Artistas & Intelectuais Portugueses

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ARTISTAS & INTELECTUAIS PORTUGUESES


AFRICANIDADES um tema de

Ana Camilo & Manuela Frade



Africanidades, é o texto pictórico de Ana Camilo e Manuela Frade – Manoela que conheci na Sampa cultural, ao lado do ator Fernando Muralha, irmão do poeta Sidónio. A comunicação visual conseguida pelas duas artistas consagra a essência filosófica do estar-ser plural que não esquece o singular da criatividade, sim, porque cada pessoa o é pelo ato idealizado e planejado sob uma cultura de observação apurada. O trabalho conjunto é um painel onde a estética historiográfica e étnica constrói espaços para tempos que ora nos são memória ora contemporâneos. Assim como o de Ana, o traço de Manuela diz-nos da alegria da cor forte que nem sempre encobre a precariedade do ser-estar África, daí a escolha do título Africanidades. Africanidades é, pois, um painel cuja engenharia plástica tem como pilar a poética da liberdade que [re]cria a amorosa paisagem humana pela crítica construtiva. Sim, não nos enganemos: as artes plásticas comportam a socrática linha do humanismo crítico na qual a noética expande os saberes – e, eu o digo: Africanidades, entre o papel, a tela, o lápis, as tintas e os pincéis, é um texto pictórico pelo qual Ana Camilo e Manuela Frade nos dizem do mundo que somos com foco na velha e sempre atual África. BARCELLOS, João – Escritor & Conferencista Sampa/Brasil, 2015.




ALFREDO PINHEIRO MARQUES

O Historiador Que Recusa As Pantufas Acadêmicas E A Mediocridade Que Nega A Vera Nacionalidade Para Dizer Da Mátria-Nação

por

João Barcellos [Palestra; São Paulo/Brasil, Outubro de 2004, após receber o ´Prêmio Clio de História´.]

1ª Parte “Quando ouso a Vida nela ouço da História o eco do Novo!


Sou português pelo que em mim há de Novo – essa mátria e mágica porção d´estar moço!...” MACEDO, J. C. In ´Creio Em Mim, Português´, Canto 7; Oficina Poética. [Guimarães, Barcelos e Gerês – Portugal, 1982.]

Não foi uma nem duas vezes que o amigo e mestre Manuel Reis tocou no “nome e obra de um historiador autêntico”, e até, em finais dos Anos 90, Hanne Liffey observou, em meio a uma conversa sobre “colonialismos e achados [...] a fidalga acção do professor Alfredo Pinheiro, da Universidade Coimbra, pela defesa do documento verdadeiro enquanto pilar da História”. Após receber o prémio ´Clio de História´, da Academia Paulistana de História, em 13 de Outubro de 2004, concedi uma entrevista ao catalão Ruy Hernandez e à portenha Marta Novaes, na qual afirmei (e aqui sublinho!) que “...só mesmo os académicos empantufados (aqueles que gostam unicamente de leccionar e preparar uma boa aposentadoria sob os auspícios dos emblemas societários) não conseguem, e na maioria das vezes não querem, ler a verdade nos documentos disponíveis até nas bibliotecas públicas nacionais... Claro, se formos para o campo da História Universal, temos os casos de Nag Hammadi e de Qumran, e até a problemática da contrainformação que nos dá uma história oficial dos bastidores da Segunda Guerra Mundial não condizente com muitos documentos..., aí, temos a conjuntura do Poder Estabelecido, seja político seja religioso (ou seja: a Igreja-Estado), cujo campo de acção é tornar inviável a decodificação de documentos que põem em causa a credibilidade da existência histórica dessa política ou dessa mistificação”... Ora, em termos de História de Portugal e de História Luso-Brasileira o problema é único e societariamente político e religioso, em geral, e católico, em particular. Assim, quando o professor Reis e a médica e pesquisadora irlandesa Hanne falaram-me, em tempos diferentes, de Alfredo Pinheiro Marques e do seu livro “A Maldição Da Memória Do Infante Dom Pedro E As Origens Dos Descobrimentos Portugueses” [1], já o meu trabalho epo-satírico “Exuberância E Folia No Mar De Longo” era um livrinho de bolso [2] que veio a ser integrado à colectânea “Palavras Essenciais” [3]... E hoje, que é 13 de Outubro de 2004, recebo aquele livro-chave autografado pelo notável Alfredo Pinheiro Marques... E é grande a emoção, porque “o tal d´henrique/ o falso navegador dos mares/ antes navegados por outra elite” é visto não por um mesmo olhar, mas pela íntima apetência de se viver Portugal pela e na História consagrada pelos seus personagens, na maioria das vezes humilhados e tratados como vis mentirosos, desde o discurso oficial do ministro de Estado e do bispo vaticaniano, aos manuais escolares há séculos reescritos pela mesma máfia académica da retórica que faz farfalhar pantufas e brilhar anéis entre estúpida e corruptível filigrana de comadres e compadres, para não esquecer o velho e sempre remoçado Gil Vicente. Essas comadres e esses compadres da elite senhorial e eclesiástica que haveriam de entregar Portugal a Castela e, mais tarde, pensar em mudar Portugal para o Brasil para contentar o compadrio ´very british´ - sim, esse mesmo, que haveria de dar as cartas no Brasil para uma “independência” informal entre as linhagens coroadas e um “Oh, portuguese friends...bye, bye”. O amigo e mestre Manuel Reis, nos Anos 70, já me tinha alertado para “a luz que se faz na leitura dos trabalhos literários de quem pratica e vivencia a História”, e essa sua quase-definição aplico-a a Alfredo Pinheiro Marques, como já havia feito em relação ao professor Hélio J. S. Alves, da Universidade de Évora – o notável autor da pesquisa “´As Memórias Gloriosas´ E O Inglório Esquecimento: Na(rra)ção E Canonização Nos


