MODA & VIDA Uma leitura noética de João Barcellos
E afinal, o que é isso de Moda? O que trajamos sinaliza o quê? Idealizar e confeccionar um objeto ou um acessório para melhor adequar o mesmo é produzir Cultura? Fiquei diante destas três questões quando, em abril de 2013, um grupo de estudantes de artes visuais quis filosofar acerca do dia a dia e suas rotinas. Moda é um conceito geral que nos indica determinado estilo, seja ele pessoal, étnico ou industrial; e, obviamente, quando se idealiza [conceitua] uma sinalização visual constrói-se um objeto [moto, vestuário, calçado, carro, barco, avião, bicicleta, teatro, cinema, dança, e até tipos de alimentação...], que pode virar uma tendência a identificar um grupo social ou uma produção industrial. Sim, tudo isto gera um ato de Cultura própria a cada segmento social e profissional, mas não se deve misturar o objeto de consumismo industrial [a roupa, o alimento, o carro, etc.] com o objeto de estrutura socioeducacional [teatro, cinema, literatura, etc.], porque uma ´coisa´ é criar para a produção industrial e outra ´coisa´ é criar para a elevação civilizacional das pessoas.
Existe um diferencial filosófico na concepção de Moda que, desde 1978 analiso com cuidado (quando me interessei mais por este assunto), e peço que anotem para uma reflexão: A massificação de um objeto-ideia [industrial, social, político, sindical, religioso...] carreia em si mesma a forma da desideologização, i.e., em vez de vestir ou transportar a identidade da pessoa transforma esta em parte do objetoideia, retira-lhe a identidade própria; já o objeto-ideia que é parte do crescimento social da pessoa cria uma identidade única no seio de uma comunidade própria, logo, uma Cultura que simboliza e determina o processo civilizatório. No final de 1995, em palestra para professores, e a tratar do mesmo assunto, eu disse que a Cultura não pode ser vista como a ´coisa´-em-si, mas como uma idealização em permanente construção pela pessoa e a sua comunidade; e é por isto que Moda é um objeto que pode ser lido industrial e artisticamente sinalizando-se as diferenças processuais inerentes. Ora, cabe a cada pessoa no seu processo civilizatório fazer escolhas socioculturais para viver num equilíbrio sustentável diante de si mesma e da sociedade que a cerca com um objetualismo consumista que às vezes desconstrói essa pessoa, humilha. Para se defender de tal agressão a pessoa tem de estar culturalmente preparada para o ato noético de construir em cada gestopensamento a alternativa sociopolítica – e só a pessoa que conhece os diferenciais filosóficos (e a vida ensina os procedimentos naturalmente) pelo desejo de ser e de estar comunidade consegue resistir. E, digo-vos, a Vida não pode ser lida como Moda, mas como Humanismo Crítico quando cada Pessoa carreia o diferencial noético da circunstância que produz no seu dia a dia. Pois, a Vida é cada Pessoa inteiramente nua na
passada telúrica que é dada sob o ambiente cósmico. Quem não entende este diferencial filosófico não vive, escraviza-se.
BARCELLOS, João Escritor & Conferencista 2013