Palavra do Editor | Jan 2014

Page 1

E Eis Um Ano Novo João Barcellos

Quem sou eu e por que me vejo aqui? Ao final das famosas dozes badaladas (agora a ´coisa´ está mais para o bip-bip...) da meia-noite, imagino um galo que canta a anunciar a boa nova de próximas e boas colheitas – um galo cujo canto reproduz a harmonia divina que todas as pessoas almejam nos seus cotidianos. Foi se a última badalada e ficou a balada que nos inicia em mais um ano novo. É verdade. Mais um ano novo. E mais uma vez também eu me pergunto o que sou e por me vejo sempre assim... um zumbi após as dozes badaladas. Ao meu redor há uma infinidade de estilos e de cores acobertada por uma moda globalizada, i.e., a pessoa que cria e se diz, mas que mesmo assim é escrava de conceitos mercantis ditados por outras


pessoas – é a comunicação visual entre tendências e estilos gerando moda para todos os gostos, do convencional ´terno e gravata´ à extravagância ´de todas as cores´ passando pelo ´tô nem aí´. E em todos os estilos uma tendência: a ruptura com ´algo´. A cada início de um ano novo desejamos ser o ´algo´ diferente, mudar a rotina, encontrar outro rumo com a felicidade possível na ponta da agulha. Entretanto, também é verdade que neste momento logo o vento da crua realidade nos esbofeteia e nos tira da ´balada´ jogando-nos diante do tudo e do nada que somos. A febre do ano novo é uma quimera que dura o tempo do efeito do champagne; e, certa vez, o tempo de eu tirar a gravata-borboleta e olhar ao meu redor para registrar uma certeza: não existe ano novo, existe, sim, a poesia onírica da pessoa que sonha e que sonhando tenta se realizar!... Nessa noite quase manhã não me perguntei “o que sou”, pois, tinha-me dado conta de um eu sem espelho nem mágica, eu mesmo, zumbi em ano novo a projetar um estilo de infinitas cores e desejos. Pois sim, que assim seja! Quando se fala de uma tendência diz-se de uma inclinação-para-algo, mesmo que ainda não tenha passado na têmpera da vida, e quando se diz estilo revela-se o novo, o ato da ruptura – e, no entanto, a mesmice também é um estilo: o muro que encobre a hipocrisia.


É verdade: nem toda a gente quer o ano novo. A bem da verdade, quantas pessoas querem mesmo um ano novo? Umas, querem estar como estão, e pronto; outras, fazem da passagem para o ano novo um ritual alquímico mais exotérico do que místico; e, acredito, umas poucas percebem que a vida se renova também neste instante que designamos por ´passagem de ano´. Pois sim, que assim seja!

BARCELLOS, João Escritor & Conferencista 2014


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.