Lusíadas De Camões E No Sepúlveda De Corte-Real” [4], trabalho que vem gerando óptimos debates na periferia não-oficial dos académicos ´estudos camonianos´. O trato erudito de Alfredo Pinheiro Marques é de uma tal autenticidade que o seu trabalho de historiador não deixa de ser acessível ao Todo português, luso-brasileiro e brasileiro, porque “...a erudição não pode ser um obstáculo cultural no desenvolvimento nacional: a erudição deve ser uma práxis tanto académica quanto social que permita a desmitificação da escola elitizada e coloque o Todo nacional numa afirmação inequívoca de Povo – , ou não haverá Nação, nunca...” [5]. O estudo desse professor sobre a odisseia social e política do Infante Dom Pedro, na verdade, a acção-base que inaugurou o conceito marítimo português e levou o Rei Dom João II a gizar o conceito ultramarino no ´Plano da Índia´, que continuava aquela odisséia do avô Pedro, não apenas desmente como desmitifica de uma vez a importância ´templária´ e/ou ´henriquina´ nas Viagens e Descobrimentos Portugueses. Uma tal afronta aos anais académicos oficialmente estabelecidos é um golpe humilhante para os pseudos guardiões da sabedoria enterrados na Universidade; e se isso não bastasse, Alfredo Pinheiro Marques faz uma peregrinaçam aos confins narrativos de Fernão Mendes Pinto para “...dar ao Povo Português e ao Mundo a verdadeira dimensão do ser que o é estando no assentar arraiais em História própria, nunca na Estória de terceiros que se acham Povo pela força de um qualquer Poder inventado a sangue de azul colorido” [7]. Por isso é que o Povo pôde e soube encontrar em alguns membros da aristocracia pontes de confiança que ajudaram o Todo português a ser o que deveria ser: uma Nação. O exemplo maior está, ainda, no estadista Dom João II, aquele a quem a falsa católica Izabel [6], rainha de Castela, nomeava como “el hombre”, tal o respeito que ele impunha em nome do seu Povo e da sua brava linhagem. Obviamente, apagar “el hombre” da lembrança histórica do Povo Português foi uma tarefa gigantesca a que a pseudo Universidade e a Elite senhorial-eclesiástica meteram ombros, passando pela canonização hedionda d´Os Lusíadas e a quase destruição da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, ou a castração quase absoluta de obras épicas de autores como Jerónimo Corte-Real. Entretanto, como aquelas pessoas que se achavam a salvo e contentes da vida atrás da Estória Oficial e do conseqüente e dito infalível Dogma, estabelecido para fazer desaparecer a Memória humana universal, eis que no caso português surgiram pesquisadores que corajosamente tiraram a sujeira que fazia escurecer a História... um deles é Alfredo Pinheiro Marques - O Historiador Que Recusa As Pantufas Acadêmicas E A Mediocridade Que Nega A Vera Nacionalidade Para Dizer Da MátriaNação. Isto parece um daqueles títulos pomposos, mas não é. Trata-se do reconhecimento que é devido a uma pessoa que tem Portugal n´alma e faz da mátriaNação a sua Vida.

