Diversidade Tecnológica

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diversidade tecnológica que faz a Comunicação Visual progredir entre a

o convencional e o moderno

João Barcellos

Parte 1 O contato empírico e acadêmico com o mercado de trabalho gera situações interessantes, como a da pessoa prática feita a cada experimentação na linha dos macetes herdados, e a da pessoa acadêmica, que muitas vezes encontram naqueles profissionais algumas fontes de grande valoração e, outras, barreiras sociais... E vamos ao assunto.


1) Aprender um ofício tecnológico na base do vê-e-faz leva a um conhecimento primário de aplicações – é, pode se dizer, a prática da prática a enformar um[a] profissional. Se essa pessoa utiliza esse conhecimento e avança socialmente pelo meio acadêmico ela vai ser profissionalmente especializada, uma referência. Entretanto, se aquele conhecimento empírico lhe serve inteiramente, será apenas a pessoa que aprendeu com alguém os macetes de um ofício por não ter acesso a outras leituras. 2) Na área tecnológica, o ofício apre[e]ndido pela via acadêmica não especializa a pessoa, e ela só vai perceber a diferença quando “pegar no pesado” no laboratório ou na fábrica, no campo ou em outro “chão”, porque a realidade do ofício só aparece na hora de trabalhar, i.e., “mostrar serviço”. É o instante em que os “bons ofícios” dos velhos macetes fazem a diferença, mas a pessoa acadêmica não os conhece, precisa de uma fonte, e lá está aquela pessoa que aprendeu no vê-e-faz as aplicações técnicas que a universidade, em vários ambientes, desconhece e não pode ensinar. Se a pessoa prática não quiser ajudar, a acadêmica tem que se virar para se integrar no meio do maquinário, ferramentas e instrumental. Na maioria dos casos existe, sim, um intercâmbio saudável entre uma e outra. Com isto quero dizer que existe um abismo entre a teoria e a prática. As duas completam um ciclo sócio-profissional, mas uma sem a outra é uma situação que gera empecilhos até no desenvolvimento de novas tecnologias.


Entre a pessoa que se fez vendo outros fazerem e aquela que adentrou a teoria acadêmica para se formar além do chão-de-fábrica, ou do chão-de-pasto, existe uma ligação ética: gerenciar com inteligência as tecnologias para adequá-las às realidades da produção. O que se aplica a todos os ofícios. Hoje, que é Século 21, a pessoa que se inicia numa plataforma profissional sem conhecimentos adequados busca de imediato os cursos profissionalizantes e, logo, entra para o ciclo do conhecimento universitário.


É diferente do Século 19 e parte do 20, quando o filho ia na linha do tempo profissional do pai que já havia aprendido com o avô, e adiante; o Século 21 já é tido como o século do conhecimento, e isto tem a ver com a parafernália de tecnologia que serve de base à comunicação social, gráfica e visual, pois, do telefone ao transporte configuram-se novos costumes na cultura urbana do consumismo globalizado: todo o mundo é mundo, mas muita gente é ninguém em tal multidão de sinalizações. Mas esta globalização de interesses na moda do consumismo fez da escolaridade também uma moda... Não se queira aprender, mas é bom ter um diploma! E então, surgiu o analfabetismo funcional, mal que atrapalha o desenvolvimento de qualquer nação: a pessoa não quer ser, apenas quer estar, exibir um sonho de consumo, e no ofício nem lhe conhece a história, só o macete para garantir o salário mensal. Entretanto, um punhado de jovens especializa-se teórica e


tecnicamente para garantir a sobrevivência até das elites da sociedade. Mais uma vez surge a importância da cultura geral na formação de especialistas, pois, a globalização fez esquecer a história nacional para vender a estória enlatada dos grandes impérios milico-econômicos, inclusive, na universidade. Com a cultura geral alimentando a diversidade tecnológica uma nação ergue a bandeira da independência, porque a pessoa prática e a pessoa acadêmica percorrem os mesmos chãos na aplicabilidade das experimentações científicas, algumas delas resultantes da observação de velhos macetes técnicos... Cabe aqui uma explicação: Não sou contra o que se vulgarizou como escola da vida. É uma “escola” onde eu também bebi conhecimentos práticos durante a minha juventude e com eles abri muitas portas técnicas e acadêmicas, além de que a pessoa prática em muitos casos virou empreendedora inovando no próprio ofício e originando a formação de empresas familiares. Eis a questão como ela é. Muito do que é hoje a indústria têxtil e a indústria gráfica deve-se à pessoa prática que ousou ser ela mesma a fonte dos conhecimentos adequando-os à realidade comunitária.

Parte 2 O que isto tem a ver com a Comunicação Visual? Tudo. Sabendo-se que a Comunicação Visual é um amplo leque de ofícios têxteis e gráficos – assim o é da offset à


serigrafia, da letra-set ao recorte eletrônico, da estampa de mil operações em amplos espaços à estampa digital feita em poucos metros quadrados –, um leque de profissionais que ainda tem muitas fontes nos velhos macetes, os quais as novas tecnologias têm como alavanca, eis que este parque industrial e mercantil tem no seu bojo uma área sociocultural de grande envergadura: a criação e a pesquisa. E você? Pense em tudo isto...

BARCELLOS, João Autor de “Indústria Digital”, entre outros livros, editor da revista Impressão & Cores e do portal Noética.


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