipocrisia que embasa a mamada que tantos políticos gostam de vivenciar em nome do Povo. Ou o Povo, na sua diversidade social, se faz representar dignamente no Poder, ou a Pessoa adepta do mando-de-poder o tomará para si personalizando-o ou não via Partido Político. Na obra “Cultura Ocidental & Humanismo Crítico” [CEHC, gd Noética & Ed Edicon, 2015], o filósofo luso Manuel Reis lembra-nos que “o poder é sempre um só, em primeira ou última instância, para


além das grelhas epistémicas dos Dualismos decorrentes das doutrinas politico-religiosas tradicionais” [p.212], mas antes ele esclarece que “numa Sociedade que se pretenda moderna e democrática, os processos de Decisão continuam a ser (e com mais forte razão) do domínio da Práxis” (p.124), ou, interpretando o ideal da Ordem Hospitalar de Malta, “a fraude e a corrupção podem ser vencidas e desaparecer mediante a prática da virtude” [“fraus virtude perit”], que é, lembro, a base dos pensamentos de Sócrates e também de Marx, ambos demasiadamente desvirtuados por interesses político-partidários de Poder absolutista, à Esquerda e à Direita. O que temos hoje é uma reinvenção de ismos que ferem a filosofia de cada um para embasar exoterismos políticos de cunho mercantil na banca divinizada em que transformaram o Poder, por isso, quase sempre (e infelizmente) a Pessoa se acha no direito de aceitar vender o Voto porque é da tradição o senhor mandar no escravo – e isto, senhoras e senhores, em plena vigência do Estado republicano! Logo, a Pessoa que não se mostra digna de o Ser e Estar em plena Cidadania, entrega-se ao Poder elitizado e não tem como alterar esse curso. Um curso que só se altera quando a Pessoa percebe a mamada política e faz do Voto um instrumento de conscientização sociocultural: o Voto elege representantes do Povo e não donos do Poder. E torno à questão inicial: O que fere mais a humanidade na sua realidade comunitária? Aquela Pessoa que se vende ao interesse senhorial e absolutista do Poder, ou a Pessoa/Partido-que-é-Poder e não permite que o Povo o seja, embora governe em seu nome sob a benção do Igrejismo (a Igreja-Estado)? E vos digo: a Pessoa à venda é mais danosa à Cidadania do que a Pessoa senhorialmente embasada no mercantilismo consumista da Política, porque esta pode ser combatida até pelo Voto, enquanto a outra personaliza a Humanidade em estágio pré civilizacional de interesses imediatistas (“ó patrão, me dá um cigarro aí...”, e etc). A terminar. Às vezes pareço um ser de outro mundo pregando uma ética que só é conhecida por aqui em saraus filosóficos. Verdade. E, por isso, tenho que ousar mais e mais. O que me anima, senhoras e senhores, é que estou a atuar como intelectual fora das pantufas e expandindo ideais consignados nos fundamentos do Centro de


Estudos do Humanismo Crítico (CEHC) e do Grupo de Debates Noética, junto com outros grupos de estudo de vários países. E enquanto este ideal persistir em mim terão que me ´engolir´. Ora, recebam um abraço deste intelectual sem pantufas! JOÃO BARCELLOS _ CEHC / NOÉTICA Maio de 2016


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.