2ª Parte “E havia ali uma cruz, que não era a falsa - era quadrada, e no giro se fazia círculo tal dança que a paz gerava para encher de luz a pança! Não era a da tortura. Era símbolo da aliança de quem se amava e disso queria a vida farta!” MACEDO, J. C. In ´Creio Em Mim, Português´, Canto 3; Oficina Poética. [Guimarães, Barcelos e Gerês – Portugal, 1982.]


“Será que em Portugal ninguém sabe as coisas mais elementares acerca da História de Portugal? Como é possível? Com tanta Comemoração... Será que as Comemorações não servem Para lembrar a História, e sim para a esquecer?” MARQUES, Alfredo Pinheiro In ‘A Maldição Da Memória Do Infante Dom Pedro...”, p. 474.

“E então, veio Manuel que catou de Pedro e do segundo João a eira da fortuna feita pela Casa de Coimbra; e nessa zueira deu à Casa de Bragança a velha, estúpida e senhorial beira! Manuel acabou com a Casa de Coimbra para após João ter a sua eira... E tudo era já como antes d´Alfarrobeira! [...] E então, já Manuel continuava os Bragança, fez d´Henrique o infante falso da marítima bastança gizada no Plano d´Índia do irmão Pedro, antes da matança. Manuel o fez e cravou no segundo João a lança... E lá estava a sombra d´Alfarrobeira e uma enferrujada balança! MACEDO, J. C. In ´As Associações Secretas E As Elites Lusas´ [‘PG’ / Região Norte Boletim 10; ‘Alexandre’/´Rui´, 1983]

É tão importante a acção desse professor que, “...só pelo estudo que trouxe à tona a Verdade histórica do Portugal da expansão marítima, qualquer Universidade portuguesa se deve obrigar a atribuir-lhe o título académico maior!”, como diz Manuel Reis, bem a propósito. Mas, obviamente, o que Universidade não-académica portuguesa quer é ver esse tipo de trabalhador intelectual longe, bem longe...! Alfredo Pinheiro Marques ensina o seguinte: “Iludida pela alegada importância do Infante D. Henrique, a maior parte da historiografia sobre os Descobrimentos Portugueses – mesmo quando bem intencionada – tem até agora laborado em erro. A Casa de Viseu-Beja e a Ordem de Cristo (desde o Infante D. Henrique até ao Rei D. Manuel) não foram decisivas – ou sequer particularmente pioneiras e importantes – nos momentos cruciais dos Descobrimentos Portugueses. E mesmo nos da Expansão e Colonização, que se seguiram, foram-no só de forma medíocre: foram-no nos aspectos econômicos, da tributação senhorial a que tinham direito, devido às grandes atribuições que foram concedidas à Ordem de Cristo das rendas de muitas das novas terras (viveram disso... não o fizeram...). Se esse longo protagonismo coube a alguma Casa senhorial, ela foi a Casa de Coimbra... – para além, claro, do Povo Português que, esse sim, foi sempre o verdadeiro protagonista” [8]. A pesquisa e a historiografia estabelecida – e a estabelecer, pois, é um trabalho sem fim... – para a ‘Base de Dados’ [BD] dos Descobrimentos é, por si, a denúncia académica mais bem conseguida contra a prática anti-académica da Universidade portuguesa! Em palestra que proferi na Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil [9], sobre literatura luso-brasileira, afirmei, durante o diálogo com estudantes e professorado, que “a maioria do professorado universitário é analfabeto cultural e teima em o ser para estar de bem com a estructura governamental que lhe assegura uma boa aposentadoria – logo, é um professorado empantufado e sem disposição para a pesquisa lítero-científica, a não ser pela continuação dos dogmas estabelecidos pela Estória oficial”... Isso causou burburinho e tive de explicar por duas vezes o que


acabara de afirmar, com as mesmas palavras e no mesmo tom. O mesmo veio a acontecer na PUC paulistana [10], onde até hoje nem consegui perceber por que me convidaram a conferenciar... devem ser masoquistas. Já durante os primeiros anos da projecção/instalação da Universidade do Minho [11], nos Anos 70, dizia-se que “...a estructura mental em que assenta a Universidade é a base que faz mover o Pólo Societário onde a Elite anti-social se acha petrificada, por isso, a idealização/projecção de uma Universidade deve observar o verdadeiro Espaço Histórico nacional, e não o interesse geo-social-económico da Elite” [12], e, em parte, essa Universidade Nova veio a renovar o estilo académico com um ‘empurrão’ do Golpe d’Estado de ’25 d’Abril de 1974’. Por isso, entendo a precária situação académica de Alfredo Pinheiro Marques, como entendo a de Hélio J. S. Alves, ou a de saudosos companheiros de percurso como Marc R. Cédron [Suíça] e Francisco Igreja [Brasil], entre outros, além do caso muito especial do ex-padre católico Figuera de Novaes [Chile], hoje artista plástico e professor, da artista plástica Tereza de Oliveira [Brasil], com quem fundei o ‘Grupo Granja’ para “uma contínua conversa local sobre o mundo que somos”. E quando digo ‘precária situação’ localizo-me na área da intervenção/pesquisa fazedora da renovação científica e cultural a partir do trabalho académico, ético e profissional, não o do habitual plágio e da habitual intriga-tráfico de interesses umbilicais que leva, inclusive, à destruição da documentação histórica [lembremo-nos do acervo documental de Dom João II relativas ao Plano da Índia, um dos focos da pesquisa de Alfredo Pinheiro Marques, etc e etc...] e “...à manipulação de documentos para favorecer o situacionismo fascista que sustenta todo o Poder que desconhece o Todo nacional, como foi o caso de Dom Manuel I, de Salazar e das academias/comissões que tratam de coisinhas menores como ´festividades camonianas´, por exemplo – e, no caso de Camões, eis ´Os Lusíadas´, para provar como a Elite faz de um poeta a peneira útil que tapa o sol da Verdade, pois, ´Os Lusíadas´ cantam o Gama, que era Cavaleiro da Ordem de Santiago e vendeu-se, depois, para a Ordem de Cristo, levando parte dos conhecimentos do Plano da Índia que a Casa de Coimbra havia estabelecido desde Pedro [irmão do infante Henrique, o falso navegador] até Dom João II” [12]. Este tipo de mentalidade – que é fascista, seja lá o tempo histórico em que se faça sentir... – é geradora de sublimações como “ao Povo deve ser dada a informação de utilidade pública, pois, a res publica em si é um dever secreto entre as famílias aristocráticas e eclesiásticas...” [idem]. Neste contexto, a aristocracia ligada a “el hombre” teve várias gerações que souberam ter o Povo ao lado e que nunca o sobrecarregaram com impostos absurdos, uma vez que toda a odisséia das ´águias´ e ´gaivotas´ da Casa de Coimbra, em terra e no mar, foi planejada e executada sobre o lucro presumível [e sempre certo] da empreitada, de que se tem um exemplo flagrante: a Casa da Mina. E é tão flagrante que os estoriadores oficiais se negam a conferir o exemplo, enquanto brincam de exoterismos e afundam a História portuguesa. Sobre a Questão Joanina é muito importante que se desmitifique a figura do infante Dom Henrique, o falso navegador, assim como é importante se dizer que “o emblema da Ordem ´templária´ de Cristo – a cruz – só passou a ser pavilhão das esquadras depois que o Gama se vendeu a Dom Manuel I e, esse, fez Cabral navegar, com pompa e circunstância, levando no vento a cruz templária, de cuja Ordem os cavaleiros nunca se tinham feito ao mar, pelo menos na sua fase portuguesa e ainda sob a regência da Ordem de Santiago integrada à Casa de Coimbra..., e esse engodo interessava tanto ao Vaticano como ao Poder bragantino recém-estabelecido na


pessoa do próprio Dom Manuel - que, numa extraordinária visão de futuro, Dom João havia poupado na sua vingança relativa ao macabro espectáculo da batalha de Alfarrobeira, onde fora assassinado o seu avô Pedro - e que tinha em Cabral um bom aliado” [13], como diz[ia] Figuera de Novaes, em 1968, abrindo a boca de alguns eruditos lusitanos que visitavam um campus universitário em Quito. Ora, é impossível falar dos Descobrimentos Portugueses sem se falar da Casa de Coimbra e dos Cavaleiros [´águias´ e ´gaivotas´] da Ordem de Santiago – e é isto que faz Alfredo Pinheiro Marques, o mais autorizado professor-investigador português da actualidade... num acto que, hoje, é uma quase pregação histórica no deserto formado pelo comportamento fascista das autoridades pseudo-democráticas embaladas nos sonhos feudais do Poder umbilical. Não tenho a certeza se isto que vos falo vai agradar, ou não, ao notável professor que ora vos apresento, mas... como português e como luso-brasileiro, é meu dever trazer até vocês o que de mais importante é feito - a favor e contra - na Historiografia Portuguesa, pois, isso tem tudo a ver com a História do Brasil!, que a maioria de vocês, brasileiros, desconhece...

3ª Parte “Tudo o que eu quero é Ser, não me basta o Estar em que não tenho querer! Não quero privar-me daquilo que em mim deve acontecer... Quero ser como a rosa que se abre e faz prever em noss’alma a Vida que se deve viver!” MACEDO, J. C. In ´Creio Em Mim, Português´, Canto 6; Oficina Poética. [Guimarães, Barcelos e Gerês – Portugal, 1982.]

A presença do professor e historiador Alfredo Pinheiro Marques no meio académico lusófono não é, pois, uma presença grata para quem faz da estructura universitária uma jornada sem vivências específicas na “Escola Nova” – i.e., “a Escola que tem a Vida como instrumento didáctico e a vivência como meio pedagógico para o alcance do Progresso relativo ao Todo Humano” [14]. Eis aqui, novamente em Figuera de Novaes, a importância da Pedagogia que o é para fazer aprender, não para fazer esquecer... como, infelizmente, é o exemplo dos manuais escolares sobre História, em Portugal e na América Latina. Ler a Obra Historiográfica de Alfredo Pinheiro Marques é perceber que existe um Mundo a desbravar para termos acesso à nossa história mátria, aquela em que cada um[a] de Nós tem o direito de conhecer e dela participar!

BARCELLOS, João – romancista, poeta, jornalista, pesquisador; autor de “Morgado de Matheus – Um Fidalgo Português Na casa Bandeirante” [5 reedições, 2 edições], “Um Luso Na Ilha De Sampa”, “Brasil 500 Anos”, “O Outro Portugal”, “Piabiyu”, “Teatro c/ palestra sobre Gil Vicente”, “Exuberância e Folia no Mar de Longo”, etc e etc. É membro do ´Grupo Granja´ [Brasil e Mundo] e do grupo ´Eintritt Frei´ [Alemanha], organizações anarco-esotéricas. [1] Centro de Estudos do Mar - ´CEMAR´, Figueira da Foz / Pt, 1994. [2] Ed. MYS, São Paulo / Br, 1998.


[3] Volume 1, com Hélio J. S. Alves, Magnus Nogueira, Grupo Granja e Manuel Reis; Ed. Edicon, São Paulo / Br., 2002, 1ª e 2ª edições. [4] in “Palavras Essenciais”, op. cit., e Volume 2 - ´Os Lusíadas Em Debate´, Ed Edicon / Br., 2004. [5] MACEDO, J. C. – in ´Nação Cheia d´Estórias É Aberração d´Elites (a propósito da Verdade dita Mentira em Mendes Pinto)´, p.06, palestra, no âmbito da alfabetização cultural para militantes em processo revolucionário; Coimbra e Tomar, 1975/76. [6] leia-se a propósito “Histoire Philosophique du Genre Humane”, Paris/Fr., 1824, do pesquisador Antoine Fabre d´Olivet. [7] MACEDO, J. C. – op.cit. p.12. [8] in “A Maldição Da Memória Do Infante Dom Pedro E As Origens Dos Descobrimentos Portugueses”, p.474; Centro de Estudos do Mar / CEMAR – Figueira da Foz / Pt, 1994. [9] ‘Entre Um Fernando Pessoa E Um Machado De Assis’, UFSC, Florianópolis/SC, 1991. [10] Pontifícia Universidade Católica, São Paulo-Br. [11] Braga/Pt. [12] MACEDO, J. C. – in ‘Universidade & Realidade Nacional no contexto da Escola Nova que a Universidade do Minho pode significar para um Portugal progressista’, panflo clandestino [assinado “Rui & Malta do Barulho”], Guimarães/Pt, 1973. [12] --------------------- in ´As Sociedades Secretas E A Elite Lusa´, opúsculo, Guimarães/Pt, 1983. [13] NOVAES, Figuera de – in ´A Igreja-Estado E Os Descobrimentos Lusos´, palestra; Quito/Ecuador, 1966] [14] ------------------ – in ‘O Professorado E A Autonomia Escolar’, opúsculo-palestra, Buenos Aires / Arg., 1987.

Estado de Arte & Liberdade acerca de

MADALENA MACEDO

Enquanto a depravação mental calcada na ignorância da falsidade teo-filosófica destrói registros históricos da marcha civilizacional da humanidade, artistas como


Madalena Macedo continuam a demarcar a livre expressão artística como foco da criação que nos é inerente. Madalena Macedo acaba de ser premiada, na cidade de Ourém, pela simbologia plástica da liberdade ilustrando o ideal poético e humaníssimo de Hans Christian Andersen descrito no conto O Rouxinol. Com técnica mista [acrílico, pasta de papel e grafite sobre cartão], a artista criou um movimento ascendente onde a cor se torna mais viva no cimo da obra, como que o vento a impelir-nos à escuta das necessidades da alma, aliás, característica literária do grande escritor dinamarquês. A artista portuguesa, já premiada em outros concursos e com presença em várias exposições coletivas [a última na Póvoa do Varzim], é expoente da nova geração das artes plásticas ibéricas. J. C. Macedo [poeta e jornalista]

CONJURAÇÃO a íntima essência do pensamento


Artista plástico e poeta, Pedro Máximo diz-nos de si e do mundo que lhe é ambiente sociocultural no livro Conjuração, lançado em 2014. O autor afirma-se em retrato próprio com moldura de engenharia cuja plástica é um complexo ir-em-si-mesmo no plano do humilde humanismo crítico que gera a pessoa inteligente e solidária, apesar do amiúde ser-estar solitário, entre a socrática busca do todo e a heideggeriana essência do aqui-e-agora. Eis a Conjuração do “ar estéril e picante” que “passeia entre as pessoas”, porque o “comboio passa e rola, / as pessoas mudam e fogem”. É o espectro d´Ele-mesmo a confrontar-se com a massa humana, pois, quer queira ou não, é parte dela, mesmo na solidão que o faz poeta – e então, conjurar a vivência poética é praticar uma filosofia de ações que neutralizam a tendência à inércia e valorizam a pessoa-elamesma..., e só, no meio da multidão. Pedro Máximo carreia para a poesia o núcleo filosófico da sua arte de desenho e pintura, traços de solidária emoção, porque sabe que existe e vive-se uma “primeira memória da próxima vida, / um sorriso que [me] abafa a alma”, e isto, a todo o instante – por isso, deve o poeta vivenciar plenamente cada instante. “Somos o altar e a ara da divindade em cada ato que geramos, eis que nos reinventamos a cada desenho, cada poema, cada paixão: somos a prece pela fé em nós mesmos, ou não seremos...” [J. C. Macedo – in “Só & Junto”, palestra lítero-jornalística; VigoGalícia, 1983], e então, aplicando tal conceito à arte poética de Pedro Máximo encontro – atrevo-me a dizer, reencontro-me intelectualmente – a arte filosófica que busca não a perfeição, mas o sentido da solidariedade onde se pode projetar a paz e o amor. Ler a poética de Conjuração é envolver a profundidade d´alma que gosta de perceber e gozar a vida. J. C. Macedo poeta e jornalista Janeiro de 2015


Um Cidadão Chamado

FERNANDO MURALHA O ator de teatro português Fernando Muralha faleceu no dia 6 de Agosto de 2005, em São Paulo. Lisboeta, irmão do escritor Sidónio Muralha, que também viveu e morreu no Brasil, Fernando Muralha foi um dos maiores animadores sócio-culturais da Comunidade Portuguesa, em São Paulo, e com a sua “Corroça de Ouro” chegou a percorrer parte do Brasil com os seus espetáculos de teatro.

“És o português que se fez brasileiro por amar a liberdade”, disselhe, na Biblioteca da Casa de Portugal, quando assistíamos à celebração do aniversário do golpe d´Estado de ´25 de´Abril´, em 2005. Ele riu, com aquela franqueza de sempre. Lembrei-me do dia em que o conheci, em 1991, numa palestra que ministrei na Sampa, quando ele me falou de si, dos seus projetos, e “...daquela época, em plena ditadura militar, nos Anos 60, quando dirigi o Teatro Universitário ´Luiz de Queiroz´ [TULQ] montando peças dos bons dramaturgos brasileiros. Um tempo de chumbo a que só os poetas sabem dar pontapés...”. A par das conferências do professor João


Alves das Neves, ele participou de várias, enquanto declamador, que fiz em faculdades e clubes literários. A também falecida Tereza de Oliveira, fundadora do Grupo Granja, dizia dele o seguinte: “meu amigo e mestre João Barcellos, tu dizes que o poeta Sidónio Muralha é ´o poeta da vida´, então, eu digo que o ator Fernando Muralha é o cidadão por inteiro, o ser-cultura que desenvolve a sociedade rumo à felicidade e ao amor”. Os portugueses residentes no Brasil perdem uma referência do humanismo crítico, e mais os da Sampa, porque era na ´ilha do trabalho´ que ele mais gostava de estar e de mostrar que “para todos nós existe um palco, e nós ensaiamos nele a vida em todos os instantes”, como gostava de dizer.

João Barcellos [Agosto de 2005]

Imprensa & Conteúdos “O que faz da Imprensa um campo de liberdade e de ensinamentos é a publicação de conteúdos que elevam a estima social e profissional”

A jornalista e professora de história, Tereza Nuñez, argentina, esteve presente numa das últimas palestras de João Barcellos, em Barueri (na Grande São Paulo, Brasil), e do ´bate-papo´ entre dois o público ganhou mais informações, como esta: “O que faz da Imprensa um campo de liberdade e de ensinamentos é a publicação de conteúdos que elevam a estima social e profissional”. Com uma bagagem profissional e internacional de alto nível, a portenha e ´periodista´ engrandeceu a já e sempre movimentada palestra do intelectual português, e foi ela, junto com o professor Carlos Firmino, que fez o “elogio profissional a João Barcellos na


celebração dos seus 40 anos de jornalismo e literatura, em Portugal, no Brasil e no Mundo”.

João Barcellos, referência lítero-historiográfica fora dos circuitos oficiais editoriais e acadêmicos por opção própria [“a academia sufoca-me e não gosto de teses e pesquisas jogadas nas gavetas da insensatez burocrática chefiada por acadêmicos ideologicamente acaudilhados e pançudos”, disse ele, em 1993], vive diariamente o seu próprio conceito de criação literária e jornalística – a saber: “Quando se escreve algo assume-se com o próprio nome e honrase assim o conteúdo. Fora disto não existe Jornalismo nem Literatura”. Aqui fica o recado. Maria C. Arruda

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